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10 dias pela Chapada Diamantina


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A viagem pra Chapada Diamantina já estava em nossos planos a alguns anos. Já tínhamos ido à Chapada dos Veadeiros e a expectativa não podia ser melhor: sabíamos que na Diamantina a diversidade de atrações seria bem maior, muito mais do que eu imaginava quando comecei a pesquisar para a viagem. Rios, cachoeiras, chapadões de rocha maciça, canyons profundos, penhascos vertiginosos, cavernas pré-históricas, piscinas naturais, grutas com lagos de água cristalina para mergulhar, cidades históricas, mirantes fantásticos, paisagens indescritíveis. E coroando tudo isso, o visual do Cerrado, que eu ansiava reencontrar. Em um lugar com tais dimensões (rodamos 900km por lá, sendo 200km em estrada de terra – para atravessá-la de norte a sul, são 230km) e com tantas direções a serem seguidas, eu sabia que o planejamento e a logística precisavam ser bem feitos, para que nós aproveitássemos o lugar ao máximo. Sendo assim, me debrucei sobre um mapa da Chapada e comecei a desenhar os contornos iniciais da nossa viagem.

A primeira coisa que ficou clara foi que precisaríamos de um carro. O transporte público na Chapada é bastante limitado e fazer os passeios pelas agências é facada na certa: pagarás pelo transporte e pelo guia, indissociáveis, o primeiro geralmente muito caro e o segundo muitas vezes desnecessário. Não estou aqui querendo tirar a importância do guia, mesmo porque a maioria depende disso pra viver, mas sempre privilegiei minha independência durante os passeios, ou seja, SE der pra ir sem guia eu vou sem guia. É claro que pessoas não acostumadas a trilhas ou sem nenhum senso de direção devem SEMPRE contratar um guia. Mas há muitos lugares na Chapada aonde se chega por conta própria tranquilamente.

Chegamos ao aeroporto de Salvador às 3 da matina. Uma hora depois estávamos dentro do carro, no estacionamento da locadora, esperando o dia amanhecer para seguir viagem mais tranquilamente. Dava pra ir até Lençóis de ônibus, mas o custo, pra duas pessoas, ida e volta, ficaria o mesmo que alugar o carro mais a gasolina. E alugar o carro na Chapada é beeeeem mais caro.

De Salvador a Lençóis são 420km, mais ou menos 5 horas de viagem. O bom é que não passa por Salvador, já pega direto a autoestrada. Optei por ir por cima, por Ipirá, pra fugir do trânsito intenso de caminhões na BR-116/242. As estradas de asfalto, tanto até a Chapada quanto dentro dela, estão excelentes, e dá pra desenvolver boa velocidade. Chegamos a Lençóis por volta do meio-dia.

Ficamos na Pousada Natureza, pertinho do centro. Simples mas confortável, o café da manhã era bem servido, variado e de excelente qualidade!! Descemos as malas e eu estava podre, afinal não dormia já fazia um bom tempo. No entanto o dia estava ensolarado e nas cercanias de Lençóis havia várias cachoeiras onde poderíamos já começar a curtir a Chapada. Saímos pra caminhada.

Os poços do Serrano ficam a 10 minutos de caminhada e são uma boa pedida pra relaxar em banheiras de hidromassagem naturais com o visual da cidade lá embaixo. Deixamos pra volta, para o pôr do sol, e seguimos pelo que parecia ser o início de uma trilha.

 

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Sabia que pela frente, bem perto, tinha a Cachoeirinha e o Poço Halley. Difícil não achar ninguém fazendo essas trilhas. Se estiver em dúvidas, é só esperar um pouquinho que vai passar alguém. Acho desnecessário guia. Foi assim que conhecemos o Miro, um cara que conhecia bem a região (praticamente um “local”) e com quem trocamos altas idéias naquele dia (e também, intimamente satisfeitos, o vimos dando uma “chamada” em uma mulher que quis jogar uma bita de cigarro na mata). O rolê valeu muito a pena, deu pra entrar no clima da Chapada e curtir as primeiras cachoeiras.

 

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Lençóis tem vários restaurantes, com grande e interessante variedade de pratos, e à noite todos colocam suas mesinhas nas calçadas, criando um ambiente bem agradável e descontraído. É uma cidade muito bacana, oriunda da época do garimpo do diamante; o centro histórico é muito bem cuidado e suas ruazinhas têm cara de século 18.

 

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O dia seguinte foi dia de rio Pratinha. Misturado a outros passeios na maioria dos roteiros, tanto por agências quanto por particulares, o lugar me pareceu merecedor de um dia inteiro só lá. E foi o que fizemos. E não nos arrependemos.

O rio Pratinha flui da gruta da Pratinha, e tem uma água verde-esmeralda totalmente cristalina. Por estar em área particular, há toda uma infra por lá, incluindo banheiros, restaurante, mesinhas sob as árvores na beira do rio, etc. Vinte reais pra entrar e mais vinte se quiser fazer a flutuação na caverna. Foi o que fizemos em primeiro lugar.

O visual da entrada da gruta já instiga a um mergulho imediato naquelas águas de sonho. Colocamos o colete, máscara, snorkel e pegamos, cada um, uma lanterna à prova d’água. O guia, que nos acompanha por todos os 170m de comprimento da caverna, se ofereceu para tirar fotos (somente possível com o flash ligado, já que a escuridão lá dentro é total). O trajeto passa por três salões enormes: uma média de 8 metros de profundidade e 10 metros de altura (da água ao teto). Por incrível que pareça, há muitos peixes, alguns com quase meio metro. Também há “pencas” de pequenos morcegos no teto. A experiência foi fantástica e saímos de lá realizados.

 

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Depois fomos curtir o rio Pratinha! Água de rio dessa cor eu só tinha visto em Bonito. E o lugar estava praticamente vazio (vantagens da baixa temporada). Curtição total. E cachaça da casa. As pessoas foram embora, o barzinho fechou, e eu e a Jô ficamos por mais de uma hora sozinhos no paraíso.

 

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No dia seguinte fomos à Cachoeira dos Mosquitos, que não faz parte do circuito turístico tradicional. “Mosquitos” era como eram chamadas as pequenas pedras de diamante. Como ela fica em uma propriedade privada, antes de ir você precisa passar em um supermercado no centro de Lençóis para pagar a entrada e pegar o ticket (todo mundo lá sabe onde é). São 15km de asfalto mais 18km de estrada de chão (o Rally dos Sertões passa por ali). Enquanto se avança estrada adentro, a floresta vai crescendo e a “civilização” vai ficando pra trás, até não sobrar uma casinha sequer pra contar a história.

 

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Então se chega à porteira, onde um funcionário da fazenda pega o ticket e libera a entrada. O legal é que você vê as benfeitorias proporcionadas pelo pagamento da entrada: mirante com guarda-corpo, lugar pra estacionar o carro, corrimão e degraus nos pontos mais críticos da trilha, etc. São três quedas dágua sequenciais, com grandes poços pra tomar banho, sendo a última a mais espetacular, com mais de 60m de altura. Usei umas fotos da trilha, que baixei da net, pra me localizar e chegar lá embaixo. Ali também ficamos sozinhos e felizes: a cachoeira só pra nós.

 

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Pra coroar um dia como esse nada como a paisagem que se vê de cima do Morro do Pai Inácio, o cartão-postal da Chapada. Da estrada já dá pra tirar uma foto bem legal do Morro. Só que o visual está lá em cima, ou seja, subida (com um pouco de escalaminhada) de 20 minutos até o topo, onde 360º de paisagens deslumbrantes estarão lhe esperando. Ficamos mais de uma hora lá em cima, com algumas pausas pra fechar a boca e parar de babar . . .

 

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O dia seguinte foi dia de transição: de Lençóis para o Capão, no oeste da Chapada. No caminho, visitamos e curtimos outras atrações. A primeira foi o Poço do Diabo, bem próximo à Rodovia e de fácil acesso. A trilha passa por uma parte do rio Mucugezinho muito boa pra banho e depois segue até o Poço, gigante, com cordas de segurança esticadas para garantir a segurança de quem quiser nadar até a queda. Mas esse foi só o aperitivo daquele dia.

 

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Na sequência fomos à caverna Torrinhas, na direção de Iraquara. Chegamos lá, conversamos um pouco com o dono e saímos com a guia pra fazer o tour completo de 3 horas (e ainda ganhamos um bônus, pois ela nos levou a uma parte da caverna que ainda não estava aberta ao público). Até 1992 somente eram conhecidos algumas centenas de metros da caverna, então uma gringa que estava lá pesquisando achou uma passagem estreitíssima por entre pedras gigantescas (por onde passamos) e voilá: mais 17 km de caverna descobertos até agora. É uma espécie de paraíso dos espeleólogos, com estruturas pra lá de frágeis das quais muitas eles ainda não têm a menor idéia de como se formaram, como as flores de aragonita e as agulhas de cristal.

 

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Os salões são gigantescos (tem um com 200m de comprimento e quase 40 de altura) e não é permitido (e é impossível) ir sem guia. Um momento marcante: nas profundezas da caverna, desligamos as lanternas e ficamos em silêncio por 5 minutos, separados por 3km do mundo exterior, isolados de qualquer fonte de luz ou som. Um momento de tensão: observar uma fenda enorme no chão que descia vertiginosamente até onde a vista não alcançava mais, rumo ao centro da Terra. Terminamos Torrinhas e o sol já estava quase se pondo. Pé na tábua rumo a Caetê-Açu, no Vale do Capão.

 

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Chegamos ao Capão e nos encontramos com o Fernando, de quem eu aluguei uma casinha na floresta a 4km do centrinho do vilarejo. O lugar nos deslumbrou e superou as expectativas: acessada por um caminho de pedras em meio a um jardim selvagem, a casa era ampla, novinha, decorada com muito bom gosto e cercada pela natureza. Aproveitamos e curtimos muito a paz desse lugar, tanto que à noite nem saíamos, fazíamos a comida por lá mesmo.

 

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Acordamos cedo pra fazer a Cachoeira da Fumaça por cima. Rapidinho e chegamos à associação dos guias, onde demos nossa contribuição e iniciamos a subida (dois quilômetros - bem íngreme e cansativo – e depois mais 4km em terreno plano). A subida é bem sinalizada e não tem como errar (pode até não aguentar subir, mas errar a trilha é muito difícil). Depois, no plano, a caminhada fica mais light (é só seguir a regra de sempre seguir reto e JAMAIS entrar à esquerda). Se mesmo assim ficar em dúvida, é só esperar um pouco e seguir algum grupo que estiver subindo.

A Fumaça estava com pouca água. Mas nem de longe isso foi um problema. O visual lá de cima é incomparável! Quatrocentos metros de altura e o vale lá embaixo! Talvez o cânion Fortaleza, no Rio Grande do Sul, possa rivalizar. Novamente: segure o queixo e feche a boca.

 

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Na verdade, a pouca água proporcionou um espetáculo diferente, impossível de ser visto se o volume fosse maior: o vento que vinha lá de baixo “jogava” a água para o alto, e ela caía como garoa sobre nossas cabeças, quase 50 metros acima. Quer debruçar sobre o abismo? Sem problemas, tem uma plataforma de pedra que a natureza deixou ali só pra isso.

 

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Depois fomos ao outro lado, o que vale muito a pena; é um ângulo diferente, mas igualmente poderoso!

 

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No fim, provamos o delicioso pastel de palmito de jaca, já lá embaixo. Terminamos o dia na Cachoeira do Riachinho (o nome não faz jus á cachoeira, que não tem nada de “inho”), onde as rochas não se parecem com nenhuma outra que vi pela Chapada: é uma massa rochosa “recheada” e incrustada de pedras lisas e arredondadas. No Riachinho dá pra sentar confortavelmente debaixo das quedas e apreciar um fantástico pôr do sol.

 

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Dia seguinte foi a vez de Angélicas e Purificação. Chegamos no bairro do Bomba (estrada beeem ruinzinha) e encontramos o início da trilha. Depois a Jô perdeu os óculos na travessia do rio (e ainda deu um banho no moleque que tentava ajuda-la). Então seguimos pela trilha até ficarmos meio perdidos; esperamos um pouco, já quase desistindo, e acabamos sendo premiados: encontramos dois caras que estavam indo pra lá. Um deles levava um violão pra tocar quando chegassem na Purificação (o cara carregou o instrumento por todo o trajeto, subindo pedras, atravessando rio, etc).

 

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Tomamos um banho (geladaço!!!), demos um tempo e voltamos pra terminar o dia no Riachinho (voltamos sozinhos pela trilha, e aqui fica uma dica: pedrinhas empilhadas são como mensagens deixadas por quem conhece a trilha e que indicam que você está no caminho certo). Como despedida do Capão, naquela noite provamos a realmente deliciosa pizza integral, que só tem dois sabores: doce e salgada.

Para o dia seguinte nos aguardavam 300 km de estrada, até Ibicoara, no extremo sul da Chapada. Há um caminho bem mais curto, mas por estrada de terra, e eu já estava meio sacudo de estrada de terra. No entanto, muitos disseram que esse caminho vale a pena ser feito, é a estrada mais bonita da Chapada.

Seguimos sem parar até o Poço Azul, em Nova Redenção. Desce-se por uma escadaria de onde se avista o pequeno lago dentro da caverna lá embaixo, onde algumas pessoas flutuavam . . . na água ou no ar? As águas do Poço Azul são tão cristalinas que muitas vezes se tem a impressão de que ela não está lá. Chegando à borda e olhando para baixo dá pra ver o fundo a 20 metros de profundidade. E o azul é intenso. Há ainda um arco enorme de pedra, submerso, que impressiona quando se olha debaixo dágua com a máscara. Há também camarões minúsculos nadando pra lá e pra cá. Putz, que lugar legal!! Munidos de máscara, snorkel e colete, ficamos 40 minutos por lá, praticamente sozinhos (só havia o guia do lugar com a gente, o Miojo, que tirou altas fotos pra nós)

 

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Antes de ir embora, pausa pra almoçar no restaurante e finalmente provar os pratos típicos da Chapada, que ainda não tínhamos conseguido encontrar: refogado de palma (cacto), refogado de mamão verde, salada de batata da serra, godó de banana da terra e o delicioso suco de maracujá do mato.

Continuamos descendo rumo ao sul e passamos pelo projeto Sempre-Viva, em Mucugê: fomos ao museu do garimpo e demos uma esticadinha até a cachoeira do Tiburtino. Antes de chegar à Ibicoara tem um retão gigante, que é quando você “sai” da parte principal da Chapada. Nesse retão, olhando pra trás, tem o visual que, pra mim, foi o mais impressionante de toda a viagem: a Serra do Sincorá em toda sua plenitude, de cabo a rabo no horizonte.

No dia seguinte encontramos logo pela manhã com o Uilians, que seria nosso guia pelos próximos dois dias, na Cachoeira do Buracão e da Fumacinha. Como parte da logística (e que eu recomendo a quem queira fazer a Fumacinha), dormiríamos na casa do Luciano, no povoado do Baixão, ele também guia e que mora bem próximo à entrada da trilha. A razão dessa sugestão é que Buracão e Fumacinha ficam pro mesmo lado, e esse mesmo lado fica a 30km de estrada de terra de Ibicoara, ou seja, acaba sendo cansativo fazer o Buracão, voltar pra Ibicoara (30km) no fim do dia e no outro dia pela manhã (beeeem cedo, porque a Fumacinha é trilha longa) ter que fazer novamente os mesmos 30km. Ficando na casa do Luciano você estará na boca da trilha e evitará 60 quilômetros desgastantes de estrada de terra (e não precisa madrugar também). Sendo assim, partimos para a Cachoeira do Buracão.

Puxa, a estrada até o Baixão é linda demais, muitas fotos em cada curva (a melhor de todas, com certeza, é a do mirante do Campo Redondo).

 

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A cachoeira fica no Parque Municipal do Espalhado, é obrigatório guia e paga-se R$3,00 ao passar pela portaria. Lá dentro atravessamos um rio com o carro (seguindo à risca as instruções do Uilians) e iniciamos a trilha de 3km, que é bonita pra caramba, muitos mirantes e quedas espetaculares do rio Espalhado.

 

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Durante a caminhada a conversa rolou solta. O Uilians é bastante comunicativo e tem muuuuuuita história pra contar. Nascido na região, conhece as trilhas, turísticas ou não, como a palma da mão, afinal caminhava por elas antes de terem se tornado turísticas. Por sinal, na Chapada há muitas trilhas antigas, algumas quase perdidas, ou esquecidas, conhecidas apenas por aqueles que têm raízes fincadas no lugar. E, além de guia, é habilidoso caçador e pescador, tendo usado essas habilidades nos momentos em que a vida assim pediu (é claro que só mata se for comer, sendo ele exemplar defensor da vida silvestre – em um momento, me disse que com um pedaço de corda e uma isca consegue fazer armadilha para qualquer tamanho de animal que exista na Chapada). Conhece as plantas comestíveis, imita sons de vários pássaros e sobreviveria por dias seguidos no meio do mato se fosse necessário. Uilians, como todos os outros guias de toda a Chapada, faz parte da brigada de combate a incêndio, essencial para a preservação de tamanho ecossistema. Do governo, só recebem treinamento. E nada mais. São voluntários. Daqueles que não fogem à luta. Foi uma honra conviver com esses caras por algum tempo.

Chegando na boca do cânion que conduz à Cachoeira do Buracão há um varal com os coletes. Devidamente vestidos caímos na água e subimos a leve correnteza, enquanto o Uilians seguia pela borda tirando fotos (a cortina de água é intensa, por isso levei uma bolsa estanque pra carregar a máquina, mas ele também tinha uma).

 

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A vista da queda de 85 metros impressiona. Na verdade, tudo impressiona. As lajes sobrepostas encurvam em determinado ponto, como um tobogã, o que dá um visual todo especial à cachoeira. Ficamos uns 40 minutos por ali, apenas nós. Uma experiência e tanto. Quando saímos, chegava um grupo enorme. Vantagens de acordar cedo.

 

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Na volta paramos em um mirante e contemplamos o Buracão visto de cima, na borda do precipício.

 

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Depois, mas ainda na mesma trilha, demos uma parada prolongada na Cachoeira das Orquídeas, pra comer alguma coisa e tomar vários banhos.

 

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Conforme o planejado, dormiríamos naquela noite na casa do Luciano, criativamente batizada como Abrigo do Mato. Chegamos lá e foi uma bela surpresa: uma casa da roça toda estilosa, muito confortável e aconchegante, decorada rusticamente e com muito bom gosto. Da cozinha vinha o cheiro de comida preparada no fogão à lenha. Tem energia elétrica, mas o jantar foi à luz de velas. Melhor impossível. E a comida da Tâmara, esposa do Luciano, é sensacional. À noite acabou colando uma galera por lá, vizinhos e amigos, e o papo foi até altas horas.

 

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O problema foi a chuva. Choveu à noite e, não contente, ainda caiu uma chuvinha pela manhã. Essa foi a razão da grande decepção da nossa viagem: não conseguimos conhecer a Cachoeira da Fumacinha! Por ter um longo trecho onde se caminha incessantemente sobre pedras, a Fumacinha tem seus caprichos. Com chuva, o risco de queda é constante e a caminhada acaba sendo tensa, cansativa e bem mais lenta, extrapolando as dez horas - ida e volta. Tanto o Uilians quanto o Luciano acharam que seria muito arriscado e poderia não valer a pena. Como consolo, contaram que algumas pessoas já chegaram à terceira tentativa, em épocas diferentes, e ainda não tinham conseguido conhecer a cachoeira, pelo mesmo motivo. Putz, a Fumacinha fecharia a viagem com chave de ouro!! Fizemos a Véu de Noiva naquele dia, linda como todas as outras, mas o vazio deixado pela desistência da Fumacinha não foi preenchido . . . No entanto, a região de Ibicoara foi o lugar que mais nos encantou em toda a Chapada e é pra lá que eu voltaria em uma próxima vez (não só pela Fumacinha, mas por outras muitas cachoeiras que existem na região).

 

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Já recuperados do “golpe”, no dia seguinte partimos cedinho rumo a Mucugê, onde demos um rolê pela cidade (que é muito bacana!). Depois rumamos para Igatu, onde passaríamos nossa última noite na Chapada. Saindo da BR, foram 7 quilômetros de subida por uma estrada calçada com grandes pedras. Tem que ir devagarzinho pra não detonar o carro; em 30 minutos você estará lá.

Igatu é um povoado que parece ter parado no tempo. Com pouco mais de 300 habitantes, o vilarejo teve seu ápice no período do diamante, do qual restou um bairro inteiro com casas em ruínas há mais de 200 anos, próximo ao centrinho. Mas a cidade é toda cheia de estilo, cinematográfica mesmo, com muitas casas de pedra, plantas floridas espalhadas pelas ruazinhas, casinhas centenárias coloridas, etc.

 

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Chegamos por volta das 11h00 e a cidade estava deserta, quase ninguém pelas ruas. O único comércio aberto era um barzinho. Perfeito. Cerveja e cachaça, sentados na pracinha, o tempo passando à nossa volta com uma preguiça indescritível.

 

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Um quilômetro de caminhada dessa pracinha e fomos depois a uma prainha de areia branca na beira do rio, perfeita pra banho.

 

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Na parte da tarde caminhamos até as ruínas; esse é um passeio imperdível, mesmo porque o visual do vale visto lá de cima é espetacular.

 

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Dormimos cedo porque o dia seguinte nos aguardava com quase 600km até Salvador, onde devolveríamos o carro e pegaríamos uma carona com nossa amiga taubateanasoteropolitana Sueli, que nos levaria à Praia de Imbassaí, onde passaríamos os próximos seis dias realmente descansando, na verdadeira acepção da palavra. Mas essa já é uma outra história.

Nossa viagem justificou plenamente, em todos os seus momentos, toda a expectativa que depositamos sobre ela. Momentos inesquecíveis, poderosos. A Chapada Diamantina é inigualável!

 

 

Telefones:

Guia Uilians: 77 9150-7977 (ele faz o contato com o Luciano. Os dois fazem parte da Bicho do Mato)

Fernando (Vale do Capão): 75 9242-8714 ou 3344-1230

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Meu amigo valew pelo presente!!!

Me enviar o link da sua trip so me me fez aumentar a ansiedade e a vontade de adiantar no tempo uma semana porque dia 14 sera a minha vez e de mais dois amigos conhecerem esse paraiso. Parabens belo relato, belas fotos, otimas dicas. Abraçao!!!!

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