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Depois do Quênia, eu segui viagem para Tanzânia com Thierri, um chef francês que me acompanhava. Fomos direto para Dar es Salaam, capital do país. A cidade é um pouco mais organizada do que Nairobi, mas ainda assim, caótica. Ruas de Terra, má-iluminação, baixas condições higiênicas e transporte degradante estão entre suas características. Não há albergues na cidade e a opção novamente foi se hospedar na casa dos nativos. Dessa vez tivemos uma anfitriã de nome Jay, queniana que vivia na tanzânia. Muitos vizinhos migram para a capital tanzaniense em busca de melhores condições econômicas de trabalho. De fato acontecia algo interessante com ela: como ganhava muito bem em comparação com o restante da população, tinha dificuldades de encontrar um namorado ou marido, já que eles não se sentiam bem com uma mulher que ganhava mais do que eles. Ficamos uma noite em sua casa e no dia seguinte seguimos para a famosa Zanzibar.

A ilha nem parece que se localiza na África. Cosmopolita e mais desenvolvida, atrai turistas locais e estrangeiros, viajantes, mergulhadores, trabalhadores temporários e prostitutas. Ela é bem cara em comparação com os outros locais e não é possível encontrar quartos por menos de 50 mangos. Era a última parte da trip de Thierri e nós conseguimos uma ótima oferta. A água da praia é tão límpida que é possível ver o fundo do mar a todo instante. Apesar de ter feito apenas snorkel, mergulhar por aqueles lados é algo que realmente vale a pena. A ilha tem várias peculiaridades, uma delas é a banana vermelha que nasce quase que exclusivamente por lá. Há uma espécie de macaco vermelho que também é nativa do lugar. O cantor inglês Freddie Mercury nasceu em Zanzibar. A ilha foi colonizada pelos portugueses (mais uma vez) e ainda conta com habitações e museus relativos aquela época. Porém logo eles foram expulsos e os turcos reinaram absolutos. Indianos e asiáticos em geral também se instalaram na região. Nós seguimos para Kendwa Rocks, norte da ilha, menos movimentada e com um por do sol espetacular. Restaurantes à beira-mar com ótima comida fecharam com chave de ouro. Festas famosas como a da lua cheia atraem gentes de todas as partes. Infelizmente elas são dominadas por prostitutas que literalmente tentam te agarrar. Bizarro! É bom não beber muito por lá.

 

Eu me despedi de Thierri que estava voltando para Mayotte, onde vive, e segui para Moshi aos pés de uma pequena colina chamada kilimanjaro. Outrora um vulcão ativo, a montanha conta com “apenas” 5895 metros. Para quem conhece montanha, isto é uma altitude considerável. Para subir o Kili, é necessário contratar um grupo com 2 carregadores, 1 cozinheiro e 1 guia. As taxas são exorbitantes. Não se sobe ele com menos de 2 mil. Você paga por dia e muitos acabam optando pelo tempo mínimo de 5 dias e aí começam os problemas. Não é um tempo adequado para uma boa aclimatização. A trilha começa a 2 mil metros e você precisa subir quase 4 mil em 3 dias, já que os outros dois são para a descida. Comigo ainda foi pior: eu fiz o ataque ao cume na segunda noite, já que o guia pensou que eu estava preparado para isso. Sem experiência com altitude, nós fomos direto do primeiro abrigo a 2900 metros para o último abrigo a 4900 metros. Chegamos lá no entardecer do segundo dia e eu logo comecei a sentir os efeitos colaterais da subida rápida. Dores de cabeça, taquicardia, cansaço, sonolência, eu não conseguia comer nada e mesmo a sopa que me deram eu vomitei. Na mesma noite nós começamos o ataque. Eu estava extremamente cansado e subia lentamente. Todos os outros me passaram e quando eu percebi que não teria condições de subir, optei por voltar para o abrigo e cancelar o ataque.

 

Descansei e na manhã seguinte o guia já se preparava para ir embora quando eu bati o pé: eu iria tentar novamente. Geralmente após falhar no ataque, todos os trilheiros acabam tendo que dar meia-volta e desistir da expedição. Mas eu ainda tinha 2 noites e não iria sair de lá sem tentar novamente. O plano foi voltar para o abrigo intermediário, a 3700 metros, se aclimatizar melhor e atacar o cume na última noite. O guia ficou relutante com isso, mas eu insisti e ele acabou cedendo. Eu descansei bastante na terceira noite, comi muito bem e nós então subimos vagarosamente até o último abrigo. Ao chegar lá, estava bem melhor do que na primeira vez, mas ainda sentia uma leve dor de cabeça. Pelo menos consegui dormir por duas horas e comer alguma coisa. À meia-noite iniciamos o ataque e eu me sentia muito bem. Porém, conforme subíamos, os efeitos da altitude se intensificavam e tivemos que diminuir o ritmo. Eu fazia diversas paradas e estava ofegante. Ao alcançarmos os 5600 metros, finalmente o terreno se tornava mais plano e assim conseguimos fluir pela montanha. Agora o problema não era tanto a altitude, mas sim o frio. Eram cinco da manhã e o sol ainda iria demorar mais uma hora para aparecer. Eu congelava. Como me movia devagar, o calor do corpo não conseguia balancear a temperatura. Mas seguimos em frente. Na última parte, a trilha se encontra com outras duas e foi possível então perceber a quantidade de pessoas naquele lugar. Uma serpente de luz que rastejava montanha acima. Era lindo. Exatamente na hora que o sol nasceu às 6h22min eu consegui atingir o cume. Uma experiência para a vida toda. Do teto da África era possível ver a grandiosidade e imensidão do continente e do planeta. Um pedido de casamento emocionou a todos e histórias de superação ecoavam naquele lugar sagrado. Mas não havia muito que esperar, 5 minutos depois já iniciávamos a descida. Voltamos direto como um foguete. Era meu último dia na montanha e caso eu pernoitasse outra noite, teria que pagar ainda mais. Naquele dia, depois de passar a noite inteira acordado atacando o cume, nós caminhamos quase 40 quilômetros montanha abaixo e atingimos a entrada do parque na hora do fechamento, às 17h. Missão cumprida. Eu voltei pra Moshi e tive uma refeição digna de deuses e aproveitei para agradecer o Deus Óreas das montanhas que novamente protegeu este caminhante que vos fala. Deixei Moshi com um sorriso na cara, passei rapidamente por Arusha e me dirigi então para Uganda, onde tive ótimas e péssimas experiências.

 

Caso queiram ver mais fotos: http://bomdiauniverso.com.br/portfolio/tanzania/

Abraços

Lucas Ramalho

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Editado por Visitante
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  • 1 mês depois...
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Infelizmente ou felizmente é obrigatório meu caro. A altitude pode ser fatal para quem não tem experiência. É possível sim contornar esta situação, mas só recomendo para quem já está acostumado com alta montanha. Caso queira mais infos, manda uma mp pra mim. Abraço

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