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http://youtu.be/LLiFSM1lCwE

 

O planejamento desta trip foi precário, além de que em todas as hipóteses que imaginávamos alguma coisa poderia dar errado.

 

Minha intenção inicial era de ir ao Mirante de Paranapiacaba para ali acampar e conhecer esse ponto de fácil acesso e já muito conhecido pelos trilheiros da região para, no dia seguinte, retornar a Paranapiacaba e caminhar em direção a Quatinga. No meio da estrada em direção a este distrito, à sua direita, adentraríamos numa trilha conhecida como Trilha do Rio Anhangabaú ou Trilha dos Carvoeiros de forma que em algum lugar, depois de uns 4,5Km de sobe e desce em meio a mata, interceptaríamos o Rio Quilombo para, só então, iniciarmos sua descida seguindo seu curso.

 

Já na Estação Rio Grande da Serra ficamos preocupados se nosso plano daria certo, tendo em vista a grande quantidade de jovens educados e que se comportavam de forma extremamente agradável que nos acompanhava desde SP até Paranapiacaba. Combinamos que se o outro grupo de cerca de 15 pessoas fosse em direção ao Mirante, nó iríamos em direção a Quatinga e vice-versa. Pra minha tristeza, esses seres iluminados por algum tipo de erva mágica com folha de cinco pontas caminharam em direção a Quatinga, então teríamos que ir na outra direção.

 

A trilha até o Mirante de Paranapiacaba é super fácil, mas seu início não é diferente das demais da região. Deve-se contratar um guia credenciado ou driblar a fiscalização que barra a entrada dos desavisados. No nosso caso, como chegamos em Paranapiacaba por volta das 23h da sexta-feira, não foi um problema. A essa hora os fiscais já estão em suas casas dormindo ou fazendo qualquer outra coisa porque ficaram dormindo o dia inteiro na viatura da empresa. Após atravessar a ponte localizada no centro do vilarejo, vire para a direita e mantenha-se nessa direção até chegar a uma rua cheia de botecos, na qual deverá subir para a esquerda e, se for cauteloso como nós fomos, ao chegar no posto da PM, passe por sua frente e continue sempre caminhando para cima. Depois de não mais que 5 minutos passará em frente a uma casa com uma clareira, a qual eu deduzir ser um dos postos onde os fiscais ficam de dia e, como as luzes do interior estavam acesas, tentamos não fazer barulho e logo a frente pegamos a "trilha" sentido suleste. Coloquei em aspas porque, na verdade, é uma rua, se não me engano conhecida pelo nome de Rua Bela Vista, que dava acesso aos veículos que levava o pessoal que trabalhava nas instalações em cima do morro.

 

Em 40 minutos de caminhada a partir da chegada em Paranapiacaba, chegamos a uma bica d’água e coletamos um pouco do líquido para usarmos durante a noite e no café da manhã do dia seguinte. É bom pegar uma quantidade boa, pois o próximo ponto d’água fica a uma hora de caminhada depois do Mirante.

 

Mais 15 minutos e passamos pela Pedra do Índio. Não entendi o porquê deste nome e nem ficamos muito tempo pensando nisso. Estava muito escuro e queríamos chegar ao mirante logo para achar um lugar bom pra acomodarmos nossos corpos não muito cansados.

 

Aos 10 minutos da meia noite, chegamos ao mirante. Demos uma bisbilhotada no lugar, nenhuma onça ou animal peçonhento. O visual é interessante, com as luzes de Cubatão dando graça ao lugar, mas nada de surreal. Logo percebi uma laje de concreto um pouco mais elevada e não pensei duas vezes: aqui será minha cama! Bivacar está virando um hábito nas trilhas e isso me agrada bastante, até porque não preciso esquentar a cabeça com armação de barraca ou amarração de rede e depois desmontar tudo. É só deitar e dormir e, se tiver risco de chuva, é só amarrar um plástico por cima e está tudo certo.

 

Tentei conversar com os demais integrantes da trip, o Bruno, sua esposa Jaque e o Luciano, para no dia seguinte voltarmos e fazermos a travessia do Rio Quilombo, mas estes dois últimos opinaram que ir a um lugar pra depois voltar não era legal, então ficou acertado que seguiríamos em frente em direção ao Poço das Moças no dia seguinte, já que eu não queria arriscar minha vida debatendo com uma mulher e um cara maior que eu no alto de um morro inóspito.

 

Minha noite foi ótima. Antes de cair no sono, mesmo, fiquei apreciando o céu estrelado daquela noite e tentei analisar o comportamento de uma nuvem ao leste que ameaçava pairar sob nós e possivelmente nos molhar de noite, mas nada disso aconteceu. Dormi muito bem e acordei apenas umas 2 vezes por causa de algum barulho, provavemente o chupa-cabras, e pra cobrir minha cara que estava sendo ameaçada por mosquitos. Os outros trilheiros não sei se tiveram um sono tão bom, principalmente a Jaque que dormiu em cima da mochila de um jeito totalmente inovador.

 

Não foi possível ver um nascer do Sol tão espetacular pelo fato de haver muitas árvores que encobriam a visão ao leste, mas o por do Sol deve ser bem legal de se contemplar ali. Comemos algumas frutas e partimos sem muita demora, pois não havia um acampamento para desmontar. Embora eu não tenha percebido um lugar bom para montar barraca, principalmente as que não são auto-portáteis, existem vigas de ferro encravadas no chão onde é possível pendurar redes e andando um pouco sentido sudeste do mirante, logo se depara com algumas clareiras ótimas para camping.

 

A descida até o Poço das Moças é muito tranquila, também. Há muitas bifurcações, mas ou vai dar em alguma clareira boa pra acampar, ou vai continuar descendo até o Poço. Alguns caminhos podem desviar da Pedra Lisa, o que não é legal, pois é um lugar bem gostoso e um bom local pra colher água pro resto da caminhada. Não vou saber dizer exatamente quais caminhos pegar, mas é sempre pelo lado esquerdo. A Pedra Lisa é um grande bloco rochoso, a uma hora de caminhada do Mirante, no qual o curso d’água passa por cima e que abre uma janela para o Vale do Rio Quilombo, dando uma visão legal lá de baixo, além de ter uma queda d’água muito boa para um banho. Aqui fizemos um lanche e descansamos bastante, cerca de uma hora até as 10h da manhã. Comemos o abacaxi que a Jaque trouxe - acho que virou um costume do casal trazer frutas exóticas para a trilha, da outra vez foi um melão - e depois de algumas filmagens e fotos, seguimos pelo lado esquerdo do curso das águas que escorriam pela Pedra Lisa.

 

Depois de mais uma hora e meia de caminhada, às 11h30, chego no Poço das Moças. Não havia ninguém e tratei logo de abandonar minha mochila e perneiras para dar um mergulho. Fiquei surpreso com a profundidade rasa do Poço. Mesmo pessoas que não sabem nadar podem se divertir sem problema nenhum. Apenas no meio do Poço que as águas ficam um pouco mais profundas, algo não mais que uns 2,5m no dia em que estivemos lá - deu pra notar que em outras épocas o Poço atingia níveis mais elevados, em torno de 1,5 a mais. O lugar conta com uma pedra lisa que forma um tipo de escorregador e é muito legal, perdi a conta de quantas vezes escorreguei nessa pedra e os outros trilheiros gostaram muito, também. Há algum tempo atrás havia uma árvore com uma corda pendurada da qual era possível executar saltos para o Poço, mas esta árvore cedeu e esta tombada na água atualmente - uma pena. Esse local é tão incrível que botou em cheque nossos planos de uma grande travessia. Começamos a cogitar ficar ali mesmo e voltar no dia seguinte para Paranapiacaba de tão bom que estava o lugar. Depois de algum tempo chegaram mais algumas pessoas, mas nada que comprometesse a tranquilidade do lugar. Nadamos muito, tomamos um lanche mais reforçado e curtimos o Poço até às 13:37 resolvemos que dessa vez iríamos prosseguir em frente até o Rio Mogi para, no dia seguinte, subí-lo e retornar a Paranapiacaba onde terminaríamos nossa grande travessia circular, mas já ficou combinado de voltarmos ao Poço das Moças em outra ocasião para ficarmos de boa lá, fazendo nada, jogando conversa fora.

 

Logo após o Poço, atravessamos o rio para sua margem esquerda de onde parte uma vereda e caminhando mais uns 500m dali por uma trilha bem plana e bem batida chegamos a uma represa onde é possível chegar de carro e é uma verdadeira farofada. Muito lixo e barulho. Por isso alguns que ali chegam se arriscam nos 500m de trilha para chegar ao Poço das Moças, mas são poucos pelo que notamos. Se ficar na praia do lado de um isopor cheio de cerveja e guloseimas industrializadas só observando o movimento já é uma chatice sem fim, imagine fazer isso numa pequena represa suja e barulhenta. Vai entender esse povo. Eu até fiquei com vontade de pular no poço usando uma corda pendurada estrategicamente em uma árvore, mas deixei essa tarefa para o Luciano e só registrei seu salto ornamental para não perdermos muito tempo ali e continuarmos a caminhada rumo ao Rio Mogi, visto que ainda tinhamos mais de 10Km de chão num Sol de queimar os neurônios e depois teríamos que decidir entre varar 3 a 4Km de mato até o rio ou caminhar mais do que isso, só que no asfalto. O calor estava de matar e era inversamente proporcional ao prazer em ficar nadando naquelas águas geladas do Poço das Moças, mas precisávamos caminhar - e rápido! Então fomos. Não deu nem 30 minutos a partir da represa e já tinhamos que providenciar uma parada. Sombra que é bom, nada! Tentei motivar o pessoal a continuar sob a justificativa de que caminhar de noite no mato seria muito pior, mas não deu muito certo. O Bruno e eu entramos no mato à esquerda da estrada de terra e estudamos a possibilidade em acessar um riacho que corria a uns 15 metros da estrada. Chamamos os outros dois e combinamos de ficar ali até que o Sol abaixasse um pouco, mesmo sabendo das incertezas que nos aguardavam pela frente. Ficamos deitados na água abaixando a temperatura do corpo. O Bruno e eu ficamos especulando novas hipóteses e lamentando em como as coisas não estavam indo muito bem naquele trecho, até que chegou a hora de levantarmos e partirmos, uma hora depois. O Luciano não queria de jeito nenhum voltar a caminhar pela estrada e bateu o pé que o deslocamento não seria prejudicado significativamente se fossemos pelo rio, mas logo percebemos que se seguíssemos pela água, não chegaríamos no final daquela estrada nunca. Saímos do rio e então continuamos a caminhada. Eu fui na frente na expectativa de encontrar algo que me animasse, uma cachoeira, um trilha em direção ao Rio Mogi, qualquer coisa, e depois de 35 minutos caminhando sem sinal dos outros integrantes, me deparei com uma barraquinha onde uma simpática moça vendia bebidas enlatadas e algumas guloseimas. Comecei a conversar com a moça com o intuito de colher mais informações do lugar, mas ela me explicou que não morava ali a muito tempo e que não tinha noção das trilhas que eu estava mencionando. Ela ficou curiosa com toda essa coisa de andar por dias no mato e ficou me perguntando se eu não tinha medo, se eu andava armado e toda aquela coisa de gente que não tem noção nenhuma de como é essa vida. Depois de um tempo chega seu irmão de moto e estaciona ao nosso lado e começa o mesmo interrogatório que sua irmã fizera. Expliquei de novo e eles se animaram com o fato da região ser rica em trilhas e disseram que ficaram com vontade de fazer algumas.

 

Mais de 20 minutos esperando e visualizo o resto do pessoal chegando ao meu encontro, mas param para conversar com um cara de uma caminhonete. Logo pensei "carona!" e não deu outra. Subiram pra cima da caçamba da caminhonete e vieram em minha direção. Eu, coitado, fiquei igual um tonto balançando os braços com medo de eles não me verem e passarem reto sem me resgatarem, mas felizmente pararam e eu também pude aproveitar essa carona mais que bem vinda a essas horas. Me despedi rapidamente da moça e de seu irmão que não me lembro os nomes e fui embora daquele lugar.

 

Logo após subir no veículo, a notícia ruim: o casal Dias Conde decidiu que iriam embora. É isso que da não planejar direito as coisas. Acabei colocando eles nessa caminhada cheia de incertezas e acabaram esgotando suas energias, fazendo com que tivéssemos duas baixas no segundo dia. Espero que eu não tenha traumatizado a Jaque, já que ela está começando a fazer trilhas e tem muita aptidão, só que pegamos um dia muito quente e ninguém conhecia aquela região, nem eu que os convidei. A única coisa que tínhamos era um mapa e um GPS com algumas trilhas da região. Suficientes para não nos perdermos e nos planejarmos melhor conforme as distâncias que teríamos que percorrer, mas isso não adiantou muita coisa.

 

Chegamos na rodovia às 17h15 e confirmada as baixas, nos despedimos da Jaque e do Bruno e o Luciano e eu fomos em direção ao início da trilha do Sistema Funicular, a qual eu sabia que se iniciava em baixo de um viaduto. O plano era subir pelo Rio Mogi, mas era certo que não conseguiríamos tal façanha com o tempo que nos restava, ainda mais tendo o relato de amigos muito mais experientes em mãos contando que fizeram em dois dias a subida e com a campainha do Luciano que, embora seja um corajoso trilheiro, não estava fisicamente bem pra me acompanhar numa caminhada mais rápida, o que acabou se confirmando no dia seguinte.

 

Caminhamos por cerca de 5 minutos e aproveitamos que um daqueles caminhão de guincho que parou no acostamento para pedir uma carona. Tendo dois assentos vagos no caminhão e dois caminhantes estragados pedindo ajuda, só um cara muito ruim pra negar, então, mais uma vez, subimos pra cabine do caminhão e ganhamos mais uns 3Km de rodovia e, logo quando avistei o viaduto onde se iniciaria a trilha do Sistema Funicular, pedi para que nos deixasse lá. Foi tudo tão rápido que nem conversamos muito ou dei qualquer explicação do que estávamos fazendo. Ele deve estar se perguntando até agora o que dois caras acabados e fedidos foram fazer debaixo de um viaduto. Mas tudo bem, às vezes é bom um pouco de mistério na vida das pessoas.

 

Apesar de já ter feito a trilha do Sistema Funicular, essa parte inicial era nova pra mim. Estava preocupado com o tempo e queria chegar na casinha onde dormimos da outra vez enquanto ainda estava claro, então acelerei o passo e toda vez que perdia o Luciano de vista o esperava um pouco. O início da trilha é horrível. Não há nada de visualmente agradável e a quantidade de mosquitos devido a proximidade com algumas casas e cachorros é enorme. Num certo momento, o Luciano quis parar para fazer uma gambiarra em seus sapatos que já deveriam ter sido aposentados e tivemos que fazer uma pausa. Se andando os mosquitos já me atacavam furiosamente, parado a coisa começou a ficar insuportável. Acelerei o Luciano para que terminasse logo enquanto eu andava em círculos para evitar ficar totalmente parado, mas não ajudou muito. Quando ele terminou eu andei o mais rápido que pude pra sair dali logo. Às 18:37 cheguei até uma cachoeira - um curso d’água que corre sobre um grande bloco rochoso - e tratei logo de tomar um banho antes que escurecesse. Enquanto eu estava lá, estirado naquela rocha com a água escorrendo e levando todo o calor daquele Sol maldito que me torrou o dia todo, o Luciano chega e interrompe minha meditação. Terminei o banho antes do Luciano e me troquei e peguei 2,5L de água para cozinhar e tomar durante o resto do dia e parti na frente para já começar a limpar a casinha, já que meu plano era dormir no chão novamente, e iniciar a janta. O local estava relativamente limpo, mas o chão estava um pouco úmido. Nem liguei, tirei um pouco da sujeira que se acumulou no chão e fiz a janta sem muita inspiração. O Luciano já havia se deitado de tão cansado e tive que acordá-lo para jantar.

 

Devidamente alimentados, montei um varal pra pendurar a roupa suja e me deitei naquele chão de cimento queimado, esperando que ele sugasse todo o calor que eu estava sentindo. MUITO CALOR! Não adiantou muita coisa. Mesmo dormindo sem isolante térmico em contato direto com o chão de cimento, minha noite foi horrível por conta do calor, mosquitos e os roncos do Luciano que eu achei que haviam melhorado porque na noite anterior eu não os ouvi, mas nessa noite eles voltaram com tudo!

 

Acordei às 07:00 estragado devido a noite mal dormida, nem tomei café da manhã e já estava determinado a terminar aquela trilha logo, sem muita enrolação. Da outra vez saímos para a caminhada às 10h, mas o calor estava mais brando e o tempo levemente nublado. Desta vez, como eu já conseguia visualizar por entre as folhas da mata o céu azul, deduzi que o Sol acabaria com nossas vidas nos incinerando em cima de alguma das pontes se demorássemos muito ali, então acelerei o Luciano para que fossemos logo e evitar a pior parte do dia. Eram 8 da manhã e já adentramos a mata para retornar a Paranapiacaba. A partir daquele ponto a trilha se torna mais interessante. Começam a surgir os túneis, as pontes e a vista de cima das pontes é incrível. É uma trilha que realmente vale a pena repetí-la. O nível de dificuldade já é mais complicado aqui. Numa escala de 0 a dez, eu diria que é um 6. Apesar de mais fechada que outras trilhas por aí, tem um caminho certo a se seguir. Se tiver medo de passar pelas pontes, a maioria é possível desviar pela direita e andar por cima das pontes não é a coisa mais perigosa do Universo, mas é preciso atenção e paciêcnia. Desta vez, como não havia a presença de ninguém que realmente conhecesse essa trilha, tinhamos que decidir no início de cada ponte por qual lado iríamos, agregando um toque de aventura a mais. Eu dava preferência pelo lado direito, visto que o lado esquerdo fica mais exposto à brisa que vem do litoral, corroendo mais as estruturas da ponte, mas em uma ou outra ponte era evidente que deveríamos ir pelo lado esquerdo devido à presença de grandes arbustos no caminho da direita. Como da outra vez nos deparamos com duas cobras nessa trilha - uma caninana e a outra jararaca - fiquei atento ao chão e aos troncos pelo caminho para não pisar em uma, apesar de estar com minhas perneiras tabajara. Vai que essas perneiras não servem pra nada. É um daqueles equipos que você não sabe se funciona e não quer nem saber, mas usa por pura superstição.

 

Achei que a trilha estava muito fechada desta vez, talvez em razão das fortes chuvas das últimas semanas que derrubaram muitos cipós e galhos no meio do caminho. Muitas vezes eu perdia o caminho e me enfiava no mato no sentido que era único. Notei que dessa vez haviam muitos moranguinhos silvestres, o que foi ótimo, pois me poupou de ficar parando o tempo todo pra comer minha coisas. Da outra vez eu comi só um punhado porque o Eduardo ia na frente comendo tudo e eu quase não senti o gosto dessa delícia. No início da caminhada eu sempre perdia o Luciano de vista, então começava a gritar seu nome para ver mais ou menos onde ele estava e o esperava. Depois de caminhados ⅔ da trilha, acelerei o passo e fui na frente para, novamente, adiantar o banho e a troca de roupas pra ir embora. Quando estava quase chegando no fim, notei uma movimentação na casinha de vidro que fica mais elevada que as demais. Eram três fiscais. Voltei um pouco, olhei para os lados. De um lado uma subida absurdamente íngrime e com certeza os fiscais notariam minha presença se eu subisse ali. Do outro lado era uma piramba que provavelmente ia dar no Rio Mogi depois de muita descida e meu cronograma ficaria totalmente prejudicado. Foi aí que um dos fiscais saiu pra fora e acenou em minha direção, me chamando para se aproximar. Puts, agora ferrou. Já comecei a imaginar um monte de desculpas furadas - será que falo que um helicóptero me abandonou lá e eu estava procurando uma saída ou que sou um alienígena e estou em uma missão secreta para registrar a história deste planeta para arquivar na biblioteca dos Lanternas Verdes. Quando cheguei próximo da casinha de vidro, um dos fiscais, sorridente, me perguntou: "tava difícil a trilha?" e então eu o respondi com uma cara de coitado completamente esgotado: "sim, muito!". O cara se mostrou super gente boa e ainda me perguntou se eu sabia como sair dali. Apesar de saber, respondi que não sabia, pois pensei que se ele soubesse que eu já estivera ali antes, a multa poderia dobrar. Então ele me indicou o lado, perguntou se eu estava sozinho e eu respondi positivamente - vai que ele está fingindo, mas na verdade só quer que eu confesse o crime e entregue os comparsas - e se despediu. Então eu fui na direção de um córrego onde nos limpamos da outra vez, tomei um banho e esperei o Luciano por uns 40 minutos, no meio do mato e bem quieto, pois bem do lado estava tendo um churrasco cheio de gente e eu não queria ser pego pelos moradores naquele lugar. O Luciano tomou um banho bem rápido e fomos em direção ao ponto de ônibus que nos levaria até a Estação Rio Grande da Serra. Já eram 16:50 e meu plano era pegar o ônibus para voltar às 16:00. Se eu estivesse sozinho teria conseguido com folga, mas esse pequeno atraso não incomodou em nada.

 

Ao chegarmos no ponto de ônibus, começa aqueles estresses da vida urbana. Havia uma fila gigante. Parece que estava tendo algum evento em Paranapiacaba, como todos os outros finais de semana que ali estive, e muitas pessoas estavam aguardando o transporte público para retornarem a suas casas. Esperamos por 25 minutos até surgir um ônibus que, por ser mais caro que o outro, espantou alguns passageiros, dando oportunidade para nós que estávamos atrás na fila. Em 20 minutos chegamos em RGS e corremos para pegar o trem que nos levaria de volta à São Paulo.

 

Assim termina mais um final de semana de muitas incertezas, mas que no final deu tudo certo pelo menos pro Luciano e para mim, e fica a lição de que devemos planejar melhor essas coisas pra não estragar o final de semana dos outros convidados. As trilhas até o Mirante e depois para o Rio Quilombo são super fáceis e acessíveis, devendo-se tomar cuidado apenas com os joelhos nas descidas, flexionando os bem e se possível com o auxílio de um bastão. A caminhada foi longa, mas as caronas nos ajudaram muito. O retorno a Paranapiacaba pelo Rio Mogi ficará para uma próxima oportunidade.

 

Qualque dúvida é só dar um toque que tento ajudar. Obrigado pela leitura e até a próxima!

 

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