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Cachoeira do rio das Lajes e do Mixila (quase)


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Cachoeira do Rio das Lajes e do Mixila - Chapada Diamantina

 

Um guia, amigo meu, o Miguel, mudou-se de Mucugê para Lençóis (Chapada Diamantina) e pediu-me para mostrar-lhe as trilhas para as cachoeiras do Mixila e do Rio das Lajes, que ele ainda não conhecia.

 

Sábado, 21/03, saímos de Lençóis praticamente ao meio dia, atrasados por fortes chuvas que caíram desde a noite anterior. Para adiantar o lado, pegamos duas moto-táxi para foz do rio Piçarra, na estrada velha do garimpo, entre Lençóis e Andaraí. De lá subiríamos a Serra do Bode, começando a trilha. Devido à cheia, elas não conseguiram atravessar o rio Capivara. Os 20 minutos restantes do trajeto fizemos a pé. Mas valeu o adianto. Por 20 reais cada foi um passeio com emoção! Economizamos 2 horas de caminhada (8-10 km).

 

Subimos a empinada serra do Bode em cerca de uma hora. No topo percorremos uma canaleta de garimpeiros, numa curva de nível ao longo da encosta do vale do Piçarra. Deixamos a canaleta no seu término (onde ela capta as águas do Piçarra) e com mais 10-15 minutos de trilha chegamos à tubulação abandonada. Andamos por cima desta e quase no final pegamos uma trilha a esquerda, seguindo o Piçarra, que também dobra a esquerda, rumo Sul.

 

Com mais 25 minutos cruzamos o Piçarra e chegamos numa toca de garimpeiro bem estruturada, um bom lugar para acampar, onde dá para montar umas 5-6 barracas. Continuamos a seguir rumo Sul. A trilha recomeça atrás da toca. Com pouco tempo subimos para um lajeado extenso. A trilha não é difícil de seguir. Não há bifurcações que possam confundir. A única, meio apagada, vem bem depois do lajeado, à direita, e segue para o Morro Branco do Capão, normalmente só usada por garimpeiros. Foi uma das trilhas mais difíceis que fiz na Chapada, só que no sentido contrário, vindo do Capão. Mas, voltando a nossa caminhada, devemos pegar a trilha da esquerda, bem mais batida.

 

Já pouco antes da toca do rio das Lajes, caminhávamos rapidamente, pelo adiantado da hora, com capinzal em ambos os lados da trilha. Quase piso numa cobra Coral. Ela cruzava o caminho e já estava com metade do corpo dentro do capinzal. Provavelmente como vínhamos rápido ela não teve tempo de se esconder totalmente. Os ofídios sentem a aproximação de pessoas pela vibração no solo. Minha pisada ficou a 10 cm da cobra. Parei em cima da bicha porque vinha rápido e o caminho em curva, com capim, não permitia ver muito adiante. A Coral não é uma cobra agressiva, mas se pisasse nela ela se defenderia me picando. O pior que estava estreando minha sandália e bermuda.Não teria nenhuma proteção contra a mordida! A maioria das picadas de cobra fica na altura do tornozelo ou abaixo, ponto para as botas de trekking. A sandália é muito mais leve e confortável (deliciosa se comparada a botas), porém tem esta desvantagem.

 

Se, ao invés de uma Coral, fosse uma cascavel enrodilhada, tava ferrado. A 10 cm ela teria me dado um bote.

 

Lição: sandália tem muitas vantagens sobre as botas, mas em terrenos de mato fechado e capinzal alto é preferível à bota, especialmente se vamos andar rápidos na trilha. Com sandália devemos ser mais cuidadosos e vagarosos na trilha.

 

Cruzando um riachinho, escorreguei e na queda quebrei a seção inferior da minha Leki Makalu. Uma pena. Este excelente bastão já me prestou bons serviços em 2-3 anos de uso. O outro continuei usando como bastão de apoio.

 

Perto da toca a vegetação cresce. Fiquei olhando para o chão preocupado com cobras e acabei metendo a cara numa grande teia de aranha que cruzava o caminho. Com a teia no rosto me virei para trás e perguntei ao Miguel se ele enxergava a aranha. Ele fez uma cara de espanto e rapidamente tirou o chapéu australiano dele e deu uma bofetada na minha cabeça, atirando longe a grande aranha que estava em cima do meu boné! Ainda bem que ela não parou no meu rosto.

 

Antes de chegar na toca ainda atropelei com o rosto mais duas teias. Decidi usar o bastão na frente, erguido em riste, para evitar novas surpresas.

 

A toca estava vazia. É uma das mais belas tocas da Chapada. Muito bonito o local e pertinho da cachoeira do rio das Lajes. Levamos 3 horas e pouco desde a estrada. Um bom pique!!

 

Largamos as mochilas e descemos para o rio, subindo-o por 5 minutos até a cachoeira, para um banho e pegamos água para o jantar. A cachu tinha muita água devido às chuvas.

 

A janta foi uma receita do Sergio Beck, de batatas e cebola com lingüiça calabresa (só precisa de uma panela). Fácil de fazer e gostoso. O saco é descascar batatas. O tempo de cozimento também é mais longo do que o tradicional macarrão.

 

Montei a minha barraca em cima de um lajeado, debaixo do avarandado de pedras enquanto esperava cozinhar. O Miguel iria montar a dele na área que hora cozinhávamos. Nesta toca é possível dispensar as barracas

 

Fizemos uma pequena fogueira para espantar os mosquitos (este é o lugar da Chapada que conheço que mais tem mosquitos). A fumaça e a noite espantaram os insetos. Infelizmente nem o paraíso é perfeito!

 

Após a janta, já escuro, subimos para uma pedra e admiramos as redondezas sob céu noturno. Ao longe, direção leste, relâmpagos, para além dos Marimbus. Nosso céu, porém, estava estrelado sem nuvens.

 

Durante a noite choveu um pouco, mas não percebemos debaixo do lajeado. O barulho da cachoeira não permitiu ouvir a chuva.

 

Manhã de domingo nublada, mas no meio da manhã o tempo abriu. Mostrei ao Miguel onde continuava a trilha rumo ao rio Caldeirão (mais ao sul ainda). Após lavar os pratos e talheres com areia, subi o rio para tirar fotos e tomar um banho de cachoeira. O sol surgiu a tempo de me secar.

 

Saímos tarde do acampamento, por volta de 11 horas, retornando pela mesma trilha. Rumamos para o cânion do Capivari, onde fica a cachoeira do Mixila. No dia anterior, quando deixamos a tubulação e viramos a esquerda, se tivéssemos ido em frente rumaríamos para o Mixila. Alguns mais velhos conhecem esta queda d’água como a cachoeira do Canto Escuro.

 

Ao chegarmos na entrada do cânion, procuramos o bicano e nele seguimos pela margem direita (verdadeira) do Capivari. Ao final dele continuamos, a maior parte do tempo no leito do rio, num pula-pedra. Algumas vezes, em trechos curtos, íamos pelas margens. Observarmos marcas que mostravam que no dia anterior o rio estava bem mais alto devido às chuvas. Provavelmente teria sido impossível subir para a Mixila ontem.

 

O Miguel foi à frente, pois ele é muito habilidoso em subir leito de rio (e não conheço a Mixila, apenas sei onde começa o cânion). Ele é um guia muito requisitado, um dos melhores da Chapada, aparecendo como guia em reportagens na revista Terra e Viagem.

 

No caminho avistou uma cobra espada (não venenosa). Tentei fotografá-la, mas ela é muito rápida.

 

O cânion fica estreito após 40 minutos de pula-pedra. Um paredão vertical não deixa espaço para as matas nas margens.Alias, não há margens!

 

Avistamos uma grande queda d’água na parede lateral a nossa direita do cânion. Porém parecia algo criado pelas recentes chuvas, não uma queda perene.

 

A partir de determinado ponto uma lagoa de águas cor de Coca-Cola. Só nadando dava para prosseguir. Largamos a mochila, coloquei o calção e segui nadando por 100 metros. Este poção termina numa pequena cachoeira com 6 a 8 metros de queda. Seria ela a Mixila? Fiquei decepcionado. Tentei subir pela pequena parede ao lado, mas estava molhada e escorregadia, cheia de limo e musgo. Não havia marcas de escalada (os pontos de apoio, as pegas na rocha, não têm musgo). Assumi que dali ninguém passava. Mas pude ver que o cânion continuava com mais duas cascatas acima.

 

Voltamos e ainda demos uma parada num poção que fica logo antes da entrada do cânion. Descemos a serra do Bode, percorrendo agora a pé a estrada velha do garimpo. Alcançamos o rio Ribeirão já no escuro. Usamos as headlamps e chegamos em Lençóis quase 8 da noite, bem cansados.

 

Passei numa agência e vi a foto da Mixila. Lembra um pouco a Cachoeira do Buracão em Ibicoara. Não chegamos nela. A cachoeira tem uma queda muito grande. Estava ainda a 30-40 minutos de onde chegamos. Não daria para ir e voltarmos antes do anoitecer.

 

A Mixila ficará para outra vez, saindo mais cedo e com menos água no rio. É um trekking para 2 dias.

 

Cachoeira do Rio das Lajes:

 

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Cachoeira lateral do canion, formada devido as chuvas (a caminho da Mixila)

 

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  • 7 meses depois...
  • Membros de Honra

Po Peter ja rodou muito na chapada mesmo hein... Essa cachoeira das Lajes tem muito guia de Lençois que nunca foi. Foi a primeira vez que foi nela? Dizem que da pra subir o rio e que la pra cima tem varias cachoeiras também.

 

Eu nao gostei muito de la não, achei legal mas nada de especial. Mas o Mixila, essa sim é sensacional, e uma pena não ter chegado nesse dia, ela com muita água vira algo indescritivel.

 

Esse trecho que falou achei um pouco complicado, principalmente se tiver com muita agua, vencer a correnteza sem grande apoio pras maos fica bem dificil. E ainda pior é a volta.

 

Um lugar que nao tava fazendo fé e gostei muito foi a Capivari por baixo. Essa região é bem legal pra caminar, varias opções de cachoeira e variações de trilha a serem feitas.

 

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  • Membros de Honra

Paulo:

 

Concordo com vc. A cachoeira das Lajes não é das mais bonitas. Mas gosto muito da toca de garimpeiro que tem lá. Além disto é caminho para outros pontos. Aquela foi a 3ª ou 4ª vez que estive no local. Subindo a cachoeira das Lajes tem a trilha para o Morro Branco do Capão. Trilha legal. De lá também se vai para o Rio Roncador e, possivelmente, para a vila fantasma do Rabudo.

 

Belas fotos da Cachoeira do Capivari. A trilha descendo ao lado dela me pareceu beeem escorregadia.

 

A Capivari é uma cachoeira que tem uma grande vazão de água quando está chovendo. Já ouvi que é possivel descer pelo rio mas é complicado. Desci uma vez, mas por uma trilha que saia de junto do mirante da Capivari e descia até o rio Capivara, onde o rio Capivari encontra o Capivara. Bem mais fácil que descer pelo leito do Capivari!

 

Ainda vou tentar a Mixila novamente, ainda mais vc dizendo que ela é bonita!

 

Abs, Peter

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  • Membros de Honra

É cara, o legal das lajes é justamente que poca gente vai, e dizem que é bem legal mesmo seguir explorando la pra cima...

 

Esse dia tava tudo bombando e achei muito bom mesmo, mas não sei como fica quando a água baixa, o Mixila dizem que é muito bonito de todas as formas mas imagino que com pouca água não fique tão legal quanto tava, o mesmo deve valer pro Capivari. O que achei mais sensacional no Mixila é que a cacheira fica numa parte bem fechada do cânion, parecendo uma sala reservada mesmo, e la dentro o som da agua batendo contra o poço e o canto das andorinhas, ah cara, é emocionante demais!!!

 

O Capivari tava escorregando bastante mesmo, e pra chegar nessa foto aí que tirei de baixo tem uns trechos de escalaminhada perigosa, a água tava espirrando para todos os lados e melhou todas as pedras por perto, virou quiabo total. Eu soube dessa trilha pelo leito do Capivari também, e inclusive era o nosso plano inicial seguir por lá pra poder seguir pro 21, mas como o nível de água tava muito alto acabou não rolando. Parece que não ia dar pra passar pelo encontro dos dois rios e mesmo que passassemos não daria pra fazer o 21 pelo risco de tromba e de escorregar.

 

Assim que tiver um tempinho quero ver se repito Mixila, sigo pro 21 (já fez alguma vez??) e quem sabe estico até a Fumaça por baixo. Te adcionei no msn pra ver se combinavamos alguma coisa na Chapada e até hoje nao te vi on.

 

Abraço

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  • 1 ano depois...
  • Membros

Peter,

 

algumas dúvidas:

 

no seu relato não diz, vc passou pela cachoeira Capivari né? já que é caminho para a Mixila.

 

o rio das Lages desagua no rio Caldeirão, certo?

 

fiquei curioso, e essa " vila fantasma do Rabudo"? sabe mais alguma coisa a respeito? (localização, como que é)

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  • Membros de Honra

Ant:

 

A cachoeira do Capivari fica a direita, mais embaixo, em relação a entrada do canyon do Mixila, uns 10 minutos de caminhada contando do início da tubulação (vide relato). Vc ao encontrar a tubulação dobra a direita e depois de pouco tempo começa a descer, como se fosse para o encontro do Capivari com o rio Capivara lá embaixo. Com pouco tempo vc chega ao mirante da Capivari. Mas se vc for direto para a Mixila vc não vê a Capivari, escondida mais embaixo.

 

Não fui para o poção da Capivari. Paulo Motta, pelas fotos acima, foi.

 

O rio das Lajes muito provavelmente desagua no Caldeirão. Quando vc sai da toca do rio das Lajes para o Caldeirão vc se afasta das margens do Rio das Lajes e quando chega ao Caldeirão vc não vê o encontro dos rios, que deve ser mais abaixo.

 

Também quero conhecer o Rabudo. Alguns guias conhecem. Acho que fica as margens do Caldeirão, mais embaixo. Pequeno vilarejo, com padaria, etc, mas tudo em ruínas e abandonado, com a decadência do garimpo. Ainda vou fazer um trekking só para procurá-lo! Acho que o ideal são 3 dias a partir de Lençois.

 

Abs, peter

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