Membros MHansen Postado Junho 14, 2014 Membros Postado Junho 14, 2014 (editado) DE TANTO utilizar as informações aqui do “Mochileiros”, achei que já era hora de contribuir com o site. Como vocês verão, não consigo ser sucinto; tentei passar o máximo de informações possíveis e algumas impressões muito pessoais dos lugares que eu e minha esposa visitamos. Espero que esse relato lhes auxilie em algo. BOM, O DESTINO escolhido para o mochilão de 2014 foi o Chile. Eu sei que já existem muitos bons relatos sobre a terra de Pablo Neruda no Mochileiros, porém, uma atualização é sempre oportuna. Já tínhamos passado pelo país em outras duas oportunidades. Foram estadias curtas, mas, suficientes para despertar o interesse de voltar para uma viagem mais longa. O desejo começou a se realizar no dia 08 de abril, quando, por volta das 09h00, deixamos São Paulo, num vôo da TAM, em direção a Santiago, de onde tomaríamos outro vôo para Calama, às 13h10 e, desta cidade, uma van para São Pedro do Atacama. As passagens, compradas meses antes pela LAN, saíram por R$ 1.256,69 por pessoa – todos os trâmites. Salvo uma turbulência, logo depois de cruzarmos os Andes, o vôo foi bastante tranqüilo, com bom serviço de bordo. O que eu não consegui entender, até agora, foi o porquê de termos perdido nossa conexão para Calama. A previsão de chegada a Santiago era às 11h55; as formalidades de entrada no país, foram rápidas; a espera pelas bagagens também não foi longa e, de repente, já eram quase 14h00 e perdemos o vôo. Sem maiores burocracias, fomos colocados no vôo seguinte, que saiu às 15h15. A viagem foi sossegada e, pouco mais de duas horinhas depois, estávamos aterrissando no aeroporto de El Loa, que passa por reformas e ampliação. Pegamos nossas bagagens e fomos ao balcão da Licancabur, a empresa que realiza o transfer até SPA, que - por enquanto, eu acho -, fica logo depois do salão de desembarque. Por precaução, eu já tinha feito a reserva pelo site da empresa. O tramite de ida e volta saiu por 22.000 pesos chilenos por pessoa. Ao contrário do que esperava, o transporte é de boa qualidade, confortável; porém, uma dica: o bagageiro da van é pequeno e se o veículo estiver lotado de passageiros, fique atento pra que nenhum “distraído” pegue sua mala ou mochila “por engano”. Após, sei lá, uma hora e meia, chegamos a SPA. O transfer nos deixou no portão da hospedagem escolhida: o Hostal “Quinta Adela”, que reservamos pela Decolar. A opção por esse site de reservas foi pela possibilidade de parcelarmos os valores da hospedagem, que, em SPA, não é nada barata. Cinco noites, em apartamento duplo – suíte -, com café da manhã incluso, saiu por R$ 1.467,00, divididos em 10 vezes. O Quinta Adela fica no final, na parte menos movimentada, da Toconao; se trata de um hostal rústico, construído, em parte, com material reciclável ou de demolição, no entanto, muito acolhedor e seguro. O proprietário, Dom Miguel, e seus funcionários são simpáticos, atenciosos e prestativos. Ficamos numa suíte simples, mas espaçosa, asseada, bem confortável – boa cama e boa ducha. Não tínhamos TV, nem frigobar, mas isso não fez falta alguma. Com exceção de alguns períodos, a wi-fi funcionou muito bem. Também não tivemos problemas com a falta de calefação; as cobertas foram suficientes e, mesmo sem elas, o frio - em especial, à noite - era totalmente suportável dentro de la habitacíon. O hostal também oferece jantar, das 20h00 às 22h00, à 6.000 pesos por pessoa – um valor na média da cidade. O menu do dia, sempre muito bem preparado e servido, era composto de um caldo, acompanhado de pãezinhos, um prato principal, bebida – um copo de suco ou vinho - e sobremesa. Para cada item, sempre ofereciam duas opções. Foi lá que fizemos todas as nossas cenas. Para realizarmos os passeios, escolhemos a Grado 10. Sim, se trata de uma das empresas mais recomendadas e também mais caras da cidade; não quisemos nos arriscar com outra – de fato, apesar do preço, essa acabou se revelando uma boa escolha. Os passeios pelo Valle de la Luna e de la Muerte, pelas Lagunas Altiplânicas, pela Laguna Cejar, Geyseres del Tatio e pelo Salar de Tara ficaram em 150 USD por pessoa. 50% foi pago com cartão, no ato da reserva, ainda no Brasil. Os outros 50%, seriam pagos no equivalente a pesos chilenos na agência. Lembro-me que nossa intenção era pagar o restante também em dólares, mas a Maria José, funcionária da Grado 10, nos recomendou que, em razão do câmbio desfavorável, pagássemos em pesos chilenos. Na verdade, ao contrário do que tínhamos ouvido falar, se você vai ao Chile e vai usar moedas em espécie, minha recomendação é que só leve – use - pesos chilenos. Só usamos dólares uma única vez para pagar a conta do hostal de Santiago, mesmo assim, por falta de opção naquele momento. DEPOIS DE uma primeira noite “muito curta”, nossa primeira manhã em SPA, depois de um bom café da manhã no Quinta Adela, foi dedicada a um passeio pela cidade. Antes, passamos pela Grado para acertar as contas e confirmar os tours; em seguida, fomos até a Gustavo La Paige, direto para a icônica igreja branca do local: rústica, mal cuidada, mas tão bonitinha quanto nos cartões postais. Na mesma rua, à esquerda - para quem entra no templo logo nos saltou a visão do majestoso Licancabur – quase um sonho. Ainda na La Paige, visitamos o pequeno, mas interessante museu que, assim como a rua, homenageia o padre e arqueólogo francês, que trabalhou naquelas terras – entrada: 2.500 chilenitos. Para o almoço do dia, duas empanadonas – uns 3.000 pesos pelas duas - e uma garrafa de um litro e meio de Inka Kola – 1.500 pesos. Depois de um rolê pelas lojinhas – quase todas vendendo produtos bolivianos -, voltamos ao hostal para um rápido descanso. O tour pelo Valle de La Luna saiu lá pelas 16h30 – entrada no parque: 2.000 pesos. No caminhãozão da Grado, como haveria de ser em todos os tours que fizemos, a maioria absoluta dos turistas era brasileira – detalhe: nos tours da manhã, a Grado te busca no hostal; nos tours da tarde, você tem que ir até o escritório da agência Esse tour, geralmente, inclui a visitação às Três Marias, à Cordilheira de Sal, ao Cânion de Sal, às Cuevas de Sal e ao Mirador Cari,. Nossa passagem pelas Cuevas de Sal não deixou de suscitar certa preocupação, não só pelo terremoto que sacudiu aquela região, dias antes da nossa chegada, mas por que o teto – baixo - das “cuevas”, formadas por cristais de sal, possuem pequenas, mas, muito afiadas hastes e estávamos sem capacete; um descuido e você pode sair de lá com um belo corte na cabeça. Esse tour, lógico, merece ser feito; o pôr-do-sol no desfiladeiro, encerrando o passeio, pra mim, é o ponto alto: realmente lindo. NO TERCEIRO dia, nada de levantar tarde e nada de café da manhã no hostal. Saímos às 06h30, sob muito frio, para as Lagunas Altiplânicas – esse tour passa por mais de um parque; somando todas as entradas, o valor total chega a 6.500 pesos. Depois de visitarmos a Miscanti, caminharmos até a Laguna Meñique e tomamos o café da manhã de frente para aquela paisagem deslumbrante. Eu já poderia ter voltado feliz para SPA, no entanto, tinha mais: o Salar de Atacama e a Laguna Chaxa, com o direito e a frustração de avistar poucos flamingos, graças a um hermano que teve a brilhante idéia de usar um drone para filmar as aves e espantou a maioria delas dali – o brinquedinho da criança, claro, foi apreendido; teve também as rápidas passagens pelos povoados de Socaire e Toconao, que se resumiram à visitação de duas simpáticas igrejinhas. No período da tarde, agendamos o tour pelo “complexo” da Laguna Cejar – entrada: 4.000 pesos. Essa laguna possui uma concentração de sal tão grande que, como acontece no Mar Morto, seu corpo não afunda. Uma experiência tão legal, quanto congelante. Sim, eu não sei qual estava mais gelada: a água das lagunas – tem mais de uma, na verdade – ou dos chuveiros de água doce que estão disponíveis no local para que você tire a crosta de sal que fica acumulada sobre a sua pele, na medida que o seu corpo vai secando. Mesmo que você não tenha coragem de entrar na água – pelo frio ou por qualquer outro motivo que seja – esse passeio é imperdível. Continuando, seguimos para os Ojos do Salar, que nada mais são do que dois buracos de águas salgadas – muito menos, no entanto, do que as da Cejar – no meio do deserto, que não me interessaram muito. Pra fechar bem o dia, o visual incrível da Laguna Tebemquiche, acompanhado por snacks e pelo bom pisco Campanário – incluídos no pacote. Saúde! QUER PASSAR frio no Atacama, mas ser muito bem recompensado? Então agendem o tour pelo Geyseres del Tatio, o nosso penúltimo passeio naquelas paragens. Saímos do hostal por volta das 04h30 e, algumas horas depois, estávamos nas alturas e no frio intenso dos parques dos geyseres – entrada: 5.000 pesos. Uma paisagem surreal, que acentua a idéia – pelo menos, a minha - de que visitar o Atacama é como visitar outro mundo. O complexo também conta com uma piscina com água aquecida que brota de uma fonte natural. Como tinha passado muito frio no dia anterior, tive medo de ficar doente e estragar a viagem. O problema nem era tanto entrar na água, mas, sair dela. Preferi não abusar e ficar de fora; depois, claro, me arrependi. De volta a SPA, comemos alguma coisa no centrinho – optamos por apenas jantar nos dias em que lá estivemos – e fomos para hostal, onde nos preparamos para a caminhada até Pukara Quitor. Pelas informações, pensamos que levaríamos menos tempo para chegarmos ao sítio arqueológico, mas foi uma boa pernada - os alegados 3 km de distância só começam a valer depois que você deixa os limites da cidade; eu recomendo alugar uma bicicleta; pagar por um tour até lá é besteira. O valor da entrada no sítio é 3.000 pesos; você pode subir a colina da antiga fortaleza e também o mirante. Quem teve a oportunidade de conhecer sítios arqueológicos incas, maias e aztecas pode se decepcionar com Quitor. Eu, no entanto, valorizei muito o local, imaginando a vida ali antes e depois da chegada dos invasores espanhóis. A subida até o mirador – na verdade, um espaço cerimonial católico, que também traz homenagens aos mártires atacamenhos - não é moleza, mas garante uma vista muito bonita do vale e de SPA. No retorno ao hostal, estávamos moídos, mas satisfeitos. Para completar o dia, mais uma boa cena na Quinta Adela, banho e cama. NOSSO ÚLTIMO passeio em SPA foi ao Salar de Tara, que não foi realizado pela Grado 10, mas por uma empresa parceira dela, a Inka North – se não me engano – da qual nosso motorista e guia, Sr. Jorge, é um dos sócios-proprietários. Esse passeio, o único realizado sem o caminhãozão - mas numa van bastante confortável -, contava apenas com 08 turistas, a maioria, novamente, brasileiros. Ex-piloto da Força Aérea Chilena, o Sr. Jorge se disse especialista em conduzir turistas ao Salar de Tara. Relatou-nos que os motoristas/guias têm que conhecer muito bem o caminho, sob o risco de se perderem no deserto – a certa altura, saímos da sinuosa rodovia e entramos no vasto deserto, onde as estradas acabam e não existe sinalização. Na companhia dos Monjes de Pakama – grandes figuras rochosas esculpidas pela erosão e que lembram muitas coisas além de monges – tomamos nosso café da manhã. Jorge nos avisou que sabia fazer de tudo um pouco, menos cozinhar e, realmente, esse desayuno foi bem fraquinho se comparado aos outros. No entanto, ele nos divertiu tanto com histórias da semana em que ciceroneou a Ana Maria Braga, durante as gravações que ela fez no Atacama, que acabamos nem dando tanta atenção pro café da manhã – truque dele? Depois do café e das risadas, seguimos para a “Catedral”, uma formação rochosa gigantesca, que lembra mesmo esse tipo de construção. Dali, a vista do vale do Salar e dos enormes paredões rochosos já era incrível. Da Catedral, descemos com a van até certo ponto, dentro gigantesco corredor rochoso, onde Jorge nos deixou para que seguíssemos a pé até o refúgio da reserva; lá, ele nos esperaria com o almoço. Antes, nos recomendou que não saíssemos do sendero, sob a pena de termos que pagar uma multa pesada se fossemos pegos pelos guardaparques. O trekking, embora curto, nos reservou imagens fantásticas: o grande salar/lago com flamingos e outras aves, as montanhas com picos nevados ao fundo, aquela luz... Demais! O visual compensou o almoço – arroz, ervilhas, atum ralado e carne de frango assado, tudo frio -, que veio a comprovar que o Sr. Jorge é um bom guia, piloto, possivelmente, um bom pai de família, mas não um bom cozinheiro. Claro que não posso dizer que passamos fome, muito longe disso. Na volta desse último passeio – assim, como na ida -, fomos agraciados com belas imagens de grupos de vicuñas no deserto, sempre tendo montanhas e/ou vulcões ao fundo. Em SPA, nos despedimos dos nossos companheiros de passeio e descemos na frente da agência da Turbus – que fica na Calle Licancabur, já fora do centrinho -- para comprarmos nossas passagens de Santiago a Pucon – 15.000 pesos por pessoa, em poltrona convencional. O restante do nosso dia foi dedicado a perambular pelas lojinhas. Acabei comprando só uma camiseta por 7.000 pesos e minha esposa se contentou mesmo com um chapeuzinho de brim bordado e uma echarpe que ela já tinha comprado alguns dias atrás e que lhe foram muito úteis nos passeios. Fiquei tentado a comprar sabonete e shampoo à base de maconha que eu tinha visto na lojinha do museu arqueológico, mas, acabei desistindo. Me pergunta se eu não me arrependi? COM AS MOCHILAS já arrumadas, tomamos nosso último café da manhã no hostal. Em seguida, procuramos o Sr. Miguel para acertarmos as contas pelos jantares, pelas garrafas de água mineral e outras bebidas que havíamos consumido – no caso da água e das bebidas, o controle do quanto foi consumido era inteiramente nosso; eles confiaram na gente e a gente fez por onde, anotando e pagando tudo certinho. Agradecemos e parabenizamos o Sr. Miguel pelos serviços prestados e prometemos recomendar o hostal, o que fica aqui registrado. O transfer da Licancabur nos buscou no Quinta Adela, como agendado, com um pouco de atraso – por volta das 11h30 -, mas, sem que isso nos prejudicasse. Às 14h30, do dia 13/04, um domingo, estávamos voando para Santiago, com a certeza de que um dia voltaríamos para o Atacama. O VÔO PARA Santiago foi muito tranqüilo. Chegamos à capital chilena por volta das 16h20 e como nosso ônibus para Pucon só sairia às 21h40, demos um tempo no aeroporto, antes de tomar um ônibus da Turbus para o terminal da própria empresa, que fica ao lado do Terminal Central de Santiago. Esse ônibus sai da rua Armando Cortinez, em frente ao Hollyday Inn, a um custo de 1.475 pesos por pessoa. Já no terminal, observamos o movimento de um grupo grande bombeiros que partiam para Valparaíso. Pela net, ficamos sabendo do terrível incêndio que atingiu a periferia daquela cidade alguns dias antes e que mobilizou a solidariedade de todo povo chileno. Nosso ônibus saiu com um leve atraso. Tão logo, o “rodomoço” anotou os dados dos passageiros, distribuiu as cobertas e travesseirinhos, eu, ao contrário do que esperava, apaguei, só acordando por alguns segundos, quando o bus parava em alguma cidade no caminho. Chegamos em Pucon de madrugada e estava menos frio do que pensei que estaria. Esperamos o dia raiar e saímos em direção ao Hostal Willy, reservado pelo Booking. Nosso check-in estava programado só para às 14h00, mas, mesmo sem podermos utilizar o quarto, o sr. Guillermo, o “Willy”, permitiu que deixássemos nossas coisas por lá e usássemos o banheiro. Preferimos fazer o pagamento da estadia com cartão de crédito: 120.000 pesos, por 04 diárias. Questionado sobre a possibilidade de pagarmos com dólares, o Sr. Guillermo nos respondeu que, por enquanto, as pequenas hospedagens de Pucon não tinham permissão para efetuar esse tipo de transação. Prestativo, ele nos deu umas dicas sobre passeios que poderíamos fazer sem utilizar agências. Quanto ao trekking pelo Vulcão Villarrica, ele nos recomendou – assim como o site do Lonely Planet – a agência Aguaventura. Depois de um bom café da manhã numa feirinha de produtores rurais locais, perto do estádio de futebol, fomos até a Aguaventura, onde fomos muito bem atendidos por um funcionário com acentuado sotaque francês – a agência, me parece, é francesa. Embora aquela manhã de segunda-feira estivesse muito linda, a previsão, segundo ele, para os próximos dois dias era de tempo fechado, o que impossibilitaria a subida ao vulcão. O único dia para se tentar – o funcionário deixou claro esse “tentar” - a subida era a quinta-feira, nosso último dia completo na cidade. O valor de 46.000 pesos pelo serviço só seria pago depois que ele fosse oferecido. O funcionário também deixou claro que, se chegássemos à base do vulcão e fosse verificado que não haveria condições para a subida, eu só pagaria a locomoção até lá – 5.000 pesos; se tentássemos a subida e não conseguíssemos chegar até o topo, eu teria que pagar o valor total. Minha esposa, que já estava receosa quanto a sua capacidade de fazer o trekking, acabou desistindo de vez; por via das dúvidas, eu acabei reservando meu lugar. Confesso que saí da agência achando que aquela previsão do tempo estava furada. O céu estava completamente azul, como poderia mudar tanto assim de um dia para o outro? Bom, depois de um passeio pela cidade, que achei encantadora, não só pelo quase onipresente Villarrica, mas, pelo clima, pela arquitetura, pelo cheiro constante de madeira queimando nas lareiras – que se acentuava no final da tarde -, voltamos ao hostal para ocupar nosso quarto Um pequeno sobrado de madeira, com poucos quartos, mas, muito aconchegante; bem asseado e localizado – a poucas quadras do terminal da Turbus, a pouco mais de uma quadra do da JAC e dos buses Caburgua, que servem os arredores de Pucon; perto da avenida O’Higgins e de outras ruas importantes da cidade -, o Hostal Willy acabou se revelando uma escolha acertada. Nossa suíte não era grande, mas era confortável - o box do banheiro era um pouco apertado, o que causa um certo incomodo no começo, mas logo se acostuma; a ducha, sempre com água quente e farta, compensa. O wi-fi no quarto é ok. O fato de não termos calefação não foi um problema, pois o ambiente parecia estar sempre quentinho, em razão da lareira no térreo. O café da manhã foi o melhor de toda a viagem. Instalados, saímos novamente para passear. Fomos à Playa Grande que estava quase deserta, andamos pelas lojas, pesquisamos os preços dos restaurantes e acabamos o dia na praia La Poza, onde um senhor nos ofereceu um passeio de barco por 5.000 pesos, que aceitamos com certo receio – não tinha mais ninguém fazendo os passeios e nenhum turista por ali – mas que, depois, se revelou encantador e romântico – e seguro -com direito a visão do vulcão de um lado e o pôr-do-sol do outro. Terminamos o passeio, um pouco antes de a lua cheia aparecer por trás das montanhas. De volta ao centro da cidade, passei em duas agências, a Florência e a Informações Turísticas, para confirmar esse suposto mau tempo para os próximos dias, que eu achava improvável. Ambas, no entanto, confirmaram a previsão de que só seria possível a subida ao vulcão na quinta-feira. É, pelo jeito, não tinha jeito. Também pesquisei preços: na Florência ofereciam o trekking por 42.000 – e abaixariam o valor se minha esposa também se interessasse –, na Informações, 35.000. Saímos dali procurando um lugar para jantar e depois de umas boas pernadas, escolhemos, e mal, o “Gringo Viejo”, não pela comida em si – que até era boa – ou pelo preço dela – razoável, também -, mas, pelo cara que nos atendeu – o faz tudo por ali – que parecia ter tanta pressa para fechar o estabelecimento, que isso nos incomodou bastante – era segunda-feira, eu sei, mas não era tarde. Já no hostal, decidimos que, no dia seguinte, faríamos, por conta própria, o trekking pela reserva Huerquehue. UMAS DAS PRIMEIRAS coisas que fiz naquela manhã de terça foi olhar pela janela. Para a minha surpresa, o tempo tinha fechado durante a noite e chovido mesmo; havia uma cortina cinza sobre as montanhas e a cidade nem parecia a mesma. Mesmo assim, tomamos nosso café da manhã, decididos a ir para a Huerquehue. Nos dirigimos à pequena estação dos buses Caburgua e pegamos um micro – 800 pesos - que nos deixou no principal posto de guarda da reserva. Pagamos a entrada – 4.500 pesos – e fomos orientados por um dos guardaparques sobre os trekkings recomendados para aquela época: um, com a duração de 5 horas, outro, de 7 horas. Optamos pelo primeiro, o dos Lagos, que, apesar de mais curto, não é moleza. Nesse percurso batido, chegamos a uma altitude superior a 1.900 metros; o solo molhado pela chuva e pelos filetes de águas que descem da montanha tornaram a caminhada mais cansativa, em razão dos escorregões. Durante todo o dia o sol não daria as caras; a neblina, que parecia um estorvo, acabou dando um ar de mistério e de “sonho” à paisagem dos lagos que visitamos - Chico, Verde e Toro -, propiciando belas fotos. No percurso, também, passamos por duas cachoeiras muito bonitas. Retornamos cansados, mas muito satisfeitos ao ponto de partida; o ônibus para Pucon foi bem pontual. À noite, jantamos num restaurante do qual não me lembro o nome, o que comemos e quanto pagamos pela refeição. O que eu queria mesmo era cama. O PRIMEIRO passeio da quarta-feira seria aos Ojos de Caburgua, depois ao Lago Caburgua e Termas Quimey-co – essa, uma indicação do Sr. Guillermo do Hostal. Saímos da estação dos buses Caburgua, em direção aos Ojos de mesmo nome – 900,00 pesos -, com o tempo mais fechado do que no dia anterior. Depois de uns 30 minutos de micro, aproximadamente, descemos na estrada – pedimos ao motorista que nos avisasse quando descer - e caminhamos uns 15 minutos, por uma estrada não asfaltada que cruza uma bonita floresta replantada, até uma chácara/camping que dá acesso aos Ojos de Caburgua - não tem como errar. Na beira deste caminho crescem frutinhas bem saborosas: prove. Quando chegamos, demorou um pouquinho para que uma moça aparecesse para nos cobrar os 700 pesos da entrada. O lugar é bonito e vale a visita: mesmo sem sol, a cor da água – um verde azulado ou azul esverdeado – era intensa, viva, linda mesmo, mas não é uma atração para se desfrutar por muito tempo. Voltamos para a mesma estrada e pegamos outro ônibus para seguirmos em frente, até o Lago Caburgua – o preço da passagem foi um pouco menor, mas não me lembro quanto. O lugar – a praia e as ruas - estava quase deserto. Além de nós, haviam outras 03 ou 04 almas vivas por ali. Quem veio nos receber foi uma cadela grande, toda preta, muito simpática e bonita, querendo carinho e uns biscoitinhos – era o que tínhamos. Logo, outra cadela, com os mesmos atributos da anterior, só que totalmente “champagne”, se juntou a nós. Ambas – aparentemente abandonadas - nos acompanharam durante todo o passeio ao longo da praia, buscando e nos trazendo pedaços de madeira que atirávamos, correndo atrás dos Quero-queros e da gaivotinhas. As brincadeiras com as nossas anfitriãs e aquelas paisagens, que, apesar da falta de sol, nunca deixam de encher os olhos, renderam boas fotos. Foi com o coração apertado que, mais tarde, eu – que adoro animais - me despedi daquelas cadelas. Ao me lembrar delas ainda sinto muita pena; se pudesse, as traria comigo. Fica aqui uma critica em relação à grande quantidade de cães abandonados nas ruas Chile; em todas as cidades que passamos existem dezenas deles, famintos, mas, principalmente – se percebe fácil – afetuosos e carentes de afeto. Continuando o passeio, tomamos outro ônibus – outra vez, não me lembro o preço exato, mas acho que foram 900 pesos – para irmos às Termas Quimey-co. Descemos no que o Sr. Guillermo chamou de cruzamento, mas que, na verdade, é uma bifurcação – a única por ali – e esperamos o ônibus para as termas. O lugar era bonito e estimulou uma caminhada pela beira da estrada. Tínhamos andado um bocado e já estávamos em dúvida se teríamos mesmo descido no lugar correto, quando o micro, cheio de turistas, enfim, passou. As Termas Quimey-co são uma das várias termas que podem ser acessadas por aquela linha de ônibus – inclusive, a Pozones, uma das mais populares. Utilizando-a, se pode visitar algumas delas num só dia, pois a distância entre uma e outra é pequena. A Quimey-co – entrada 10.000 pesos p.p. - acabou sendo a única que visitamos. Trata-se de uma terma com 03 piscinas: uma com água bem morninha, descoberta, uma com água em temperatura média, totalmente fechada, e outra bem quente, coberta, mas sem proteção lateral. O local possui uma boa infra-estrutura, com restaurante e um bonito paisagismo. No entanto, a ausência de turistas – só tinha um casal além da gente – e o fato de minha esposa ter optado por não entrar na piscina – ela pode entrar sem precisar pagar -, me desanimou um pouco. Por volta das 16h30, tomamos o ônibus de volta à Pucon e chegamos com sobra de tempo para irmos à agência para que eu provasse o equipamento que usaria na subida do vulcão: botas, capacete, jaqueta, jardineira, luvas tipo pingüim e óculos; o primeiro contato na minha vida com os grampones e o piolet, eu só teria no dia seguinte – eles estariam dentro da mochila que a agência também fornece. Novamente, fui bem atendido; confirmaram o trekking para o dia seguinte, mas não garantiram que alcançaríamos o topo. Sem opções, embarquei na aventura. Antes de voltar para hostal passamos por um mercado para comprar meu “mantimento” para a subida do vulcão: 02 litros de água, 01 hidratante – Gatorade -, 02 bananas, uma barra de chocolate, 02 empanadas, 01 pacote de batatinhas fritas; levaria também um saquinho de castanhas e uma barra de cereais que trouxe do Brasil. Sim, comprei 03 garrafas da cerveja Austral, produto altamente recomendável – claro, não para o trekking, rs... APESAR DA ansiedade, eu até que dormi bem à noite. O sr. Ivan, o outro proprietário do hostal, gentilmente, deixou alguma coisa preparada para o meu desjejum. Fui o primeiro a chegar à agência – antes das 06h30, o horário marcado. Pela falta de dias opcionais para a subida, o grupo se revelou grande – umas 20 pessoas - e contaria com 05 guias. Eu era o único brasileiro e o único que falava espanhol; os demais, europeus – mesmo os de língua latina - e americanos, se comunicaram em inglês, mas isso não foi um problema, pois os guias foram muito atenciosos comigo, me passando todas as informações necessárias com calma e paciência. Saímos dali em duas vans; na base do vulcão, paramentados, iniciamos a subida por volta das 07h30. Para economizar fôlego, optei por utilizar as telesillas – 6.000 pesos. No fim do tramite, um sustinho: minha pesada mochila ficou presa no braço da cadeira, que é lenta, mas que não para pra você subir ou descer dela; felizmente, eu consegui me soltar rápido e descer; em seguida, um funcionário do local conseguiu desprender a mochila da cadeira. Bom, enfim, a subida pra valer. Provavelmente, um dos mais velhos da turma – tenho 43 anos -, preferi ficar entre os últimos, economizando gás. Mas, vou te contar, eu estava tão adrenalizado, tão bem, que comecei a achar a subida “fácil” – no sentido relativo desta palavra, logico. Antes de chegarmos ao que sobrou da estação de esqui destruída pela última grande erupção – em 1973, 76, não me lembro -, eu já tinha passado, olha só, por duas inglesas e um casal de franceses mais jovens! Ali colocamos os grampones – de maneira bastante prestativa, um guia me ajudou a colocar os meus. Seguimos em frente e eu muito bem. As rajadas de vento e os golpes de cristais de neve - que o vento trazia com ele – no rosto, ardiam bastante e era a única coisa que me incomodava. Sugiro fortemente o uso de uma balaclava, para quem for tentar subir o vulcão em períodos com neve. Outro sustinho: animadão, deixei cair meu piolet, que escorregou por uns 03 metros até que um guia o segurasse com os pés e me devolvesse. Não me deram bronca, mas, envergonhado, eu me dei uma mentalmente. Culpei aquela luva de pingüim e tratei de ser mais atencioso quando tivesse de segurar o piolet com a mão esquerda – sou destro. Após mais uns bons metros, paramos para descanso e alimentação e tive a informação que temia: havia muito gelo no trecho acima, ventava muito forte e a chegada ao topo estava comprometida. A equipe deu mais um tempo e, minutos depois, o veredicto: os componentes não assumiriam os riscos e a subida se encerraria ali. Outras duas equipes deram o mesmo parecer e outra, que eu acho que era a Politur, deixou a decisão para os seus comandados e apenas alguns deles aceitaram seguir adiante – foi um senhor brasileiro, mais tarde, já na base do vulcão, que me deu essa informação; me esqueci de perguntar se a agência era mesmo a Politur, o que deduzi pelas cores da jaqueta: azul e laranja. Logicamente, fiquei muito, muito frustrado com a notícia. Sabe quando uma criança quebra, sem querer, um brinquedo que adorou e que acabara de ganhar? Quando seu time perde o campeonato, na última rodada? Quando x garotx, que você dava como uma conquista certa, lhe dá aquele fora? Foi por aí. Nada tinha mais graça. Queria mandar pra p.q.p. dois turistas engraçadinhos que resolveram tirar fotos lá em cima só de cuecas ou aquelas mocinhas que cantaram – e mal – uma música irreconhecível durante todo o trajeto de volta. Admito que minha vontade era de chorar. Observei, no entanto, que a descida não é tão fácil como se imagina: você força muito o joelho e a neve, ainda que fofa, provoca bons escorregões. Isso me consolou um pouco, ao lembrar o receio da equipe em continuar. Não usamos as telesillas para chegar à base do vulcão e a caminhada pela areia vulcânica até que foi legal. Retornamos para a cidade e fomos recebidos com cerveja no terraço da agência. De lá, se via o Villarrica, em toda sua majestade. Sim, ganhei um desconto de 6.000 pesos – a frustração acabou saindo por 40.000 pesos. Não demorei muito para deixar a “festinha” e voltei ao hostal para encontrar minha esposa – que estava cochilando na frente da TV; tomei um banho, descansei um pouco e saímos para aproveitar o restante daquele bonito dia, o penúltimo em Pucon. Compramos nossas passagens para Puerto Varas na JAC – 9.100 pesos p.p. -, para a tarde do dia seguinte, 18, sexta-feira; demos umas voltas pelas lojinhas, antes de irmos jantar. Apesar do fracasso da subida ao vulcão, tínhamos muito a comemorar – o simples fato de estarmos em Pucon já era um - e escolhemos comer uma boa parrillada – 18.900 pesos -, num restaurante da Bernardo O’Higgins, do qual não me lembro o nome - a porção foi muito bem servida, a melhor da viagem. Voltamos para hostal e arrumamos as malas, para não se preocupar com isso e aproveitarmos melhor o dia seguinte... ... QUE AMANHECEU fechado, com uma chuvinha fina - que engrossava em alguns momentos. Mesmo assim, encaramos a ruas de Pucon para comprar o presente da sogra que tinha aniversariado no dia anterior. A escolha foram as rosas feitas madeira, um produto típico da cidade – algumas excursões visitam as lojas onde o produto é vendido. Se alguém se interessar, encontramos as tais rosas com os preços mais em conta – 03 por 2.000 pesos - no mercado de artesanato da calle Miguel Ansorena. No mais, o dia foi de bater perna e comer: visitamos um outlet de material esportivo, localizado numa galeria no início da Bernardo O’Higgins; nessa mesma galeria, a Le Lutin, uma padaria pequenininha, mas, com pães deliciosos; bem perto dali, a fábrica de chocolates Rucamalal, cuja atendente foi tão simpática, oferecendo degustações, que ficamos sem graça de sair de lá sem levar nada. Compramos dois pacotes de bombons artesanais deliciosos, por 8.000 pesos. Passeamos também pela Rua Fresia, a rua mais chique de Pucon, que, com o feriado prolongado – era Sexta-feira Santa – estava bastante movimentada. Namoramos alguns bons restaurantes por lá, mas optamos mesmo por outro mais popular, do qual também não me lembro o nome. Deu pra perceber que, com a proximidade do feriado, o preço das refeições aumentou significativamente. Já próximos da nossa partida, retornamos ao hostal para pegarmos nossas coisas e nos despedirmos de Guillhermo e Ivan, que foram tão amáveis conosco. Às 17h15, estávamos no ônibus para Puerto Varas. ACHO QUE já eram umas 22h00 quando chegamos ao terminal da Turbus de Puerto Varas. A cidade é pequena e a ladeira até o centro, que não fica longe dali, ajuda muito. Minhas primeiras impressões de Puerto Varas me remeteram ao filme “Diários de Motocicleta”: dava impressão que logo iríamos ver o jovem Ernesto Guevara e seu amigo Alberto Granado saindo de uma daquelas casas de madeira. O Hostal Chimanga foi nossa escolha para a estadia na cidade e também nossa maior decepção, em termos de hospedagem. As 05 diárias, reservadas pela Decolar, ficaram em R$ 660,36, a serem pagas em 12 vezes - exagero, não? O hostal é central - perto de tudo – e seguro; recepcionistas simpáticas, tem até um bom café da manhã – repetitivo, mas, tudo bem. No entanto, o quarto em que ficamos – o 22 - tinha ares improvisados. Ele fica na “esquina” do prédio, tem um janelão pra rua e, lógico, dá pra ouvir todo barulho que vem de fora; o banheiro não tem janela e sim um exaustor – ou sei lá o nome daquilo -, que, em determinados momentos, exala um cheiro de fumaça de cigarro; o humor do chuveiro também variava bastante: ora água muito quente, ora muito fria – no último dia de estadia, ficamos sabendo que havia uma infiltração no nosso banheiro, que ficava no andar de cima, sobre a recepção, que acabou ficando toda molhada depois de um banho mais prolongado que tomei. Cheguei a conversar com a recepcionista, na tentativa de mudarmos de quarto, mas ela nos disse que todos os outros estavam ocupados. Ainda acho que o Chimanga pode ser uma boa opção de hospedagem em Puerto Varas, desde que o seu quarto não seja o 22. Na mesma noite em que chegamos, agendamos um passeio no próprio hostal, para o dia seguinte, que incluia o Vulcão Osorno, Laguna Verde, Saltos Petrohué e Lago de Todos Los Santos - 20.000 pesos por pessoa. A princípio, achei caro, mas depois, pesquisando preços em outras agências, achei até razoável – Puerto Varas tem muito menos agências que em Pucon. O TEMPO NO SÁBADO até que estava bacana, com poucas nuvens, mas, previsão dizia que não ia continuar assim o dia todo. O passeio saiu no horário – 10h00 –, com pouca gente: éramos eu, minha esposa, um casal de chilenos, duas suíças e um colombiano. A van que usamos era confortável, mas, por várias vezes tivemos que parar no caminho para que o motorista pudesse colocar água no radiador, que estava furado. O passeio foi muito bacana. O Osorno estava lindo, com muita neve e poucos turistas; o céu azul com poucas nuvens, até então. Fizemos os dois trâmites de subida de tellesilas – 14.000 pesos p.p. – e chegamos até onde era possível chegar a pé, sem o auxílio de guias. Uma vista incrível! Ficamos ali por um bom tempo, mas, o ideal era passar o dia todo no vulcão. Em seguida, fomos até a Laguna Verde que faz jus ao nome. Ela é bonita, mas é apenas um tira-gosto para os belos Saltos Petrohué – entrada: 4.000 pesos. Mesmo sem tanta correnteza, com muitos turistas e com o dia já nublando, esse passeio foi de encher os olhos e boa parte do cartão da máquina fotográfica. O local também conta com uma boa infra-estrutura para receber turistas. Nossa última parada, o Lago de Todos Los Santos é muito bonito, como tantos que se pode conhecer naquela região. Ali, você tem a opção de fazer um passeio de barco, mas preferimos ficar em terra mesmo, curtindo a prainha, assim como muitos locais que vão pra lá para fazer picnic, tomar umas cervejas ou só pra passear com o cachorro. Voltamos para Puerto Varas lá pelas 18h00, bastante satisfeitos. DOMIGO DE PÁSCOA. Saímos cedo para Frutillar, tomando um micro na Calle Del Salvador, perto da agência do BCI, a uma quadra do hostal – 900.00 pesos. A cidadezinha é muito bonita, daquelas em que você se imagina mesmo passando a vida, mas o tempo fechado estragou um pouco passeio. Protestantes, assistimos a um culto na bela Igreja Luterana local, com direito a uma boa palavra, peças de Bach tocadas pelo organista e ovinhos de chocolate na saída. Muito legal. Andamos por quase toda a orla, pelas lojinhas que iam abrindo aos poucos, naquele domingo preguiçoso. Resolvemos almoçar num pequeno restaurante que tinha um nome mapuche, do qual não me lembro, mas cuja tradução, expressa no letreiro, era “As Mulheres do Lago”. A refeição valeu mais pelo bom preço e pela simpatia da dona, que fazia todo cliente assinar um livro de presença, do que pelo sabor do prato. O tempo feio, cada vez mais com cara de chuva forte, infelizmente, nos mandou de volta para Puerto Varas, que, apesar da proximidade com Frutillar, estava com um clima melhorzinho. Passamos a tarde passeando pela orla do lago e pela feira de artesanato, montada na praça central, onde comemos uma kuchen – torta alemã, muito comum naquela região – de nozes deliciosa, feita por uma senhora, descentes de alemães, que já ganhou um premio pela melhor torta num festival local. Comparado com o de SPA e Pucon, nosso ritmo em Puerto Varas estava bem lento. E foi assim, tranqüilo, bem férias mesmo, que o nosso terceiro dia na cidade terminou. NA SEGUNDA-FEIRA, nosso destino foi Puerto Montt – para chegar lá, tomamos um micro no mesmo ponto do dia anterior – 800,00 pesos. A menos que alguém saiba de lugares legais fora da cidade, Puerto Montt tem pouca coisa para se ver. Meu principal interesse era pelo Mercado de Angelmo, que, como muitos outros do tipo, é rústico, com cheiro de peixe, uma falta de asseio aqui e ali, mas eu, que adoro mercados, não fiquei decepcionado. A proximidade com o mar e o porto também garantiu boas fotos. O mercado conta com muitos pequenos restaurantes – esses sim, bastante asseados – alinhados sobre uma espécie de deck, com preços bem convidativos. Foi num deles, que não me lembro o nome – pra variar -, que almoçamos. O menu, com um caldo de entrada, pãezinhos, prato de entrada – eu pedi congrio – e sobremesa saiu pouco mais de 13.000 pesos – incluindo as bebidas, que não faziam parte do menu. Antes de deixar o Angelmo, passeamos pelas muitas lojinhas de artesanato que existem por ali, mas não compramos nada. Andamos pela orla, procurando algo que nos prendesse mais à cidade. A passada pelo shopping foi mais por uma necessidade fisiológica, do que por qualquer outro interesse, mas o espaço até que é legal: grande, com boas lojas. Só demoramos mais em Montt, porque procuramos por uma agência de cambio com valores mais atraentes do que aqueles oferecidos em Varas e, de fato, encontramos. De volta à Puerto Varas, compramos nossas passagens para Santiago, para o dia 22/04 - preço promocional: 24.900 por p.p. – e curtimos o final de tarde mais bonito na cidade, até então. Pra fechar a noite, uma boa parrillada, na Plaza Parrilla – 19.000 pesos e alguma coisa. NOSSO ÚLTIMO dia em Varas não teve planejamento. Ironicamente, a manhã estava muito bonita e o resto do dia continuaria assim, com muito sol. Foram só caminhadas, fotinhas, cafezinhos e um almoço no Tomatito Chef, que não recomendo. Também passamos pelo Museu Pablo Fierro, que acabei ficando curioso para conhecer, mas estava fechado. Pouco antes das 17h15, subimos para a estação da Turbus e, por uma bobeira nossa, quase perdemos o ônibus. A viagem foi bastante enfadonha até Osorno, com o ônibus dando voltas que pareciam intermináveis pela cidade, o que fez com que minha esposa enjoasse. Porém, com a chegada da noite e o apagar das luzes do busão, logo pegamos no sono. Quando acordei, já estávamos nos arredores de Santiago. MESMO DE MADRUGADA, o Terminal Central estava muito movimentado. Comemos alguma coisa, compramos as passagens e lá fomos nós para Valparaiso – passagem promocional: 2.600 pesos p.p. O ônibus confortável permitiu que dormíssemos mais um pouquinho até chegar ao litoral. Para nossa decepção, o clima em Valpo era ruim. Havia uma neblina tão densa cobrindo a cidade que, às vezes, parecia que estava garoando. Antes de sairmos da rodoviária, achei um mapa informando a extensão do incêndio que afetara a cidade e vi que ele não tinha alcançado a região do hostal em que ficaríamos. Pensamos em ir caminhando para lá. Tolinhos. Com aquelas mochilas pesadas, arreamos algumas quadras depois. Tomamos um taxi que, na verdade, não era um taxi, mas um “carro coletivo”, que fazia um itinerário fixo; o motorista não tinha permissão para subir os cerros, mas a nosso pedido, ele saiu do carro e cobriu aquela plaquinha que fica no teto do veículo e, por 3.000 pesos, nos deixou em frente ao hostal. O Cerro Alegre foi o escolhido - 03 diárias, R$ 460,26, reservadas pela Decolar, divididas em 06 vezes no cartão Gostamos muito do hostal: bonito, bem localizado – cercado de restaurantes, lanchonetes e pequenos mercados - e seguro. Nossa suíte era espaçosa, limpa, silenciosa, cama confortável, bom chuveiro. Apesar de termos chegado antes do check-in, o funcionário permitiu que ocupássemos o quarto; só não tomamos o café da manhã que se revelaria bem simples: torradas, manteiga, geléia, café, chá, leite, um pouco de frutas e iogurte. Sem demora, saímos para conhecer os arredores. Eu fui logo gostando dos cerros – vou reforçar minhas impressões mais adiante. Ao contrário do que vemos, quando estamos na parte baixa da cidade, os morros não são apenas um amontoados de casas; suas ruas sinuosas guardam casas, mansões, prédios de rica arquitetura, remanescentes dos períodos de grande prosperidade da cidade. Lógico, muitas destas construções estão bastante deterioradas e entre elas, existem casas bem humildes. Há de se ressaltar, também, a engenharia que as colocou ali – algumas estão penduradas no morro. Impossível deixar de notar outra marca registrada dos cerros: os grafites, que cobrem escadarias e muros, em toda parte. No entanto, os cerros, que passam por um processo de revitalização, com substituição de luminárias e do piso das ruas – do concreto para os antigos paralelepípedos -, não são apenas flores, mas, também, cocos e muitos. Nunca vi um lugar com tanto coco de cachorro ou gato nas calçadas. Claro que isso não me impediu de gostar dos cerros, mas um pouquinho de cuidado com isso deixaria o ambiente mais agradável. Nossa primeira andança, seguindo o mapinha que nos deram no hostal, encontramos e entramos numa antiga Igreja Anglicana, onde a organista ensaiava num daqueles órgãos de tubo enormes; talvez percebendo nossa presença interessada, ela tocou algumas peças inteiras. Muito bonito de se ouvir. Saímos dali e fomos até o Paseo Iuguslavo, onde fica o belo Palácio Barburiza, que não visitamos. Em dias de sol, sorte que não tivemos, o lugar é excelente para sacar fotos. Paras garotxs e interessadxs em presentear, foi ali que, dias depois, encontramos um artesão de “jóias”, vendendo peças muito bonitas e com um preço mais em conta do que nas lojas. Minha esposa não perdeu a oportunidade e levou mais um par de brincos e um colar para a coleção dela – acho que ficou algo em torno de 6.000 pesos. Para matar logo minha vontade de andar de ascensor, tomamos o Peral – 200 pesos – que te deixa praticamente na Plaza Sotomayor. Não vimos nada que nos interessasse naquele lugar – o edifício da Armada do Chile e o Monumento dos Heróis de Iquique talvez - e fomos até o porto que se revelou decepcionante: não é bonito, nem muito limpo; tem umas lojinhas, todas quase que com os mesmos produtos. Seguimos as placas que indicavam “playas” e depois de andar por uma avenida “nada a ver”, chegamos na Artillaria Esmeralda, uma fortificação até que bem conservada da época da Guerra do Pacífico. É um lugar legal, mas, com pouca coisa para se ver. Resolvemos seguir adiante: passando pela Faculdade de Oceanografia do Chile, encontramos uma cooperativa de pescadores; a farta oferta de peixes atrai muitas aves marinhas, entre ela, dóceis pelicanos; tiramos fotos bem bacanas no local. Decidimos voltar para o centro e procurar pelo Museo Naval. No meio do caminho, acabamos desistindo do museu e subimos ao cerro novamente. Andamos bastante por ali e as impressões foram as mesmas: belas construções – conservadas ou não -, coloridos grafites – de bom gosto ou não -, ruas sinuosas e coco – sempre, rs... Descemos o cerro em direção ao centro pra almoçarmos – os restôs de cima são mais caros do que os de baixo. Escolhemos o La Playa, um restaurante antigo, com um jeitão de pub e muita informação nas paredes; não lembro o que comi e nem quanto paguei pela refeição, mas, com exceção do banheiro – muito ruim – não me lembro de sustos, então... Voltamos aos cerros pelo ascensor Concepción – 300 pesos -, passamos pelo Paseo Gervasone e terminamos a tarde - nublada – no lindo Paseo Atkinsons, que tem outra vista deslumbrante da cidade. Um pôr-do-sol dali... PRA VARIAR, dia nublado, dia de visitar a Casa Museo Pablo Neruda. Depois do café da manhã, subimos em direção à longa Calle Alemana, pela Templeman – nosso hostal ficava na Urriola – e, caminhando devagar, chegamos à casa do poeta, sei lá, em uma hora; não tem erro, siga a Alemana toda vida; ao chegar à escola Pablo Neruda, vire à esquerda e aí está. A La Sebastiana – entrada: 4.500 pesos - era a ultima das 03 casas de Neruda que me faltava conhecer. No meu ranking, essa fica em segundo, atrás da de Isla Negra, onde o dono descansa ao lado de sua última companheira, Matilde Urrutia; obviamente, a de Santiago fica com a terceira posição. Minha esposa, que não tinha visitado nenhuma delas, até então, gostou muito e tomou nota mentalmente de alguns detalhes – não se pode fotografar lá dentro, a não ser a paisagem pelas janelas – pensando numa futura construção. De lá, descemos a Ricardo de Ferrari, rumo ao centro, passando por uma bonita pracinha onde tem esculturas, em tamanho natural, de Neruda, Gabriela Mistral e Vicente Huidobro. Naquele feio centro de Valpo – acho que era pela falta de sol -, onde nem a praça matriz se salva, trocamos alguns reais por pesos e topamos com o restaurante Tutto Bene, na Calle Esmeralda, que oferecia uma parrillada por 13.500; não pensamos duas vezes. De volta ao cerro, pelo ascensor Concepción, andamos sem rumo pelas ruas. Não sei se ouvi isso de alguém ou se é uma produção minha mesmo, mas acho que “se você quiser encontrar Valparaíso, você deve se perder em Valparaíso”. Mesmo sem muita fome, jantamos no agradável Café Del Artista, que fica na rua do nosso hostal - uma boa refeição, mas um pouco cara. Assim terminou a andança do nosso segundo dia em Valpo. COM MAIS UMA manhã de tempo fechado, a opção de irmos para Viña Del Mar era para cumprir tabela, pois não ia dar praia mesmo. Escolhemos ir para a vizinha glamorosa de Valpo de metro, que não vende bilhetes, mas sim, um cartão que você carrega quando necessário. O tal cartão, que você não precisa devolver, mais os créditos para ida e volta - para duas pessoas -, saiu por uns 5.000 pesos. Ao chegarmos em Viña, fomos até a Quinta Vergara, que ficava bem próxima à saída do metrô que utilizamos. Trata-se de uma antiga propriedade, com um grande e bem cuidado jardim. O casarão, que pertenceu à família Vergara, ainda está ali, imponente, mas tão deteriorado que foi fechado para visitação – deve passar por reformas em breve. O local também abriga um moderno anfiteatro, um dos palcos do Festival de Música de Viña. Saindo dali, demos uma passada rápida pela Catedral e seguimos para o escritório de informações turísticas, que fica nas dependências da prefeitura da cidade, na Plaza Vergara. Com mapinhas em mãos, seguimos para Castillo Wüulf, que nos renderia um visual mais bonito se o dia estivesse ensolarado, mas valeu a visita. Seguimos para o concorrido relógio de flores, sempre cheio de turistas. Ele é bonito e tal, mas não deixa de ser um passeio da terceira idade – nada contra a terceira idade, por favor; um dia eu chego lá. Fomos até a praia, logo em frente, e, lógico, tinha pouca gente e todas muito bem agasalhadas – uns turistas tirando fotos e um grupo de estudantes à toa... Entramos num quiosque muito mais para usar os banheiros do que pra comprar algo, mas acabamos mandando ver em duas empanadas. Voltamos para o centro com a intenção de visitar o Museu Arqueológico. No meio do caminho, uma parada para um irresistível kebab – nessa altura da viagem, já não estou tão disciplinado em relação a anotar preços. No centro de Viña existem muitas galerias populares – e outras nem tanto – que valem uma passada. Numa delas tinha uma lojinha que vendia Dr. Pepper, meu refri preferido fora do Brasil – pra quem nunca tomou, o sabor é uma mistura de refrigerante de cola com cereja, a cherry cola; a própria Coca-Cola fabrica um produto assim que, até onde eu sei, ainda não é vendido no Brasil. Em outras dessas galerias, passamos por um antigo cinema, onde o filme “Neruda” estava em cartaz. Num dia nublado, friozinho e um preço convidativo – 2.000 pesos -, o que há de melhor para se fazer? (sim, eu sei que existe). Resolvemos assistir. Para quem leu a autobiografia do poeta, “Confesso que Vivi”, o filme pode ser um pouco decepcionante, pois o livro traz muito mais detalhes sobre o período abordado na película – 1948, quando Neruda, então senador, tem o seu mandato cassado e passa a ser perseguido pelo governo chileno da época e tem que fugir para a Argentina, aonde chega após uma viagem épica pelos Andes. Mesmo assim, eu recomendo. Depois do filme, já por volta das 18h00, decidimos voltar para Valpo. Recarregamos nosso cartão e tomamos o metrô. Ao chegar, como estávamos próximo do porto, demos mais uma passado por lá; uns marinheiros nos ofereceram um passeio de barco, pela facada de 10.000 pesos – duas pessoas; mas, estávamos a fim e aceitamos. O passeio foi até legal, com direito a um guia, até que bastante entendido sobre o porto, leões marinhos e uma vista bonita de Valpo, que acendia suas luzes no começo da noite. Dali, subimos o cerro pelo Concepción. Passamos pelo Café Turri – que, como o ascensor, é cenário do filme “Neruda” -, mas, optamos por um restobar, do qual me lembro de tudo, menos o nome - fica ao lado da porta principal da Igreja Anglicana, na Calle Concepción. O menu do dia, a 5.900 pesos, p.p., oferecia uma canja de entrada, bebida – um copo de cerveja, vinho ou suco -, prato principal e sobremesa. Tudo muito gostoso e bem servido – eu provei uma Ropa Vieja, prato espanhol à base, pelo que me lembro, de grão de bico, temperado com molho de carne, com pedaços de tomate, lingüiça e chouriço. Andamos mais um pouquinho pelas vielas e voltamos ao hostal, para refazermos as malas: no dia seguinte, Santiago. AINDA BEM que o dia amanheceu nublado, senão eu ia ficar muito puto. Tomamos um táxi para a rodoviária – uns 6.000 pesos – e compramos as passagens para Santiago – tarifa promocional: 3.000 pesos. Na capital chilena, o hostal escolhido foi o Boutique Bella 299 – 03 noites em quarto suíte: 86.400 pesos. O hostal, instalado numa casa antiga, conservada, aconchegante e bem decorada, passava por reformas; a localização é muito boa: perto do Museu de Belas Artes. A suíte em que nos alojaram foi a maior da viagem; boa cama, TV de tela plana com DVD player; banheiro amplo, com chuveiro “de verdade”, como aqueles que a gente está acostumado no Brasil, tudo muito limpo. O ponto negativo é que a janela do quarto, que também tinha uma sacada, fica para a rua e o barulho chega a incomodar à noite. O café da manhã é do tipo self-cathering ou seja, te dão tudo – ou quase tudo – o que você precisa, mas, é você quem prepara. Mal acostumado, eu ficava só no café – solúvel -, no chá e nas torradas com manteiga. Nosso primeiro passeio por Santiago foi pelo Museu de Bellas Artes – entrada: 600 pesos - que, naquele período, estava apresentando uma exposição de um pintor santiaguino, Guillermo Lorca; quadros inquietantes, provocantes, sombrios, dos quais, ao contrário da minha esposa, eu gostei. Também havia uma exposição de fotos antigas de Santiago, retratando crianças em situação de rua, que teve a preferência dela – que eu também gostei. Dali, seguimos para a Plaza de Armas que, para nossa decepção, estava em reformas e cercada por tapumes. Resolvemos comer no Restaurante Marco Pólo, que, apesar da aparência e do baixo preço, não tem muita qualidade; evitem. Mesmo com as reformas, a Plaza ainda tinha muita vida: músicos, humoristas, pintores, cartomantes. Paramos para ver as obras de um pintor aquarelista, Ricardo Araya. Muito bonitas, não resistimos e compramos duas por 40.000 pesos. No caminho, entramos no Museo Histórico Nacional. Tinha boas lembranças do lugar e quis que minha esposa o conhecesse, além do que, ele sempre vale uma visita – entrada; 600,00 pesos. Tivemos a oportunidade de subir na torre do relógio, de onde teriamos uma bela vista da praça e da cidade, se não fossem os tapumes e a falta de sol... Depois do museu, trocamos uns dólares e andamos sem rumo pelas galerias, procurando com o que presentear e nos presentear. Acabamos voltando para o Parque Florestal e ficamos de boa, vendo as luzes se acenderem, observando o movimento, relembrando a viagem, tirando fotos. Na volta para o hostal, passarmos no mercado – bem ao lado do hostal – e encerramos, modestamente, o dia com um lanchinho. O DOMINGO começou, finalmente, ensolarado. Saímos para um passeio pelo bairro Bellavista e seguimos para a “La Chascona”, a Casa Museu de Pablo Neruda, que ainda estava fechada quando chegamos. Eu já a conhecia e ao ouvir de mm que essa seria a menos interessante – se é que alguma delas pode ser a menos interessante -, minha esposa não ficou animada em conhecê-la e acabamos desistindo da visita. Como nossa intenção era conhecer o topo do Cerro San Cristóbal, seguimos para a estação do Funicular, que também estava fechada quando chegamos – ele começa a operar às 09h30. Aguardamos um tempinho e compramos as passagens – 2600,00 pesos p.p., ida e volta – e para lá subimos com o histórico transporte, que, entre outras pessoas importantes, conduziu o Papa João Paulo II, em 1987. No fim do tramite, você chega a uma praça de alimentação e artesanato, que fica repleta de ciclistas, turistas e oferece vistas muito bonitas da cidade. Subindo as escadarias, até a gigantesca imagem de N. Sra. De La Concepción, você passa por uma verdadeira igreja a céu aberto, onde algumas famílias católicas também depositaram, em urnas identificadas, as cinzas de seus entes falecidos. A vista da cidade e da cordilheira dali é ainda mais bonita. Após algum tempo no topo do cerro, descemos com o Funicular e pensamos em visitar o Zôo de Santiago, que também fica aos pés do cerro. Não sou a favor de zoológicos e o preço – 3.000 pesos – também não agradou minha esposa. Desistimos e fomos para o Pátio Bellavista. Apesar de ser um lugar bonito e reunir umas lojas bem legais, os preços no Pátio não são atrativos. No entanto, deu vontade de almoçarmos num dos restaurantes, aparentemente, bacanas, pero no tan caros de lá e escolhemos o “militante” Casa Del Pátio. Meu, se o arrependimento não matasse, a carne de porco que comemos lá o faria. Que porcaria! Pagamos a conta indignados e com fome, porque deixamos quase tudo no prato - 17.800 pesos jogados no lixo, nem a sobremesa se salvou. Observamos que um casal chileno também saiu de lá, resmungando contra o restaurante. Bom, decepcionados, saímos do Bellavista e seguimos até o Parque Florestal. No caminho, passamos por uma feirinha de artesãos, bem popular, que, infelizmente, tinha poucas lojinhas abertas. Foi lá que a minha esposa encontrou os melhores preços para produtos de lápis lazúli de Santiago. Dois pares de brinquinhos saíram por 4.000 pesos! Esse mercado fica na Pio Nono, entre a Bellavista e a Santa Maria. Voltamos ao Parque Florestal que, na minha opinião, é um exemplo de parque simples em sua concepção, nada faraônico, mas, mesmo assim, lindo – com aquele frescor, as árvores com folhas amarelando, avermelhando... Pelo parque, nossa intenção era irmos até o Mercado Municipal, mas antes, não muito longe dele, passamos por um mercado mais popular, mais movimentado, barulhento e interessante – para mim, que gosto de mercados, lembram? A maioria das pessoas que ali estavam pareciam ser imigrantes; comiam e compravam ao som de um grupo de músicos muito jovens e animados. Teríamos ficado mais tempo por ali se não fosse a bendita carne de porco do restaurante lá do Pátio Bellavista, que não se entendeu com o meu intestino e me obrigou a voltar caminhando como um doido para o hostal – caminhando, porque correndo, não dava. Felizmente, chegamos a tempo. Aliviado, retomamos o passeio, visitando o Cerro Santa Lúcia. Eram quase 16h30 - o lugar fecha às 18h00. Subimos ao topo, demos um tempo numa praça, um pouco abaixo dele, tomamos Mote com Huesillos – adoro essa bebida – e esperamos pelo pôr-do-sol, que chegou junto com um guarda, avisando que logo iam fechar o parque. Saímos dali pela Avenida Libertador B.O’Higgins e chegamos ao Palácio La Moneda, que fica muito bonito à noite, com as luzes coloridas do seu jardim. Como a fome já dava o ar da graça, resolvemos jantar num daqueles restaurantes populares que fica numa das galerias da Plaza de Armas – escolhemos um dos que ficam na galeria do lado oposto ao Museu Nacional. Pedimos Lomo a Lo Pobre, que saiu por pouco mais de 4.000 pesos. Nesses restaurantes, os pratos são bem servidos e de boa qualidade; o asseio e os preços também são muito satisfatórios. De barriga cheia, nossa intenção era darmos uma volta pelas lojas do centro, mas os pés começaram a reclamar, então, decidimos voltar para o hostal e dormir mais cedo. O dia seguinte exigiria muita disposição. NOSSO ÚLTIMO dia – completo – no Chile já tinha passeio definido: a Vinícola Concha y Toro. Da estação Bella Artes – linha verde - tomamos o metro para a Vicente Valdés – linha preta; dali, seguimos até a estação Las Mercedes. Saindo dessa estação, tomamos um taxi até a vinícola, que ficou, se não me esqueci, por 6.000 pesos, aproximadamente. Engraçado é que logo que saímos da estação, um senhor me disse “Concha y Toro” e me apontou o taxi, como se eu tivesse a pergunta escrita na testa, rs... O trajeto não demora muito e logo estávamos na vinícola. Escolhemos o tour mais barato – 9.000 pesos -, de uma hora, que inclui visitas aos jardins, ao casarão – só a área externa -, aos parreirais – com direito de provar as uvinhas, que são uma delícia -, às bodegas - com uma explicação bem ilustrativa sobre a lenda do Casillero Del Diablo e, claro, degustação de vinhos – você leva a taça que usou de lembrança. Depois do tour, você vai às compras na loja da vinícola – duvido que alguém não vá. Achei os preços bons e trouxe um Cabernet Sauvignon “Gran Reserva” e um Sauvignon Blanc “Late Harvest”. Eu não sou um conhecedor de vinhos, eu só gosto de vinhos e espero ter feito uma boa escolha. Gostei muito do passeio e recomendo. Tomamos um táxi de volta para a estação Las Mercedes e, dali, faríamos o mesmo itinerário até o centro. Mas, na estação Vicente Valdés, começou nosso pequeno drama. Ao sair do vagão, minha esposa notou que seu celular fora furtado e mais: com ele seu passaporte; dentro deste, sua identidade e o cartão de entrada no país. Tudo estava no bolso externo da blusa dela, que estava com o zíper fechado. Confesso que fiquei muito bravo. Não se deve carregar coisas tão importantes no bolso – mesmo fechado com zíper, com botão, etc -, dentro do metrô lotado. Voltamos para o hostal e a atendente, muito solícita, contatou o consulado do Brasil. Por telefone, o funcionário nos orientou o que deveríamos fazer: primeiro, um boletim de ocorrência na PDI – Polícia de Investigaciones de Chile -, depois, comparecer ao consulado brasileiro para solicitar uma permissão para deixar o país. Parece, mas não foi nada fácil. Tomamos um táxi para o escritório da PDI, que, atualmente, fica na Eleutério Ramirez, 852. Quando chegamos, o horário para o tipo de atendimento que desejávamos tinha acabado. Após uma chorada com um funcionário que nos recebeu com muita cordialidade, conseguimos que nos atendessem. Mas, antes, minha esposa precisaria de duas fotos 3X4, que foram tiradas num mercado ali perto – que nos pareceu longe pra caramba –, numa lojinha de bugigangas. Foi, com certeza, a pior foto que a minha esposa tirou na vida, até porque, na hora, a coitadinha teve uma crise de choro. Voltamos para a PDI, onde fomos atendidos, desta vez, por um funcionário rude, que não permitiu que eu ficasse ao lado da minha esposa; isso, porque ele a atendeu na minha frente, a uns dois metros de mim. Então, imaginem, minha esposa que já não entende muito bem o espanhol quando está calma, nervosa então... Dava pra ver a irritação dele, quando ela não respondia, exatamente, o que ele perguntava. Bom, no fim, o tal funcionário fez o que deveria: o boletim de ocorrência e ainda concedeu um novo boleto de entrada no país, evitando que pagássemos uma multa de sei lá quanto dólares. Porém, não tinha acabado. Eram 15h40 quando deixamos a PDI e o Consulado do Brasil fechava às 16h00. Outro táxi até a Avenida Apoquindo, 3039, em Las Condes. Quando lá chegamos, o consulado já estava fechado. Por sorte – não, dedo de Deus mesmo -, havia ali um senhor brasileiro, que mora em Osorno há muitos anos e que aguardava para retirar seu passaporte. Como o sistema tinha sofrido uma queda, a funcionária da embaixada não conseguiu concluir o atendimento com ele, antes do final do expediente; assim, como ela ainda estava por ali, não viu razão para deixar de nos atender também. Fica aqui o registro pelo excelente atendimento que ela nos prestou. Quando saímos do consulado, já eram mais de 17h00. Depois da correria, a adrenalina baixou e nós ficamos meio atordoados. Olhei em volta e deu pra ver que Las Condes é um lugar muito bacana, moderno, bonito mesmo e que, em outras circunstâncias, merecia uma visita. Mas deixa pra próxima. Chateados e, apesar de tudo, com fome, pois não tínhamos almoçado, decidimos voltar para o centro de Santiago e comemos, novamente, num daqueles restaurantes populares da Plaza de Armas. Saindo de lá, me lembrei do Mercado, puxa, o Mercado... Fomos até ele, mas já estava fechado. Durante algum tempo, andamos sem rumo pelas ruas do centro, tentando encontrar alguma motivação para terminarmos melhor aquela noite. Só fiquei mais animado, quando reencontrei, meio sem querer, uma loja de vinis e cd’s – sou colecionador – que conheci em outra passagem por Santiago. Vendo minha animação, minha esposa também se animou. Na mala, seguiram coletâneas de Victor Jara, das bandas Los Bunkers e Sol y Lluvia e do álbum “Pánico” – isso, com acento agudo no “a” -, de Manuel Garcia. Para tirar o resto do gosto amargo daquele dia, sentamos para tomar mais um Mote com Huesillos. Voltamos ao hostal para arrumar nossas malas, mas, antes, passamos no mercado para comprar pisco – sem dúvida, saiu muito mais barato do que no aeroporto ou em qualquer outra loja mais sofisticada. MANHÃ DE TERÇA-FEIRA, 29 de abril. Nosso confortável transfer – reservado no hostal por 15.000 pesos – nos deixou no aeroporto, dentro do horário previsto e embarcamos sem correria. Com exceção de uma turbulência, quando já sobrevoávamos Santa Catarina, o vôo foi tranqüilo. O imprevisto do dia anterior em Santiago ainda não tinha sido esquecido. No entanto, ele não impediu que nossa avaliação da viagem fosse altamente favorável. Apesar das suas “mãos leves”, o Chile continua lindo e, claro, merecedor de novas visitas. Editado Setembro 20, 2014 por Visitante Citar
Membros Ana Regina Silva Postado Julho 4, 2014 Membros Postado Julho 4, 2014 Gostei muito das dicas. Adorei saber que dá pra visitar o parque nacional huerquehue, os ojos del carbugua e lago carbugua por conta própria. Só tinha verificado em agencias de turismo. Notei que para alguns preços vc colocou por ex. 4.500 pesos e em outros o valor mais p/p. Sei que significa que é por pessoa, mas os valores que não eram seguidos de p/p era o valor total pago pelo casal? Obrigada Citar
Membros MHansen Postado Julho 4, 2014 Autor Membros Postado Julho 4, 2014 Gostei muito das dicas. Adorei saber que dá pra visitar o parque nacional huerquehue, os ojos del carbugua e lago carbugua por conta própria. Só tinha verificado em agencias de turismo.Notei que para alguns preços vc colocou por ex. 4.500 pesos e em outros o valor mais p/p. Sei que significa que é por pessoa, mas os valores que não eram seguidos de p/p era o valor total pago pelo casal? Obrigada Oi Ana! Me atrapalho um pouco com os recursos aqui do site. Espero estar respondendo da maneira correta. Bom, nem sempre os valores que não eram seguidos de p/p eram para casal; os valores das entradas nos parques, de passeios, passagens de ônibus são por pessoa; alguns valores de refeições - c/ exceção das parrilladas - também. Qualquer outra dúvida, estou à disposição. Abraço! Citar
Membros MBHansen Postado Julho 6, 2014 Membros Postado Julho 6, 2014 Rs Me surpreendi quando vi este post, pelo teu nick, rs. Citar
Membros lfabricio Postado Julho 9, 2014 Membros Postado Julho 9, 2014 Opa cara! Muito bacana o seu relato! Estou planejando uma viagem para o sul do Chile para Setembro. Poderia tirar uma dúvida: para a subida ao vulcão a empresa fornece o traje/equipamento? Se não, o que você aconselha levar? Obrigado! Citar
Membros MHansen Postado Julho 9, 2014 Autor Membros Postado Julho 9, 2014 Opa cara! Muito bacana o seu relato! Estou planejando uma viagem para o sul do Chile para Setembro. Poderia tirar uma dúvida: para a subida ao vulcão a empresa fornece o traje/equipamento? Se não, o que você aconselha levar? Obrigado! Olá Fabrício! Eu só iria pagar o aluguel de um óculos mais apropriado para o ambiente de montanha, do que aquele que eu iria usar; no final, nem me cobraram o aluguel; o restante do material necessário para a subida foi fornecido pela empresa. Eu recomendo o uso de uma balaclava, que não é fornecida pela empresa e nem é uma exigência, mas protege, e muito, o rosto do vento gelado. O lanche também é por sua conta. Qualquer outra dúvida, estou à disposição. Abraço Citar
Membros alefemaiike Postado Outubro 17, 2014 Membros Postado Outubro 17, 2014 Olá, gostei muito do seu relato, e gostaria de tirar algumas duvidas, estou montando emu roteiro para o ano que vem. Pode me passar seu facebook? Eu gostaria de saber se fazer o passeio ao Ojo del Caburga e Parque Huerquehue por conta sai mais barato? É fácil fazer esse passeio por conta? em uma escala de 0 a 10 qual o grau de cansaço que esse passeio proporciona? Citar
Membros MHansen Postado Outubro 18, 2014 Autor Membros Postado Outubro 18, 2014 Olá, gostei muito do seu relato, e gostaria de tirar algumas duvidas, estou montando emu roteiro para o ano que vem. Pode me passar seu facebook? Eu gostaria de saber se fazer o passeio ao Ojo del Caburga e Parque Huerquehue por conta sai mais barato? É fácil fazer esse passeio por conta? em uma escala de 0 a 10 qual o grau de cansaço que esse passeio proporciona? Olá! Obrigado pelo elogio. Eu desativei meu perfil no Face. Penso em reativa-lo, mas não já, rs... Se um dia desses quiser fazer uma busca, procure por Marcos José Hansen. Bom, na verdade, eu não saberia dizer se fazer os passeios ao Ojos de Cabrugua e ao Huerquehue por conta saí mais barato do que por agências. É que o meu hostal ficava tão próximo do terminal de micros que servem esses locais, ficava tão prático, que nem procurei pelas agências. Para Huerquehue, o micro te deixa na entrada do parque. Para Caburgua, o micro te deixa na estrada, a uma caminhada bem gostosa dos Ojos; peça para o motô te avisar quando deve descer. Mas, eu acho que sai mais barato e é bastante fácil sim. Com relação ao grau de dificuldade do trekking pelo Huerquehue, isso depende das condições físicas de cada um e das condições do clima. Eu enho 43 anos, faço caminhadas regulares e dou umas corridinhas, mas estou longe de ser um atleta; no entanto, me dei bem. Num dia com clima mais ameno é melhor para caminhar do que enfrentar um dia mais abafado. Recomendo que leve bastante água e hidratantes, tipo Gatorade; mesmo com clima úmido e mais frio, eu senti mais sede do que fome, rs. Qualquer outra dúvida, pode me escrever aqui no Mochileiros mesmo ou no meu e-mail: mjhansen71@yahoo.com.br Abraços! Citar
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