Membros Vinícius Mzk Postado Dezembro 29, 2014 Membros Postado Dezembro 29, 2014 (editado) Vídeo da trilha: Minha mocinha e eu aproveitamos as férias de dezembro e a semana que passamos em Ubatuba para fazermos essa trilha clássica que é considerada uma das mais exigentes devido a sua inclinação rigorosa, porém localizada em uma região com natureza exuberante e convidativa, pois as trilhas são bem demarcadas e o terreno não impõe riscos à integridade física dos trilheiros (queda de penhasco, deslizamento, rios caudalosos com correntezas violentas ou plantas espinhosas furadoras de mãos). A trilha começa aos 15 metros de altitude no bairro Corcovado, próximo à uma aldeia indígena, ao lado de um sítio com uma casa amarela e uma placa curiosa com os dizeres "Cuidado - Antena Elétrica". Não entendi o que isso significa, mas fica o aviso. Vai que trata-se de uma antena que atira raios nos invasores. É possível chegar até bem próximo do início da trilha de ônibus e, após terminar a trilha, voltar com o coletivo, também. Iniciamos a trilhas às 8h, porém, por um descuido meu que subestimei a trilha e não prestei atenção ao GPS, desviamos da trilha, que deveria seguir para o nordeste, e pegamos um caminho para o norte e depois fizemos um pequeno desvio para noroeste, passando por alguns riachos e depois de perdermos a trilha voltamos tudo até o começo, já perdendo uma hora de caminhada. Minha namorada já começou a desconfiar das minha habilidades de navegação (que não são boas - já me perdi até em ciclovia), mas usei de toda a minha lábia pra que ela ficasse segura de que pegaríamos o caminho certo e não seríamos comidos por onças. Após pegarmos a trilha certa, ainda é possível errar devido as inúmeras picadas abertas no início, que devem servir para facilitar o deslocamento dos moradores locais ou levar para outros pontos turísticos do bairro como cachoeiras e piscinas naturais que ouvi falar são atrativos daquele lugar. Depois de meia hora de pernada no caminho certo não há mais erro. É só seguir a trilha e se houver algum desvio é pra algum mirante que não fica mais que 15 metros distante da trilha ou é algum ponto de água. Andamos uma hora e vinte minutos até chegarmos no 4º ponto de água, aos 200 metros de altitude. Os três primeiros pontos de água são muito próximos um do outro e são logo no início da trilha. Como estávamos com os cantis cheios no início da caminhada (700ml cada) não pegamos água em nenhuma dessas fontes, porém fica o aviso: se você bebe muita água, é melhor encher o cantil novamente nesse ponto de água, pois o 5º e último ponto de água fica a três horas de caminhada deste, a 730 metros de altura. Nós racionamos bem o precioso líquido, mas trombamos com um grupo de 3 pessoas que se apresentaram como guardas florestais e um turista italiano que, gentilmente, depois de muita insistência deles, nos forneceram um pouco de suas águas. Às 11h e pouco passamos pelo trecho que considerei o mais "difícil". Não há nada de difícil nessa trilha, tirando a forte inclinação da maioria do percurso, mas nesse trecho, onde é notável uma fenda inclinada entre duas pedras num trecho bastante íngrime, tive que subir primeiro, pegar a mochila da minha amada, ajudar ela a subir e depois subir o restante com as duas cargueiras, pois minha namorada não está acostumada com esse tipo de atividade e ficou bastante desgastada nesse ponto. Ela está só começando e já coloquei ela pra subir esse Pico. Que ótimo namorado que eu sou... Ao meio dia chegamos à IGREJINHA, um aglomerado de rochas que não sabemos por quê recebe esse nome, mas quando se chega lá não há dúvidas de que se trata do lugar. Fizemos uma parada para um lanche mais reforçado nessa hora. Sentamos na trilha esperando que não passasse outros trilheiros, pois era o único ponto com sombra, brinquei um pouco sobre as rochas sob o alerta da minha namorada de que eu morreria se caísse de lá (ela não tem muita noção do perigo nesses lugares) e voltamos a caminhar, pois ainda estávamos longe e teríamos que ganhar mais uns 700 metros de altitude até o Pico. Andamos mais um bocado, sempre comigo na frente e quando eu perdia minha companheira de vista parava para esperá-la. Ela vinha seguindo e quando me alcançava sentava, também, para um descanso. Nesse trecho é só subida. O bom é que não há o que se inventar. As raízes das árvores formam uma escadinha bem firme e não resta dúvidas de onde colocar o pé. É só seguir adiante na subida. Depois de mais duas horas e 15 minutos de caminhada e algumas paradas, chegamos ao 5º e último ponto d’água. Jogamos nossas mochilas no chão e tratamos de fazer outro lanche reforçado para depois subirmos com tudo até o cume (hummm, doce ilusão). A água desse ponto é impressionante. Voltei pra minha casa e uma das coisas que mais sinto falta de lá é daquela água. Simplesmente deliciosa. Abriria a mão de toda a cerveja do mundo para só tomar essa água (mentira). Peguei o galão de 2,5L que sempre carrego nas trilhas e o enchi para tomarmos durante a noite e para cozinhar. Enchemos nossos cantis com aquela deliciosa água e voltamos a andar por aquelas encostas que começavam a se cobrir de neblina. Continuamos a pernada e eu sempre tentando motivar minha namorada, lhe informando quantos metros já caminhamos, quanto ainda falta pra os próximos pontos e sugerindo a ela que contemple a paisagem do lugar que é belíssima (mentira, a essa hora não enxergávamos mais nada devido a densa neblina que nos rodeava) e, depois de muito esforço, chegamos a crista do morro, onde é possível montar acampamento para um ataque ao cume no dia seguinte. Mas não era esse o plano. Até minha mocinha que estava exausta queria chegar ao cume naquele mesmo dia. Já eram 16h e o tempo era incerto devido a visão precária que tínhamos. Estava tudo muito bonito com aquela neblina toda, mas não sabíamos se poderia chover ou não. Aqui registramos 1077 de altitude e o terreno se torna mais plano. Aceleramos o passo aproveitando o menor desnível e vamos ganhando metros com muito mais facilidade. Passamos por uma rocha que em horários sem neblina deve servir de mirante, e em uma hora chegamos à base do Pico, onde fazemos uma curva para a direita e voltamos a escalaminhar para chegarmos ao cume. Passa-se por algumas árvores relativamente grandes e inclinadas que achei muito bonitas e dali em diante eu acelerei o passo, pois senti que estava chegando e minha empolgação chegou no nível máximo. Até esqueci minha namorada pra trás. A neblina estava intensa, nem liguei mais para o GPS e simplesmente fui correndo em direção ao caminho que me levasse para cima. Virei para a esquerda numa bifurcação (meu erro) e cheguei em uma clareira com uma pedra que acreditei ser o cume, subi nele, fiz pose, filmei e tirei umas fotos. Fiquei feliz pra caramba e me lembrei da minha companheira e comecei a gritar para que ela acompanhasse minha voz. Comuniquei a ela que havia chegado ao cume e ela começou a gritar de alegria de longe. Coitada, sofreu tanto que quando chegou ao meu encontro só queria montar acampamento para descansar. Embora feliz, fiquei desapontado por conta da baixa visibilidade. Queria ver o por do Sol e achei que não seria possível, mas, para minha surpresa, a Natureza nos reserva um espetáculo. A neblina começa a esvanecer e revela o Sol prestes a se despedir. O movimento da neblina, a luz do Sol, o lugar que estávamos - era tudo incrível. Tiramos algumas fotos, tentei filmar algo e, para nossa surpresa, terminamos de jantar às 21h (eu demoro pra fazer comida, pelo menos não faço miojo) e ainda estava claro. Fizemos tudo até irmos pra "cama" sem o uso de lanternas. A visão do céu noturno não é muito boa devido a proximidade com as luzes da cidade, mas isso em nada prejudica a experiência incrível de estar ali. Não fez frio de noite, tampouco choveu ou apareceram felinos gigantes em busca de comida. No dia seguinte, percebi claramente que onde estávamos não era o ponto mais alto do morro. Já não havia mais neblina e o céu estava claro e belíssimo. Chamei a Taísa para ir comigo e tratei logo de chegar ao cume enquanto aquele espetáculo de luzes do Sol durasse. Chegamos ao cume, subimos em pedras para tirar fotos e, de praxe, minha namorada sempre me alertando do risco de vida se eu caísse de uma daquelas rochas altíssimas (1 metro de altura). Depois de satisfeito com as imagens que captei, desmontamos acampamento e tomamos um café bem básico para iniciarmos a descida. Combinamos que faríamos um café mais reforçado no 5º ponto de água. Aqui vai uma dica: como conhecedor de descidas, tratei logo de arranjar um bastão para nós dois para poupar os joelhos nos dias seguintes. É uma técnica simples e fácil que agiliza a descida e diminui o impacto nas juntas das pernas, evitando dores nessas partes nos dias seguintes. A descida foi mais tranquila, sem grandes emoções. Trombamos uma família de 3 índios subindo o morro de chinelos, sem nenhuma tecnologia avançada que proporcionasse maior tração ou amortecimento, muito menos proteção aos pés. Levavam seus mantimentos em sacolas de mercado, porque mochilas da Deuter foram feitos pra pessoas frescas e falsos montanhistas. No 5º ponto de água encontramos um tiozinho que subia o pico com uma mochilinha de corrida e uma garrafinha de água. Ele parou para nos cumprimentar, mas não quis pegar mais água. Falou que o que tinha era suficiente e que pretendia descer no mesmo dia. Fazer o que. Alguns tiozinhos são muito mais jovens que nós. Tomamos um banho no 4º ponto de água e trocamos nossas roupas. Tirei mais algumas fotos na vila na base do morro e ficamos esperando o ônibus para voltarmos pra pousada onde estávamos hospedados. É uma trilha que recomendo para todas as pessoas minimamente preparadas (minha namorada não pratica atividade física nenhuma e aguentou a subida bravamente). Para não se perder no início é bom pedir ajuda pra algum morador local e o resto é só seguir a única trilha até o Pico. A trilha é limpa, salvo um pouco de lixo que se nota nas áreas de acampamento. É importante saber os pontos de água e levar de sobra para o cume para depois ter o que beber na volta. Dando atenção a esses aspectos, não há segredo algum, mas a recompensa é grande. A visão de todo o litoral norte paulista, a Serra do Mar que se estende ao oeste, a neblina, a mata, os sons e as luzes - é tudo incrível pra quem gosta de atividade outdoor e super acessível. Obrigado pelo acesso e até a próxima aventura! Editado Junho 19, 2015 por Visitante 1 Citar
Membros Bruno D Conde Postado Dezembro 29, 2014 Membros Postado Dezembro 29, 2014 Parabéns Pelo relato meu amigo ! Citar
Membros Vinícius Mzk Postado Janeiro 20, 2015 Autor Membros Postado Janeiro 20, 2015 Valeu, Bruno! Agora que vi sua mensagem. Preciso me acostumar a entrar mais nesse site. Abraço! Citar
Membros de Honra Otávio Luiz Postado Janeiro 20, 2015 Membros de Honra Postado Janeiro 20, 2015 Parabéns pela conquista!!! Montanha que ainda não conheço, mas tá no caderninho. Tava frio no cume?!? Usar pluma no Brasil em dezembro acho difícil... Citar
Colaboradores Rodrigo e Gí Postado Janeiro 20, 2015 Colaboradores Postado Janeiro 20, 2015 Muito bacana, parabéns !!! Acha possível fazer sem GPS ? Obrigado !!! Rodrigo Citar
Membros de Honra gvogetta Postado Janeiro 20, 2015 Membros de Honra Postado Janeiro 20, 2015 Salve! Parabéns pela pernada Vinícius e Taísa! Subir o Corcovado de Ubatuba como primeira experiência não é para qualquer um. Fizeram bem em dormir no ponto de camping antes do cume, ainda que sem querer. A degradação do cume ali tem sido grande, justamente devido aos acampamentos e grupos grandes que ali acampam. Partindo do litoral (Praia Dura), ainda que não seja uma trilha difícil, tecnicamente falando, é uma trilha que demanda bom preparo físico, pois o gradiente do terreno passa em alguns pontos de 60°... É possível também acessar o cume partindo do planalto, da localidade de Vargem Grande, em Natividade da Serra (Núcleo Santa Virgínia - saindo do Parque Estadual da Serra do Mar), onde a trilha já inicia com cerca de 880m de altitude. [...] Acha possível fazer sem GPS ?Obrigado !!! Rodrigo Respondendo à questão do Rodrigo, se conhecer bem a trilha, especialmente as ramificações de outras trilhas que existem no início do percurso de subida, perto da aldeia indígena, é perfeitamente possível fazer a subida sem usar GPS. Depois dos 250m de altitude a trilha principal fica bem definida e é fácil notar as saídas "erradas". Abraços! Citar
Membros Vinícius Mzk Postado Fevereiro 1, 2015 Autor Membros Postado Fevereiro 1, 2015 Parabéns pela conquista!!! Montanha que ainda não conheço, mas tá no caderninho.Tava frio no cume?!? Usar pluma no Brasil em dezembro acho difícil... Oi, Otávio! Não estava frio, não. Levamos esse casaco por ele ser leve e super compacto e só usamos de manhã quando acordamos. Recomendo muito ir, pois é belíssimo e o acesso muito fácil. Basta se informar qual coletivo leva até o início da trilha e na volta há um ponto de ônibus bem próximo ao final da trilha. Obrigado pela leitura e qualquer coisa é só dar um toque! Abraço! Citar
Membros Vinícius Mzk Postado Fevereiro 1, 2015 Autor Membros Postado Fevereiro 1, 2015 Muito bacana, parabéns !!! Acha possível fazer sem GPS ? Obrigado !!! Rodrigo Oi, Rodrigo! Valeu pela leitura. É como nosso amigo GVogetta mencionou, não é necessário GPS se você se informar bem como é o início da trilha. Há diversas ramificações que podem confundir um pouco, mas depois dos 250m de altitude não há mais erro. Facilmente se nota os pontos de água e no final, já nas proximidade do Cume, pode-se confundir um pouco se a neblina estiver muito espessa, como foi no nosso caso. Abraço e obrigado pela leitura! Citar
Membros Vinícius Mzk Postado Fevereiro 1, 2015 Autor Membros Postado Fevereiro 1, 2015 Salve! Parabéns pela pernada Vinícius e Taísa! Subir o Corcovado de Ubatuba como primeira experiência não é para qualquer um. Fizeram bem em dormir no ponto de camping antes do cume, ainda que sem querer. A degradação do cume ali tem sido grande, justamente devido aos acampamentos e grupos grandes que ali acampam. Partindo do litoral (Praia Dura), ainda que não seja uma trilha difícil, tecnicamente falando, é uma trilha que demanda bom preparo físico, pois o gradiente do terreno passa em alguns pontos de 60°... É possível também acessar o cume partindo do planalto, da localidade de Vargem Grande, em Natividade da Serra (Núcleo Santa Virgínia - saindo do Parque Estadual da Serra do Mar), onde a trilha já inicia com cerca de 880m de altitude. [...] Acha possível fazer sem GPS ?Obrigado !!! Rodrigo Respondendo à questão do Rodrigo, se conhecer bem a trilha, especialmente as ramificações de outras trilhas que existem no início do percurso de subida, perto da aldeia indígena, é perfeitamente possível fazer a subida sem usar GPS. Depois dos 250m de altitude a trilha principal fica bem definida e é fácil notar as saídas "erradas". Abraços! Oi, Getúlio! muito obrigado pela leitura. Realmente, a subida é puxada pra quem não tem muita experiência. Na caso, acabei levando a maioria das coisas e deixei com elas só as mais leves (sacos de dormir e as roupas dela). Os trilheiros que gentilmente nos concederam um pouco de suas águas nos informaram da possibilidade de chegar ao cume a parti do Parque Estadual da Serra do Mar e agora quero planejar uma travessia subindo o Pico e depois terminar em Natividade da Serra. Preciso ver uma data só. Abraço! Citar
Membros Marcus Martins Postado Fevereiro 1, 2015 Membros Postado Fevereiro 1, 2015 E aí Vinícius, beleza? Vc sabe dizer se tem lugar para deixar o carro no início da trilha? E também se o início da trilha fica longe do bairro Itaguá. Teu relato foi bacana. Parabéns. Citar
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