Ir para conteúdo

Posts Recomendados

  • Membros
Postado

Realizamos a nossa jornada com uma Rural 1976 e um Sandero

por Brasil, Paraguay, Argentina, Bolívia e Peru. Com os problemas

enfrentados não vimos o Chile. Não tínhamos muitas câmeras nas

mãos, mas tentamos fazer esse clip a fim de trazer inspiração para

novas viagens.

 

Já diziam os Engenheiros:

"Há tantos quadros na parede

Há tantas formas de se ver o mesmo quadro..."

Vivemos em um continente com as mais belas paisagens do mundo,

mas não buscamos inspirações nas paisagens, nem nas canções

ou nos sorrisos. Mas sim, no sentimento que estes nos trazem.

 

Nossa mais completa confiança na existência divina está

depositada nas paisagens vistas na viagem. Todas as outras

coisas, nossos poderes, nossos desejos, nossa comida, são

realmente necessários para nossa existência em primeiro lugar.

Mas essas paisagens foram um extra. São um embelezamento para

a vida, e não uma condição dela.

 

Curtam o passeio...

 

http://player.vimeo.com/video/74675007

 

A quem interessar mais detalhes da viagem, escrita por Renan Schenatto:

 

Road Trippin' Amerida do Sul - Dia #1 - Começou a viagem! A Rural vai aguentar?

Começamos nossa jornada numa terça feira cinzenta, o horizonte ainda tímido com nossa presença. Saímos de Porto Alegre as 8 da manhã em direção a Foz Do Iguaçu. Não demorou muito e já começávamos a nos acostumar com a direção de nossa Rural. Todos estavam muito bem, tudo estava muito bom, até que, nas proximidades de Chapecó, as 16h, logo após cruzamos nosso querido Rio Uruguay, ouvimos um barulho no pedal da embreagem. Encostamos e constatamos que o cabo de embreagem havia se soltado. Gio abriu o capô e constatou: "barbada, 15 minutos estamos saindo daqui". Doce ilusão..kkkk.. Só para conseguirmos encaixar o cabo foi quase uma hora, depois, passamos a ajustar o cabo e a marcha não pegava de jeito nenhum. Enquanto Giovandro e Ricarnaval faziam o serviço, eu e Azedo tomávamos uma Pepsi, e as gurias tomavam banho de sol, afinal, uns trabalham, e os mais espertos só olham.Quando começou a anoitecer, fomos no Sandero do Guilherme Leitao a procura de um mecânico, encontramos um, numa especie de vila que estava distante uns 10km de onde a Rural havia enguiçado. O mecânico nos ajudou, mesmo sem ter feito nada que já não estivéssemos tentado, ele nos deu sorte. Pudemos seguir viagem. Porém, em Chapecó, já noite, nosso GPS, muito serelepe, nos guiou por um caminho errado, e perdemos o rumo. Era 12:00 e estávamos ainda no sudoeste de Santa Catarina, próximo ao Rio Uruguay. Passamos por estradas com nevoa densa, habitat ideal para a noiva de Branco. O plano incial era chegar em Ciudad Del Este as 19:00 e dormirmos lá. Quando chegamos no noroeste de Santa, após passarmos São Miguel do Oeste, o relógio mostrava 3:00. Seria inviável chegar em Ciudad Del Este, estávamos totalmente cansados. Decidimos por dormir em um hotel de caminhoneiros na estrada fechando assim nosso primeiro dia de viagem que não poderia ter dado mais certo!

1098286_604261312929611_1260490072_n.jpg

 

Road Trippin' America do Sul - Dia #2 - A viagem promete...

As 9 horas acordamos e tomamos café com os caminhoneiros, nossos amigos de estrada. Partimos então para Ciudad Del Este. Chegamos lá as 14:00 e compramos nossas muambas. Ricardo Herbstrith teve dificuldades para manejar a Rural no meio do caos mas pegou a manha. Partimos então, ali, pelas 17:00 horas para Asuncion. A estrada era uma reta interminável com diversos motoristas suicidas. Dessa vez não nos perdemos. Chegamos em Asuncion 12:30. Antes de chegar no centro, passamos por diversos bairros humildes cuidando muito para não atropelar as muitas pessoas que literalmente dormiam na sarjeta. Uma visão da nossa contrastante América do Sul. Chegamos ao hostel e fomos muito bem recebidos. Para comemorar nossa chegada, saímos para pegar uma (só uma) cervejinha. Encontramos um karaoke no centro de Asuncion, com um publico não muito jovem. Tocamos o foda-se no lugar, cantando Milla do Netinho, e Mineirinho do SPC, fizemos todo o bar levantar. O dono não gostou muito quando eu subi na mesa, mas deu nada.. kkkkk.. as 6:00 da manhã fomos gentilmente convidados a nos retirar do bar.. azar..kkk.. Viva Asuncion!! Viva el Paraguay!! P.S.: Ao voltarmos do bar percebemos que o um dos pneus da Rural estava levemente murcho: Problemas para o terceiro dia.. Vamooo..

1095097_604267709595638_1098380782_n.jpg

 

Road Trippin' America do Sul - Dia #3 - Um churrasco paraguaio!

Acordamos com a ressaca do karaokê. Vozes cansadas após encantar o Paraguay com nossos incríveis dotes musicais. Saímos para comer algo. Após indicações encontramos o Mercado Publico nº4, um lugar onde em vez de lojas havia cozinhas instaladas lado a lado. Depois de nos alimentarmos, voltamos para o hostel e constatamos que o pneu da Rural estava no chão. Passamos então ao trabalho de trocar o pneu da Rural. Pedimos ajuda numa borracharia na mesma quadra do hostel onde estávamos. Nosso brother Catalino foi até nosso hostel, pegou o pneu, levou o pneu nas costas até a borracharia, arrumou o pneu, trouxe de volta o pneu, colocou o pneu e arrumou nosso gato hidráulico. Por todo esse trabalho Catalino nos cobrou absurdos 30.000 guaranis (15 reais)..kkk. Depois fomos dar uma banda no centro de Asunción. Voltamos para o hostel nos arrumar, pois havíamos sido convidados por nosssa queridíssima colega paraguaia da engenharia civil, Jacky, para jantarmos em sua casa. Eu comi uma costela de porco, um bolinho, uma linguiça, uma salada, tomei uma corona eeeeeeeee sóóóóóóóó´....kkkkk.. Valeu Jacky Correa! Com certeza será a melhor refeição de toda nossa viagem. Depois te pago um R.U...kkk.. Depois voltamos pra casa e fomos dormir, pois tínhamos apenas 4 horas até as 5 da manhã, horário programado para nossa saída.

1146447_606316246057451_1377489626_n.jpg

 

Road Trippin' America do Sul - Dia #4 - A Prisão de Ricardo e Outros Causos de Clorinda:

Acordamos ainda noite, carregamos nossas malas nos carros, e partimos em direção à fronteira do Paraguay com a Argentina. O rumo era o Salar de Uyuni, o plano era dormir a noite em La Quiaca, na fronteira da Argentina com a Bolívia e depois seguirmos viagem até o Salar. Como sempre estava tudo muito bem, estava tudo muito bom. Cruzamos a fronteira para Argentina às 7 da manhã tranquilamente. A primeira cidade a frente era a “belíssima” Clorinda. Estávamos eu, Ricardo motora e Amanda admirando a paisagem do lugar quando de repente ouvimos um forte barulho na parte traseira da Rural. Um motoqueiro havia batido em nós. Descemos do carro e o homem gritava com a mão na perna. Quando achávamos que a situação já era ruim, descobrimos que o homem era policial. Não demorou 5 minutos e já havia uma força tarefa da policia, uma equipe da radio local e outra equipe da TV cobrindo o acontecido. O comandante nos explicou que havíamos entrado em um local proibido numa rotula, porém argumentamos que não havia sinalização e que, pela logica, seria correto dobrar naquele local. O comandante foi compreensivo e concordou em parte com nossos argumentos. Ele nos explicou que não ficaríamos detidos na cidade, mas o processo para sermos liberados seria bastante demorado, pois era feriado na cidade. Ricardo foi então detido para averiguação e fomos todos encaminhados a uma delegacia da cidade. Fomos surpreendentemente bem tratados por todos os policiais. Na frente da delegacia fizemos miojo em nosso fogareiro e improvisamos uma rodinha de viola para espantar o tédio. Eu e Gio decidimos andar pela cidade a procura de pneus novos para a Rural... péssima ideia. A região da delegacia era de uma humildade inocente, porém, a procura de um local que vendesse pneus, fomos até o centro, local de uma humildade perigosa. Um homem, dizendo saber quem vendia pneu, nos encaminhou para uma casa, no meio de uma espécie de vila. Outro homem com ares de chefe da comunidade, saiu da casa e passou a me interrogar sobre o pneu. Disse que me daria o preço após uma “consulta” e que ele só forneceria os pneus e não os instalaria para nós. Evidentemente saímos de lá cantando pneus. Voltamos para a delegacia e, às 16h, Ricardo foi liberado. Continuamos então nossa jornada até La Quiaca, decidimos tocar direto, sem parar para dormir. Enquanto um dirigia outro dormia e assim seguimos fazendo o revezamento. Era noite e percorríamos um deserto verde no norte da Argentina, já exaustos.

539607_606316702724072_192689820_n.jpg

 

Road Trippin' América do Sul - Dia #5 - Fodeu a Rural!

Era 6 da manhã e após uma noite inteira dirigindo no norte da Argentina, tivemos a primeira visão dos Andes ainda ofuscada pelo sol que teimava em nascer atras das montanhas. Logo após passarmos San Salvador de Jujuy, um barulho estranho começou a soar dentro da Rural. Um barulho de ferro raspando com ferro. 20km depois de San Pedro de Jujuy, o barulho se intensificou e resolvemos parar num vilarejo a beira do rio San Francisco, que estava completamente seco. Primeiro pensamos que havia algo solto, raspando. Passamos um tempo tentando descobrir a procedência do barulho enquanto este se intensificava ainda mais. Decidimos portanto chamar um mecânico. Alguns, no Sandero, foram até a cidade de Jujuy buscar ajuda e outros ficaram na Rural. Depois de algumas horas, o Sandero voltou com um mecânico nativo que constatou que o problema era no rolamento da Rural. Enquanto el amigo argentino arrumava o rolamento, todos nós dormíamos na grama sob um céu que, não havia uma semana, tinha despejado sobre Jujuy uma das maiores nevascas já registradas na cidade. Quase 10 horas depois, as 16h, o rolamento estava finalmente consertado e pudemos seguir viagem até La Quiaca/Villazon, fronteira da Argentina com a Bolívia. Chegamos a La Quiaca as 23h, demos uma volta pela cidade, que era bastante tranquila, e decidimos cruzar a fronteira para agilizar os tramites aduaneiros, pois achávamos que Villazon seria basicamente a mesma cidade que La Quiaca. Doce ilusão. Villazon era completamente diferente de La Quiaca, muito mais intimidadora e caótica. Decidimos tocar direto para a próxima cidade, pois não havia condições de ficar em Villazon. Chegamos então a Tupiza e conseguimos encontra um hotel que tinha garagem e tinha o minimo de conforto e, principalmente, segurança. Fomos dormir as 2 da manhã. O objetivo era acordar as 8 e seguirmos para o Salar de Uyuni.

1098052_606676526021423_251092086_n.jpg

 

Road Trippin' América do Sul - Dia #6 - Deserto deslumbrante e perigoso

Acordamos em Tupiza as 8 da manhã e carregamos os carros para partirmos para o Salar de Uyuni. Carlos, o responsável pelo hotel, nos disse claramente que o melhor caminho era pegar a estrada asfaltada até Potosi e depois descer até o Salar. Nos disse que seria IMPOSSÍVEL cruzarmos o caminho de terra de Tupiza até Uyuni. Evidentemente não escutamos o bom nativo e fomos pelo caminho de terra. Foi o lugar mais lindo que já estive em minha vida. Parecia que a terra havia sido moldada por um artista. A cada curva uma paisagem mais linda que a outra surgia. A beleza era absurda. Claro, toda essa beleza tinha seu preço. Quando havíamos completado um terço do caminho, o rack se desprendeu do topo da Rural. Meia hora depois, havíamos consertado este pequeno problema. Estávamos prontos para seguir. 100m depois, um estouro. O pneu havia furado. No terreno acidentado, demoramos mais de hora para colocar o step, que estava murcho. Decidimos procurar a próxima cidade e consertar o step para evitar futuros problemas. Encontramos então a cidade de Atocha, situada em uma montanha em um vale de um rio que estava seco. Seria cenário fácil para um filme do Indiana Jones. Logo na entrada da cidade, encontramos Arturo e Borges "Gordito", uma dupla de mecânicos capaz de resolver qualquer problema tranquilo, tranquilo. Neste primeiro encontro, apenas calibraram nossos pneus e verificaram que não havia maiores problemas e poderíamos seguir viagem. Era noite, quando partimos de Atocha para Uyuni. Faltavam 90km. Nos primeiros 500m, depois de Atocha, o rack quebrou novamente. Percebemos então que havia algo errado, alguma energia que estava nos afastando de nosso destino. Fizemos uma roda e rezamos um Pai Nosso sob um céu cravado de estrelas. Mal sabíamos, mas o pior ainda estava por vir. Era 10h e seguíamos nosso rumo quando avistamos um trecho da estrada coberto pela areia fofa do deserto. A Rural, que seguia na frente, passou. Quando foi a vez do Sandero, não houve como, o carro atolou. Na tentativa de ajudar o Sandero, começamos a manobrar a Rural que também atolou na beira da estrada. Não havia o que fazer, estávamos isolados no meio do deserto em uma estrada cujo o trafego deveria ser de, no máximo, 2 carros por dia e nós eramos os 2 carros do dia. Percebemos então que teríamos que passar a noite no deserto. Nos recolhemos, três em cada carro. Foi a noite mais fria da minha vida. Meus pés estavam a ponto de congelar. Nossa transpiração congelava nos vidros assim como a água que tínhamos para beber. Nunca esperei tanto o amanhecer.

993665_606679449354464_2125928138_n.jpg

 

Road Trippin' América do Sul - Dia #7 - Hermanos nos ajudem

A noite no deserto foi difícil e tensa. Além de congelarmos ainda tínhamos que cuidar os poucos carros que cruzavam aquela estrada no meio da madrugada. No meio da noite um caminhão parou ao lado da Rural. O homem desceu, rodeou o nosso carro e voltou ao seu caminhão. Depois desceu de novo e fez uma enorme fogueira na frente de seu veiculo. Não conseguimos saber o motivo do fogo, mas alguns minutos depois ele subiu no caminhão e partiu. Logo depois, o dia amanheceu. Nunca havíamos ficado tão felizes de ver sol. Passamos então para a tarefa de desatolar o Sandero. Na base da força, conseguimos. Começamos então a retirar o excesso de areia da estrada para que o Sandero pudesse passar. Conseguimos! Um problema a menos. Agora, faltava a Rural que não conseguíamos fazer pegar. Tentamos varias vezes até que abrimos o capô. A água do radiador havia congelado. Um problema a mais. Neste momento, Ricardo Herbstrith?, clamou aos céus: "Tudo que eu queria era que um casal de velhinhos americanos que soubessem tudo sobre mecânica parassem para nos ajudar!". 15 minutos depois o desejo estava parcialmente atendido. Um casal de velhinhos franceses, que não falavam inglês nem espanhol, parou para oferecer ajuda. Também não sabiam nada sobre mecânica, mas foram solícitos. Como viram que nada podiam fazer, partiram. Decidimos então que a melhor opção seria guinchá-la. Azedo e Ricardo partiram no Sandero até Atocha para buscar ajuda. Eu, Amanda, Gio e Andressa ficamos. Eu estava exausto em todos os sentidos. Meu consolo no deserto: meu violão. Fizemos então um almoço no fogareiro. Estávamos mortos de fome. Depois da noite mais fria de nossas vidas nossos corpos pediam qualquer coisa com gordura. Depois do almoço, não demorou muito, parou ao nosso lado uma enorme camionete. Dentro da camionete reconhecemos Arturo "Gordito" e Borges, nos bancos traseiros estavam Azedo e Ricardo. Foi tudo muito fácil, em menos de cinco minutos a Rural estava desatolada e andando normalmente. Decidimos então então voltar para Atocha, pois nos avisaram que nos 90km até Uyuni a estrada só piorava. Chegando em Atocha, Gordito e Borges começaram os consertos na Rural. Enquanto isso, fomos dar uma volta na cidade. Conheci diversos nativos e percebi que, na Bolívia, as pessoas mais humildes eram as mais confiáveis. Era noite e os reparos na Rural estavam concluídos, mas estávamos sem combustível para voltar para Tupiza. Arturo e Gordito nos indicaram um posto de gasolina que ficava separado da cidade em um pequeno morro no meio do deserto. Fomos até lá, mas a gasolina e o diesel havia acabado. Decidimos voltar a Atocha. Percorremos toda a cidade perguntando de carro em carro se não haveria a possibilidade de comprarmos Diesel e Gasolina deles. Como sempre, quem nos ajudou novamente foram Borges e Gordito que fizeram alguns contatos e logo chegaram duas camionetes da qual compramos diesel e gasolina. Nestas voltas pela cidade, descobrimos que o caminho que havíamos percorrido passando por Atocha até atolarmos seria o trajeto do Rally Dakar 2014. O Sandero foi provavelmente o menor carro a chegar até Atocha de todos os tempos. Depois de abastecermos os carros, finalmente partimos de volta para Tupiza. Chegamos lá era 23h e reencontramos Carlos, que dois dias atras havia nos dito veementemente que seria impossível chegarmos a Uyuni pelo caminho de terra. Ao olhar meu estado ele comentou: "Ow! Estan super sucios!!" Subimos aos nossos quartos e fomos dormir.

1146717_606893225999753_1341382171_n.jpg

 

Road Trippin' América do Sul - Dia #8 - Potosí maldita

Acordamos em Tupiza antes de o sol nascer. Objetivo era chegar ao Salar de Uyuni a tarde passando por Potosi como nosso amigo Carlos havia sugerido no dia em que enguiçamos no deserto. Ao som de America e Red Hot Chili Peppers seguimos nosso caminho admirando o sol nascer por detrás das montanhas. Como não poderia deixar de ser, a paisagem era do caralho. Estávamos, porém, novamente sem diesel para a Rural. Paramos a Rural em um acostamento a beira de um penhasco. O Sandero seguiu e encontrou o vilarejo de Vitichi, onde, após uma pequena busca, descobriu-se que o marido da mulher da fruteira vendia diesel. Com um galão cheio, o Sandero voltou para socorrer a Rural. Voltamos então com os dois carros para Vitichi e completamos o tanque. Almoçamos uma milanesa no Comedor do Chancho e seguimos viagem. Chegamos então a Potosi, a mais alta cidade no mundo com mais de 100 mil habitantes. Estávamos a 4000m acima do nível do mar. A história da cidade é contrastante. No século XVII, Potosi foi a cidade mais rica do mundo devido a extração de prata do monte Cerro Rico. Ao chegarmos na cidade o que vimos foi outra realidade. Se outrora Potosi era uma cidade de reis, hoje, a pobreza e a miséria reinam em suas vielas. A cidade toda lembra uma grande favela. Como sempre, estava tudo muito bom, tudo indo muito bem. Começamos a procurar a saída de Potosi que levava até a rota para Uyuni. Quando descíamos para o centro da cidade, um barulho estranho começou a soar da Rural. O barulho era o mesmo que ouvimos quando o rolamento havia estragado. Logo, presumimos que este era o problema. Desta vez, pelo menos, tivemos muita sorte e relação às outras vezes. Em vez de pifar em um deserto, montanhas isoladas ou em um vilarejo pacato, o carro pifou em uma cidade. E era uma cidade grande que parecia ter o minimo de infra estrutura. Começamos então a rodar a cidade em busca de um mecânico. Foi bastante difícil, pois era feriado da Independência da Bolívia. Não demoramos muito, encontramos Raulzito, um mecânico que parecia ser de confiança. Raulzito averiguou a Rural, demorou um pouco, mas contatou que o problema não era no rolamento e sim na ventoinha. Também nos deu a noticia que só poderia consertar a Rural no dia seguinte, pois era feriado e seria preciso comprar algumas peças. Percebemos que, como em TODOS os outros dias, não chegaríamos ao nosso destino. Ainda em Atocha havíamos reformulado nossa rota. Passamos a ter um único objetivo: chegar em Cuzco na quinta-feira, dia 8. Nos hospedamos então em um hotel em Potosi e fizemos uma reunião. Decidimos que teríamos que cortar o Salar para poder chegar a Machu Picchu. Como teríamos que esperar o próximo dia, compramos alguns litros de Cerveza Potosina e, por incrível que pareça, pela primeira vez na trip, nos embebedamos todos juntos brindando nossa desgraça. Daleeeee!!

1097979_607122449310164_697072474_n.jpg

 

Road Trippin' América do Sul - Dia #9 - Visão da morte no desfiladeiro

Enquanto uns ficaram no hotel, outros levaram a Rural para o mecânico. Conforme havíamos combinado com o mecânico, chegamos na oficina as 7 da manhã, mas Raulzito chegou apenas as 8. Começaram então os trabalho na Rural. Raul disse que seria necessário comprar a ventoinha em outro local, pois ele não tinha o modelo que necessitávamos. Entretanto, subiu no andar acima da oficina, onde era sua casa, e chamou Jorgito, seu filho (sim, tanto pai como filho tinham nomes em diminutivo). Deu algumas instruções para o garoto de 13 anos e pediu que ele nos acompanhasse até uma loja de auto-peças. Dentro do Sandero com Ricardo Herbstrith? e Guilherme Leitão de Azevedo?, Jorgito mostrou-se um grande fã de música brasileira. Seus artistas favoritos eram Calypso e Zezé DiCamargo e Luciano. Realmente, a boa música atravessa fronteiras. Infelizmente a peça que procurávamos estava indisponível e os guris voltaram para a oficina de mãos abanando. Raulzito então arrumou a Rural de forma que conseguíssemos seguir viagem até La Paz, onde compraríamos a peça e completaríamos o trabalho. Carregamos rapidamente a Rural e o Sandero e partimos rumo a La Paz. Logo que saímos da garagem, começamos a ouvir um barulho estranho, como se algo estivesse solto. Mesmo assim, decidimos partir, afinal, recém havíamos estado em um mecânico. Quando saíamos de Potosí, Ricardo, que estava dirigindo, sentiu que a direção estava estranha e que a Rural parecia deslizar as vezes. Estávamos em uma reta, já atentos ao comportamento da Rural, quando o freio falhou brevemente. Pensamos que o problema era pontual e seguimos viagem. Começamos então a descer uma cadeia de montanhas. Era uma descida íngreme em reta e ao final um "u" fechado a beira de um penhasco. Ao fim da reta, a cara de Ricardo ficou tensa e ele gritou: "Meeeeeeuuu Deeeeeeusss. Essa porraaa tá sem freeeeeiooooooo!!". Eu e Azedo nos preparamos para o pior. A Rural invadiu a pista contrária e tirou fininho do guard-rail. Ufa, estávamos a salvo. Paramos no primeiro acostamento que avistamos e definimos: não havia condições de seguir viagem com a Rural. Em todos os dias da viagem, ela havia dado algum problema, mas essa era a primeira vez que o problema colocava nossa vidas em risco. Se houvesse um carro vindo na contramão teríamos batido de frente ou, pior, se o freio tivesse falhado quando a Rural tivesse indo em direção a um penhasco, não estaria aqui contando esta história. Abrimos o capô e tentamos localizar a origem do problema. Nada concluímos. Voltamos então a Potosí com bastante cautela. Fomos direto à oficina de Raulzito, que estava fechada, pois havia uma parada militar na cidade com a presença do presidente da Bolívia, Evo Morales. Voltamos para o hotel e começamos a discutir as possibilidades. A primeira ideia era enviar a rural até o Brasil por transportadora e seguirmos a viagem até Machu Picchu de ônibus e trem, mas, depois de algumas ligações esta ideia foi abortada, pois seria caríssimo. Ligamos então para o consulado do Brasil em La Paz, que não nos ajudou em absolutamente nada. E agora? Deixamos a Rural na oficina de Raulzito e seguimos viagem até Machu Picchu por outros meios, pegando a Rural no caminho de volta? Ficamos na Bolívia, curtindo Uyuni e La Paz, enquanto os reparos são feitos? Ou ficamos em Potosí e assim que a Rural estiver pronta voltamos direto para Porto Alegre? Ainda não sabemos. Esperaremos até amanhã, quando a oficina de Raulzito estará aberta e então ele poderá nos dar uma perspectiva dos problemas da Rural para podermos decidir nosso futuro. Pensamento positivo! Vamoo!

998457_607158145973261_1727249831_n.jpg

 

Road Trippin' América do Sul - Dia #10 - A Descoberta e a Fuga de Potosí: O Último Suspiro da Rural.

Acordamos eu, Azedo, Ricardo e Giovandro e levamos a Rural direto na oficina do Raul. Eram tantos problemas que mal conseguimos relata-los para o mecânico. O freio havia falhado, havia um barulho estranho no motor, outro barulho na parte traseira, o motor estava esquentando demais, etc,etc,etc... Enquanto Raulzito averiguava o carro, era claro que não havia condições de seguir com a Rural. Naquele momento, só pensávamos em voltar para Porto Alegre assim que a Rural tivesse as minimas condições. Eu e Ricardo voltamos para o hotel. Enquanto mascava algumas folhas de coca, comecei a ler sobre Potosí e imaginei que uma cidade que um dia havia sido a mais rica do mundo deveria ter algum local interessante. Tudo o que víamos da nossa janela eram montanhas pintadas pela cor do tijolo. Enquanto os guris estavam na oficina, eu e Ricardo saímos para explorar a cidade. Caminhamos, caminhamos e chegamos ao centro histórico. Realmente, a nossa ignorância havia nos privado de um lugar do caralho. Preocupados com a Rural, não havíamos pesquisado muito sobre a cidade e acabamos ficando num local afastado e pouco interessante. Além de várias construções da época colonial e ruas que lembravam Ouro Preto, havia também um bar só para estrangeiros que não chegamos a frequentar.. Nãããããããããoooooooooo. Quando voltamos para a oficina, as noticias não eram boas. A Rural estava literalmente morta, falência múltipla de orgãos. Eu e Ricardo ficamos sem reação. Gio chorava e Azedo entrou em desespero, agachando-se e murmurando palavras sem sentido, mas que reverberavam o sentimento de todos. Porém, a vontade de continuar era enorme e em questão de minutos estávamos decididos. O plano era o seguinte: dividiríamos o grupo. 3 iriam no Sandero e 3 iriam de ônibus até La Paz. Como macho alfa do grupo, eu acompanharia as gurias para sua segurança. Em La Paz tentaríamos pegar qualquer linha que fosse a Cusco e o Sandero seguiria este ônibus. A Rural ficaria em um garagem do hotel e na volta pegaríamos ela. Plano elaborado, corremos para o hotel. Começamos a eliminar tudo que não fosse de extrema necessidade. Cobertores, tênis velhos, roupas sujas, um frango de borracha e o buda sagrado ficaram dentro da Rural. Cada um levaria somente uma mochila e uma mala. Era 9h e corremos para a rodoviária de Potosí, pois ficamos sabendo que o ultimo ônibus para La Paz, saia as 22h. Chegando-lá, praticamente todos os balcões de empresas estavam fechados. Nosso plano, assim como toda trip, parecia que não ia dar certo, mas no meio da multidão surgiu um homem. Dizia ele estou indo pra La Paz, nesse pais lugar melhor não há, to precisando visitar a minha filha, eu fico aqui e vocês vão no meu lugar. Negócio fechado. Em 5 minutos embarcamos eu e as gurias em um ônibus direto pra La Paz. Os guris ficaram e partiram mais tarde depois de viabilizar a estadia da Rural em Potosí.

1098273_608353735853702_1266449630_n.jpg

 

Road Trippin' América do Sul - Dia #11 - Bienvenidos a Cusco

Viajamos toda a noite. Eu e as gurias no ônibus e os guris no Sanderinho. O motora bolivianos era louco, ultrapassagens perigosíssimas em uma estra que beirava penhascos altíssimos. Era noite e o que os olhos não vêem o coração não sente. No ônibus, peguei no sono assistindo ao bom e velho bang bang, "The Good, The Bad And The Ugly" com dublagem em espanhol, que deu um tom cômico ao filme. No Sanderinho, houve revesamento, Giovandro, porém, foi o motora mais requisitado. Ecoava pelas montanhas Bolivianas gritos de: " pare não, Gio. Oxi, Gio. vai Gio. Pare não, Gio!" O combinado era nos encontrarmos no terminal de La Paz e analisarmos as possibilidades para irmos até Cusco. Chegamos, eu e as gurias, antes, as 5h. Apesar de os balcões estarem todos fechados, havia varias empresas que anunciavam linhas para Cusco. Os guris demoraram para chegar ao terminal, pois, novamente, o GPS os encaminhou para outro local. Foram parar em um terminal sinistro das linhas de ônibus urbanas de La Paz. As 7h eles finalmente conseguíram chegar à rodoviária. Tomamos todos um café no terminal e, quando os balcões abriram, compramos passagens para Cusco em uma linha as 8:30. Pela primeira vez na trip, um plano nosso dava certo. Na saída, o ônibus circundou La Paz e por detrás das montanhas nevadas pudianos ver o sol nascer majestoso. Era um bom sinal. Seguimos viagem e, não demorou muito, no horizonte, uma linha azul apareceu. Estávamos nos aproximando do Lago Titicaca, o qual demorou horas para desaparecer de nossas janelas. A fronteira do Peru com a Bolívia em Desaguadero era o caos. O ônibus teve que passar por entre centenas de barracas de camelô e milhares de pessoas que se aglomeravam em uma gigantesca feira. Várias vezes o auxiliar do ônibus teve que pedir para que barracas dos ambulantes fossem desmontadas e pessoas que almoçavam no meio da rua se retirassem. A passagem do Sandero pela cidade foi ainda mais caótica. Gio havia perdido seu registro de entrada na Bolívia. Achávamos que apenas comunicaríamos na Aduana a perda do papel e eles registrariam a saída de Giovandro do país. Grande ilusão. Gio teve que pagar propina para que o policial fizesse seu trabalho. Depois de almoçarem em Desaguadero a pior comida da trip segundo eles, o Sandero partiu rumo a Cusco também. Quando o ônibus adentrou o Peru a paisagem era menos drástica que aquela que vimos na Bolívia, mas, mesmo assim, fantástica. O Sandero seguiu o mesmo caminho. Na estrada, os guris foram parados diversas vezes por policiais que se mostraram atenciosos e inclusive instruíam sobre os perigos da rodovia adiante. Porém, em Juliaca, um policial os parou e tentou achar todo o tipo de "irregularidade" que pudesse existir no Sandero e encontrou. O insulfilme colocado no Sandero não era permitido no Peru. Evidentemente ele não nos aplicou qualquer multa e tivemos que pagar o rancho da semana para ele. A viagem seguiu e, quando o ônibus adentrou o distrito de Cusco, a paisagem adquiriu um tom dramático com o por-do-sol tingindo as nuvens e a neve nas montanhas com um laranja vivo que entrelaçava-se com o amarelo da vegetação seca nas encostas. Machu Picchu estava perto. Era noite e, depois de passar por várias pequenas cidades, avistamos um clarão no meio das montanhas. Havíamos conseguido! Depois de dias perdidos na Bolívia, dormindo em desertos e presos Potosí, tínhamos, finalmente, chegado ao nosso destino. O ônibus chegou ali pelas 9h e, no caminho para o hostel, deparei-me com uma cidade que era muito mais do que eu esperava e eu já esperava muito. Fiquei sem palavras. Nos acomodamos no hostel e, não demorou muito, o Sandero chegou. Evidentemente, fomos direto para o bar tomar água, pois tínhamos sede depois de tantos dias no deserto. Depois, saímos para caminhar pela cidade e, a cada passo, ficávamos mais impressionados com o que víamos. Depois de tomar muuuuita água e nos hidratarmos bem, partimos para a noite de Cusco. Daleeeeeee!!

1012456_608377185851357_588207430_n.jpg

 

Road Trippin' América do Sul - Dia #12 - "Los Cusco Rangers"

Pela primeira vez em toda a viagem, tivemos um dia de turista. Daleeee! Acordamos de ressaca e fomos comer. Almoçamos em um mezanino de frente para a Praça de Armas e depois fomos conhecer a cidade. Hoje, por incrível que pareça, nenhum desastre aconteceu. Não teve carro quebrado, não teve policial atropelado nem passaremos a noite no deserto..aaaaaa..a vida é boa! Cusco, porém, viveu um dia importante de sua história hoje, pois, para proteger sua população de todos os malfeitores com a benção de Tupac Amaru, surgiram hoje os CUSCO RANGERS. Segundo as profecias Incas gravadas em nós nas cordas, quando o sexto sol raiasse e a Rural quebrasse, surgiriam em Cusco 4 seres de luz, cerveja e pelo de llama. As profecias estavam corretas. Os Cusco Rangers estão aqui para proteger o Vale Sagrado!

1170879_608391469183262_1273243532_n.jpg

 

Road Trippin' América do Sul - Dia #13/#14 - "Machu Picchu: O Coração da América do Sul"

Depois de outro dia protegendo o Vale Sagrado como os Cusco Rangers, estávamos cansados. Voltamos cedo para o hostel, pois no dia seguinte faríamos nossa jornada final até Machu Picchu. Decidimos então comer um jantar norueguês. Havia algo naquela comida que nos fez ver a Aurora Borealis e, encantados, acabamos ficando acordados mais do que deveríamos. Mesmo sem ter dormido quase nada, levantamos dispostos. Era o dia mais importante de toda a viagem. Pegamos uma van com trabalhadores locais que nos levou até a cidade de Ollataytambo. Assim que saímos de Cusco, não demorou muito para que, no horizonte, o Vale Sagrado começasse a se pronunciar. Quando chegamos em Ollataytambo, era claro que estávamos em um lugar especial. Enquanto esperávamos para pegar o trem que nos levaria até Aguas Calientes, fomos dar uma volta pelo vilarejo. Inúmeras ruínas, simbolo do poder do imperador Pachacuti, tomavam as montanhas que circundavam a cidade. Era apenas uma demonstração do que estava por vir. Assim que o trem saiu da estação, e seus trilhos se alinharam com o Rio Urubamba, era evidente o porque de os Incas terem atribuído à gênese daquele vale forças superiores. Paredões imensos, tomados por uma densa vegetação, projetavam-se sobre o rio formando o Vale Sagrado. Circundando o vale, outras montanhas ainda mais altas com seus cumes repletos de neve finalizavam a paisagem. Era realmente divino. Uma hora depois, estávamos em Aguas Calientes e logo começamos nossa caminhada até Machu Picchu. Muitos passos depois, chegamos na base da montanha Machu Picchu e a escadaria Inca, que leva até a ciudadela, apareceu no meio da mata espessa. Enquanto subíamos os primeiros degraus, os efeitos da altitude imediatamente se intensificaram. 40 minutos depois, não havíamos subido um terço da montanha, mas estávamos exaustos. Meu coração, batendo forte, esforçava-se para levar para minhas pernas uma quantidade de oxigênio inexistente no ar que eu respirava. Porém, os Deuses Incas, vendo nosso sofrimento, resolveram nos ajudar. No horizonte, em uma estrada de terra paralela à trilha, surgiu a nossa salvação: um ônibus. Ricardo Herbstrith foi castigado pelos Deuses e não pode pegar o ônibus, tendo que ir a pé até o cume da montanha. Logo avistamos a entrada de Machu Picchu. Começamos a caminhar por um estreito caminho sobre um dos terraços e logo uma visão geral da cidade brilhou em nossos olhas. Finalmente havíamos chegado. Eu fiquei lá, em silencio, admirando aquela primeira vista da ciudadela. Intocada pelos conquistadores espanhóis, Machu Picchu só foi revelada ao mundo em 1911. Até hoje, não se sabe exatamente a razão pela qual a cidade foi construída. Porém, por ser localizada no meio de uma paisagem sagrada para os Incas e pela quantidade de estruturas com cunho religioso, é evidente que a cidade era extremamente especial para aquela civilização. No nosso caminho até chegarmos à Cusco e consequentemente à Machu Picchu, percebi que a memória Inca ainda está viva no imaginário da população. Pichações de cunho politico, posters em borracharias, nomes de bancos e hotéis. Havia menções aos Incas por toda a parte, como se aquele povo já extinto fosse representativo do poder e da união do povo da América do Sul. Machu Picchu, sendo o maior ícone daquela civilização genuinamente sul-americana, ainda emana toda essa energia. Enquanto caminhava pelos becos estreitos da ciudadela, eu podia ouvi-lo pulsando. Eu estava no coração da América do Sul. No fim da tarde, o sol começou a se por e os guardas começaram a indicar a saída para os turistas. Eu segui a direção contraria. Passei pelo Palácio Real, pelo templo das três janelas e subi a escadaria que levava até a Intihuatana. Sentei-me sobre a pedra e fiquei ali observando a cidade já deserta, tomada por um silêncio que enfatizava a pulsação daquele coração ao qual o meu se sincronizou. Saudades de um tempo que não vivi. Aqueles 20 minutos que fiquei ali pareceram horas. Senti como se tivesse morrido e ido para o paraíso. Depois de algum tempo, um guarda me encontrou. Respeitando meu momento, demorou para me abordar e pedir gentilmente para que eu me retirasse o quanto antes. Fiquei ali mais uns minutos e parti. No caminho de volta, os Deuses não mandaram ônibus e tivemos que descer a pé. Quando chegamos aos pés da montanha, já estava escuro. Pegamos o trem e voltamos para Cusco. Chegando no hostel, tentamos comer um jantar norueguês novamente porém, a cozinha já estava fechada. Exaustos, fomos dormir. No dia seguinte, começaríamos nossa jornada em direção ao Salar de Uyuni.

935936_612389388783470_1069716457_n.jpg

 

Road Trippin' América do Sul - Dia #15/#16 - "La Paz em Guerra"

Depois de um intenso dia em Machu Picchu, estávamos exaustos e, diferentemente das outras noites em Cuzco, decidimos dormir. Porém, havia um problema. Quando chegamos de Ollataytambo, o hostel nos informou que não havia camas disponíveis. Informamos à administração que iriamos assistir um filme no cinema do hostel enquanto decidíamos o que fazer. Ocasionalmente, acabamos caindo no sono por ali. Na manhã seguinte, era hora de dividir o grupo novamente para começar o caminho de volta para casa. Os guris iriam até Potosí para pegar a Rural, as gurias pegariam o ônibus da manhã em direção a La Paz e eu resolvi ficar mais um dia em Cuzco e embarcar no ônibus da noite em direção à Bolívia. O ponto de encontro era a cidade de Uyuni. No fim da tarde, enquanto eu tomava meu chá de coca tranquilamente em Cuzco, o Sandero, depois de ter cruzado a fronteira Bolívia/Peru, chegava em La Paz. Estranhamente, mesmo sendo fim de tarde, a rodovia estava praticamente deserta. Foi então que no horizonte surgiu a explicação. Uma barreira de pedras bloqueava o sentido oposto da via. O Sandero, que estava a 100km/h, foi manobrado bruscamente para escapar do obstaculo. Seguindo em frente mais alguns metros e um mar de pedras colocadas sobre a via surgiu. Guiando pelo acostamento em zigue zague, o Sandero conseguiu escapar de algumas pedras, mas o número delas só aumentava. Surgiram então dezenas de pessoas que faziam no meio da rodovia uma enorme barreira colocando fogo em pneus e atirando pedras nos carros que passavam para protestar por algo que até agora não sabemos o que era. Os guris desviaram do protesto entrando em uma vila. Avistaram então uma retroescavadeira trabalhando em um dos becos e, como todos sabemos, sempre que você estiver perdido, procure um operador de retroescavadeira. Os guris pararam ao lado da máquina e pediram ao senhor como desviar dos protestos ao que o senhor respondeu: ¡Síganme los buenos! Seguindo a retroescavadeira, o Sandero cruzou um campo de futebol, um lixão, um ferro-velho, quebrou o para-choque, quase atropelou meia duzia de cachorros eeeeee sóóóó. Quando Bino começava a desconfiar que eles estavam em uma cilada, avistaram finalmente a rodovia e puderam seguir viagem para Potosí. Nesta hora, eu já estava dentro do meu ônibus a caminho de La Paz. No dia seguinte, quando o ônibus chegou em Copacabana, o motorista anunciou que teríamos que parar 1h em Copacabana e depois teríamos que cruzar o Lago Titicaca de barco e pegar o ônibus novamente do lado Boliviano. Claro que eu não curti nem um pouco essa mudança de percurso..kkk. A essa hora, o Sandero já havia chegado a Potosí para resgatar a Rural e, após alguns dias no mecânico, a Formosa estava pronta para seguir viagem até Uyuni. O sol se punha quando cheguei ao centro de La Paz e segui para o terminal para pegar outra linha em direção à Uyuni. Seria minha segunda em um ônibus.

577303_615137745175301_180569608_n.jpg

 

Road Trippin' América do Sul - Dia #17

Depois de cruzar a Bolívia em uma noite extremamente fria, o ônibus que eu havia pego em La Paz na noite anterior chegava à cidade de Uyuni as 8 da manhã. Como combinado, os guris já estavam lá e logo partimos para o Salar de Uyuni. Anteriormente na viagem, tentando chegar ao Salar, os carros atolaram e tivemos que passar a noite no deserto. Depois, saindo de Potosí em direção à Uyuni, quase despencamos cordilheira abaixo após o freio da Rural falhar. Porém, agora a Rural parecia estar tinindo e nada nos impediria de chegar até lá. Entretanto, quando começávamos a avistar o Salar, um barulho familiar soou dentro da Rural. Novamente o rack havia caído. Algumas gambiarras depois e seguimos em direção ao sal. Finalmente conseguimos! Eu demorei algum tempo para racionalizar aquela imensidão branca. Parecia que estávamos em outro planeta. Era surreal. Foi então que um forte rugido ecoou no deserto e surgiu no horizonte o Gigante Azedo que havia raptado nosso Buda Sagrado. Era hora de Os Cuzco Rangers entrarem em ação. Após alguns momentos de diversão, alegria e ousadia, entramos no carro e partimos em direção ao Brasil. Dirigimos o dia todo passando por Potosí e Tupiza novamente. Quando chegamos à Villazón, na fronteira Bolívia/Argentina, o escritório de migração estava fechado e tivemos que dormir dentro dos carros em uma das cidades mais perigosas do país. Para quem havia dormido no deserto, isso era um luxo.

1148797_616200578402351_1307547898_n.jpg

 

Road Trippin' América do Sul - Dia #18/#19 - "Octavio, o Sétimo Passageiro: De Volta Pra Casa"

Acordamos assim que o escritório de migrações boliviano abriu em Villazón para que pudéssemos dar saída do país e dar entrada na Argentina para continuarmos nosso caminho de volta pra casa. Na saída da Bolívia, tivemos que pagar ao policial uma "ajuda para a comunidade" de alguns bolivianos. A configuração dos carros havia mudado depois que o rack da Rural estragou novamente em Uyuni e decidimos deixa-lo por lá. Agora, na Rural com o banco de traz baixado para que mais malas coubessem, iam dois e no Sandero, iam quatro. Seguíamos então pelo norte da Argentina rumo à Jujuy quando a Rural adoeceu novamente. O pedal do acelerador, ao ser acionado, não retornava à sua posição original. Este problema foi contornando provisoriamente usando a embreagem e, as vezes, a mão do co-piloto que trazia de volta o acelerador. Viajamos o dia todo por uma reta infindável até que às 10h da noite, 900km depois de Villazón, chegamos à Pampa Del Infierno e decidimos descansar por lá. No dia seguinte, levantamos cedo e seguimos rumo à Resistencia. No caminho, paramos em mais uma oficina para arrumar o pedal do acelerador. O conserto foi rápido e o mecânico não quis nos cobrar. Durante toda a viagem, havíamos sido ajudados por diversas pessoas. Em Leon, quando o rolamento estourou, um senhor local passou horas tentando nos ajudar. Em Potosí, deixamos a Rural na oficina do Raul cheia de coisas dentro: violão, cobertores, roupas, ferramentas, uma galinha de borracha e até dinheiro. Quando voltamos uma semana depois para pega-la, tudo estava lá como havíamos deixado. Quando empacamos no deserto, um casal de franceses fez tudo que estava ao alcance deles para nos ajudar, inclusive nos ofereceu dinheiro. Em Atocha, Borges e Gordito já estavam dormindo quando acordaram e foram atrás de alguns conhecidos na cidade para que estes nos vendessem gasolina e diesel. Em Cuzco, quando voltamos de Machu Picchu e já não havia mais vagas no hostel, foram os barman que sugeriram que ficássemos na sala de cinema. Em La Paz, quando os guris no Sandero se depararam com violentos protestos e tiveram que entrar em uma vila, foi um senhor em uma retroescavadeira que os guiou para um caminho seguro. Enfim, nossos amigos sul-americanos haviam sido muito solícitos conosco e era hora de retornar o favor. Alguns quilômetros após Resistência, fomos parados pela policia argentina. Não era preciso procurar muito para achar problemas na Rural e o policial argentino, percebendo o estado do carro, chamou Ricardo Herbstrith para uma conversa particular e deu a ele duas opções:

1- receber uma multa no valor de 734,56 pesos

ou

2 - "Tu ta vendo aquele guri cego ali? Tu leva ele até Uruguayana e eu te livro da multa e de ser parado por outros policiais argentinos."

E assim a viagem tinha agora 7 integrantes. Octavio, um guri de 20 anos originário de Córdoba, embarcou na Rural já lotada e nos contou em bom português que coincidentemente também estava indo para Porto Alegre visitar uma amiga e que o plano era fazer o caminho de carona. Nós achávamos que eramos loucos de tentar fazer 10.000km em uma Rural 76, mas o ceguinho era muito mais. Como ele mesmo falava, "o bagulho era doido". Após 300km, às 18h, finalmente pisamos em solo brasileiro novamente. Foi por insistência do bom coração de Giovandro, que encontrou lugar no Sandero onde não havia, que Octávio continuou viagem conosco depois de Uruguaiana. Depois de dias comendo todo o tipo de comida estranha, a primeira coisa que fizemos ao chegar na nossa pátria amada foi parar no primeiro posto de beira de estrada e comer um X com ketchup, maionese, mostarda eeeeeeee sóóóó. Cruzamos o Rio Grande e à 1:00 da manhã avistamos Porto Alegre. Depois de tudo que passamos, chegávamos em casa vivos e sem nenhum membro do corpo faltando. Praticamente um milagre. Valeu Gauchito Gio!!! Se me perguntassem se eu faria a viagem mesmo sabendo de tudo que estaria por vir, a resposta seria: óbvio! Todas as dificuldades que passamos nos levaram para lugares e situações inimagináveis como Atocha, Potosí e a noite no deserto. As adversidades nos aproximaram das pessoas e dos lugares por onde passamos e os quatro dias que ficamos em Cuzco valeram o dobro dos problemas que tivemos para chegar até lá. Foi tudo exatamente como eu esperava: uma aventura. O único ponto negativo é que já começamos a sentir os efeitos colaterais. O vício pelo horizonte tomou conta de nós e logo teremos que partir novamente. Para onde vamos? Não sei. Só sei que vamos.

1233564_618313734857702_436825467_n.jpg

 

Mais fotos da viagem a quem se interessar nos facebooks dos que viajaram..

Integrantes:

Ricardo Herbstrith (http://www.facebook.com/herbstrith)

Guilherme Azevedo (http://www.facebook.com/guilherme.la)

Renan Schenatto (http://www.facebook.com/renan.schenatto)

Gio Manfroi (http://www.facebook.com/gio.manfroi)

  • Membros
Postado

Cara que louco, fiz uma viajem assim com muita aventura acompanhada de problemas e tudo, me identifiquei muito com voces, logo logo terminarei meu relato pra colocar aqui no mochileiros, abraço e parabéns

  • Colaboradores
Postado

Ricardo... Que aventura fantástica cara, com certeza independente dos contratempos acho que a lembrança de tudo que se passa na estrada é a melhor recompensa! Já fiz algumas viagens de carro e outras de caminhão pegando carona, agora... de Rural?!?! Mais aventura ainda!!!

E por favor... Arrumem essa Rural e partam para a próxima com ela!

  • Membros
Postado

Obrigado pelos comentários! Nós queríamos ter algo melhor pra mostrar mas filmamos pouco!

Ano que vem arriscaremos de novo a Rural nas estradas.. porém mais ao sul, para o Ushuaia.

 

Viajar de carro é sensacional mesmo!

um abraço a todos

  • Membros
Postado

Juro que li Rural e sandero só o inicio tinha me feito levar mais fé na ruralzona! Hahaha. Que viagem massa cara, acho que pegar o carro e sair deve ser uma das melhores sensações, o carro acaba se tornando uma casa. Até para delegacia os caras foram.

Muito bom o relato e o video também a edição ficou bem boa! Parabéns a todos envolvidos na viagem!

  • Membros
Postado
Juro que li Rural e sandero só o inicio tinha me feito levar mais fé na ruralzona! Hahaha. Que viagem massa cara, acho que pegar o carro e sair deve ser uma das melhores sensações, o carro acaba se tornando uma casa. Até para delegacia os caras foram.

Muito bom o relato e o video também a edição ficou bem boa! Parabéns a todos envolvidos na viagem!

 

Valeu gustavo, eu levava fé na rural... mas ela não venceu 100% do percurso hahahaha Pelo menos voltamos com ela!

abraçoo

  • 5 meses depois...
  • Colaboradores
Postado

O mais engraçado foi agora em novembro de 2013, passando por águas calientes no Peru, estar contando essa história para minha namorada no hall do hostel e um brasileiro que tinha ouvido a história, dizer que não só conhecia a história da Rural, como era irmão do dono do Sandero! Rsrsrsrs...

Não lembro o nome dele agora, mas foi uma coincidência absurda encontrar alguém relacionado a esse história, 2 meses depois de eu ter lido e justo no dia que eu estive em MP, ponto principal dessa loucura que foi a trip de vcs!!!

 

Grande Abraço

Participe da conversa

Você pode postar agora e se cadastrar mais tarde. Se você tem uma conta, faça o login para postar com sua conta.

Visitante
Responder

×   Você colou conteúdo com formatação.   Remover formatação

  Apenas 75 emojis são permitidos.

×   Seu link foi automaticamente incorporado.   Mostrar como link

×   Seu conteúdo anterior foi restaurado.   Limpar o editor

×   Não é possível colar imagens diretamente. Carregar ou inserir imagens do URL.

×
×
  • Criar Novo...