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Desculpe os erros, fui escrevendo mas não revisei!

 

Assim como qualquer história, a minha começou muito antes de realmente acontecer!

 

Foi em uma troca de ideias em um hostel de Valparaíso que deu inicio a esta jornada. Em uma tarde de dia quente, onde se reúnem dois viajantes, sempre existem histórias para serem contadas. Em umas dessas histórias, Stefano me falou sobre uma de suas aventuras na grande Ilha de Chiloe, mais especificamente no vilarejo de Cucao. Dizia o quanto era imperdível, que se eu fosse ao sul, não poderia deixar de conhecer “Pirulil”. Meu interesse era pouco, pois apesar de desejar, não tinha planos de seguir ao sul naquela tempo.

 

A conversa foi se estendendo durante alguns minutos e Stefano não parava de comentar sobre a ponte que ia pra lugar nenhum. Ele estava enganado a respeito disso, mas explico melhor mais para frente. Falava da dificuldade de chegar ao local. Me fez escrever algumas dicas de como chegar, mas como meu interesse era pequeno, fiz só para não depressar suas dicas que eram muito especificas, apesar de eu só ter anotado o básico. Minhas anotações foram:

 

-Chiloe

-Castro

-Onibus para Cucao

-Caminhar ao Sul

-Forquilha a Direita

-2ª Praia

-Pirulil

-Ponte de Madeira

-Placa Branca

 

Nove itens eram meu mapa quando cheguei a Castro. Depois de ouvir tanto falar de como era bonito, já que estava próximo do local, por que não visitar? Olhei no mapa, Cucao ficava do outro lado da ilha, a beira do pacifico cercado por uma floresta densa. Passei uma noite em castro e no dia seguinte, no incio da tarde, comprei suprimentos para três dias e peguei um ônibus para Cucao.

 

As coisas em Cucao não começaram bem. O ônibus havia me largado vinte minutos a frente do ponto onde eu deveria parar. Caminhei no sentindo oposto até chegar ao ponto de saída. Para completar minha angustia o tempo estava fechado como se fosse chover a qualquer momento. Mesmo com as nuvens escuras, decidi seguir caminho sem capa de chuva. Estava com uma sacola, com comida e aguá, de 2kg em cada mão mais a mochila de aproximadamente 20kg nas costas. Peguei a bussola, apontei ao sul e parti.

 

O Caminho era deserto, assim como Cucao que não tinha se quer uma pessoa nas ruas. Me senti em uma cidade fantasma onde algum dia teve habitantes. Muitos trechos estavam inundados onde os carros não podiam percorrer e o vento que vinha do pacifico era a todo momento muito forte e gelado. A estrada sempre cheia de curvas e subidas mas muito bem conservada. Até ai foram 2 horas de caminhada e minhas costas começavam a doer. Segui sem problemas até encontrar a “Forquilha”. Peguei a direita e os problemas realmente começaram. A garoa surgiu. Muito rapidamente baixei a mochila, tirei minhas capas, vesti, coloquei uma capa na mochila, me ajeitei… parou de chover! Decidi seguir como estava pois o tempo estava mesmo para chuva.

 

Já estava a 3 horas caminhando e os moros cada vez mais se intensificavam, a estrada já não era tao bem identificada e cada vez mais parecia que eu estava me afastando da praia. Tudo indicava que eu estava indo para o caminho errado e só de pensar que aquela caminhada podia estar sendo desperdiçada, as dores aumentavam. Quatro horas e finalmente eu avisto, de longe, uma ponte precária sobre um rio que levava ao mar. “Só pode ser a ponte de madeira. Estou chegando perto.”

 

Chegando a ponte, encontrei uma placa dizendo que naquele local eu deveria pedir permissão para entrar no terreno de Pirulil. “Ahhhh to no caminho certo, cheguei!”. Fui até a casa, peguei a chave e recebi uma explicação totalmente inútil. O senhor me informou que logo atras da montanha ia ter uma entrada. “Ok, para quem já estava caminhando 4 horas, mais uns 20 minutos para chegar até a entrada é tranquilo!!”. Haha, que ingenuo. Já havia passado da montanha muito tempo e nada de entrada nenhuma. “Sera que eu passei e não vi?” Decidi seguir mais um pouco até que surgiu uma entrada, duas, três… qual era a entrada? “Placa branca, vou entrar em uma que tiver uma placa branca.”. Até que finalmente uma entrada havia uma placa branca. A Placa era branca, mas o que dizia nela não tinha nada de Pirulil. Não sabia se estava entrando no lugar certo ou não, mas era melhor entrar ai do que continuar andando sem rumo. Logo na entrada tinha um pequeno portão de madeira, estava aberto mas mesmo assim fiquei procurando uma fechadura qualquer só para ter certeza que eu estava no lugar certo. Não encontrei. Segui andando. Era uma trilha de colonia onde cada vez ia fechando mais o mato e talvez nem um cavalo passasse ali. Fiquei seguindo no meio daquelas trilhas que iam se dividiam e se juntam só para complicar minha caminhado. O terreno era escorregadio e muito acidentado. Subidas e descidas intermináveis. A dor e a vontade de voltar para pedir informação eram igualmente grandes, porem se eu voltasse ia perder um tempo que não tinha e já começava escurecer. Pensei muitas vezes em parar em qualquer lugar, montar acampamento e seguir a busca no dia seguinte. Antes de para aí mesmo, decidi andar mais uns 20 minutos. Já haviam se passado mais duas horas desde que o senhor tinha me dito. “-Logo atras da montanha”. Uma clareira se abriu por cima da mata e consegui ver o Pacifico, acreditei que podia estar perto e logo encontrei um portão que, finalmente, havia um cadeado e a minha chave abriu aquele cadeado. Nem podia acreditar que estava no lugar certo mas estava.

 

O lugar era muito grande, maior do que tinha imaginado. Andei de um lado para o outro procurando a ponte mas não achava. Apreciei um pouco a paisagem e procurei logo um lugar para armar acampamento pois já estava quase escuro e começando a chover. Ventava muito, o vento quase me arrastava em cima das montanhas. Achei um lugar que ficava escondido atras de arvores e ao mesmo tempo abaixo delas, porem o tereno era meio declinado. Já sabia que a noite ia ser difícil! Subi acampamento rápido e entrei na barraca sabendo que só sairia daí no dia seguinte. A noite foi de completo terror. Ventos muito fortes sopravam contra a barraca fazendo-a baixar bruscamente. A qualquer momento essa barraca podia cair e eu ficar exposto, no meio da noite, ao frio e a chuva sem contar que tudo que eu tinha ia ficar molhado. Por causa do tereno em decline, eu ficava escorregando para o fundo da barraca a todo momento o que não possibilitava dormir. Em alguns momentos durante a noite consegui pegar no sono mas logo acordava. Finalmente, depois de uma noite muito comprida e cansativa, nasceu o sol e a chuva e o vento se acalmaram. Finalmente adormeci até a primeira hora da tarde.

 

Acordei disposto, já era uma hora da tarde. Sai em busca da ponte. O terreno era muito grande e cheio montanhas mas eu fui lá para vê-la e tinha que acha-la a todo custo. Percebi que existia um caminho trilhado por tocos de madeira cortada pintadas de branco. Segui esse caminho até que, do alto de uma montanha, avistei a tão desejada ponte de Pirulil. Desci o mais rápido que pude. Era realmente incrível. A ponte, antes descrita por Stefano, que não levava a lugar nenhum, na verdade me levou a uma sensação de paz absoluto, êxtase e adrenalina. Era capaz de nos transportar desta terra para um lugar totalmente indescritível em nosso pensamento. Ir até sua ponta, respirar o ar puro e sentir o vento batendo contra o corpo era algo que eu buscava desde o inicio de minha viajem. Neste local pude sentir o gosto da felicidade, da paz interior e da sabedoria. Algo como estivesse me completando, pareci que naquele momento minha vida tinha sido justificada. Fiquei lendo durante algumas horas no topo daquela ponte e depois parti para conhecer o terreno.

 

Caminhei por um bom tempo pelo paraíso e, em quanto o tempo ia fechando, decidi voltar para a barraca. Estava com um pouco de medo pois teria que enfrentar mais uma noite de terror e talvez nessa noite a barraca não aguentaria pois a tempestade vinha mais forte do que no dia anterior. Na entrada do terreno existe uma casa toda de madeira azul com teto de brazilite, usada possivelmente pelos donos do paraíso. Decidi ir verificar se a mesma não se encontrava aberta. Verifiquei todas janelas e portas. Tudo trancado. Ao ver a tempestade se aproximando a noite chegando calmamente (O local escurecia em torno de 10 horas da noite), decidi que talvez não existia problema em eu tentar abrir a fechadura ( haha) afinal era por uma boa causa e ninguém, provavelmente, ia aparecer naquele local. Fui até a barraca e voltei correndo com um pequeno arsenal de ferramentas. Vi que a porta eu não conseguiria abrir, fui até uma janela e percebi que os vidros eram presos com pregos. Mesmo que eu não passasse pelos vãos pequenos dos vidros, se eu tirasse uma parte, poderia abrir a janela por dentro. Fiquei pensativo se faria isso ou não até que começou a chover. Estava decidido haha. Retirei os pregos e abri a janela com facilidade. Entrei na casa, verifiquei o estado. O local era habitado com uma certa frequência. Talvez só nos finais de semana para uma manutenção básica do paraíso. Decidi me arriscar pois o lugar era perfeito. Sem vazamento, não entrava vento, tinha cama e cobertas. Sabia, por conhecimento, que se ninguém chegasse até a noite, não chegaria mais. Abri a porta principal por dentro, encostei uma vassoura para que ela não se fechasse e fui correndo para o local onde estava minha barraca. Desmontei acampamento e arrumei minhas coisas com um sorriso de orelha a orelha. Levei tudo para dentro da casa, mas decidi só “desfazer minhas malas” assim que a noite chegasse, então teria certeza que era seguro. A casa não tinha eletricidade, mas tinha um lampião. Tinha também um fogão a lenha com um estoque de lenha ao lado. Fiquei durante um bom tempo lendo com a luz do lampião que iluminava o local e com o fogão a lenha ao lado que me aquecia. Fui deitar sabendo que deveria acordar cedo, pois se alguém chegasse no dia seguinte, provavelmente ia chegar muito cedo. Dormi com uma tranquilidade incrível enquanto a tempestade, visivelmente mais forte do que da noite anterior, aterrorizava o local a fora.

 

No dia seguinte acordei cedo, arrumei minhas coisas, deixei a casa como encontrei e parti em direção a Cucao. Desta vez, conhecendo o caminho, levei apenas quatro horas para alcançar o vilarejo. Ao chegar no vilarejo, igualmente deserto como a primeira vez que estive lá, o batizei de fim do mundo, pois estava realmente isolado dentro da ilha e nem se quer um cachorro passeava pela rua. Peguei o primeiro ônibus que apareceu em direção a Castro e finalizei minha jornada do paraíso escondido de Pirulil.

 

Queria agradecer especialmente ao Sr. Stefanno Cattapan por ter falado sobre o local, insistido e me obrigado a anotar as dicas que me passava.

 

Decidi postar umas fotos =D

 

A Ponte de Pirulil

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A Casa

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