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PEDRA DA MINA UM DESAFIO VENCIDO PELA DETERMINAÇÃO

Desde os primórdios de minha existência, as montanhas sempre me exerceram um grande fascínio. Nasci entre montanhas, numa variante da Mantiqueira, a Serra da Cantareira, no Município de Nazaré Paulista – lá pelos idos de 1952. Após um período de convivência com toda sua majestosa beleza, a Serra da Bocaina, na região das cidades históricas do Vale do Paraíba - SP, tive minhas atenções voltadas para a Serra da Mantiqueira, logo pela sua expressão máxima, a PEDRA DA MINA. E assim, no dia 23/08/2013, numa aventura solo, saí de minha cidade Guarulhos, e às 9h45min, iniciei a caminhada, pela trilha do Paiolinho, no quintal da sede da Fazenda Serra Fina – Município de Passa Quatro – MG, no ponto de coordenadas 513615 m E – 7523743 m N. Dia ensolarado, mochila com 19 kgf às costas, inclusos 4l d’água. A caminhada segue tranquila, duas porteirinhas de arame farpado à frente, área de algum cultivo, e lá vou eu. Seguem coordenadas tomadas aleatoriamente pela trilha 514725 – 7523425 e 514756 – 7523179. Agora uma matinha legal e a trilha segue pela sombra, até a chegada da primeira travessia de água, após 45 min. É uma água pequena, mas logo à frente já se cruza uma outra travessia d’água, bem mais volumosa no ponto de coordenadas 514823 – 7523170. Seguem coordenadas tomadas aleatoriamente pela trilha 514917 – 7523291 e 515379 – 7523017. Continuando, ainda em meio à mata, já são mais de 11 h e cheguei noutra travessia de água, um riacho muito bonito (515439 – 7522940). É bom tomar muito cuidado na transposição dessas travessias de água, pois as pedras são extremamente escorregadias e um tombo pode significar o fim da trilha. Outra recomendação: ao se apoiar em troncos de árvores preste muita atenção onde vai colocar as mãos, espinhos ou insetos venenosos também podem por fim à caminhada. Bem, a caminhada que até aqui vinha maneira, começa a mudar de feições e a subida começa a ficar mais agressiva com a trilha talhada por água de chuva e com pedras soltas, ainda que sob árvores. E agora avisto, pendurada numa árvore, a sempre lembrada panela vermelha, que já está esverdeada (515647 – 7522938), são exatamente 11h33min. Se já estiver a fim de armar a barraca, este ponto é um bom lugar. Seguem mais coordenadas da trilha 515487 – 7522624; 515555 – 7522479; 515705 – 7522274 e 515755 – 7521925. Daquela última travessia de água até aqui, meu amigo, ponto do acampamento base (515753 – 7521920) a coisa é brava, a trilha mostra com seriedade, o que ela reserva à frente. Bem, este local, chamado de acampamento base, é muito agradável. Tem lugar ajeitadinho para umas 4 barracas de 2 ou 3 pessoas, uma bela água, proteção sob árvores e até um fogão improvisado de pedras, tudo muito limpo e é bom que assim seja mantido, para que a alegria das pessoas educadas que, também, somos nós montanhistas, seja ainda mais abrilhantada, lembrando que aqui é o último ponto com água até a Pedra da Mina. Sabe que horas são? Eu te falo 14h40min – quase com exatidão 5 horas de caminhada serra acima, eu estou bem cansado e como não conheço as possibilidades de descanso mais à frente, vou armar minha barraca e pernoitar por aqui. 24/08 sábado, despertei às 5h30, dei uma olhada no termômetro fora da barraca e a temperatura estava em 3 graus. Me levantei assim que o dia clareou bem , fiz um café, enquanto um belíssimo canto de sabiá coleira embalava a manhã. Ajeitei a bagagem, com uma expectativa muito equivocada do que me esperava. Primeiro achei que chegaria no cume no máximo em 3,5 horas, não dei muita importância para as descrições que havia lido sobre as dificuldades da trilha, e assim, procurei levar na mochila apenas o de uso necessário e imediato: 2l d’água, sanduíches, câmera fotográfica, GPS, gravador digital de voz uma faca na cintura e por Deus, uma caixa de fósforo, que por acaso estava no bolso inferior da calça. 07h20min comecei a caminhar serra acima. Ando uns 80 m e me deparo com mais um lugarzinho ajeitado para armar uma barraca, no lado direito da trilha. Continuo subindo e a coisa vai ficando brava. O capim amarelo começa a ficar abundante oferecendo dificuldade ao caminhar e a subida vai se inclinando cada vez mais. Seguem coordenadas aleatórias da trilha 515635 – 7521797. Neste trecho, a subida tem o nome de Deus-me-livre e tem mais ou menos 400 m, segundo li. E subindo por entre o temido capim amarelo, cheguei num charco (515594 – 7521765), que na verdade é um discreto afloramento d’água que vai gerar um córrego mais para baixo. O sol já é bem forte e agora a trilha deu numa laje de pedra (515564 – 7521631). Deve-se continuar sobre a laje, pela direita, logo a trilha volta a ficar clara e dura de prosseguir. Após essa laje, da prá se assustar, uma verdadeira parede de pedra desponta à minha frente (515565 – 7521612). Não há outra maneira a não ser escalar. Vencida essa barreira, uma nova laje de pedra tenho que transpor (515556 – 7521564) e aí a trilha desaparece de vez, deve-se ficar atento na identificação de totens que indicarão a retomada da trilha – nesse trecho a altitude ainda é 2241 m e caminhar é necessário. A subida é de uma inclinação absurda, para se caminhar com segurança fico meio arcado para frente o que permite um equilíbrio maior. Nesse trecho também não se tem mais árvores, só capim amarelo e espécies de campo de altitude e na trilha muita pedra, exigindo muito cuidado com possíveis tombos (515567 – 7521530) segue coordenadas aleatórias 515620 – 7521434. Agora estou nas coordenadas 515630 – 7521407 e a altitude é de 2343 m, tenho uma belíssima vista do sul de Minas com 3 grandes aglomerados urbanos que devem ser pequenas cidades. Consulto o relógio e me alegro por ser ainda meio cedo. Continuo subindo, tracionado e reduzido, numa marcha extremamente vagarosa. Estou num ponto (515616 – 7521313) que se deve ter muita atenção para com os totens, pois a trilha some entre as pedras numa área muito grande. Logo à frente, nas coordenadas 515617 – 7521265 a trilha também some e é necessário observar o totem, que indica a retomada da trilha no meio do capim amarelo. Muito bem, estou finalmente em um cocuruto (515540 – 7521150), digo finalmente, porque há muito que não via uma descida na trilha. Vou adiantar que esse cocuruto, além de marcar o fim da subida do Deus-me-livre, é o 1º de uma sequência de 7 cocurutos uns mais altos que os outros. Deste 1º cocuruto vislumbro uma paisagem inefável e na sequência ponto na trilha 515448 – 7520998. Estou agora num ponto (515448 – 7520934) onde há uma ótima abertura para barraca, continuando o sobe e desce, estou agora em outro cocuruto (515445 – 7520878) e a altitude é de 2535 m, observe que estou andando pouco e subindo muito. Continuando a subida, estou noutro lugar bom para barraquear (515438 – 7520853) e continuando, agora estou numa matinha interessante, um misto de bambu com capim amarelo, onde há fortes sinais de que o lugar é usado para acampar (515494 – 7520724). A todo momento acho que já estou vendo a Pedra da Mina e nada, é mais um cocuruto desanimador, como este que vou ter que subir agora (515569 – 7520619) tá mais parecido com uma parede descascada do que uma encosta de montanha, ponto na trilha 515596 – 7520584. Parei no topo para descansar dei uma olhada no relógio do GPS são 11h33min, já se vão 4 horas de escalaminhada, e nada de se avistar a Pedra da Mina. Eu que achava que faria o percurso em 3,5 horas, já estou ficando preocupado. O sol é inclemente e a água já está minguando. A altitude aqui é de 2605 m (515594 – 7520532) isto quer dizer que ainda tenho que caminhar muito, pois ainda falta subir 193 m. Continua o sobe e desce e mais uma encosta terei que encarar, e assim cá estou eu em mais um cocuruto (515664 – 7520424). Neste trecho, agora vou descer para depois subir para mais um cocuruto, só observando os totens, não existe trilha demarcada . E agora, me encontro em outro e último cocuruto (515702 – 7520358). Agora sim, dei uma animada boa, pois não tenho dúvida de que estou diante da Pedra da Mina, porque avisto lá em baixo o curioso, sinistro, belo e exótico Vale do Ruah. Aqui tem um totem extraordinário, artístico e meio monumental. Olhando para a essa face da Pedra da Mina, deve-se seguir para a esquerda, acompanhando os totens. Eu estou fazendo isso, até que passo por um, aparentemente último totem, e a trilha me parece claramente que segue pelo capim amarelo, por onde acabo seguindo, meio desconfiado. Desconfiado porque eu tinha lido em relatos de outros montanhistas, que seguindo os totens, não haveria erro e o cume seria alcançado com facilidade. Erroneamente, insisto pelo campim amarelo, pois a encosta da pedra está à minha frente e a tentação de logo alcançá-la é enorme. Não faça isso, perdi mais de 40 minutos para caminhar uns 100 m, num sufoco atroz. Após vencer o capim amarelo chego no leito seco de um córrego (515990 – 7520182), cuja cabeceira é bem próxima. Esse córrego, segue margeando o sopé da pedra em direção ao vale do Ruah. Seguem pontos aleatórios na trilha 515982 – 7520126 e 516050 – 7519985. Bem, ainda meio desconfiado, começo a escalar a encosta da pedra, continuo desconfiado porque a altitude aqui é de 1600 m, faltando ainda 198 m o que me parece muito pelo visual que daqui tenho do topo. Estou decidido a voltar, dar por encerrada essa trip, caso essa encosta não seja a da Pedra da Mina. Continuo subindo e olha só o que me espera: um novo totem ( 516092 – 7519916) – que alegria. Agora sim estou avistando a fileira de totens, lá na frente, fazendo uma trilha que contorna exatamente a cabeceira daquele córrego de leito seco a que falei agora pouco. É que não tenho tempo, mas eu acho que até água ali na localidade da cabeceira desse córrego deve ter. Então, naquela hora do último totem, no fim da descida e começo do capim amarelo por onde optei, eu deveria seguir em frente, margeando o capim amarelo, sem perder de vista o córrego que serve muito bem de orientação. Neste momento, são 13h36min, me encontro no topo da Pedra da Mina. Levei 6 horas escalaminhando. Um grupo de 5 pessoas também acaba de chegar, vindo da Toca do Lobo. Muito bem, se eu não estivesse lutando contra o relógio, iria fazer um descanso e explorar esse local com mais tempo, mas não posso, tenho que descer antes que escureça. Assinei o livro de cume, fiz algumas fotos, me despedi dos rapazes e perna bamba para baixo. Inicio a volta pelo mesmo caminho, passando de novo pelo capim amarelo, pois deixei na trilha que fiz por ele, papéis branco sinalizando a trilha e volto agora recolhendo-os, antes disso, fiz um lanchinho rápido economizando o resto da água. A trilha se mostra muito difícil neste início, estou extremamente cansado e tenho uma longa subida pela frente, até aquele totem monumental que sinaliza o Vale do Ruah, para depois começar a sucessão de cocurutos, antes do início da descida do Deus-me-livre. Esse sobe e desce dos cocurutos, é uma verdadeira prova de resistência e o sol já começa a me dar sinais de que não vai me esperar. Começo a descida o Deus-me-livre a passos largos, embora a minha resistência esteja comprometida. Tenho que caminhar muito ainda e a descida é tão exigente quanto a subida. Tenho que ficar de 4 em muitos lugares e descer de ré com muito cuidado para não me machucar. Agora tomo o último gole d’água e continuo com uma sede enorme. Continuo descendo com as pernas já bambas pedindo repouso e o sol se pondo, à minha esquerda, com grande rapidez. Está escurecendo e a descida não tem fim, mas a trilha aqui ainda é razoavelmente visível. Continuo descendo, sem nenhum tipo de dúvida, de repente, meu Deus, estou diante de uma mata fechada, onde está a trilha? – Eu sabia que estava na mata onde estava armada minha barraca. Estou em meio a uma clareira, e a trilha, passando por esta clareira vai só até a mata, uma trilha usada para outras necessidades. Tentei voltar, mas já não aguentava mais caminhar. Neste momento estou meio atônito, tomando medidas automaticamente. Tirei o colete, a camiseta encharcada de suor, vesti a camisa de mangas comprida e descobri, por uma ação verdadeiramente milagrosa, que tinha uma caixa de fósforo no bolso inferior da calça. Estou tremendo muito de frio, um tremor incontrolável, as pernas estão bambas sem nenhuma firmeza Me arrasto até um lugarzinho meio protegido, numa espécie de barranco, limpei um pouco o chão com a faca, enquanto um ratinho tentava me roubar o lanche de salame. Não tive forças, nem prá olhar no GPS, onde estava, pois eu havia ativado o track back lá na Pedra. Nessa pequena área que limpei, fiz uma fogueirinha, que alimentei com folhas e ramos verdes a noite inteira. A mochila, que é grande, posicionei-a nas costas, o que as protegia um pouco do frio e me curvei como um camarão, mantendo-me bem próximo da fogueirinha. De tempo em tempo tinha que fazer um esforço enorme pra me levantar, e meio cambaleando providenciar mais folhas e ramos para queimar. Nesse ritmo presenciei o nascer e o por da Lua em meio a um céu pejado de estrelas, de uma noite muito fria no seio da Serra da Mantiqueira, localmente conhecida como Serra Fina. Muito bem, o sol já começa despontar para o amanhecer do dia 25 de agosto de 2013 (Domingo). Me levanto, ainda bem cansado, mas bem mais animado. Olho para o GPS e noto, como havia previsto, que estou a 15 m da saída correta da trilha e a uns 80 m da barraca. Começo a retomada, uma pequena subidinha, acho que foi isso que não me animou a voltar, e a trilha meio camufladinha ali está, sigo um pouco e começo a ouvir o barulho de água da pequena cachoeirinha, agora já avisto minha barraca azul e branca, coberta de sereno gelado em cujo interior se encontra todo meu equipamento capaz de me oferecer conforto em situações extremas. Pensei até em fazer um descanso no conforto do saco de dormir dentro da barraca, mas de novo estou preocupado com o tempo, pois tenho uma longa caminhada ainda pela frente até o carro lá no quintal da fazenda Serra Fina. Fiz de conta que estava com grande disposição, desmontei a barraca, enrolei tudo mais ou menos na mochila, antes comi um pouco meio sem querer, tomei bastante água, pois passei a noite inteira sonhando com água. Alcei a mochila ás constas, despedi-me do local com um profundo gesto de gratidão e parti para a última etapa dessa desafiadora trip. Fiz algumas paradas para descanso e após 3h20min, chego ao quintal da Fazenda Serra Fina às 11h20min do dia 25 de agosto de 2013, cansado, mas feliz. F I M.

As coordenadas aqui informadas, estão referenciadas no Datum WGS 84, o mesmo do GOOGLE EARTH

Joao vanes (VANINHO)

vanes@uol.com.br

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