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Oi pessoal,

 

E aí, prontos pra dar uma olhadela rápida em Bangkok ?

 

Acordei e o dia estava chuvoso, mas não tão ruim a ponto de arruinar a viagem. Ainda bem porque até agora o clima havia se comportado a contento e esperava continuar assim, principalmente porque naquela mesma noite eu estava indo em direção a praia, mas antes eu tinha o dia inteiro para curtir Bangkok e resolver algumas coisas.

 

Após o café da manhã no restaurante do hotel, fui dar um jeito nas minhas roupas que estavam precisando uma lavada afinal “sou pobre, mas sou limpinho”. Não me fiz de rogado e fiquei apenas com a roupa do corpo, entreguei praticamente tudo pra tiazinha que mora/trabalha numa espécie de beco a poucos passos do hotel. Já conhecia o trabalho daquela senhora de outras visitas e sabia que não teria problemas.

 

Combinei o preço (menos de 2 doletas) e confirmei o horário, precisava para o mesmo dia afinal naquela mesma noite iria viajar. Aproveitei e dei umas roupas para tiazinha, que ficou bastante contente. Só não sei como ela iria usar afinal os asiáticos, de uma maneira geral, têm uma estatura menor do que a nossa mas certamente ela iria dar um jeito de fazer bom uso das roupas.

 

Como não sou gringo e rico, eu doei. Geralmente gringo prefere vender o que não vai usar e utilizar a merreca de grana que conseguiu levantar para gastar com cerveja, drogas, sei lá. Gringo e rico sabe como são, quanto mais tem menos estão dispostos a dividir. Depois esse povo que não tem o que fazer vem com esse papinho groselha de charity, ajuda, ONG´s e todas essas presepadas. “Pede pra sair, zero-dois !!!

 

Apesar da chuva ter parado logo depois, fiquei imaginando como a tiazinha ia conseguir secar minhas roupas à tempo caso a chuva voltasse - lembrando que a temporada de chuvas já havia começado - pois ali o trabalho era todo feito à mão mas eu tinha certeza que ela daria um jeito.

 

Saindo dali, fui dar uma volta sem destino, bem do jeito que eu gosto. Não havia nenhum lugar específico para ir mas pra mim era tudo especial, afinal isso aqui é Bangkok ! Certamente está longe de ser uma cidade limpa e confesso que às vezes o odor que sai do rio que corta a cidade é bem ruim, mas as chuvas da estação dariam um jeito de dar uma limpada na cidade. Ou pelo menos amenizar.

 

Para (não) variar e como eu estava hospedado ali perto, comecei pela Khao San Road, onde os primeiros vendedores de rua já estavam tomando posição na disputada rua. Bares, discos, lojas, livrarias, camelôs, produtos pirateados (pirataria é crime, não roube o navio !) variando de carteiras falsas de estudante e imprensa até sandálias havaianas (trocaram a cor da bandeira !!! Falando em havaianas, segundo uma holandesa que conheci na Namíbia no ano passado, essas sandálias são os melhores calçados do mundo (concordo...) e a moça queria porque queria poder trabalhar com elas (aí eu já não concordo, no meu caso não pegaria muito bem trabalhar de terno, gravata e havaianas...), os primeiros tuk-tuks estavam estacionados ali, vans levando mochileiros pra cima e pra baixo (estava um pouco tarde, os passeios saem mais cedo mas ainda tinham algumas), falatório, bagunça, idiomas diferentes, mochileiros, barraquinhas, buzinas e nada da tal banana pancake...

 

Aproveitei que estava ali e me perdi nos becos que ligam uma rua a outra, algo que também curto bastante porque sempre pode pintar algo inusitado.

 

Quando a rua já estava mais movimentada e com todas as barracas já armadas (sempre no bom sentido, é claro), acabou que cruzei com um produto que me chamou a atenção; era uma espécie de blusa com zíper, tipo abrigo, mas com um tecido mais leve. Aquela blusa certamente não iria me aquecer caso precisasse (eu ainda tinha uma parada na Europa antes de tomar o rumo da roça) mas também não deixaria eu passar frio e como eu precisava substituir aquele meu fleece fujão que morreu de amores pela Big Apple e resolveu ficar lá (eu gostei bastante também mas daí pra querer ficar pra sempre já é outro chopp), parei e fui dar uma olhada de mais perto no produto. Para mim, as melhores compras acabam sendo assim, quando a gente não quer, não está procurando e pinta do nada. O mesmo acontece para amores, furtivos ou não.

 

A tiazinha veio em minha direção como se eu fosse o primeiro cliente depois de um hiato de 10 anos (esse tipo de atendimento é bastante normal praquelas bandas...) e assim que notou o meu interesse falou um preço lá embaixo que até assustei.

 

Ainda estava fazendo uma conta rápida de cabeça (também sou adepto da máxima “quem converte não se diverte”, mas interpreto ela do meu jeito. Eu criei minha própria fórmula para comparar preços e valores para ver se tal produto vale aquele preço ou não. Apesar de simples, é um tanto dificil de explicar) e mesmo com uma vaga idéia do valor da moeda eu saquei que aquilo ali estava barato demais até para brasuca assalariado (e quebrado) dando a volta ao mundo, mas mesmo assim resolvi não fazer o negócio na hora, no calor do momento.

 

Com o tempo (e as viagens) eu aprendi a lidar bem com isso, nada de comprar por impulso ou tomar decisões importantes quando se está "muito alguma coisa” no momento : muito animado, puto, alegre, desanimado, quebrado, com grana (essa eu não sei como é afinal nunca tô com muita grana), apaixonado, etc. Isso já me livrou de várias enrascadas, acho que sou muito mais razão do que emoção, sei lá, pergunta pro Freud.

 

Fiz algumas perguntas, chequei se o tamanho servia pra mim e não ia ficar um “top” (?!?!?) e me deixar de barriga de fora (não, não tomo tanta cerveja assim e nem sou gordo, digo, nem tenho os ossos grandes, mas a estatura asiática costuma ser beeeem menor. Imagina comprar uma blusa e ficar com a barriga de fora ? Mas nem atendente hibrido de airport-bus merece...), confirmei que o tamanho servia, já havia escolhido a cor e no mesmo momento levei um olhar inquisidor que dizia : “é pegar ou largar” então eu respondi o olhar com um : “Acabei de chegar, vou dar uma volta por aí e depois a gente vê. Valeu.”

 

Ela não gostou muito mas ficou de boa, até. Mas não menti, eu ia dar mais uma volta mesmo e aproveitar pra ter uma idéia de preços, mesmo achando que o desconto que a tiazinha me deu, mesmo sem eu pedir, estava bom demais. E outra, não posso sair comprando assim de cara sem pesquisar os preços, tenho que fazer um charme também, né ? rs

 

Dei mais algumas voltas para ter uma idéia dos preços (foi fácil, ali todo mundo vende praticamente a mesma coisa, só muda o preço. Muitas vezes nem isso) e vi que REALMENTE a tiazinha foi muito com a minha cara (eu sei, já falei que não me acho com essa bola toda mas enfim...) porque os preços que eu vi depois eram muito mais altos. Já que é assim, tava decidido, que venha a blusa por um preço camarada.

 

Voltei para a barraca e no caminho tive uma visão do além ali mesmo num bar querendo ser pomposo (!?!?!) na Khao San Road, com música alta, comida relativamente boa, cerveja cara, mesas no lado de fora, garçons metidos a besta vestidos com avental e lenço na cabeça, bar sempre lotado mas que eu acho muito bem freqüentado pela quantidade de escandinavas que dão o ar de sua graça ali. Escandinavas mesmo e não falsificação paraguaia que a gente vê por aí ofendendo as beldades nórdicas.

 

A visão era simplesmente uma mesa rodeada de doze (isso mesmo, D-O-Z-E, twelve, uma dúzia, 12, douze, двенадцать, dodici , tolv , twaalf, สิบสอง, kumi, שתים, doce, oniki, dvylika, dvanaest, إثنا عشر, dvanáct...) loiras escandinavas belíssimas, um tanto quanto vermelhas (haviam acabado de chegar das ilhas, tava na cara. Literalmente). Dificil dizer mas ali a maioria, se não todas, eram suecas. Ah, as suecas : loiras, lindas, ricas, olhos azuis, inglês na ponta da língua e very naughty (seriam pra casar ?), como já pude comprovar em viagens anteriores, mas como este aqui é um site de família e eu sou cavalheiro e discreto, não vou contar o que aconteceu, né ?

 

Tá bom, confesso, nem todas eram top-models (“apenas” umas 10. As outras ganhavam qualquer concurso de beleza de lavada) e também não tinham o estilo das francesas (ninguém tem) e nem a sensualidade das latinas mas nada que arranhasse aquela visão dos deuses, ou melhor, visão das deusas. Já ouvi dizer de uma sueca que na terra dela tem muita mulher de cabelos escuros, parece quem as loiras tingem. “Nossa, será que rolam sósias da Megan Fox na versão escandinava ?” Tô falando que é pra casar... rsrs

 

Voltei na tal barraca e a tiazinha não estava lá, peguei a blusa que eu ia comprar e qual não foi a surpresa quando o rapaz me falou o preço "real" da blusa ! “Que isso ? Tá me achando com cara de gringo, digo, farang ?”, perguntei pro rapaz que me olhou com uma cara assustada. “Pronto, agora apanho. O cara vai me dar um golpe de Muay Thai no meio da minha fuça aqui mesmo...”, exagerei.

 

Nisso ele me apontou a loja onde estava a tiazinha e lá fui eu falar com ela. A tiazinha tinha uma loja e uma barraca de rua que ficava na frente da loja (?!?!?!). "Nossa, mas nem no Largo 13 em Sampa...". Eles conversaram alguma coisa em tailandês e eu fiquei ali só esperando o que ia dar, claro que já sabendo o resultado.

 

“Ok, ok, pode levar pelo preço combinado antes”. Até o cara ficou espantado porque realmente o preço foi MUITO baixo. Eu sei que ali nada tem preço fixo, existem outros lugares com preços melhores em Bangkok (se bem que sabendo procurar e dependendo do produto, até a Khao San é uma pechincha) e eu confesso que não topo muito esse lance de barganhar pra tudo, mas topo menos ainda ser passado pra trás.

 

Antes que a tiazinha mudasse de idéia, peguei a blusa, paguei, agradeci várias vezes e vi que a mulher estava tão putassa que praticamente me expulsou da loja (e eu continuei agradecendo...) mas pelo menos ela manteve a palavra. Reconheci nela o mesmo comportamento de um vendedor no mercado flutuante Damnoen Saduak (mais um passeio imperdível nos arredores de Bangkok), no ano passado, quando comprei uns cartões postais por uma fração do preço e o vendedor me olhou com uma cara que deu até medo. Desnecessário dizer que eu fiquei agradecendo pra cada olhada feia que eu levava, o que deixava o tiozinho ainda mais enfezado. Land of smiles...sei.

 

Quando você consegue realizar uma compra por um preço muito bom, o vendedor pode ficar bravo (dá pra ver pelo olhar fuzilante), afinal mesmo tendo feito o negócio, ele(a) não conseguiu te cobrar 10 vezes mais pelo produto. Já quase saí na porrada em lugares como Jerusalém, Zanzibar (depois o cara me perguntou se eu era israelense...e olha que nem era lance de preço. Numa negociação sadia de compra e venda ninguém é obrigado a vender, certo ? E nem a comprar), Bali, Nepal, etc por causa disso e olha que eu sou um cara bastante sussu. Mas não sou bobo.

 

Voltei pro meu hotel pra guardar minha compra, aproveitei e tomei um banho pra dar uma refrescada, arrumei algumas coisas e saí pra almoçar, a tarde já ia avançando e as horas passavam rápido.

 

Ao invés de ir no restaurante que costumo freqüentar quando estou Bangkok e que fica no caminho entre meu hotel e a Khao San Road (aquele que sempre tá tocando um som bacana), mudei de idéia e resolvi arriscar uma das barraquinhas que ficavam ali perto e que eu nunca tinha provado, pelo menos não naquelas.

 

Dei uma olhada em todas as barracas ali e escolhi uma que havia algumas pessoas terminando suas refeições. Numa primeira olhada o lugar não inspirava muita confiança mas eu não estava nem aí porque conheço bem a comida de rua na Ásia e nunca me arrependi, melhor ainda, nunca tive problemas também.

 

É simplesmente incrível como um lugar simples daquele, na calçada, com mesinhas espalhadas já utilizando parte da rua, um amontoado de caixas, comida, panelas, temperos, etc, alguém consiga fazer um prato daqueles, e olha que o cardápio era infindável.

 

Já disse que eu gosto de “comida para ser comida” mas quem gosta daqueles pratos exóticos e esquisitos (pelo menos são bonitos e bem feitos), ali também tem.

 

Para os frescos, digo, foddie$ (?!?!?!) de plantão aquilo ali poderia ser um prato cheio (desculpe o trocadilho) mas ah, desculpe, eles só gostam de restaurantes frufrus que servem porções que não alimentam nem filhote de passarinho. E a maioria é ruim mas, sei lá, o restaurante é estrelado, saiu na não-sei-aonde feito pelo chef não-sei-quem do restaurante não-sei-o-que-lá. Haja jabá (desculpe o trocadilho). Na boa, eu sei que “cada um é cada um” mas foddie é foda !!!!!

 

O preço ? Ah, não dava nem pra fazer conta mas vou tentar (é importante saber fazer contas quando o assunto é viagem. Se fôr RTW então...) : pega a média de preços de um restaurante bacana e barato (é o que não falta) na Ásia, divide por três e já dá pra ter uma idéia. Muito barato mesmo.

 

Aquilo que eu falei anteriormente : viajar pra Ásia morre uma grana considerável no ticket (assim como uma trip volta ao mundo, tá ficando mais acessível, mas tem que saber onde, como e quando), mas uma vez chegando lá dá pra se virar bem.

 

Fiz meu pedido, me instalei numa daquelas mesas de plástico ali na frente e fiquei tomando suco de laranja (tangerina), esse mesmo, o mais gostoso do mundo, ao mesmo tempo que observava o movimento do pessoal e a diversidade do lugar : gente de tudo quanto é nacionalidade indo e vindo sem parar, um monte de barracas de rua que serviam de restaurantes e que servia pratos deliciosos, um muro onde do outro lado havia um templo enorme.

 

Ali naquela rua havia agências que tiravam visto para alguns lugares, quem sabe na próxima vez eu tente uma dessas pra tirar o visto pra China (super bem cotada pra fazer parte de viagens futuras, já tenho até o roteiro desse trecho com boas chances de encaixar numa RTW, mesmo sabendo que o país vale uma visita por si só), se bem que em Hong Kong deve ser mais fácil mas como sei que não vou ter tempo pra perder e ficar em Hong Kong esperando visto não é pra mim, se não tirar o visto no Brasil, vou tirar ali mesmo. The time will tell.

 

Fui despertado dos meus pensamentos por dois rapazes de vestimentas estranhas que sentaram numa outra mesa e, olha só, eram brasucas.

 

Não costumo ouvir conversa dos outros mas como estavam muito próximos de mim, não pude evitar. Pelo nível da conversa, tatuagens, corte de cabelo e o papinho parece-que-não-sei, tava na cara (e nos trajes) que um deles havia acabado de chegar da Índia enquanto o outro parecia que veio direto de uma micareta da Bahia. A competição inconsciente entre os dois pra ver quem chamava mais atenção (não chamam, ninguém tá nem aí. Isso aqui é Bangkok) estava apertada mas estavam no lugar certo, em Bangkok tá cheio de figuras assim, com o tempo a gente se acostuma, algumas são bastante divertidas e já fazem parte do cenário, principalmente na região da famosa Khao San Road, ali próxima.

 

Sentaram na mesinha bem na minha frente mas eu não cheguei a puxar conversa, já falei que não costumo fazer isso com brasileiros no exterior, né ? E acho que falei também que já conheci compatriotas muito legais mundo afora.

 

O meu prato não tardou a chegar e como sempre a comida era saborosa. Terminada a refeição, fui dar uma volta, agora pro lado do palácio real que fica ali nas redondezas, dá pra ir à pé. Essa área é muito boa pra ficar hospedado porque tudo tá ali bem perto, até uma agência de correios que me parece ser a central, o que é uma mão na roda pra despachar peso extra, caso a mochila comece a ficar muito pesada. Falando em peso extra e com a quantidade e qualidade de mochileiras ali presente, o correio central deve ser bom também pra despachar namoradas ciumentas... rsrs

 

Dei a volta num templo que fica ali perto da Khao San Road (dessa vez eu descobri um atalho que passa pelo templo) e toquei rumo ao Grand Palace, tomando cuidado com o trânsito.

 

Chegando lá, é impossível não ficar chocado com a construção bastante imponente, seus guardiões e as estupas douradas. Para ratificar a posição privilegiada dessa região, por ali tem um monte de coisas bacanas e diferentes para nós, ocidentais, para visitar ali perto, como o imenso Buda deitado, por exemplo. Por ali fica também a escola de massagem tailandesa (calma galera, tô falando da tradicional...Já disse que isso aqui é um site de família senão o Silnei me deleta ! rsrs ), mas confesso que não sei muito bem onde é. Se bobear eu já passei por ela várias vezes e nem sabia que era uma escola... Oops!

 

Agora o trânsito é fora de sério, tem que tomar bastante cuidado para não ser atropelado e ali circula tudo quanto é tipo de veículos, até ônibus e carros ! rs Outra coisa que chama bastante atenção é a quantidade de placas e fotos com a imagem da vossa alteza, o rei. Assim como o Buda, a imagem dele está em todo o canto e os tailandeses simplesmente amam o seu rei (não espalhem, mas ele nasceu nos States... Pois é, descobri isso num longo vôo voltando da Tailândia por intermédio do meu vizinho de poltrona, tiozinho sul africano especialista em abelhas... e em diversas fofocas da família real tailandesa. Ótimo assunto para fingir que não estávamos passando por uma turbulência incômoda (desculpem a obviedade da expressão, se é turbulência é lógico que é incômoda. Parece “congresso brasileiro corrupto”, “MST terrorista” - que os intelectuais não me ouçam mas, na boa, quem são os intelectuais, o Lula e sua quadrilha ? Os partidos políticos ? Ah, esqueci, no Brasil não há partidos, há quadrilhas.)

 

Melhor parar por aqui porque vai que a lei lesa-majestade me pegue na próxima vez que eu visitar a bela Tailândia... Cana na certa. rs

 

Ainda no “momento monarquia”, o rei ficou doente recentemente, espero que se recupere logo porque o seu povo precisa dele e como a Tailândia às vezes pode ficar um tanto instável, sem o seu rei o bicho pode pegar. Faço votos para que ele sare logo. Para finalizar com chave de outro (desculpem o trocadilho), ele é o monarca mais rico do mundo, com uma fortuna avaliada na casa dos U$ 35 BIlhões de dólares. E vocês achando o Eike Batista um cara rico... rsrs

 

Na minha ultima visita na cidade, eu tive a oportunidade de ver o rei saindo do palácio. A cidade pára para ele poder passar e foi bem interessante perceber o respeito que ele impõe. No comboio de carros que saíram junto com o carro do rei, tirando as motos, havia 35 BMW´s, não que eu tivesse contando...

 

O dia estava passando rápido enquanto eu continuava fazendo o meu particular “ trainee tour” , i.e., rodando de área em área e não ficando em nenhuma em particular. Só que ao contrário da maioria dos trainees, eu ficava na minha e não fazia perguntas idiotas (“o que é contra-cheque ? O que significa “holerith”. Não pude segurar e respondi : “eu o chamo de “cebolinha”, porque é só abrir ele e começar a chorar...”. Não, não trabalho com RH). Falando em trainee, o pior de tudo é que a gente tem que tratar esse povo bem e tem que ensinar direito porque vai que depois ele vire seu chefe... rs

 

Eu dei uma volta rápida na vizinhança e de lá fui em direção ao Chao Phraya River, o rio que corta a cidade e que tem várias histórias interessantes, inclusive uma bastante trágica.

 

Após ter seu bote capotado, uma rainha morreu afogada e nenhum de seus súditos pôde salvá-la porque segundo as leis da época (não sei se teve o dedo lusitano ou foi o de algum antecessor de político brasileiro, petista quem sabe...), se alguém do povão tocasse em algum membro da familia real, o infeliz pagava com a vida. Se o barco afundasse, o barqueiro tinha que nadar pra longe do barco, se ficasse ali perto do barco marcando bobeira e sobrevivesse, iria ser executado. Se ele segurasse alguém da nobreza e resgatasse o mesmo, iria ser executado também.

 

Se o barco afundasse e alguém jogasse cocos na agua, que na época serviam também de salva-vidas, não só o infeliz mas toda a sua família iria pro saco. Pra fechar com chave luso-petista, digo, de ouro, se alguém jogasse cocos na água e esses fossem em OUTRA direção que não a dos membros da família real, o infeliz teria sua garganta cortada e sua casa confiscada...

 

Resumindo : se tentar salvar, será executado. Se não tentar, tem a garganta cortada.

 

Claro que isso mudou depois da tragédia com a rainha.

 

Eu dei uma passeada por ali, cheguei até uma espécie de parada de barcos mas não cheguei a entrar em nenhum, não tinha tempo mas pretendo fazê-lo numa próxima vez. Quero ter uma idéia da “Cidade dos Anjos” vista do rio.

 

Fiquei um tempo ali na pequena marina, dei mais algumas voltas no mercadinho ali perto e já era hora de voltar e me preparar para ir embora. No caminho ainda tive tempo de confirmar os horários do ônibus para o aeroporto, mesmo sabendo que eu poderia pegar uma van mas não vale a pena, prefiro os ônibus. Mais práticos e espaçosos e com uma boa freqüência.

 

Como eu costumo fazer, tomei mais alguns sucos de laranja no meio do caminho e antes de chegar no meu hotel, peguei minhas roupas que estavam parecendo novas ! Realmente a tiazinha faz um belo serviço, tudo arrumado e em ordem. Agora era só fazer a mochila e me mandar.

 

Sempre que eu posso eu faço o tal late check-out, gosto de ter um “porto seguro” no dia que vou embora, não gosto de deixar minha mochila jogada em qualquer ponto para economizar uma merreca. Além do mais, em lugares como Bangkok eu tomo vários banhos por dia e é legal podee usufruir do quarto até o último minuto.

 

Foi o que fiz, agora era hora de ir embora.

 

Arrumei minha mochila, tomei meu banho, me arrumei e fiz o check-out bem no limite. Como ainda tinha algum tempo sorbando, deixei minha mochila num quarto separado mas seria por pouco tempo porque ia só comer alguma coisa antes de me mandar para o aeroporto.

 

Fiz uma refeição rápida, matei um pouco do tempo e parti para o aeroporto. Pra (não) variar, quase perdi o horário do ônibus.

 

Dei uma volta na Khao San Road, estava bombando como sempre mas agora com um monte de luzes pois a noite já havia caído.

 

Com a mochila nas costas, saí correndo para o ponto de ônibus (eu dei uma volta a mais no quarteirão mas não foi culpa minha, foi culpa da banana pancake que por sinal eu ainda não tinha comido desde a minha chegada e isso já estava ficando pessoal...) mas tudo bem, consegui pegar o ônibus e curti a viagem até o aeroporto. Na cabeça, um zilhão de coisas passando ao mesmo tempo, aquela ansiedade antes de embarcar rumo ao desconhecido. Adoro isso.

 

As Filipinas entraram “de bico” na minha trip, Como eu já conheço a Tailândia relativamente bem, os outros países ali próximos idem, e o espaço de tempo que eu tinha era bastante reduzido (e nessas a China foi postergada), resolvi arriscar. Claro que também para as Filipinas o tempo era muito curto mas eu tinha um objetivo na cabeça e a hora era aquela, literalmente, porque a estação para nadar com os incríveis butandings estava no fim e depois disso, sabe-se lá quando eu teria outra oportunidade.

 

Claro que pra isso teve um custo, travei uma verdadeira guerra para poder encaixar os vôos que comprei em separado nas datas que eu queria e como o tempo era curto, nada podia dar errado. Foi quase uma operação de guerra pois esse destino entrou quando a trip estava toda fechada, mas como eu simplesmente adoro a logística de uma viagem assim - a gente viaja antes de botar o pé no avião – voilá, consegui incluí-la. Não sei mas às vezes acho que estou no emprego errado...rs

 

A briga foi feia com autorização do cartão de crédito, não consegui com o meu cartão principal e durante a compra falei com a atendente de carne e osso, depois de um tempão perdido com o maldito atendimento eletrônico, e ela disse que “estava verificando no sistema que estava mostrando que o cartão estava parecendo tudo certo e que era para eu estar continuando e estar tentando para assim conseguir estar efetivando a compra”. Grrr, odeio Call Centers. E odeio gerúndios também !

 

Moral da história, comprei com um outro cartão antigão que eu estou para aposentar faz tempo, sem chip, limite baixo, não rende nenhum benefício e que eu uso muito de vez em quando de backup mas que aceitou de boa, nada dessas viadagens de verified by visa ou outras baboseiras tecnológicas qualquer. Segurança de cartão de crédito ou débito é questionável : para o titular é cheio de travas e limites enquanto para os não-titulares e mal-intencionados conseguem maravilhas, fazem clones, saques além do limite e o escambau).

 

Para ajudar mais ainda acabou que eu comprei primeiro a volta e a ida comprei dias depois. Agora imaginem a ansiedade, vai que eu não achasse a vôo de ida nas datas e horários que eu queria ? Aí viraria filme : “a volta dos que não foram”.

 

Depois de mais ou menos uma hora no ônibus, finalmente chegamos no aeroporto e uma vez lá era a hora verdade : e-ticket de uma cia aérea filipina comprado a duras penas pela net. Será que ele existia ?

 

Oh my Buda, mas isso só no próximo post !

 

Valeu galera, obrigado pela companhia e até o próximo relato !

 

Abraços,

 

 

Virunga

  • 2 semanas depois...
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estamos aguardando............

que viagem maravilhosa fizestes!

Parabéns

to aqui guardando meus "reais", sabe,

sonhar não custa nada afinal.

Parabéns pela Paciência em colocar tudo detalhadinho pra gente

valeu mesmo!

bj

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estamos aguardando............

que viagem maravilhosa fizestes!

Parabéns

to aqui guardando meus "reais", sabe,

sonhar não custa nada afinal.

Parabéns pela Paciência em colocar tudo detalhadinho pra gente

valeu mesmo!

bj

Oi Káren !

 

Obrigado pela mensagem.

 

Estou aguardando um amigo dar um jeito no meu computador (eu ainda acho que meu micro precisa de um exorcista porque a coisa tá feia, vou te contar. Você não imagina o sufoco que foi para eu conseguir postar essa resposta, ontem à noite eu fiquei horas e acabou que não consegui) e assim que arrumar continuo o relato.

 

Tem bastante coisa que eu pulei, queria fazer algo mais resumido afinal isso é um post e não uma novela mas é só começar a escrever que parece que a viagem recomeça e aí já viu, quanto mais escreve, mais recorda a viagem, o que faz escrever mais ainda e acaba virando um ciclo vicioso. Memórias de viagem, sabe como é...

 

Que bom saber que você continua guardando seus reais (espero que seja para uma volta ao mundo também), e te garanto que você precisa muito menos do que imagina, dia desses eu explico. É incrível como uma trip RTW pode sair muito mais em conta do que parece, aquele lance de saber balancear lugares caros com baratos, pesquisar bastante e aprender com quem sabe : os gringos. Foi assim que eu aprendi e continuo aprendendo, mas tem que se saber filtrar porque gringo viaja com dinheiro do governo desde a época dos descobrimentos ! hehe

 

Eu também já estou economizando os meus parcos reais para a próxima. O negócio é juntar grana e esperar as próximas férias pra ver se vai dar certo, tem bastante coisa envolvida aí e haja planejamento, outra viagem por si só. Trabalhoso ? Sim. Complicado ? Nem tanto. Vale a pena ? Sempre !

 

Ótimo saber que você está curtindo, valeu pela visita e pode esperar que tem bastante coisa ainda por vir.

 

Agora deixa eu ir antes que esse micro exploda ! rs

 

Beijos e valeu mais uma vez !

 

Virunga

  • 2 semanas depois...
  • Membros
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E bota "demoro" nisso !

 

Continuo com problemas técnicos mas pode deixar que sua espera vai terminar logo logo, vou tentar colocar mais alguma coisa hoje ainda.

 

Valeu !

 

Bjs

 

Virunga

 

 

 

 

 

 

 

demoro,

to esperando mesmo!

  • Membros
Postado (editado)

Dzaí pessoal, tudo bem ?

 

Meu micro continua precisando ser exorcizado (Ai meu Santo CTRL_ALT_DEL !!), mas pelo menos não explodiu. Ainda.

 

Aproveitando que os vírus e seus espíritos cibernéticos se aquietaram momentaneamente, vou dar uma adiantada no relato então simbora embarcar pras “Filipas”, mas antes tenho que averiguar se o e-ticket que deu um trabalhão para comprar através do site da simpática cia aérea com duas moedas diferentes vale alguma coisa.

 

Peguei minhas coisas, desci do ônibus e antes de seguir para o guichê do check-in dei uma arrumada na mochila e fui procurar meu vôo.

 

O aeroporto de Bangkok que custou US$ 3 bilhões aos cofres públicos é grande e fácil de usar então rapidamente encontrei meu vôo no imenso painel na parede logo ali, próximo a entrada do banheiro mais vazio do aeroporto, que por sinal também é um bom lugar para arrumar a mochila, trocar de roupa, escovar os dentes, etc. Para ser perfeito só faltava um chuveiro pois o calor estava de nordeste brasileiro. Pensando bem, muita calma com esse negócio de chuveiro, troca de roupa, escovar os dentes, se barbear, etc porque vai que chega um outro passageiro desavisado e perguntar algo como “Are you sure you don´t live here ?” rs

 

Me certifiquei que não tinha nenhum passageiro desavisado nas imediações, calcei minha bota anti-indiano que estava pendurada na mochila, perfazendo aquele visual que provocou um olhar enviezado que recebi daquele colega americano da minha amiga lá na ensolarada Califórnia, há dois continentes atrás.

 

Depois peguei meus documentos, conferi os prints de reserva que foram impressos num sufoco danado, dei aquela última ajeitada e segui tranquilamente em direção a área onde se concentram os check-in.

 

Chegando no andar, acho que era o 3º, dei aquela olhada básica no imenso saguão do aeroporto. Não me perguntem o porquê (já falei que o médico disse para não contrariar) mas pra mim aquela parte do aeroporto de Bangkok me lembra um imenso hipermercado : grande, arejado, claro, bastante movimentado e com o pé direito muito alto.

 

Não tem como se perder (olha quem está falando...) nem se a pessoa quiser, ali você facilmente acha o check-in do seu vôo procurando pela letra e número correspondentes. E ainda tem o emblema da cia aérea para dar uma força a mais. Tudo isso em 2 idiomas : inglês e tailandês, com sua escrita bonita.

 

Eu sei que não tem nenhuma novidade até aí mas o de Bangkok é diferente, até turista entende. uma letra e um número, simples assim. E pra chegar no lugar indicado, nenhuma dificuldade também, nada daquela complicação e sopa de letrinhas com numa sinalização que mais parece um mapa da NASA, mostrando a asa não sei o quê, terminal não sei o que lá, tudo escrito em cirílico antigo traduzido para o aramaico onde para chegar tem que pegar três trens - cada um num piso diferente, é claro – sendo que para alcançar o local onde sai o tal trem que liga os terminais o passageiro ainda tem que pegar um ônibus da linha “xis” na cor azul escuro porque se o coitado pegar o ônibus “x” na cor azul marinho, dançou. E vai ter que passar por mais três security checks de novo. E pelado!

 

O “hipermercado” é tão grande que quase, senão todas, as letras do alfabeto estão ali representadas mostrando o caminho a seguir para passageiros perdidos ou almas errantes e eternamente nômades, como esse mochileiro que vos escreve.

 

Caminhei lentamente em direção ao meu check-in ouvindo os mais variados idiomas, desviando de passageiros apressados, apreciando a fauna humana que a gente vê em aeroportos (mas ali não chegava nem aos pés dos tipos que você vê no aeroporto de Johannesburgo), admirando tripulações inteiras com seus uniformes impecáveis e podem falar o que quiser mas que ainda rola um glamour nisso tudo, eu acredito piamente que sim. Pra completar, na minha humilde opinião o avião é a máquina mais espetacular (e mais assustadora também !) que existe. E ainda foi inventado por um brasuca, o que o torna mais assustador do que já é...rs.

 

Apesar de eu não morrer de amores por voar (pra mim voar em muitos casos tem um significado semelhante, guardada as devidas proporções (no bom sentido, é claro) ao de usar camisinha - um mal necessário), eu adoro aviação e tudo aquilo que ela envolve, quer dizer, exceção seja feita às turbulências, desastres aéreos, crianças mimadas e mal educadas gritando e brigando para ver quem vai ficar na janela durante o pouso (e tudo isso ocorrendo no exato momento em que seus pais frouxos e idiotas emudecem e ficam assistindo a tudo como se nada estivesse acontecendo), aeromoças feias e barrinhas de cereal.

 

Não me importo muito com classe econômica mesmo eu sendo um cara alto e obviamente ficar apertado ali na espremida “cattle class” com a turma do fundão. Acho que já falei mas pra mim saindo e chegando com segurança é o que vale. O resto é frescura. E boiolagem.

 

Não adianta reclamar que a poltrona é assim, o embarque é assado e a comida tem gosto de isopor (não me perguntem, nunca comi isopor) e custa caro. Não gosta ? Vai reclamar pro papa ou compra um ticket da primeira classe da Emirates e não enche o saco. Ou vai de ônibus. Se tiver que atravessar oceanos, paciência, vai a nado. Ou chama seus (bis)avós e encara o navio.

 

Seguindo o caminho das pedras, digo, das letras, achei o guichê, não peguei fila e fui atendido pela simpática atendente que rapidamente digitou algumas coisas no teclado na sua frente e voilá, meu ticket existia; mais uma vez comprovando a teoria que a maioria dos problemas somos nós mesmos que criamos, ocupam um tempo danado nos nossos pensamentos e queimam neurônios que poderiam ser muito melhor aproveitados com outras coisas.

 

Feito o check-in e me livrado da mochila eu estava livre para dar mais uma circulada rápida pelo aeroporto e depois seguir para a imigração, afinal nunca se sabe se a fila estará grande ou não. Dessa vez pelo menos não estava.

 

Peguei meu carimbo de saída, atravessei o portão e me deparei com um bonito e gigantesco saguão cheio de lojas bacanas, restaurantes, bares, uma escultura de muitíssimo bom gosto que custou US$ 1,5 milhão mas foi doada ao aeroporto (falando em escultura, quando São Paulo vai mandar explodir aquela estátua gigante do Bandeirante ali no Borba Gato ? Chama a galera do Afeganistão que eles são bons nisso. Os espanhóis da época da colonização também). Havia também um balcão de um bar bacana que ficava no meio do corredor e um monte de gente com cartão de embarque na mão.

 

Caminhei sem rumo apenas para matar o tempo, visitei algumas lojas mas minha cabeça estava longe. Para evitar o quase mico do ano anterior, me dirigi com antecedência ao portão de embarque porém antes tinha que passar por um security-check, o que é um saco, convenhamos.

 

Passei pelo detector de metais, andei mais alguns “quilômetros” (afinal aquele aeroporto é grande pracas), encontrei meu portão e aguardei meu vôo, que por sinal já havia chegado de Manila.

 

Dei uma olhada rápida nos passageiros que ali estavam e não notei nenhum outro mochileiro, o que não me deixou surpreso afinal as Filipinas não são um destino comum como o resto do sudeste asiático, o que aumenta ainda mais o seu charme.

 

A esmagadora maioria dos passageiros era de famílias filipinas, mas não pude deixar de notar alguns casais onde a moça era filipina e o cara, gringo. Sei.

 

Quanto a nítida ausência de outros viajantes não me surpreendi. Off-the-beaten track o escambau, acho que a grande maioria de viajantes gringos gosta mesmo é de lugar manjado, por mais que tentem provar o contrário : “ah, esse lugar é muito batido, aquele outro é muito turístico” e por aí vai.

 

Se não gostassem de lugares manjados, os pubs irlandeses, que por sinal são muito divertidos, não estariam lotados por onde quer que você vá, estejam eles na África com a galera assistindo jogo da liga inglesa ou na bizarra (eu achei triste) Phuket, com a galera tomando uma Guiness cara pra cacete...

 

Só andam em grupo com “seres iguais” indo para os mesmos lugares, não se esforçam para falar alguma coisa no idioma local e ainda reclamam quando os nativos não falam inglês. Em relação ao idioma, alguns brasucas são assim também, ignorantes e tapados, falam como se no Brasil o povo falasse outro idioma que não o português. Coitado do gringo que vem pra cá. E olha que nem vou falar dos compatriotas que ficam “chocados” ou com os “olhos marejados” (How sad. Sniff) quando viajam para países menos favorecidos e se deparam com pobreza, crianças famintas, estradas esburacadas, corrupção e problemas sociais. Aqui não tem, né ? Cada uma...

 

De volta aos travelers snobs do off-the-beaten-track.

 

Desconfiam de tudo e de todos, principalmente do “local people”, que são muitas vezes vistos (usados ?) como muletas e capachos para os gringos, estando ali apenas para servi-los.

 

Acho intrigante essa relação de queda de braço entre os caras-pálidas se borrando de medo de assaltos, da água, do povo esquisito, comida estragada de origem duvidosa, falta de higiene e dando piti por causa do atraso de trem que não saiu às 7:32 AM como acontece na terra deles e os nativos que vêem a gringaiada como dólares ambulantes e não pensam duas vezes na hora de enfiar a faca e girar. Pois é, como diria Jean-Paul Sartre : “o inferno são os outros”.

 

Eu falei que é intrigante, mas nada de generalizar, rapaziada !

 

Esse lance do off-the-beaten-track cai no mesmo papinho groselha do volunteering, save the world, be green (incrivel Hulk ou marciano ?), no debts, total interaction with local people and culture (essa é uma pérola sem tamanho, vide parágrafo anterior), charity, FREE TIBET e outras babaquices gringas.

 

Depois é só olhar como tratam de assuntos delicados e polêmicos como imigração (“eu sou de país rico e você, pobre. FORA !”), aquecimento global (cada um por si e o efeito estufa pra todos, China e Estados Unidos que o digam), fome (ainda não passamos de um bilhão de famintos mas a humanidade está se esforçando para alcançar a marca histórica) e depois falem comigo.

 

Credo, parece papinho da ONU, aquela instituição que, pelo menos na minha opinião, juntamente com o Congresso Nacional e os campeonatos daquele tal Ultimate Fighting é a maior concentração de idiotas da face da terra. Hipocrisia pouca é bobagem.

 

Quimeras pré-vôo noturno a parte, enquanto estava sentado ali fiquei pensando sobre o próximo destino. Como comentei antes, as Filipinas entraram de última hora na minha trip e isso tornava o momento ainda mais surpreendente. Estava consciente que o tempo seria curto para visitar o segundo maior arquipélago do mundo mas estava satisfeito com a minha decisão e com os lugares que escolhi.

 

Tudo bem que eu gostaria de visitar uma área um pouco mais inóspita do país e supostamente com praias incrivelmente lindas, mas pelo dificil acesso e a inconstância do transporte naquela área específica, principalmente dos vôos, resolvi deixar para uma outra oportunidade. Não tinha o luxo do tempo ao meu favor e perder um vôo naquela ocasião poderia desencadear em conseqüências sérias.

 

Estava confiante que os lugares que eu iria visitar valeriam a pena. Melhor assim porque uma boa parte da grana economizada em função da maneira que eu viajo RTW (já falei que são três principais, né ?) foi investida nesse trecho em específico e como não tinha tempo de sobra, os vôos tornaram-se essenciais na confusa malha aérea filipina, malha essa que deve ter sido feita usando a inteligência herdada de tempos coloniais, afinal o arquipélago foi descoberto por um português patrocinado pelo rei da Espanha (tô falando que gringo viaja com dinheiro do Estado desde a época do descobrimento...). Coitado do povo filipino, mereciam melhor sorte.

 

Vai ter malha aérea enrolada assim lá nas Filipinas ! Pra quase todas conexões tem que passar por Manila (ou Cebu), o que faz o passageiro ter que ficar intimo do enfadonho aeroporto elefante branco. (NR.: O aeroporto não é de todo ruim, muito pelo contrário, mas achei ele muuuuito chato porém limpo e seguro, o que realmente importa. Volto nisso depois, afinal nem saí do aeroporto de Bangkok ainda).

 

O planejamento para viajar pra lá, apesar de ter sido de última hora, teve que ser cirúrgico e apesar de as Filipinas me parecerem um tanto quanto naive quando o assunto é turismo, estava contente de poder ir conferir in locco. Isso pra não falar daquela sensação boa de explorar o desconhecido e me apoiar apenas no que sabia de cabeça pois não levei guias, não tinha endereços e conhecia apenas alguns nomes de lugares; mas estava confiante no que havia lido à respeito, mesmo superficialmente.

 

(In)felizmente um vôo com um preço camarada para um paraíso do mergulho (sonho antigo) absolutamente inacreditável, maravilhoso e espetacular que fica ali perto e faz parte de um outro grupo de ilhas (e um outro país também) não vingou (certamente foi culpa da cia aérea americana que monopoliza o destino pra ela, mais ou menos como a LAN CHILE faz com a exótica Ilha de Páscoa, o umbigo do mundo) e não existia mais, caso contrário eu fecharia os olhos, enfiaria no meu cartão de crédito raquítico, arrumava uma francesa, sueca, brasuca, sei lá, decretava um debt moratorium ad eternium (sei lá se existe isso, se não existe ia passar a existir) e me mandava pra lá pro resto da vida, usando as Filipinas apenas como conexão dessa vez.

 

Mas como não existia mais o tal vôo achei melhor deixar pra lá e ficar apenas com as Filipinas, não apenas como conexão, mas como destino mesmo. Na minha situação pindaíba de tempo e grana, tive que fazer escolhas e foi o que fiz.

 

Finalmente uma voz feminina com inglês de gente grande saiu dos altos falantes chamando todos para o embarque que iria começar. Meu coração bateu forte, hora de embarcar, putz !

 

Que legal ! Eu poderia estar embarcando para Espanha (toc toc toc), eu poderia estar indo para Portugal (toc toc toc de novo) mas que nada, estava indo pras Filipinas e mal podia esperar. Bora logo !

 

Entreguei meu cartão de embarque, cumprimentei a simpática comissária, ganhei um sorriso em troca e embarquei.

 

Passando a porta do avião não pude deixar de notar numa linda aeromoça filipina com rosto traçado de forma suave característico daquela parte do mundo e que eu levaria, sem pensar duas vezes, para o tal destino paradisíaco que fica ali perto cujo vôo foi “subtraído” para acabar com a concorrência.

 

Aquela aeromoça foi das mais bonitas que já vi, juntamente com uma outra companheira de profissão dela e que vi numa outra vez, num vôo pra lá de inacreditável (seu simplesmente não acreditava que estava fazendo aquilo, voando de Thai Airlines da África do Sul para Tailândia) e que era o clone da atriz londrina Rachel Weisz (aquela da trilogia “A múmia”), só que com traços levemente asiáticos afinal era ela tailandesa.

 

Naquela ocasião eu só não interrompi o trabalho da moça pra perguntar se era ela mesmo a tal atriz na versão asiática porque vai que ela me respondesse algo como “Sou eu sim, estou disfarçada de comissária para caçar múmias como você. Agora me responde : Asian or western food, sir ? ” E tudo isso dito de um jeito que resumia bem o bordão característico da competentíssima companhia aérea tailandesa : Smooth as a silk . Imaginem o mico ! Já que era assim, achei melhor deixar o comentário da aeromoça parecida, mas com detalhes orientais, com a atriz inglesa pra lá.

 

O avião que me levaria para as Filipinas era um Airbus 319 igual aos da TAM, só que um pouco mais velho. Essa cia aérea comprou uns 5 Airbus zero quilômetro esse ano então creio que esteja em processo de ampliação, o que acho ótimo. Philippines Airlines que se cuide, daqui a pouco ela é engolida.

 

Falando nisso, a British Airlines se juntou com a espanhola Iberia. Isso que eu chamo de decadência, realmente os súditos da rainha não são mais o mesmo. Será que não tinha uma pior não ? Também, pra quem estava passando o pires e pedindo para os funcionários abrirem mão dos salários e trabalharem de graça, vai saber. Mas pqp, se juntar a uma cia espanhola ? Se a moda pega (já pegou, tá todo mundo se juntando para ver se garante a sobrevivência, parecem os bancos. Viva a globalização) daqui a pouco a Ryanair “taxas-pra-que-te-quero” engole as duas juntas.

 

Havia bastante poltronas vazias, me dirigi ao fundo do avião, já tinha meu assento marcado mas nem precisava.

 

Me ajeitei na poltrona e só tinha que esperar. O vôo seria relativamente curto e em 3 horas eu chegaria em Manila. Já havia passado da meia-noite mas dormir ali nem pensar, aquela ansiedade característica antes de um vôo não me permitiria pregar os olhos.

 

Pois é, tais deslocamentos são partes importantes numa jornada que inclui destinos diferentes numa mesma viagem. Custam caro e tempo então devem ser feitos e planejados com carinho e muita atenção para evitar desgaste e um rombo no bolso.

 

Apesar de eu ainda não ser totalmente adepto ao slow travel (mas eu chego lá), gosto muito da idéia e esse jeito de viajar tem o meu total apoio e admiração.

 

Por outro lado ainda não aprendi a fórmula mágica do maraturismo (adoro o termo) para poder visitar 5 cidades diferentes, sendo 4 capitais, em apenas 5 dias. Típico daqueles que andam com bandeirinhas costuradas na mochila (15 países em 30 dias) e saem em todas as fotos no estilo auto-retrato (uma ou outra vá lá mas TODAS ?!?!), afinal eles têm que provar que tiveram lá. Insegurança é uma coisa mesmo. Depois ainda falam dos turistas que viajam pelas janelas dos ônibus. E também falam dos simpáticos japoneses que viajam em grupo tirando foto de tudo.

 

Será que a idéia do teletransportador vingou ? Se alguém souber me avisa porque eu pensava que isso era apenas em filme de ficção.

 

Tudo bem que numa trip a gente quer ir à todos os lugares e fazer “tudo ao mesmo tempo agora” afinal depois de tanto sacrifício (pelo menos pra quem não é gringo e nem expatriado) conseguimos realizar a viagem que sempre sonhamos naquele curto período de férias que temos, mas precisamos perceber que tudo tem limite pois “dois destinos legais não ocupam o mesmo espaço de tempo”.

 

As pessoas esquecem ou não contam o tempo de deslocamento de um lugar para o outro e da grana gasta com tais deslocamentos nessa brincadeira. Isso pra não falar da reinvenção da matemática (ou seria reinvenção do tempo ?) : “Gentém, vou chegar segunda feira à noite em Amsterdam e irei embora na quarta pela manhã, vocês acham que TRÊS DIAS (?!?!?!) são suficientes para conhecer a cidade ?”

 

Putz, o que será que esse povo anda tomando, speed ? (desculpa o trocadilho).

 

Além de ser estressante e dispendiosa, a pessoa sempre fica com aquela sensação de “saída”, nunca de “chegada” afinal nem dá tempo de parar e curtir um pouco mais o lugar, por alguns momentos que seja. Parar só pra tirar foto mesmo.

 

Mas enfim, cada um com seu cada qual. O que vale é viajar, né ?

 

Pouco tempo depois a comissária (aquela mais gata) passou conferindo se estava tudo ok para decolagem e começou a indisponibilizar alguns assentos, mexendo nas almofadas. Quando ela viu minha cara de interrogação ela soltou “é para ajudar no equilíbrio do avião”. Não me perguntem.

 

Nisso o piloto deu a chamada (a comunicação entre a tripulação e a cabine de comando era feita em inglês), as aeromoças fizeram aquela demonstração de segurança inútil mas, sei lá, deve ter com os tempos de outrora porque hoje em dia ninguém presta atenção - a não ser que a aeromoça seja gata - e lá fomos nós para um dos momentos mais fascinantes de voar : a decolagem.

 

Os pilotos taxiaram a aeronave até a cabeceira da pista, não se fizeram de rogados e saíram de segunda ! Nada de parar, apontar, se benzer (rs), soltar os freios e ir pro abraço ! Arrojados esses pilotos filipinos... Será que teve a ver com o equilíbrio perfeito que conseguiram com a re-arranjo das almofadas das poltronas vazias ?

 

Só sei que nem deu tempo de respirar, os caras saíram de segunda mesmo à milhão. Haja velocidade e potência para colocar um tubo com asas e mais de 40 toneladas de peso no ar. Ao contrário do endiabrado vocalista do Iron Maiden (o cara é piloto. E nada de jatinho não, ele é piloto comercial mesmo, pousou até em Congonhas...), o Rubinho jamais poderia ser piloto de avião. Muita velocidade, sabe como é, ele não se sente muito bem nessa situação. hehehe

 

Rapidinho alcançamos a altitude desejada, o piloto alinhou o avião e agora era só esperar. Acho voar tão fora da nossa natureza que, pqp, piloto pra mim é um ser de outro planeta, só pode ser ! Eu dizia isso pra um ex-piloto pai de um amigo meu e ele não achava nada disso, pra ele a sua profissão era algo “absolutamente normal”, uma espécie de “chofer de luxo”. Para minha indignação, dizia isso do jeito mais blasé possível. Sei, tô falando que pilotos são de outro planeta ! rsrs

 

O serviço de bordo foi rápido pois o avião estava bem vazio e ninguém muito a fim de comer. Eu tinha me esquecido que estava numa cia low cost (pra mim ela não parece), então o rango era vendido. “Food for sale”, diziam as simpáticas comissárias enquanto empurravam o carrinho pelo corredor apertado. Eu não estava com fome àquela hora da madrugada e também não gostei muito da cara do rango : nooddles. E tinha que pagar ! E tem gente reclamando de barrinha de cereal...de graça. rsrs

 

O vôo foi do jeito que eu gosto : tranqüilo, relativamente rápido e sem muitas emoções. Tiveram alguns momentos de turbulência (sempre tem !) mas nada muito desesperador, apenas assustador mesmo, só pra não fugir a regra. Quando vão inventar um avião a prova de turbulência ?

 

A madrugada avançava, eu nada de dormir (será que ainda vou aprender ? Estou pensando seriamente em apelar para o tal DRAMIN) então fiquei “curtindo” o vôo do jeito que dava. A tripulação até tentou colaborar fazendo sorteios e pequenos jogos de adivinhação com direito a prêmios para a ajudar a fazer a jornada mais prazerosa. Não, não rolou bingo.

 

Depois de algum tempo, finalmente a hora mais esperada do vôo : a aterrissagem, o que pra mim também é uma das melhores afinal isso é prova que estamos chegando. Em poucos minutos o breu do mar da China foi substituído por luzes da cidade. Sobrevoamos Manila por um tempo e iniciamos a descida. Logo depois a aeronave tocou o solo suavemente, desacelerou e foi estacionar lá na frente, perto do saguão. Eu percebi que o vôo havia durado por volta de 2:45hrs (não que eu estivesse contando) ao invés das 3 horas previstas.

 

Logo após o pouso a aeromoça confirmou o que eu já havia percebido : chegamos com 15 minutos de antecedência e eu deduzi que foi por conta de um vento de cauda no sentido leste-oeste. Tá bom, eu entrego... deduzi nada, foi puro chute mesmo !

 

Após toda aquela ansiedade do vôo vem a ansiedade da chegada : “PQP, estou nas Filipinas !”.

 

Aquela hora da madrugada a cidade ainda dormia e o aeroporto estava quase vazio, só tinha o nosso vôo chegando. Formaram-se algumas filas no guichê de imigração mas como sempre acontece em filas e no trânsito, a do lado sempre anda muito mais rápido. Pra ajudar tinha um monte de estudantes de Cingapura na minha frente que travou a fila em que eu estava enquanto os recém-chegados nas outras filas eram atendidos rapidamente ! É sempre assim !

 

Resolvido os trâmites burocráticos, lá fui eu achar minha mochila. Não sei quando foi construído mas que aquele aeroporto me pareceu novo, isso sim. Achei ele grande, bom para pousar aeronaves maiores num país-ilha onde existem muitos vôos com aviões de menor porte, mas como Manila é uma cidade grande e também recebe vôos de longa distância, aquele aeroporto para Manila tava bom demais, ao contrário do aperto do “soviético” Cumbica para uma cidade como Sampa. Com o tempo e as conexões diversas, tive bastante tempo de explorar aquele aeroporto mais tarde, contra a minha vontade, confesso. Manila é ponto de conexão, concordo com quem disse que para ir no banheiro nas Filipinas a pessoa tem que passar por ali. Herança lusa ou espanhola ? (NR. A colonização européia das Filipinas foi espanhola. Coitados...).

 

Fui um dos últimos ao chegar ao saguão e a esteira já estava girando com um monte de bagagens. Até ali estava tranqüilo, não ia perder tempo em Manila, estava ali só para conexão e tinha tempo de sobra para o meu próximo vôo com direção a praia dos Butandings. Mal podia esperar para cair no mar.

 

A esteira estava esvaziando e nada de aparecer minha mochila. Parou um pouco de sair bagagem e quando recomeçou, nada da minha mochila de novo. Até aí eu estava calmo, esperando...esperando...esperando.

 

A espera passou a ser demora que em pouco tempo virou um suspense que momentos depois se transformou numa angústia quase igual aquela que a gente tem enquanto não sai a nota da prova daquela matéria dificil daquele professor lazarento e fdp.

 

Eu sei que o sonho de todo o viajante é viajar sem bagagem mas daí pra perder a mochila quando tinha uma conexão na manhã seguinte indo para um fim do mundo era de lascar.

 

A esteira continua girando e nada da minha mochila…

 

Pra aumentar o imbróglio, que por sinal estava quase começando a imbrogliar meu

estômago (exagero, eu sei. É só para aumentar o suspense mesmo...), o próximo vôo daquela cia aérea proveniente de Bangkok seria só na madrugada seguinte e eu nem tinha endereço para a cia áerea enviar minha bagagem perdida.

 

A esteira esvaziando...

 

Quando eu inseri as Filipinas na minha trip de maneira milimetricamente cirúrgica com bastante competência, inteligência, classe, durante longas noites pois durante o dia eu trabalho duro (afinal não sou funcionário público), determinação, “catiguria” (sic!), precisão, conhecimento de causa, um trabalho árduo e dificil (que nada, eu adoro planejar trips assim), louvor, pontualidade, vontade, dedicação, etc. (e digo tudo isso na mais absoluta modéstia, que fique bem claro !!!), perder mochila não estava nos meus planos.

 

Até cheguei a considerar viajar sem a mochila maior (tinha um desconto merreca) mas com toda essa neurose de segurança até com produtos de higiene (me falem, como alguém pode explodir um avião com creme dental, shampoo, fio dental, barbeador, cotonete e tesoura de unha ? Mas nem o Macgyver !), achei melhor levar a mochilona, que não era tão “lona” assim, longe disso. Eu sou mochileiro, não sacoleiro ou muambeiro.

 

E a esteira continuava passando, cada vez mais vazia, assim como o saguão onde os passageiros pegavam sua bagagem e iam embora.

 

Tudo bem que dos quatro mais importantes ingredientes pra quem deseja dar a volta ao mundo (atitude, passaporte válido, cartão de crédito internacional e escova de dentes) eu estava com os três primeiros ali comigo e a última, que ficou na mochilona, era fácil de conseguir ali na lojinha de conveniência do aeroporto mesmo, mas realmente sem mochila eu não ia ficar, não mesmo. "Poxa, o vôo estava vazio !", pensei comigo mesmo, como se isso contasse alguma coisa quando o assunto é perda de bagagem pelas cias aéreas.

 

A esteira continua girando...

 

Seria um sinal ? Confesso que de quando em vez passava alguns pensamentos na minha cabeça como : “será que eu deveria ter ficado na Tailândia curtindo as praias, tentando a sorte com as suecas, saltando do teto de barcos em águas trepidas e cristalinas, descansando (dá-lhe gerundismo!!!!grrr) ? Ou quem sabe poderia ter ido revisitar o Camboja, talvez o Vietnam para treinar os saltos do teto do barco em Halong Bay (nem gosto de lembrar, dei um mal jeito danado nas costas. O babaca aqui foi se exibir pras gringas e só podia dar nisso...rsrs ), quem sabe repetir o floating (acho que eles chamam de river tubing) em Vang Vieng, no Laos ? Uma experiência engraçada e um tanto surreal. Falando em Laos, uma visita naquela cachoeira (pra mim a mais bonita do mundo) cujo nome eu esqueci (oops) também seria umas, ainda mais estando perto da bela Luang Prabang.

 

De repente poderia ter ido pra Borneo ou uma visita rápida para algum dos destinos da “Ásia enlatada” ? Humn, esse último não combina comigo. Não sei, mas tinha que ser um lugar rápido, barato e perto da Tailândia porque o tempo era curto. Talvez uma esticada para rever os templos em Bali ? Talvez ter feito aquela esticada que eu não fiz no ano passado (a sueca não deixou...), saindo de Phi Phi para uma ilha da Malásia ali perto e fazer snorkeling com tubarões ?

 

Last but not least, quem sabe realizar o sonho e ter ido pras Maldivas, afinal com a grana economizada (bendito planejamento para RTW) eu teria dindin de sobra para essa extravagância. Imaginem só, Tahiti e Maldivas numa mesma trip RTW !!!!! Eu ainda chego lá, ô se chego. E sem precisar ganhar na Megasena. Mas para isso tenho que aprender a mergulhar.

 

A esteira continuava passando e nada de mochila...

 

Vamos lá mochila, não desista por favor, lembre-se “o pulso ainda pulsa” !!!

 

Depois de um tempão que se arrastou por uma eternidade, o saguão esvaziou e só sobraram os funcionários do aeroporto e um brasileiro perdido com uma interrogação na testa, a segunda em menos de 4 horas, e cheio de perguntas na cabeça :

 

Será que minha mochila não veio ? Será que mandaram ela pra Beijing ? Será que ela era tão bonita assim (mas isso ela é mesmo. Foi escolhida a dedo, sempre no bom sentido, é claro) que algum corinthiano da região se apoderou dela ? Será isso, será aquilo, será só imaginação ou será o Benedito ?

 

Só sei que ela realmente não apareceu, sendo assim olhei para os lados e comecei a considerar minhas opções :

 

Sentar e chorar ? Esquece, homem não chora.

 

Ajoelhar e rezar ? Deus me livre (pausa para o sinal da cruz) ! Sou ateu (graças a Deus !), sem chance.

 

Juntar os simpáticos funcionários ainda ali presentes, dar as mãos, fazer um coro e cantar “Kumbaya my Lord !” ? Iria ser muito cômico, se trágico não fosse.

 

Muita calma nessa hora, nada de exageros. São em momentos dificeis da vida de um viajante a 20.000 kms de distância de todos os seus ente-queridos, numa terra sem nenhum rosto conhecido por perto para dar um apoio, enfrentando uma situação crítica onde tomadas de decisões erradas poderão desencadear em conseqüências imprevisíveis, onde os homens são separados dos meninos e os viajantes dos turistas, em que você deve criar coragem, levantar a cabeça, respirar fundo, contar até dez, escolher cuidadosamente e com sabedoria as palavras certas no momento certo que expressam com exatidão a gravidade da situação, estufar o peito e dizer de boca cheia, nem que seja para você mesmo, em alto, claro e bom som : "FODEU" !

 

Valeu galera pela companhia, no próximo relato eu continuo.

 

Abraços

 

Virunga

Editado por Visitante
  • 2 semanas depois...
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Oi pessoal, eu demoro mas apareço. Nada do que se preocupar porque é claro que vou terminar o relato, ainda mais sendo de uma trip volta ao mundo.

 

Espero que um dia vocês façam o mesmo pois é muito mais fácil do que imagina desde que a pessoa saiba escolher a maneira mais eficiente e ace$$ivel, caso contrário corre o risco de ficar só no sonho e não é essa a idéia quando comecei a escrever. Deixo isso pros $churmann da vida.

 

Continuando...

 

Depois de comprovado que da esteira não ia sair mais nada e um tanto aliviado depois da constatação (vide último paragrafo do relato anterior), era hora de arregaçar as mangas e ir à luta afinal a situação precisava ser resolvida. Dei uma olhada no saguão quase deserto e descobri uma espécie de balcão onde havia alguns funcionários.

 

Me arrastei na direção deles já sabendo a bateria de perguntas que teria que responder, afinal não foi a primeira vez que iria passar por tal situação. Foi a segunda. Na primeira vez havia sido em Bali, cheguei naquela ilha da Indonésia mas minha mochila ficou passeando em Hong Kong. No aeroporto o cara havia me pedido uma camisa da seleção do Brasil para resolver o problema, óbvio que eu não tinha e já expliquei aqui antes.

 

Recém-chegado nas Filipinas, no caminho até o balcão eu fiquei imaginando se isso fosse nos States, o que será que pediriam ? Uma maldita “tip” afinal aquele país é movido a isso. “Take or leave it”. Acho que não ia dar certo porque estou pensando seriamente em ficar adepto ao "TOC" (Tip O Cacete !).

 

Estava um tanto mal humorado mas não havia muito o que fazer e não ia descontar nos funcionários, né ?

 

Estaria eu mal humorado por ter que lidar com aquela situação tão comum nos aeroportos mundo afora ? Estaria eu mal humorado por não ter pregado os olhos naquela longa noite ? Ou meu mau humor tinha a ver por estar sem mochila, sem lenço e com pouco documento ? Que nada, estava mal humorado porque em breve o dia já ia amanhecer e eu sem pelo menos um gole de café preto me deixa bravo mesmo. Enquanto não tomo um baita copo (ou xícara, mas tem que ser das grandes) de café pela manhã meu dia não começa. Melhor nem chegar perto... rsrs

 

Cheguei ao balcão e rapidamente se formou uma pequena comissão com funcionários super prestativos que na hora me desarmou. Não tinha cabimento eu virar um turista ali e fazer um escarcéu, né ? O pessoal foi super bacana e seria capaz de apostar que eles ficaram contentes com o acontecido só para terem o prazer de prestar ajuda. Muito bacana essa primeira impressão do povo, digo, segunda porque a primeira foi com as comissárias.

 

Eu conversei com eles num inglês “cheio de dedos”, caprichando na pronúncia, falando pausadamente para que eles pudessem me entender direito. Pois é, como eu não sou gringo então eu sei que apesar do inglês ser um idioma mundial eu também sei que não é todo o mundo que domina o idioma. Não contem pra ninguém mas até aquele momento eu não tinha sacado que o país é praticamente bilíngüe, isso fora os vários dialetos... Oops.

 

Depois começou a hora de preencher aquele formulário que não ajuda muito mas não tinha como fugir. Estava torcendo para um dos atendentes fazer que nem fêz o cara do aeroporto de Bali. Não, nada de pedir camisa da seleção mas sim pegar o código da bagagem, digitar no computador e dizer que minha mochila estava não sei aonde, de preferência na Ásia...

 

Mas que nada, o cara começou a preencher o formulário e minhas esperanças foram se esvaindo a medida que ele escrevia alguma coisa.

 

Poxa, cadê o computador mágico ? Pega aqui o código da bagagem, digita no computador do Sherlock Holmes e fala que encontraram minha mochila sã e salva !

 

Já estava sem esperanças quando algo aconteceu : alguém chamou lá perto da porta, eu olho e avisto dois funcionários próximos a algumas bagagens isoladas bem no canto perto da saída !

 

Depois chegou uma funcionária esbaforida, falou com seu companheiro de trabalho e vi que meu problema estava resolvido :

 

“Apareceu a Margarida !”, digo, “apareceu a mochila !”

 

Puxa vida, já era sem tempo !

 

De longe mesmo eu a vi : linda, leve e preta. Com detalhes cinzas.

 

O “comitê da mochila perdida” respirou aliviado, rasgou o formulário inútil e percebendo minha alegria, riu comigo.

 

Felizmente no fim deu tudo certo. O que aconteceu foi que algum corinthiano (humn, acho que não. Se fosse corinthiano eu não veria minha mochila nunca mais... rs) pegou ela por engano mas felizmente percebeu que “aquele objeto não o pertencia”. Não quero acreditar que alguém tentou roubá-la, deve ter levado ela por engano mesmo, aí quando estava perto da saída, percebeu a tempo. Só acho que pelo menos o desatento individuo poderia ter dado ao trabalho de retorná-la para a esteira, afinal certamente ela tinha dono. Eu.

 

Para a próxima trip já bolei uma identificação legal para assim vai evitar “enganos” futuros. Num repente de criatividade que até hoje não acredito que fui capaz, vou mandar fazer uma identificação bem legal, agora periga alguém gostar tanto que vai levar a mochila por causa da identificação, e não por causa da mochila propriamente dita...rs Dia desses eu explico. Ah, nada de bandeirinhas costuradas, me poupe. Qual o próximo, uma bandeira gigante do Brasil pendurada ? Me poupe de novo...

 

Mas tudo bem, nada de ficar resmungando, segue o jogo.

 

Agradeci e fui em direção a saída do saguão, peguei minha mochila indefesa e fomos dar continuidade na viagem, afinal ainda faltava um vôo curto para chegar no meu destino final.

 

Só um parênteses aqui : viram como é importante sair dos rudimentos de inglês ? Aquele “the book is on the table” pode não ser suficiente para certas situações de viagem. E nem o “Hello, I am from Brazil. Ronaaaldooo, yeah”. Seu conhecimento no idioma pode até ser meio tosco, mas se souber um pouquinho a mais vai te ajudar bastante. O crianção Bruno de Lucca que o diga. Ainda nas Filipinas ocorreu um evento que precisei de jogo de cintura e utilizar bastante o inglês pra me safar e também teve a ver com logística de viagem, mais uma vez relacionado a vôos. Depois eu conto.

 

Saí daquela área de bagagens e fiquei impressionado com o aeroporto, apesar de chato ele era bem novo, “quite” organizado, seguro e bastante limpo.

 

Como eu disse antes, pra mim ele tinha um “quê’ de “óóbra de Mááluf”, uma espécie de elefante branco, não sei explicar. Um tanto quanto exagerado para o lugar (apesar de não ter conhecido Manila, tenho certeza que tanto a cidade quanto o simpático país merecem um aeroporto decente), tinha pinta de obra sobrefaturada também, mas não me perguntem o porquê, sei lá, bastante espaço inutilizado. Prefiro achar que ele ainda está em plano de expansão.

 

Apesar de Manila não ser exatamente um hub da região, ela recebe vôos dos mais diversos lugares, muitos deles com preços bastante atraentes. Uma jóia a ser descoberta. E com o advento das cias aéreas low cost, cedo ou tarde Manila ia começar a receber vôos delas também, o que torna o país um destino ainda mais promissor.

 

Transporte interno nas Filipinas me pareceu bastante complicado então um aeroporto moderno se faz necessário, e não nos esqueçamos que as Filipinas é um país-arquipélago então os deslocamentos podem demandar bastante tempo. Isso pra não falar das mazelas da natureza como chuvas, deslizamentos, mares bravios e furacões que somados a infra-estrutura pior do que a brasuca, já viu no que pode dar, né ?

 

Dei uma volta pelo aeroporto tentando localizar meu vôo e cheguei no saguão dos check-ins, onde já havia bastante movimentação. O aeroporto tinha uma infra legal, só que parecia aqueles lugares pra onde alguém acaba de se mudar : bastante espaço pra pouca coisa.

 

Rolava um certo "bololô de honolulu" (muvuca, para os menos iniciados) num determinado lugar enquanto a poucos metros dali estava tudo vazio, achei que poderiam distribuir melhor os espaços. Pra ajudar, só entrava ali quem estava com a passagem (eu sei, isso é normal) mas como dava para atravessar e cortar caminho por ali, as pessoas tentavam fazer isso a toda hora mas eram prontamente barradas pelo “guardinha de trânsito de aeroporto”. Sendo assim, só cabia dar uma baita volta para chegar no outro lado.

 

Havia meia dúzia de monitores mostrando os próximos vôos, a maioria era de vôos internos mas não se enganem, já falei que em Manila chega e sai vôos de muitos lugares.

 

Achei meu vôo que partiria dali a algumas horas mas vi também que havia um vôo indo para o meu destino em breve e achei que poderia tentar um assento nele, poupando longas e entendiantes horas naquele aeroporto e caso eu tivesse sorte em poucas horas poderia estar no mar atrás dos butandings afinal a gente veio aqui pra procurar butandings ou para mofar em aeroporto ?

 

Me dirigi ao setor do check-in, falei com o “oficial coordenador de movimento interno”(leia guardinha de trânsito de aeroporto), ele me pediu pra ver o ticket mesmo sabendo que eu queria só uma informação mas foi de boa, apesar de as vezes eu parecer chato na maioria das vezes sou bem sussu, ainda mais quando estou viajando feliz da vida. Claro que às vezes o caldo entorna e eu fico longe de ser bonzinho e calmo mas tento saber separar o joio do trigo e não sair distribuindo abordoada pra todo lado.

 

Aqui em Brasília acontece direto, sabe como é, mentalidade de funcionalismo público e tal, setor de serviços uma desgraça, muito bom pra treinar a paciência, principalmente praqueles que não tem muita.

 

Mostrei meus tickets pro guardinha e fui prontamente liberado para falar com a moça do check-in. Na fila percebi alguns turistas que iriam embarcar naquele vôo e um deles estava com uma bagagem de mão que confirmou minhas expectativas : apesar de estar no fim da estação acho que ainda dava tempo de pegar os últimos butandings estacionados nas Filipinas antes de recomeçarem sua jornada nômade pelos mares.

 

O rapaz viajava com a mãe e carregava uma sacola com nadadeiras e snorkel...Sacola mesmo, nada daquelas bolsas especiais de formato bacana e que, espero, ainda vou ter uma.

 

Rapidamente chegou minha vez, expliquei o caso para a simpática atendente, ela anotou alguns dados do meu ticket, digitou alguma coisa no computador e...

 

“Sorry sir, infelizmente não posso colocar o senhor nesse vôo porque seu ticket é código “não sei o que lá” quando deveria ser o código “não sei das quantas”.

 

“Ah tá, sei.” Lamentei, caprichando na minha cara de tacho. Até tentei contra-argumentar mas pra ajudar o vôo estava lotado então sem chances, teria que esperar o meu vôo mesmo, horas depois mas ainda no começo da manhã.

 

O que aconteceu foi que, como comprei o ticket “casado” (as so speak), não tinha como adiantar esse segundo vôo. Na próxima vez vou tentar comprar em separado, quem sabe terei mais sorte. Eu lembro que das minhas 247 tentativas eu tentei fazer algo do gênero mas não pude, deu uma confusão no site e o destino sumiu da tela. Só fui achar ele de novo uns 355 cliques depois. Vai entender...

 

Agradeci e fui achar um lugar para esperar meu vôo. O dia já tinha amanhecido e percebi que o aeroporto não ficava tão longe assim da cidade mas sair para dar uma volta era fora de cogitação.

 

Apesar de ser uma pessoa de cidade grande e de gostar da maioria dessas, não estava com muito saco para conhecer Manila. Não sabia muito a respeito e fiquei com receio de ter aquela “herança” em forma de Plazas e Iglesias. No gracias. Sei lá, se tivesse uma plaza de Armas e uma “vibe” a la Cuzco, vá lá mas eu duvido. Deduzi que ali poderia ser diferente, colonização espanhola na Ásia seria um mix pitoresco mas mesmo assim não cogitei conhecê-la, mesmo se tivesse tempo.

 

Como me falou um inglês companheiro de quarto num hospedaria na Jordânia e que tinha viajado pela América Central : “depois de um tempo tudo parece igual”; (ele se referia as cidades).

 

Claro que ali na Ásia seria diferente com seus meios de transportes característicos, gente de traços orientais e a bagunça característica de cidades de paises em desenvolvimento mas acho que uma hora dessas já deu pra perceber que Espanha e/ou Portugal e suas ex-filiais não fazem parte da minha lista de coisas que me atraem. Prefiro ir à Kabul. O lance de voltar a Barcelona continua de pé (no bom sentido, é claro), seguindo aquela condição que eu expus anteriormente.

 

Mesmo se eu quisesse arriscar a dar uma volta na cidade também não teria tempo, Manila pra mim é apenas conexão, simples assim. E quando eu pisar nas Filipinas de novo vai ser o mesmo esquema, espero que até lá a malha aérea seja mais simpática com os viajantes.

 

Dei uma caminhada pra matar o tempo (o aeroporto é grande mas não tem quase nada pra ver e fazer), troquei alguma grana e fui procurar um lugar pra tomar meu café da manhã, estava mais do que na hora afinal eu estava até aquele momento “coffeeless” e, repito, melhor não ficar muito perto quando estou assim.

 

Subi até o mezzanino que não tem vista pra lugar nenhum (?!?!?!), nem uma janela pra gente ficar vendo o sobe e desce de avião (eu sei, coisa de paulista então mereço um desconto...rsrs) e ali havia algumas poucas opções para fazer um rango rápido.

 

Tinha um balcão que vendia pizzas, mas estava fechado, havia um fastfood com comidas que não cairiam bem naquela hora da manhã mas que estava bastante movimentado, um mini-mercado que me lembrou uma loja de conveniência com preços camaradas e guloseimas como bolos de chocolates embalados e pedindo para serem devorados numa mordida só.

 

Havia também uns pequenos estandes vendendo café da manhã com cara de café da manhã : café preto, café com leite e alguns salgadinhos com pinta de croissant e afins. Voilá, era isso que eu e meu estômago estávamos precisando ! Um pãozinho com manteiga seria o bicho mas aí seria pedir demais.

 

Escolhi um que parecia o melhor e com os salgados ainda soltando aquela fumaça de recém-chegado, digo, recém-saído do forno, conversei rapidamente com o atendente que era bastante simpático também (chover no molhado nas Filipinas, juntamente com os fijianos e, no geral, latino-americanos, achei eles o povo mais amigável que já tive o prazer de conhecer) e ele caprichou no café. Foi tão bom que tive de repetir.

 

O mezzanino era até ajeitado mas faltava lugar para a pessoa sentar e comer sossegado. Entre lojas e lugares para comer, acho que não chegava a sete ou, quiçá, uns dez estabelecimentos. Não que tivesse muita gente, mas faltava mobília para quem quisesse comer em paz. Ainda prefiro pensar que o aeroporto estava em reformas então dei um desconto. Esperei uma garota terminar a refeição dela e achei um lugar bom.

 

De estômago cheio e com o humor renovado era hora de dar mais uma volta pelo saguão do aeroporto enquanto meu vôo não chegava. As horas passaram vagarosamente e finalmente meu vôo apareceu no monitor. Hora do check-in !

 

Fui um dos primeiros da fila mas não ajudou muito. Para (não) variar as filas ao lado andaram muito mais rápido e a passageira que estava na minha frente, uma local, demorou um tempão. Depois eu descobri que tinha algo a ver com excesso de bagagem, ultrapassou um pouco e foi aquele Buda nos acuda para pagar, arrumar troco, pegar recibo, assina daqui, assina acolá, pesa de novo (!?!?!), reclama da vírgula, reclama do preço e assim foi um tempão.

 

Na minha vez deu tudo certo, minha mochila estava dentro dos limites então foi rápido. Depois ainda tive que pagar uma grana de taxa de aeroporto que eu pensava que estava inclusono ticket mas que nada. Aquele aeroporto arrecada muita grana e as taxas não são muito palatáveis mas como eu não sabia o câmbio direito (até hoje eu não sei ! Crianças não façam isso em casa), fingi que não percebi que eram caras, fui lá e paguei. A internacional era uma facada que eu tive o desprazer de pagar quando deixei o país.

 

O local de pagamento era nos guichês pouco antes do famigerado security-check, que por sinal fizeram todo mundo tirar os calçados e mesmo depois de passar pelo detector de metais ainda tínhamos que ser revistados por um agente. As Filipinas fazem parte do circuito de terroristas então todo o cuidado é pouco. Pena que esqueceram dos outros aeroportos, depois eu volto nisso.

 

Finalmente estava no saguão interno do aeroporto, aquele que só entra passageiros mesmo. Mesmo esquema : longos corredores, muito espaço e meia dúzia de lojas e lanchonetes. Tudo muito limpo e quase tinindo de novo.

 

Achei meu portão de embarque e, acreditem vocês, mais espera. O vôo não chegava nunca e minha ansiedade aumentava mas felizmente depois de um bom tempo ele foi anunciado e embarcamos num outro Airbus 319 da simpática cia aérea filipina.

 

Eu fiquei um tanto surpreso porque pensava que iria voar naqueles turbo-hélices parecidos com os que voam para Noronha mas que nada, fomos de Airbus mesmo e quem sou eu pra reclamar ?

 

Fiz um cálculo rápido de cabeça e vi que demoraria algo em torno de uma hora, uma hora e pouco. Claro que havia a possibilidade de ir de ônibus mas pelo que eu pesquisei seria uma jornada overnight e tinha minhas dúvidas que seria direto. Totalmente fora de cogitação no meu caso, além da falta de tempo não teria as mínimas condições de ficar matando tempo em Manila até embarcar no ônibus noturno, viajar a noite toda para chegar no início da manhã seguinte, acertar acomodação, transporte, café da manhã e já cair no mar direto. Mesmo se eu fosse uma pessoa capaz de dormir em ônibus eu não faria. Isso aqui é férias e não programa “No Limite”. Já fiz algo parecido saindo de Cuzco até o Equador em busca de uma "playa" maravilhosa no Equador. Querem um conselho ? Jamais acreditem no gosto duvidoso de gringo para praias... rsrs

 

Tem todo aquele lance também de, como é uma volta ao mundo num período curto de pouco mais de um mês, a pessoa tem que estar ciente que vai ter que botar a mão no bolso para pagar um ou outro vôo a mais, às vezes gastar um pouco a mais aqui ou ali em troca de uma certa comodidade. Caso contrário vai ter que fazer uma viagem a noite toda “para economizar uma noite de acomodação” e chegar no dia seguinte totalmente pregado e ir “aproveitar” o lugar porque na noite seguinte estaria se mandando para outro local afinal “não há tempo a perder”. Isso pra mim é o que chamo de “economia porca” e realmente não é comigo. Qual a próxima dica de economia, viver de miojo, comer uma vez ao dia ? Tá louco, fique em casa ou junte mais grana...

 

Consegui um assento na primeira fila do avião e não lembro da última vez que aconteceu isso comigo pois eu sempre faço parte da turma do fundão. Bem na minha frente havia um adesivo grandão com o logo da cia aérea me dando as boas vindas... Falei que a cia aérea filipina era simpática. Ali no banco da frente tinha mais espaço e eu ainda sentei na janela e fui vendo o bonito cenário lá embaixo.

 

Esse vôo foi bem tranqüilo, no começo ainda consegui avistar o mar mas depois ficamos sobrevoando uma área montanhosa bastante verde e muito bonita. Havia algumas pequenas montanhas com formato engraçado que eu apelidei de “baby Chocolate Hills”. Já que não deu pra visitar a região original que fica ali mesmo nas Filipinas, fiquei feliz de ter visto um clone reduzido.

 

As aeromoças fizeram um jogo de adivinhação para ajudar a matar o tempo e venderam alguns produtos da cia aérea.

 

O vôo foi bem curto, do jeito que eu gosto (ultimamente pra mim qualquer vôo com mais de uma hora de duração me dá agonia. Preciso urgentemente resolver isso antes das próximas férias...) e rapidamente começamos os procedimentos de aterrissagem.

 

Procurei encontrar o vulcão Monte Mayon por entre as nuvens quando estávamos nos aproximando, mas consegui vi ele mesmo só quando eu estava em terra firme. Pra quem não sabe é um vulcão ainda ativo e absolutamente maravilhoso, com o formato perfeito que a gente tem de um vulcão que desenhamos quando criança. Fiquei feliz por ter visto um desses pois a última vez que vi um vulcão foi em Pucon, no Chile. Lindo de morrer mas o chileno tinha neve, o que o tornava ainda mais especial. E ainda soltava um vaporzinho pra mostrar quem é que manda.

 

O vulcão filipino também era majestoso, e como ! Bonitão, verde e ativo. As Filipinas estão cheias dessas forças da natureza e o povo já se acostumou a viver com a ameaça da natureza a poucos metros de casa. Volto nisso mais tarde com a história que passou nessa mesma cidade que um francês que mora nas Filipinas há 17 anos me contou.

 

O “aparelho mais fantástico do mundo” que dessa feita foi construído pelo consórcio europeu (galera, estou falando do avião da Airbus !!!) pousou suavemente no projeto de aeroporto. Adoro lugares distantes !

 

O aeroporto era um tanto acanhado e eu não pude conter o sorriso afinal esses “momentos Mastercard” em viagens realmente não tem preço. Todos os perrengues, esperas, sustos, grana, etc ficam pequenos comparados a satisfação de estar num lugar assim. E olha que eu nem tinha chegado ao saguão do aeroporto, quer dizer, vamos chamar de sala porque de saguão ali não tinha nada. Achei um sarro, me divirto bastante com essas coisas. Não comprometendo a segurança das pessoas pra mim tá tudo certo.

 

Desembarcamos e fomos a pé esperar a bagagem. Chegando na salinha me deparei com o que deve ser a menor esteira de aeroporto da face da terra : aquele móvel por onde corria a esteira devia ter uns cinco metros, se tanto, muito engraçado. Agora imagina aquilo ali recebendo as bagagens de um aviãozão daqueles.

 

Não tive como evitar e me lembrei da cara que faria a alemã (essa mina foi uma verdadeira “vela” danada naquela trip atrapalhando os esquemas com uma americana recém formada em medicina mas deixa pra lá...) com quem viajei parte de uma trip pela Namíbia e que achou o aeroporto de Windhoek uma piada se comparado com o de Frankfurt (e olha que o aeroporto da capital da Namibia era de gente grande) se visse um negócio daqueles. A garota era fascinada por aviação e me contou sobre um centro de treinamento próprio da Lufthansa, mais ou menos como aquela faculdade própria do MacDonalds só que ao invés de produzir administradores e bigmacs, esse centro produzia pilotos. Volto nessa garota mais tarde.

 

Todo mundo ficou ali espremido enquanto não chegava a primeira leva de malas. Notei que dentre os funcionários do aeroporto havia um tiozinho que desfilava para lá e pra cá com um uniforme com os dizeres “esquadrão de bomba”.

 

A parte interna do aeroporto ali era menor do que rodoviária de cidadezinha do interior e ficou todo mundo espremido enquanto as bagagens não chegava.

 

Avistei a minha mochila de longe ainda próxima ao avião e fiquei sossegado, agora era só esperar o pequeno caos sossegar um pouco que muito em breve eu estaria fora dali. Depois de um empurra empurra todo mundo pegou a sua bagagem e saiu fora, eu fiz o mesmo.

 

Depois de ter conseguido me livrar da saleta apertada com o pessoal brigando por sua bagagem, dei poucos passos e saí do aeroporto. Um não tão pequeno grupo de taxistas estava ali como comitê de boas vindas ao recém-chegados mas no geral estava bastante tranqüilo para situação, já encarei outras piores.Fiz cara de quem sabia exatamente pra onde estava indo e pra que lado seguir. Mentira, sabia nada. A única coisa que sabia era que estava ainda a mais de uma hora de distância do local onde eu deveria ir (lá não tem aeroporto e esse era o mais próximo) mas nada de pânico. Ainda era parte da manhã, havia acabado de chegar então vamos ver pra onde o vento aponta.

 

Uma vez no Cairo dois caras quase saíram na porrada e eu fiquei torcendo para que quebrassem o pau. Confesso que eu botei pilha, danem-se eles. Assim eu poderia pegar outro táxi tranquilamente enquanto os idiotas treinavam boxe mas infelizmente não deu em nada. Egito é uma piada mesmo. Uma pena que 5 mil anos de história sejam estragados por...ah, deixa pra lá.

 

Nisso chegou um cara que estava disputando a atenção dos passageiros e também tentando a sorte no meio dos seus amigos e concorrentes taxistas e gritou pra mim : “transport sir, 400 pesos ”. “Tudo isso ? Sai fora, tá caro !”, respondi num fôlego só sem ter a mínima noção se o preço estava caro ou barato, se eu ia pra longe ou pra perto, quanto dava isso em grana (eu ainda estava apanhando do câmbio. Crianças, de novo : não tentem isso em casa !), só sei que de primeira eu sempre respondo isso com vistas a despachar o cidadão.

 

Como eu estava bem humorado, respondi de boa. Ai se o cara fosse indiano quiçá egípcio... Deu dó só de pensar. Se fosse africano então, nossa ! o fuzuê estava armado : gargalhada, sarcasmo, chega-pra-lá e tiração de sarro pra todo lado...

 

Continuei com minha cara de quem sabia onde estava e fui ouvindo negociações de preço de terceiros. Dei uma chorada aqui e ali (ainda não tendo a mínima noção qual o preço da corrida e com uma vaga idéia pra onde queria ir) e o cara queria fazer negócio. “Por esse preço, sem chance” eu disse, sabendo que daquele mato ia sair cachorro.

 

Nisso o cara viu que se permanecesse com aquele preço comigo não iria sair negócio mas nem que a vaca tussa, chamou um outro rapaz e fechamos a 150,00. Não tinha a mínima noção do preço mas que pra mim me pareceu bom, isso sim !

 

Fomos caminhando em direção a rua e acabei entrando em um dos meios de transporte mais engraçados que já vi : um típico triciclo filipino, uma espécie de sidecar da era jurássica, valente e muuuuuuito divertido. Uma moto dessas que a gente conhece, só que muito mais velha com uma cabine minúscula acoplada. Não sabia que uma simples moto de baixa cilindrada pudesse carregar tanto peso que até Buda duvidaria. E nem vou entrar no quesito alegoria e decoração.

 

Um tanto perigoso para encarar trânsito pesado mas para percorrer distâncias pequenas tava bom demais.

 

Nossa, como eu adoro essas coisas ! Por isso que eu digo que viajar volta ao mundo não combina muito com detestáveis patricinhas e mauricinhos, o que eu particularmente acho ótimo porque raramente cruzo com eles por aí.

 

Me ajeitei ali naquela cabine minúscula e até agora não sei como coube minha mochila também. As cabines possuem diferentes tamanhos mas aquela em especifica foi tamanho mirim. Rapidamente tocamos rumo ao lugar de onde pegaria minha condução para a cidade que queria chegar. No caminho, um cenário tipicamente característico da região com suas ruas estreitas, carros pequenos, muita simplicidade, moradores entretidos cuidando de seus afazeres e a vida passando devagar.

 

“Putz, como eu estou longe de casa”, pensei comigo mesmo.

 

O trajeto foi relativamente curto mas deu pra dar uma rápida olhada no lugar. Finalmente chegamos ao local onde concentrava o transporte para diferentes cidades, vilarejos e afins. Era um terreno murado que estava mais para estacionamento de mecânica.

 

O piloto do triciclo confirmou pra onde eu estava indo e apontou a direção de uma van que estava prestes para sair. Nada de horário, encheu a van o motorista vai embora. Por sorte haviam algumas pessoas nela e por mais sorte ainda faltavam poucos lugares para encher a van.

 

Confirmei o destino, entreguei minha mochila pro cara instalar ela na parte de trás, me ajeitei ali na última fileira e estava pronto. Nisso passou um cara oferecendo uvas e disse “800 pesos”. “Tudo isso ? Tá caro !”, respondi de bate e pronto não tendo a mínima idéia se estava no preço ou não mas pelo que paguei na Van, aquela uva tava muito cara. Me arrependi depois porque experimentei algumas e estavam muitas boas ! Paciência.

 

Nisso chegou mais uma mulher, pegou o último assento vazio e era hora de partir. A van era confortável, pra quem já andou de matatu em Nairobi aquilo pra mim era limosine. E o motorista dirigia bem, nada dos psicopatas motoristas de vans ou ônibus daqui de Brasília. Ainda bem que pelo menos as vans saíram de circulação nas áreas mais nobres, provavelmente rolou algumas maletas recheadas de dinheiro para as autoridades. Agora continua rolando um tal de “propinetone” por essas bandas daqui...

 

Pegamos a estrada e mal sabia eu que estava indo para o lugar errado. Perrengue ? Que nada, longe disso ! Juntamente com a estrada que me levou para a Montanha dos Gorilas nos cafundós da África Central, aquela foi a estrada mais bonita que eu tive o privilégio de percorrer.

 

Mas isso vai ficar pro próximo relato.

 

Pessoal, aquele abraço e valeu pela companhia !

 

Virunga

 

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Caraca!!

demorou pra eu ler isso tudo :D

com certeza um dos melhores relatos do fórum ::cool:::'>

esperando pela continuação :wink:

 

Diga lá Artur,

 

Nossa, nem me fala ! Estou tentando editar mas quando vou ver o texto já ficou grande mais... Oops! Legal saber que você também está curtindo, valeu pelo elogio.

 

Pode deixar que a continuação sairá muito em breve, a saga continua.

 

Abraços,

 

Virunga.

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