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Deixo aqui meu relato sobre a viagem que fiz neste mês para o Uzbequistão. Aviso desde já que não se trata de uma viagem exatamente mochileira, viajei através de uma agência de viagens uzbeque, mas o esquema é completamente diferente dos pacotes CVC da vida; nada de grandes grupos, guia apressado, que só quer saber de te levar em lojinhas onde eles ganham comissão. O meu "grupo" de viagem era eu e um francês na faixa dos 60 anos, chamado Patrick, que vive na Grécia. Nós dois, mais o motorista (um uzbeque muito gente fina chamado Anwar) formamos uma equipe, então nos deslocamentos (feitos de carro, e não de van ou ônibus), parávamos onde tínhamos vontade, por quanto tempo quiséssemos. Estivemos em Tashkent (capital do país, onde se iniciou a viagem), Samarkand, Bukhara e Khiva, nessa ordem. Fiquei encantado com a riquíssima cultura do país e com a simpatia e hospitalidade dos uzbeques, apesar do país ser considerado um estado policialesco (realmente, para entrar e sair do país é uma burocracia absurda, mas falarei disso mais adiante), e o melhor de tudo é que, apesar de ser um país majoritariamente islâmico, praticamente inexiste fanatismo religioso por lá: nas maiores cidades existem igrejas católicas, evangélicas e até mesmo sinagogas. Isso é possível porque o islamismo lá praticado tem forte influência do zoroastrianismo, religião predominante na Ásia Central antes do advento do Islã, bem como do sufismo, uma variante mais mística e tolerante do islamismo. Vi pouquíssimos mochileiros por lá, primeiramente porque não é dos países mais baratos para se visitar, e segundo porque o governo local não vê com bons olhos viajantes independentes por lá; apesar de tudo, é perfeitamente possível fazer um mochilão, conforme pode ser visto no link a seguir (um blog mantido por um casal de viajantes independentes, que esteve lá por conta própria):

 

http://quatrocantosdomundo.wordpress.com/2011/08/02/as-excentricidades-de-uma-ex-republica-sovietica-chamada-uzbequistao

 

Agora, a respeito das formalidades de entrada no Uzbequistão: brasileiros precisam de visto, porém não há representação diplomática no Brasil; mas não é tão difícil quanto se parece. Caso procure na internet, a informação é que se deve tirar o visto em trânsito, em algum país que tenha embaixada do Uzbequistão, mas não é verdade. No caso dos brasileiros, pode-se pagar pelo visto na entrada do país, mas antes é necessário obter uma carta convite de uma agência de turismo local (recomendo a Advantour, extremamente eficiente e com funcionários muito atenciosos); responde-se a um formulário com cerca de 17 perguntas, escaneia-se o comprovante de passagem de ida e volta (fui pela Turkish Airlines, o jeito mais fácil a partir do Brasil, com conexão em Istanbul) e envia-se por e-mail, tanto o questionário respondido quanto o comprovante de passagem, mais cópia escaneada do passaporte. Depois de mais ou menos duas semanas, a carta convite é enviada por e-mail; ela deve ser impressa e levada na viagem (vai servir como comprovante de que você pegará o visto na entrada do país). Mesmo para quem mora em algum país que tenha embaixada uzbeque, é necessário apresentar a carta convite na embaixada. Na chegada ao aeroporto internacional de Tashkent, antes de passar pelos oficiais da imigração, dirija-se ao balcão escrito VISA, para comprar seu visto (que custa atualmente 60 dólares), eles imprimem o visto no passaporte e só depois disso passa-se pela imigração. Até aí, nada tão complicado. O problema vem logo depois: não há uma seção "Nada a declarar" na alfândega local, todos precisam declarar o quanto têm em espécie ou títulos, e caso possua algum bem de valor, também deve ser declarado. Vc recebe duas cópias de um formulário, preenche as duas exatamente da mesma forma e a alfândega fica com uma das cópias; a outra fica com o viajante. Em hipótese alguma perca este formulário, senão a multa é absurda, podendo até acarretar prisão se o oficial estiver sem paciência (o que não é raro ocorrer). Abaixo segue foto desse formulário:

 

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Além desse formulário, também deve-se guardar os comprovantes de hospedagens de todos os hotéis em que se hospedar (em inglês, registration slip). Todos os hotéis providenciam esses comprovantes na hora do checkout, mas caso esqueçam lembre-os, porque caso falte algum deles, os problemas na hora de sair do país serão grandes. Abaixo, foto de alguns desses comprovantes:

 

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Logo mais escreverei o relato da viagem propriamente dito, aos poucos.

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Oi Claudia, realmente foi mesmo, inesquecível. Bom, iniciando o relato:

 

Sábado, 5 de abril: O avião procedente de Istambul aterrisou no aeroporto de Tashkent por volta das 6:20h (horário local). No entanto, só cheguei ao hotel um pouco antes das 9 da manhã. Motivo? Demora para comprar o visto e depois, para passar pela alfândega. Assim que desembarquei, procurei o balcão onde se paga o visto, mas não tinha ninguém lá. Eu e mais dois casais ficamos esperando por mais de 40 minutos, até aparecer um rapaz que cobrou 60 dólares de cada um, pegou nossos passaportes, levou-os para uma outra sala para imprimir o visto e retornou após uns 10 minutos. Mas o pior ainda estaria por vir: a alfândega. Várias filas completamente desorganizadas, pessoas desesperadas (principalmente os uzbeques, que deviam ter trazido muitas coisas da Turquia e estavam com medo de ter que declarar tudo que compraram), nenhuma das filas andava. Após mais de uma hora e meia esperando, enfim chegou minha vez de passar. Estava com um pouco de receio porque um espanhol que estava à minha frente foi mandado para uma salinha para uma "conversa", provavelmente porque não tinha preenchido ainda os formulários (que são entregues ainda dentro do avião), e respondeu de maneira meio ríspida para o oficial da alfândega; felizmente, assim que o mesmo oficial viu que meu passaporte era brasileiro me deixou passar imediatamente, não sem antes dizer o chavão "Brazil! Football! Do you like football?". Bastante aliviado, saí da zona de segurança e procurei pelo motorista da Advantour que estava com uma placa com o meu nome, para me levar ao hotel. Assim que o avistei, saí do aeroporto e troquei 100 dólares com ele (não vale a pena trocar dinheiro em banco ou agência de câmbio por lá, porque a cotação é muito pior: troque com motorista, ou mesmo com algum comerciante, que vale muito mais a pena). Só que 1 dólar americano equivale a 2600 sum (a moeda do Uzbequistão); até aí nada demais, se não fosse o fato de a maior cédula do Uzbequistão ser a de 1000 sum (na verdade, desde o ano passado existe a de 5000 sum, mas esta circula muito pouco; só vi uma dessas durante minha estadia, e ainda assim porque pedi para o motorista trocar para mim). Conclusão: o motorista me voltou 260 cédulas de 1000 sum, um volume imenso de notas! Eles já estão acostumados, mas para nós, é algo absurdo, perde-se muito tempo contando dinheiro para pagar as coisas. Assim que cheguei ao hotel, desabei de sono (durmo muito mal dentro de aviões, e já estava viajando por mais de 30 horas), e não saí do hotel durante o resto desse dia. Almocei e jantei por lá mesmo. O nome desse hotel de Tashkent é Shodlik Palace, muito bom, com um quarto imenso e limpíssimo; porém, o prédio não é dos mais bonitos, é quadradão, típico da arquitetura soviética. Da janela do meu quarto, tinha-se uma vista privilegiada para o estádio de futebol, que fica ao lado do hotel. Mas, como estava muito cansado e sob efeito do jet lag, não fiz nada digno de se relatar até o dia seguinte.

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Domingo, 6 de abril: Depois de muitas horas dormindo, finalmente acordei bem mais disposto. Ainda assim, a excursão começaria apenas no dia seguinte, então o dia seria livre. Sem ter um mapa da cidade, e um tanto quanto preocupado quanto à reputação dos policiais uzbeques (no site do wikitravel consta que não é raro tentarem extorquir turistas), saí bem ressabiado pelas redondezas do hotel. Apesar de ser a capital e maior cidade do país (com cerca de 2,5 milhões de habitantes), Tashkent tem pouca coisa para se ver, como pude comprovar no dia seguinte. A cidade tem mais de dois mil anos de história, mas em 1966 um terremoto devastou Tashkent e a cidade foi completamente remodelada, seguindo o padrão soviético. E devo dizer que é um tanto quanto intimidante caminhar por lá: Tashkent tem avenidas imensas, monumentos gigantescos e poucas pessoas nas ruas. Poucas mesmo, dá a impressão de ser uma cidade fantasma; enfim, achei a cidade muito gélida, e não digo em relação ao clima (que estava até então agradável, por volta de 15 graus). Não podia ver um policial andando pela rua que já batia aquele pânico: felizmente, a tal má reputação dos policiais uzbeques se mostrou um exagero por parte do wikitravel. Novamente almocei e jantei no próprio hotel, e fui dormir já me preparando para o início verdadeiro da excursão, no dia seguinte.

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Segunda-feira, 7 de abril: Durante a madrugada, ouvi um barulho de forte ventania e pensei: deve ser chuva. Porém, quando abri a janela do quarto para dar uma olhada para fora, às 8 da manhã, não acreditei no que vi: estava nevando, e bastante! Uma nevasca em pleno mês de abril, o que, segundo me disseram, é algo extremamente raro de se ocorrer em Tashkent. O que mais me surpreendeu é que o dia anterior estava bem agradável, uns 15, 16 graus. Após tomar café e arrumar minhas coisas, às 9 horas já estava pronto para deixar o hotel e iniciar a viagem para valer. O motorista que me pegou no aeroporto dois dias antes havia me dito que a agência de viagens não costuma trabalhar com grandes grupos, mas imaginei que haveria ao menos umas cinco pessoas no grupo, além de mim. Qual a minha surpresa ao saber que, o "grupo" seria eu e mais um francês que morava na Grécia, na faixa dos 60 anos! O cidadão se chamava Patrick e era uma boa pessoa, apesar de contestador (como todo francês) e tinha a mania de interromper os guias durante uma explicação. Anwar, o motorista que nos acompanharia durante toda a excursão se apresentou, colocamos as malas no carro e fomos primeiramente para o escritório da Advantour, pois eu ainda não havia pago o pacote, e também porque queriam nos passar algumas instruções e folhetos. A funcionária que foi meu contato durante todo o processo de emissão da carta convite, Ekaterina (ou Kate, como ela prefere ser chamada), é uma russinha maravilhosa, e muito simpática e atenciosa; eu paguei o valor da excursão, e ela nos deu um mapa das cidades que visitaríamos, dicas de locais para se comer, a passagem de avião Urgench-Tashkent (já que Khiva, a última cidade do itinerário, fica a mais de mil quilômetros de Tashkent, voltaríamos de avião; Urgench é a cidade com aeroporto mais próxima de Khiva), bem como dicas para se viajar no Uzbequistão (entre elas: jamais andar sem seu passaporte, e com os bilhetes de registro dos hotéis, já que a polícia pode pedir a qualquer momento). Resolvidas todas as pendências, saímos da agência com a nossa guia do passeio em Tashkent, Asla. Como o tempo ainda não permitia, apenas passamos pela estátua de Amir Timur (mais conhecido no Ocidente como Tamerlão, alçado a herói nacional após a independência do Uzbequistão, em 1991). Como parou de nevar lá pelas 10 e meia, conseguimos ir até o complexo Hast Imam, que funcionou como mesquita e madrassah (escola religiosa islâmica) até antes da invasão soviética (hoje poucas madrassahs ainda estão ativas, a maior parte delas em Bukhara). Nesse complexo, está guardado o Alcorão mais antigo de que se tem notícia, escrito em árabe e farsi (idioma derivado do persa que era falado na Ásia Central quando da invasão muçulmana); infelizmente não é permitido tirar fotos deste livro. Passamos também pela praça da Independência, com aquele estilo soviético de monumentos gigantescos e praças imensas, e também no Museu de Artes Aplicadas, além de darmos uma volta no metrô da cidade (que possui estações muito bonitas, mas é terminamente proibido tirar fotos delas). Como não há muita coisa para se ver em Tashkent (e como o tempo, mesmo tendo parado de nevar, ainda não estava propício para atividades ao ar livre), por volta das 13:00h já tínhamos terminado o cronograma. Preferimos comprar coisas para comer no supermercado ao invés de almoçarmos em um restaurante, então às 13:40h pegamos a estrada em direção à próxima cidade do roteiro, Samarkand, segunda maior cidade do país e muito mais interessante e vibrante do que Tashkent. Mesmo não tendo tirado muitas fotos de Tashkent, aí vão algumas:

 

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Chegando (ainda com neve) ao Complexo Hast Imam.

 

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Complexo Hast Imam. Aqui a maior parte da neve já havia derretido, mas o frio ainda persistia.

 

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Arco (de gosto bem duvidoso, diga-se) na Praça da Independência.

 

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Também na Praça da Independência, este globo mostra como o estilo soviético ainda é utilizado no país, mesmo após mais de vinte anos de independência.

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Terça-feira, 8 de abril: No dia anterior, tínhamos saído às 13:40h de Tashkent, com destino à segunda maior cidade do país, e a mais visitada, Samarkand. A viagem durou cerca de 4 horas e meia (mais ou menos 280km de distância). Em Samarkand, ficamos no Malika Prime, um hotel bom, porém inferior ao hotel de Tashkent, mas com a vantagem de ficar perto das principais atrações da cidade. Às 9 horas, a nossa guia local, Gulanara (muito mais simpática do que a guia de Tashkent, diga-se), chegou ao hotel e iniciamos o tour, passando primeiro pelo mausoléu de Gur-Emir, onde estão os restos mortais de vários reis da dinastia do herói nacional, Amir Timur (ou Tamerlão, como é mais conhecido). Ele conquistou vários lugares e criou um vasto império que ia do oeste da China até a Turquia, e a capital era justamente Samarkand, considerada então uma das mais lindas cidades do mundo, e centro comercial importantíssimo da famosa Rota da Seda. Além de Tamerlão, outro rei (neto dele) também repousa nesse mausoléu: Ulug Bek, que ficou mais conhecido como um rei com fantásticos conhecimentos de astronomia, tendo escrito várias coisas sobre esse tema e também (mesmo sendo rei) lecionou na escola (madrassah) que ele mesmo criou; era um caso atípico, um rei que não gostava de guerrear e preferia as artes e as ciências. Assassinado a mando do próprio filho, após sua morte a dinastia de Tamerlão não durou muito tempo, e a dinastia seguinte, a dos Sassânidas, tentou apagar a memória dos reis anteriores, no que não teve muito sucesso. De lá, fomos a pé até a principal atração de Samarkand e também do Uzbequistão: o majestoso Registan, conjunto de três prédios maravilhosos que serviu como centro administrativo e comercial (e também onde ocorriam as execuções) dos áureos tempos de Samarkand. A cor azul predomina em praticamente todos os monumentos arquitetônicos uzbeques: a explicação é que o azul remonta à influência da religião predominante na Ásia Central até a chegada dos muçulmanos, no século XII: o zoroastrianismo. Graças à influência dessa religião (hoje praticamente erradicada do país), o islamismo aqui tornou-se mais tolerante, aceitando a convivência pacífica com outras religiões (Tashkent, Samarkand e Bukhara têm ainda hoje igrejas cristãs e até sinagogas, algo impensável em países islâmicos radicais como a Arábia Saudita); em um dos prédios do Registan, inclusive existe uma pintura de um tigre perseguindo uma corça (esta figura está no verso da nota de 200 sum, a moeda local), sendo que o islamismo proíbe pinturas e esculturas de animais, para evitar a idolatria. Passamos um bom tempo andando pelo Registan e olhando as lojinhas e oficinas de artesanato (que ocupam os três prédios atualmente), porém, ao contrário dos guias tradicionais, Gulnara não indicou nenhuma loja em especial, e nos deixou completamente à vontade para comprarmos onde quiséssemos. Depois do Registan, fomos almoçar em um café próximo dali; depois, seguimos em direção ao complexo mesquita+madrassah de Bibi Khanoum, esposa de Tamerlão, que deu ordem para a construção deste complexo. Ao lado, fica o Mercado de Samarkand, onde pudemos observar a rica variedade de frutas, verduras, pães e especiarias produzidas no país (apesar de ter uma grande área desértica, na porção leste do Uzbequistão localiza-se o vale de Ferghana, muito fértil e fundamental para a economia do país; infelizmente às vezes eclodem conflitos entre os uzbeques e os quirguizes, já que o Quirguistão também ocupa a parte oriental desse vale). Depois, partimos para o Observatório (ou o que restou dele) construído por Ulug Bek, e depois encerramos o tour no local considerado mais sagrado de Samarkand: a Necrópole, na parte mais alta da cidade, onde estão os restos mortais de parentes do profeta Maomé, e (dizem) do profeta bíblico Daniel. No dia seguinte, sairíamos de manhã em direção à terceira cidade do roteiro, Bukhara. Abaixo, fotos de Samarkand:

 

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Eu e Patrick em frente ao Mausoléu de Gur-Emir.

 

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Túmulo de jade onde repousa o rei Ulug Bek.

 

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O majestoso Registan, patrimônio da Humanidade e símbolo máximo de Samarkand. Infelizmente estava em reformas no dia da visita.

 

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Junto com Gulnara, nossa guia em Samarkand.

 

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Marcando presença no Registan.

 

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O mais famoso do três prédios do Registan, o que mostra a figura do tigre perseguindo a corça (no alto).

 

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Entrada do Complexo Bibi Khanoum.

 

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Interior do Complexo Bibi Khanoum.

 

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Enorme astrolábio construído no Observatório por ordem de Ulug Bek, para ele poder efetuar cálculos astronômicos.

 

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Necrópole de Samarkand.

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Quarta-feira, 9 de abril: Saímos às 9 em ponto de Samarkand com destino a Bukhara, distante cerca de 250km. No entanto, o trânsito para sair de Samarkand estava simplesmente infernal, então Anwar optou por um caminho alternativo. Resultado: pegamos uma estrada vicinal bem pior do que a principal, e levamos quase 6 horas até Bukhara. No caminho, a paisagem mudou drasticamente: colinas verdes e montanhas deram lugar a um solo muito mais árido, e relevo bem mais plano; estávamos adentrando o deserto de Kyzylkum (areias vermelhas, em uzbeque), que toma quase todo o norte e o oeste do Uzbequistão. O solo começou a ficar esbranquiçado, e quando perguntei o motivo, Anwar explicou que a concentração de sal na terra é muito grande; tanto Bukhara quanto Khiva têm sérios problemas de abastecimento de água potável, pois quase todos os poços abertos na região são de água salobra. O rio Amu Darya, o maior da região e que serve de divisa entre o Uzbequistão e o Turcomenistão, está lentamente secando, assim como o Mar de Aral (onde deságua o Amu Darya e que eu não visitei, infelizmente), que já perdeu 80% de sua área. Motivo? Os projetos de irrigação descontrolados empregados pelo então governo soviético (o Uzbequistão é até hoje um dos líderes mundiais na produção de algodão, graças à irrigação de terras desérticas) exauriram quase todos os recursos hídricos desta árida região; sem contar que os fertilizantes e pesticidas usados contaminaram as águas e as terras próximas ao Mar de Aral (que não é um mar, e sim um lago de água salgada), tornando-as inabitáveis. Para os que acreditam que apenas regimes capitalistas destroem o meio ambiente, o norte do Uzbequistão é uma prova incontestável de que regimes socialistas são igualmente capazes de promover tais estragos. No meio do caminho, um pouco antes de chegarmos em Navoi (capital da província de mesmo nome, a mais rica do Uzbequistão, devido a recursos minerais como ouro), Patrick pediu para o motorista parar em algum lugar para almoçarmos, e ele queria provar o prato nacional uzbeque, o plov (arroz com cenoura e alho misturados com pedaços de carne de vaca e de carneiro; é bem gorduroso, e é servido em uma enorme bandeja, onde cada um pega uma colher e todos comem da mesma bandeja). Eu não estava muito com vontade de experimentar, mas acabei comendo também e, devo admitir, é gostoso (apesar de gorduroso até a medula); para acompanhar, a melhor pedida é chá verde, por suas virtudes digestivas. Aliás, os uzbeques tomam chá praticamente o dia todo, e quase sempre chá verde; café é uma raridade entre eles (mas é relativamente fácil de achar em locais turísticos, e todos os hotéis oferecem no café da manhã). Pelo tempo que ficamos parados no almoço (cerca de 1 hora e meia), e pela estrada ruim do início, até que não demoramos tanto: chegamos em Bukhara um pouco depois das 15h. E não tivemos muito descanso: às 15h40 saímos para a primeira parte do tour (a segunda parte seria realizada no dia seguinte). O hotel de Bukhara foi o mais extravagante: o Amulet (era esse o nome do hotel) funciona onde existia antigamente uma madrassah (escola religiosa islâmica), e é bem peculiar: a porta de entrada dos quartos não tinha mais do que 1,60m de altura; com os meus 1,80m, tinha que me curvar toda hora para entrar ou sair do quarto. Perguntei o porquê de portas tão pequenas, e o Mansour, o guia local, me deu dois motivos: primeiro para todos se curvarem mesmo ao entrar, como prestando uma reverência; segundo, para retardar o avanço de invasões de inimigos. Bukhara é uma das sete cidades consideradas sagradas pelo Islã (as outras seis são Meca, Medina, Jerusalém, Bagdá, Damasco e Mazar-i-Sharif), e se situa em um oásis no deserto de Kyzylkum. Como não tínhamos tanto tempo, demos uma rápida passada pela praça principal da cidade (Lyabi Hauz), com um lago que dá um tom de frescor a uma cidade tomada pela aridez. Em frente a esse lago, uma antiga madrassah com pinturas representando animais (assim como no Registan), mas aqui era um pássaro (uns dizem ser um simurg, outros uma fênix) segurando um unicórnio nas garras (aqui Patrick teimou que aquilo jamais poderia ser um unicórnio, pois não tinha chifre; o guia apontou onde estava o chifre e ele rebateu que não era. Esses franceses...). Antes de voltarmos ao hotel, Mansour reservou uma mesa para nós em um jantar folclórico que ocorreria no dia seguinte, dentro da tal madrassah do unicórnio, que hoje funciona como um centro cultural. Seguem fotos de Bukhara (e do plov, que comemos antes de chegarmos à cidade).

 

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Plov, prato nacional uzbeque. Gorduroso, mas gostoso.

 

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Praça de Lyabi Hauz, no centro de Bukhara.

 

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Rua de Bukhara.

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Quinta-feira, 10 de abril: Dia completamente dedicado a Bukhara (a pronúncia correta é Burrára; o kh para eles tem som de r). Visitamos inicialmente a antiga madrassah Chor Minor, inconfundível com o seus quatro minaretes decorados de maneira diferente; dizem que um rico estrangeiro se fixou em Bukhara e construiu essa madrassah para agradar à população local. Como tinha quatro filhas solteiras, mandou construir cada minarete com ornamentações diferentes, cada um deles representando suas filhas, e conseguiu casá-las após o término da construção (hoje não é mais uma madrassah, com várias lojas ocupando o prédio). Depois visitamos o palácio construído pelo último rei de Bukhara, que reinou de 1915 a 1924, quando os soviéticos invadiram e tomaram a cidade. Esse rei foi colega de classe do czar Nicolau II, tendo feito amizade com este, e ficou encantado com a arquitetura russa; por essa razão, o palácio construído por ele mistura influências uzbeques e russas (o portão de entrada do palácio já deixa isso bem claro, utilizando a cor vermelha, incomum no estilo uzbeque). Dentro do palácio, muitos pavões (como fazem barulho esses bichos!) e corvos nas árvores. O palácio em si não me impressionou muito, não é tão grande nem tão ornamentado; no entanto, o rei teve apenas 3 anos para desfrutar dele (a construção terminou em 1921, e o rei foi deposto em 1924). Visitamos depois o mausoléu da dinastia Samani (um dos mais antigos do Uzbequistão, com mais de 700 anos de idade), a antiga fortaleza da cidade, a mesquita Magoki Attori e o complexo Poi Khayan, onde se situa aquele que é considerado o mais antigo minarete do Uzbequistão, já existindo inclusive na época de Gengis Khan (sim, o famigerado imperador mongol passou por aqui também). No início da noite, fomos ao tal jantar com apresentação de música e dança folclórica; evidentemente, é feito para turista mesmo, mas não se pode negar a intensidade e a magia da música oriental. Abaixo, fotos tiradas nesse dia:

 

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A inconfundível madrassah de Chor Minor, com seus quatro minaretes diferentes.

 

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Portão de entrada do palácio do último rei de Bukhara. A cor vermelha, quase nunca utilizada no estilo uzbeque, se deve por conta da influência da arquitetura russa, da qual o rei era admirador.

 

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Um dos inúmeros (e barulhentos!) pavões no interior do palácio.

 

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Mausoléu da dinastia Samani, com mais de 700 anos de idade.

 

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Mesquita Magoki Attori.

 

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Antiga fortaleza de Bukhara.

 

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Minarete mais antigo do Uzbequistão, testemunha da invasão de Gengis Khan.

 

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Complexo (mesquita+madrassah) de Poi Khayan.

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Sexta-feira, 11 de maio: Saímos às 9h de Bukhara em direção à última cidade do roteiro, Khiva (pronuncia-se Ríva). Em sites como o TripAdvisor, quase todos reclamam muito das condições da estrada, que chega a levar 11 horas para completar a viagem (são 440km em meio ao deserto), mas na verdade não é tão ruim quanto dizem. Claro, não é nenhuma autobahn, mas já vi estradas aqui no Brasil em condição pior; tanto que fizemos os 440km em 6 horas e 15 minutos. Durante o caminho, as condições do solo vão ficando cada vez mais dramáticas: em alguns pontos é puro sal. Ao longe, avistamos o Amu Darya e, além dele, o Turcomenistão. Chegando, ficamos no hotel Malika Kheivak, dentro da parte velha da cidade. Para fins de comparação, Tashkent (a capital) tem cerca de 2,5 milhões de habitantes; Samarkand, segunda maior cidade, 500 mil; Bukhara, 250 mil e Khiva, pouco mais de 60 mil habitantes,e é dividida em parte velha (cercada por muralhas e com quatro portões de entrada: norte, sul, leste e oeste) e parte nova (não cercada por muralhas, onde a maior parte da população atual vive). Almocei no próprio hotel e jantei num pequeno café a duas quadras de distância. No dia seguinte, seria o tour por Khiva e a volta de avião até Tashkent.

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