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Atacama e Salar de Uyuni em 11 dias


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Olá.

 

O que relato abaixo é a minha segunda experiência como mochileiro. Na verdade, completei o roteiro que gostaria de ter feito de uma só vez em 2008, passando por Peru, Bolívia e o Norte do Chile. Por limitações de ordens financeira e profissional, dividi a trip sul-americana em duas. A primeira pode ser lida aqui. O que vem a seguir é a conclusão do plano original.

Foram 11 dias na região do Atacama e no boliviano Salar de Uyuni por R$ 3,5 mil, cerca de R$ 1 mil a mais do que imaginava quando comecei a pôr a trip no papel, no fim de 2008. Em alguns itens gastei mais propositalmente, a exemplo da hospedagem e do passeio a Uyuni. Além disso, só com passagens aéreas torrei R$ 1,7 mil – fazer um trecho terrestre ou comprar as passagens pela Lan Chile, seguindo dicas de colegas do fórum, pode reduzir consideravelmente o orçamento. Acho perfeitamente possível fazer a mesma viagem por R$ 2,5 mil, com um pouco menos de conforto.

As fotos estão no álbum do Picasa. Apareçam lá. Dito isso, adelante.

 

[t3]26 DE MAIO, TERÇA-FEIRA - AEROPORTOS[/t3]

 

Saí de Blumenau rumo a Florianópolis aproveitando carona com um amigo de longa data, o Ricardo Pimenta, que por coincidência é irmão da Júnia, aqui do mochileiros. A família Pimenta está sempre colaborando com minhas mochiladas. Cedinho, o Ricardo me deixou no Aeroporto Hercílio Luz. O voo, pela TAM, decolou às 6h20min. Cheguei em Guarulhos às 7h30min e 8h30min saiu a conexão para Santiago, também com a TAM. São quase quatro horas de viagem. O Chile tem uma hora de atraso em relação ao horário de Brasília.

Fiquei no aeroporto Arturo Benitez até 16h15min, quando saiu o voo da LAN para Calama. Cheguei às 18h25min. Havia reservado o transfer Licancabur pela internet. Custa 16 mil pesos, ida e volta. Se adquiridos separados, cada trecho sai por 9 mil. A viagem de micro-ônibus até San Pedro de Atacama dura pouco mais de uma hora. Deixaram-me na porta do hostal.

Escolhi o Hostal El Monte depois de ler os relatos do Michel e da Carla. Era exatamente o que procurava. Um lugar aconchegante, com gente simpática e prestativa. Reservei tudo pelo email elmonte@sanpedroatacama.com. Não foi necessário pagar nada adiantado. O casal de proprietários, Ester e Félix, é fantástico. O desayuno é ótimo e, quando você precisa sair cedo para algum tour, deixam tudo pronto num saquinho daqueles de pão. Te tratam como se fizesse parte da família.

Paguei 18 mil pesos por diária. Eram 20 mil, mas chorei desconto. Acabei ficando no melhor quarto, com cama de casal e tudo. As cobertas são muito boas e o chuveiro, bem quente. Tem um computador com internet e wi-fi nos quartos. O ponto fraco do El Monte é a localização. Fica depois do cemitério, a uns 10 minutos de caminhada da Calle Caracoles, por ruas mal iluminadas. Por isso, acabei achando uma opção cara. Mas recomendo, principalmente para casais.

Cheguei podre de cansado e decidi dormir. Jantei algumas bolachas e barras de cereal e deixei para conhecer San Pedro à luz do dia.

 

[t3]27 DE MAIO, QUARTA-FEIRA - VALLE DE LA LUNA[/t3]

 

Depois do café da manhã, fui caminhar no centro. Enquanto zanzava e conhecia os lugares sobre os quais todo mundo fala aqui no fórum, confirmei o passeio a Uyuni com a Cordillera para o dia 1º, por US$ 150. Já havia reservado pelo e-mail ctravelersanpedro@123mail.cl. Almocei em uma lanchonete, acho que na Calle Tocopilla. Por 3 mil pesos, comi arroz, tomates e um filé de frango. Há muitas opções baratas nas quebradas de San Pedro. Depois, sentei numa choperia da Caracolles onde a galera estava se reunindo para assistir a Barcelona e Manchester, final da Liga dos Campeões. Não deu pra ver o jogo, mas tomei meio litro de Cristal. Também por influência do Michel e da Carla, escolhi a Maxim Experience para comprar os demais passeios. O primeiro deles foi o Valle de La Luna (6 mil pesos + 2 mil de entrada), que saía às 15h.

O pessoal da Maxim vai junto no ônibus da Colque, bem confortável. O passeio é interessante, mas confesso que não fiquei deslumbrado com o pôr-do-sol. Achei o Valle de la Muerte mais bonito e inspirador. Outra: achei a parada nas Três Marias totalmente dispensável. Há formações rochosas semelhantes por todo o Atacama. Pior: as Três Marias são, na verdade, Duas Marias. A terceira caiu.

Na Calle Gustavo Le Paige, há uma banca de frutas. Comprei maçãs e bananas e voltei para o El Monte. Comi frutas no jantar e guardei outras para a trip de bike que faria no dia seguinte.

 

[t3]28 DE MAIO, QUINTA-FEIRA – BICICLETA[/t3]

 

O passeio de bicicleta foi uma dica providencial do PauloMotta. Peguei praticamente todas as informações no relato do Leo. A H20 é realmente uma excelente agência. Dão equipamentos para consertar pneu, cadeado mapa e sugerem rotas de acordo com teu tempo e fôlego. Gastei 5 mil pesos por um dia inteiro com a bicicleta. Saí lá pelas 9h30min rumo à Pukara de Quitor (2 mil de entrada). A ruína não é muito conservada, mas é legal. Depois, dei um pulinho na Cueva, que fica ao lado. Não fui muito adiante porque fiquei cabreiro de largar a bicicleta ali.

Segui viagem até a Quebrada del Diablo, a oito quilômetros de San Pedro. Antes de chegar, é preciso atravessar um riozinho de águas gélidas. Meus pés doeram. Esperei eles secarem enquanto fazia um lanche. Depois de quase meia hora percorrendo os paredões da quebrada, chega-se ao pé de uma montanha. Fiquei ali um bom tempo, curtindo o silêncio e o visual marciano. Não existia outra alma nas redondezas. Subi a montanha, até avistar o Licancabur do outro lado. Resolvi voltar porque estava com medo de deixar a bicicleta sozinha, mesmo que cadeada. Já pensou ter de voltar a pé?

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Queria ir até Catarpe, que fica quatro quilômetros adiante. Cheguei a percorrer um bom pedaço, até avistei a igrejinha de longe, só que começou a ventar e o tempo fechou. Achei por bem retornar – não sem antes quase congelar meus pés no riozinho.

Estava de volta umas 16h. O vento não parou e estava ficando cada vez mais frio. Sinal das complicações que me aguardavam nos dias subseqüentes.

 

[t3]29 DE MAIO, SEXTA-FEIRA – SALAR DE TARA[/t3]

 

O Salar de Tara era um dos tours que mais me gerava expectativa. Vi fotos ótimas antes de sair do Brasil. O chato é que paguei 35 mil pesos e não consegui concluir o passeio. O vento do dia anterior continuou e arrastou nuvens bem feias para perto das montanhas. Mal dava para ver o topo do Licancabur desde San Pedro. O Victor, competentíssimo guia da Maxim e que ficou todo orgulhoso quando eu disse que ele era recomendado no mochileiros.com, olhou para aquilo e disse: “teremos muito vento”.

Duas garotas, uma espanhola e uma chilena, me acompanharam no tour. A primeira parada já foi aos 3,8 mil metros de altitude. Para se ter uma idéia, San Pedro fica a 2,4 mil. Com a pedalada do dia anterior, eu estava bem ambientado. Mas as gurias... Vinte minutos depois, uma delas passava muito mal. Paramos duas vezes para que vomitasse. Seguimos adiante, conhecemos uma laguna, que não anotei o nome, onde até 5 mil flamingos se aglomeram no verão.

O vento jogava areia no pára-brisas do carro com uma força impressionante. Filmei umas vicunhas correndo a toda ao lado do carro. Podem chegar a 60 km/h. De volta à estrada, olhei para o lado e vi uma nuvem assustadora, escurona. Perguntei ao Victor: “Aquelas nuvens trazem chuva?”. A resposta: “Não, trazem neve”.

A última parada do passeio foi diante dos monges, formações rochosas que ficam em um deserto anterior ao Salar de Tara. Estávamos no alto de uma colina, acima dos 4,5 mil metros. As duas gurias estavam vegetando dentro do carro. Até eu estava com uma dor de cabeça de matar. Enquanto o Victor nos explicava por onde passaríamos, uma rajada de vento fortíssima levantou areia lá embaixo. Perguntei se conseguiríamos sair do carro para almoçar e ele deixou bem claro que o vento estaria casca para aquelas bandas e que, provavelmente, ficaríamos o resto do passeio dentro do veículo. Tomamos a difícil decisão de retornar. As tais nuvens que trariam neve chegaram. A primeira nevasca da minha vida.

 

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Dormi um pouco no El Monte até passar a dor de cabeça. À tarde, resolvi almoçar num restaurante legal, o Casa de Piedra (6 mil o menu). Além deste, recomendo o Casa Adobe, que tem quase o mesmo preço. Os pratos são incrivelmente bonitos. À noite, é ainda mais legal lá dentro, com direito a fogueira.

 

[t3]30 DE MAIO, SÁBADO – VALLE DEL ARCOIRIS[/t3]

 

Para o dia seguinte, havia planejado ir às lagunas altiplânicas. Mas o temporal ainda estava afetando o clima, então a Maxim me sugeriu ir ao Valle del Arcoiris, que fica num cânion, onde o vento não atrapalharia. As duas garotas do dia anterior aceitaram a mesma sugestão da agência. Este passeio custa 20 mil pesos. É um lugar divino, com belíssimas paisagens, animais e petroglifos. Chama-se Valle del Arcoiris porque as montanhas apresentam cores inusitadas. Segundo o Victor, que voltou a nos guiar, erupções vulcânicas antigas trouxeram à superfície diferentes tipos de argila, provocando a coloração. As formações rochosas deste passeio põem no chinelo Las Tres Marias.

 

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Fizemos um lanche de frente para um paredão muito louco e, no retorno, paramos para conhecer algumas inscrições arqueológicas dos antigos atacameños. Este não é um tour longo, chegamos a San Pedro às 14h. Depois de almoçar, fui ao museu Gustavo Le Paige (apenas legal) e perambulei por algumas lojinhas de artesanato. Há uma muito boa quase em frente ao museu, ao lado da agência bancária.

 

[t3]31 DE MAIO, DOMINGO – EL TATIO E LAGUNAS[/t3]

 

Quatro da manhã e o El Monte fervilhava. Todos os hóspedes fariam o passeio a El Tatio, incluindo o casal de paulistas Felipe e Débora, com quem compartilharia a trip pelo Salar de Uyuni. A Maxim me cobrou 13 mil pesos por esse tour. Estava bem frio, mas vou dizer uma coisa: há um pouco de exagero nos relatos. Alertado por eles, caprichei na proteção.

Usei calça x-thermo da Solo, calça de moleton bem quente e jeans grosso por cima. Na parte superior, camiseta dry fit, camisa de algodão de manga longa, blusa de moleton, blusa de lã e o Conquista Chamonix que comprei para esta viagem. Ainda tinha um gorro de lã simples e luvas Solo. Estava bem agasalhado. Por isso, mesmo com -8 ºC o frio que senti era perfeitamente suportável. E olha que sou bem friorento! Então, o esquema é o seguinte: dê atenção aos exageros. Preparar-se bem para este passeio é essencial para curti-lo.

Observar o fenômeno é sensacional. Neste dia, não havia grande atividade e os espirros d’água estavam bem baixinhos. Mas quando o sol começou a lamber as montanhas, a luz, o vapor e a abundância de cores da paisagem me deixaram boquiaberto. Dica providencial: proteja tua câmera do frio. Minhas pilhas descarregaram por causa dele e fiquei sem fotos durante o resto do dia.

 

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Na volta, tem uma parada em Machuca, um pueblo no meio do nada. De interessante, a igrejinha e uma pastagem de lhamas. E só.

Depois do almoço, em San Pedro, seguimos para o passeio que mais me surpreendeu e pelo qual paguei 10 mil pesos. Lagunas Cejar e de Piedra, Ojos del Salar e Laguna Tebinquiche. A primeira só se passa ao lado, de carro. A laguna salgada onde o povo costuma tomar banho é a Laguna de Piedra. Era outono, então alguns poucos aventureiros foram para a água. Lembram que disse ser friorento? Pois é.

Os Ojos del Salar são assustadoramente bonitos. Profundos, azuis e que formam um espelho d’água ótimo para fotografias. Mas ainda havia o gran finale, a Tebinquiche. Trata-se de uma laguna relativamente grande que banha um pedacinho do Salar de Atacama. De um lado, vê-se um pouco da Cordilheira de La Sal. O sol se põe atrás das montanhas e lança raios que vão do amarelo ao vermelho. Do outro lado, vulcões amarelados pelo pôr-do-sol estão refletidos na água. Não lembro de outro poente tão perfeito. Sentei sobre um bloco de sal e fiquei estático, embasbacado.

Este passeio toma o mesmo tempo que o Valle de la Luna. Sai às 15h e retorna lá pelas 20h. Se você precisar escolher entre um dos dois, nem pense duas vezes. Vá para as lagunas. É emocionante e muito menos concorrido.

 

[t3]1º DE JUNHO, SEGUNDA-FEIRA - SALAR DE UYUNI[/t3]

 

O Salar de Uyuni representava a grande razão da minha viagem. Todo o Atacama, na minha cabeça, era acessório. Por isso, resolvi investir para que tudo ocorresse bem. Escolhi a Cordillera depois de ler muito sobre o assunto. Não me importei em pagar mais caro (US$ 150) porque encontrei na reputação desta agência a segurança que procurava. O passeio foi estupendo e, mesmo em uma situação de adversidade, senti que os responsáveis estavam minimamente preocupados com as pessoas que os contratavam.

Ainda sobre o preço, quando for escolher a agência procure saber se estão incluídas as taxas de entrada na Bolívia e no parque nacional onde está o salar. Não precisei pagar nada disso. Além disso, informe-se sobre a alimentação. A reclamação mais frequente nos relatos é quanto à comida. Na minha trip, ela era de qualidade satisfatória e em quantidade suficiente para matar a fome de todos. Duas dicas: leve água e papel higiênico. Sim, eles cobram 2 bolivianos pelo papel em todos os lugares. Ridículo.

Havia 11 pessoas no ônibus quando saímos de San Pedro. Tenha contigo aquele formulário que se recebe quando da entrada no Chile. A imigração é feita ainda em San Pedro. Passaportes carimbados, subimos pelo mesmo caminho do Salar de Tara, passando ao lado do Licancabur. O lugar onde se oficializa a entrada em território boliviano é uma piada, caindo aos pedaços. Troquei pesos chilenos por bolivianos ali mesmo.

A agência oferece desayuno logo ao lado, onde monta uma espécie de QG. Tinha pão, presunto, queijo e uma geleia. Podia-se escolher entre café, achocolatado e alguns chás, inclusive mate de coca. Todos alimentados, chegou a hora de subir as bagagens nos jipes 4x4. A Cordillera, como todas as agências, tem carros bons e carros muito ruins. O modelo mais comum no salar é o Toyota Land Cruiser, daqueles mais antigos, com capacidade para seis passageiros.

No veículo mais inteiro embarcamos eu, o Felipe, a Débora, um casal de franceses gente boníssima e um terceiro francês. No outro carro, que tinha os bancos arrebentados e perceptivelmente pendia para o lado direito, foram dois ingleses, dois australianos e outra francesa. A divisão foi feita pela própria agência, não sei baseada em quais critérios, mas deu certo. Nosso carro era uma festa, com música alta, dancinhas e um entrosamento bem legal. O dos gringos era, por assim dizer, mais britânico.

No primeiro dia, as paradas são nas lagunas Branca e Verde (linda), no Deserto de Dali (apenas legal) e nas termas. Não consegui entrar na água, o frio era de tiritar.

 

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No roteiro que a agência me enviou por email, deveríamos almoçar na rua, logo em seguida. Mas fomos direto aos gêisers Sol da Mañana. Na boa, não dá para dizer que são parecidos com El Tatio. Para começar, eles não espirram água, mas argila e enxofre, exatamente como uma cratera vulcânica. O efeito visual é distinto, além de ser bem mais perigoso. Há risco de erupções maiores.

Por último, avista-se a Laguna Colorada. Estava bem vermelha quando chegamos, só que fomos direto ao alojamento para almoçar. Já eram quase 16h. O vento estava bem forte. Apenas os 11 turistas da Cordillera ficaram naquele refúgio, que não tem chuveiros.

A primeira refeição foi de meter medo. Para 11 pessoas, vieram uma panela de purê de batata, 11 salsichas e uma saladinha que mal serviu a todos. “We are in a concentration camp”, brincou um dos britânicos. Saímos da mesa não completamente saciados. Felizmente, foi só a primeira impressão. Uma hora depois, nos chamaram para tomar um chá com bolachas e, lá pelas 19h, veio o jantar, bem servido. Primeiro, sopa e pão. Depois, macarrão e molho de tomate com cebolas. Arriscamos pedir para que nos servissem mais chá em seguida. E não é que atenderam? Esquentaram mais duas térmicas. Ficamos em volta do fogo conversando e bebendo chá.

Fazia cada vez mais frio, ventava muito lá fora. Aluguei um saco de dormir daqueles bem grossos por 2 mil pesos chilenos. Pernoitamos num quarto com seis camas, sendo uma de casal. Dormi protegido pelo saco de dormir, mais as cobertas. Não senti frio e, quer saber? No meio da noite, tirei as meias e as luvas. Só na manhã seguinte ficaria sabendo que a temperatura bateu os -15 ºC.

 

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[t3]2 DE JUNHO, TERÇA-FEIRA - SALAR DE UYUNI[/t3]

 

Tomávamos café enquanto os motoristas preparavam os carros. Precisam botar um líquido anticongelante no radiador. Uma garrafa d’água que estava dentro de um dos veículos congelou. Saímos às 8h em direção à Laguna Colorada. Ela fica a cinco quilômetros do alojamento, não dá para ir andando. Pode ser perigoso. Por ser outono, havia somente dois grupos de flamingos na água. Suficiente para quem nunca tinha deparado um visual daqueles. A laguna não estava muito vermelha àquela hora da manhã. A coloração depende do vento, que começa pra valer depois do meio-dia. Em algumas partes, estava bem marrom. Até confundia com a areia das montanhas. Quando estávamos quase indo embora, o Felipe achou um ovo de flamingo abandonado. Naquele frio, o bichinho já era.

Conforme avisou o Javier, motorista dos britânicos, o caminho do segundo dia é o mais longo e esburacado. Depois da laguna, fomos para o Deserto de Silioli, onde está o Arbol de Piedra. O lugar é lindo, o que estraga é a quantidade de gente. Sério, só consegui fazer uma foto decente do negócio quando faltavam cinco minutos para sair. O povo é muito sem noção. Teve um israelense que subiu no Arbol, obrigando todos a incluir ele no enquadramento.

Depois, vêm as lagunas Honda, Chiarkota, Hedionda y Cañapa. Cada uma com um visual diferente. Almoçamos ao lado de uma parede de rocha, para evitar o vento, diante da Chiarkota. Os motoristas montaram uma mesinha de pedras, onde puseram toalha e a louça. Eles trazem a comida preparada do alojamento e apenas organizam o esquema. Comemos macarrão e salada, com refrigerante e suco. Havia bastante para todos, novamente.

Detalhe: os motoristas não são muito higiênicos no manuseio da comida. O Felipe viu o estado das mãos deles quando preparavam a salada. Ainda bem que não vi. Detalhe 2: uma biscatcha curiosa ficou rondando nossa mesa. O Javier pôs umas cascas de pepino numa pedra e ela veio comer bem na nossa frente, a danada.

 

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A última visita do dia é o Salar de Chiguana, que avistamos do alto e depois passamos no meio dele. Comparado a Uyuni, é pequeno. Chegamos ao pueblo de San Juan, onde fica o hotel de sal usado pela Cordillera. Primeiro, paramos numa vendinha para comprar água, cervejas e outros mantimentos essenciais.

Um esclarecimento necessário: este NÃO É O HOTEL DE SAL QUE FICA NO MEIO DO SALAR. Aquele está desativado, não recebe hóspedes porque está localizado no meio de uma reserva nacional. O hotel da Cordillera tem base de pedra, mas tijolos, piso e móveis são de sal. Muito bonito por dentro, horrível por fora. O importante é que é bem vedado e tem chuveiro com água quente. Há dois quartos de casal e os demais são duplos e triplos.

Sentamos todos à mesa, bebemos chá com bolachas e jantamos. Não consigo recordar o que comemos naquela noite, mas lembro bem que nos foram oferecidas duas garrafas de vinho chileno. Um mimo da agência.

 

[t3]3 DE JUNHO, QUARTA-FEIRA - SALAR DE UYUNI[/t3]

 

O terceiro dia começou tenso. Logo após o desayuno, Javier e Pablo nos chamaram do lado de fora, onde preparavam os carros, e avisaram: “Temos um problema”. Sindicatos de Uyuni fecharam os acessos à cidade e ao salar em protesto contra a demora na pavimentação de duas rodovias da região. Na Bolívia é assim. Se algo não sai como o previsto, bloqueio neles. Felizmente, Pablo nasceu nas redondezas e conhecia algumas quebradas para se chegar ao salar. Foi uma viagem nervosa. Só relaxamos quando ele deu um soco no volante e comemorou: “Estamos dentro!”.

Aí foi só alegria. Fizemos uma parada onde o motorista-guia nos explicou como se formou aquele mar de sal absurdo e começamos a fazer as tradicionais fotos em perspectiva. Só que aí surgiu um segundo problema. Javier (cuidado, há três Javiers que trabalham na Cordillera. Este é um bem jovem e baixinho) havia passado a noite na farra. E continuava bebendo cerveja durante toda a manhã. Resumindo a história: o cara estava dirigindo bêbado e se perdeu. Avistamos o carro passando ao longe e fomos atrás. Por causa das idas e vindas de Javier, fomos parar em outra ilha que não a Isla del Pescado. Tudo bem, ela era muito bonita também, mas com menos cactos.

Chegou uma hora em que Javier estava sem condições. Pablo - que também não era nenhum santo, havia acompanhado a noitada com o amigo -, teve uma conversa com ele. Prepararam o almoço ali na ilha mesmo e descansaram um pouco. Enquanto isso, fomos explorar o lugar, que tem uma vista linda do cume, onde fincaram uma bandeira boliviana.

 

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Após o almoço, que teve filé de frango, salada e batatas, se não me engano, seguimos salar adentro. Fizemos uma parada bem longa, com muitas fotos, música e dancinhas ridículas. Depois, visitamos o hotel de sal desativado. O lugar é interessantíssimo, mas as pessoas que ali trabalham, vou te contar, que má-vontade!

Pelo celular, os motoristas descobriram que o bloqueio estava bem forte. Havia a possibilidade de se conseguir uma janela de passagem perto das 18h. Ficamos dando um tempo no hotel. O frio começava a apertar. Não sei por que cargas d’água Pablo e Javier decidiram arriscar mais um atalho. A ideia durou menos de 500 metros. Por causa do desvio anterior e das trapalhadas de Javier, ficamos sem gasolina. Uns 20 minutos depois, retornaram do hotel com mais combustível.

Conseguimos despistar o bloqueio em um primeiro pueblo, que fica antes de chegar em Uyuni. Só que quando estávamos bem pertinho da cidade, vimos carretas atravessadas. Aí o Pablo concluiu que deveria inventar um caminho novo pelo meio do deserto. Conseguiu atolar o 4x4. Tentamos tirá-lo de lá duas vezes. Não deu. Nisso chegam uns 20 piqueteiros enfurecidos. Encheram o saco dos motoristas, mas mal dirigiram a palavra a nós, turistas. Teve uma hora em que um grupo de mulheres e crianças invadiu nosso carro. Sorte que havíamos tirado nossas coisas de dentro minutos antes.

Desatolaram o veículo e nos levaram ao bloqueio, onde apreenderam os carros. Fomos liberados para caminhar até a cidade.

 

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Chegando lá, descobrimos alguns fatos importantes. Primeiro: o bloqueio começara havia quatro dias. Alguns turistas estavam presos na cidade durante esse tempo todo. Segundo: o prefeito do departamento de Potosi, do qual Uyuni faz parte, viria negociar com os manifestantes naquela noite. Terceiro: o escritório da Cordillera estava fechado, assim como quase todos os estabelecimentos comerciais de Uyuni. Ordem dos sindicatos. Quem abre, leva multa (?!).

Os turistas que não retornariam para San Pedro foram buscar hospedagem por conta própria. Os hostels estavam bem cheios. Pablo e Javier ficaram comigo, Felipe e Débora até o proprietário da Cordillera chegar. O cara nos hospedou no Hostal Inti. Pagou 30 bolivianos por um quarto triplo. Também nos deu 50 bolivianos para jantarmos, afinal, tudo isso estava incluído no pacote original.

O dinheiro pagou só metade da pizza que comemos. Encontramos um restaurante onde só havia crianças trabalhando. Quando não estavam atendendo, assistiam ao Cartoon Network. Triste. Não sei se é sempre assim ou a família usava os pequenos para não bater de frente com os sindicalistas.

Por falar neles, estavam reunidos em frente ao prédio administrativo municipal. O tal prefeito de Potosi estava ali. Pelo que entendi, tudo o que ele falava na mesa de negociação era transmitido por um sistema de som ao povo lá fora. Voltamos ao hotel. Combinamos que às 21h o dono da Cordillera nos orientaria sobre o que fazer. Pois bem. Do espanhol complicadíssimo que ele falava, entendemos apenas o que queríamos ouvir. O motorista viria nos buscar às 3h e chegaríamos à fronteira chilena às 10h. O bloqueio cessara.

 

[t3]4 DE JUNHO, QUINTA-FEIRA - SALAR DE UYUNI[/t3]

 

No fim, a confusão toda nos beneficiou. Tivemos chuveiro quente e dormimos num lugar não tão frio quanto o alojamento de Villamar, onde nos hospedariam na última noite. Passamos pelo lugar às 6h. As descrições negativas do pessoal do mochileiros são altamente justificáveis. Que medo!

A viagem foi bem tranqüila. Outro Javier nos levou de volta, um cara supertranquilão. Aliás, a maioria dos motoristas é assim, pelo que percebi. O caminho de retorno, bem mais conservado, é quase todo por fora do parque nacional. Só a partir da Laguna Colorada é que a rota se repete. Foi ali que eu e o Felipe começamos a sentir os efeitos da falta de segurança alimentar na Bolívia. O mal-estar estomacal me derrubou o resto da viagem. Por causa dele passei muito frio, mesmo encasacado, durante o desayuno na aduana boliviana. Engoli só um chá de boldo.

 

[t3]5 DE JUNHO, SEXTA-FEIRA – AEROPORTOS, DE NOVO[/t3]

 

Eu cogitava subir o vulcão Lascar com o Felipe e a Débora nesse dia. Mas só consegui sair do hotel à tarde, praticamente sem comer desde quarta-feira à noite. Comprei bolachas e muita água. Resolvi dar um tempo na praça e depois voltei para o El Monte. Estava fraco pacas. Fiquei lendo e descansando até 20h, quando o transfer Licancabur veio me buscar. O embarque em Calama foi às 22h45min. Precisei aguardar o voo de volta em Santiago até 7h. A conexão em Guarulhos para Floripa saiu às 15h15min. No retorno, consegui carona com outro camarada blumenauense de longa data, o Vitor Cristelli. Às 18h30min estava em casa.

 

[t3]RESUMÃO[/t3]

 

Terminei a viagem cansado e mal fisicamente. Feliz, no entanto. O Norte do Chile e o Salar de Uyuni são destinos únicos, muito diferentes de tudo o que se pode conhecer na América do Sul. Se quiser embarcar nessa e precisar de alguma informação adicional, fique à vontade para perguntar. Esse relato é apenas uma devolução ínfima da ajuda imensa que encontrei aqui nos últimos meses.

Abraços!

Editado por Visitante
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  • Membros de Honra

Cara muito legal esse seu relato !! Posta umas fotos aqui pra ilustrar !!!

 

Ia fazer esse passeio "Lagunas Cejar e de Piedra, Ojos del Salar e Laguna Tebinquiche" por recomendação da Edith da Maxim, mas como estávamos muito cansados do El Tatio acabamos não indo, me arrependo !!! Quem sabe uma próxima !!

 

valeu !!!

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  • Membros

Olá Evandro !

Muito bom seu relato, não vejo a hora de chegar o dia da minha viagem. Parto no dia 10 de julho. Terei menos tempo no Atacama pois ficarei antes 3 dias em Santiago, o que me custará o passeio do Salar de Tara, pois só vou ter tempo de fazer dois passeios de dia inteiro, Lagunas e Tatio. Mas fiquei tão impressionado com os relatos sobre Tara aqui do Mochileiros que estou quase trocando um deles.

Se possível gostaria que vc me esclarecesse algumas dúvidas.

 

- Estava quase comprando um saco de dormir até ver seu relato, pois além do gasto, há o inconveniente de carregá-lo desde o Brasil. Onde vc alugou o saco de dormir? Como era o estado e a qualidade dele?

 

- Vc fez reserva pelo site da Cordillera ou lá mesmo no local? Pelo site o tour sai por 175 dólares, vi que vc pagou 150.

 

- Vc teve informações de outras empresas que fazem Uyuni? Ouvi falar bem de uma tal de Estrella del Sur tb, além da Cordillera.

 

- Qual a quantidade de bolivianos que vc levou para o tour de Uyuni? Creio que poucos lugares devem aceitar cartão.

 

- E os efeitos da altitude? Deu pra encarar na boa? Chá de coca realmente adianta?

 

Desculpe por tantas perguntas.

Parabéns mais uma vez pelo relato.

Um abraço.

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  • Membros de Honra

Oi Evandro!

Que medo dos motoristas bebados!!!!

Acho que não importa a agência que se faz a viagem, sempre tem algo pra contar... Mas assim as histórias ficam mais emocionantes! hehehehehe

Fico feliz em saber que meu relato tenha ajudado a sua preparação de roteiro! E tenha certeza que este seu relato será essencial para outros mochileiros...

Morei em Blumenau dos 3 até os 17 anos de idade... Quem sabe a gente não se esbarrou pela rua XV ou Alameda!!! rs

Parabéns pelo relato e agora vou lá olhar suas fotos...

Até mais!

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  • Membros
Olá Evandro !

Muito bom seu relato, não vejo a hora de chegar o dia da minha viagem. Parto no dia 10 de julho. Terei menos tempo no Atacama pois ficarei antes 3 dias em Santiago, o que me custará o passeio do Salar de Tara, pois só vou ter tempo de fazer dois passeios de dia inteiro, Lagunas e Tatio. Mas fiquei tão impressionado com os relatos sobre Tara aqui do Mochileiros que estou quase trocando um deles.

Se possível gostaria que vc me esclarecesse algumas dúvidas.

 

- Estava quase comprando um saco de dormir até ver seu relato, pois além do gasto, há o inconveniente de carregá-lo desde o Brasil. Onde vc alugou o saco de dormir? Como era o estado e a qualidade dele?

 

- Vc fez reserva pelo site da Cordillera ou lá mesmo no local? Pelo site o tour sai por 175 dólares, vi que vc pagou 150.

 

- Vc teve informações de outras empresas que fazem Uyuni? Ouvi falar bem de uma tal de Estrella del Sur tb, além da Cordillera.

 

- Qual a quantidade de bolivianos que vc levou para o tour de Uyuni? Creio que poucos lugares devem aceitar cartão.

 

- E os efeitos da altitude? Deu pra encarar na boa? Chá de coca realmente adianta?

 

Desculpe por tantas perguntas.

Parabéns mais uma vez pelo relato.

Um abraço.

 

Olá, Fábio. Os sacos de dormir são bem bons e limpos, pelo que percebi. Eles ficam lá no refúgio mesmo. Só não marca bobeira porque eles não têm muitos. Quando oferecerem, já garante o teu.

- Fiz a reserva pelo email da Cordillera. Me passaram este preço direto. O e-mail está ali em cima.

- Procure opiniões sobre outras empresas nos demais relatos

- Troquei 20 dólares em bolivianos. Não lembro exatamente quanto deu. Vais usar mais para ir ao banheiro e para alguma eventualidade, como a que ocorreu comigo, durante o bloqueio em Uyuni. O resto está incluído no pacote.

- Chá de coca adianta, sim. O mais importante é se ambientar antes de fazer qualquer atividade que exija mais esforço físico. Prefira os passeios em lugares mais baixos primeiro. Depois vá subindo.

 

Espero ter ajudado. Abraço!

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  • Membros
Cara muito legal esse seu relato !! Posta umas fotos aqui pra ilustrar !!!

 

Ia fazer esse passeio "Lagunas Cejar e de Piedra, Ojos del Salar e Laguna Tebinquiche" por recomendação da Edith da Maxim, mas como estávamos muito cansados do El Tatio acabamos não indo, me arrependo !!! Quem sabe uma próxima !!

 

valeu !!!

 

Valeu, Michel. Vou incluir umas fotos do álbum aqui, sim. Abraço!

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  • 1 mês depois...
  • Membros

Brow, seu relato tá irado!!!

 

Achei a resposta do que eu pretendo fazer em 2010!!!

 

Tô afim de fazer Atacama com direito a sand board (com direito a comer um pouco de areia nas descidas..rsrs) e dps cair pro Salar de Uyuni.

 

Achei seu relato bem detalhado, com muitas dicas e preços pra ter referencia na hora de planejar o roteiro.

 

O LeoRJ mandou bem no relato que fala "bike no Atacama". Tô muito afim de dar um "pião" de bike no Atacama.

 

Evandro, parabéns pelo seu relato.

 

Abraço brow, se cuida!!!

 

P.S.: Que venha logo 2010 e a trip irada!!! rsrs ::lol4::

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  • 1 mês depois...
  • Membros de Honra

Excelente seu relato!! Fiquei um pouco preocupada com esses bloqueios de estrada na Bolívia. Não é a primeira vez que leio sobre isso. Pretendo ir pra Cuzco depois de Uyuni, fazer a trilha inca de 4 dias, não posso ter atrasos no meu roteiro por causa da reserva da trilha. Muito boas suas informações pra gente poder se planejar melhor.

Abs!

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  • 11 meses depois...
  • Colaboradores

Fala Evandro!

 

Como está meu velho?!?!?!

 

Estava aqui procurando umas informações de uma viagem que vou embarcar agora e resolvi dar novamente uma lida em seu relato.

 

Realmente está muito bom!!!! Vou me lembrando em detalhes cada passeio desses... Que lugar único, não é?!

 

Depois eu vou fazer uns comentários no seu texto e anexar umas fotos para ilustrar algumas coisas que você comentou!

 

E aquela volta do Uyuni você não precisava ter me lembrado......... A dica de SEMPRE ter papel higiênico em mãos na Bolívia é essencial!!!!!!!!!!!!

 

Abração!

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