Membros dmarques Postado Março 18, 2015 Membros Postado Março 18, 2015 (editado) RELATO MOCHILÃO – BRASIL-BOLÍVIA-PERU – JUNHO DE 2014 Penso que todos deveriam comprar passagens só de ida, ao menos uma vez na vida. Você correrá muitos riscos, inclusive encontrar e se encantar com lugares como os descritos nesse relato. Comprei umas passagens assim, de modo que permitissem chegar até a fronteira da Bolívia e de lá rumar ao fabuloso destino Inca, que me encantava pelas imagens da internet. Machu Picchu era o limite até então, mas descobri nessa trip que não há limites quando se deseja profundo! Depois de 3 meses de muita pesquisa e ralação para montar o roteiro, contando com a nobre ajuda aqui do Mochileiros.com, chegou a hora de partir com o mochilão de 15kg e minha “pit bull” (câmera fotográfica) rumo a três destinos chave: Rota do Che, Salar de Uyuni e Machu Picchu. O desconhecido libera uma dose de adrenalina sem tamanho! E "a menos que você conheça as paisagens que eu fotografei, será obrigado a aceitar minha versão delas. Agora, eu os deixo em companhia de mim, do homem que eu era..." (Che Guevara) Então vamos lá. Apesar de mega atrasado, o importante é compartilhar as experiências. O roteiro planejado e o que saiu na real, bem como os gastos estarão no final do relato. ______________________ Dia 1: Itaúna - Belo Horizonte - São Paulo - Campo Grande – Corumbá - Quijarro Correria total e muito cansaço. Os voos – BH/SP/Campo Grande/Corumbá – correram bem, com um pequeno atraso para Corumbá, vez que haviam correntes de vento contrários. Mas o que é um ventinho contra, quando se tinha pela frente mais de 5 mil km?? Fiquei encantado com o MS visto do alto. Incrível e inspirador contemplar tantos tons de verde dispostos em geometria perfeita! As alagações do Pantanal são absurdamente intrigantes e mágicas. Chegando em Corumbá quiseram logo me dar uma facada, cobrando R$ 30,00 pelo taxi do aeroporto até a fronteira com a Bolívia. Lógico que recusei, pois me informei e descobri que, há três quadras dali havia um ponto de ônibus. Andei cerca de 10 minutos e paguei singelos R$ 2,40 pela passagem. (Chupem taxistas mercenários!) O Brasil é mesmo uma vergonha! Já adianto que meu patriotismo é abaixo de zero, então não se assustem quando virem por aqui minha indignação com esse país. Mal havia começado a Copa do Mundo - sim, aquela dos 7x1. Huauhua, ainda bem que vazei antes do barco naufragar... – e o sistema da Receita e Polícia Federal saíram do ar. E o que rolou?? Mais de 1:20h na fila de espera para pegar a autorização de saída do país. Todos misturados numa fila só; quem entrava, quem saia. Aquela bagunça tipicamente brasileira. Aff... motivo de chacota dos gringos na fila, claro! Bom que na fila já fui me entrosando e conheci algumas pessoas legais. Destaco um casal brasileiro que iria a Machu de motoca; um peruano gente fina demais que vinha conhecer o Rio de Janeiro e um hermano muito gente boa da Guatemala que trabalhava na operadora de telefonia Tigo Bolívia. O Sr. Guatemala, Hector Scobar, ofereceu para guardar meu mochilão no carro dele enquanto esperava na fila, e a partir daí já fui maquinando uma carona com ele, pois o mesmo disse que iria até Santa Cruz. Saí com a mochila e o foco no Machu Picchu, então a forma de chegar até lá era secundária, por isso quando ele ofereceu a carona no decorrer da conversa não pestanejei e aceitei, mesmo com um certo temor. Ele me apresentou um som típico do seu país muito bacana e fomos ouvindo musica colombiana também durante o trajeto. Ele foi o primeiro a se espantar com um brazuca fora da pátria em plena Copa do Mundo! kkkk Como a gasolina dele não daria para chegar até SCLS e os postos de gasolina na Bolívia fecham cedo, ele me deixou no terminal de Quijarro. Mas ainda assim ele fez questão de me ajudar a cambiar uma grana e a comprar a passagem do bus. Minha tese de que se deve confiar nas pessoas até prova em contrário era confirmada com essa experiência. Pessoas boas existem sim, nós é que às vezes pré-julgamos demais! A essa altura do relógio vi que tinha perdido o último “trem de la muerte” em razão do atraso na PF. Comecei a ver que nem tudo que planejamos sai como queremos. E isso aconteceria muitas outras vezes no mochilão. Mas isso é um dos baratos, testa seu senso de criatividade e auto-controle. Enquanto esperava no terminal comi um mega sanduba ótimo e tomei um copão de suco natural do outro lado da rua, por R$ 6,50. Isso mesmo, pelo preço de um copo médio de suco aqui na minha cidade comi uma espécie de x-tudo tomei um copo grande de suco. Estão vendo a diferença com o Brasil aparecendo?? rs Embarquei rumo a SCLS em um ônibus que não acredito até agora que paguei R$ 36,00 para viajar a noite toda em poltrona cama superconfortável. Dica: Verão que durante a saga optei por viajar a noite, pois os ônibus na Bolívia e Peru – 95% - são bons e sempre tem horário a noite, o que ajuda a compensar a diária da hospedagem. Deu pra descansar legal durante a noite enquanto ouvia "sampa no walckman". ____________ Dia 2: Santa Cruz de la Sierra (SCLS) – Sucre – quase Potosi... Amanheci em SCLS às 05:00h no terminal Bimodal e ainda estava tudo fechado. Esperei a loja da Tigo abrir, comprei um chip e parti com intenção de ir a Samaipata e Vallegrande. Faria a rota do Che primeiro. Lá não vendiam o chip micro ainda, e fui perguntar a atendente da loja se ela cortava e me deu altas “patadas”... A saída foi pedir ajuda em uma borracharia no caminho para o ponto das vans até Valle. Usei as ferramentas da borracharia e consegui cortar o chip, só que não funcionou... (mais adiante relato melhor os perrengues com a telefonia). Na caminhada matinal que optei fazer por SCLS, percebi o quanto essa cidade é confusa e desorganizada. Sinceramente, terminei meu passeio nela e não consegui entender a sua divisão. Nosso costume no Brasil é o de divisão das cidades por quadras, mas lá não; são anillos, que a principio são “nossas” rotatórias, mas não são, pois existem anillos dentro de anillos...muito doido. Me perdi algumas vezes até encontrar o endereço. Dica: Van sai com destino a Samaipata/Vallegrande quando completa 4 ou mais pessoas da Avenida Omar Chávez Ortiz, nº 1147 esquina com Soliz de Olguin, Residencial Senhor de los Milagros, no 1º anillo, SCLS é estilo metrópole; muitos ambulantes nas ruas. Se a vigilância sanitária da minha cidade fosse lá nas ruas de SCLS fecharia tudo, pois é muita comida preparada e vendida a céu aberto. Não animei encarar, pois meu paladar ainda estava abrasileirado... Dica: Uma experiência boa que tive foi de cambiar dólares na rua em Santa Cruz. Foi seguro e não deu problemas graças a Deus! No decorrer da viagem percebi que foi o melhor preço que encontrei para cambiar em toda a Bolívia. Me arrependi de não ter cambiado mais dinheiro lá. Outra sugestão é levar uns 80% do orçamento em dólar, pois perde menos na troca. Após esperar a vam por mais de 2 horas só apareceram duas hipies argentinas com um cachorro que adotaram no caminho e o motorista não quis sair com nós três. Não considerou o au au... Me desesperei e fiquei decepcionado, pois achei que não daria para cumprir o roteiro, vez que a rota do Che era um dos 3 pontos chave da mochilada. Aí comecei a ver que no mochilão teria que pensar rápido e partir para os planos B, senão não ia romper. Assim, como o próximo destino após o a rota do Che era Sucre rumo ao salar, resolvi antecipar a ida e rumar ao deserto. Nessas duas horas de espera, fui numa espécie de lan house próximo ao ponto das vans, lá ainda tem muitas casas de computador, e me senti voltando no tempo aqui na terrinha...rs. Pesquisei passagens de ônibus e avião até Sucre, e como já tinha lido diversos relatos sobre a carretera ser muito perigosa e os ônibus não serem seguros, preferi ir de avião. Foi um gasto que saiu um pouquinho do orçamento planejado para esse trecho, pois a diferença de valor dessa passagem comprada na hora com o valor que tinha olhado poucos dias antes na internet foi de cerca de R$ 100,00, então compensa reservar antecipado pela net. Peguei um bus por 8bol e segui rumo ao aeroporto Viru Viru, e no caminho os anillos de SCLS me deixavam cada vez mais intrigado, sem contar que o trânsito é coisa de louco mesmo; é gritando, buzinando e passando. Preferencia e direção defensiva lá, sem chance! ãã2::'> Após tomar um bom lanche no aeroporto com apenas 25bol, embarquei rumo a Sucre em um avião muito grande e lá do alto agradeci por não ter ido de bus, pois quando o avião começou a aterrissar vi o quanto as carreteras eram tensas, muito curvas e de terra. O voo foi rápido e um pouco tenso também, pois passamos por umas turbulências nada agradáveis .Nem o serviço de bordo deu pra servir durante o voo. Do aeroporto ao centro peguei um taxi por 20bol. Nesse ponto acho – digo acho de propósito pois não tive certeza absoluta, absoluta, até hoje – que aquela teoria do “bom até prova em contrário” se foi, conforme relato no momento perrengue. Sniff (momento perrengue) É que estava com notas de dólar e bolivianos no mesmo bolso da doleira, e quando fui pagar o taxi dei uma nota de 50 dólares achando que era 50 bolivianos e ele me voltou o troco como se fosse em bolivianos. Só fui perceber isso quando dei entrada no hostel e paguei com os 30 bolivianos de troco e chegando ao quarto fui conferir minhas coisas e cadê a nota de U$ 50?? Fiquei meio loucao, até porque U$ 50 representava cerca 400 bolivianos, e com esse dinheiro lá você faz uma festança. Fui remexendo na memória e percebi que tinha passado a nota trocada para o taxista. Mas também foi vacilo meu não conferir antes. No afã de chegar nos locais para conhecer acabei deixando a ansiedade e o deslumbramento tomar conta algumas vezes... Depois do ocorrido é que fui ligar as coisas e vi que ele tentava era me distrair, pois rodou muito comigo no taxi com o pretexto de mostrar a cidade. E realmente me apresentou vários pontos turísticos lá. Ou talvez não, pois pode ter pensado que lhe dei uma gorjeta boa e quis retribuir. (momento perrengue pós-perrengue) A ideia era só passar por Sucre e seguir até Potosi para ficar dois dias, mas quando fui ao terminal comprar a passagem... surpresa!! Estava ilhado na cidade, pois acontecia um protesto de caminhoneiros que bloqueou as estradas de entrada e saída de Sucre. Então tive que pernoitar para tentar sair no dia seguinte, por isso, foi quase Potosi... Sucre é lindíssima! Patrimônio Mundial da UNESCO. A cidade branca é bemmm mais organizada que Santa Cruz, tem lindas praças e jardins, e pelo estilo me lembrou a querida Ouro Preto. Sucre foi onde a Bolívia nasceu, por isso é considerada uma das capitais do pais, sendo La Paz a outra. Sucre abriga o Poder Judiciário e La Paz o Executivo. Por isso denominadas capital constitucional e política respectivamente. Fiquei no Hostel Alojamento Potosi por 30bol., uma pechincha, porém esse hostel classifiquei como razoável por causa do cheiro de mofo que estava no quarto, mas no cansaço que estava só queria banho e cama. Fui vizinho de uns hippies argentinos e uruguaios bacanas no hostel. Eles ficaram zuando falando que a Argentina ia ganhar a Copa e tals...e foi quase heim. Eles estavam fazendo Cajons para vender e continuar o mochilão deles. Foi inevitável não lembrar do meu Cajon e fazer um som com eles. Sou advogado e a última coisa que queria nessa viagem era saber de processo, escritório, fórum, etc.. Mas quando me dei conta vi que estava hospedado do lado da sede do Poder Judiciario (magnifico por sinal) e justamente na rua dos “abogados”, kkkk, muita coincidência, neimmm... E lá o pessoal dos escritórios trabalham até as 20/21:00h. Sai para conhecer a cidade à noite e fui a um dos mercados típicos de lá. Na Bolívia não tem Supermercados como no Brasil, pelo menos não os vi, e a grande maioria das coisas é vendida em barracas nas ruas ou em mercados, estilo Mercado Central de BH, porém, mais desorganizados. Experimentei a típica comida de lá: chouriço, composto de um sanduba de pão tipo integral com salada e lingüiça. Bom, mas bem apimentado. Tomei um mega suco natural preparado “ao vivo” e quando me levantava para sair a vendedora disse q tinha direito a mais um copo de suco e tudo isso por, pasmem, 5bol. (curiosidade) Em Sucre pude perceber, e depois ao longo da Bolívia, que as mulheres trabalham em serviços braçais e em atividades que naturalmente seriam de homens. Vi umas senhoras de boleadeiras enchendo sacos de terra para carregar um caminhão no meio dos homens e sem o menor senso de inferioridade; no mercado também vi muitas mulheres que desossavam animais e picavam carnes. Se tem uma palavra que escolhi para definir as mulheres da Bolívia é: Guerreiras! Comprei lembrancinhas no mercado e uma lhamita de tecido para fazer uma foto lá no salar...hehe ________ Dia 3: Potosi – Uyuni Acordei bem cedo e fui direto ao terminal com o coração na mão por causa dos bloqueios nas estradas. Torcendo para que desse para seguir viagem. P.S.: Na noite anterior, enquanto lanchava no mercado, um grupo de brasileiros e argentinos me contara que ficaram presos em Uyuni por 06 dias por causa dos protestos. Que medo! No bus até o terminal, fui trocando umas ideias com o motorista e ele disse que a previsão de término do protesto era para a próxima terça-feira, ou seja, dali a 4 dias. Fiquei apreensivo, pois se fosse isso mesmo ia matar meu mochilão. (dica) A melhor fonte de informação segura que encontrei durante a mochilada foi essa: colar nos motoristas e perguntar, perguntar, perguntar... Chegando no terminal fui informado que o bloqueio persistia, mas que uma determinada empresa de ônibus tentaria fazer o trecho com a opção de transbordo, ou seja, ir até o bloqueio, descer do ônibus e atravessar a pé até o ponto final da paralisação para só então tomar outro ônibus. Topei, pois não tinha outra opção. (Detalhe) Quando se está só no meio do desconhecido é tentar com o que tem, ou voltar pra casa. E outra, mochilar pela Bolívia sem aventura é o mesmo quem nem ir. Isso aprendi aqui no Mochileiros Começaria em breve o maior e mais desgastante treking da minha vida. Seria cerca de 1 hora andando numa altitude de 2.900 metros e com o mochilão nas costas montanha acima. Ao som do The Whoo nos fones fui subindo ao lado de uma senhora que carregava um bebe nas costas e uma sacola nas mãos, sem reclamar. Fiquei de cara com a disposição dela e me animei. No meio do caminho parei e perguntei a um caminhoneiro quando ia terminar o bloqueio e ele disse: “Martes”! Ou seja, a informação do motorista era quente. E se esperasse, ficaria ilhado mais 4 dias e bye bye destinos chave. Venci a montanha e realmente o ônibus estava lá nos esperando. A minha confiança e intuição de seguir viagem, tirar os pés da terra firme, me socorreram e deu tudo certo. Olha quem me deu um olá: O Che parecia dizer com esse sorriso entre os dentes: “vá em frente que chegará a Vallegrande!” Na subida até chegar aos 3.967 metros de altitude de Potosi, achei que o ônibus não aguentaria subir de tão íngreme que eram as montanhas. E olha que sou acostumado às montanhas de Minas Gerias hein... Só que as montanhas bolivianas são diferentes das nossas, não tendo quase nada de vegetação, e quando encontrada é típica do deserto, um verde queimado e rasteiro. Aportado até Potosi, aos pés daquela montanha de certa forma cruel pala sua história, mas linda e mística, me lembrei da querida São Thomé, minha cidade favorita em Minas, encravada na montanha de pedra. Comprei a passagem para Uyuni e enquanto esperava o bus sai a procura de comida mais pesada, pois até então só tinha lanchado. Optei pelo “almuerzo” completo, que era composto de uma entrada com sopa de macarrão e legumes, e o prato principal composto de arroz, salada e bife de boi ou frango (toro ou pollo), optei pelo boi e me senti em um episódio dos desenhos animados que tem aqueles bifes lindos com aquele ossinho junto. Olha o dito cujo aí no meu prato. A comida é boa, me surpreendeu. Só não gostei muito do arroz, o que é raro, pois são fã desse grão. Mas nesse prato ele veio bem triturado e amiguinho... As paisagens no caminho são demais, entre montanhas e campos de criação de lhamas e ovelhas. Foi meu primeiro contato visual com as lhamitas, e mesmo de bem longe, já fiquei encantado com elas. Já estava ansioso para ter contato com uma bem de perto, mas demoraria um poquito mas... No banco ao lado estava uma jovem boliviana que puxou papo me pedindo para ver as fotos que havia feito e acabou que fizemos amizade. Ela se chama Vilma; muito gente fina. Deu-me altas aulas e dicas sobre o país dela. O que achei mais legal nesse papo foi quando mencionei o nome das “cholas”, e a Vilma prontamente me corrigu: “cholas não; são mulheres de boleadeiras!”. Ela em explicou que a maioria delas se sente ofendida com o termo chola. Dali em diante tratei de usar o termo correto. Outro “aviso” que ela deu foi quando saquei meu bastão de manteiga de cacau para hidratar os lábios. Ela riu muito e fiquei sem entender, pois estávamos chegando no deserto e estava bem frio também. Daí ela explicou que se os homens bolivianos vissem a cena poderiam achar que era...gay. kkkk. Ri demais. Mas desde então passei a usar o cacau o mais escondido possível. (Dica) Se não levar, e usar bastante cacau ou similar para lá voltará com a boca arrebentada. Da mesma forma que eu estava encantado com a cultura nova que se desbravava, a Vilma também estava muito interessada no Brasil, e me pediu para ouvir as musicas brasileiras que tocava no meu telefone e ver fotos daqui. A essa altura outros 2 jovens passageiros se aproximaram para ver as fotos e ouvir as músicas. Apresentei a eles alguns dos rock’s que dispunha e eles ficaram meio espantados, dizendo que lá não têm o costume de ouvir esse estilo. Gostaram mais de Engenheiros do Hawaii. (Detalhe) Sai daqui falando no máximo um “hablas español” e morrendo de medo de passar aperto com a Língua, mas fui percebendo o quanto a comunicação é incrível e possível. Lógico que certos termos e palavras não entendia e ficava alguns vácuos nos papos em certos momentos, mas no geral, foi super de boa e voltei com o vocabulário enriquecido. Se aproximando de Uyuni, já no cair da noite, a paisagem muda drasticamente e simplesmente começou a congelar! A paisagem desértica é muito legal. Quando cheguei no destino em Uyuni e desci do ônibus achei que ia congelar de tanto frio que fazia. O raciocínio estava difícil, pois era altitude elevada e frio demaisssss. Temperatura próxima de zero segundo os termômetros dos hotels que olhei e com previsão de ser negativa durante a madrugada. Fiquei no Hostel Vieli, pois tinha água aquecida e estava mais em conta e próximo do centrinho da cidade. Foi o banho quente mais gelado que tomei até hoje. Minhas mão estavam pedrando. Vesti duas meias; duas calças; três blusas; touca e me cobri com uns 5 quilos de coberta de lã. Não é zueira a quantidade de cobertas. Achei que seria o frio mais intenso que passaria, mas pobre de mim. Uyuni estava apenas começando. ______________ Dias 3, 4 e 5 – Uyuni – Deserto de sal – Deserto de Siloli – Geisers e vulcões Acordei cedo, pois estava muito ansioso para comprar o passeio aos desertos. saí a caça de sol, café e agências. Confirmaram que na noite anterior a temperatura ficou entre -6 a -8. Eita!! Tem razão a agua não esquentar direito. Estava com medo de não achar vaga nos passeios para aquele dia, e meu tempo estava contadinho, mas o que mais encontrei foi oferta de pacotes. Fechei com a Joya del Sur o passeio de 3 dias e 2 noites por 600bol. Como todo produto em qualquer lugar no mundo, encontrei agencias vendendo o mesmo pacote por quase o dobro do que paguei. O negocio é pesquisar muito para não tomar preju! Após fui tomar o desayuno. Comi uma espécie de biscoito de farinha de trigo frito com café. Bom o biscoito; café diferente, aguado e fraco... Rumei a uma casa de cambio para trocar grana e fui conhecendo a cidade enquanto esperava a hora do passeio começar. Comprei lanches e água para o passeio, bem como a passagem de trem para Oruro. Mas a melhor aquisição que fiz nessa terra gelada foi uma alpaca de lhama e um pacote de folhas de coca. Ambas me salvaram durante a saga. Achava que o tal efeito soroche era bla bla bla, mas que nada. Subiu a serra, falta o oxigênio mesmo e o mal estar ataca. Verão (lerão) nos próximos dias... As 10:00h fui para o ponto de saída e conheci meus companheiros para a jornada. O guia foi o Omar, gente fina. Foram duas alemãs – Tanya e Michelle; duas bolivianas – Pamela e Grace, e dois canadenses – Aaron e Gerrard. O passeio que fechei começou no cemitério de trens, que são carcaças das linhas e vagões que faziam o transporte de cargas entre a Bolivia e o Chile. Achei muito bacana, pois sou mineiro da gema, e como bom minerim, sou apaixonado pelos trens. Rs Em seguida ingressamos no Salar. Fiquei maravilhado, e quase cego! Um horizonte perfeito e reluzente. Uma das minhas paixões é a fotografia, e já pus o pé na estrada ansioso para fazer fotos lá naquele horizonte infinito... Após uns cliques, saímos para conhecer o museu de sal e almoçamos próximo a estatua de sal em homenagem ao Paris Dakar que havia passado por lá. Linda ela! Tentei a foto em profundidade com a lhamita algumas vezes mas falhou...paciência né. Dali partimos até a Ilha do Pescado ou Ilha dos Cactos Gigantes. Lugar fascinante. Cactos imensos e centenários. Crescem apenas 1cm por ano, sendo que o mais velho tinha na época 12 metros; velhinho ele né?! Do mirante da ilha é possível ter uma panorâmica incrível do salar. Fotos deslumbrantes claro! Aos pés da ilha deu para fazer a foto com a lhama mais ou menos do jeito que queria. A Tanya fotografa muito bem e após dezenas de tentativas consegui a foto. Ganhamos chão, quer dizer chão de sal, e saímos a procura de abrigo enquanto o sol se punha devagar, devagar... Sou amigo do sol, já o comtemplei se pondo diversas vezes, mas esse foi um dos mais lindos que testemunhei. “As vezes faz nossa cabeça um par de olhos um por de sol” (Humberto Gessinger, e Eu) Hospedamos no hostel Los Lipez todo feito de sal, inclusive as camas, achei o máximo. Era organizado. Serviram chá quando chegamos para "esquentar o peito", e mais tarde o jantar com um frango empanado delicioso. Enquanto esperávamos o jantar as alemãs nos ensinaram um jogo de cartas com baralho alemão. Tipo o nosso “burro”. Depois que aprendi só perdi uma. O baralho é no mínimo inusitado, pois começa do “7” e a carta de maior valor é o “A”. A temperatura caiu drasticamente, sorte que nas camas de sal deve que havia uns 10 kg de cobertas de lã, sem exagero. Além disso entrei no saco de dormir para garantir que não congelaria. Dia 4: Salar de Chiguana; Vulcão Ollague; Lugunas com flamingos; Deserto de Siloli; Laguna Colorada Acordamos às 07:00h e trilhamos no horizonte dos vulcões. Fomos até a fronteira com o Chile e vulcão Ollague, que faz a divisa foi meu alvo de inúmeras fotos. Ele está vivo, e ainda vou visitá-lo mais de pertinho. A paisagem dos vulcões me fascinou muito. Nunca havia visto montanhas tão imponentes. E foi aqui que saltei os 5.870m do Vulcão Ollague...rs. Uma fotos favoritas do mochilão. O altiplano é maravilha de Deus. Fiquei matutando com podia subir, subir e subir e de repente tudo ficar plano e formar maravilhosas lagunas coloridas. (Momento perrengue) A medida que ia se aproximando das lagunas os flamingos iam dando o ar da graça e beleza. E estava doido para fotografa-los, só que quando os avistei mais de perto fui com muita sede e me ferrei... Atolei os pés num charco de enxofre, sódio e ácido bórico puro, kkkk. Aí o tênis descolou, deu PT! Claro que só fui saber em que estava pisando só depois de conversar com o Omar. Mas almoçar ao ar livre, tendo à vista, montes, vulcões, lagunas e com os flamingos valeu todo o preço da ansiedade desenfreada. Me enganei achando que o sol a pino secaria meus tênis, meias e calça. Nunca vi isso...o céu límpido, sem nuvem e o sol estalando, porem não esquentava. Em todos os dias nos desertos estive com 1 camisa, 2/3 blusas mais a jaqueta jeans, as vezes 2 calças, além de 2 meias grossas, e ainda assim sentia frio. Não consegui ficar sem touca, alpaca e óculos, pois além do sol e do frio, o vento é constante. Batizei os desertos de “Lugar sem Nuvens”. Se tiver visto umas duas no céu foi muito. O jeito foi calçar os tênis molhados e seguir viagem. Fomos para o Deserto de Siloli, que é considerado um dos mais secos e áridos do mundo, integrando o deserto de Atacama e fazendo divisa com o Chile. Aqui o ponto chave é a Arbol de Piedra, uma bela formação rochosa esculpida pelos ventos de 120km/h sugerindo uma arvore solitária no deserto. Esse ponto do passeio foi marcante por dois motivos em especial: primeiro porque nunca senti tanto frio durante o dia e com um sol de rachar. Minha cabeça doía muito e quando abria a boca para conversar sentia a garganta congelar. Aliado a tudo isso estava com os pés e meias molhados ainda, o que aumentava mais a sensação do frio intenso... A outra razão foi por ser em pleno deserto o meu primeiro contato com a neve. Confesso que fiquei bobo ao ver a neve “brotando” daquela aridez. Da pra imaginar o grau de frio agora?? Graças a Deus não congelei!! Ingressamos na rota das lagunas onde os flamingos pareciam multiplicar (e eu achando que não os veria de pertinho, arriscando meus tênis...), sendo o destino final a Laguna Colorada. Criação estupenda de Deus! Todos encantados com o lago multicolorido. As cores variam de acordo com o horário, clima e ventos. Complexo não?! Nesse dia ela nos brindou com vermelho, azul e branco. Após colorir os olhos entramos num parque ecológico a procura de um abrigo. No caminho sinceramente não acreditava que existiria um hotel em um local tão inóspito daquele... e não é que existem alguns. (Momento perrengue): estávamos a 4.600m de altitude e a falta de ar estava desesperadora, aliada ao frio de enlouquecer e retardar as ideias. A previsão para aquela noite segundo os guias era de -12º. Aqui nem as folhas milagrosas da coca me socorreram. Mentalmente foi o ponto mais difícil da saga. No hotel teríamos energia elétrica por apenas 3 horas – estava mais que no lucro, pois nem acreditava que haveria hospedagem em pleno deserto. Seria o tempo necessário para recarregar as baterias das maquinas e celular e tomar um banho quente. Hahaha, banho quente??? Quanta inocência a minha... a água que diziam ser a “quente” deixou minhas mãos roxas só de escovar os dentes, agora imaginem se entrasse debaixo para tomar banho?? Eu, e as cerca de 15 pessoas que estavam no hostel não arriscaram. Infelizmente o frio intenso e o efeito soroche me desanimaram muito e nem lembrei de fazer foto para registrar esse hotel/abrigo. Olhava meus tênis molhados e começava a ficar preocupado, pois não tinha levado outro e seria difícil encarar o resto do mochilão com ele ensopado. O jeito foi “assa-lo” no fogão de lenha que aquecia a cozinha do hotel. Kkkk. Foi engraçado, meio vexame eu reconheço, mas na hora era a única alternativa que me restava, e o resultado foi melhor que a encomenda. Para aquecer enquanto esperávamos o jantar tomamos umas duas garrafas de chá mate quentinho. Jantamos bem (uma massa muito boa, tirando as cebolas, claro) e tomamos um vinho para nos recolher, já que o despertar seria às 05:00 da madruga. Foi tensa demais essa noite. A terceira pior no mochilão. Se tiver dormido 2h foi muito. Muita falta de ar, e nariz totalmente obstruído, além dos tradicionais 10 kg de cobertas de lã que me pregavam na cama. Odeio dormir com muita coberta, mas para não congelar tive que “matar esses leões”. Nesse ponto do deserto a ideia era sair de madrugada para fotografar as estrelas, mas...nem tudo que queremos realizamos. Ps.: A segunda e a primeira noite mais terríveis estariam próximas também. afff Dia 5: Amanhecer nos Geisers; Aguas termais; Deserto de Dali; Lagunas verde e branca; Vulcão Licancabur; Comunidade Villamar; Vale das Rochas; Comunidade de San Cristobal Acordei às 05:00h, quer dizer, me levantei. Sem luz o desafio foi montar a mochila para seguir, mas o Aaron estava de pé com uma lanterna de cabeça e parecia um poste de iluminação, literalmente, pois mede 2,06m. Dica: levem uma lanterna de cabeça quando forem nessa trip ou outra. É o que vou fazer da próxima vez, pois tem uma utilidade muito boa. Subiríamos mais ainda, a procura dos gêiseres, e no alto dos 4.900m a janela do carro simplesmente congelou, olha aí embaixo: Ninguém se mexia no carro, e por incrível que pareça eu e Tanya recusamos duas paradaa para fotos sugerida pelo guia. Inédito isso!! Kkk O sacrifício valeu. Ver a terra cuspindo água fervente, lama e vapor é incrível! Tive a certeza que a nossa madre terra é viva e nos brinda com sua gama de formas, cores, vida. O cheiro de enxofre e lama é terrível, mas o espetáculo é bonito! Se com os gêiseres já pirei fico imaginando quando visitar um vulcão em atividade...haha, só alegria!! Aqui fiz uma das minhas fotos favoritas: uma lua ainda imponente duelando com o sol que já raiava. Descemos um pouco e chegamos às aguas termais. Em cerca de 20 min. de estrada fomos de -12º para os 39º. Muito mística e convidativa a imagem das águas ferventes em pleno deserto gelado. A minha ideia e dos demais do grupo era só molhar as mãos e pés, mas quando experimentamos aquela água quentinha e nos lembramos que estávamos a 3 dias sem banho, mergulhamos totalmente e ficamos curtindo por mais de 1 hora. Após o revigorante banho fomos rumo a um destino muito aguardado: o Deserto de Dali. Realmente o lugar faz jus a homenagem ao mestre da pintura. Paisagens surreais. Foi a Lua durante o dia mais linda que já vi. Já por volta das 12:00h a dona da noite ainda disputava lugar num céu de brigadeiro com o Sol. Fizemos altas fotos e tentamos formar a palavra “Bolívia” mas não ficou do jeito que queríamos...mas tá valendo; deu pra dar boas risadas. No retorno visitamos mais um vulcão e duas lagunas. Porem o grande pesar desse ponto foi não ver a laguna verde, pois estava congelada; se transformou em lago branco. No verão é que ela fica aquele esplendor visto nas fotos. Deu uma vontade de voltar lá no verão... Voltando a Uyuni, quando achei que meus olhos já tinham se enchido de toda a beleza dos diversos mundos contidos nos desertos, me deparei com um vale lindíssimo, de vegetação colorida e águas cristalinas (parte congelada, rs) onde dezenas de Lhamas pastavam com seus filhotes. Durante a viagem eu e Tanya estávamos quase perdendo o juízo porque não tínhamos conseguido fazer boas fotos das lhamitas e agora estávamos ali, pertinho, pertinho delas; e elas posando para nossas imagens. Simpáticas elas; nem cuspiu em nós. (Dica) Sabe o que tinha de diferente naquele passeio de quase o dobro do preço? Nada! Sendo que o que variava um pouquinho era a comida servida, sendo que os locais, tempo de parada, etc. era tudo igual. Na volta, passamos pelo deserto de pedras com formações rochosas incríveis, tipo essas: No povoado de San Cristoban, fiz o pit stop para a troca dos pneus, rs. Comprei um kit reparação dos tênis no mercado central do lugar, contendo: 01 gota-gota (cola super bonder) e uma escovinha para dar uma geral no pisante. Comprei também uma maçã gigante e muito doce no pacotão por apenas 7,50bol. Olha que simpática essa construção do povoado: Observação: sai do Brasil achando que para ir de Uyni a La Paz tinha que passar por Oruro, pois não havia achado relatos de alguém que fez outro caminho. Então, logo que cheguei a Uyuni fui à estação e comprei a passagem de trem a Oruro e de lá iria a La Paz. Só que, durante a saga gelada no deserto, Pamela e Greice me disseram que era possível ir de bus. Fui a estação para tentar devolver e não aceitaram, mas quando me virei, estavam lá para comprar passagens a Oruro a Pam e Greice. Haha, que sorte, salvaram minha pele. Vendi minha passagem a Pam. A Pamela e Greice são uma simpatia. Me ajudaram a comprar a passagem para La Paz e enquanto esperávamos o horário do ônibus e trem fomos comer algo e optamos por pizza. Na pizzaria pude observar o Brasil na TV através de um jogo da Copa (afff) enquanto aguardávamos a pizza. Pedimos uma pizza metade carne de Lhama e metade de queijo (se não me engana a meméeu acho). A carne é muiiiiito saborosa. Mais leve, menos vermelha comparada a de boi, e bem magra. As meninas são ótimas pessoas e foram companhias formidáveis. Foi o ponto que mais aprendi sobre a Bolívia e ensinei sobre o Brasil. Conversamos bastante sobre questões políticas, sociais, geográficas, turísticas, famílias, enfim, elas mataram muitas curiosidades minhas sobre o país delas e fizeram muitas perguntas sobre o Brasil. Tentaram me explicar sobre os anillos de Santa Cruz, mas mesmo assim não entrou na minha cabeça. Ushauashsa. Fizeram questão de me embarcar no ônibus. Nos despedimos e parti rumo a La Paz as 20:00h com previsão de chegada às 06:00h. Gastos até aqui: Corumba/Quijarro = Bus Corumba – Quijarro = R$ 2,40 Quijarro/SCLS = Bus Quijarro – SCLS = 100bol.; sanduba+sucão = 18bol; chip Tigô= 10bol. SCLS/Sucre = Avião SCLS – Sucre = 363bol.; banheiro= 1bol; bus de SCLS ate aeroporto= 8bol.; lan house= 1,50bol.; lanche aeroporto= 25bol. Sucre/Potosi/Uyuni = taxi aerop./centro= 20bol. (q saiu por U$ 50,00, sniffff); hostel= 30bol.; lembrancinhas= 30bol.; lanche= 17bol.; transporte dentro de Sucre= 5bol.; desayuno= 15bol.; bus de Sucre a Potosi= 20bol. + taxa de embarque de 2,50bol.; almuerzo, agua e sobremesa (gelado – tipo um sorvete) em Potosi= 16bol.; bus de Potosi a Uyuni= 30bol + taxa de embarque de 1bol; hostel 50,00bol. Uyuni = pacote passeio 3 dias e 2 noites= 600,00bol.; desayuno= 5bol.; alpaca= 30bol.; pacotão de folhas de coca e lanches para a expedição= 20bol.; sol e lua (casamento místico) de recordação para minha janela= 10bol.; lanche= 15bol.; entrada no parque da laguna colorada= 150bol.; agua e balas de coca = 15bol.; kit pit stop e maçã= 7,50bol.; pizza de Lhama= 30bol.; bus a La Paz= 90bol. Editado Maio 5, 2015 por Visitante Citar
Membros Prisilva Postado Março 18, 2015 Membros Postado Março 18, 2015 Muito legal o relato! Acompanhando Citar
Colaboradores rodrigovix Postado Março 19, 2015 Colaboradores Postado Março 19, 2015 Acompanhando, dmarques. Tá bem bacana. Continua aí rs. Citar
Membros MatheusSantos Postado Março 21, 2015 Membros Postado Março 21, 2015 dmarques To acompanhando o relato! Em julho farei esse mochilão. Citar
Membros dmarques Postado Março 21, 2015 Autor Membros Postado Março 21, 2015 Nota:[/i] Antes de continuar o relato, é bom esclarecer para os desinformados e preconceituosos de plantão que a coca usada lá não é a cocaína, ou base da mesma, ok?! Como é proibida no Brasil, muita gente pensa se tratar das folhas usadas para fazer a droga, que a coca vai dar algum barato ou deixar a pessoa viciada. ãã2::'> Kkkk. Mas na verdade não é nada disso. Suas folhas já eram usadas pelos Incas para diminuir a fadiga, os enjoos e a tontura causada pela altitude e, até hoje, os bolivianos e também os peruanos têm o costume de mascá-las. Dia 7 – La Paz – Tiahuanaco A segunda pior noite se deu no bus de Uyuni até La Paz. Peguei o ônibus da noite pensando que daria para dormir e me recuperar dos efeitos do deserto e do frio, e para meu azar e arrependimento fui no segundo andar ainda... Putss, a noite pareceu uma eternidade, pois a estrada não era pavimentada e a janela da minha poltrona estava com uma folga, que fazia com que ela batesse e deixasse entrar poeira pelas frestas. Quando cheguei à capital pela manhã, às 07:30h, fiquei um pouco decepcionado, pois achava que a cidade era mais organizada por ser o centro do Poder Politico. Momento “a cara da riqueza” (sqn): Fui tomar café na Rodoviária. Sempre tenho o habito de perguntar quanto custa antes de comprar qualquer coisa, só que dessa vez pedi um desayuno e nem perguntei, e um senhor boliviano do meu lado pediu a mesma refeição. Quando fui pagar, a chica me cobrou mais caro do que do nativo (percebeu que era um brazuca milionário ) ... não dei muita bola porque era diferença pouca, tipo: paguei 6bol. e ele acho que 4 ou 4,50bol. Mas essa situação iria se repetir, não comigo, mas com pessoas que conheci, conforme relatarei adiante. Dica: pergunte os preços sempre antes, principalmente passagens de bus, pois algumas vezes vi utilizarem dois pesos e duas medidas. Para aproveitar o dia, já procurei alternativas para chegar a Tiahuanaco, pois estava ansioso para conhecer a civilização. Achei o preço do taxi lá caro em relação ao trecho a ser percorrido (mas quando comparado ao Brasil ainda é uma bagatela). Descobri qual linha de ônibus ia ao cemitério para pegar as vans que iam a Tiahuanaco; paguei 1/10 do valor do taxi. Passagem de ônibus em todo o país é muito barato. Dica: das proximidades do cemitério partem ônibus e vans com diversos destinos de passeios, então o esquema é pegar o bus coletivo do lado de cima do terminal e pedir para parar próximo ao cemitério. As vans/micros bus que fazem os passeios, na maioria pertencem a cooperativas, então só partem quando reunido um determinado número de passageiros, e só havia eu e um casal de franceses e o motorista insistia em esperar 5 ou 6 passageiros. Veio com um papo de que para sair de imediato teríamos que pagar o valor das poltronas vazias. Não concordamos. Dai, passado um tempo apareceu mais duas pessoas e saímos. O povoado Tiahuanaco é muito bacana. Eles foram os precursores do império Inca. As grandes construções megalíticas, pedras cortadas, entalhadas e esculpidas pesando até cem toneladas, encaixando-as umas às outras com uma precisão e engenhosidade incrível, são de cair o queixo. Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, é formado por templos, monolitos e pórticos. Conheci o local; visitei alguns museus, o sitio arqueológico e fui almoçar. O almoço mais gostoso que comi. Me empanturrei. Nuuu!! Também, o cardápio do dia era bife de lhama, papas (batatas) recheadas com queijo e salada de tomate, cenoura e rabanete. Além da entrada de sopa, e um pão de sal bem gostoso; diferente dos nossos. Dica: A Pamela me ensinou que é costume de alguns lugares servirem sobremesa, mas que, quando elas não viessem espontaneamente deveria bradar: “postre por favor!” kkk . Nem precisou pedir, porque não gosto de doces, mas pra quem não dispensa, fica a dica. Após o almoço sai para comprar umas lembrancinhas e interagir com as senhoras de boleadeiras na tentativa de me deixarem tirar uma foto delas, e junto delas. Até então não tinha conseguido nas tentativas que fiz em Sucre. Afff, uma lá até me xingou... Mas o povo de lá foi simpático e elas deixaram fazer as fotos. Essa da mãe com o filho é uma das minhas favoritas do passeio. Dica: não compensa pegar os micro e vans que oferecem a volta (e a ida também) até La Paz, pois partem ônibus coletivos de hora em hora por 1/3 do valor, ou seja, 5bol. No ônibus de volta a La Paz conheci um sujeito gente fina demais. Tive sorte, pois só pessoas boas cruzaram meu caminho, ou eu cruzei o delas... Esqueci de anotar o nome dele, mas o nome é de origem francesa muito comum, acho que Pierre... Puxou papo e quando me identifiquei como brasileiro ele ficou eufórico, pois era um amante de futebol e quis saber de todo jeito o que me fez sair do Brasil em plena Copa. Aprendi muita coisa sobre o povo Tiwanaku e La Paz também; com razão, pois o amigo foi guia turístico da cidade por dezenas de anos e a empatia pelos brasileiros segundo ele nasceu das constantes visitas tupiniquins lá no santuário. Fala e entende bem o português. Ele estava com a tabela de jogos da Copa nas mãos e fez questão de eu anotar um placar na tabela dele. Se não me engano, marquei que a Costa do Marfim ganharia da Colômbia. Ele quase teve um troço quando disse que não torço pela Seleção Brasileira, mas sim pela Argentina. Me recomendou o passeio de teleférico que havia sido inaugurado a poucos meses, segundo ele “era parecido com o do Rio de Janeiro”. Desde que cheguei a La Paz cresci os olhos nos bondinhos que quase chegavam no céu, mas pensei que seria um absurdo de caro. Quando ele me falou o preço nem acreditei: 5bol. Fez questão de me guiar e embarcar na estação e no caminho confidenciou um fato que me deixa encabulado até hoje... Ele estava separado da esposa, até aí tudo bem, mas o que me chamou a atenção foi o motivo: a esposa o enganou, não com traição carnal ou sentimental, mas pedindo dinheiro emprestado a outro homem sem a comunicação e permissão dele. Disse que na cultura dele isso é muito grave e que ainda estava magoado com ela, mesmo após 6 meses do ocorrido. Dava pra ver e sentir que ele gostava muita da mulher, mas segundo ele, mesmo o empréstimo tendo sido pago, só a perdoaria em razão dos 3 filhos que tinham. Chegamos a conclusão final que relacionamento é difícil em qualquer parte do mundo e independente da cultura. Cultura...incrível como coisas banais para nós tinha tanta importância para ele. Mas de toda forma fiquei comovido com a situação. Me deixou na estação dizendo que seu sonho era voltar a ser guia para ter contato a aprender com todas as culturas possíveis. No teleférico fiquei encantado com La Paz vista do alto. Parece um formigueiro aos pés das montanhas. A obra é coisa de primeiro mundo. Dentro do teleférico colhi informações com outros passageiros de como era mais fácil chegar a Copacabana, já pensando no dia seguinte. Desci em uma das estações e fui procurar um lugar para hospedar. Só tinha três coisas na cabeça a essa altura: tentar dar uma geral nos tênis com o kit reparo, tomar banho e dormir, pois estava exausto com os efeitos do deserto, da altitude e das noites mal dormidas. Nem lembrei de anotar o nome do hotel, pois começaria o maior aperto da mochilada. Fiz o check-in, tomei um banho, arrumei os tênis (ficaram quase 0km) e quando me deitei para descansar e ver as fotos que havia feito...cadê minha câmera?? Perrengue mestre dos mestres: estava desolado no quarto sem minha Canon T3i. Tá, reconheço que não é um mega equipamento, mas tinham fotos que curti pra caramba nela! Além de um pen drive e cartão de memória com cópia dos meus documentos e o carregador do celular na bag. Revirei tudo no quarto, olhei se tinha deixado na recepção e nada... então busquei na memoria e ultima lembrança era de ter colocado a bag com ela no chão quando desci do teleférico para arrumar minhas coisas. Voltei a estação e no lugar que havia supostamente deixado não estava. Ai parti pro desespero! Deixei todo mundo doido: seguranças, administração do teleférico, polícia e funcionários. Ninguém a viu. Solicitei as imagens do sistema de segurança, só que, como a construção era nova, ainda não haviam instalado sistema de câmeras. O que havia lido sobre a policia boliviana (de não darem muita bola para os brasileiros) se confirmou, pelo menos hipoteticamente naquele momento, pois não deram a mínima, sequer fizeram um B.O. (Relato, para eles) se limitando a lamentar e me desejar sorte. Quando mencionei ir ao Consulado a coisa melhorou um pouco, pois pelo menos anotaram meus dados e o endereço do hotel, bem como o gerente da estação foi tentar me tranquilizar. Tentei ligar para o Consulado varias vezes, mas já haviam encerrado o expediente... Fiquei o final da tarde toda até o inicio da noite na estação e nada dela aparecer. Então me conformei com a perda e comecei a preparar a maquina reserva para o restante do passeio. O que me deixava mais chateado era pensar que ainda teria o Lago Titicaca, o Machu Picchu e tantas outras paisagens para fotografar e as fotos não ficaram com a qualidade boa que minha “filha” tinha... A noite fui comer um sanduba próximo ao hotel e para minha grande sorte, tinha uma lojinha de eletrônicos do lado da lanchonete com um único carregador de celular compatível com meu aparelho para vender, aí comprei ele, porque ficar sem celular o resto do passeio seria osso, se bem que era só para internet mesmo, pois ele não era desbloqueado, por isso o chip da Tigo que comprei não funcionava... E a pior das noites começava, pois nem dormi direito pensando onde a câmera poderia estar e sobre a possibilidade de utilizarem meus documentos... Gastos até aqui: 6,00bol. = desayuno (superfaturado ); 1bol. = internet na rodoviária para saudar a família (que achava que eu havia sumido, ); 1,50bol. = bus até o cemitério; 15,00bol. = van até Tiwanaku; 3,50bol. = agua; 20,00bol. = almuerzo e bus retorno La Paz; 5,00bol. = teleferico; 45,00bol.= hotel; 5,00bol. = carregador celular; 20,00bol. = sanduba e suco. Citar
Membros dmarques Postado Março 21, 2015 Autor Membros Postado Março 21, 2015 Muito legal o relato!Acompanhando Valeu Prisilva, rodrigovix e Matheus SanSilva. Não vai se arrepender Matheus SanSilva! Hehe Citar
Membros dmarques Postado Março 23, 2015 Autor Membros Postado Março 23, 2015 (editado) Dia 08 – Lago Titicaca – Copacabana – Puno Acordei bem cedo para ir ao Consulado fazer uma ocorrência pelo menos para me precaver quanto aos documentos que estavam na bolsa da máquina durante o restante da viagem. Arrumei o mochilão e quando fui dar a olhada final no quarto para ver se não esquecia algo, e quando abri o criadinho... a câmera estava lá sã e salva. Kkkk, uffa!! De tão esgotado que estava nem me lembrei de tê-la “escondido” no criado. Ainda bem que não acusei ninguém de ter a levado, senão estaria em maus lençóis... Rindo atoa e aliviado tomei o café e sai rumo ao magnifico lago Titicaca e Copacabana, e sequer imaginava que os apertos continuariam...afff. definitivamente não tive muita sorte em La Paz e arredores, ou melhor, não tive a atenção necessária. Nu bus até o lago Titicaca, tomado próximo ao cemitério, o cobrador me fintou em 2bol. Alegando que não tinha troco quando paguei com 20bol., ele disse que passaria o troco no final, mas simplesmente sumiu após vender as passagens. Depois que entendei que ele trabalhava para a cooperativa e não para aquele ônibus especifico, então, cuidado com o oportunismo dos vendedores. Nesse onibus haviam uns 06 brasileiros: de SP, RJ, CE e RN. Nos apresentamos, mas preferi ir para o fundão onde tinha um casal de argentinos hippies – + um bebe – fazendo um som muito bom no violão. Rolou até um “Maluco Beleza” do Raul com participação em massa dos brazucas. hehehe A paisagem no caminho é muito bonita, e no auge do espirito observador, notei que as igrejas de lá não tem torre central, pelo menos não vi nenhuma, mas apenas laterais. O Lago é maravilhoso. Maravilha Natural do Mundo e considerado o lago navegável mais alto do mundo, visto que sua superfície está a cerca de 3.900 metros acima do nível do mar. E com certeza me distrai fazendo muitas fotos, para variar... Nas margens do Titicaca, o ônibus para, todos descem e o bus é atravessado em uma balsa, sendo que o motorista disse que iriamos depois, só não disse como. Nesse vilarejo eu e a turma do bus fomos ao banheiro, compramos lanches e lembranças, fizemos fotos e...me deixaram para trás. Perrenguinho para variar: achava que atravessaríamos o lago na balsa que levou o onibus, mas para minha surpresa quando fui procurar os demais passageiros do ônibus em que estava, não vi ninguém. Eles haviam atravessado numa lancha quase junto com o ônibus. Putss, ninguém me chamou e sequer sabia que o meio de atravessar era pela lancha. Só fui saber que era assim quando perguntei ao piloto de uma outra lancha se ele viu uns brasileiros e um casal de hippie que haviam chegado num ônibus verde... disse que partiram ha uns 5 minutos. Fiz essa foto sem perceber que o amigão me apontava justamente o meu bus... Fiquei meio preocupado, pois minha mochila grande estava no ônibus, sendo que na mochila de ataque só haviam os documentos, dinheiro e alguns mapas, o resto estava na outra mochila. Perguntei ao piloto como faria para atravessar, e as opções eram: esperar o próximo ônibus de passageiros chegar, ou reunir 22 passageiros para uma outra lancha atravessar, e nesse caso seria 2bol. o ticket (só que não haviam nem 10 pretensos passageiros no lugar), ou pagar 30bol. para a lancha me atravessar sozinho. O tempo para pensar não era grande e não podia esperar reunir o numero de pessoas pois perderia o ônibus do outro lado do Lago, então negociei um pouco com o piloto e paguei 20bol. para a travessia solo. O passeio é bonito e até vale os 20bol., mas na situação que estava foi preju né... Atravessado o lago, chega-se a um outro povoado, no qual meu ônibus não estava. Perguntei a um taxista na praça se viu o ônibus verde. E a resposta me preocupou muito. Disse que partiu há uns 10 minutos e que estaria há “lejos”. P@rr#, fiquei muito revoltado por não me esperarem, principalmente por terem brasileiros no ônibus. A única alternativa era ir de táxi – parece que até combinaram isso lá – só que para partir teria que ter quatro passageiros e só haviam mais dois além de mim. Expliquei ao motorista que minha mochila estava indo embora com bus sei lá para onde e ele me deu duas alternativas: ou esperar mais um passageiro ou pagar o valor do mesmo e partir. Esperei uns 5 minutos e como não estava em condições de exigir muita coisa, aceitei e paguei os 20bol. cobrados, sendo 10 da minha parte e 10 do fantasminha camarada... Fiquei um pouco aliviado, pois o raciocínio foi logico: o carro era mais leve e rápido do que o ônibus, então rapidão alcançaríamos. Só que meu “raciocínio” não contou com o desconhecido. As estradas eram em aclive e as pois as curvas em “U” e “S”, ou seja, não era possível fazer mais de 40/50km, ou, do contrario despencaríamos abismo abaixo. O mais engraçado da tragédia grega foi a passageira que estava do meu lado; uma senhora de boleadeiras que me tranquilizava o tempo todo dizendo para ter calma que alcançaríamos. O outro passageiro também tentava me passar tranquilidade, demonstrando sua surpresa e revolta com o motorista do bus, pois segundo ele, que é daquela região, quando acontece de ficar alguém para trás os ônibus sempre esperam. Então fui premiado! Escrevendo e lembrando não tem como deixar de dar boas risadas e lembrar da Esquadrilha Abutre do “pegue o pombo, pegue o pombo”...“Muttley, faça alguma coisa” Foram os 30 minutos mais apreensivos da viagem. E após muitas e muitas curvas, a senhora me diz: “olha ele lá na frente”. De tão tenso que estava não vi nesse primeiro momento e só acreditei quando o taxi colou na traseira do fujão. Nesse momento rimos muito e o outro passageiro perguntou se não faria uma foto para guardar de lembrança. Então fiz essa aÍ: O taxi ultrapassou o bus e me deixou em uma barreira policial a frente, pois lá o ônibus teria que parar obrigatoriamente. Quando o ônibus parou e entrei, xinguei tanto o motorista que ele ficou até sem graça e começou a puxar papo sobre o mundial no Brasil, mas nem rendi, de tão nervoso que estava. Quando os outros brasileiros me viram disseram: “ora mineiro, foi você que ficou para trás?!”. Ou seja, sabiam que tinha sobrado e sequer intercederam por mim. Traíras!! Minha vontade era esgana-los, mas nem dei moral e sai fora... Copacabana é uma cidade muito bonita. Significa "vista do lago". Realmente a visão do Titicaca desse ponto é esplendorosa. É a “praia” da Bolívia, então o ambiente é meio praiano mesmo. Barzinhos bem localizados; custo mais elevado; muita gente bonita. Almocei e fui conhecer a Igreja de Nossa Senhora de Copacabana, que é bem bonita. Deu para explorar um pouco mais da cidade enquanto esperava o bus até o Peru. Comprei lanches para a viagem que romperia a madrugada. Perdi o horário do transporte até a Isla del Sol, então fiquei no píer comtemplando o por do sol. O nível é esse aí: Iria de ônibus até Cuzco e optei pela em empresa Titicaca. Ônibus leito muito bom, só que paguei um pouquinho a mais pelo wi-fi, porém ele não funcionou... Gastos: 1,50bol. internet; 1,50bol. bus ao cemitério; bus La Paz a Copacabana= 20bol.; 1bol. banho (uso do banheiro, não do chuveiro) nas margens do Titicaca; 20bol.= lancha oportunista; 20bol.= taxi oportunista; 15bol.= almuerzo; 12bol. lanches e agua. Editado Março 28, 2015 por Visitante Citar
Membros HTBS Postado Março 26, 2015 Membros Postado Março 26, 2015 Muito bacana o seu relato e as fotos que você tem postado são ,muito bacanas. Em agosto pretendo fazer o meu mochilão pela Bolívia, Peru e Chile. Estou anotando as dicas que eu pego nos seus relatos. Citar
Membros dmarques Postado Março 27, 2015 Autor Membros Postado Março 27, 2015 Muito bacana o seu relato e as fotos que você tem postado são ,muito bacanas. Em agosto pretendo fazer o meu mochilão pela Bolívia, Peru e Chile. Estou anotando as dicas que eu pego nos seus relatos. Que bom que está gostando. Estou terminando aqui e em breve posto o restante. Cara a experiencia é demais!! Boa sorte e qualquer coisa só falar. Citar
Membros dmarques Postado Março 29, 2015 Autor Membros Postado Março 29, 2015 Dia 9 – Cuzco – Aguas Calientes/Machu Picchu Pueblo A viagem de Copacabana a Cuzco correu bem, a não ser pelos incômodos de uma gringa que assentou na poltrona ao lado da minha. Mulher mala, sequer podia me mexer que ela reclamava. Ainda bem que ela ficou em Puno e pude seguir dormindo até Cuzco. Noite fria viu!! Cheguei bem cedinho na rodoviária e já comecei a olhar guias e passeios para a Montanha Sagrada. Haviam muitos lá e fiquei meio cabreiro com as abordagens e com os preços baixos, além do que, pelos passeios oferecidos teria que retornar rapidão ao terminal para tomar o bus de regresso... Mas como quem está na chuva é para se molhar, após quase uma hora tentando me convencer da lisura do passeio, dei um voto de confiança para um guia e fechei um pacote com a Inka Vacation Tour de 3 dias e 2 noites, com transporte ida e volta de Cuzco a hidroelétrica; hospedagem de 2 noites; almoço e café da manhã; ticket para o Machu Picchu e Montanha, por 350soles. O guia é muito tranquilo. Me levou da rodoviária ao centro e me deixou passar na oficina (escritório) da agencia para ajeitar minhas coisas e usar o wifi para fazer contato com os amigos da Terra, dar sinal de vida e matar a saudade dos que ficaram. Me recomendou deixar o mochilão lá no atelier para pegar na volta e levar apenas uma mochila pequena, mas o sensor de desconfiança estava ligado no máximo depois do “sumiço” da mochila no ônibus em Copacabana, não quis arriscar... Mal sabia que me arrependeria de não ter deixado, mas de boa. Enquanto esperava a saída da van para o tour, fui conhecer a cidade e me encantei. A mais linda de todas as cidades do passeio, sem dúvida! Um frio de doer, mas fiz fotos bacanas do solzinho que começava dar as caras. Não que o Sol de Cuzco é diferente?! Será que é uma forma de agradecer pela reverencia do povo Inca ao astro?? Cusco, no idioma quíchua significa “umbigo do mundo”. Está a 3.400m de altitude e foi o mais importante centro administrativo e cultural do Império Inca. Algo grandioso! Só vendo para se ter ideia. Mas..."a menos que você conheça as paisagens que eu fotografei, será obrigado a aceitar minha versão delas." Mas saibam que é a versão mais realista, poética e artística possível. Uma pena é a idiotice dos “conquistadores” (digo das conquistas em geral) que teimavam em destruir a cultura local para impor aquilo que criam. E muito lá foi desfeito pelos espanhóis na saga cega de conquistar, como o Templo do Sol, que foi destruído para ser construída uma igreja. Aff, ainda bem que não descobriram a cidade perdida. As praças são maravilhosas com construções suntuosas e num estilo rústico que admiro. Tomei um desayuno muito gostoso numa das diversas barracas nas ruas que vendiam iguarias. Experimentei um mate cheio de misturas e muito quente, acompanhado de uma espécie de sanduiche de queijo. Aproveitei o gancho para experimentar a tão badalada Quinoa, o “grão de ouro” dos Andes. Tomei uma porção feito chá, e não agradei muito... Pouco antes da hora do almoço saímos na van rumo ao objetivo maior no Peru. Estava mega ansioso para chegar e estava comprovando que basta querer, ser positivo, não deixar o medo dominar e contar com a sorte, que se conseguem os objetivos terrenos. A turma foi composta de 6 franceses, 5 brasileiros, 1 mexicano, 1 colombiano e 2 sul africanos. Me entrosei com os quatro últimos, especialmente o mexicano e o colombiano, que fechariam o mochilão vindo ao Brasil assistir a jogos de suas respectivas Seleções. Dali seriam cerca de 06:00h de van mais 2:30h de caminhada, isso até Águas Calientes, nas proximidades de MP, sendo que, do povoado até a montanha seriam mais 1:30h de caminhada ou 30 minutos de bus. Xinguei demais o carinha de um vídeo que havia baixado antes de partir ensinado a rota da hidroelétrica e dizendo que era tranquila...putsss Descobri, constatei, melhor dizendo, pois já imaginava, que havia optado pela rota mais mochileira/roots/perrengueira/barata/cansativa/gratificante para chegar ao MP. A “rota da hidroelétrica”. Nota: Não esperava que MP fosse tão inacessível como constatei. Na minha ingenua cabecinha, pensava que ficava pertinho de Cusco. E pensar que os Incas se locomoviam quase sempre a pé da cidade perdida até Cusco. Para quem fizer o trajeto um dia verá que é uma coisa impensável. Impensável para nós, mortais comuns. Vi que aquela civilização era incomum, grandiosa, muito inteligente, admirável e forte! Só digo uma coisa: certas coisas na vida é melhor nem saber como alcançar, digo aqui em termos de circunstâncias, modo, tempo, senão deixariam de ser feitas. Em certos momentos basta apenas deixarmo-nos ir... E se alguém que ler isso, estiver com a ideia de fazer a mesma rota, vá sem receios, pois cada experiência é única. E outra, preferi não pesquisar demais demais sobre os locais para não perder o encanto de quando chegasse. (A rota da hidroelétrica - Um capítulo a parte) A viagem nessa van foi a mais roots de todas – equiparada a de ValeGrande que faria dali a 5 dias - pela tensão das estradas. As estradas são pirambeira pura. De terra; estreitas; sem acostamento; com curvas sem visibilidade e sem sinalização, quer dizer, a única sinalização era antes das curvas: “Acione a buzina”. Era muito engraçado - depois que passava claro, pois no momento era pura tensão - quando o motorista entrava nas curvas em “U” e um metro antes metia a mão na buzina para avisar que estava passando, pois só havia passagem para um veículo. E se engana que pensa que ele reduzia a marcha... Essas cruzes na beira dos penhascos davam o tom meio terrorista das carreteras. Nesse percurso, passamos por uma ponte que ficará na minha memória por um bom tempo. Hehe. Estreita, de madeira fina e na entrada de uma curva. Durante a viagem de ida, um francês que estava a minha frente, se agarrava com todas as forças no suporte de mão da van. E quando passamos por essa ponte, entramos nunca curva bem hard, um despenhadeiro de pedras na verdade, e quase morri de rir dele: o cara soltou a toda força: “hay devagar pois estoi cagando de miedo”, se dirigindo ao chofer (o motorista também fez muita gracinha quando percebeu a tensão da galera por causa das curvas e abusou um pouco) .” kkkk, não teve um que não deu gargalhadas. A Justine, outra francesa super simpática que estava mochilando pela América do Sul com o namorado (saíram de Marsella em março e só retornariam em fevereiro de 2015, após conhecerem o carnaval brasileiro) disse que esta estrada que passamos era pior que a mística estrada da morte na Bolívia... Aí já não sei, porque não deu tempo de passar pela carretera lá na Bolívia, mas não duvido disso... Chegamos próximo a hidroelétrica por volta das 16:00h. De lá tem duas opções: esperar o trem ou ir caminhando. Optei pela segunda opção (como 100% do grupo que estava comigo). Quando o pessoal se reuniu e viu o tamanho da minha mochila perguntaram se realmente eu iria caminhar com ela. Tranquilamente respondi que sim, que mal teria? Afinal já havia caminhado lá em Sucre com ela... Foi uma caminhada e tanto. Bastante puxada pelo peso da mochila e pelos efeitos da altitude. Não fossem as folhas amigas da coca, o som do Led e Jimy, seria mais tenso ainda romper. A subida em Sucre ficou no chinelo perto desta. Mas a paisagem e o contato com a natureza compensam. Por esse caminho avista-se as costas da montanha onde esta a cidade perdida, e a curiosidade toma conta né... 2:30h depois, com ombros bastante esfolados e pés cheios de bolhas, no cair da noite chegamos na simpática Aguas Calientes ou Machu Picchu Pueblo onde nos hospedamos. Dormi feito pedra após tomar um banho revigorante, uma vez que teria de madrugar na manha seguinte para o tão aguardo Machu Picchu. Citar
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