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Minha última parada na África foi em Uganda (fev/13). Fui de pau-de-arara de Arusha, na Tanzânia até a capital do país, Kampala (lembrem-se desse detalhe para entenderem o final da história). A cidade é um caos completo. A poluição é tão grande que o ar da cidade é preto. Motocicletas por toda parte irritam até o mais tranquilo dos Budas. Há trânsito até para caminhar, já que não há calçadas, muito menos iluminação. Os Upanishads falam de mundos assombrados pelos demônios, regiões de absoluta escuridão, certamente se referem à Kampala! Para compensar a loucura da cidade, fiquei no hostel backpackers, um pouco afastado do centro e com um ar de tranquilidade e uma comida muito boa. Pra não dizer que não falei das flores, a noite na cidade é bem animada e vários bares contam com música ao vivo. Também fiquei por 3 dias na casa de Marvin, no centro de Kampala e curti um pouco desses bares. Mas o clima estava tão denso que eu pensava em ir logo para a Índia e cair fora de lá. Pra relaxar resolvi arriscar um rafting pelo Rio Nilo no interior do País. Não conhecia nada do esporte, foi minha primeira vez. Quando o instrutor começou a explicar como desvirar o bote caso ele vire, eu comecei a sentir um frio na barriga. O Rio foi considerado um dos melhores para a prática antes da construção de uma barragem, mesmo assim, suas águas violentas impressionam. Havia quedas nível 5, 4 e 3 ao longo do percurso. Nosso bote com espaço para oito, foi com mais quatro pessoas, duas suíças, um espanhol e o instrutor. Estávamos super leves. Na primeira queda, nível 3, nós já viramos. Eu me sentia em uma máquina de lavar. Não conseguia subir de jeito nenhum, após 30 segundos finalmente consegui respirar. Estava morto de cansado, mas haviam outras sete quedas pela frente, meu Deus! A próxima era nível 4 e nós conseguimos passar por ela com muito esforço. Mas na seguinte viramos novamente: mais 30 segundos embaixo d’água. Não havia como escapar, a próxima seria nível 5, o máximo para o rafting e enquanto nos aproximávamos, era possível sentir o cheiro de medo emanando de nós. O guia percebendo isso pegou um caminho lateral para frustração das garotas que iam com a gente, elas realmente queriam se jogar lá no meio do turbilhão. Passamos ilesos. Nas últimas 4 quedas, o bote não virou nenhuma vez. Apesar disso, em uma delas, todos nós caímos na água, menos o instrutor, que mais experiente, conseguiu se segurar no bote. Ao fim da experiência brindamos a vida com cerveja e almoço. Eu me sentia extremamente feliz por estar vivo e decidi que iria pensar 7 vezes antes de fazer o próximo rafting desse nível.

 

Pois bem, de lá segui para um hostel que se localizava no meio da ilha de Itabira, no interior do país. Para chegar lá, só de caiaque ou barco. Eu fui remando por 40 minutos juntamente com um barqueiro até pisar em terra firme. A ilha é um oásis de paz e tranquilidade. Com alimentação natural, uma represa limpa e muitas histórias do povo nativo da região, os pigmeus, descansei das aventuras de Kampala e do Nilo. Conheci um casal da República Tcheca de meia idade e juntos comemoramos o aniversário de uma dinamarquesa. Trocamos muitas risadas nesses dias.

 

Decidi então que era hora de seguir até a fronteira com a Ruanda para ver os famosos gorilas da região. O casal me acompanhou na aventura. O preço é hipertensivo, mas vale a pena desfrutar de uma hora com estes adoráveis e perigosos animais vivendo em seu estado natural. Nós chegamos cedo e após recebermos instruções, começamos a caminhada pela selva para encontrá-los. Guias monitoram a posição deles diariamente e nós já tínhamos as coordenadas de onde eles estavam. Em 20 minutos avistamos os gorilas. Uma família com dois bebês, além de um blackback (adolescente) mais um silverback, que é o decano do grupo. Este último é o mais mal humorado e nós não podíamos chegar perto dele. Os bebês, vendo a gente, brincavam o tempo todo: um batia no outro, tentavam se agarrar nos galhos pra depois cair, faziam caretas, sem dúvida estavam se divertindo com a nossa presença. O blackback estava mais afastado deitado no chão e no fim da aventura, nós o rodeamos. Ele aparentemente dormia e aproveitamos para tirar fotos mais próximas. Então aconteceu o inesperado: ele levantou de repente e veio em minha direção, eu tive tempo apenas de me jogar para o lado enquanto uma de suas mãos acertou as costas da Tcheca. Ele passou por entre a gente e ficou comendo algumas folhas na árvore atrás de nós. Foi um susto enorme, a Tcheca que já era branca estava albina. Meu coração estava a mil por hora. Nós aprendemos uma grande lição: nunca fique em grupo ao redor de um gorila, eles não gostam hehe. Após a experiência, voltamos para a cidade a pé. No caminho, um grupo com mais de 50 crianças felizes correu em nossa direção, nos rodeou e começou a nos seguir, foi outra experiência inexplicável. Eu me sentia no filme do Forrest Gump. Elas nos tocavam para ver se éramos reais, aparentemente, nenhum viajante caminha por aqueles lados. Um outro rapaz, mais à frente, perguntou quais eram os meus planos para a vila, eu não tinha nenhum, mas gostaria de ter. O alegria das crianças naquele mundo abandonado é inesquecível.

 

Por fim voltei para Kampala. Era hora de embarcar rumo à Índia. Meu avião saíria de Entebbe, perto da capital, com destino a Mumbai pela horrível Ethiopian Airlines, sempre ela. Ao chegar ao aeroporto, primeira surpresa. Pela primeira vez na trip, queriam que eu apresentasse uma reserva de um voo de retorno ao Brasil ou a outro país depois da Índia. Eu discuti com o gerente e por fim tentei fazer uma reserva pela net na própria sala dele, mas a internet era muito lenta, pior que conexão discada, e eu não consegui. Resultado: perdi o voo. Voltei então para Kampala, marquei o voo para o próximo dia e fiz uma reserva de retorno ao Brasil para apresentar a eles. Chegando lá, fiz o check-in normalmente, apesar de uma das atendentes da Ethiopian Airlines apresentar um comportamente suspeito, como se não tivesse contente com a minha presença. Despachei a bagagem e me dirigi para o controle de imigração. Lá o oficial começou a verificar meu passaporte e perguntou como eu tinha chegado à Kampala, eu respondi que tinha vindo de ônibus da Tanzânia e ele então simplesmente me devolveu o passaporte e disse para eu voltar para lá de Ônibus. Baixou o santo nele. Eu disse que aquilo não fazia sentido algum, que eu nunca tinha visto esta exigência em nenhum país do mundo, mas ele estava irredútivel. Pedi que ele ligasse para o seu superior, ele ligou ou fingiu que ligou e eu escutei ele falando mais ou menos assim: tem um rapaz aqui que esta viajando por diversos países e agora quer ir para a Índia, vamos “quebrar” ele aqui? Ele então me devolveu novamente o passaporte e disse que eu não era bem-vindo à Uganda. A atendente da Ethiopian rasgou meu bilhete de embarque e depois de meia hora trouxeram minha bagagem de volta. Eu estava enfurecido. Mas não tive escolha. Peguei por fim o ônbus com direção à Nairobi, e de lá, voei tranquilamente para Mumbai, pela 1000 vezes melhor Qatar Airlines. Eu só sei que Ethiopian Airlines eu não recomendo nem para o pior dos humanos, e Uganda tem seus pontos positivos, pouquíssimos, é verdade, mas fica a critério de cada um lembrando que viajantes não são bem-vindos em Uganda, pelo menos, não no aeroporto. Vá por terra e saia por terra. No dia seguinte eu já pisava em Mumbai e começava então uma louca jornada pela Incredible Índia.

 

Abraços.

Lucas Ramalho

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