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Tenho 48 anos de idade e, após visitar Bariloche no inverno, sempre tive vontade de conhecê-la sem neve.

 

Assim, aproveitei um período de férias de duas semanas e saí de Porto Alegre no dia 31 de janeiro, às 7h30. Excetuando-se o trecho POA – Jaguarão, todos os demais foram seguidos exclusivamente via GPS.

 

Obs.: Não fiz reservas de hotel ou pousada em nenhum local, e o mesmo vale para o Buquebus. Também, não me preocupei em anotar valores exatos gastos em gasolina (cerca de R$2500,00) ou refeições. A gasolina na Argentina também está cara, custando por volta de 12 pesos o litro (cerca de R$3,00).

 

Parei em Jaguarão para reabastecer, entrei em território uruguaio e segui direto para a aduana para os trâmites de entrada. Dali, fui direto para Colônia del Sacramento, onde cheguei bastante cansado.

 

No dia seguinte - 1º.fev.2015 – peguei o Buquebus para Buenos Aires, chegando nesta cidade em torno de 13h. A temperatura estava em 35°. Dei algumas voltas e, próximo das 14h, decidi seguir direto para Santa Rosa/AR.

 

Obs.: O trecho de Buquebus Colônia – Buenos Aires é mais barato que o de Buenos Aires – Montevidéu. O primeiro demora cerca de uma hora para o trajeto, enquanto que o segundo leva o dobro do tempo. As tarifas são salgadas: a primeira custou cerca de R$900,00, enquanto que a segunda chegou a R$1.150,00, ambas na classe econômica e sem direito a nada mais a bordo. A tarifa do carro é calculada pelo tamanho/peso, sendo que o meu é um Fiat Bravo. Optei pelo Buquebus depois de ler e ouvir relatos assombrosos de pessoas que optaram entrar na Argentina por Uruguaiana/RS e sofreram com a polícia corrupta local.

 

Na estrada para Santa Rosa as plantações de girassol chamam a atenção, formando paisagens muito bonitas. Não parei para fotografar por dois motivos: a luz inadequada e a corrida contra o relógio.

 

Obs.: havia um trecho de estrada em péssimo estado, com cerca de 40km de extensão, sendo caso único em toda a viagem.

 

A noite chegou quando eu estava próximo de Santa Rosa e achei melhor parar para descansar. Consultei as opções de acomodações do GPS e me decidi pela Reserva Florestal Luro. O parque estava fechado e veio um guarda me atender. Expliquei a situação e ele passou um rádio para o administrador, o qual permitiu minha entrada.

 

Ali, fui informado de que as cabanas estavam todas ocupadas, mas que poderia ficar no camping, o que aceitei de imediato, já que havia levado a barraca. O valor cobrado foi de 100 pesos argentinos.

 

A partir dali a minha viagem mudou completamente. Apesar de ter esquecido de levar o colchonete, e do banheiro imundo (e bota imundo naquilo!!) do local, fui brindado com um céu estupidamente estrelado ao acordar, após uma deliciosa noite com chuva.

 

Obs.: A mudança a que me refiro era acerca das dúvidas de encarar uma viagem desse porte, de carro e sozinho. É claro que os pontos positivos sempre superavam os supostos pontos negativos (saúde, acidentes, problemas mecânicos, segurança, etc.) mas, na semana da viagem, quando uma certa angústia tomou conta, eu saí para passear com meu cachorro e, mais uma vez, testemunhei um assalto próximo a minha residência. Aquilo foi determinante, pois pensei: “o perigoso é ficar aqui”.

 

Ao sair da reserva no raiar do dia vi, pastando, um cervo e seu filhote.

 

Paradoxalmente, aquela noite na barraca, apesar de mal dormida, foi extremamente relaxante. Estava enfrentando um quadro de depressão, acompanhado daquelas dúvidas que assolam o sentido de nossa existência. Pois bem, a barraca e o contato com a natureza eram exatamente as coisas que estavam faltando em minha vida, o que me levou, após a viagem, decidir por retomar um estilo de vida mais simples, bem como iniciar as mochilagens e acampamentos.

 

Saindo de Santa Rosa, parei num posto em Cel. Ancha para tomar um café. Aproveitei o wi-fi para enviar sinais de fumaça e, reabastecido eu, fui reabastecer o meu companheiro. Tanto no posto onde eu estava (PETROBRAS), como no seguinte, não havia gasolina (nafta, na Argentina), o que me obrigou a entrar em Cel. Ancha e enfrentar uma bela fila para tal. Imprescindível, já que o próximo abastecimento ficava 300km a frente.

 

De Santa Rosa até Neuquén há um longo trecho deserto, com extensas retas, e placas de advertência ao risco de vida (ou morte) e outras ainda mais tétricas, indicando a morte de alguém em determinado trecho. Como já dito, não há postos de gasolina ou restaurantes.

 

Passei por Neuquén e, conforme me aproximava de Bariloche, a paisagem da estrada ficava cada vez mais linda, iniciando com trechos belíssimos de deserto e finalizando com uma natureza exuberante e indescritível de florestas, lagos e montanhas.

 

Assim, depois de três dias e 2.726km de estrada (não computado o trecho feito de Buquebus), cheguei em Bariloche no entardecer do dia 2 de fevereiro. Havia bastante movimento, mas creio que era ocasionado por uma competição de corrida que estava ocorrendo naquele período. Uma das primeiras coisas que fiz foi comprar um colchonete.

 

Obs.: Próximo a Neuquén, passei por duas barreiras sanitárias, sendo que em uma delas é cobrada uma taxa de dez pesos para desinfecção da parte inferior do veículo (observei o carro da frente subir a rampa, mas não vi aplicação alguma de produto). O carro é levemente revistado e há perguntas acerca do transporte de carnes e/ou vegetais.

 

Segui pela Av. Bustillo e, cerca de 7,5km do centro de Bariloche, resolvi parar na Hostería e Cerveceria La Luna, onde fui gentilmente atendido em português por um dos proprietários, o Sergio.

 

Obs.: Por ser ciclista e estar, infelizmente, acostumado à estupidez do trânsito de Porto Alegre, fiquei surpreso ao constatar a excelente convivência das bicicletas com os carros naquela região. A Av. Bustillo é estreita e não constatei uma buzina ou xingamento a um ciclista. Os carros simplesmente esperam, “perdem” seus segundinhos, dão passagem às magrelas e a vida segue, sem stress. Há placas de conscientização e muito cicloturismo naquela região. Confesso que fiquei com inveja.

 

Ali, fui informado de que estava disponível apenas um dos quartos, sem vista para o lago, e que o valor da diária seria de 300 pesos (US$26).

 

Uma característica positiva, dentre várias naquele país, é o de perguntar para o hóspede se deseja ver o quarto.

 

Pois bem, o quarto em si era extremamente aconchegante, com uma cama de casal e dois beliches, aquecimento a gás e com um banheiro impecavelmente limpo. Uma pechincha! Dormi como um anjo, fiquei ali dois dias e segui viagem para a também bela Villa La Angostura.

 

Villa La Angostura parece um pequeno shopping a céu aberto, lotada de lojinhas e restaurantes, e é muito agradável, em contraste ao movimento sempre acelerado do centro de Bariloche.

 

Foi-me recomendado o camping La Estacada, distante cerca de 15km do centro.

 

Aquele local é o paraíso na terra. Localizado à beira de um lago, é rodeado de montanhas e vegetação exuberante. Os banheiros eram muito bons, assim como o banho. O valor cobrado foi de 100 pesos/dia. Decidi ficar acampado em um local afastado da muvuca dos hermanos, ao lado de um riacho e com uma vista exuberante. As noites foram acompanhadas de uma gostosa fogueira e um delicioso vinho. Felizmente, a depressão havia me dado uma folga. Naquele local, a meditação ocorria naturalmente.

 

Por conta da depressão, tinha receio de ficar parado no mesmo lugar por muito tempo e, por isso, resolvi seguir viagem. Fui, então, para San Martin de los Andes, seguindo pelo Rota dos Sete lagos.

 

É uma cidade com características distintas, mais próximas de uma cidade tradicional. O povo é menos receptivo que o de Bariloche e Villa La Angostura, e os hotéis são mais caros. Fiquei ali apenas um dia e retornei para Bariloche na manhã seguinte.

 

De volta a Bariloche, optei por ficar no camping SER, junto à Colonia Suiza.

 

Apesar de o local ser muito bom, eu não estava para clima de festa. A Colonia possui um centro com restaurante e lojinhas de artesanato, sempre movimentado. Uma espécie de recanto hippie.

 

O camping também estava cheio e, pra completar, o solo onde montei minha barraca era composto de uma areia preta finíssima, que levantava à passagem de qualquer pessoa.

 

Não me senti muito bem e fui para a barraca ler, já que sentar do lado de fora era impossível. A agitação seguia e eu acabei pegando no sono. Acordei cedo, tomei um banho e voltei para a Hostería La Luna. Chega de barraca!

 

De volta a La Luna, o Sergio me ofereceu um quarto com vista para o lago. Menor e mais aconchegante, aceitei na boa o valor de 500 pesos a diária. Com aquela vista e com o ótimo café da manhã oferecido, ainda sim o preço era bom, assim como a cerveja local.

 

Fiquei mais dois dias em Bariloche e era chegada a hora da volta. Tivesse tempo, certamente teria descido para a região de Ushuaia e arredores. Fica anotado.

 

Na saída de Bariloche, me pareceu que o trecho inicial, até o deserto, não foi o mesmo da chegada. Ainda assim, as paisagens eram de cair o queixo. E dê-lhe parar para as fotos. A maravilhosa RUTA 40 foi, de longe, a estrada mais bela pela qual passei. Sem sombra alguma de dúvidas.

 

Nesse trecho, foi a única vez em toda a viagem em que fui parado em uma barreira policial. Pediram os documentos do carro e a carta verde, somente.

 

Os planos eram o de pernoitar novamente na Reserva Florestal Luro e aproveitar para uns cliques na fauna local. Resolvi abstrair a péssima experiência com o banheiro.

Lá chegando à noite, parque fechado, fui informado pelo guarda que a direção do parque não havia renovado com os administradores do camping e cabanas. Não imagino qual teria sido o motivo....

 

Assim, fui até Santa Rosa e fiquei em um dos vários hotéis junto à rodovia que segue para Buenos Aires. O hotel era muito bom, até a hora do café, o qual era servido com umas torradinhas que contrastavam fortemente o valor do pernoite (600 pesos).

 

Ao sair de Santa Rosa, fui agraciado pela passagem de mais uma plantação de girassóis e, desta vez, não deixei passar a oportunidade de tirar belas fotos.

Faltando cerca de 100km de distância de Buenos Aires, o GPS manda sair da ótima rodovia duplicada para acessar uma rodovia simples, paralela. A escolha foi ótima: asfalto perfeito e pouco movimento.

 

Cheguei em Buenos Aires à tarde, segui direto para a estação do Buquebus no Puerto Madero, comprei passagem e saí de lá às 16h, chegando em Montevidéu depois das 18h. A longa fila que se formou na saída era causada pela revista a todos os carros oriundos do Buquebus. Ao contrário dos argentinos, que sempre pediam para o motorista abrir o porta-malas, e também para revistar a bagagem, os uruguaios não pediam licença pra nada e iam abrindo os porta-malas e fazendo a revista sem louvor algum. Ao verem que eu era brasileiro, fui logo liberado.

 

Saído do porto, o relógio já passava das 19h e a noite caía rapidamente. Passei pelo centro da bela Montevidéu e resolvi seguir viagem até Jaguarão. A viagem também foi tranquila. Cheguei a Rio Branco/UR por volta de 1h e parei na aduana para registrar minha saída daquele país. Porém, apesar do prédio estar com as salas iluminadas, e rádios ligados, não havia ninguém.

 

Segui direto para Jaguarão e, por estar em pleno feriado de carnaval, torci para ter vaga no Hotel Sinuelo, no que fui bem sucedido.

 

Dia 12 de fevereiro, manhã, café e direto pra POA, finalizando a maravilhosa jornada. ::otemo::

  • Colaboradores
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Baita relato.

 

Estou para ir a San Martin e queria ir de auto. Baita relato.

 

Tens as fotos?

 

Acha que valeu a pena ir por Montevideo para "fugir" dos achaques? Achei cara a travesia.

  • 2 semanas depois...

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