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Postado (editado)

Introdução

 

Em Fevereiro de 2014, eu, Vagner e o meu amigo/companheiro de várias aventuras, Léo Almeida, juntos a uma amiga, estivemos na cidade de Sengés pra conhecer o lugar, no meu caso era a primeira vez (da Rosi também). O Léo já estivera por lá noutra oportunidade.

Ficamos, conhecemos os atrativos, inclusive, alguns que ele (Léo) ainda não tivera a chance de visitar antes. Aproveitamos demais aquela viagem, mas antes de partir e deixar para trás toda beleza natural da pacata cidade de Sengés, algo de estranho acontecia, sem percebermos. No Mirante do Vale do Corisco, a cachoeira de mesmo nome nos prendia a atenção, emanando uma espécie de energia mística que nos seduzia da mesma forma que sereias encantam marujos em alto mar, nos fazendo questionar o que muitos que ali já estiveram, também questionar: será que tem como chegar na base da queda dáqgua daquela cachoeira???

A magia daquele vale embalava nossas mentes fazendo florescer uma esperança: adentrar suas veredas e se impressionar com as surpresas do lugar. Essa mesma esperança fez com que entrássemos na mata e explorar as proximidades na tentativa de conseguir algum acesso rumo a base da Cachoeira do Corisco. Mas não foi dessa vez que entramos no caminho que no levasse a “ela.” Mas, conseguimos descobrir e nomear alguns pontos que encontramos morro abaixo: Pedra Furada e Pedra do Cachorro, que fazem frente aos paredões do Cânion do Corisco. Saímos de lá sabendo que todas essas descobertas, certamente nos fariam voltar ali. E foi o que aconteceu.

 

Voltamos a nossa cidade residente com algo intrigando nossas mentes: Quando voltaríamos, e de que forma realizaríamos tal façanha??? O tempo se encarregou de responder isso.

 

 

 

Um ano depois... Fevereiro de 2015.

 

 

Passamos o decorrer desse 1 ano a combinar qual seria a melhor, mais viável e menos perigosa forma de atingir nossa meta > a parte de baixo da cachoeira do corisco. Procuramos informações com quem já esteve na cidade, buscamos relatos na internet, e nada. Não há infos, nem registros de que alguém tenha realizado tal proeza. É como costuma dizer um amigo (Divanei Goes), aventureiro e montanhista: se existe alguém com a tal info, guarda pra si, ou já levou consigo para o próprio tumulo.

Olhamos, estudamos mapas, extraímos e compartilhamos entre nós as imagens de satélite que íamos conseguindo. Foi aí que começamos a elaborar algum plano. E tal plano seria atravessar uma extensa área de reflorestamento dentro duma fazenda (propriedade particular), seguir beirando o rio, e nas proximidades de alcançar a cabeceira da queda, descer a forte inclinação do vale varando mato até pisarmos nas águas do rio Itararé, e depois seguir subindo o leito do rio com objetividade. E com essa ideia em mente, marcamos viagem, que a princípio, teríamos como destino a cidade de Prudentópolis-PR (cidade das cachoeiras gigantes), mas ainda havia um débito em Sengés, que estávamos dispostos a quitá-lo.

 

Nosso retorno seria no carnaval, até chegamos a marcar, mas imaginamos o quanto seria sofrido pegar a estrada nesse tipo de feriado (tô calejado disso), a muvuca que estaria nas cachoeiras, tentar tirar uma foto só do atrativo, e ver 30, 40 fulanos como coadjuvantes no cenário. Aff, isso não entra nos planos. Então antecipamos em uma semana, e ficamos hospedados na cidade, de 07/2 ao dia 10/02/2015. Nossos aliados nessa viagem foram Tony Eduardo (meu cunhado), e Tatiane Xavier, que só pode ficar sábado e domingo.

Saímos debaixo de um temporal absurdamente forte, daqueles de filme apocalíptico. Não poderíamos esperar por muito tempo, pois marcamos de pegar o Léo após seu expediente de trabalho, na região do Butantã-SP, às 18:30h. Rodamos 420 km’s a partir da Rodovia Raposo Tavares pagando 7 pedágios ($44,00 total) até Sengés. A Tati não pode estar com a gente no mesmo horário, por isso seguiu viagem de ônibus, saindo às 21:45 h de sampa e chegando na rodoviária da cidade paranaense às 03:30h da madruga.

 

Agora vamos aos fatos, que foram muitos... Leia.

 

 

1° dia - entre a coincidência, a perda e a salvação.

 

 

Acordamos cedo e seguimos para o café da manhã na intenção de calibrar as energias para um dia cheio de expectativas e ansiedades. Cumprimentamos e matamos a saudade do nosso velho amigo fanfarrão, Eunildo, dono do Hotel Sengés onde ficamos hospedados.

Sem saber qual seria o nosso destino, Nildo perguntou se iríamos na direção da Cachoeira do Véu da Noiva, e como conhecemos o caminho, se poderíamos levar um casal (Rodrigo e Caticia) curitibano que lá estava para viver o turismo local. Sem problemas Nildo, só vamos decidir o que fazer e se eles quiserem, podem nos seguir - respondi ao amigo.

Numa parada ao mercadinho, entre a compra de água, comes e bébes, surge aquela conversinha simpática e cordial para apresentações.

 

- são de onde? perguntei.

- Curitiba.

- conhecem a região? já estiveram por aqui?

- não, é nossa primeira vez aqui. Viemos pra cá por que eu li um relato na internet indicando essa cidade e esse hotel

- sério? leu aonde, no mochileiros.com?

- sim, de um cara lá de São Paulo, um tal de Vagner

- kkkkk... muito prazer Rodrigo, meu nome é Vagner, e esse relato é o meu. Que coincidência.

 

Como pode? o cara marca de viajar, pega infos de um relato que leu na web, quando chega no lugar, encontra o autor desse relato, sendo que os dois nunca se viram e estão separados por uma distância de aproximadamente 700 km. E ainda tem a companhia do mesmo como "guia." kkkk é muita coincidência. Só Deus mesmo pra fazer isso, e mostrar que já era uma pequena prova de que Ele estava nos acompanhando e protegendo nessa viagem que estava apenas começando. Muitas águas ainda iriam rolar, literalmente falando.

 

1° parada - Cachoeira do navio (onde nascemos de novo)

 

Chegamos cedo nessa cachoeira pra fazer render o dia, sob um céu cerúleo intenso que anunciava a vinda de um sol pra rachar o coco. As águas borbulhando entre as quedas realçando o branco das cascatas deixava o cenário perfeito pra se começar um dia. A sessão de foto foi grande.

A maioria do pessoal disse que ainda era cedo pra entrar na água, mas assim que dei os primeiros passos em direção a diversão eles começaram a se animar. Os companheiros mais comportados ficaram ali mesmo se banhando nas pequenas quedas c/ piscina natural, já o retardo que vos escreve teve o privilégio de encontrar a Cachoeira Surpresa do Navio na viagem anterior, e sabia que a graça do lugar estava depois de uma descida audaciosa desescalando 15 metros das rochas do paredão vertical a partir da cabeceira da cachoeira. Na outra vez eu desci usando apenas as mãos, me segurando nas agarras e fendas entre as rochas, correndo o risco de cair (poderia ser fatal) e ficar jogado lá embaixo sem ninguém saber onde eu estava. Mas dessa vez fui um pouquinho mais inteligente, levei 20 mts de corda pra diminui os riscos. Tony me seguiu, e enquanto tirávamos proveito do lugar, gritávamos feito índios, dançávamos numa diversão que até parecíamos crianças. Isso fez com que o pessoal lá encima (o Rodrigo) pensasse que estávamos precisando de socorro, daí o Léo que conhece as figuras que andam com ele, disse que era normal aquele tipo de comportamento kkk. Na sequência desceu o Léo pra curtir também. Foi só alegria.

 

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Depois de nos recolher, seguimos o rumo que vai à cachoeira véu da noiva. Nooossa como ela estava linda com a queda d'água no volume máximo (ou quase). Linda o suficiente para encantar até que a viu 1 ano antes, só que com um volume bem menor. Seu piscinão natural, maior dessa vez, era convidativo a umas braçadas, mergulhos, fotos, vídeos e presepadas para alimentar o espírito de moleque habita em nós. hehe.

No topo de sua queda tem outras cachoeiras e piscinões, além de servir como um mirante de tirar o fôlego de qualquer um. Uma vista excepcionalmente linda. Mas como tudo tem seu preço...

 

...o cenário estava bem diferente daquilo que já vimos noutra. Onde esteve seco, agora era limo, onde já teve aderência, agora dava lugar a um piso que não se pode errar, pois ali eu senti a morte de perto, a mesma sondava as beiradas do precipício esperando qualquer descuido que fosse, ela fazia pressão, e mesmo que eu me sinta o corajoso, sei que a morte não é medrosa.

O Léo tomou a dianteira e foi na frente (fomos só nós dois), eu já mais retraído, vi que poderia dar merda, mas fui com medo e tudo. O desafiante dos meus medos. Mas na hora da volta... FODEU, fui pego de surpresa por um medo avassalador, dominante, medo como eu nunca senti antes. Minhas pernas travaram, enquanto passava na minha mente cenas de um possível escorregão sucedido por uma queda livre aos 40 mts de altura e o corpo explodindo nas rochas lá embaixo. GAME OVER. Nessa travessia só haviam duas hipóteses: (1) ir e voltar sem erros, ou (2) errar e não voltar vivo.

Graças a deus pude escrever esse relato, rs.

Passado todos os perigos, ainda tomamos um curto banho numa das pequenas quedas que tem por alí.

 

 

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Próxima parada: Cachoeira da Erva doce

 

Acessada por trilha de fácil navegação e que não toma mais do que 10 minutos de caminhada entre os charcos no capim de média altura. E pra dar um tiquinho de emoção naquilo que relativamente é tão fácil, um simpático senhor pescador nos avisou sobre a presença de um búfalo bravo que ronda o pedaço, e que ele costuma correr atrás daqueles que ele não for com a cara kkk. Fato verídico.

Chegamos rápido a cascata, que agora estava com o dobro do tamanho na largura, e até uma piscina natural se formou com o volume pós chuvas.

Brincamos um pouco, tiramos várias fotos e tomamos nosso rumo, pois o tempo que fechou de repente, e era certo que viria temporal pela frente. Subir aquelas ladeiras de terra, debaixo de chuva, carro pesado, não seria nada legal. Preferimos evitamos o risco de ficarmos retidos naquela baixada.

 

 

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Ainda era cedo quando chegamos no hotel, então programamos de tomar um banho e depois irmos visitar A Gruta da Barreia, na divisa com Itararé. Maaass na hora de sair do carro...

 

- alguém viu minha habilitação e o documento do carro?

- não (resposta unânime)

- não tô achando

- onde vc deixou da última vez? - perguntou o Léo

- na mochila - respondi.

- era só os documentos, ou tinha dinheiro junto?

- meu cartão de crédito está junto. Sem ele não vou ter como pagar o hotel. FUDEU.

 

Reviramos tudo que era espaço dentro do carro, e não achamos nada. Entramos nos nossos quartos, reviramos tudo, guarda roupas, cômodas, debaixo das camas, entre os lençóis. Não achamos nada.

 

- você tem certeza que trouxe os documentos? não esqueceu em casa?

- certeza. O Tony até viu quando eu peguei a carteira deles na mão.

- você lembra qual foi a última vez que você viu ou pegou neles?

- a última vez que eu vi, estava na mochila, lá na cachoeira do véu da noiva, e é bem provável que tenha caído, por que a mochila ficou muito tempo aberta, e a gente toda hora ficava mexendo pra comer alguma coisa, beber água, pegar protetor solar, etc... tenho quase certeza que caiu por lá.

- será mano?

- sim, depois disso não lembro de ter visto meus documentos de novo

- ah, então o que você acha da gente voltar lá e procurar nos lugares onde passamos? - perguntou Léo. Tati e Tony concordaram

- ah, se vocês toparem, a gente volta

- sem problema, vamos lá sim ( todos concordaram)

 

Ainda estava claro, final de tarde de verão, quando chegamos na cachoeira do navio. Ela estava linda e límpida como quando a vimos pela manhã.

Estávamos limpos, tomado banho, perfumados, com calçados (tênis) que não são apropriados para trilha, logo vieram os escorregões. Me lembro de ter dito a Tati: fica aqui encima, nega. Não precisa descer, deixa que a gente vai e volta rapidinho. E ela ficou na parte superior só assistindo. Mas o que ela nem imaginava, é que daquele lugar ela assistiria ao vivo uma das cenas mais fortes de sua vida.

Descemos, Eu, Léo e Tony, procurando por todos cantos onde havíamos pisado mais cedo, e quando chegamos ao piscinão que antecede a queda da cachoeira surpresa do navio, falei:

 

- vou atravessar e olhar da cabeceira onde deixamos a mochila. De repente esteja lá.

- mais como você vai fazer isso? eles perguntaram. A água batia na altura do peito, e eu não queria molhar minha roupa.

- vou ficar pelado. Pronto!! Mas olhem pra lá, sou um rapaz de família kkkk. Fui até um local onde não desse pra Tati me ver, e tirei a roupa. Fiquei só de camiseta.

 

Cheguei na cabeceira da cachoeira, olhei, mas a inclinação, as árvores e arbustos não deixavam eu ver o local exato que deixamos a mochila. Me veio um monte de coisas na cabeça. Foi aí que travei uma discussão comigo mesmo:

 

- não tô vendo, vou voltar

- mas cheguei até aqui, e se estiver lá embaixo?? eu desisto e deixo o bagulho aí?? não, né!!??

-Mas eu tô sem corda, choveu, descer aqui sozinho é perigoso

- AH, FODA-SE, VOU DESCER ESSA PORRA.

 

Comecei a descer me segurando em troncos e raízes, os matos molhando minha bunda, molhando meus bagos. E se algum bicho aparece? Foi tenso e engraçado ao mesmo tempo kkkk.

Já lá embaixo, farejei tudo, olhei até onde não estivemos, mas não achei nada. Então voltei logo por que não tinha avisado eles que eu desceria lá, e eu já estava demorando. Voltei pelado, nu com a mão no bolso, e nada de documentos em mãos.

Depois que me vesti, começamos a volta entre as pedras e pouco de mata que havia em volta. O Tony disparou na frente, eu e o Léo ficamos mais atrás por que pisamos na merda (humana), tivemos que limpar o solado dos tênis com gravetos pra não levar qualquer resíduo pro carro. Depois de limpar e lavar a beira rio, eu segui na frente, acompanhado pelo meu brother Léo logo em seguida. Foi quando tudo aconteceu...

 

Na metade do caminho, eu de cabeça baixa, concentrado onde pudia pisar, não olhava pra frente. Só lembro quando o Léo perguntou:

 

- e essa água barrenta vindo aí Vagner??

 

Só foi o tempo de eu levantar a cabeça e gritar: tromba d’ááágua, cooorre.

 

Eu ainda consegui, mesmo que escorregando nas rochas, subir um patamar acima, mas o Léo ficou no piso inferior, agarrado nos musgos, preso e sem ter pra onde escapar. Em menos de 10 segundos o simples e discreto filete de água barrenta se transformou numa enchorrada de força descomunal, inacreditável. A água subiu muito rápido, chegando aos pés do Léo num piscar de olhos. Eu, magrelo, frangote, tentei me apoiar entres as fendas e estender a mão como suporte, mas vi que eu não aguentaria o peso dele (ele é grandão), da mesma forma que os musgos também já não aguentavam mais sustentar seu peso. Se desprendiam facilmente aumentado o risco de vida do nosso amigo. A cena causava um certo desespero, um pesadelo pessoal no interior em cada um de nós, pois víamos que a força da água era suficiente para arrastar uma carreta bi trem se estivesse ali, imagine um ser humano. Lembro que falei: espera aí Léo, virei e gritei pro Tony: ME AJUDA AQUI MANO. Ele saiu correndo na minha direção com os olhos arregalados, todo louco, e desesperado, começou a me puxar, como se fosse eu quem estive prestes a ser levado pela correnteza, e não o Léo. Perdi o pé de apoio, a falta de aderência na rocha molhada fazia eu girar, e ele continuava a me puxar desesperadamente como se eu tivesse me afogando. Acabei nem conseguindo ajudar o Léo, que por si só conseguiu se agarrar em outros apoios mais firmes e se livrou do perigo que a cada piscar de olhos só aumentava.

Ja num patamar acima da enchorrada, salvos, assistíamos a água explodir nas rochas e jorrar pro alto como chafariz. Nós quatro estávamos boquiabertos, pasmos, extasiados por um certo estado de choque. pois foi por muito pouco (muito pouco mesmo), que não perdemos nossas vidas. E diante de tamanha emoção, tomados pela adrenalina que dominava cada centímetro do corpo, as lágrimas foram inevitáveis. O único que eu não vi chorar foi o Léo, e mesmo que ele não tenha chorado, é certo que ele se viu numa das situações mais perigosas de sua vida até então. Enquanto as lágrimas percorriam meu rosto, lembrei do que minha mãe me disse antes de eu sair: filho, cuidado nessas cachoeiras, nesse período de chuvas é muito perigoso. Cuidado com tromba dágua. Quando a mãe fala, é foda.

Depois de todo aquele susto, ainda na parte superior da cachoeira, ficamos por volta de uma hora e meia admirando o quanto a natureza pode ser tão forte e o quanto somos tão frágeis e podemos ser reduzidos a pó tão facilmente. Nessa hora vimos que o meu problema com os documentos se tornou pequeno, insignificante. Mas, mesmo assim pensamos em ir até a cach véu da noiva procurar meus pertences por lá, mas a Tati reforçou algo importante: passamos por algo fenomenal, perigoso, e ainda vamos a mais uma cachoeira!? não, melhor não. O jeito foi se conformar e ter dado tal coisa como perdido, depois é só correr atrás do prejuízo.

Passamos na recepção, perguntamos se havia uma delegacia na cidade e onde ficava, além dessas infos, o recepcionista ainda nos deu a dica de irmos até a rádio local e pedir pra que eles anunciassem o ocorrido, pois muitas pessoas da cidade ouvem a rádio e isso poderia ajudar. Mas eu estava tão lesado que não quis nem ir até lá nessa hora, preferi ir jantar e comemorar nosso renascimento.

Depois de uma boa comilança na churrascaria, fomos até a delegacia na tentativa de fazer um B.O. por que se eu fosse parado, como eu explicaria ao PM ou PFR estar rodando sem habilitação e doc do carro? Se eu contasse toda história eles encarariam como historinha pra boi dormir, e aí eu tava fudido. Chegando na delegacia, adivinhem, a bendita estava fechada. Horáriode funcionamento das 09:00h às 17:00h, de seg à sexta, e chegamos lá perto das 22h de um sábado. Mas conversando com o Rivair, vulgo: Coveiro (ops, carcereiro kkk), ele nos explicou a localização da rádio depois de muuuita conversa naquela noite fria. Coitado de mim e da Tati tentando se livrar da infinita falatória ashuasuh.

Chegando na rádio, fomos bem atendidos, só estava o Luiz (locutor) no local. Pediu pra que entrássemos, expliquei a situação a ele e o pedi pra que anunciasse o ocorrido pois me ajudaria muito. Ele super prestativo, atendeu.

Quando voltamos ao carro, sintonizamos a frequência, percebemos que se tratava de um programa evangélico, que ao termino do louvor que tocava, soltou:

 

- e recebemos aqui, hoje, a presença do nosso amigo de São Paulo,Vagner Perei..., que perdeu toooooodos o seus documentos (rimos muito). Ele precisa dos documentos pra pegar a estrada e viajar de volta pra São Paulo. Ele vaaai conseguir (rimos de novo). Quem encontrar seus documentos pode entregá-lo na delegacia ou no Hotel Sengés.

 

A narrativa era tão melancólica, tão triste, que parecia que ele estava mais triste do que eu que perdi meus pertences. E ao terminar o anuncio ele solta uma música: VAI DAR TUDO CERTO, VAI DAR TUDO CERTOOO...Rimos demaaaaiiss, feito uma cambada paulistana (fdp) que somos (só maldade no coração kkk. (Oh raça ruim, viu kkk)). Ouvimos a programação até chegarmos no hotel, onde tive que perder mais um tempo com uma ligação à central de atendimento pra conseguir bloquear meu cartão de crédito. Só assim eu ficaria em paz, sabendo que não teria dores de cabeça por causa de uma futura fraude que poderia aparecer com o meu nome.

 

Uffa, quanta emoção em apenas 1 dia de viagem. rsrs

 

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Vídeo da tromba d'água: >>

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GASTOS DO DIA

$ 2,50 - lanches

$ 2,00 - água

$ 16,90 - jantar

 

 

2° dia - depois da tempestade, sempre vem a bonança

 

 

Sem saber o que vinha pela frente, começamos nosso dia cedo. Ás 06:30h já estávamos indo pra sala onde servem o café da manhã, e pouco depois já estávamos mais uma vez a comprar lanches e litros de água no mercadinho que abre as portas bem mais cedo do que seus concorrentes próximo dalí.

Partimos em direção ao mirante da cachoeira do corisco pra mostrar ao Tony e a Tati o quão aquele lugar é lindo. Além disso, aproveitaríamos pra dar mais uma olhadinha nos arredores e estudar os melhor os detalhes finais antes de encarar o vale. Chegando lá, os olhos brilhavam diante do visual que se tem nas beiradas do cânion. Fotos e vídeos foram feitos, depois nos pusemos a caminhar até a trilha que leva a Pedra furada e ver o Cânion por outro ângulo. Me lembro bem, quando abrimos essa trilha a um ano atrás, era puro mato, tudo fechado e de difícil acesso. Hoje, depois de várias indicações aos turistas para visitarem o local, a trilha já se encontra bem aberta, sem a necessidade de por o facão pra trabalhar.

Aproveitamos bastante o lugar, o dia estava lindo, o sol estralando nos obrigando sair dali direto pra qualquer lugar que tiver um bom represamento e/ou queda dágua pra nos refrescar. Mas antes, já que estávamos ali, aproveitamos também pra procurar por uma pequena corda atravessada por cima da fenda, um abismo que beira aquelas encostas (e encontramos). Farejando por ali mesmo, encontramos vestígios de algo que parecia ser um caminho, decidimos avançar e ver no que dava (Tati nos esperava sob a Pedra furada), e deu numa senda que serpenteia morro abaixo, uma puta piramba na verdade. Descemos um pouco, mais um pouco, e mais um pouco com o auxílio de cordas duas vezes. Alcançamos patamares bem além do que esperávamos, isso nos encheu de esperanças, mudando todos os nossos planos de ver a queda Mor do Corisco por baixo. A curiosidade continuava nos puxava pelo caminho, mas como não avisamos nossa amiga, retornamos. Com os pensamentos radiantes, saímos de lá sabendo que nossa investida na mata seria por ali.

 

Depois de tanta energia boa conspirando ao nosso favor, fomos nos encantar com a magia do Poço do Encanto. Poço que na verdade é um fervedouro, uma nascente de rio que forma uma represa de águas cristalinas, tão cristalina que nos permite ver na parte mais funda o solo borbulhar e revirar areia fina sem sujar a água. O lugar é digno de reverências, um santuário aquático, um aquário natural. É possível ver as plantas subaquáticas envoltas em musgos, e os peixes nadando de um lado ao outro. Foi incrível poder fazer um vídeo debaixo dágua utilizando um bastão/pau de selfie. Ficamos um longo tempo que ficamos ali, admirando o admirável que realmente encanta.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No caminho de volta decidimos passar pela cachoeira da prata e pela Gruta da Barreira, e também, uma visitinha rápida ao pontilhão que serviu de suporte aos trilhos que décadas atrás davam passagem aos trens que transportavam grãos do sul ao sudeste do país. E por causa um acidente, onde houve a queda de uma composição ponte abaixo, teve de ser interditada.

O sol estava pra lá de quente, vi o asfalto flamejar, e num ato preventivo, meio que presepeiro, meti um guarda chuva sobre a cachola pra fazer sombra enquanto visitávamos os atrativos. De repente, como se fosse uma miragem, aprece encostado na sombra de uma árvore, um senhor com seu carrinho de picolé (imagina a euforia). Acredito que ele consegue vender dezenas e dezenas de picolé por dia, parado naquele ponto estratégico e cobrando barato ($ 1,00). Só a gente liquidou 9 unidades hehehe.

 

 

 

O dia tava rendendo maravilhas, mas ainda não tínhamos entrado sob um boa queda gelada de cachu. Partimos rumo a Cachoeira do Barão, que fica no Rio do Bugre, onde combinamos de encontrar nosso amigo anfitrião e sua esposa. Lá tomamos uma refrescante e gelada ducha pra revigorar os ânimos, jogamos conversa fora, umas boas risadas, fotos/vídeos e ainda estudamos a hipótese de descer rio abaixo e atingir mais outra base de cachoeira ainda sem nome, hehe. Só mesmo esses meninos, viu rsrs.

Era quase 20:00h quando saímos de lá, e só saímos por que marcamos de ir até a Pizzaria local pra comemorar as coisas boas que vinham ao nosso encontro nos últimos dois dias. Mas, comemorações a parte, nossa equipe teria uma “baixa.” Tati trabalharia no dia seguinte, 2a feira, e teve que pegar o ônibus rodoviário ás 22:30h e retornar a São Paulo, onde chegaria no início da manhã.

 

 

 

 

 

GASTOS DO DIA

 

$ 2,50 - lanches

$ 2,00 - água

$ 16,90 - jantar

$ ????? - pizzaria não consegui calcular

 

 

 

 

3° dia - O dia D nos deu a vitória

 

Nosso terceiro dia na cidade era o dia de por em prática nossos planos, por em teste nossa coragem e encarar o desafio: chegar na base da Cachoeira do Corisco. Era essa nossa meta, o real motivo de estarmos na cidade, e qualquer sinal de erro, qualquer indício de que não conseguíssemos, nos deixaria com a moral lá embaixo. Acontecendo isso, lógico que teríamos a humildade de reconhecer o fracasso, engolir o orgulho, colocar o rabo entre as pernas e quem sabe tentar novamente numa próxima vez.

 

A ideia de que não há registros por textos, fotos e/ou vídeos relatando a chegada de seres humanos naquele lugar atiçou nosso espírito aventureiro, e lá nos víamos, um ano depois, acordando por volta das 05:45h da madruga, tomar café o quanto antes e partir. Pois não sabíamos o que viríamos a enfrentar ao longo do dia, e muito menos o quanto de tempo aquela aventura nos tomaria.

Em cada mochila (lanches, água, facão, perneiras, cordas, lonas, etc...), os aparatos mais pareciam equipamentos de um arsenal bélico, do que um preparatório de “mateiro.”

Pé na estrada e um sentimento: ansiedade. Antes de descer do carro já tínhamos o empecilho de ter que planejar onde deixaríamos o carro, já que era começo de semana, não poderíamos dar bandeira na porteira principal. O Fiesta Guerreiro ficou a uns 250 metros da entrada, que também não usamos como acesso, pois o trafego de carretas das empresas extrativistas era intenso. Bastava alguém querer, com um simples contato, tudo iria por água abaixo (área particular).

Já na estrada que leva ao mirante, caminhamos observando a neblina baixa dava um ar de mistério encobrindo todo o vale. Não conseguíamos nem ver a cachoeira dali do mirante. Então fizemos uma rápida pausa para ajeitar os últimos detalhes antes de por os pés em busca de um antigo propósito. O único que não fazia nem ideia do estaria prestes a fazer ali era o Tony, que aceitara meu convite sem pestanejar. Só queria curtir kkk.

 

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Fomos bem objetivos, logo pegamos a picada que leva até a Pedra furada, e dali fomos até a Pedra do Cachorro, que na verdade também pode ser chamada de Pedra do Cérbero, pois a mesma guarda o portal que leva ao vale. E ao lado direito da face da pedra iniciamos nossa navegação pela senda que exploramos em outra oportunidade. O primeiro avanço se dá tranquilo, mas a partir do momento em que chega a primeira passagem com corda, as coisas mudam de nível. O cuidado e a atenção são nossas companheiras inseparáveis, pois o caminhar se dá às beiradas do precipício, qualquer deslize e lá se vai um corpo de encontro a um buraco que não é possível ver o fundo. Na segunda etapa a inclinação ainda é daquelas que dá pra encarar de boa, e mesmo assim, o auxílio de uns 20 metros de corda foi indispensável. O terceiro e último lance de corda (+20 metros) já é num barranco quase vertical, seguir ali sem o uso de cordas é a mesmo coisa que dizer que está querendo se suicidar. Uma queda ali, e adeus fulaninho. Toda a descida é uma piramba de lascar qualquer. E após uma hora de incertezas, chegamos no rio que corre o vale formando a confluência co o Itararé. Essa era nossa única certeza.

Não havia qualquer vestígio de ambos os lados de que houvesse caminho em direção a cachoeira. Um pensamento veio em mente: quem entra na chuva é pra se molhar. E se chegamos até ali, não seria ali que iríamos desistir.

Retroceder não poderíamos, então nos pusemos a caminhar por dentro rio, não tinha outro jeito. Com água nos joelhos seguimos no contra fluxo, em menos de dez minutos o nível do rio já vinha nos ombros, isso nos obrigou a erguer nossas mochilas para poder atravessar os piscinões que surgiam no caminho.

Por hora, além dos piscinões como desafio, nas paredes laterais cavernas apareciam do nada. Eram buracos enormes, gigantes, cravados no meio das rochas abrigando a escuridão e a incerteza do que poderia habitar aquele refúgio. O medo era inevitável (lógico), comparamos aquilo com flashs de cenas do filme Jurassic Park. As rochas talhadas e esculpidas pelo tempo davam um toque pré-histórico ao lugar.

Novamente, um misto de sentimentos nos dominava a cada metro deixado pra trás. Além da ansiedade, a atenção era predominante. A ideia de escorregar no limo e machucar/quebrar uma perna naquele cenário inóspito nos fazia prosseguir aliados com a lentidão. E perto das duas horas palmilhando dentro do rio, pegamos uma bifurcação, uma divisão do rio em um ponto que não conseguimos ver nada nenhuma clareira em abertos acima de nossas cabeças pra poder nos orientar. Tocamos pra direita, e dez minutos a frente, vimos que não era possível seguir por ali. Retornamos e tomamos a direção correta.

Faltavam cerca de 100 metros até a mata se abrir de vez e revelar o que havia de tão precioso naquele ambiente, mas a medida de cada passo dado os obstáculos aumentavam seu grau de dificuldade quase nos impedindo de passar. Rochas sobre rochas formavam paredões intransponíveis, repletos de limo e de água escorrendo entre as brechas. Parar, pensar e analisar os riscos era o que nos restava. Parecia que ali era o fim da linha (e já pensou se fosse...), tínhamos que fazer cadeirinha, se jogar, rastejar sobre o limo, tentar se agarrar em qualquer saliência existente nas rochas pra poder projetar um de nós, que logo acima serviria de ponto fixo para todos conseguirem subir. Uffa, trampo da porra.

E todo esforço foi válido após a recompensa. O paraíso se abriu a nossa frente quando a mata se abriu trazendo a luz que clareou o lugar e deu vez a um cenário grandiosamente lindo. A água vem de uma queda livre de 106 metros de altura e explode nas rochas que cercam o piscinão de águas escuras que não deixam qualquer forasteiro imaginar qual a sua profundidade.

Euforia total... corremos e gritamos: CHE-GA-MOOOOS, CHE-GA-MOOOS. Uma sensação de conquista que nos deixava fora de si, difícil de acreditar. Coisa de olhar ao redor e se perguntar: eu estou realmente aqui??

 

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O spray que vinha da queda encharcou nossas roupas fácil, fácil. E se não fosse a câmera a prova dágua que tínhamos em mãos, a maioria dos registros seriam apenas em nossas memórias. Mas independente disso, aquilo era um presente, era um privilégio inigualável estar ali, e ainda assim, a aventura nos chamava pra ir além. O convite de mergulhar naquele piscinão obscuro eu recusei, por que parecia ter algo em volta dizendo: apenas admire, contemple, reverencie. Mas o convite de ir atrás da cortina de água eu aceitei de imediato, parecia que algo mais forte do que eu conduzia meus passos, e em seguida, lá estava eu (mais atrás o Tony me acompanhava), procurando chão firme. Ora encontrei, ora vi apenas valas profundas em meio as pedras e mata molhada (coisa que rendeu alguns capotes, e fez o Tony desistir). Eu prossegui sozinho, e logo me vi sentado sob aquele paredão imenso acima de minha cabeça, assistindo o espetáculo e agradecendo a Deus por tudo que estava se realizando naquela aventura. Léo e Tony viram que demorei por lá e se sentiram mais seguros de chegar lá também, voltei metade do caminho para orientá-los onde pisar e em poucos minutos estávamos a filmar e fotografar a “peraltice.”

Coisa que também nos deu um susto danado foi o vento forte soprar e levar a queda dágua em nossa direção. “Susto da bexiga,” corremos rapidinho dali pensando que fosse tromba dágua kkk.

Vimos que o tempo não estava tão aberto, e que se ele fechasse de vez trazendo uma tempestade não iríamos ver, por que estávamos no “fundo da bacia,” rodeados por paredões e mata densa. A solução foi tocar o bonde, já que aproveitamos o tanto quanto queríamos, e o certo era não abusar da sorte.

Nossa volta por dentro do rio foi bem mais tranquila do que a ida. Além de já sabermos mais ou menos os obstáculos que teríamos pela frente, o sol refletia o fundo do rio, e isso nos deu mais segurança pra saber onde devíamos andar. Só empacamos na represa onde a água batia no peito por que o Tony teimou (e como teimou) que não era alí que tínhamos atravessado mais cedo, segundo ele, era mais pra frente. Empacou feito um jumento veio que não arreda os pés do pasto. Rolou até uma discussãozinha, mas ele seguiu por onde indicamos que era o caminho certo. Esse episódio até lhe rendeu o apelido de Tony TT (Tony Teimoso) kkk. Depois disso, a única parte mais difícil mesmo foi retornar aquela puta subida de morro que mais cedo foi uma puta descida de morro. Claro que as paradas seriam inúmeras (e foram), o fôlego se perdia a cada 5, 10 passos. Pouca conversa e passos firmes também ajudaram muito a concluirmos nossa volta.

De cara com a Pedra do cachorro, que sustentava um lindo Carcará em sua cabeça, tivemos a certeza de que 90% de nossa odisseia estava concluída, paramos pra descansar e bater mais umas fotos. Fui pegar a bateria reserva pra por na câmera... Adivinhem... Me dei conta que a capa da máquina e a bateria original não estavam comigo muito menos com meus amigos. Conclusão: perdi uma capa e uma bateria da câmera lá na base do Corisco, pois o Léo disse que viu esses itens próximos da mochila quando chegamos. Não vasculhamos nada antes de voltar, deu nisso. Buuuuuurrrroooo do caráleo. As perdas materiais não valiam de nada se comparado ao que estávamos vivendo ali. E o melhor de tudo foi concluir tal façanha sãos e salvos. Que se foda a bateria. Nosso próximo passo era chegar até o local que deixamos o carro e saber se ele ainda estava lá. Aí sim daríamos a missão como cumprida.

 

O nosso alívio só veio quando fizemos a curvinha da estrada de terra e vimos o guerreiro prateado entre a mata encoberto pela poeira jogada pelas carretas que ali passaram o dia todo.

Trocamos nossas roupas molhadas por outras mais limpas e secas, e pouco antes de entrar no carro passou por nós um outro carro, um Gol branco, com os vidros pretos, totalmente lacrado (insufilmado), e parou mais a frente. Ficou, como se estivessem a nos vigiar. E quando passamos por esse carro parado, conseguimos ler: FISCALIZAÇÃO VALE DO CORISCO, colado nas portas laterais. O mesmo só se pôs a andar novamente depois que passamos e ficamos a uma distância de 100 mts deles. Acreditamos que eles queriam ver onde entraríamos, pra saber se não estávamos fazendo arruaça, extração ilegalou invasão de terras alheias. Afinal, era o serviço deles. Ainda bem que deixamos o carro onde deixamos, e não na porteira.

Já estávamos com o dia ganho, e não queríamos saber de mais nada naquela data. A não ser, ir até a delegacia e fazer um Boletim de Ocorrência para registrar a perda da minha CNH e do CRLV, pois no dia seguinte eu pegaria a rodovia. Eu precisava desse B.O.

Mesmo com o horário de expediente da delegacia encerrado, expliquei ao carcereiro que ocupava o posto, e ele levou a situação até o Delegado, que mesmo sem um escrivão fez a ocorrência me atendendo muito bem. Se fosse em São Paulo, eu estaria FUDIDO, teria que me virar e/ou passar horas numa cadeira esperando a boa vontade do ser humano paulistano. Que bom que eu não estava em SP rsrs.

Chegamos no hotel, só o bagaço do cansaço, e nosso bom anfitrião, Eunildo, veio nos receber já querendo saber qual foi o resultado da nossa aventura. E a resposta foi só uma: conseguimos Nildo! o Vale do Corisco é noooosso ahahah.

Ele, num gesto simplório, estendeu a mão e disse: deixa eu te entregar logo seus documentos. Exclamei; O quêêêê... não acredito. meus documentos? e peguei a carteira das mãos dele e conferi. Eram sim, aqueles mesmos documentos que eu perdi dois dias atrás. Encontraram, levaram até a rádio da cidade, de lá levaram à delegacia, que por sua vez fez contato com o hotel, e o Nildo fez a gentileza de ir buscar enquanto eu estava ausente. Aquela novidade me deu muuuuita, mas muuuuita alegria mesmo, que acabei dando até um abraço apertado no Eunildo. Eu já acreditava e tinha dado como perdidos meus doc’s, mas o que eu não imaginava, era que o anúncio da minha situação na rádio local e às 22:30h de um sábado qualquer daria tão certo. Estava acabando nossa viagem, e já dava pra olhar para trás e ver a quantidade de coisas boas que aconteceram com nós e para nós.

No restante desse dia, 09/2/2015, só queríamos curtir o sabor da vitória que conquistamos, mais nada. Fomos jantar na churrascaria pra poder repôr toda energia gasta, em seguida fomos até a rádio local para poder agradecer a ajuda que me deram na recuperação dos meus documentos, mas estava fechada, e depois, #partiu descansar. Era necessária ficar bem, pois a volta de uma viagem sempre é mais cansativa.

 

 

 

 

 

 

4° dia - Hoje é só calmaria (mais ou menos rs)

 

 

No demos ao luxo de poder acordar um pouco mais tarde, já não havia tanta necessidade de pular da cama tão cedo. Afinal, nosso objetivo foi alcançado. Nossa intenção nesse dia era ir até o Rio Funil, dar alguns mergulhos no piscinão que ele tem e depois irmos até a cachoeira Santa Bárbara.

O Nildo nos disse que ouviu rumores de que seguindo o Rio Funil acima haveria uma cachoeira, uma pequena queda. Seguimos essa info, mas sem força muito, seria exagero querer sem aventurar por dentro de um rio se ele fosse tortuoso. Mas como não se tem muita inclinação por ali, e em poucos minutos de caminhada chegamos ao barulho de água caindo forte sobre pedras. Adentramos a mata, e logo vimos que se tratava de uma pequena queda dágua (pequena mesmo). Coisa que não animou muito. Voltamos.

Pôs banho, ainda no Rio Funil, partimos na intenção de explorar um possível caminho próximo ao Rio Pelame, que dispõe de uma linda cachoeira em área particular, mas não dão autorização à visitas. Não conseguimos um caminho alternativo, então partimos. Quem sabe num próxima vez não subimos rio a dentro e chegamos até lá hehehe.

Fomos novamente até a rádio, mas a pessoa (luiz) que fez o anúncio não estava, eu preferi deixar recados de agradecimento. Depois, nosso destino foi a cachoeira Santa Bárbara, que é situada no mesmo rio que forma a cachoeira do navio. Vimos o triplo ou mais do volume habitual, sinal de que a tromba dágua foi tão forte que mesmo depois de dois dias ainda deixava pra trás rastros de sua força. No lugar onde eu só vi areia a um ano atrás, agora existia uma piscina enorme com indícios de que algumas partes não davam pé.

Aproveitamos (Tony e Eu) por pouco tempo, além do céu não estar com boa cara pro nosso lado, o Léo preferiu não descer até a cachoeira por que estávamos de bermuda e chinelo, e pra alcançar a queda tivemos que andar um capinzal alto. Ele preferiu não arriscar.

 

 

 

 

De volta ao carro, passamos numa lojinha de vila pra comprar uma certa quantidade de uma espécie de sorvete que vem num saquinho quadrado que o Léo se apaixonou kkk. Também, à $ 0,75 cada fica fácil querer mais rsrs. Logo já nos vimos no hotel mais uma vez, onde arrumamos nossas mochilas e nos preparamos pra ir embora. Eu sai de lá sem pagar as minhas diárias por que tive que cancelar meu cartão de crédito, mas como o Nildo confiou nesse sem vergonha aqui, ele me deu um enorme voto de confiança e deixou apenas o número de sua conta pra que eu fizesse o depósito do valor quando pudesse.

Pós almoço, voltamos aos aposentos, usamos muito wi-fii e depois dos últimos acertos e prosa com nosso amigo Eunildo, demos partida no carro às 16:20h em ponto.. Se tudo corresse como o previsto, estaríamos em São Paulo-Capital perto dàs 21:30h. Mas como nem tudo é do jeito que queremos...

 

...comigo ao volante, rodamos cerca de 200 km sob sol forte, em alguns lugares, chuva leve com direito a arco-íris. Quando paramos em Itapetininga, próximo ao acesso que leva à Rod. castelo Branco, fomos tomar um cafezinho, esticar as pernas e deixar oTony assumir o volante. Quando fui pagar meu cafezinho...(adivinhem) as chave do quarto do hotel ficou/estava no meu bolso. Que merda!!! Lógico que eu não iria voltar, eles devem ter chave reserva. Ficaria como lembrança e/ou troféu da viagem.

SQN.

 

Chegando perto de Sorocaba começou a tensão: uma chuva assustadoramente forte como eu nunca vi (eu acho), e meso com o limpador de para-brisa ligado ao máximo não era possível enxergar mais do que 5 metros a frente do carro, ainda mais que a pista não tinha luz de orientação (aquelas tartaruguinhas luminosas que ficam no chão). Isso nos fez reduzir a velocidade, já os caminhões e carretas não. Com o peso que eles tem ganham mais estabilidade do que um carro de passeio, que a qualquer aumento de velocidade patina em aquaplanagem ( e foi o que aconteceu). Sentimos o carro deslizar sobre as poças de água acumulada na rodovia, os caminhões quando passavam jogavam muita água no vidro do carro, dava medo quando ladeira abaixo víamos pelos retrovisores algum deles se aproximando com maior velocidade entre raios e trovões. E se perde o controle? e se não nos vissem? Foi tenso. E sob todas essas condições, a decisão geral foi parar no próximo posto de gasolina que aparecesse no caminho. Oque não poderíamos imaginar era que o posto que nos aguardava mais perecia um Posto Fantasma abandonado. Com o teto caindo aos pedaços e deixando a água da chuva despencar entre seus destroços, luz inexistente, algumas carcaças de carretas largadas pelo pátio. Cenário ideal para filmes de suspense.

Passado mais ou menos meia hora, retomamos a rodovia já com chuva mais calma. A adrenalina vivida ali naquele momento ainda corria nas veias do motorista, pois ainda pela frente ele não via placas de sinalização, lombadas (o carro saltava kk), e chegamos a”nos perdemos” após pegarmos uma bifurcação que julgamos errada, mas na verdade era a certa. Perdemos um tempinho até achar um retorno.

Era 22:45h quando deixamos o Léo perto da estação Butantã do Metrô. Eu assumi o volante, ainda pegamos outra entrada errada, e às 23:50h eu chegava na casa do Tony pra despachar a encrenca kkk. Às 00:20h eu abria o portão de casa pra poder chegar e dizer: estamos todos bem, graças a Deus.

 

FIM.

 

 

Nos dias seguintes...

 

Além de conseguir depositar os valores ao nosso amigo paranaense (Tive que fazer valer a confiança), eu soube que companheiros de trilha sairiam de SP à Sengés no próximo final de semana (Carnaval). Fiz contato com os que me indicaram: Simone Tosti, Jesiane da Silva e Eduardo Yoshimori. Todos foram muito prestativos em querer me ajudar a devolver a tal chave do hotel. Mas havia os contra tempos.

A Simone, além de morar longe de mim, estava na contramão. Era difícil me encontrar com ela. Era mais viável eu me encontrar com a Jesiane e entregar a chave a ela, mas não deu. Ela foi suuuper atenciosa, e mesmo não sendo ela que levaria a chave, providenciou outro contato pra que tudo fosse resolvido. Me passou o horário e o endereço onde eu encontraria o Eduardo.

Sai de casa com um certo receio, era sexta feira 13, mesmo que seja superstição, com tanta histórica que essa viagem rendeu eu sai preocupado. Já pensou se eu perco essa chave? rsrs. Mas tudo correu bem! Entreguei a chave do quarto 29, que por coincidência, o mesmo reservado a ele. hehehe

Conheci esse cara, que por ventura entrou na minha história, que foi super prestativo, e que pelo andar da carruagem, fará umas trilhas comigo em 2015. hehehe.

Nos finalmentes, tudo deu certo. E essa história vai habitar nossas vidas por longos e longos tempos. Quando faltar detalhes, refrescaremos nossas memórias lendo esse épico e extenso relato.

 

 

valeu!!

Editado por Visitante
  • Amei! 1
  • Colaboradores
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Se você chama pra alguma coisa, já sabe que é perrengue. ::lol4::

Acompanhei esse ano de preparativos.. infeliz da minha parte por não estar nessa.

Vocês são fodas.. parabéns pela conquista.

E nasceram dinovo.. dinovo literalmente! HUEHUEHE

 

Muito top o relato .. ::otemo::

Tamo junto irmão.

  • Membros
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Foi uma experiência única...planejando a mais de 1 anos para atingir a base dessa Cachu e finalmente ela foi conquistada...Obrigado a todos que participaram ou de alguma forma ajudaram, parabéns Vgn pelo relato... ::otemo::::otemo::::otemo::

  • Membros de Honra
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O Léo já é parceiro velho de trilhas, e há muito me falava desse desejo de chegar à base do Corisco; esse doido desse Vágner nunca vi pessoalmente, mas a gente trava conversas e brincadeiras via face como velhos amigos...e a Tati é minha "vizinha" daqui de Artur Alvim, já fizemos várias trilhas e viagens juntos.

Acompanhei esse planejamento indiretamente, sei o quanto esses malucos estavam ansiosos em conseguir tal feito!! ::hein:

 

E não é que conseguiram, mesmo??? ::otemo::::otemo::

 

Parabéns, pela conquista, mais uma vez, meus amigos, eu jamais teria o culhão de encarar uma parada dessas!!! ::lol4::::lol4::::lol4::

 

E essa é a essência dos relatos aqui do site, mostrar não apenas o lado da aventura, mas o que deu certo, o que deu errado, os perrengues, as alegrias e, sobretudo, as emoções que sentiram!!

 

Abração!!! :mrgreen:

  • Colaboradores
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Salve, salve Edu!!!

 

Mano, parece até que eu tenho um magnetismo pra coisas que acontecem fora do normal ::lol4:: . Mas o melhor de tudo é que Deus está sempre conosco, cuidando, protegendo e nos dando tais privilégios de viver o que vivemos. E poder contar histórias hehe. ::otemo::

 

Realmente, foi uma pena você não ter ido. Imagine-se vivendo esse perrengue com a gente...!!! ::dãã2::ãã2::'>

  • Colaboradores
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Valério

 

Mano... é um prazer ter você acompanhando meus relatos, e é um prazer maior ainda ter você nas minhas histórias de viagens, trilhas, o que for. És uma companhia admirável, irmão.

  • Colaboradores
Postado

Léo, Léo...

 

o relato já fala por si só, mas tenho muito a agradecer seu companheirismo e sua amizade, que nessa aventura foram fundamentais. Valeu mesmo ::cool:::'> de coração

  • Colaboradores
Postado

 

E essa é a essência dos relatos aqui do site, mostrar não apenas o lado da aventura, mas o que deu certo, o que deu errado, os perrengues, as alegrias e, sobretudo, as emoções que sentiram!!

 

Abração!!! :mrgreen:

 

Guilherme

Dessa forma você faz grande reverências e referências ao relato escrito acima.

Agradeço a grande atenção destinada ao texto, pois o mesmo é enorme ::lol4::

 

E pode deixar, qualquer hora dessas a gente segue juntos numa aventura estrada a fora.

Abraço man.

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