Membros jacobrazil_II Postado Dezembro 5, 2013 Membros Postado Dezembro 5, 2013 A viagem já começou errada, pois antes mesmo de chegar a São Luís já percebi que tinha esquecido as duas bússolas que estava pretendendo levar. Mas não foi isso que me desanimou, estava decidido, eu não estava indo para perder a viagem e assim toquei rumo a Barrerinhas no primeiro ônibus que surgiu. Cheguei já de noite e pernoitei na Pousada Girassol que fica bem no Centro de Barreirinhas e na manhã seguinte, logo após um reforçado café da manhã, parti direto para a travessia de balsa do Rio Preguiças. Travessia do rio feita, tem-se início uma tormenta quase sem fim, a areia fofa! Fui muito influenciado a fazer essa travessia após ler o relato do Jorge Soto ( http://www.mochileiros.com/lencois-maranhenses-a-pe-t22253.html) , que por sua vez, fez a maior parte do trajeto entre Barreirinhas / Dunas (10 km) a pé, antes de aceitar uma carona. Logo eu estava obcecado em fazer esse mesmo caminho na canela. Os primeiros 1.000 metros foram suficientes pra me perder e ficar à deriva com um mapa que eu mesmo tinha montando. Uma pequena pausa pra chupar um caju e se reencontrar no meu mapa foram suficientes para minha parceira de viagem pedir arrego e falar que queria voltar. Minha mulher insistiu em ir comigo, jurando que conseguiria fazer a travessia das dunas, mas pro seu próprio bem, ela voltou dali mesmo. Voltei a me entender com o mapa e a deixei em um local onde há uma segunda travessia de balsa, e a partir dali segui rumo às dunas. Eram 9 km de sol escaldante e areia fofa, a essa altura eu já havia perdido muito tempo e andado muito pouco. Aos poucos surgiram as primeiras Toyotas 4x4 lotadas de turistas que passavam por mim e me olhavam, uns rindo e outros pensando, “o que esse louco tá fazendo?”, nesse momento uma parte de mim já cogitava aceitar um convite para subir num daqueles carros e cortar essa primeira parte da jornada, mas resisti e depois de 7 km cheguei a uma velha ponte onde eu esperava achar água corrente, mesmo sabendo que a região passava pela maior estiagem dos últimos 15 anos. O cenário era de uma ponte caída e uma obra abandonada, mas encontrei um tanque com água suficiente pra jogar no corpo e dar uma refrescada. Isso me fortaleceu e me deu forças para terminar o percurso de menos de 3 km até as dunas. Mais alguns minutos de caminhada e consegui avistar um paredão imenso de areia branquinha, muito mais branca que a areia da trilha. Depois do primeiro contato visual, me afastei da trilha de areia fofa e segui caminhando pelo mato rasteiro ao lado, que era pequeno, porém capaz cortar bastante meus pés e as canelas, mesmo assim a caminhada seguia mais rápida. Ao chegar às dunas, me deparei com umas quatro Toyotas estacionadas e nenhuma alma penada no local, a sede e o calor falaram mais alto e me fizeram roubar 3 litros de água geladinha. Subi uma duna e embaixo de uma pequena árvore bebi água, comi uma besteira e descansei um pouco. O relógio marcava 12:30 e decidi não esperar mais e começar logo o que eu me propus a fazer ali, caminhar sobre as dunas. Parti em direção a um guia, queria saber se ainda tinha alguma lagoa com água e que direção deveria tomar para chegar aos oásis no meio dos Lençóis. Fui informado que das milhares de lagoas, somente a Lagoa do Peixe estava parcialmente cheia com água batendo no meio da coxa, então rumei até ela pra poder dar ao menos um mergulho. Após uma rápida refrescada, continuei andando na direção que acreditava ser a mesma que o guia havia me falado, errado! Sem orientação e sem nenhum morador pra me dar informação, segui lençóis adentro e a vista era linda e desoladora.... Dunas e mais dunas, algumas lagoas com o fundo um pouco úmido a maioria com o fundo totalmente seco, o vento era constante e fez meu chapéu voar duas vezes, na segunda já não tive foças pra correr atrás e abandonei, ou melhor, ele me abandonou. Após horas de caminhada avistei um uma coisa escura no topo de uma duna, a princípio pensei ser alguma cabana, mas muito tempo depois, vi que era a vegetação típica de lá. Percebi que não era apenas um matinho, mas sim uma vegetação grande, e quanto mais eu caminhava menos eu me aproximava do local. Pensei se eu já teria chegado à Baixa Grande, mas era pouco provável já que meu desempenho não era dos melhores. A realidade era pior do que eu imaginava, na verdade eu havia chegado a algum limite das dunas . Ao assimilar que estava perdido, e analisar a quantidade de comida e bebida que eu tinha, decidi voltar no dia seguinte para Barreirinhas e dar por encerrada minha viagem. Achei uma cabana provavelmente utilizada por pescadores, com algumas panelas, um saco cheio da tradicional farinha maranhense, um instrumento de pesca manual (tipo jequi, matapi), algumas vacas pastando, então ali embaixo mesmo montei minha barraca e decidi pernoitar, já estava próximo de escurecer , então providenciei um miojo com sardinha, que apesar da fome, não desceu de forma muito saborosa. A noite caiu e escureceu, mas nem tanto assim, a lua estava cheia e o céu estrelado, a ponto de enxergar perfeitamente as árvores balançando por exemplo, uma noite muito bonita que só um lugar como aquele pode proporcionar. Pra dormir foi um sacrifício, pois levei um isolante térmico que foi um verdadeiro desperdício porque dentro da barraca era um forno e não dava pra deixa-la aberta que o vento trazia muita areia. O primeiro carro que chegou, estava somente com 3 passageiros e peguei uma carona de volta pra Barreirinhas, onde reencontrei minha parceira Karina, que ao me ver não conteve as lágrimas pois acreditava que eu havia morrido seco no deserto. Descansei e no dia seguinte parti para Santo Amaro do Maranhão, a primeira parte da viagem pegando um ônibus até Sangue, e a segunda foi improvisada numa carona dentro de uma ambulância. Já tenho data pra voltar (11.02.2014), dessa vez sem esquecer as bússolas e usando todo o aprendizado que tive com meus erros. Assim que voltar escreverei um novo relato, dessa vez com um final triunfante! Algumas informações que não foram citadas: - Viajei em 26.12.2013, iniciei a caminhada dia 27, desisti dia 28, fui para Santo Amaro dia 29, voltei para São Luís dia 30 e fui pra casa dia 31. - Levei miojo, barras de cereal, nescafé, fogareiro portátil, água e uma barraca da pior qualidade que quebrou uma vareta com a ventania. - Nunca acampei e andei todo o percurso descalço. mais algumas fotos aqui : http://www.flickr.com/photos/110661148@N03/ Citar
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