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Hej, hej !!

 

Minha mulher me propôs um cruzeiro pelo Báltico. Não gosto de cruzeiros, mas casamento, entre outras coisas, é conciliação de interesses. Vi a oportunidade de fazer uma trilha famosa, sobre a qual havia lido fazia algum tempo.

 

O cruzeiro foi bom, com visitas a cidades históricas lindas do mar Báltico. Deixamos o navio em Stockholm, ao invés de voltarmos ao início do roteiro, em Kiel (Alemanha).

 

Ficamos dois dias e meio nesta maravilhosa capital da Suécia. De lá minha esposa regressou ao Brasil. Eu tinha férias maiores e ficaria mais uma semana na Escandinávia.

 

Segui para Kiruna e de lá para Abisko, bem dentro do círculo polar ártico, para iniciar a trilha.

 

A Kungsleden (Trilha do Rei, em sueco) tem 450 km no total e percorre de Norte a Sul parte da Suécia, começando em Abisko. É bem antiga, foi criada em 1905 e é considerada a trilha mais selvagem da Europa. Entretanto eu só tinha 6 dias e assim resolvi percorrer o trecho mais popular (e um dos mais bonitos), de Abisko até Nikkaluokta, num total de 105 km.

 

No trecho que iria percorrer ocorre a Fjällraven, um evento anual que reúne cerca de 1.600 trekkers em meados de agosto.

 

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05/09/2014

 

Quando o avião iniciou o procedimento de pouso e atravessou as nuvens, apareceu uma extensa tundra com pequenas lagunas e bosques isolados de árvores baixas. Em seguida surgiu a cidade de Kiruna. Não gostei do que vi: uma cidade grande, mineira, com enormes montanhas de minério de ferro (ore) e um grande pátio ferroviário para transportar o minério até um porto na Noruega (Narvik) ou para outro na costa do Báltico. Ao saltar do avião 13 hr, no pequeno aeroporto, o termômetro indicava 10ºC e chuviscava. Bela recepção. Peguei um ônibus (shuttle service) até a estação de ônibus da cidade. Lá parti no último ônibus para Abisko, as 14:20. Uma hora e meia de viagem e saltei na Abisko Turiststation, onde começa a Kungsleden.

 

Comprei gás para meu fogareiro, pão, um mapa da trilha e um sanduíche, que seria meu almoço. Saí do mercadinho apenas às 16 horas. Tirei uma foto do grande lago Torneträsk. Sabia que anoitece tarde assim não estava apressado. No portal de entrada da trilha um casal de velhinhos tirou minha foto, pose tradicional para quem começa a fazer a trilha.

 

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Ao partir, um corvo grasnou. M.....! Sinal de azar, pensei. Mas a beleza da trilha rapidamente me fez esquecer isto. Um rio bonito de águas geladas e cristalinas surgiu à direita, o Abiskojåkka. Peguei água e tirei fotos. A trilha seguia através de um bosque pequeno de folhas já amareladas e caindo.

 

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Segui apressado porque até Abiskojaure, primeiro refúgio de montanha, seriam 14 km. No caminho, as margens do rio, um local para acampar com sanitários. Um casal de idosos assava lingüiças numa fogueira e uma linda sueca fazia tricô, sentada numa rocha. Lá vi duas tendas da famosa marca sueca Hilleberg: uma Akto e uma Nallo. Não fiquei ali porque achei muito perto e cedo para acampar. Porém as 18:30 resolvi parar. Ainda faltava uma hora e meia até o refúgio. Achei um local bonito a beira do rio. Armei a barraca e usei a toalhinha molhada para um banho de gato. Só escureceu às 21 horas.

 

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06/09/2014

 

O dia clareou as 4:30 hr. Permaneci deitado até seis e meia. A noite foi agradável. Dentro da barraca ficou entre 9 e 10°C. Já peguei frio maior na Patagônia e nos Andes. Comi um müsli com leite e chá verde e parti 7:40. Hoje teria que compensar o que não fiz ontem (chegar ao refúgio Abiskojaure) e alcançar o seguinte, o Alesjaure. Cheguei ao lago Ábeskojávri, onde havia umas casas fechadas do povo Saami, provavelmente só usadas no inverno. O refúgio tradicional é um cone feito com troncos de árvores recobertos com cascas e tundra, garantindo o isolamento térmico.

 

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Uma hora depois cheguei ao Abiskojaure, mas não entrei no refúgio porque ficava meio fora do caminho. Comecei a encontrar outras pessoas desmontando acampamento e tomando café da manhã. Neste ponto, a trilha, que seguia deste Abisko rumo SO, passa a tomar o rumo Sul, em seguida SE e sobe um vale entre as montanhas Giron e Gärddenvárri. Ali, perto do topo, um meditationplats, com vista bonita. Ao longo da trilha há vários destes pontos de meditação. Neste vale avistei as primeiras renas, numa crista. Elas eram ariscas. Ao avistarem gente subiam mais a montanha, se afastando.

 

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Alcancei um altiplano acima da linha das árvores, a 800 metros de altura. Uma altitude baixa, mas como estamos dentro do círculo polar, nesta altura já não existem árvores. Ao longe, a NO, quase fronteira com a Noruega, os maciços nevados do Vuóidoasriida e do Vássencohkka. No altiplano uma sucessão de lagunas e um pequeno acampamento Saami.

 

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Uma hora adiante um grupo de pessoas lanchando atrás de uma crista, protegidas do frio vento SO. Resolvi parar ali também para almoçar. Puxei conversa com um casal de velhinhos e descobri que todo aquele grupo de idosos era da Austrália. A única jovem era uma bonita guia sueca com cabelo rastafari. Ela estava com uma faca e um salame na mão e oferecia para o grupo. Aproximou-se e ofereceu. Agradeci, mas disse que já tinha meu salame (estava comendo ele). Mas ela, com um jeito viking decidido, disse: "Mas o meu é bem melhor que o seu". Cortou um pedaço e estendeu para mim. Uma delícia, exclamei. Ela orgulhosa explicou que o salame era de carne de rena seca, defumada e temperada, feita na aldeia onde vivia. E me passou outro pedaço. Em seguida ela e o grupo partiram, indo em sentido contrário.

 

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Pouco depois eu parti. Uma espécie de perdigão (grouse) apareceu na trilha. Ainda tinha um longo caminho até Alesjaure. Do lado esquerdo, o belo lago Rádujávri e o glaciar Godu, entre as montanhas Kåtotjåkka e a Njuikkostak. Uma das vistas mais bonitas do trekking. Um vento SO bateu de frente até chegar ao refúgio Alesjaure às 16 horas.

 

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Fui logo para o refeitório onde tomei dois capuccinos para reanimar. Andar com um vento frio e forte na cara é cansativo. E minha mochila estava com 19 kg. O refúgio consiste de meia dúzia de casas, uma delas é uma sauna. Fica no extremo sul do lago Alisjávri, junto ao desaguadouro deste lago. Tomei uma sauna deliciosa (50 SEK). O problema é que fiquei sozinho com um grupo de alemães. Ainda bem que não perguntaram de onde vinha. Poderia vir uma gozação pelo sete a um na semifinal da Copa.

 

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Depois fui para o refeitório escrever o diário e estudar o mapa. Amanhã teria uns 25 km até Sälka, cruzando o ponto mais alto da trilha, o passo Tjäktja, com 1.100 metros de altura. Hoje calculo que percorri cerca de 29 km.

 

No final da estação podemos acampar ao lado dos refúgios sem pagar por isto. Porém se usarmos os alojamentos, toaletes, a cozinha e sauna, devemos pagar. A sauna pode se pagar em separado. Tem um mercadinho razoavelmente provisionado. Se soubesse não traria toda a comida (e o peso) desde o inicio da trilha.

 

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Continua...

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Continuação.

 

07/09/2014

 

Outro dia puxado. Acordei com um chuvisco. Dia nublado e frio. Isto aqui faz uma boa diferença. Tomei meu café, fui ao banheiro e enxuguei a barraca com minha toalhinha. Logo em seguida outro chuvisco me fez perder o trabalho que tive para secar a tenda.

 

Parti pouco antes das 8:30. Acho que fui o primeiro a partir. Os demais aproveitaram o frio e a chuva para dormir um pouco mais. Tive de sair vestindo a primeira pele, polartec (fleece) e agasalho para chuva. E a chuva caia em intervalos regulares. Sorte que não era muito forte. Vi mais três rebanhos de renas.

 

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O vale e a trilha seguem na direção SO. Ao começar a subir para o passe Tjäktja deixei o vale e a chuva ficou para trás. Parece que o vale forma um corredor que vai até a Noruega e facilita a entrada de nuvens baixas com chuva que vem do oceano, da costa norueguesa. Não há montanha alta naquela direção, assim nada impedia a chegada de nuvens carregadas de chuva.

 

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Com quase uma hora de subida alcancei o refúgio Tjäktja, bem menor, embora tivesse alojamentos. Como é perto do Alesjaure creio que as pessoas só param ali para descansar. Uma senhora de 70 anos parecia tomar conta do refúgio sozinha. Recebeu-me oferecendo um suco. É tradição oferecerem um café ou suco quando chegamos num refúgio de montanha. Sentei-me no refeitório para fazer meus sanduíches para almoço. Na janela dois castiçais e um buquê de uma flor seca que parecia algodão (white cotton flower) que tinha visto pelo caminho.

 

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Esta parada (day visit) custa 40 SEK para sócios do STF e 60 SEK para não sócios. Achei caro. Não demorei porque o passo estava ainda à uma hora dali. A partir do refúgio a trilha passa a seguir para o Sul. Pouco depois encontrei com um casal de japoneses vindo em sentido contrário, com mochilas pesadas.

 

O caminho antes do passo é cansativo, bem pedregoso. Mas só o pequeno trecho final é mais íngreme. Bem no topo do passo um pequeno abrigo. Lá aproximadamente 20 pessoas estavam arrumando as coisas para partir (no sentido contrário ao meu), na maioria adolecentes. Cantavam uma música dos Beatles. Uma corda enfeitada com bandeirolas budistas (cavalos de vento) estava presa numa pirca. Se tirasse uma foto e não colocasse legenda diriam que era no Nepal.

 

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Depois de usar o banheiro e tirar fotos desci para o outro lado. Um grande vale se abre na direção S-SE. Andei por mais duas horas e meia até chegar a Sälka. No caminho um helicóptero a toda hora sobrevoava de um lado para outro do vale. Pensei que estavam procurando alguém para resgatar.

 

Sälka fica escondida atrás de um morro. Por isto não o avistava. Pouco menor que Alesjaure, também tem sauna e mercadinho. O rio que descia de um vale a esquerda do refúgio trazia águas geladas do glaciar Reaidda e seus meandros formavam ilhotas. Neste vale uma sucessão de três montanhas lado a lado lembrava os três irmãos na Chapada Diamantina.

 

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Enquanto montava a barraca, o helicóptero que tinha observado chegou e aterrizou habilmente entre as casas do refúgio. Saltou uma pessoa e em seguida a aeronave partiu.

Fiz minha comida liofilizada, um purê de batata spicy, temperado com cebola, pimentão e bem apimentado. Uma delícia. A comida liofilizada que comprei em Berlim merece elogios. Até o momento só comi coisa gostosa.

 

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Depois de um banho de panela fui para a mercearia me registrar. A idosa que estava lá confirmou que acampado eu não precisava pagar nada porque estava no fim da temporada. Com mais duas semanas eles iriam fechar os refúgios. Comprei duas cervejas: uma custava 35 SEK e duas 40 SEK. Não resisto a uma promoção. Levei duas, cada uma com 0,5 l. Se as bebesse a temperatura ambiente de 7ºC já tava bom. Mas botei um pouquinho no riacho para esfriar mais.

 

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Ela também disse que a partir do final de agosto dava para ver a aurora boreal. Um suíço tinha visto na semana anterior. O melhor horário seria entre 23 hr e meia noite.

 

Antes de dormir presenciei o pessoal da sauna mista sair várias vezes da sauna a intervalos regulares para tomar um banho gelado de rio. Os homens estavam nus e as mulheres envoltas em toalhas, que tiravam ao entrar no rio. Ao sair do rio corriam de volta para a sauna. No norte da Europa a nudez não é tabu. Muito legal. Adão e Eva antes da maçã.

Botei o despertador e acordei 23 horas para tentar ver a aurora boreal. Vesti-me e saí para olhar o céu. A noite estava fria, espetacular, linda e clara, com poucas nuvens. Só que a lua cheia não permitia enxergar a aurora boreal. Ao menos avistei muito claramente a Ursa Maior. Tomei a segunda cerveja enquanto admirava a noite.

 

Ao deitar novamente, aquela friaca. Ou estava muito frio mesmo ou a cerveja aumentou a sensação de frio (álcool é vaso dilatador). Acho que era a combinação dos dois.

 

Continua...

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Continuação.

 

08/09/2014

 

Levantei apenas 7 horas e resolvi não tomar café quente, para ganhar tempo. Parti 08:30, desta vez nublado, mas sem chuva. Destino de hoje: Kebnekaise, mais 25 km de caminhada.

 

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No caminho rumo S-SE eu fui alcançado por dois velhinhos, muito simpáticos. Um deles me disse "bom dia" ao saber que era brasileiro. Trabalhou dois anos no Brasil, em São Paulo e Porto Alegre. Perguntaram se estava sozinho. Disse que sim, minha mulher não gostava destas aventuras. Eles deram risada e disseram que o mesmo se passava com as esposas deles. Eles falaram algo bem interessante: o helicóptero e a moto que vi em Sälka estavam sendo usados pelos Saami para localizar e tocar rebanhos de renas das montanhas para um ponto mais baixo. Estavam levando elas para outro ponto de pastoreio, já que o inverno se aproximava. Nossa! Isto é que é vaqueiro hi-tech! Isto também explicava porque não vi renas desde o passe Tjäktja: estavam tocando todas do vale.

 

Um belo riacho é cruzado através de uma ponte pênsil. Numa das margens, a beira do cânion, uma garota fazia um piquenique café da manhã estendendo uma toalha em cima de uma rocha e distribuindo a comida sobre a toalha.

 

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Separamo-nos alguns quilômetros adiante. Eles iriam para o refúgio Singi e eu para Kebnekaise. Neste ponto deixei a Kungsleden que segue mais 400 km para o Sul.

 

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Comecei a subir uma crista na encosta do Sinniconkka, um atalho que permitia seguir para meu destino sem ir para Singi (indo para Singi eu contornaria a crista que subi). Neste local passei a tomar o rumo Leste. Ao descer da crista entrei num vale estreito, espetacular. Paredões de rocha de onde desciam quedas d’água na vertical. Adiante, à esquerda, ficava o maciço do Kebnekaise, a maior montanha da Suécia, com 2.100 metros. Planejava subi-la amanhã.

 

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Pedi a duas pessoas que vinham em sentido oposto uma foto. Depois, conversando, eles disseram que no dia anterior subiram a montanha. Doze horas de caminhada com uso de crampons perto do pico. Chegaram do pico apenas as 21 hr. Foi uma ducha de água fria. Não imaginei tanto tempo. Pensei que com apenas 2.100 metros chegaria rápido lá. O problema é o desnível de 1.400 metros e o caminho não ser direto. A rota normal, sem escalada técnica, envolve entrar num vale lateral, subir para um colo, dali subir e descer uma montanha para alcançar outro colo e finalmente subir o Kebnekaise.

 

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Depois de 4 dias de caminhada com quase 25 km diários em média, estava bem cansado. Se tirasse o dia amanhã para subir a montanha, no dia seguinte teria mais 19 km para o final do roteiro, em Nikkaluokta. E teria de acordar bem cedo já que teria 12 horas para subir/descer a montanha. Desisti. Acho que por isto as pessoas aparentemente preferiam fazer no sentido inverso. Poderiam usar o segundo dia para subir a montanha, menos cansados.

 

Passando um maciço de rocha no meio de vale avistei a antena do refúgio Kebnekaise, mas não as construções, que estavam atrás de uma crista. Estava realmente bem cansado. Dez minutos antes do refúgio vi um local bom para acampar num platô da encosta, entre dois córregos. Decidi parar lá e montar a barraca, bem a tempo antes de uma chuva. Durante a montagem ouvi um "buff" sonoro. Olhei e uma rena estava apenas a 50 metros de mim, pastando.

 

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Após a montagem entrei na barraca e deitei um pouco para dormir. Ao acordar a chuva havia passado. Tomei um bom banho de panela com a água do córrego e fiz minha janta. Sítio legal porque tinha uma ótima vista. O vale do rio Láddjavaggi ali em baixo e todas aquelas montanhas em volta. Vento sempre de O ou SO, o que facilitava decidir qual o alinhamento da minha barraca tipo túnel.

 

Continua...

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Continuação...Ufa!

 

09/09/2014

 

O dia começou lindo. Arrependi-me de não ter tentado o Kebnekaise. Mas acordei tarde, arrumei as coisas e deixei secar bem a tenda, o saco de dormir e as meias. Só sai às 10 horas. Estava precisando daquele descanso.

 

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Dez minutos depois cheguei no grande refúgio de montanha. Três ou quatro prédios bem grandes com eletricidade. Tudo muito limpo e arrumado. Ali pegava sinal de celular. A loja dos guias de montanha estava fechada, provavelmente todos subindo a montanha.

 

Fui para o restaurante tomar um café. Logo antes de chegar um forte fedor no ar. Um rapaz mexia dentro de um bueiro com uma tábua. Era o biodigestor de esgoto do refúgio, um tratamento biológico dos resíduos. Parecia que ele mexia um caldeirão de bosta com uma colher. Ao passar me deu bom dia como se ele estivesse fazendo a coisa mais natural do mundo.

 

Todos confirmaram que a subida levava de 10,5 a 12 horas, dependendo da condição meteorológica e da preparação física. Já eram 11 horas, tarde demais.

Comecei o caminho para Nikkaluokta, de onde pegaria o ônibus de volta para Kiruna. O vilarejo ficava a 19 km rumo Leste.

 

Atravessei uma ponte e mais adiante, olhando para trás, vi pela primeira vez o Kebnekaise até então oculto por uma outra montanha e pelas nuvens. Era muito alta. Com certeza seriam 12 horas de caminhada. Meu arrependimento passou. Seria muito cansativo subir e depois correr para Nikkaluokta no dia seguinte. Deveria ter um dia a mais.

 

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O caminho era bem agradável. Um vento frio derrubava as folhas das bétulas (praticamente a árvore dominante na região) e provocava uma chuva amarela na trilha. Um ponto de meditação bonito ficava entre boulders arrastados pelos glaciares milhares de anos atrás.

 

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Como a linha para Kiruna tinha dois horários, 12 e 14 horas, apenas amanhã teria como pegar o ônibus. Decidi parar um pouco antes de Nikkaluokta para acampar e seguir para o vilarejo somente na manhã seguinte. Pelo mapa estimava que estava a cerca de uma hora de lá.

 

Acampei numa península do lago, nas ruínas do que parecia um antigo estaleiro de barcos de madeira. Um barco estava emborcado, suspenso do chão por travessas de madeira. A técnica de fabricação do casco com madeira parecia ter saído dos antigos drakkars vikings. Entrei debaixo dele e vi iniciais gravadas num banco, provavelmente as do construtor e o ano de 1965. Aquele barco tinha dois anos menos que eu.

 

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Tomei um banho no lago e comi. Lugar bonito, com boa vista. Mais tarde vi duas tendas serem armadas noutro ponto um pouco mais distante. Acho que tiveram a mesma idéia de parar e seguir para o final da trilha no dia seguinte.

 

No bosque perto da tenda havia cogumelos enormes. Se fossem comestíveis um era suficiente para uma refeição individual.

 

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Ao entardecer uns chuviscos e durante a noite algumas rajadas de vento. Meus melhores acampamentos foram os selvagens, longe dos refúgios.

 

10/09/2014

 

O relógio não conseguiu me despertar. Acordei apenas às 7 horas. Dia bonito, o sol batendo de frente na barraca. Saí as 8:30 e cheguei no vilarejo às 10 horas. Um portal indicava o final da trilha. Perto dali era a base dos helicópteros que vira nos dois dias anteriores.

 

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Nikkaluokta é composta por uma dúzia de casas. Vilarejo é elogio. Um pequeno mapa mostrava a localização das casas e o nome dos seus moradores. O restaurante e a loja de lembranças eram muito bonitos e arrumados. Tomei um café e comi uma deliciosa baguete de carne de rena defumada.

 

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Aproveitei e visitei o hangar dos helicópteros. Eles fazem passeios, além de trabalharem para os pastores Saamis. Também efetuam transporte de pessoas e evacuação, mediante pagamento.

 

Às 12 horas em ponto o ônibus partiu, chegando na estação de ônibus de Kiruna 50 minutos depois. Logo antes de chegar na cidade um baita alce andando ao lado da estrada.

 

Deveria passar uma noite lá para pegar o vôo para Stockholm 6:30 do dia seguinte. Entretanto descobri que o custo do hostel mais o táxi para o aeroporto (não há shuttle service tão cedo) iriam custar aproximadamente o mesmo que uma passagem de trem que saia 15:42 de Kiruna, o noturno para Stockholm, na 2ª classe. Só o táxi para o aeroporto custava SEK 350 (39 Euros).

 

Assim comprei a passagem e embarquei no trem, descartando a passagem de volta de avião. Em vez de ficar em Kiruna curti o visual de uma viagem de trem pela bela Suécia. No dia seguinte, as 9 da manhã, desembarcava na estação de trem dentro do aeroporto de Arlanda, de onde partiria para o Brasil.

 

Linda trilha, através da tundra, florestas temperadas, lagos, rios, montanhas imponentes, vales extensos e muita vida. Os suecos adoram a vida ao ar livre e realmente tem mil motivos para isto.

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Fantástico!!!! ::otemo::::otemo::::otemo::

Como é legal uma trilha organizada, com pontes, refúgios, placas, mapas e muuuuitos quilômetros.

Como o Brasil está atrasado nisso. Tudo bem que trilhas totalmente selvagens é legal, mas cada vez será mais difícil mantê-las totalmente selvagens, pois sempre terá pessoas que irão percorrê-la. Por isso é necessária a intervenção humana para que ela se torne menos impactante ao meio ambiente e mais atrativa para os caminhantes.

AH! Todos os cogumelos são comestíveis, alguns apenas uma vez!!! :mrgreen::mrgreen::mrgreen:

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Valeu Otávio e Renato!

 

Realmente a trilha é muito bem estruturada. Refúgios, sinalização, pontes e passarelas de madeira sobre brejos. Estas passarelas (quilômetros de passarelas) são para proteger o solo da degradação. Mas facilita muito a nossa vida. Seria muito, muito mais cansativo, molhado e lamacento se elas não existissem. Infelizmente ainda estamos longe de ter algo assim no Brasil.

 

Perde o caráter selvagem? Sim, um pouco, mas repare que a trilha seria muito degradada se isto não existisse, porque muita gente faz ela no verão. A aventura continua existindo, especialmente por conta do clima. Uma tempestade no Ártico pegando um trekker no meio do caminho não é coisa fácil de lidar. E tem que ir bem equipado: tenda 4 estações e roupas adequadas. Precisei de todas as roupas que levei, porque ora chovia, ou ventava ou fazia frio ou os três ao mesmo tempo. ::Cold::

 

Embora tenha escolhido uma época com clima mais duro (final da estação) tinha menos gente na trilha e vi as cores do outono. Parece que vai começar a nevar na semana que vem, segundo a previsão, com temperaturas abaixo de zero.

 

Mas acho que eu e Renato pegamos temperaturas mais baixas nos Andes, ano passado, na mesma época.

 

Por sinal, Renato, como vai a ideia de Ausengate?

 

Abraços, Peter

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Estamos animadíssimos! Minha esposa e a do Adriano já concordaram com ideia. Só isso já é meio caminho. Entre julho e setembro. O planejamento é aquele mesmo que tínhamos discutido, ir sem agência e contratar guia e arrieros lá. E nós mesmos cozinharmos, acho que com nós mesmos preparando a comida, o risco de diarreia diminui consideravelmente. Se formos em 3 ou 4 pessoas, fica bem tranquilo. Levamos sua Mountain 25 e minha Thor 2, cabe os quatro numa boa. Temos que ver a acomodação pros contratados. Acho que pra 4 trekkers, 1 guia e 2 arrieros com 4 ou 5 animais (3 ou 4 mulas e 1 cavalo pra emergência) dá numa boa. A gente compra e prepara a comida. Além de termos uma higiene melhor, podemos decidir o que e quanto comer.

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Essa semana tinha uma boa promoção pra katmandu, R$ 2.500,00. O Adriano ficou animado em fazer o EBC e me ligou, cheguei a conversar com a Alyne e já tava certo, mas quando vi as imagens do aeroporto de Lukla, desisti. Sabe que fico bem desconfortável em avião e só de pensar em ter que voar naqueles aviõezinhos e pousar ou decolar daquela pista, eu não iria curtir a trilha, tenho certeza que ficaria tenso o tempo todo. Só se for em 2016 pra ter 30 dias de folga direto, aí dá pra eu ir via terrestre de Katmandu até Lukla e esperar vcs lá. Anima?

Editado por Visitante
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É a promoção da Qatar que vcs estavam vendo? R$ 2.500 é preço muito bom!

 

Mas porque Lukla? Tem tanta coisa boa no Nepal que não o trekking para o campo base do Everest! Pensava no Circuito do Annapurna. Melhor época: novembro!

 

Quanto a Ausengate, topo a idéia. A gente fica com mais liberdade e sem desinteria!

 

Abs, Peter

 

Abs, Peter

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