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Serra do Cipó - 5 dias sob um sol escaldante


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Introdução

Estava me preparando psicologicamente pra visitar meus pais há duas semanas... Mas sempre aparecia uma coisa ou outra que adiava a viagem mais um pouco. Até que nosso estimado colega Jorge Soto me informou sobre um grupo que estava programando uma travessia de 6 dias pela Serra do Cipó, vizinha de Belo Horizonte, onde meus pais moram e bem quando eu procurava alguma ação por aquelas bandas. Pronto, foi a desculpa que eu precisava! Eu tinha uma semana pra me preparar pra duas empreitadas: 6-7 dias na serra do cipó e mais o mesmo tempo curtindo a família quando voltássemos da pernada...

 

Os protagonistas

[picturethis=http://farm4.static.flickr.com/3385/3599522836_cb6b75df43_o.jpg 453 320 foto]Katia - esta que vos escreve este relato, fora de forma, mas cheia de disposição

Jorge Soto – despirocado caminhante de longa data, conhece todos os roteiros (e mesmo os roteiros sem roteiro) que vc puder imaginar, foi meu fiel e paciente companheiro de fim de fila!

Carlos “Mamute” – o idealizador da travessia, cabeça dura e casca grossa - pra entender o apelido basta vê-lo numa trilha – ele FAZ a trilha se não houver uma!

Vivi – a aquariana mais feminina, vanguardista e destemida que eu conheço (como eu!)

Wyllyan – o único que conseguia acompanhar o ritmo do Mamute, aprendeu logo a usar a técnica de discutir o caminho com o nosso líder a fim de freá-lo um pouquinho (hehe obrigadaaa)[/picturethis]

A Empreitada

[picturethis2=http://farm4.static.flickr.com/3315/3598713667_7cd6097e19_o.jpg 320 453 foto]Saímos de SP na 6ª feira, peguei o Wyllyan pontualmente as 5 da tarde na saída do trabalho e seguimos para a zona leste para buscar a Vivi, onde chegamos quase 7 da noite. Só conseguimos “cair na estrada” mesmo após as 8 da noite, pois o trânsito estava infernal no começo da Fernão Dias. A viagem transcorreu sem eventos, e chegamos a BH em torno de 2 da manhã. Decidi levar meus novos amigos para comer a famosíssima lasanha da Afonso Pena, e chegamos na casa dos meus pais lá pelas 3 e meia.

Eu e Vivi fomos brutalmente acordadas pelo som ensurdecedor de uma britadeira as 7 da manhã... Enrola daqui enrola dali, saímos de casa as 10 horas com destino a Cardeal Mota, onde encontraríamos Jorge e Carlos vindos de SP. Em dois carros seguimos pela sinuosa MG 010 até o local onde começaríamos a jornada: uma porteira fechada com corrente ao lado da rodovia, no meio do nada. Minha mãe bem que tentou disfarçar, mas não entendeu nada do que pretendíamos fazer. As 13:10 começamos oficialmente a caminhada, seguindo uma trilha de pedras brancas em meio aos descampados típicos do cerrado. Logo na primeira subida já fui ficando pra trás.. mas tentava compensar nas descidas e nos planos, correndo atrás do prejuízo. Paramos em umas pedras para descansar um pouco, enquanto os outros foram procurar pinturas rupestres com a ajuda do GPS, aproveitei pra esticar as pernas. Continuamos descendo sentido Travessão, um canyon de paredes íngremes e verdes, em cujo vale corre o Rio do Peixe. O dia foi curto e as 17:10 paramos para arrumar o pernoite, num platozinho logo após o travessão.[/picturethis2]

[picturethis=http://farm3.static.flickr.com/2474/3598713793_6ec953205a_o.jpg 453 320 foto]Acordamos no 2º dia com o grito de despertar que seria nosso companheiro nos próximos dias: alvoradaaaa! Foi um dos amanheceres mais lindos que eu já vi: o vale do travessão estava forrado de nuvens, o sol saindo preguicosamente por detrás das montanhas.. e a medida que esquentava, as nuvens iam de desfazendo e se movendo montanha acima, como uma dança mágica que só a natureza pode proporcionar. Mal sabia eu o que esse dia me reservava: subidas e mais subidas, algumas bastante íngremes, outras nem tanto, mas todas bastante cansativas, principalmente porque neste dias quase não seguimos trilha nenhuma, caminhando muitas vezes em capim alto, que cansa bastante. Abri o bico e acabei tendo que passar um pouco do meu peso para os meninos carregarem. Caminhamos cerca de 3 horas até chegar ao Mirante do Rio do Peixe, lindíssimo, onde paramos pra descansar sobre uma formação rochosa com vocação para mesa. Depois de uma pausa de quase 1 hora, retomamos a caminhada, e algum tempo depois meu status de iniciante na arte do trekking me leva a convencer o grupo de abrir mão de uma subida íngreme em favor de uma rota mais plana rumo aos nossos próximos destinos: o pico dos 3 Penhascos e o pico do Curral, onde passamos a noite. Não agüentei e, mesmo sendo um tanto suspeito, aproveitei um poço por perto pra tirar o excesso do suor acumulado durante o dia. Porém aqui fica a dica! Se puder, evite acampar no pico do Curral.. o cheiro de bosta de vaca é horrível e não há água pra beber por perto. Mas se vc perguntar pra Vivi, aposto como ela achou pior a flatulência do Wyllyan na barraca que o cheiro da bosta vindo de fora! O Mamute bem que tentou amenizar nos trazendo duas lindas flores de caule longo, mas fez mais bem pro ego do que pro nariz :)[/picturethis]

[picturethis=http://farm4.static.flickr.com/3298/3599522928_9dddcc6f41_o.jpg 518 292 foto]Iniciamos o 3º dia racionando a água, o que tornou a subida ao pico do Curral ainda mais difícil. Eu e o Jorge acabamos seguindo uma trilhazinha que bordejava o pico pela direita, enquanto o pessoal subiu até o cume. Descemos na crista, que sensação maravilhosa! Caminhamos bastante num ritmo rápido.. neste ponto eu já tinha entendido o meu ritmo pessoal: para cada 3-4 horas de caminhada, uma parada grande fazia toda a diferença, e comecei e pedir (e logo mais a implorar) por uma pausa. Caminhar sob sol forte não é mole não! De dia é um calor de rachar, e de noite faz um friozinho chatinho. Parece que não há meio termo![/picturethis]

[picturethis2=http://farm3.static.flickr.com/2386/3599523260_45cf3341f1_o.jpg 414 312 foto]Neste dia não seguimos trilha, e eventualmente chegamos num foco de mata que nosso intrépido líder ia desbravando no peito.. embora o esforço tenha sido inútil, já que ficou decidido que não havia passagem, mas valeu pois encontramos uma casinha abandonada típica de cenário de filme de terror, que acabou inspirando todo mundo a deixar sua marca marrom na paisagem ... Saindo da mata atravessamos um riozinho na base da escalaminhada e caímos um vale de capim alto, que logo virou um brejo danado. Não houve bota (além da minha!) que não ficasse molhada. Sem outras opções, seguimos em frente, mal humorados e cansados. Quando deu 5 horas chegamos num pequeno vale cercado por água e, cansados, decidimos ficar por ali mesmo, embora o objetivo final ainda estivesse a 1km. Sempre corajoso, nosso líder seguiu pra procurar caminho até nossa próxima parada, mas acabou não voltando naquela noite. Fiquei bastante apreensiva, mas de manhã ele apareceu, todo arranhado, com bolhas nos pés e cansado, tentou voltar de noite, mas não achou caminho pela mata e acabou armando a barraca numa clareira lá no meio mesmo. Corajoso o bichinho! Apesar de que já tinha gente querendo caçar o coitado em SP se ele tivesse nos deixado na mão...[/picturethis2]

[picturethis=http://farm4.static.flickr.com/3305/3599523314_29ed2d0476_o.jpg 140 105 foto]Confesso que nesse dia fiquei chata. Não sei se foi o brejo no final do dia que me encheu a paciência, ou a TPM que já dava seus primeiros sinais, mas já não queria mais andar! Não sei se tem relação ou não, mas essa foi a primeira noite que realmente parei pra admirar o céu estrelado sobre nós. Fiquei hooooras olhando pra cima e admirando cada pontinho luminoso naquela imensidão negra...[/picturethis]

[picturethis2=http://farm4.static.flickr.com/3403/3598714035_28f5d51998_o.jpg 423 317 foto]No 4º dia encontramos uma trilha rumo a Serra dos Bandeirinhas, e seguimos por ela. Caminhamos bem rápido, e passamos por um enorme platô, lindo mesmo, antes de chegarmos ao topo da Cachoeira da Farofa lá pelo meio dia. Neste ponto o rio faz algumas pequenas quedas e poções convidativos ao banho, antes de despencar num paredão de uns bons 90 metros de altura. Largamos as mochilas e mergulhamos nas águas geladas. Aproveitei pra tomar sol e puxar um ronco enquanto o pessoal fez um ataque às partes mais baixas da cachoeira. Armamos nossas barracas bem ao lado do paredão da cachu, um visual lindíssimo.[/picturethis2]

[picturethis=http://farm3.static.flickr.com/2436/3599523156_593a87f4de_o.jpg 422 317 foto]Acordamos preguiçosos no 5º dia e aproveitamos mais um pouco as gélidas águas da cachoeira da farofa antes de partir. Daqui em diante era tudo descida, numa trilha pedregosa bem usada por animais. Realmente descer não é tão fácil quanto se pensa. Chega um momento em que simplesmente parece que as articulações do tornozelo vão falhar. Depois de umas duas horas caminhando, encontramos uma prainha fluvial super convidativa diante do sol escaldante do meio dia. Não pensamos duas vezes, tiramos as botas e atravessamos o leito do rio, comemos, descansamos e nadamos, e fomos até beliscados pelos lambaris que povoam estas águas cor de coca-cola. Saímos do aconchego da prainha lá pelas 3 da tarde, mas pernada que é pernada tem que ter desastre, e claro que eu fui a protagonista dele. Como prelúdio ao que viria a seguir, deixei cair o rolo de micropore na água.. não satisfeita, minha máquina fotográfica resolveu pular da minha mão e dar um tchibum também! Arght! *&%¨$*&%$[/picturethis]

Nem meia hora depois de sairmos do rio já tivemos que atravessá-lo de novo, tirando nossas botas e cruzando com água pelo joelho. Deste ponto em diante seguimos por cerca de 2 horas uma estradinha de terra até chegarmos de volta em Cardeal Mota, onde brindamos ao fim da nossa empreitada com cerva e coca estupidamente geladas.

 

Resultado

Várias bolhas nos pés, uma câmera quase perdida, alguns carrapatos-estrela, tornozelos inchados, um bronzeado que mais parece de verão no nordeste que de um quase-inverno na serra, 4 novas amizades e uma sensação de conquista e superação que só um perrengue desses pode trazer :)

Editado por Visitante
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  • Membros
Muito bacana, capricha ai no resto, o que mais gosto nestes relatos é a ótica do narrador...... Pô katita, Cabeça Dura e Casca Grossa ahahahahahah não se esqueça da flor do campo, bem, bem lá no fundo eu sou sensível.... ::otemo::

 

Aiii é mesmo, como eu sou tosca! Esqueci que vc é o nosso "lenhador sensível" :P

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  • Membros

Não esquenta não Katia, iniciante é assim mesmo, ainda mais quando não se começa pelas trilhinhas de um bosque plano. No trekking para o pico dos Marins que eu avia te chamado, minha namorada tambem abriu o bico e logo uns 40 minutos depois do morro do careca, e aconteceu exatamente como vc, as coisas da mochila dela vieram quase tudo para a minha, parmanecendo apenas saco de dormir, isolante e algumas roupas na mochila dela minha mochila ficou monstro , e quando comeceu a intardecer tivemos que parar e armar acampamento em platô antes do pico....

Pois ela e uma menina que foi com a gente estavam axaustas...

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  • Membros

É well, iniciante é fogo mesmo.. mas em minha defesa, eu só fui passar algum peso (as comidas principalmente) depois de umas 5 horas caminhando no 2o dia, e seeempre subindo! Aí não há iniciante que resista ::quilpish::

 

Mas acho que o que pega mesmo é a questão psicológica que a gente fica achando que ta atrapalhando, segurando a galera e tal.. então tentei dividir o peso pra ver se conseguia andar mais rápido, mas na verdade não adiantou muito nao :P Ainda assim, chegamos no nosso destino até um pouco antes do esperado, então acho que no final deu tudo certo :)

 

agora, burra tb não sou né! no 3o dia o jorge "roubou" um pouco de peso tirando as latas de gás da minha mochila, eu reclamei, ele insistiu, eu disse tá bom ::tchann::

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  • Membros de Honra

hehehe

bacana! Sofrer eu acho que faz parte para nosso corpinho mole, acomodado e que as vezes tem preguiça até de subir escada.

Mas sempre compensa! Tem um monte de coisa por ai que a gente só consegue contemplar na base da pernada!

Mas que pena as fotos nao estão abrindo :cry:

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