Membros jacobrazil_II Postado Setembro 12, 2014 Membros Postado Setembro 12, 2014 Aqui vai meu relato sobre a segunda tentativa de atravessar o Parque dos Lençóis Maranhenses a pé. O leitor que quiser se interar da minha tentativa frustrada, esse é o link -> http://www.mochileiros.com/travessia-das-dunas-lencois-maranhenses-t89342.html. Como da primeira vez, eu não queria, mas estou escrevendo o relato bastante tempo depois de ter viajado, estou falando de fevereiro de 2014. Ao contrário da primeira vez, fui mais preparado e não me esqueci de levar a bússola, e pra ajudar mais ainda, fui munido do mesmo mapa e de um celular com GPS. Dias antes da viagem eu já busquei informações sobre as condições das lagoas, se estavam cheias ou secas, e o que soube é que estavam enchendo aos poucos. Bem diferente da outra vez que só tinha uma lagoa com água. Cheguei a São Luís no dia 11/02 e fiz aquele roteiro que todos já sabem: fui pra Rodoviária e peguei o primeiro Cisne Branco que saiu. Em Barreirinhas cheguei por volta das 18h, dormi na Hospedaria da Deusa, onde já deixei agendado o passeio das dunas. Não vi necessidade de refazer aquele caminho de 10km a pé novamente, afinal isso já havia sido feito da primeira vez. PRIMEIRO DIA No dia seguinte, a Toyota buzinou me chamando e rumei pras dunas no passeio da tarde, que foi um tremendo erro, pois seria mais sensato ter saído no passeio da manhã, já que o tempo estava sempre nublado e teria um período maior pra caminhar antes de escurecer. Falei pro guia do passeio o que eu ia fazer e ele quase deu um salto mortal pra trás de tanto susto, aí eu o acalmei dizendo que estava portando mapas, GPS e já tinha feito isso antes (mentira rs ), após o susto ele me desejou boa sorte e continuou me olhando com aquela cara, achando que eu era louco. Rapidamente me afastei do grupo e comecei a tormenta, sobre duna e desce duna, estava começando o período chuvoso e as lagoas estavam começando a encher. Alguns minutos de caminhada e alcancei a Lagoa do Peixe, lotadíssima de turistas, bati umas fotos mas não entrei. Essa talvez fosse a lagoa mais profunda que eu vi, dava pra ver gente com água no pescoço. Continuei a caminhar e logo fui me distanciando da muvuca, o clima era excelente, sol fraco e um ventinho pra refrescar, as lagoas sempre com água na altura do joelho, uma ou outra com água na cintura, logo, não demorou muito pra eu perceber que meu telefone havia se afogado. Atravessando as águas não me lembrei do celular no bolso de trás do short e dei uma afogada nele. Na hora nem quis ligá-lo, apenas tirei a bateria, guardei e continuei caminhando pensando no auxílio do GPS que eu tinha acabado de perder. Sobre duna desce duna e eu já me via cercado por areia, sem nenhum sinal de gente ou vegetação, mas eu conseguia ver a mesma vegetação que me confundiu da outra vez, dava até um pouco de vontade de ir até lá rever o local que eu fiquei, mas preferi continuar a caminhada. As horas passaram e uma vez ou outra aparecia um cabrito andando atrás de comida, mas logo se assustava com minha presença e se afastava. Uma vez ou outra eu tentava testar o celular, e ele ainda abria o aplicativo do GPS e dava minha posição com bastante precisão, mas a bateria ficou com sequelas, e rapidamente eu desligava o aparelho pra poupá-la. Sempre que olhava minha posição batia um certo desanimo, pois parecia que eu não saia do lugar, já estava próximo do sol sumir e minha intenção era chegar na Baixa Grande naquele mesmo dia. Eu estava esperando o mesmo céu que tinha visto da primeira vez (limpo e estrelado), mas eram épocas diferentes e dava pra perceber que ia ser uma noite nublada. Aos poucos ia ficando cada vez mais escuro e o desânimo ia batendo, as dores começavam a aparecer e nem sinal de vegetação por perto, era somente areia e água. No horizonte já dava pra ver que tinha chuvas e raios, de vez em quando caía um leve sereno mas pra minha sorte, era passageiro. Era desanimador! O medo de ficar no meio de uma chuva forte ou não conseguir achar até o oásis era grande, e esse sentimento me dominou por um bom tempo. Depois de muito caminhar puxei o telefone e vi que estava passando direto por Baixa Grande, aí me animei, já estava na altura certa, bastava subir rumando pro norte que eu chegaria lá. O que parecia perto ainda levou bastante tempo, mas ao ver a vegetação o sentimento mudou completamente, agora eu me sentia aliviado, confiante e até mais disposto. Caminhei um pouco e achei umas marcas de pneu, aí foi só seguir que cheguei até algumas casas. Armei minha rede embaixo de uma garagem e deitei, de repente começou um dilúvio, e eu me senti um sortudo por ter chegado a tempo. Não aguentei muito tempo na rede que estava bem desconfortável e pulei pra dentro da carroceria da caminhonete e apaguei. SEGUNDO DIA No dia seguinte amanheceu chovendo fino, comi uma besteira rapidamente, arrumei as coisas e me aproximei das casas próximas pra dar um bom dia e perguntar qual a direção deveria seguir pra chegar à Queimada. Falei com um casal que me indicou a direção que deveria tomar e isso me levou até a casa vizinha, nesse momento a chuva ficou um pouco mais forte e eu aceitei o convite da senhora pra descansar enquanto a chuva passava. Bati um bom papo com ela e os filhos enquanto eles tomavam seu café da manhã. Logo vi que o tempo ia ficar instável todo o dia e resolvi adiantar o meu lado. Esse trecho é mais simples, pois assim que se passa por umas dunas já se avista o outro oásis no horizonte. Não demorou muito e cheguei à Queimada, avistei uma casa adiante e decidi que era pra lá que eu ia rumar, porém o caminho não foi nada fácil, pois muitos córregos estavam com um volume de água considerável e só consegui atravessar com a mochila na cabeça. , Finalmente cheguei e encontrei o proprietário trabalhando em uma cerca, fui logo perguntando onde eu conseguia almoço, e ele rapidamente respondeu: Aqui! Pediu pra sua senhora me providenciar alguma coisa pra eu comer, e ela me trouxe uma bacia cheia de camarão pescado por ele mesmo, com a fome que eu estava foi fácil devorar tudo. Meus pés já apresentavam certo desconforto e passei o resto da tarde com eles deitado numa rede só vendo o tempo passar e ouvindo as histórias que ele me contou sobre o oásis, a vida nas dunas e as histórias dos viajantes que passaram por ali, muitos em situação de perrengue, nessa hora eu só pensava na minha caminhada na noite anterior na chuva. TERCEIRO DIA No dia seguinte mesmo com os pés bem doloridos resolvi me mandar e encarar as dunas logo cedo. Depois de pegar as instruções com o Sr. José, e me despedir, peguei p caminho que me levaria até a saída do oásis. Ainda por esse caminho encontrei uma turma que ia para Betânia, um guia local, um paulista e duas gringas, fiz companhia a eles até a saída já que o caminho era o mesmo. Ao pegar umas dicas com o guia (que não me ajudaram em nada), me separei do grupo e me mandei nas dunas. No topo de alguns morros, eu conseguia ver e ouvir as ondas do mar batendo, mas isso não queria dizer que eu estava perto, pelo contrário, era imensamente distante. Pouco tempo de caminhada e o tempo fechou, o céu ficou preto em minutos e caiu um dilúvio que o vento levou em pouco tempo também, temporais como este se repetiram algumas vezes durante o dia, as chuvas se vão com e mesma velocidade que surgem. Após a chuva avistei bem longe 4 pessoas caminhando, não consegui identificar se era o pessoal que estava indo para Betânia, mas resolvi ligar o telefone para me localizar, e para minha surpresa eu estava votando para o oásis (até hoje não entendi como isso aconteceu). Após me encontrar, voltei ao meu caminho para Santo Amaro, por coincidência, logo a frente achei as pegadas dos viajantes e um tempo mais tarde eu os encontrei dando uma parada pra descansar, peguei novamente umas dicas com o guia que me sugeriu que entrasse para o grupo por um preço camarada, mas recusei e segui sozinho pra Santo Amaro. Depois de muito sol e muita chuva, cheguei a um ponto que conseguia ver a vegetação a minha frente e a vegetação da Queimada que havia ficado pra trás, isso me deu um ânimo absurdo pra continuar a caminhada. Por volta de 12:00h dei uma parada pra lanchar um biscoito Goiabinha, que foi o meu almoço, e observar o que vinha a seguir. Cheguei a um ponto onde as dunas e as lagoas eram as maiores que eu já tinha cruzado, eu caminhava pelo topo de uma duna, que era cercado de duas lagoas imensas, uma de cada lado, que se encontravam bem lá na frente. Eram as lagoas mais belas de todo o parque, imensas com água que variavam de verde cristalina à verde esmeralda, com profundidade em torno do peito, lagoas que eu não conseguia ver onde começavam e onde terminavam, foi onde eu parei para o tão esperado mergulho e onde eu pensei comigo mesmo, ‘era isso que eu estava procurando’. Depois do banho a caminhada ficou mais lenta, porque as lagoas agora estavam ligeiramente mais profundas, e eu pisava com mais cuidado pra não cair em algo parecido com areia movediça, levei um grande susto quando pisei a primeira vez, é como se uma placa de área com um raio de 3 metros fosse afundar com seu peso, na verdade nada mais é que o lençol freático bem baixo, mas eu preferia contornar essa área instável. As vezes eu pegava o telefone pra me certificar de que tava no caminho certo e pra minha surpresa, eu vagava num zig zag muito louco, uma hora subindo em direção ao mar, outra hora descendo em direção as vegetações do sul. Saindo das Queimadas em direção à Santo Amaro, basta seguir pra oeste sem medo, mas na prática é bem diferente... Muitas dunas depois vi pela terceira vez o mesmo grupo de viajantes bem de longe e um grupo que estava passeando de Toyota parados em uma duna, fui em direção a Toyota, apesar de conseguir vê-los de longe, demorei uma eternidade até chegar neles. Perguntei ao motorista pra onde ficava Santo Amaro e ele me apontou a direção correta, falou que a direção que o outro grupo estava seguindo, era a de Betânia, que já dava pra ser vista dali. Agora era reta final, eu seguia firme me gabando de estar quase chegando ao meu destino e me dei ao luxo de ouvir uma música enquanto caminhava, era pra ser a trilha sonora do triunfo, mas acabou a bateria do Mp3, a do celular e eu ainda tava muito longe de alcançar a vegetação. Nessa altura os pés já estavam castigados e eu andei o trecho final de chinelo, pois agredia menos a sola dos pés. Algum tempo depois avistei a torre da cidade e a partir daí não tinha mais como errar, bastava ir em direção a torre pra fechar com chave de ouro. Mas ainda tive tempo para um último perrengue, maribondos começaram a me cercar e arrancaram de mim, forças que eu não sabia que ainda tinha, tive que dar umas corridas pra despistá-los em definitivo. Depois das dunas ainda andei um bocado pra chegar até o centro. Pra mim, a caminhada foi um sucesso, a semana seguinte fiquei de pernas pro ar numa rede pra desinchar os pés, chupando muita manga e bebendo muita água de coco. Deixei Santo Amaro com uma única certeza: que voltarei um dia, pois já estive lá em época de seca, dessa vez com lagoas rasas e quero muito voltar em época de cheia, aquele lugar ainda tem muito pra se ver. Citar
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