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Estado aposta no segmento GLS para incrementar turismo


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FONTE: CORREIO

http://correio24horas.globo.com/noticias/noticia.asp?codigo=26762&mdl=50

 

 

“Como confirmado na reserva, devo disponibilizar um quarto de casal para vocês?” Em uma recepção de hotel, a pergunta parece ser corriqueira. Mas, quando dividem o balcão um funcionário sem jeito e uma dupla do mesmo sexo, a situação pode ser constrangedora.

 

De olho nesse mercado, o governo baiano está oferecendo capacitação para profissionais do setor turístico. A intenção é fortalecer e preparar a Bahia como um destino gay-friendly - ou seja aberto e receptivo aos homossexuais.

 

O segmento movimenta US$ 54 bilhões por ano, apenas nos Estados Unidos. O caminho a ser percorrido é longo. Soma-se ao preconceito uma posição nada confortável: a Bahia está atrás apenas de Pernambuco no ranking de assassinatos de homossexuais no país - com 24 dos 187 mortos em 2008, segundo levantamento do Grupo Gay da Bahia (GGB).

 

Para o secretário de Turismo, Domingos Leonelli, o trabalho com o setor turístico pode também ajudar a ampliar conceitos como respeito à diferença e equidade.“O setor não pode aceitar esta realidade. Nossa iniciativa de capacitar os profissionais de turismo segue na direção de ampliar o grau de civilidade. Faremos um esforço de qualificar a estrutura turística, para receber com dignidade - expresso no tratamento igualitário”, explicou Leonelli.

 

Uma primeira turma, composta por recepcionistas, camareiras, porteiros, manobristas, mensageiros, seguranças e proprietários de estabelecimentos, está recebendo orientações práticas sobre como evitar embaraços ou mal entendido - além de aulas teóricas sobre turismo, qualidade no atendimento, equidade e diversidade.

 

“O mercado está preparado e tem profissionais que atendem com cortesia. Mas algumas pessoas não estão habituadas a encontrar casais gays com autoestima. O grande lance é não ter o comportamento individual. Na empresa, no hotel, o gay deve ser visto como cliente, como consumidor com os mesmos direitos dos demais”, explicou o presidente do GGB, Marcelo Cerqueira, que considera as estatísticas constrangedoras.

 

Embora o estado esteja começando a capacitação, ainda falta material específico, como um guia oficial para o público GLS - disponível em cidades como São Paulo.

 

“Funcionários e proprietários de estabelecimentos do trade turístico têm que se sentir responsáveis por essa clientela. Saber a melhor forma de abordagem e estratégias para cativar este público. Falta também ao órgão oficial de turismo a produção de um guia com roteiros e orientações, sobre onde acontece a vida gay”, explica o membro da equipe técnica da capacitação Marco Antonio Conceição.

 

O curso acontece até 1º de junho, no Centro de Convenções. Segundo a Associação Brasileira de Turismo para Gays, Lésbicas e Simpatizantes, a qualidade no atendimento é o item principal na avaliação de um destino gay-friendly.

 

Para o professor Maurício Tavares, que já sofreu constrangimen to em um hotel paulista, a capacitação contribui para reduzir a discriminação. “A iniciativa deve mesmo partir do estado. O dinheiro acaba sendo o intermediário. É um mercantilismo positivo”.

 

Em São Paulo, um amigo de Tavares foi recriminado porque queria visitá-lo no hotel. “Acham que se você é gay, outro homem que sobe no quarto é para fazer sexo”. Outra gafe comum é a oferta de quarto com duas camas de solteiro a um casal homossexual.

 

Embora não esteja no grupo que recebe treinamento, a recepcionista Jaqueline Alves, 23, não tem constrangimento em perguntar que tipo de quarto o casal prefere.“Trabalho em frente à Praia dos Artistas, com uma diversidade enorme de público. Não pode haver preconceito”.

 

‘A gorjeta é boa’

Se o táxi de Claudio Lobo, 32, falasse, as histórias poderiam deixar de cabelo em pé até o passageiro mais assanhado. Há quatro anos, ele descobriu o nicho GLS e trabalha com corridas personalizadas.

 

“Falo logo para entrar e ficar à vontade, pode fazer o que quiser: beijar, tirar a roupa. É uma forma de fazer a pessoa descontrair, dar risada e se sentir à vontade. O segredo é ter bom humor, ouvir e não ser preconceituoso”.

 

Casado, pai de duas filhas, Claudio faz o serviço completo: pega o turista no aeroporto e inicia o roteiro GLS por points tradicionais - como Beco dos Artistas, no Garcia, até bares descolados, como o Marques, na Barra.

 

“Fica em frente ao Hiperideal (mercado) e só dá bonitão”. Custa a revelar o preço para a corrida personalizada: não sai por menos de R$ 250 para ficar à disposição por noite.

 

“Gay paga melhor, mas o bom atendimento é fundamental. O mal é que minha categoria ainda é ignorante”, desabafa, mas sem reclamar. Afinal, por causa da fama de bom profissional, recebe até quatro ligações por semana de turistas.

 

No carro, panfletos de saunas, boates e bares descolados. “É um bom mercado. Eles ganham bem, usam bons perfumes, têm nível superior e dão boas gorjetas”.

 

Números

Gasto O visitante estrangeiro GLTB gasta aproximadamente US$ 200 por dia - a média dos demais turistas é US$74

 

Origem EUA, Argentina, França, Itália, Espanha e Alemanha estão entre os que mais enviam esses turistas para o Brasil

 

Destinos preferidos Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Florianópolis

 

(notícia publicada na edição impressa do dia 24/05/2009 do CORREIO)

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