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Me sentido endividado com os relatos e informações coletadas nesse site, me senti na obrigação de fazer minha primeira contribuição, fazendo o relato dessa travessia, e poder de alguma maneira alimentar outras pessoas a fazerem o mesmo.

 

Tentarei ser breve (ou não), buscando mostrar informações relevantes sobre a travessia.

 

Antes de mais tudo, gostaria de agradecer ao Getulio, pessoa que ainda não conheço pessoalmente, mas que foi de suma importância para conseguir realizar a travessia (deu dicas valiosas sobre o lugar, e principalmente, me ensinou a manusear o GPS que ainda não tinha colocado em uso, e que sinceramente se mostrou muito importante para a realização do mesmo). Gostaria também de agradecer ao Tiago Korb, que também soube me dar dicas sobre aquela região até então desconhecida por mim.

Enfim, vamos ao que interessa...

 

PÁSCOA, Feriadão, o que fazer? Caminhar!! Essa era a minha ideia, e dos companheiros de empreitada: Jordana (namorada), Jonny e Carlos. Mas para onde? Havia algumas opções, mas optamos por aquela região que até então nunca tinha colocado os pés, nem de perto, apenas conhecia por imagens que se mostravam símbolo do Estado Rio-grandense e Catarinense.

 

Basicamente, o trajeto consistiu em percorrer as bordas dos cânions desde a Serra da Rocinha até o Cânion Fortaleza, andando pelos platôs da Serra Geral e do Aparados da Serra.

Obs: A ideia era prolongar a travessia até o Cânion Itaembezinho, porém em contato com a ICMBio, tive o desprazer de ser informado que a passagem entre o Fortaleza e o Itaembezinho estava expressamente proibido por trâmites latifundiários, ou seja, visitar o cânion Malacara e Churriado caíram fora dos planos. Até mesmo visitá-los é proibido, sem a permissão do dono daquelas terras.

Depois de traçado todo trajeto, e verificado que se passariam quatro dias para conseguir realizar a travessia, comecei a bolar a logística, que se diga de passagem é péssima por aquelas bandas, principalmente em feriados. A ideia mais tangível acabou ser indo com dois carros, deixando um carro no ponto próximo ao de início de travessia, e outro próximo da chegada.

 

PRIMEIRO DIA - Dia 18/04

 

Como combinado, às 03h30min da manhã saímos da cidade de Arroio do Meio com destino a Cambará do Sul, mais especificamente no Paradouro Fortaleza onde seria deixado o primeiro carro. Por volta das 8:00 horas chegamos no local. Liguei com antecedência na pousada, pra verificar se poderia deixar meu carro lá durante esses quatro dias, onde foi cobrado o valor de R$5,00 a diária (até achei um preçinho bacana, visto que lá não se tem muita alternativa, e fica muito próximo do Fortaleza, que era nosso ponto de chegada da travessia, assim se fazendo desnecessário a utilização de um taxi até a cidade). Só asfalto, foi uma beleza pro corsinha 95.

Embarcamos eu e minha namorada no outro carro que estavam o Jonny e o Dudu, e fomos até a Pousada Vale das Trutas, na cidade de São José dos Ausentes, lugar próximo ao marco zero da nossa caminhada. Que perrengue... 30km de estrada péssima, chão batido de má qualidade, buracos, buracos e mais buracos, e muitas pedras soltas. Como o veículo não era 4x4, o jeito foi pilotar a 20km/h, demorando mais de uma hora até chegar no local. Pra variar, pneu furado faltando uns 2km pra chegar até a pousada. Fazer o que?!! ::vapapu::

 

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Enfim, chegamos na pousada próximo do meio-dia, e a fome já batendo. Tinha um restaurante na pousada, e resolvemos almoçar por lá mesmo, alías, não almoçamos ao saber que o preço da refeição era R$40,00 ::hein: . O jeito foi começar logo a pernada pela estrada que dá acesso a Serra da Rocinha – Timbé do Sul apenas comendo uma barrinha de cereal. Caminhamos 5km por chão batido, em subidas já de perder o fôlego.

 

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Era 13h00 quando apontamos a cota mais alta e começamos a visualizar aquilo que nos esperava. À esquerda (ao norte), se enxergava belos paredões, que te leva aos cânions Amola-faca, Realengo, Boa Vista, e a tantos outros. À direita (ao sul) nosso trajeto, tão belo quanto o norte. Antes de mais tudo fomos um pouco mais a leste, em direção as torres de antena (não sei ao certo de que tipos de torres se tratam) que se fazem presente ali, pra admirar de outro ângulo o lugar. Voltamos para oeste, e finalmente chegamos ao MARCO ZERO, rumo ao SUL INFINITO. Começamos logo pulando um cerca de arame farpado (Ahhh... aquela ainda foi de alegria, pois viriam dezenas pela frente, onde tirar e colocar a mochila pra atravessar uma cerca era motivo de lágrimas). Dali em diante fomos acompanhando o gasoduto que atravessa aqueles campos e matas (dando a impressão de um “moicano invertido”) no que restava do dia.

 

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No início a caminhada se fez em ritmo acelerado, visto que estávamos atrasados para chegar até o ponto de primeiro acampamento previsto. O relevo não se mostrava tão sinuoso, mas pura ilusão, pois o horizonte nos mostrava que viriam muitas descidas e subidas ainda para aquele dia. Até então a vegetação era bem rala (devido a atividade pecuária do lugar), e se mostrava bem seca, ou seja, estava ótimo para manter um bom ritmo. Logo começaram as subidas, que começou a fadigar a galera, com fome e cansados, pois o dia começara cedo. Tiramos um pouco a mochila das costas e descansamos por alguns minutos, e logo voltamos a caminhar.

 

Não durou muito, e algumas nuvens pesadas começaram cercar nossas cabeças. Pronto: CHUVA. A partir dali o cansaço já pegara de vez, principalmente ao Jonny, que já não se mostrava mais sorridente como no início, e também ao Dudu, que se mostrava um pouco preocupado (o desfecho disso vem logo a seguir)

 

Continuávamos descendo e subindo... descendo e subindo, até que chegamos em um riacho (existem dezenas pelo caminho). Paramos ali para coletar água e descansar um pouco. Não faltava muito para o nosso acampamento, e eu até já previa através do horizonte mais ou menos a localização do nosso acampamento. PURA ILUSÃO, pra desânimo dos dois hehe... a caminhada se estendia cada vez mais.

 

Continuávamos a caminhar paralelamente ao gasoduto, e foi ali que houve nosso primeiro erro. Fui conferir no GPS, e já estávamos bem fora da nossa rota. Realmente aquele lugar parece que te faz puxar sempre a sudoeste. Foi um erro ter acompanhado por tanto tempo o gasoduto e não conferir no GPS. Alinhamos-nos rumo a sudeste novamente, e continuamos a caminhar por alguns quilômetros, já se afastando das clareiras que o gasoduto deixa no lugar.

 

Enfim, avistamos de longe aquilo que era nosso local de acampamento. MAS EIS QUE COMEÇA O PRIMEIRO TERRENO DE CHARCO E TURFAS. Como eu odiei aquilo (Sou pesado, eu afundava mais que todos naquele terreno). Eu puxava a frente do bando, com a alegria de ver o local de acampamento a poucos metros. Foi então que também veio o primeiro tombo, ao cair numa valeta que se fazia escondida no meio naquele charco com vegetação mais alta. Bom, o meu consolo foi que todo mundo de alguma forma caiu naquela vala de água suja. Passado aquilo, chegamos no objetivo do primeiro dia, e lá se foram os 13km iniciais. O único imprevisto que ali era pra ter um riacho de água limpa, mas onde estava esse riacho?? Comecei a pensar que havia sonhado aquilo no Google Earth. O jeito foi dormir sem banho e muito sujo. Fizemos a janta, e sem delongas todos foram dormir, deixando de lado o chimarrão, e as conversas intermináveis que se espera de um acampamento.

 

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SEGUNDO DIA – AGORA ERAM APENAS DOIS

 

Acordei por volta da 6:30, e já sentia o frio ao me retirar do saco de dormir. Abro o fecho da barraca, e me deparo com a luz do sol, promissora por sinal. O dia estava lindo, céu aberto, com poucas nuvens, e um sol ganhando força, onde boa parcela ainda se escondia atrás do relevo mais alto. Espichei-me, e logo comecei a arrumar as tralhas, visto que tínhamos 20km pela frente naquele dia. Na barraca ao lado o ritmo era lento, e logo descobri o motivo: Jonny continuava exausto, sem condições de prosseguir e caminhar os 50km ainda previstos para aquela travessia. Dudu optou por retornar junto com ele (mais do que sensato). Foi uma notícia recebida com tristeza... afinal a parceria sempre é importante durante a caminha (histórias, boas risadas, motivação, etc). Despedimos-nos, e nos desejaram boa sorte. Eu e minha namorada colocamos as botas molhadas, arrumamos os últimos detalhes, e seguimos campo a dentro... era o jeito!! Rumamos à esquerda (leste), em direção aos paredões. Logo após contornar a mata, uma subida bem forte nos esperava. Subindo lentamente, verifico o verdadeiro lugar previsto para nosso primeiro acampamento. Estava nas nossas costas o tempo todo, e ali se sim passava um riacho ::toma:: . Mas bola pra frente, coletamos água e nos aprumamos. O sol continuava a ganhar força e a ganhar forma, já estava formada sobre nossas cabeças. O frio deixou de cena, e o calor resolveu tomar conta... e lá se ia os casacos pra mochila.

 

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Chegamos ao topo da montanha... e de lá visualizamos todo vale ao horizonte. Aquele lugar era realmente bonito, contraste de cores, onde o campo e a mata brigavam entre si por sua supremacia. Daquele ponto dava para se orientar por quilômetros, e se enxergava a leste muito distante dali, o nosso primeiro cânion.

 

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Descemos a colina em direção ao cânion, caminhamos o vale rodeado de vacas e cercas de arame farpado... quanto pular, tirar e colocar mochila. Enfim chegamos a borda do cânion, e por lá fomos caminhando e admirando o lugar. Estávamos acima das nuvens do litoral, literalmente.

 

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E naquele instante a neblina já atrapalhava o cenário, porém sem muita força. Direto dali rumamos ao Cânion da Figueira. Foi então que a neblina começou a tomar conta daquele lugar, e não demorou minutos pra não enxergarmos mais nada, de Norte a Sul, de Leste a Oeste. A única maneira era se guiar pelo trajeto do GPS, escala bem reduzida pra não cometer erros, e manter o ritmo pra chegar no acampamento (faltavam ainda 12km). O Cânion da Figueira passou batido, como todo o resto. A caminhada perde um pouco da sua graça, pois sabe que vai deixando de ver muitas coisas bonitas por conta da neblina, e o único objetivo se reduz a chegar ao acampamento. :(

 

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Felizmente não houve nenhum imprevisto, seguimos rigorosamente o trajeto no GPS. Nenhum imprevisto, mas muito Charco e Turfas. Essas regiões pantanosas faziam o ritmo desacelerar. No ponto de vista atual, vale mais contornar montanhas, do que cortar vales e enfrentar esse terreno maldito. A vegetação atinge linha da cintura, a lama se estende até sua canela, e as trufas fazem você afundar até o joelho, criando uma sucção medonha... aquilo realmente estava me matando. Mas eu tinha que encarar aquilo, pois a visibilidade era zero, e aquele caminho se fazia presente (Obs: traçando a rota por imagens de satélites, parecem regiões ótimas de se caminhar, mas são justamente esses vales planos que se estendem por quilômetros, rodeada de montanhas, que se faz presente esse terreno úmido, e cuidado pois por elas passam valas de água escondidas pela vegetação, que acabam se tornando em tombos se passar sem atenção). Minha namorada se saia bem melhor nesse tipo de trajeto, pois ela é mais leve, logo afundava menos que eu e fazia menos força pra caminhar. Se não fosse por ela, acampava ali mesmo (exagerando é claro, mas minhas forças estavam se esgotando). Paramos pra fazer um lanche, e já me sentia bem melhor. Nesse trajeto também já começavam as florestas de pinus, que começam a surgir constantemente pela travessia. Às 17:00 chegamos ao local de acampamento. O local era bem plano, e próximo a um arroio. Tomamos um banho BEM gelado, e fizemos nossa janta. Partimos para dentro da barraca acompanhados de um bom chimarrão, e fomos dormir logo em seguida.

 

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TERCEIRO DIA – O PIOR DE TODOS

 

Acordamos cedo naquele que seria nosso terceiro dia de caminhada. Dessa vez a noite tinha sido mais bem dormida, diferentemente pra minha namorada, que se queixou pelo fato de acordar toda hora. Era 6h:00 quando resolvi arriscar sair do calor do saco de dormir. Olho pra fora da barraca e verifico que a neblina continua predominante, nada havia mudado em relação ao dia anterior. Sem muita pressa, tomamos outro chimarrão, e aos poucos arrumando nossas tralhas. Apesar da pouca pressa o dia prometia, pois seriam nada mais e nada menos que 24km de caminhada. Quando o relógio apontava 8h:00 erguemos as mochilas nas costas, e nos aprumamos rumo ao sul. Seguimos costeando o arroio, e logo avistamos duas pequenas cachoeiras. Estavam os dois dispostos, e mais felizes após abrir o tempo 1hr depois de começarmos a caminhar. A neblina havia feito às pazes conosco, porém o sol continuava a se esconder. Era uma manhã nublada, com nuvens carregadas, porém com o horizonte aberto sem a presença da neblina. A passada era acelerada, seguindo sempre o arroio, e assim fomos ganhando terreno sobre áreas intermináveis de campo.

 

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Vencemos inúmeros vales de charcos e turfas, outras contornamos quando possível. Aos poucos fomos nos afastando da borda dos cânions, sentido sudoeste. Não demorou muito para chegarmos na cascata do Arroio Lajeado das Marrecas. É uma cachoeira bela, e vale a pena se afastar um pouco da borda dos cânions para visitá-la. Tiramos algumas fotos, e rumamos novamente para sudeste.

 

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Faltavam aproximadamente 7km pra se chegar até o Cânion da Pedra e a borda norte do Cânion Fortaleza. A ideia projetada inicialmente era de visitar o cânion da Pedra e rumar a oeste, a fim de sair das áreas do Parque Nacional, e acampar próximo a nossa pousada, fora do parque. No dia seguinte (segunda-feira) caminharíamos até a pousada, e de carro voltaríamos até o Cânion Fortaleza para visitá-lo. Porém como o ritmo continuava forte, decidimos àquela hora tentar finalizar a caminhada ainda no domingo, passando pelo Cânion da Pedra, e ao invés de rumar a oeste, continuar a sul para visitar o Cânion Fortaleza, mesmo que chegássemos durante a noite na pousada. Calculava que aquilo era possível, e que conseguiríamos sair do PN antes das 18h:00 (horário estabelecido pelo parque). Havia passado meia hora após essa nossa decisão, quando a neblina apareceu do nada, fechou o lugar em menos de 2 minutos, e dessa vez muito mais forte do que no dia anterior.

 

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Era o que menos queria, pois afinal, já estávamos perto dos cânions, e desejava o tempo limpo. Desorientação total, não enxergava o que estava a poucos metros da minha frente... o único jeito era novamente se guiar apenas pelo GPS, e caminhar sem beleza nenhuma aos redores. Pra finalizar, a chuva resolveu dar as caras também. Tudo começara a ficar péssimo, o próprio ritmo já estava caindo, afinal os charcos e turfas não cessavam, combinando com neblina forte e chuva. Já era 15:00 quando chegamos no que imaginava ser o cânion da pedra (apenas imaginava, pois não enxergava nada), quando me deparo com uma mata intransponível... Pensei: ué, não tracei nada em que tivesse que caminhar em mata nativa, exceto em plantações de pinus. Não conseguia mais rumar ao sul, com destino ao Fortaleza, e comecei andar a oeste, afinal a leste era o cânion, e a mata não dava brechas. Às vezes até dava uma colher de chá, e conseguia avançar ao sul, mas logo em seguida me deparava com mais mata, e novamente estávamos enclausurados. A neblina ficava cada vez mais forte, e a chuva também apertava. O tempo passava, porém não avançávamos, muito pior, começamos a andar em círculos. ::ahhhh:: Nessas horas o psicológico começa a afetar, ainda mais com a confirmação de estar andando em círculos. Estávamos molhados e com frio, e tínhamos pressa e fome!! Ficamos debaixo de algumas árvores e resolvemos comer um miojo para cada um. Fizemos aquilo que era nosso almoço quando já era 16h:00. Não havia mais tempo para muita coisa, mas tínhamos que sair ao menos dali. Como não conseguimos avançar pelos cânions, resolvemos então voltar ao plano A, que foi de acampar ainda no domingo, porém longe dos cânions.

 

Rumamos a oeste, nos afastando da borda dos cânions, em direção ao que estava traçado no GPS, porém agora muito longe do que seria nosso acampamento previsto no GPS. Era óbvio que não conseguiríamos chegar no acampamento, mas a teimosia dizia que ainda conseguiríamos, mesmo que fosse noite, mas esquecia da situação do nosso corpo. Minha namorada já estava bem cansada, e eu apesar de insistente, estava na mesma situação que a dela. Avançamos mais um pouco, e chegamos ao nosso traçado novamente sem mais imprevistos, felizmente, porém faltavam mais 6 ou 7km pra chegarmos no local de acampamento. Caminhávamos já sem postura, tropeçando a cada instante, até que “desabamos”. Resolvemos acampar ali mesmo, e torcer no dia seguinte para termos um dia limpo. Onde estávamos? Não sei hehe, só vim a descobrir no dia seguinte. A serração estava tão forte que dava a impressão de estar precipitando, montamos a barraca e nos refugiamos dentro dela. Não demoramos a dormir, só foi o tempo de trocarmos de roupa e organizar a bagunça lá dentro. Comemos algumas besteiras e fomos dormir sem demora.

 

 

QUARTO DIA – VALEU A REZA

 

Acordamos com uma grande expectativa do tempo lá fora. Torci a noite toda por um dia de sol, sem neblina, para que pudéssemos voltar tranquilos até a pousada, afinal aquele tinha que ser o último dia de caminhada, pois tínhamos que trabalhar no dia seguinte e teríamos que pegar uma longa estrada pela frente, sem contar que continuava apreensivo sobre o que o lugar ainda nos reservaria. Felizmente o dia amanheceu limpo, o mais limpo de todos, foi motivo de grande euforia. Arrumamos as tralhas em minutos, e pegamos a trilha. Estávamos em um descampado, na parte média de uma montanha. Ao chegar no seu topo, conseguimos verificar ao longe onde teríamos que passar, no meio de infinitas plantações de pinus. Fomos rumando a oeste, e a esquerda agora eu enxergava os imponentes paredões do cânion Fortaleza. Estavam a mais ou menos 3km do ponto onde estávamos, mas com dor no peito não podíamos ir até lá, pois agora a questão era chegar até a pousada.

 

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Logo chegamos nas plantações de pinus. A partir dali a caminhada fica muito tranquila, pois existem inúmeras ruazinhas que mapeiam aquelas plantações. Passamos por diversos riachos, e novamente por diversas cercas. A atração daquele dia ficou por conta de uma bela cachoeira que alcançamos perto do meio dia. Paramos ali para fazer um almoço e tirar as botas para descansar. Perdemos um bom tempo por ali, pois notei que a caminhada não se estenderia tanto quanto imaginava, faltavam mais uns 6km, e o tempo estava promissor. Barriga cheia e botas na trilha novamente. Continuávamos caminhando por estradas dentro das plantações (eram melhores que a estradas de São José dos Ausentes...) numa passada boa, porém com o corpo já pedindo arrego dos dias anteriores. Não demorou muito para avistarmos a estrada de asfalto que dá acesso ao Fortaleza e a pousada. Pulamos outra cerca e subimos a estrada até pousada. Chegamos perto das 15:00 na pousada, deserta por sinal (estava louco pra beber uma refri no restaurante). Tínhamos agora a opção de ir carro até o cânion, mas a alma estava lavada, tinha a sensação de dever cumprido mesmo sem enxergar os cânions que são as atrações do lugar... só restava ir pra casa e deixar aquele gigante para outra empreitada.

 

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INFORMAÇÕES:

Aqui algumas dicas que considero relevantes

 

- Apesar de parecer uma caminhada fácil, onde a elevação do relevo não seja tão acentuada, a caminhada se torna bem cansativa ao passar por inúmeros e extensos charcos, e no vai e vem de subidas e descidas de montanhas. A elevação do meu percurso ficou entre de 950m a 1250m

 

- Só para reforçar o que já vem sendo reforçado por outros: em caso de viração (neblina) por aquelas bandas, muita cautela, pois a visibilidade é nula, e a orientação deixa de existir sem uso de GPS ou bússola.

 

- A mata nativa daquela região é intransponível, ou seja, bolar o percurso.

 

- Água em abundância, algumas mais confiáveis do que outras.

 

- O sinal de celular é nulo em 90% do trajeto para determinadas operadas. O meu é Vivo e pegava em alguns momentos, mas raros. Da minha namorada é TIM, e não tinha sinal nunca.

 

- Existem algumas fazendas durante o trajeto e um hotel-fazenda, em casos de emergência.

 

Um Grande Abraço

Rodrigo Bruxel

  • Amei! 3
  • Membros
Postado

Muito bacana cara! Também quero um dia fazer essa trilha.

 

No inverno deve ser ruim passar nesses atoleiros, com a água gelada pode dar problema nos pés. Será que dá pra evitar de passar nesses locais durante a caminhada?

 

Pena que os camaradas arrepiaram, mas pra quem olha assim de longe parece fácil, até que se chega nessa situação e sente-se na pele a dificuldade do cansaço, o psicológico abalado, etc. Tem que ter mesmo força de vontade e persistência pra seguir em frente. Tem que ser teimoso e determinado, né?

 

Abraço

  • Membros
Postado (editado)

E ai Vidal!! Tudo bem?

 

Quanto a região de charco e turfeiras, é possível evitá-las em algumas situações, mas terá que contornar pontos mais elevados (desde que o tempo esteja limpo por lá, e consiga enxergar uma rota alternativa para evitar os charcos), porém isso poderá aumentar a distância de caminhada. Em outros momentos não tem como evitar, pois são campos com mata nativa rodeando esses vales, aí só cabe lamentar ::vapapu:: !! Mas toda travessia deve ter um pouco de superação, caso contrário, não haveria graça.

 

Espero que faça em breve essa travessia. Torço para que pegue tempo bom, pois em dias de neblina a beleza do lugar deixa de cena.

 

Um grande abraço

Editado por Visitante
  • Membros de Honra
Postado

Rodrigo, meus parabéns!

Parabéns pela determinação sua e da sua namorada e por não se deixar abater mesmo em condições tão adversas.

 

Caminhar por esses terrenos realmente não é nada fácil. Para quem não conhece e vê as fotos, principalmente as aéreas, parece tudo muito bom e fácil, quase tudo plano, como se fosse um grande pasto... mas na hora H a coisa é bem diferente. Os charcos e turfeiras atrasam a caminhada e cansam demais.

 

Na Páscoa eu estava na região também, tentei fazer a travessia do Rio do Rastro até a Serra da Rocinha, mas peguei esse tempo instável também, com alguns momentos de sol mas neblina forte na maior parte do tempo. No dia 22 choveu torrencialmente de madrugada e de manhã, e resolvi abortar pois não estava aproveitando nada da beleza do lugar.

 

Eu não conhecia nada do trajeto e também desenhei no Google Earth. É uma ótima forma de escapar de grandes trechos de mata fechada, mas tem seus imprevistos...

 

Obrigado por compartilhar conosco essa sua experiência, que apesar de tudo teve sucesso, chegou ao destino desejado. Agora é voltar um dia para curtir o visual, como eu pretendo fazer.

 

Abraço.

  • Membros
Postado

Salve Rafael!

 

Obrigado!! Realmente os charcos combinados com as turfeiras são um caso a parte (para mim, talvez pelo fato de ser pesado e afundar), outros talvez não se incomodem tanto!!

 

Tentou fazer a travessia no feriadão, ou após o feriado?? No feriadão o tempo estava bem instável.. dia bom para só no último dia de caminhada, na segunda -feira. Sexta-feira o dia estava bem nublado com algumas pancadas de chuva, sábado e domingo muita neblina, e também com algumas pancadas de chuva.

 

É uma pena que teve que abortar. A natureza é assim mesmo, nem sempre resolve nos mostrar sua beleza. Espero que volte a tentar fazê-la... e fico no aguardo de um convite para essa travessia hehe.... até porque tenho como meta percorrer toda serra geral!!

 

Um grande abraço

  • Membros de Honra
Postado

Show de bola!!!! ::otemo::::otemo::::otemo::

Belíssima travessia, de respeito hein?!?!? Parabéns pela determinação e força de vontade, vocês foram guerreiros.

Esses aparados gaúchos e catarinenses são um dos lugares mais belos que se tem para caminhar no Brasil, na minha opinião.

O que estraga são as turfas... ::grr::

  • Membros de Honra
Postado

Rodrigo, eu comecei a travessia no feriado. E peguei o tempo exatamente como você falou. O sol da segunda-feira me animou a continuar, mas na terça-feira o mundo desabou em água. A trilha virou um rio, os barrancos viraram cachoeiras e o Rio Púlpito encheu, ficou enorme. Queria ter fotografado isso mas guardei bem a câmera para não molhá-la. Ficou para outra oportunidade, quem sabe no ano que vem.

  • Membros
Postado
Show de bola!!!! ::otemo::::otemo::::otemo::

Belíssima travessia, de respeito hein?!?!? Parabéns pela determinação e força de vontade, vocês foram guerreiros.

Esses aparados gaúchos e catarinenses são um dos lugares mais belos que se tem para caminhar no Brasil, na minha opinião.

O que estraga são as turfas... ::grr::

 

Caro Otávio!

 

Muito obrigado! Realmente o lugar é fantástico, pena que a ação da natureza ficou me devendo ainda alguma coisa nessa travessia. Ficou a vontade de voltar e poder repeti-lá. Mas antes disso outras prioridades, sendo algumas delas na sua terra. muito em breve!! ::otemo::

 

Já sobre as Turfas, sem palavras :mrgreen:

 

Um grande abraço Otávio

 

Att

R. Bruxel

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Parabéns Rodrigo,

 

Essa trilha faz tempo que estou querendo fazer. Foi por muito pouco que eu, minha namorada e meu irmão não fomos na páscoa também.

Para ser sincero senti um pouquinho de inveja ao olhar tuas fotos e ler essa baita história. Mas ao mesmo só me animou mais.

 

Esbocei um roteiro no google maps também e troquei umas idéias com o Tiago Korb.

 

Porém, como não desisti ainda de ir, agora gostaria de umas dicas tua.

 

Agora no inverno é inviável? Terei que esperar outubro?

 

Show de bola teu relato.

 

E pelo que entendi os companheiros voltaram?

Abraço

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