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(Relato da Viagem Realizada em Julho de 2009)

 

0:01 (02 de Julho de 2009) Já é o primeiro acorde do dia da viagem, e a lembrança daquele pneu careca da moto lateja a mente;

0:25 (02 de Julho de 2009) É preciso levar um lubrificante; a terra e poeira, mais distância longa causará desgaste prematuro na corrente secundária;

0:35 (02 de Julho de 2009) 230,00 reais para gastar com gasolina, estada, comida e bebida; quem sabe comprar alguma coisa na Bolívia?

1:15 (02 de Julho de 2009) O primeiro devaneio fatal; um recorte de um tombo naquela terra vermelha;

Bem, para contextualizar esta psicose noturna, é preciso explicar em algumas linhas o problema em questão. De Cacoal a Costa Marques são 388 kilômetros; aparentemente simples, mas se levarmos em conta que destes, 222 Km´s são de estrada de terra, e minha moto é totalmente on Road (Uma twister 2007), fica circunscrito um pequeno dilema;

Talvez esta viagem seja a que tenha me dado mais (pre)ocupação; desde a ansiedade em conseguir uma moto alta (off Road), até a tensão de ir sem muita grana; bem, fui com a minha moto mesmo.

O alvorecer úmido foi na belíssima estrada matutina que vai de Cacoal a Nova Estrela, distante 30 km de Cacoal; lá encontrei com meu companheiro de viagem, meu primo e padrinho do meu filho; ele estava em uma Bros, o que lhe facilitaria a vida.

Iniciamos a viagem pela parte fácil; parada rápida em Rolim de Moura para um misto quente com pingado; e seguimos a viagem; no asfalto a Twister comanda em relação à Bros; fomos extremamente rápidos nestes 160 kilômetros que separam Cacoal de São Miguel do Guaporé; parada para abastecer em um posto e a primeira foto d diário de bordo; a moto limpinha e a jaqueta jeans ainda intacta;

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Daqui em diante a jornada fica difícil e incógnita. Com muita areia, secura e pedras, um tombo era inevitável; nos primeiros kilômetros os indícios da construção de pontes e da estrutura para o futuro asfalto; meia estrada e muita poeira; a poeira dava lugar a crateras endurecidas pelo sol, próximas de pontes logo abaixo nos vales; a velocidade de cruzeiro era alta; 80 kilômetros por hora na terra batida, areia surpreendente (nela você deve deixar a moto ir onde quiser); enfim a chegada para a coca-cola Ks clássica em Seringueiras; rolos de feno literalmente passavam pela cidade;

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Seguimos viagem nessa louca e insana busca de chegar ao destino; pedras, desvia buracos e areia, poeira e mais poeira, e a twister ia escorregando, derreapando e tracionando com seu forte motor em face daquele solo sem aderência; neste ponto, já próximo das 10:30 chegamos em um oásis de beira de estrada; o fato atípico desta parada foi a revista da polícia militar, sempre presente naqueles trechos próximos a divisa com a Bolívia;

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Enfim, após poeira extrema, areia e secura, banhados por uma chuva localizada, chegamos em Costa Marques; parada no posto para recolher o pó e rebater a tensão da viagem;

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No mesmo dia já ansiei conhecer o forte; era minha meta segunda, já que a primeira, para um motociclista, é a do processo de “ir”; saímos logo depois do almoço; o Forte Príncipe da Beira não fica dentro de Costa Marques; fica em uma área militar, bem movimentada, localizada a pelo menos 25 kilômetros da cidade; pegamos a Bros e fomos; matinhas e estradas trafegadas por caminhões do exército e lá estávamos: enfim, o Forte;

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Belíssimo, ela imanava do chão, em Pedra, como uma grande e majestosa construção secular; sua área de grama, externa, estava limpíssima; bem aparada, agregava valor ao local histórico e mostrava um grande cuidado; primeiro fomos ao museu que existe logo na entrada da base militar; o museu contém a história do Forte, história esta datada do século XVIII; os motivos da construção estão ligados a importância do Rio Guaporé como escoadouro e corredor de transporte natural, além da necessidade de manter a soberania sobre o solo brasileiro em relação à Bolívia, em face dos ataques espanhóis;

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Logo na entrada o clássico fosso, que deveria servir de barricada natural e a grande porta em madeira antiga; esta fronte estava intacta, e sua dimensão é impressionante; o formato do Forte é típico das fortificações portuguesas, mas que celebram o de mais importante acervo arquitetônico colonial temos no estado de Rondônia; não existe outra obra de tal vulto ou importância dentro do estado.

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Assim, é incomensurável a emoção de estar em um local de registro histórico clássico colonial do estado, pela grandeza e conservação de parte de sua estrutura; logo quando adentramos as portas pesadas do Forte já fomos visitar o famoso compartimento que serviu de prisão logo no final do século XIX; lá ainda estão inscritos na parede mensagens dos presos antigos, guardando em sua caligrafia as entranhas de sua agonia;

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Singular é a vista que uma das torres e guaritas armadas proporcionam do lugar: o belíssimo e místico rio Guaporé passando ao largo, a torre / guarita que já fora utilizada, e os canhões originais; belíssimo quadro;

Por meio de uma panorâmica é possível ver os fósseis das antigas edificações, agora ruínas que constituem um místico cenário, deflagrando uma parte importante de nossa história;

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O nosso Guia soldado do exército explicava alguns detalhes interessantes do local, mas principalmente queríamos ouvir sobre o famoso túnel, que como dizem e as lendas oficializam, liga uma margem a outra do Rio Guaporé, como, talvez, uma rota de fuga;

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(continua)

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Bem, dando sequência ao relato; o fosso e a o buraco do fosso é mitológico; muitos afirmam que já fora uma sala secreta, hoje soterrada e alagada; relatos incidentais fala de reuniões de cúpula dos militares da colônia; mas o que vi foi apenas um buraco, que remete à uma câmara maior subterrânea; deixemos a lenda sobreviver;

 

Os canhões que estão expostos no forte são mesclados entre armas cenográficas e armas de verdade; nao sei ao certo se já ocorreu alguma batalha memorável no forte; o guia disse que sim;

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Recentemente, em um evento que estava uma personalidade histórica (não sei ao certo) foram atirar com um dos canhões e o mesmo explodiu, lançando estilhaços em vários pessoas, que se feriram;

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Terminamos a visita com uma panorâmica contemplativa de todo o largo do forte, deixando uma sensação fortíssima de história impregnada em nossas retinas; espero poder voltar a este que considero nosso maior santuário colonial de Rondônia, já bem explorado mas pouco comentado;

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Retornamos à casa da família que nos gentilmente acolhera, e comemos um delicioso tambaqui de rio, enorme, colhido no grandioso rio Guaporé;

 

No outro dia nossa meta era conhecer este rio e atravessar para a Bolívia; realmente o Rio Guaporé é um rio que exala vida; de águas verdes / escuras, ele reproduz uma fauna e flora exuberante, mesmo que amplamente utilizado na pesca e eventos, como o famoso festival de praia de Costa Marques;

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Para atravessar para o lado Boliviano é preciso pegar uma voadeira; paga-se 5 reais e você atravessa em uma média de 10 a 15 minutos, dependendo do motor; já do lado Boliviano nao existe cidade; são apenas palafitas construídas na beira do rio Guaporé; elas ficam entre a mata da terra firme e o rio; os produtos e os vendedores vem rio acima para vender seus produtos;

 

Por falar em produtos, são na maioria bebidas e ferramentas de trabalho; não é possível fazer boas compras; é um comércio fraco e pobre; mas na verdade tem mais valor sociológico do que financeiro aos meus olhos humanistas;

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Quem gosta de bastante festa, aconselho vir no festival de praia, que acontece entre agosto e setembro; meses que o rio seca e deixa aparecer bancos de areia, que muitas vezes são apliados pelos organizadores, o que determinou a criação de uma TAC ambiental entre o MP e os organizadores do evento;

 

Tambem é aconselhável alugar uma chalana e descer o rio pescando, o que é uma prática comum entre moradores do estado de Rondônia; em suma, Costa Marques merece ser visitada;

Termino este relato re-afirmando meu interesse em retornar; seja para passear pelo Rio, seja para visitar novamente o forte, e ainda para visitar o projeto de preservaçao das tartarugas, patrocinado pela Petrobrás, que eu não pude ir;

 

No mais, termino com a última foto, contrastanto o aterro enorme do forte Príncipe da Beira e seus muros exuberantes, com os canhões apontados ao fundo para o belíssimo rio Guaporé;

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Acrescento algumas informações adicionais ao tópico para os interessados na iconoclastia e fundamentos do Forte Príncipe da Beira:

Fonte: Wikipedia

- A cor avermelhada da fortificação deve-se ao emprego, na sua construção, de pedra de canga laterítica, abundante na região.

- A pedra calcária, utilizada nos arremates por exemplo, foi transportada de Vila Maria e de Belém do Pará.

- Embora a cifra de trabalhadores seja de duzentos homens, estima-se que pelo menos mil outros trabalhadores estiveram envolvidos na sua edificação, entre indígenas e escravos africanos.

- Os recursos para a edificação vieram, em grande parte, das receitas geradas pela Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão.

- Das inscrições nas paredes das antigas masmorras, podem-se inferir alguns detalhes da vida cotidiana na fortificação:

- No dia 18 de setembro de 1852, pelas duas horas da tarde, a terra tremeu;

- Alguns prisioneiros usavam grossa e comprida corrente ao pescoço;

- Os presos eventualmente recebiam auxílio, na forma de esmolas, da população local.

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Segue uma belíssima foto aérea para situarmos a beleza do forte:

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