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Pessoal, vou postar diariamente o relato da minha viagem que começou dia 25/12/2008 e terminou dia 26/02/2009. O roteiro:

 

Brasil: São Paulo

Argentina: Buenos Aires, Córdoba, Mendoza

Chile: Santiago, Valparaíso, San Pedro de Atacama, Arica.

Peru: Arequipa, Cusco, Águas Calientes, Puno

Bolívia: Uyuni, Copacabana, Isla del Sol, Oruro, La Paz.

 

Mapa da rota prevista inicialmente:

rota%20mochilao%20tiago.jpg

 

Gasto total: R$5.000,00

Iincluindo todas as passagens desde Belo Horizonte. Poderia ter saído pelo menos R$1.000,00 mais barata, mas meu cansaço no final me fez pegar um avião de La Paz a BH, que custou U$600,00. Lembrando que o dólar nesta época estava a R$2,40. Hoje eu acho que essa viagem sairia por R$3.000,00.

 

O relato é mais pessoal do que técnico, então informações de preços e outros detalhes podem estar faltando. Qualquer dúvida, perguntem: tá tudo muito bem guardado na minha memória =)

 

Já está tudo aí. Cada trecho da viagem em um post. Espero que curtam!

 

Abração a todos,

 

Tiago

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29 de Dezembro de 2008

 

São Paulo

 

Tudo comecou (sim, acostumem-se à ausencia da cedilha e do circunflexo, já que estas cosas no existen por estas bandas de acá) quando ele teve uma crise, largou tudo, deu uma de Che Guevara de quinta categoria e veio parar en otros paises. Agora, ele dá as notícias por completo.

 

Bueno, até o momento tudo correu normalmente. O planejado era passar uma noite em Sao Paulo para tornar a viagem até Buenos Aires mais agradável e menos intensa. O que eu nao esperava era que Sao Paulo fosse o primeiro marco da viagem.

 

O fato e que Sao Paulo (o San Pablo, como es llamada en Argentina) é uma cidade que mexe com todos os meus sentidos. A palavra urbano por lá tem um peso muito maior do que em qualquer outro lugar por onde eu já tenha passado. Gente indo para todos os lados com pressa, muita pressa, em um lugar que oferece tudo de uma vez. Ou melhor, em um lugar que te esfrega na cara todas as coisas que chamamos de Brasil (e que - importante - nao sao uma só).

 

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Na Avenida Paulista.

 

E foi por isso que Sao Paulo nao se deixou ser apenas uma cidade-dormitório para o começo da minha viagem. Que ingenuidade a minha... Aquele lugar pega a gente pelo laço (¡achei um Ç perdido aqui!). Entre o programa cultural (Museu da Língua Portuguesa que, claro, me emocionou), o momento-natureza (Instituto Butantan - ou "se veja rodeado de serpentes por todos os lados"), os passeios de metrô e os almoços no Bexiga e Liberdade, percebi que o paulistano tem uma carência que me atrai - aquela que nao o faz retribuir um olhar no metro ou substituir a frieza de um terminal rodoviario por uma conversa de 5 minutos. E percebi também que os paulistanos avançam 15 sinais por minutos e dirigem como kamikazes (essa parte foi brincadeira, Ju!). Enfim, nao interessa. Sao Paulo é um lugar incrível. Ponto final. Gabi, obrigado pela hospedagem e companhia de irma. Amanda, foi ótimo te conhecer! Já baixou todas as minhas informaçoes no orkut? Hahaha!

 

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No Instituto Butantan. Percebam as minhas amiguinhas logo atrás de mim.

 

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Amanda, Gabi, eu e a Ju, que tem o chuveiro mais gostoso do continente. A foto è num bar na Mooca, momentos antes de eu embarcar para Buenos Aires.

 

Após passar algumas horas na companhia da Juliana, que me salvou com um banho quentinho, uma hospitalidade mais que mineira e com uma companhia ótima na rodoviária do Tiete, entrei no onibus. Dali para frente, achei que encararia a solidao (de certa forma desejada), e assim fiz, ate os vinte minutos de viagem. Depois disso, passei algumas horas conversando com duas sacoleiras que adoravam Fernando Pessoa.

 

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No ônibus mágico. Foto tirada pela Giselle.

 

No dia seguinte, vi que dizer "Viajar sozinho é bom mas demora mais" pode te render uma companhia incrível - uma porteña chamada Giselle que me surpreendeu com a gentileza durante toda a viagem. Também conheci uma brasileira chamada Gizelle (acho que o nome é popular por aqui), desta vez com z, que se casou com um porteño e vai a Buenos Aires de vez em quando desde entao. E lá estava eu, na sozinho, em Misiones, território argentino, num calor de 45 graus, jantando em uma mesa com 3 argentinos que insistiam em falar português comigo. Todos pessoas fantásticas. Fazia tempo que eu nao me sentia tao bem acolhido. Gizelle e Juan, vocês sao umas figuras! Espero um dia revê-los em um outro Crucero del Norte! Giselle, sin palabras. Você foi uma companheira de viagem incrível.

 

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Foto que tiramos na parada do ônibus mágico em algum lugar da província de Misiones, já em território argentino. Da esquerda para a direita: Juan, Gizelle, Giselle, eu e uma outra brasileira que entrou na foto de supetón. O calor era forte - mas nada que um pouco de Quilmes nao resolvesse.

 

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Giselle, a melhor companheira de viagem da América do Sul.

 

O onibus mágico nao teve nada de mais, a nao ser pelos tres andinistas que iam escalar o Aconcágua, pelos dois brasileiros que futuramente viriam a me salvar em Buenos Aires, pelo belorizontino que vinha à Capital Federal para montar um carro que o levaria por toda a Patagonia e pelo por-do-sol mais lindo que ja vi em toda a minha vida. Pois é, ainda bem que eu nao vim de aviao.

 

E entao eu cheguei em Buenos Aires. Mas isso fica pro episódio 2.

 

Um beijo enorme a todos e ¡FELIZ AÑO!

 

Tiago.

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4 de Janeiro de 2009

 

BUENOS AIRES

 

Desci do omnibus. Dei um abraço bem apertado em todo o pessoal que havia conhecido, e fui embora. Fui para o andar de cima para ver a minha passagem para Córdoba, mas preferi esperar. E entao Buenos Aires me recebeu: com um tombo.

 

A escada era mal enjambrada, eu estava carregado com a minha mochila, e caí. Fui perdendo o equilíbrio desde o primeiro degrau, descendo para o primeiro piso, até o chao. Para piorar o desastre, cai em cima de uma niña de 5 anos de idade. Depois do "Oh!" de metade da galera da rodoviaria, ela se virou para mim e perguntou "Chico, ¿estás herido?". E aí, com um sorriso, eu falei que nao. O tombo foi claro. Pela primeira vez, eu estava em um outro país. As pessoas nao falavam a minha lingua, e eu estava sozinho. Perdi o equilibrio e caí. Afinal, eu realmente estava muito longe do meio eixo.

 

Para ir até o hostel, peguei o metrô. Achei incrível o respeito do porteño pela sua memória, quando vi um metrô antiquérrimo (possivelmente o primeiro de Buenos Aires) sendo exposto na estaçao. Só que de repente ele andou - entendi o recado.

 

No hostel, conheci pessoas incríveis. Mais legal do que estar em um país estrangeiro é estar em um país estrangeiros com mais um bando de estrangeiros (e muitos brasileiros, que nao sao nada raros de se ver por aqui). Conheci o Cadu, o Edu e a Dani, de Sao Paulo, todos muito queridos. O Pedro carioca, o Pedro curitibano. Dei de cara com o Leandro, um paulistano que, pasmem, estava chegando em Buenos Aires depois de ter feito toda a minha rota - só que ao inverso. Além de compartilhar comigo todo o conceito sobre a viagem, me deu dicas incríveis e foi um mestre pra mim. Valeu, Leandro! Além disso, teve o Dennis, um sueco que odeia Abba e o Doron, um israelense que come porco.

 

Quanto a Buenos Aires... bueno, a cidade é incrível. Oferece de tudo um pouco e tem um quê europeu sim, mas o tempero sulamericano está presente em cada detalhe. O mais legal é sair do circuito turístico (que nao deixa de ser interessante) para comer empanadas numa rotisseria cheia de baratas, conversar sobre as autoridades argentinas numa delegacia (tive que ir para ajudar uma holandesa que havia sido roubada) ou aceitar um pouco de terere ou um trago de cerveza que um porteño te oferece na rua (aqui é costumeiro). Aí sim Buenos Aires te recebe de braços abertos. Se nao for assim, voce vai dar de cara com mais um tanto de brasileiros, vai perder a oportunidade de viver a cultura local, e ainda vai ficar pobre - os preços estao exorbitantemente caros nos lugares turisticos.

Mas é um lugar e tanto. E com um ar de decadencia (que te lembra que a cidade ja viveu dias melhores) que é absolutamente sedutor.

 

Próxima parada: Córdoba. Se a chegada em Buenos Aires foi conturbada, a saída tinha que ter um gran finale. Fiz a minha mochila, tomei a última Quilmes com o pessoal do albergue, dei um abraço apertado em todos e fui com o Pedro para a estação de metrô. Só faltava a música clássica tocando no fundo.

 

O que aconteceu é que, assim que o metrô chegou, lembrei que tinha deixado minha toalhinha de mochileiro no albergue (daquelas que secam bem rápido), e pensei, fudeu! O Pedro entrou no metrô rumo a Mar del Plata e a gente mal conseguiu se despedir. Voltei correndo pro albergue, peguei minha toalha (e todo mundo me recebeu às gargalhadas, obviamente), saí gritando "Táxi!" igual um louco e cheguei na rodoviária faltando 5 minutos pro meu onibus sair. E daí vem a surpresa: na minha passagem, meu onibus sairia entre as plataformas 9 e 39. Muito pratico.

 

O que eu fiz? Saí correndo feito louco atrás de um onibus da companhia Urquiza com destino a Córdoba. Não achei, o horário passou e pensei de novo, fudeu! Quando uma moça percebeu a minha desorientaçao, pegou a minha passagem e me disse: "hay que esperar para que tu colectivo se anuncie, y todavia no se ha anunciado". Ou seja, voce chega na rodoviária, fica ali esperando em algum lugar entre as plataformas 9 e 39, espera uma vozinha com um sotaque arretado porteño e bem abafada dizer o numero da sua plataforma. O único problema é que a mesma vozinha anuncia uns 5 onibus por minuto.

 

Depois de um tempo meditando, achei o meu onibus. Era da companhia "Sierras de Córdoba" e com destino a Cruz del Eje. Claro, por que que eu nao pensei nisso antes?

 

Como sempre, um presente final. Cheguei em Buenos Aires com o sol nascendo. Saí de lá com o sol se pondo. E ver um por do sol alaranjado sobre os prédios de BsAs às 22h é um privilégio.

 

Um abraço enorme!

 

Tiago

 

Fotos:

 

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Na Plaza de Mayo, dando uma conferida na Casa Rosada.

 

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No cemitério da Recoleta. Já entrou para a lista de lugares mais surreais da viagem.

 

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Com o pessoal do albergue em La Boca. Da direita para a esquerda: Leandro (SP), Cesar (Espanha), Edu, Cadu e Dani (SP), Pedro (RJ), Chris (Holanda), eu, Adam (Inglaterra) e Maradona (Argentina).

 

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Bebendo uma Quilmes, num dos muitos momentos que me fizeram sentir a atmosfera do lugar.

 

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Jantar: espaguetao rachado por mim e pelo Leandro. Que culnária Argentina que nada!

 

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Passeando na Recoleta, em frente à escola de Direito, com o Dennis (Suécia) e Pedrao (Rio).

 

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Com o Doron (Israel) e Pedro em Puerto Madero.

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8 de Janeiro de 2009

 

CÓRDOBA

 

Na segunda de manhã, cheguei a Córdoba. Foi uma chegada bem mais madura, com o coraçao bem mais tranquilo. O frio na barriga sempre vai acontecer, eu acho.

 

Cheguei no terminal, me despedi da dona Isabel, minha companheira de viagem que me ensinou um tanto sobre as dificuldades financeiras dos argentinos, peguei um mapa da cidade e fui para o albergue Tango. Na hora que cheguei lá, pensei, fudeu! Um quarto completamente bagunçado que eu dividiria com uma inglesa que tinha os pés mais sujos que eu já vi, e mais um outro inglês que dormia o sono de quem tivesse tomado um barril de vinho na noite anterior.

 

Essa inglesa acabou acordando, puxou assunto comigo e se apresentou. Se chama Madryn, é professora de literatura em Londres, socialista, e está fazendo uma viagem de 6 meses por estas bandas de cá. Ela já estava em Córdoba há mais tempo e falou que naquele dia iria a Alta Gracia, uma cidade a 40min daqui, para visitar a casa do Che (sim, o Guevara), que tinha virado museu. Estava só esperando um amigo acordar. Quando o amigo acordou, vi que era o Chris, um holandês que eu já tinha conhecido em Buenos Aires. Pensei "ah, posso passear por Córdoba outro dia" e fui com eles.

 

Dia INCRÍVEL. Alta Gracia lembra uma cidade interiorana de Minas Gerais (a região daqui é montanhesa) e a casa do Che é sensacional. Nada de alarde, muita informação. Fotos da vida dele toda, rotas das viagens (e ele era um mochileiro de primeira), e até uma versão reconstituída de la poderosa!

 

No dia seguinte, fizemos o passeio Altas Cumbres, pelo Parque Nacional Quebrada del Condorrito. Poderíamos ter comprado no hostel, mas fizemos por conta própria. A Madryn me ensinou a ser audacioso e dar a cara a tapa: faça tudo o que for possível por conta própria em vez de comprar passeios. É mais barato, voce se mete em mil enrascadas, não tem um guia chato te amolando e ainda volta para o albergue cheio de história para contar. Como eu pude contar que a gente foi para um lugar de 2.000m de altitude, no alto da montanha, cheio de neblina, com chuvas congelantes ocasionalmente, com trajes de verão no deserto. Quase congelei. Vimos um condor a 10m de distância (que bicho imponente), comemos pilhas de biscoitos cream crackers com tomate, ficamos com medo de pumas (sim, elas existem por aqui) e claro, nos perdemos.

 

No fim das contas, para chegar ao restaurante onde o onibus nos pegaria, tivemos que atolar as botas num brejo, passar por baixo de cercas, subir numa pedra enorme e eventualmente tomar uns tombos. O caminho mais difícil é sempre mais legal. E tudo isso por 60 pesos (o tour custava 180).

 

Ontem, fiz um passeio por Córdoba com o Martin, um alemão que fala espanhol melhor que os argentinos. Igreja, igreja, igreja, universidade, museu, museu, cripta jesuítica, piscina pública. Sim, piscina pública! Mas não a encontramos. Claro, nos perdemos.

 

Mas se perder aqui é divertidíssimo. Isso te obriga a pedir informações aos cordobeses e eles são as figuras mais amáveis do planeta. Voce consegue as informações que quer, fica conversando por mais de 20 minutos, fala de futebol, fal do Brasil, eles respondem com um "¡que lindo!", voce despede deles, e no fim das contas nao se lembra mais das coordenadas que eles te deram.

 

À noite, muita cerveja com o pessoal do hostel. A Madryn foi embora pra Buenos Aires, e essa foi a despedida mais difícil que eu tive. De inglesa porca de pé sujo ela foi promovida, em segundos, a uma das melhores companhias da viagem. A gente se despediu com os olhos cheios d'água e a voz engasgada, e ela falou "Eu quero te ver de novo, e um dia ainda te encontro no Brasil". Espero que sim. Depois, passei a noite conversando com o Tim, um americano radicalmente socialista com quem eu tinha tido uma puta discussão uma noite atrás. No fim das contas, a gente estava se abraçando e dando gargalhadas. Uma figuraça, ele. É uma merda ter que ir embora e ter que deixar as pessoas irem embora. Mas isso me ensina muito sobre relações: quem somos nós para interferir no caminho dos outros... o melhor é viver o possível e o impossível com a figura, e na hora que os caminhos não se cruzam mais, despedir-se com um sorriso enorme, agradecer por tudo e, bem, quem sabe em outra vida a gente se encontra...

 

Córdoba me encantou. E me ensinou muita coisa.

 

Hoje à noite embarco pra Mendoza. Beijo enorme a todos. Seguem as fotos:

 

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Madryn (Inglaterra), Chris (Holanda) e eu na caminhada de 20km da Quebrada del Condorrito.

 

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A paisagem embasbacante do parque que, com sol, lembrava Minas...

 

Cordoba%20012.jpg

...e com neblina lembrava a Escócia.

 

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Os passarinhos que ficavam atrás da gente quando tentávamos ver os condores. Eles quase falaram "It´s not all about condors, you know?"

 

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Eu numa rua do centro...

 

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A modesta arquitetura cordobesa.

 

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Madryn e eu na hora do adeus.

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oie!! to adorando seu relato, espero que vc coloque mais e mais historias por aqui...

quem sabe assim eu ate me encorajo a fazer o mesmo...rs!!!

quanto vc pagou para ir de sao paulo ate buenos aires de onibus?

 

abraços e espero mais aventuras!!! :D

 

barbara pacheco

 

Bárbara, o ônibus da companhia Cruzeiro del Sur custou 210 reais. É um ônibus leito excelente, e a comida/bebida depois que se entra em território argentino é por conta. São 35 horas de viagem.

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12 de Janeiro de 2009

 

MENDOZA (Argentina)

 

Nao comecei com o pé direito aqui. Peguei um onibus da companhia Cata de Córdoba para cá, e descobri que o nome da companhia é esse porque ela CATA gente em toda cidade por onde passa. Parou umas 22 vezes, mais ou menos, e lá pela 23a., todo mundo desceu, e eu também. Peguei a minha mochila, recusei a propina do cara que simplesmente tirou a minha mochila do onibus e colocou no chao. O onibus arrancou e, de repente, vi a placa "Bienvenidos a San Juan", e pela vigésima vez na viagem, pensei, fodeu! Corri atrás do onibus acenando e gritando "Vuelve!", ele parou, entrei de novo e segui viagem, até chegar em Mendoza.

 

Achei um albergue razoável (dormitório, piscina e vinho ruim de graça por Ar$40), resolvi ficar por aqui. A questao é que o albergue estava muito vazio e, pela primeira vez nesta viagem, me senti muito sozinho. Paciência. Fui caminhar pelo centro da cidade.

 

Entao, Mendoza é outro lugar incrível. Localizada na regiao do Cuyo argentino, a cidade está no meio de um deserto. Vamos lembrar que aqui a gente dá de cara com os Andes para todo lado, e que eles sao um paredao que nao deixa massa de ar úmido nenhuma passar. Logo, atrás deles (ou seja, aqui), deserto. Para piorar a situaçao, a cidade foi devastada por um terremoto no século XIX e nao sobrou absolutamente nada.

 

Aí é que vem a parte interessante. Na reconstruçao, bolaram um invejavel sistema de irrigaçao. Entre a rua e a calçada (por toda a cidade) passa um mini canal, e esses mini canais se encontram e formam canais grandoes. A cidade é toda arborizada, quadradinha, e, para evitar as consequencias dramáticas de outros terremotos, as ruas sao super largas, e de 5 em 5 quarteiroes, no microcentro, há uma praça linda. Ah, e com a evaporaçao da água, chove. Ou seja, de deserto aqui, só o calor.

 

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Fonte na Plaza de la Independencia.

 

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Noite chuvosa em pleno deserto. Eram 22h.

 

No segundo dia, chegou mais um bando de gent epor aqui, inclusive um brasileiro chamado Uirá que chegou em Mendoza com 70 centavos de peso (mais ou menos 40 de real), já que nao coonseguia sacar dinheiro no seu cartao. Tentamos resolver o problema dele e, depois, fomos ao Parque San Martin subir um morro chamado Cerro de la Gloria, de onde podíamos ver o pôr-do-sol nos Andes. Quanto aos Andes... bom, nao dá pra descrever. Venham para cá e vejam.

 

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Aí, no dia seguinte, como eu estava um pouco entediado, resolvi dar uma agitada na rotina. Já que a neve dos Andes derrete no verao, os rios ficam caudalosos e violentos (especialmente o rio Mendoza). O que é ideal para um pouquinho de rafting.

 

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Eu e Uirá na preparação para o rafting.

 

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Levando os barcos para o rio...

 

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Depois, no ponto de chegada.

 

Obviamente, nao tiramos fotos do evento em si, mas foi sensacional. Nada de extrema dificuldade, alguns banhos de água gelada e um tanto de adrenalina (principalmente quando você se vê caindo do barco). Um dos momentos mais legais da viagem, com certeza.

 

À noite, como eu tinha economizado bastante por aqui, momento splurge com o Uirá, a Geíse e a Marina (duas cariocas que estavam voltando do Atacama) e o Chad, um americano de Seattle que adora Pearl Jam. Vinho e pasta num restaurante italiano.

 

E, depois de vários litros de vinho Malbec de Mendoza, me despeço desse país fabuloso (e nem um pouco pior que o Brasil, viu, patriotas bairristas?) Don't cry for me, Argentina! Eu voltarei.

 

Daui a uma hora, entro no ônibus para Santiago.

Beijo!

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Postado

17 de Janeiro de 2009

 

SANTIAGO E VALPARAÍSO (CHILE)

 

A travessia de ônibus de Mendoza para Santiago foi, com certeza, a viagem mais linda de ônibus que eu fiz até hoje. O ônibus deixa a Argentina por uma estrada tortuosa que atravessa a Cordilheira dos Andes. A estrada começa em um deserto, a subida se inicia, os Andes que antes eram pano de fundo viram protagonistas, e de repente você se encontra no meio dos picos nevados. A neve, no verao, derrete e forma lindas cachoeiras e rios de montanha. E nao é nem um pouco difícil avistar condores voando sobre as montanhas ou dando um rasante nas estradas. Embasbacante.

 

A fronteira (Los Libertadores) fica a mais de 3.000m de altitude. E como é frio, mesmo com um sol de lascar... O único porém foi cruzar a fronteira em si. No Chile, qualquer alimento ou produto de origem vegetal ou animal é proibido. Então, a fiscalização é intensa: cães farejadores, policiais revistando toda a sua bagagem e mil dificuldades que criam uma fila enorme na fronteira e transformam uma viagem de 4 horas em uma de 7.

 

Chega de falar. Lá vao as fotos:

 

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Depois de um banho de Cordilheira (e de Aduana) cheguei a Santiago. A cidade pode ser reconhecida de longe pela densa nuvem de smog (poluicao misturada a neblina) que paira sobre ela. O que de fato e uma pena, porque a cidade e abracada pela Cordilheira dos Andes. Contudo, mal se pode ve-la: a poluicao so permite que reconhecamos sua silhueta.

 

A chegada em Santiago foi um pouco complicada. O hostel que eu achei que tinha reservado me colocou na lista de espera. 7 horas da noite (ou da tarde, como dizem por aqui) e eu rodando o Barrio Brasil, o reduto boemio de Santiago, com a mochila nas costas e batendo de porta em porta para achar abrigo. Achei, no fim das contas, mas nao foi dos melhores: um hostel da HI que era meio esteril, digamos assim.

 

No dia seguinte, fui passear pelo centro de Santiago. A cidade e bem urbanoide mesmo, meio Sao Paulo (talvez mais limpa, organizada e um pouco menor). Ela e cheia de cerros, que sao uns morros transformados em parques, pracas, diferente de tudo o que eu ja tinha visto antes. E por ser uma cidade antiga, mescla o classico ao mais moderno de forma positiva. Fora a poluicao, que realmente incomoda.

 

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A Casa de La Moneda, casa da Sra. Bachelet (nao muito bem quista pela maior parte dos chilenos, que a consideram "leviana", ou seja leve e liberal demais).

 

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No alto do Cerro Santa Lucia, com vista para a polui..., digo, a cidade toda.

 

Como era terca, nao via muitos outros atrativos na cidade, nao tinha gostado do hostel onde estava, resolvi partir pra Valparaíso. Aí a surpresa foi extremamente grata.

 

Em Valpo (como a cidade e chamada pelos chilenos), me bateu um frio na barriga quando reconheci o azul do Pacífico: "Puta merda, cheguei ao outro lado do continente! Sozinho! Consegui!". E isso no meio de uma cidade portuaria antiga, charmosa, boemia, toda cheia de montanhas e constantemente sobrevoada por andorinhas. Parece uma favela de 1920 a beira-mar. Linda, linda. Passei o dia todo perambulando pelas suas ruas e becos sozinho. Uma sensacao muito boa e muito ruim ao mesmo tempo, ja que eu estava bem a flor da pele e nao tinha outra pessoa pra comparilhar. Nem podia escrever no meu diario, porque nao tinha caneta e as papelarias estavam fechadas. Aquelas coisas que aparecem na nossa vida para que a gente lide com elas.

 

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Valparaiso. Uma das teteias da minha viagem.

 

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O porto, o Pacífico!

 

Puxei papo com um chileno na Lan House e descobri que havia uma boate legal para sair la. Bacana, pensei. E uma chance de conhecer gente daqui, colocar essa energia para fora e ainda sair, pela primeira vez no mochilao.

 

Entao, comprei comida para cozinhar, uma garrafa de Concha y Toro e fui para o alojamiento. Era basicamente um pensionato muito bacana, perto do terminal da rodoviaria, com jeitinho de casa familiar. Pela primeira vez em 21 dias de viagem, quarto so para mim. E cama de casal! Fui cozinhar e, na cozinha, estava a Carmen, uma Santiaguina simpatisíssima (e hilária), que acabou cozinhando para mim, por que "a los hombres, se quieren hierver el agua, lo queiman todo!". Devolvi o favor partilhando do vinho e, duas horas depois, estávamos borrachos, falando de Pinochet y etc. Claro que eu nem vi cheiro de boate, e tive uma noite muito melhor do que esperava.

 

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Carmen e Luis, dois chilenos extremamente queridos, lá no alojamiento.

 

No dia seguinte, resolvi dar uma segunda chance a Santiago. E valeu a pena. De volta aqui, achei um albergue mais legal, passeei por Bellas Artes, um bairro central mais nobre da cidade, e conheci um pessoal muito bacana no hostel. Dessa vez, queria sair para dancar. Depois de mais Concha y Toro, falei que ia tomar banho para me arrumar e acordei na minha cama no dia seguinte.

 

E ontem, depois de tanto Concha y Toro, foi o dia de conhecer a vinicola Concha y Toro de fato. Uma palavra em ingles: touristy. Fiz o tour pelo lugar acompanhado de um bando de brasileiros que me deram vergonha alheia. Devem ter comprado um pacote vagabundo da CVC e ficaram rodando a vinicula inteira com seus bones de excursao, o guia chato e a camera sempre na mao. Incrivel como eles olham com a camera antes de olhar com os olhos. E nao vivem de fato o lugar onde estao. Em vez de degustar o vinho, ficaram entornando tudo e pedindo mais. Que vergonha, mesmo. Mas pelo menos foi legal, deu pra conhecer a origem do Casillero del Diablo. E eu estava com uma turma bacana, o Mike, um californiano, e o Fernando e o Rafael, dois paulistanos muito bacanas. Na volta, pegamos um onibus e ficamos conversando com uma senhora chilena que queria aprender a sambar ali mesmo. Essa parte o pessoal da CVC sempre perde... A noite, depois de mais uma garrafa de Concha y Toro, me arrumei para sair. Dei uma encostadinha na minha cama e acordei hoje. Merda, acho que boate, so em BH mesmo.

 

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Na vinicola.

 

Algumas curiosidades sobre Santiago: aqui e proibido beber na rua. Um golinho sequer, e la vem o Carabinero de Chile pra cima de voce. Os bares e boates sao obrigados a fechar as 4 da manha. O sistema de metro e invejavel: limpo, moderno e cobre a cidade inteira (chegando a ir alem dela). Outra coisa: voce pisa na faixa de pedestre, indica com a mao para onde vai e os carros param. E a comida e ESTRANHA. Nas esquinas, vende-se mote helado, uma bebida de acucar em calda, trigo (em pedacos) e pessego. Tudo a ver. E querem ver mais o que que se vende por aqui? Humita. Quem pensava que pamonha era privilegio de mineiro e goiano, dancou.

 

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Olha a Humita ai...

 

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Mote Helado, ou a bebida mais estranha e indigesta que ja tomei.

 

Daqui a uma hora embarcando para o Deserto de Atacama!

 

Beijos a todos!

 

Tiago

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