Membros Ronei Amandio Postado Maio 8, 2013 Membros Postado Maio 8, 2013 (editado) Por aí... Uma aventura com meu filho (Dylan Thomas) Como diria Mário Quintana "viajar é trocar a roupa da alma." Assim convido você a trocar a roupa de sua alma e nos acompanhar, através deste carinhoso relato, numa aventura pela Argentina, Chile e Uruguai ÀS MINHAS PAIXÕES (Janaína-esposa e Ana Paula-filha) 1º dia - 09-07-2012 (segunda-feira) Córdoba e Alta Gracia, Argentina Casa Museu Che Guevara Por conta de não haver disponibilidade de vôo para Santiago do Chile, optei pelo destino que nos conduziria à cidade mais próxima, que foi Córdoba, na Argentina. O único horário para aquela data não foi dos melhores e, por conta disso, chegamos em Córdoba às 03h da madrugada. Independente do sono e do cansaço por não ter dormido, estávamos cheios de expectativas para conhecer a cidade e os pontos turísticos. De táxi nos dirigimos diretamente para o Backspackers Hostel (tipo de albergue) que fica super bem localizado e próximo a pontos turísticos e do terminal rodoviário de Córdoba, que viríamos a utiliza-lo outras vezes. Descansamos muito pouco, mas o suficiente para recarregar as energias. Tomamos nosso primeiro desayuno (desjejum) e, a pé, iniciamos os primeiros passos desta marcante aventura. Inicialmente e antes de partirmos à procura dos pontos turísticos de Córdoba, que não são muitos, resolvemos conhecer apenas o Centro. Andando por seu calçadão, como que adaptando-nos àquela nova realidade, sobretudo ao frio, que naquela manhã aproximava-se dos 05ºC, passamos a observar tudo enquanto nos dirigíamos à Plaza (Praça) San Martin. Estranhei o pouco movimento na cidade, mas imaginei que a causa fosse o horário, porém, alguns minutos depois, nos informamos e descobrimos que tratava-se de um feriado em comemoração à independência Argentina. Conhecemos a praça com seu monumento em homenagem ao General San Jose de San Martin – militar e político argentino (25-02-1778 / 17-08-1850) que em 1812 retornou à sua pátria depois de morar por muitos anos na Espanha quando colocou-se a serviço dos revolucionários em prol a libertação de sua terra natal. Em 1816 saiu vitorioso da guerra contra a Espanha e cruzou os Andes para juntar-se ao líder Bernardo O´Higgins na libertação do Chile. Em 1821, com a ajuda de Simon Bolívar, dominou e declarou a independência do Peru, exilando-se voluntariamente na Bélgica e na França aonde veio a falecer. No entorno da praça encontra-se também o Cabildo, que atualmente funciona como auditório, centro cultural e artístico além de centro de informações turísticas, mas originalmente era utilizado como cárcere e ao decorrer dos anos teve tantas reformas quanto utilidades como, por exemplo, delegacia de polícia e museu. Com isso perdeu parte das características hispânicas da época em que fora construído, ou seja, no século XVII. Cabildo são instituições instaladas na América pelos primeiros conquistadores hispânicos. Seus membros, escolhidos entre os principais habitantes da cidade, se encarregavam da administração geral das colônias resolvendo problemas administrativos, econômicos e políticos. A Catedral Metropolitana de Córdoba é outro ponto turístico que se encontra na Praça San Martin. Ali, experimentamos os primeiros alfajores da viagem, que realmente fazem jus aos comentários que ouvira a respeito dos alfajores argentinos. Naquele local meu filho (Dylan) catava as primeiras folhas de árvores para pôr em sua coleção o que, de antemão, alertei-o sobre o risco de não conseguir retornar ao Brasil com as mesmas, pois a legislação dos países reza que, além de outras coisas como alimentos perecíveis, armas, animais, etc. não se pode entrar nos paises com plantas e/ou suas partes. Quanto a isso ele se manifestava dizendo que alegaria ser folhas mortas (caídas) e não arrancadas das árvores, acreditando que isso seria o suficiente para convencer as autoridades dos três países que visitaríamos. Vistos os principais pontos turísticos, nos dirigimos ao espaço destinado às comemorações cívicas que concentrava uma grande massa de argentinos que prestigiavam os desfiles das forças armadas e de várias representações da Argentina e, estranhamente, de outros países como a Estônia, por exemplo. O que nos chamou mais atenção naquele local foi a grande participação dos argentinos e as imensas filas que, pacientemente, aguardavam para receber chocolate quente ofertado pelo exercito daquele país. A primeira parte daquele dia passou rapidamente e revolvemos fazer o passeio à Cosquín – cidade a quase 60 km de Córdoba, à tarde. Nossa intenção não era apenas conhecer a cidade que pouco ou nada tem de turística, mas sim para prestigiar o passeio no Trem de La Sierra (Trem da Serra) onde pode-se contemplar bonitas paisagens entre bosques, vilas e como o próprio nome se refere, as serras, numa velocidade máxima de 40 km/h. Neste percurso o condutor procura animar os passageiros apagando as luzes sempre que o trem entra nos túneis o que provoca grande gritaria e algazarra dos passageiros, principalmente das crianças. O trajeto é bastante bonito tendo como destaque o Lago San Roque que proporciona uma linda paisagem e dá um “Q” especial à Vila Carlos Paz. Contudo, tudo isto só pôde ser contemplado no dia seguinte, pois ao chegarmos na estação, a qual não me recordo o nome, a mesma encontrava-se fechada. Perguntamos e um sujeito que nos informou que devido o feriado a estação não estava funcionando naquele dia, mas o trem partiria de uma outra estação (Rodrigues del Busto) às 13h. Nos informou ainda que no dia seguinte estaria funcionando e o passeio partiria às 08:40. Como não tínhamos tempo hábil para chegar à estação Rodrigues del Busto resolvemos retornar ao Centro e fomos diretamente ao Terminal de Córdoba invertendo a ordem dos passeios programados, ou seja, deixamos Cosquín para o dia seguinte e partimos para Alta Gracia que, conforme pesquisado na internet, seria uma cidade bastante interessante. O ônibus era daqueles coletivos comuns e o percurso levou em torno de uma hora e meia atravessando vilas e campos desmatados onde a vegetação nativa dava lugar a uma pastagem sem vida e de cor amarronzada que mais parecia ter sofrido uma recente queimada, mas na verdade era devido à seca, uma vez que não chovia na região há mais de três meses. De qualquer maneira, sentíamos uma agradável sensação, talvez pelo fato de estarmos contemplando uma paisagem extremamente diferente daquela que estamos acostumados. Chegamos na Estância Jesuítica de Alta Gracia por volta das 14:30h e saltamos do ônibus quando avistamos o dique El Tajamar – um lindo lago construído pelos jesuítas onde dezenas de famílias e casais de namorados aproveitavam o feriado e faziam convescote (piquenique) à sombra das árvores. O local é o cartão postal da cidade e rende lindas fotos do dique que espelha a torre e as árvores do parque. Ficamos ali por um bom tempo contemplando aquele local que trazia muita harmonia e paz. Em seguida resolvemos dar a volta no lago e, assim, descobrir coisas interessantes às suas margens enquanto íamos registrando inúmeras fotos daquele lindo local. Ao chegarmos do outro lado do lago fomos surpreendidos pela linda torre incrustada ao lado do dique e da Manzana Jesuítica. Na praça ainda esta umbicada (localizada) a histórica e conservada iglesia (Igreja) jesuítica que no ano de 2000, em Cairns, Autrália foi considerada patrimônio da humanidade pela Unesco. Não estou bem certo sobre a igreja, mas a estância foi transformada no Museu de La Estancia Jesuítica de Alta Gracia – Casa del Virrey Liniers, o qual foi o primeiro museu a visitarmos na viagem. Pagamos os ingressos a preços simbólicos e percorremos as 17 salas de exposição permanente que são mobiliadas e decoradas com móveis e objetos dos cordobeses que viveram na estância durante os siglos (séculos) XVII, XVIII e XIX. Em seguida fomos a um restaurante onde tomei uma cerveja Quilmes (produzida na Argentina) e meu filho um Jugo de naranja (suco de laranja) enquanto conversava com amigos e postava suas primeiras fotos no facebook, através de seu celular. Na sequência fomos caminhando até a Casa Museu Ernesto Che Guevara. No caminho percebemos o quanto Alta Gracia é bonita, harmoniosa e limpa. Não foi à toa que os pais de Che Guevara resolveram se instalar na cidade para amenizar os males da asma que o filho sofria. As casas são super ajeitadas com arquitetura diferenciada e jardins muito bem cuidados. O Dylan chegou a cogitar a possibilidade de um dia morar naquela cidade que considerou a mais bonita que já conhecera. No caminho ele mais observava às árvores, à procura de folhas, que à cidade em si, entretanto me chamou a atenção para a seguinte frase: “Rara vez, esta vida tiene sentido!!” de autoria de Bob Dylan, pichada num grande muro branco. Próximo dali chegamos naquele que seria o principal motivo da nossa ida à Alta Gracia, a casa museu Che Guevara. A princípio a atendente nos quis “passar a perna” querendo cobrar o equivalente a R$ 80,00, alegando que tratava-se do valor da taxa para estrangeiros. Argumentarmos que éramos estudantes, depois que éramos brasileiros e consequentemente do Mercosul, mas nada adiantou. Então, depois de uma simulada manifestação de desistência ela, não sei se por pena ou por perceber que deixaria de vender dois ingressos, nos permitiu entrar por apenas R$ 20,00 “os dois”. Entretanto, teríamos que afirmar que éramos portenhos (argentinos) caso fossemos indagados por alguém. Não gostamos muito da ideia, mas tendo em vista o desconto aceitamos a oferta. Rimos e balbuciamos um ao outro que não sabíamos que éramos tão volúveis! O museu é pequeno e poucos objetos são expostos, mas confesso que me causou certa emoção ao ver de perto a La Poderosa - motocicleta que, em 1952, Che Guevara e o amigo Alberto Granado saíram de Córdoba e cruzaram a Argentina, Chile, Peru, Equador e Colômbia numa aventura que contribuiu com a definição dos ideais socialistas do revolucionário. A aventura foi tão eloquente que chegou a ser eternizada através do filme Diário de Motocicleta (vencedor de muitos prêmios) dirigido pelo carioca Walter Salles, filme este que já assisti algumas vezes e recomendo. Vivido o momento e registradas as fotos, fomos caminhando até o cassino Sierras que é super moderno e realmente surpreende pelo tamanho. Em seguida nos dirigimos ao terminal onde apanhamos um ônibus para retornar ao centro de Córdoba. No hostel, depois do banho, que nos aliviou um pouco, ligamos para casa para contar as primeiras novidades daquele primeiro dia da viagem. Na sequência, enquanto procurava-mos por uma pizzaria e aproveitávamos para conhecer um pouquinho da noite de Córdoba, passamos por uma bonita fonte iluminada que pensei ser a do Paseo del Buen Pastor, mencionada por alguns mochileiros como um atrativo a mais a se conhecer em Córdoba, mas que logo descartei a hipótese por perceber que seria improvável que aquele chafariz, ainda que bem iluminado e bonito, construído num cruzamento de duas grandes e movimentadas avenidas fosse tão famoso a ponto de merecer destaque dentre os pontos turísticos da cidade. Encontramos e jantamos numa pizzaria interessante que oferecia pizzas inteiras ou em fatias o que se diferencia do nosso sistema de rodízios, pois lá paga-se de acordo com a quantidade de fatias consumidas. Degustamos algumas fatias e resolvemos retornar ao hostel para descansar daquele dia bastante atribulado e cheio de novidades. No simplório quarto, com apenas duas camas de solteiro e uma pequenina escrivaninha, onde dormiríamos a primeira das quinze noites que passaríamos juntos, ficamos conversando um tempo até que meu filho não resistiu ao cansaço e dormiu enquanto eu fiquei escrevendo este relato e organizando o roteiro do dia seguinte, cuja programação era conhecer o Paseo del Buen Pastor, o Shopping Olmo e o mercado público, além, é claro, de realizar o passeio no Trem de la Sierra o qual viria a ser um passeio bastante marcante sobretudo pela paisagem do percurso. 2º dia - 10-07-2012 (terça-feira) – Córdoba e Cosquín, Argentina Um peruano muito engraçado Depois do simplório café da manhã com apenas tê (chá) e dois paizinhos minúsculos com geleia, solicitei informações na recepção sobre o passeio do trem de La Sierras. A atendente, bastante prestativa, ligou imediatamente e conseguiu importantes informações que sem elas teríamos nos aborrecido e possivelmente desistidos daquele lindo e exuberante passeio que é bastante econômico, pois é gerenciado pelo governo de Córdoba. Graças a atendente ficamos sabendo que a estação que fomos no dia anterior permanecia (cerrada) fechada. Tomamos um táxi e fomos até a estação Rodriguez Del Busto, compramos as passagens e partimos para a cidade de Cosquín. O passeio leva seis horas entre ida, estada e volta. Chegamos às 13h e tínhamos apenas duas horas para almoçar e conhecer o pequeno município. O comercio concentrava-se praticamente numa avenida que cortava toda a cidade, a qual percorremos por completo, conhecendo o centro e passando de fronte a Plaza Próspero Molina, cenário do Cosquín Rock – maior festival de Rock da Argentina, que depois de 2004 foi transferido devido aos inconvenientes causados pela agitação dos festivais. Resolvemos almoçar do outro lado do Rio Cosquín num restaurante que leva o mesmo nome onde éramos os únicos clientes naquele momento. Pedimos uma Parrilha - comida que consiste, no caso daquele restaurante, num pequeno corte de costela, outro pequeno corte de contrafilé, duas morcelas (puro sangue cozido e embalado numa tripa) e duas linguicinhas (puro sebo embalados numa tripa) tudo chamuscado numa pequena chapa levada à mesa. Mesmo com temperatura super baixa resolvemos almoçar do lado de fora do restaurante que proporcionava uma linda vista do Rio Cosquín e da ponte. A comida, com preço amargo para a pouquíssima quantidade/qualidade e pouco acompanhamento (apenas alguns paezinhos e pedaços de berinjelas cozidas e conservadas num molho estranho), nos proporcionou a primeira experiência com comidas típicas, vindo a ser o nosso primeiro almoço em terras argentinas, o que nos foi bastante gratificante. Tínhamos pouco tempo e, por conta disso, pedimos para o garçom servir o quanto antes e acelerar o processo do pagamento da conta, pois teríamos que retornar toda a avenida para apanhar o trem, cujo último horário seria às 15h. Com isso o dono do restaurante que conhecia o horário do trem e percebera nossa pressa nos ofereceu uma carona até a estação. No percurso fomos convidados para a festa que seria organizada no seu restaurante em comemoração aos 100 anos de atividade, tendo a filha como a quarta geração no ramo. Disse-nos que contrataria os melhores artistas argentinos para se apresentarem na festa o que, cheio de orgulho, nos afirmou que seria uma das melhores já realizadas em Cosquín. Fiquei com vontade de esquecer o trem e tomar um ônibus para conhecer Vila Carlos Paz, que destaquei como um dos locais a conhecer em Córdoba, mas sabia que logo escureceria e pouco aproveitaríamos da cidade. Com isso, resolvemos retornar de trem prestigiando mais uma vez as serras de Córdoba até chegarmos à estação Rodriguez Del Busto e tomarmos um coletivo próximo da estação. Descemos no centro de Córdoba e fomos conhecer o Palácio Ferreyra, construído em 1900 ao estilo Luis XVI. Atualmente este palácio abriga uma coleção de arte. Próximo dali, o Paseo Del Buen Pastor proporciona à Nova Córdoba, como é conhecido o local, uma opção a mais com o famoso show das águas dançantes que acontece todos os dias às 19h e 21h. Este show é dividido em três partes de cinco minutos cada, tendo como fundo musical três músicas diferentes. Na primeira a música We Are the World, composta em 1985 por Michael Jackson e Lionel Richie e gravada por 45 dos maiores nomes da música norte-americana para arrecadar fundos para o combate à fome no continente africano, torna o show ainda mais emocionante. Visto o início do show, logo percebi que aquele chafariz que tínhamos visto na noite anterior, de fato, não era o do show das águas dançantes de Córdoba. Ao lado do prédio do Peseo há uma lindíssima igreja, a Sagrado Coração de Jesus que, sem dúvidas, devido a sua arquitetura excêntrica é a mais linda que já conheci. Retornamos ao hostel, tomamos um banho, apanhamos as mochilas e partimos em direção ao terminal para tomarmos o ônibus para Mendoza. Deixamos Córdoba às 21h para chegar em Mendoza às 07:30 da manhã. Não havia mais tempo para nada. Entretanto, havíamos visto muitas coisas interessantes em Córdoba e região como, por exemplo, a Praça San Martín, o quarteirão jesuíta, Paseo del Bom Pastor, Alta Gracia, Cosquín, entre outros pontos turísticos que a cidade proporciona como Parque Sarmiento e outros atrativos. Compramos os assentos “arriba e adelante”(acima e à frente), como dizia meu filho, de forma que ficamos nos primeiros bancos do segundo andar do ônibus com uma visão 180º. Nas duas poltronas ao nosso lado estavam: uma mulher que da forma que entrou, deixou o ônibus, ou seja, calada e um peruano com metade da cabeça raspada e a outra com longos cabelos com tererê (finas tranças com aplique de linhas coloridas). O “figura” era muito cômico e nos proporcionou boas risadas ao longo da viagem que, aliás, foram as mais gostosas que vi meu filho dando em todos os seus dezessete anos de idade. Gostei tanto de ver meu filho gargalhando daquele jeito que nem me importei quando o peruano sacou um enorme micro system e ligou o aparelho (por alguns instantes) num volume nada razoável e ouvia músicas peruanas e americanas enquanto balançava a cabeça e o corpo espremido entre todas as bugigangas que levava consigo. O frio era tamanho que na parte interna do ônibus uma fina placa de gelo foi criada nos vidros, o que fez com que nos enrolássemos nas roupas mais quentes que levamos. Até o cachecol o Dylan enrolou nos pés! O peruano gemia e, de tempo em tempo, reclamava do frio, o que achamos muita graça da forma com que ele resmungava madrugada à dentro com as pernas esticadas, os pés descalços apoiados no console do ônibus e separados da fina placa de gelo do vidro apenas pela fina contina do próprio ônibus. Entre uma parte e outra de chocolate, aproveitei para refazer o roteiro, lendo-o e relendo-o várias vezes, uma vez que resolvemos não mais pernoitar em Mendoza para seguir viagem direto para Santiago do Chile. Voltei a ler o livro “No Direction Home – A vida e a música de Bob Dylan”, de Robert Shelton que levara para estes momentos, ou seja, horas e horas dentro dos ônibus que certamente tomaríamos. Ouvi músicas no mesmo MP4 que me acompanhou nas viagens pelo Peru, Bolívia e Chile em 2010, Venezuela, Colômbia, Nicarágua, El Salvador, Costa Rica e Panamá em 2011, o qual cumpriu seu papel rigorosamente, proporcionando-me momentos de extremo relaxamento ao ouvir as minhas músicas prediletas. Enquanto a maioria, se não todos, dormiam, eu permanecia acordado curtindo a escuridão das estradas que aquele ônibus rasgava madrugada à dentro. Talvez esse fora um dos momentos que mais tenha pensado na minha esposa que ficara sozinha em casa que, pela primeira vez, estava tanto tempo longe de seu filho. Pensei muito também, é claro, na minha filhota e o quanto ela me faz falta com a sua alegria, descontração, afeto e carinho. Não cansei do olhar as fotos que registrei das duas na despedida no aeroporto, em Florianópolis. Passamos por algumas cidades e vilas antes mesmo dos primeiros clarões do dia aparecerem no horizonte e o silêncio do ônibus ser quebrado pelas várias vezes que o telefone celular da mulher que dividia o assento com o peruano tocar sem que a mesma acordasse para atende-lo, motivo este que levou o peruano a sacar seu poderoso micro system e, novamente, o liga-lo num volume bem mais alto que no início da viagem, o que foi motivo de novas risadas, minhas e do Dylan. Assim passamos a noite naquele trajeto entre Córdoba e Mendoza, que mesmo com o frio e as dificuldades para dormir, conseguimos transforma-la numa viagem super agradável e divertida. 3 º dia - 11-07-2012 (quarta-feira) Entre Mendoza, Argentina e Viñas del Mar, Chile Cordilheira dos Andes (Estrada Caracoles) Na rodoviária de Mendoza, buscamos as informações necessárias para o embarque com destino ao Chile, tomamos um café com medias lunas (paozinho com formato de meia lua parecido com croasant) e chocolate quente para aquecer o corpo, afinal os termômetros marcavam 3°C naquela hora da manhã. Pouco tempo depois nos acomodamos novamente adelante e arriba, ou seja nos primeiros assentos da parte superior do ônibus da El Rápido Internacional onde, de novo, teríamos uma visão de 180°, quando iniciamos a nossa segunda parte da viagem até Santiago do Chile, onde passaríamos por lindas e exuberantes paisagens ao longo do trajeto. Fazendas, parreirais de uvas, montanhas nevadas, entre outros panoramas, foi o que contemplamos nos 360 km que separam Mendoza de Santiago. Poucos quilômetros depois de deixarmos Mendoza, a paisagem já se alternava, cedendo lugar a imensos parreirais das mais variadas vitivinícolas da região. Aos poucos percebíamos os primeiros picos nevados das Cordilheiras dos Andes o que fazia alterar, a cada quilômetro, as expressões de meu filho que quanto mais nos aproximávamos, mais brilhantes ficavam seus lindos olhos negros afinal, a neve era, para ele, o principal objetivo da viagem. Nesta parte do trajeto aquela sonolenta senhora e o peruano cederam lugar a um simpático casal de Suecos que foram conversando conosco durante boa parte da viagem. Mostraram-nos muitas fotos dos lugares que já conheceram e afirmaram que conheceriam o Brasil no próximo ano. A paisagem das vitivinícolas aos poucos ia ficando para trás sendo substituída por desertos e imensas montanhas de terra escura e com pouca vegetação, emprestando à paisagem uma visão diferenciada que alternava-se com umas camadas cada vez mais brancas, ou seja a neve. Assim o ônibus seguia numa manhã extremamente linda com céu extremamente azul em direção as montanhas brancas feito algodão, ziguezaguando-as lentamente. Horas depois iniciávamos a grande subida das Cordilheiras dos Andes deixando o nível do mar para atingirmos os quase 2400 metros de altura o que já dava para sentir o desconforto da altitude. Próximos do Aconcágua passamos por estações de esqui, onde algumas pessoas divertiam-se na neve, até chegarmos na fronteira entre os dois países, quando tivemos que sair do ônibus para carimbarmos nossos passaportes, deixando a Argentina e entrando em terras chilenas, eu pela segunda vez e meu filho pela primeira. Ali, enquanto os demais passageiros registravam suas entradas no país aproveitei para mostras ao Dylan a neve que ele tanto senhava em tocar. Com um lindo sorriso estampado no rosto ele tocou pela primeira vez em neve propriamente dita, pois numa certa oportunidade, quando participamos de um passeio de moto com colegas de serviço, ele e a irmã tiveram a oportunidade de ver pequenos blocos de gelo no morro da Igraginha em Urubici, Santa Catarina, mas nada se comparava com aquele momento e com aquela quantidade de neve. A cordilheira dos Andes, em comprimento, é a maior cadeia de montanhas do mundo. Estende-se desde a Patagônia, no extremo sul da América do Sul, até na Venezuela, ou seja, no extremo norte. Possui aproximadamente 8000 km de extensão com 160 km nos trechos mais largos. A altura média está em torno de 4000 m sendo o Aconcágua o ponto mais alto chegando a atingir 6962 m. Carimbados os passaportes e passando ilesos pela guarda da fronteira, que incluía um excepcional cão farejador, iniciamos a descida da Cordilheira dos Andes que era outro dos meus objetivos nesta viagem, pois conhecer esta parte da rodovia conhecida como Caracoles sempre foi uma das minhas maiores curiosidades. A altura e as curvas realmente impressionam com sua beleza, arrojo, e o asfalto serpenteando e destacando-se entre aquelas montanhas branquinhas com uma linda lagoa azul no final da descida. Levamos sorte pelo fato de haver muita neve e ainda assim as pistas estarem livres para transitar, uma vez que há situações em que as mesmas são fechadas por vários dias devido a grande quantidade de neve. Novamente a paisagem alternava-se de forma que passada a Cordilheira voltava a apresentar montanhas secas e livres de vegetações, formadas apenas por rochedos e terra escura. Conforme íamos nos aproximando de Santiago a mesma transforma-se apresentando lindos cenários verdes e bem arborizados. É uma sucessão de alternâncias de panoramas que somente por terra para se observar e contemplar de forma tão intensa o quão vasta e incrivelmente surpreendente é a natureza. Chegamos em Santiago às 15h. Pouca ainda aproveitaríamos daquele dia e pensando nisso sugeri a meu filho seguirmos viagem até Valparaiso ou Viña del Mar, que seriam os dois locais mais distantes a serem conhecidos nesta viagem. Ao contrário do que deveria fazer, que seria seguir para um hotel ou hostel para descansar, pensei na hipótese de seguir até o ponto mais distante pela simples sensação de, a partir de lá, para onde quer que fossemos, estaríamos sempre retornando ao Brasil. O Dylan que a nada se opunha e aos poucos me surpreendia tamanho companheirismo, acatou a sugestão afirmando que era eu quem resolvia as coisas, que era eu que o conduziria e ele estava ali para topar toda e qualquer aventura que eu sugerisse. Assim, na própria rodoviária busquei informações, troquei uns poucos dólares por pesos chilenos e seguimos nossa aventura rumo ao Oceano Pacífico, mais especificamente Viña del Mar. Nas estradas entre Santiago e Viña que são extremamente bonitas com muito verde, serras e plantações de videiras, senti uma preocupação estranha que me fazia lembrar a todo momento os meus dois amores que ficaram sós em casa. Naquele momento em que nos aproximava-mos cada vez mais do Oceano Pacífico e, consequentemente, nos distanciava-mos ainda mais de casa, me recorreu a frase “Na estrada, à medida que você ganha distância do ponto de partida, é mais fácil entender de onde vem e quem você é”, lida num artigo intitulado Pé na Tábua de Carlos Messias que narra a história de vida de Walter Salles, aquele que dirigiu o filme Diário de Motocicleta que aborda a viagem de Che Guevara, conforme mencionado antes. Chegamos à Cidade, que é coirmã de Valpaiso, à noite e saímos à “caça” do hostel Che Lagarto que foi indicado no site mochileiros.com. Alguns minutos depois resolvemos buscar informações num hostel localizado na calle piatonal (rua de pedestre ou calçadão). A garota que nos atendeu, por sinal muito atenciosa, ligou para o Che Lagarto, perguntou o endereço, se havia vaga e o preço. Ficamos ali mesmo, ou seja, no Hostel Kalagem que além do melhor preço tinha quarto privado e a melhor localização. Mesmo cansados da viagem, que naquele momento perfazia 24h, uma vez que saímos de Córdoba, Argentina às 21h do dia anterior, resolvemos tomar um banho e sair para jantar. Então, depois de uma longa e exploratória caminhada pela cidade em busca, de, pasmem, um Burger King que para minha sorte não encontramos, jantamos uma espécie de entreveiro (picadinho de carne e calabresa) que foi servido sobre batatas fritas, o que é um prato bastante típico naquele litoral. Em seguida degustei um chope gelado e então retornamos ao hostel para descansarmos daquela maratona que muito agradara a mim e a meu filho. Afinal, sabíamos que na manha seguinte buscaríamos alcançar outro objetivo da viagem que era ver o Oceano Pacífico, mas que não era o único, pois em Viña del Mar eu guardava uma das maiores surpresas que já pude oferecer a meu filho. 4º dia - 12-07-2012 (quinta-feira) Viña Del Mar e Valparaiso, Chile Olhos de Satisfação Os ponteiros do velho relógio dependurado na parede da sala de café da manhã ainda não passavam das 07h quando jogávamos dardo enquanto degustávamos torradas com geléia e suco de laranja. Em seguida percorremos o simpático centrinho da Cidade-Jardim, como é conhecida Viña del Mar, e chegamos à Quinta Vergara que é um enorme e verdejante parque bem no centro da mesma. Na entrada deste parque há um portal com uma poesia de Fernando Salvador em homenagem a Pablo Neruda, considerado o melhor poeta chileno. Entre tantas coisas que conhecemos destacamos o Teatro Municipal e a praça José Francisco Vergara que além de muito limpa e arborizada possui lindos canteiros, sendo que um deles nos chamou a atenção, pois é formado por uma espécie de couve-flor o que dá à praça uma beleza singular. Infelizmente não foi possível conhecer o famoso relógio de flores nem outros pontos turísticos, pois se encontravam em reformas devido aos estragos ocasionados pelo terremoto que em 2010 ocorreu na região. Conhecido parte do centro, tomamos um microônibus e alguns minutos depois estávamos em Rañaca. Compramos uns kiwis e caminhamos até o ponto em que, enfim, poderíamos pisar nas águas geladas do Oceano Pacífico. Meu filho nada falou, apenas semicerrou os lábios engolindo a saliva e contendo o sorriso. Me olhou com satisfação e balançou a cabeça positivamente parecendo dizer algo como: “Estamos aqui!” ou “Conseguimos!” e voltou a fitar aquele lindo marzão azul escuro, bastante revolto e demasiado frio. Rañaca é um balneário super lindo cuja curiosidade se dava também por conta da arquitetura dos edifícios que são construídos em forma de escadarias, ou seja, não seguem uma linha vertical e sim diagonal como que apoiando-se na encosta, o que me pareceu ser uma engenharia estratégica relacionada aos tremores de terra que são constantes naquela região. É comum encontrar placas informando que o local é seguro contra terremoto e outras informando pontos de fuga em caso de tsunamis o que deixou-nos bastante curiosos, mas pouco a vontade. Iniciamos nossa caminhada pelas areias da praia que estava completamente vazia devido a baixa estação e logo encontramos uma alga marinha de forma, tamanho e peso bastante curiosos. A alga media aproximadamente uns três metros e pesava muito. Cruzamos toda a praia até chegarmos à outra extremidade quando retornamos à orla e, sem saber aonde íamos, resolvi parar um microônibus que vinha em nossa direção. Eis que, lá estávamos nós nos afastando ainda mais, seguindo por uma bela estrada à beira-mar sem saber ao certo para onde estávamos indo. O passeio nos proporcionou bons momentos e uma vista excepcional das playas (praias) Amarilla, Negra, la Boca e Lilenes, onde avistamos do alto muitos pelicanos, alguns leões marinhos e grandes concentrações daquelas algas que encontramos na areia da praia de Rañaca quando, sem querer, chegamos num elegante balneário. Tratava-se de Concon que é uma comuna (subdivisão) da província de Valparaiso. Saltamos do ônibus no ponto final e caminhando, enquanto alguns garçons nos abordavam na rua para divulgar cardápios dos restaurantes, fomos conhecer uma praia que em nada se parecia com as que acabáramos de passar e que não nos aguçou a curiosidade, mas já que estávamos ali, resolvemos conhece-la. Eis que duas agradáveis surpresas estavam reservadas naquela humilde colônia de pescadores! Um bando enorme de pelicanos começou a nos sobrevoar. Sem saber o porquê, simplesmente registramos algumas fotos. Segundos depois um senhor de aproximadamente 80 anos e nome bastante estranho, mas que não me recordo, nos chamou e disse que estavam sobrevoando, pois sabiam que ele estava levando restos de peixes para atirar na beira da praia e nos convidou para acompanha-lo. Ao atirarmos os restos de peixes aconteceu a primeira surpresa que foi ver meu filho rodeado de enormes e agitados pelicanos em busca de comida. Estavam tão próximos que chegavam a assusta-lo, mas lhes proporcionaram enorme satisfação, pois era a primeira vez que ele via pelicanos livres e tão próximos. A segunda boa surpresa foi um ótimo e econômico almoço que saboreamos naquela praia, afinal ainda não tínhamos degustado frutos do mar até auele momento o que foi muito bem vindo. Por apenas 4.000 pesos chilenos, algo em torno de R$ 20,00, que surpreendentemente consistia em vários pratos típicos daquela região: Paella Marinha, Chupe de Marisco (delicioso), empanados (pasteis) de marisco e file de peixe com batatas fritas, acompanhados de um copo de Pisco Sour chileno – bebida parecida com caipirinha. Foi ótimo! No início da tarde retornamos contemplando as belas praias e a orla marinha que interliga ConCón à Viña. Foi nesta tarde que levei meu filho para conhecer aquela que foi uma das mais agradáveis surpresas que reservara nesta viagem, o Museo fonck. Como ele preferiu que eu não o revelasse onde, como, porque e quando iríamos ou o quê faríamos, falei-lhe apenas que conheceríamos um museu muito interessante sem, claro, revelar-lhe sua especificidade, mas comentando que na parte externa do museu havia um dos dois únicos moais (estátua rapa nui) originais que estão fora da Ilha de Páscoa, a mais de 3,5 mil quilômetros da costa chilena. O Museo Arqueológico Francisco Fonck reúne várias coleções antropológicas dos vários povos primitivos que viveram no Chile e outras relacionadas à fauna do país. Os dois salões são subdivididos em salas que reúnem utensílios das etnias que viveram 08 a 12 mil anos atrás, esqueletos mapuches (um dos povos mais resistentes à conquista espanhola e incaica), coleção de peças da civilização rapa nui, que habitou a ilha de Páscoa desde 300 d.C, totens de madeira que representavam os espíritos ancestrais de cada clã mapuche, anzóis de pesca da cultura rapa nui, feitos de ossos humanos de pescadores falecidos, animais empalhados da fauna chilena e o que mais aguçou a curiosidade de meu filho, e disso eu já sabia, enormes coleções de insetos que compõem o ecossistemas de diversas regiões do Chile. Dylan não sabia ao certo o que fazer ou ver. Saiu fotografando todas as vitrines de insetos que via pela frente. Observou e leu cada detalhe de cada coleção. Olhava-me com um olhar diferente como que agradecendo a surpresa, fato que deixou-me bastante satisfeito e certo de que valeu a pena leva-lo nesta aventura que ainda tinha muito a ser explorada, afinal, entre tantas outras coisas a conhecer ainda faltava atingir o principal objetivo que era ver, pisar, rolar e tocar à neve. Não da forma que vimos e tocamos quando paramos na fronteira da Argentina com Chile para registrar os passaportes, onde a neve estava suja devido ao tráfego de carros, ônibus e caminhões sem contar que ficamos apenas dois minutos fora da aduana, mas sim em neve branquinha, limpa e volumosa que é o que esperávamos encontrar na Alta Montanha em Santiago do Chile. No caminho que percorremos a pé até a estação de metrô para irmos à Valparaíso, ainda extasiado com o que acabara de ver, meu filho foi se soltando e me confidenciou que um de seus sonhos é criar um museu, mas ainda estava incerto sobre o que exatamente. A estação que fica defronte a Quinta Vergara é uma das mais organizadas e limpas que conheço. Tomamos o metrô e 15 minutos depois já estávamos em Valparaíso. Nos dirigimos a Praça Sotomayor onde encontraríamos um guia que nos conduziria a um tour por Valparaíso, indicado por um dos atendentes do hostel Kalagen onde estávamos hospedados em Viña del Mar. O tour sairia às 15h e enquanto sondávamos a praça à procura do guia vimos duas mexicanas com o mesmo panfleto nas mãos e resolvemos aguardar com elas. Faltando cinco minutos para o horário programado as mexicanas resolveram não aguardar mais e deixaram a praça. Eis que cravados 15h chegou uma mocinha identificando-se como a guia. Acertamos os preços que ficou em R$ 40,00 os dois, mas que só seriam pagos se gostássemos do passeio, e demos inicio ao tour, quando juntou-se a nós um jovem casal de alemães. Para nossa surpresa o tour seria realizado a pé e levaria quase 4 horas! A praça Sotomayor, ponto de encontro e partida do passeio realizado pela Tours 4 Tips é extremamente bonita e curiosa, muito embora não possua uma só árvore, característica de muitas praças dos países andinos. Esta é a principal praça de Valparaíso que foi o local das primeiras construções da cidade. É nela que se encontra a Armada Chilena (Marinha Chilena) instalada num lindo e imponente prédio de arquitetura exuberante que a meu ver é o mais bonito da cidade. Em seu entorno também foi construído um enorme monumento em homenagem aos heróis de Iquique que é, na verdade, mais que um simples monumento, ou seja, possui um mausoléu subterrâneo onde estão enterrados os combatentes da batalha final da Guerra do Pacífico. Deixamos a praça em direção ao porto e depois tomamos um funicular para subir o Cerro Alegre de onde obtivemos uma linda vista da cidade. Ao circularmos as inúmeras ruelas de Valparaíso e prestigiar a arquitetura das igrejas, restaurantes e casas que foram construídas com restos de contêiners e pintadas com restos de tintas das embarcações, encontramos inúmeros grafites nos muros e paredes que creio ser incentivado pelos governantes locais, tamanha quantidade espalhada por toda a cidade. Segundo a guia é em Valpa, como é conhecida entre a geração mais jovem, da mesma forma que Sampa (São Paulo) e Floripa (Florianópolis), que encontra-se o maior grafite do mundo o qual pudemos conferir e não discordar, pois é demasiadamente grande. Descemos o morro, tomamos um troller-bus (ônibus elétrico) e nos dirigimos ao Cerro Concepcion onde finalizamos nosso tour na casa/bar de uma amiga da guia com um delicioso chá e uma vista bacana. Ali ficamos alguns minutos conversando com os alemães e trocando endereços eletrônicos para futuros contatos, pois ficaram muito interessados em conhecer Santa Catarina quando lhes comentamos sobre Joinville e Blumenau (colônias alemãs do estado) e principalmente quando mencionei que é em Blumenau que se realiza a segunda maior festa do Chope do mundo, a Oktoberfest. Por conta do cansaço físico deveríamos ficar em Valpa ou retornar apenas à Viña del Mar, mas para ganhar tempo, apanhamos nossas mochilas no hostel e, de ônibus retornamos a Santiago. Tarde da noite, encontramos certa dificuldade para conseguir um hostel no local que paramos e para isso precisamos andar com as mochilas nas costas por quase duas horas até que nos hospedarmos num Hostel que dispunha de apenas um quarto por apenas uma noite. Não tinha como deixar de ficar, mas ainda precisávamos jantar. Para desespero do Dylan, que queria porque queria um hamburguer do Burger King, resolvi ir numa pizzaria próxima ao hostel e deixar o fast-food para o dia seguinte. Assim, quarenta minutos depois já estávamos de volta ao hostal. O Dylan já estava dormindo quando resolvi reavaliar nosso roteiro para o restante da viagem e constatei que seria interessante aumentar a nossa estada em Santiago tendo em vista tudo que relacionara para conhecer e fazer. Resolvido à questão do roteiro, adormeci, mas não sem antes dar um carinhoso beijo em meu filho e dizer-lhe ao “pé do ouvido” o quanto o amo e o quanto estava feliz em compartilhar com ele aquela experiência que esperava fosse uma grande e boa lembrança em sua vida. Naquele momento pensei muito em minha esposa e na minha filha e em quanto gostaria de compartilhar aqueles momentos com ambas. Rezei para que tudo estivesse bem com elas, pois não conseguimos nos falar naquele dia tão corrido. No entanto, muitas surpresas ainda nos aguardavam no dia seguinte quando exploraríamos ainda mais a cidade de Santiago do Chile. 5º dia - 13-07-2012 (sexta-feira) Santiago, Chile Conhecendo Santiago do Chile Sexta-feira treze, acordamos sem dar a mínima às superstições inerentes à data, apenas pensei em retornar à rodoviária para alterar a data das passagens para Mendoza o que foi feito sem nenhum problema, mantendo, para nossa alegria, as mesmas poltronas, ou seja, à frente da parte superior do ônibus o que nos garantiria uma excelente vista da Cordilheira dos Andes quando estivéssemos retornando à Argentina. De lá, embarcamos noutro metrô e fomos direto pro centro de Santiago, onde paramos na estação Universidade de Chile, próxima à avenida Ahumada que é um dos calçadões de Santiago. Perto dali, fomos direto à Praça de Armas que é o centro nevrálgico de Santiago. Lá estão ubicados (localizados) lindas construções Nacionais como os Correios, o Museo Histórico Nacional, a Catedral Metropolitana de Santiago que, independentemente de crenças religiosas, merece ser visitada tamanha a sua importância, herança da colonização espanhola. No local ainda pode-se contemplar a (Municipalidad) Prefeitura Municipal e os monumentos em homenagem a Pedro Valdívia e aos incas o qual foi curiosamente esculpido numa enorme pedra e, claro, muito comércio, bancos, casas de show, restaurantes, mas menos Burger King. Contornamos toda a praça e seus atrativos e em seguida incentivei Dylan a fazer uma caricatura com um dos muitos artistas de rua que se utilizam da praça para “ganhar a vida”. O resultado não foi dos melhores e meu filho queria que o desenho fosse tacado no lixo, pois mais pareceu a fusão do Gustavo Kuerten (tenista catarinense) com Bart Simpsons (filho de Homer e Marge do desenho animado da TV americana). Claro que não taquei fora, pois serviria para chacoteá-lo quando mostrasse aos familiares e amigos. Resolvemos sair à “caça” de um Burger King, pois já passava do meio dia quando, enfim, encontramos um e meu filho pode matar a vontade de comer uma hamburguesa (hamburguer) tamanho família e saciar sua vontade e parar de encher a minha paciência. Realizado seu desejo seguimos para o Palácio La Moneda que é um dos principais pontos turísticos de Santiago, entretanto, particularmente, não vi nada de extraordinário. No subsolo há o Centro Cultural Palácio de La Moneda com um museu e um grande espaço com lojas e exposições de artes que naquele dia estava tomado por crianças de algum colégio local de forma que passamos muito rapidamente, pois ainda tínhamos que conhecer o Cerro San Cristóbal. Visto o local sem muita demora e registradas algumas fotos externas tomamos um outro metrô e fomos ao cerro onde nos deparamos com uma enorme fila. Enquanto aguardávamos na fila, meu filho que a todo tempo e tudo que via lembrava de sua mãe e de sua irmã, num gesto que muito me agradou, escolhia uma lembrança para elas. Aproximadamente uma hora depois enbarcamos no funicular que deixa os turistas no alto do morro onde visualizarmos Santigago do alto. San Cristobal é um grande morro muito próximo ao Centro de Santiago. Pode-se optar por conhecer ou não o zoológico o que encaresse em muito o passeio. Optei por não conhecer por três motivos: o primeiro era o preço; o segundo o pouco tempo que dispúnhamos e o terceiro era o fato de que conheceríamos o zoológico de Lujan na Argentina que prometia ser um dos pontos fortes da viagem, coisa que confirmou-se depois de conhecermos. O Cerro San Cristóbal, com quase 1000 sobre o nível do mar, é lindo e merece estar entre os pontos turísticos a serem visitados em Santiago. Juntamente com o Cerro Tupahue, Chacarillas, Los Gemelos e La Pirâmide, faz parte do conjunto de montanhas que formam o Parque Metropolitano de Santiago, o maior parque urbano do Chile e um dos maiores do mundo. Caminhamos muito, brincamos, lanchamos, tomamos sorvete, registramos inúmeras fotos e contemplamos com muita satisfação a linda vista de Santiago do Chile. Percebe-se, do alto do morro, o quanto a cidade é poluída. Uma “névoa” de poluição paira sobre a cidade que fica entre grandes montanhas nevadas o que impede a circulação do ar contribuindo com a poluição no local. No entanto nada disso impede ou altera a satisfação de se estar lá e poder visualizar Santiago como um todo, ou seja, 360°. A noite dava o ar da sua graça de forma que tínhamos que retornar ao hostel para apanhar nossas mochilas e sair à procura de um outro local para nos hospedar, pois conforme dito pela atendente não havia mais quarto disponível para aquela noite. La chegando conversamos com Diogo, um brasileiro que nos informou que acabara de surgir um quarto por apenas mais uma noite, porém com uma única cama de casal, coisa que em nada nos incomodou. Devidamente hospedados refiz o roteiro, mantendo o dia seguinte para conhecer a Alta Montanha (imprescindível). Com isso, retornamos à rodoviária para alterar mais uma vez as passagens, pois pensei que o que fizemos naqueles dois dias juntamente com o que faríamos no dia seguinte, estava de bom tamanho. De todo o roteiro que planejara para Santiago deixaria de conhecer apenas o mercado público (que dizem valer a pena conhecer) e o cerro Santa Lucia (idem). Contudo, entendi que não valeria ficar mais um dia em detrimento destes dois pontos turísticos o que nos garantiria um dia em Montevidéu no Uruguai, última cidade a ser conhecida nesta viagem. Depois da rodoviária fomos dar umas voltas para conhecer as redondezas do bairro onde estávamos quando encontramos um restaurante de comidas japonesa e entramos. O Dylan comeu um temaki enquanto eu o observava comer aquela comida que ainda não tinha me despertado a vontade de experimentar. Bem adaptado a comer comidas japonesas o garoto degustou com propriedade dois temakys me afirmando, para a minha surpresa, que volta e meia almoça com amigos num restaurante japones em Florianópolis. Voltamos para descansar daquele maravilhoso dia onde conhecemos Santiago do Chile, coisa que a muito estava em meus planos. No dia seguinte, cedo, subiríamos à Alta Montanha para definitivamente ver e tocar em neve propriamente dita. Barriga cheia, banho tomado, nos acomodamos naquela cama que nos pareceu bem confortável devido ao nosso cansaço. Enquanto conversavamos sobre nosso dia e sobre as expectativas para o passeio do dia seguinte, o qual não me contive, e comentei com Dylan o que programara para o nosso sábado em Santiago. Depois de guardar as novas folhas de árvores que catara entre as páginas de uma revista passou a ouvir suas músicas enquanto eu escrevia este relato e degustava uma garrafa de vinho chileno que comprara antes de voltar para o hostel. 6º dia - 14-07-2012 (sábado) Santiago, Chile Neve! Muito cedo depois de um café da manhã “mais ou menos”, mas ainda antes mesmo do sol raiar, lá estávamos tomando um metrô em diração loja da Sky Total para comprarmos as passagens e seguirmos rumo a El Colorado. A estrada que leva às estações de esqui é impressionante em função das diversas curvas. São quarenta até El Colorado e 60 até a Alta Montanha! Uma vez que Farellones estava interditado devido a pouca neve naquela estação de esqui, optamos por El Colorado seguindo orientações de mochileiros e dos atendentes da Sky Total que nos garantiram que é mais apropriada para turistas ou iniciantes do esporte, enquanto que a estação da Alta Montanha é para profissionais do esporte. Antes das dez horas já estávamos em El Colorado. Compramos os ingressos que tem preços diferenciados para esquiar ou apenas contemplar o local. Para praticar o esporte o valor é superior, pois alem de poder subir e descer a montanha pelos teleféricos, dá direito a toda a parafernalha, ou seja, sky, botas, luvas, óculos, capacete, bastões, etc. Já, para quem quer apenas conhecer o local, o ingresso dá direito apenas a subir (uma vez) e descer (uma outra). Por mais que eu insistesse com meu filho para esquiar, coisa que não aceitou, decidimos por apenas contemplar aquele local surreal envolvido em neve e rodeado por montanhas. O local me remeteu a uma sensação ainda não sentida, muito mais extasiante que a que vivi no Chacautaya, glacial que conheci quando estive, em 2011, em Los Altos na Bolívia. Maior que qualquer satisfação particular foi sentir a emoção daquele garoto que tanto queria ver neve. Sentir sua satisfação e poder perceber o quanto valeu chegar ali. Não sei afirmar ao certo se ele ficou mais emocionado com os insetos do Museo Fonck ou com aquele visual impar que com meus quarenta e quatro anos ainda não tinha tido a oportunidade de conhecer. Embarcamos num dos muitos teleféricos que, sem saber, dava diretamente nos únicos três restaurantes da montanha e subimos contemplando extasiádos repito a surreal paisagem do local. Nada se via senão brancas montanhas e pontinhos pretos riscando a neve enquanto desciam rapidamente a montanha. Eram adultos e crianças, homens e mulheres, jovens e idosos numa sincronia perfeita praticando esqui e se divertindo montanha abaixo. Aquela brincadeira toda teve um custo que não foi muito agradável, pois quando se sente-se explorado, ou melhor roubado, as coisas mudam de contexto. Digo isso, pois não há muitas opções para se alimentar na Alta Montanha. Há apenas três pequenos restaurantes, cada um com um tipo de prato e o pior todos com preços obsurdamente semelhantes, formando uma espécie de cartel. Ou você come uma simples tigelinha de seviche, ou um espetinho de carne, ou um hamburge. O problema não está nas opções e sim nos preços das mesmas, ou seja, em média quarenta reais. Sim, quarenta reais (!) por um pequeno prato de seviche, ou um espetinho de carne, ou um simples hamburgue que tem seu preço diferenciado se o cliente solicitar uma fatia de tomate e/ou uma de queijo, e/ou uma de presunto. Como chegamos cedo e retornaríamos somente às 17h não tínhamos outra opção, senão, comer uma daquelas opções. Opatamos pelos hamburgues. Então, lá estávamos, eu e Dylan, degustando um lanche, num lugar extremamente exótico, a mais de 2500 metros sobre o nível do mar, a céu aberto, numa montanha encoberta de neve. Continuamos naquela montanha pelo resto da tarde e tínhamos que inventar o que fazer, então fomos até um dos extremos da montanha, onde havia uma demarcação proibindo a passagem devido a possíveis avalanches, sentamos numas pedras isoladas de tudo e de todos, conversamos, brincamos de guerra de neve e tentamos, sem êxito, montar um boneco de neve. Em outro momento, agora mais próximo dos restaurantes, quase que deixo meu filho órfão, quando o pé da cadeira que eu estava sentado contemplando aquele incrível visual afundou e despenquei na neve e quase rolei morro abaixo, flagrado pela câmera que acabara de acionar para registrar nossa foto, proporcionando boas gargalhadas de meu filho. Por volta das dezesseis horas embarcamos no teleférico e descemos a montanha. Lá embaixo, aquecidos por uma espécie de lareira a céu aberto, tomamos um chocolate quente no Café Valdes, uma renomada cafeteria da Colômbia, até que a van voltou para nos apanhar e nos deixar na sede da Sky Total. Com o frio e os pés completamente molhadas de tanto andar e brincar na neve o Dylan começou a apresentar sintomas de gripe. Compramos uns antigripais, umas guloseimas e refrigerantes e retornamos ao hostel pensando em descansar, pois no dia seguinte bem cedo retornaríamos à Argentina. As escadas e o assoalho do hostel eram de madeira de forma que fazia muito barulho cada vez que uma pessoa passava pelo corredor. Isto foi o motivo da nossa insônia e de grande discussão com um grupo musical local que estava hospedado no final do corredor do mesmo andar do nosso quarto. Os caras subiam e desciam o tempo todo produzindo grande ruído com suas botas de salto de madeira. Noutros momentos chamavam uns aos outros no andar debaixo e isso foi até as duas da manhã quando, de cueca, saí no corredor e “descasquei o verbo” gritando: - O que ostes estão pensando - Ostes não estão solitos a cá - Tengo compromisso temprano - Pelo amor de Dios Segundo meu filho até quem não acordou com o barulho deles acordou com meus gritos. Os rapazes se aquietaram de vez e voltamos a dormir até às seis horas da manhã. 7º dia - 15-07-2012 (domingo) Santiago, Chile / Mendoza, Argentina Cordilheiras dos Andes II O sol ainda não tinha dado a ar da graça quando deixamos o hostel e seguimos para o metro, que segundo um polonês “tapado” que trabalha no hostel, abriria a partir das 07h. Como estava fechado e com pouco tempo que tínhamos para chegar no rodoviária, tomamos um táxi e, “encima do laço” conseguimos embarcar no ônibus para Mendoza e mais uma vez subir a Cordilheira dos Andes, o que nos daria a grata satisfação de poder contempla-la novamente, em especial os Caracoles. Em poucas horas deixáramos o nível do mar e estávamos a mais de 3100 metros de altura viajando entre picos nevados, por uma estrada que parece contorcer-se entre as montanhas como serpente procurando uma saída, ziguezagueando as encostas, entrando e saindo de túneis e proporcionando uma agradável sensação que limita a coragem do medo e a segurança da insegurança. Entre os túneis que passamos destaco o Cristo Redentor de Los Andes construído em 1980 a 3175 msnm com mais de 3 km de comprimento, sendo 1564 metros em território chileno e 1516 em solo argentino. A rodovia segue quase que contornando todas as curvas do Rio Mendoza e a antiga estrada de ferro que ligava os dois países, mas que encontra-se abandonada, pois o trecho chileno foi destruído pelo governo daquele país quando da disputa com a Argentina pelas ilhas do Canal de Beagle. Na fronteira, enquanto todos cumpriam seus trâmites alfandegários, deixei a grande construção que devido ao frio e a neve é toda fechada com aberturas apenas nas entradas e saídas dos ônibus, caminhões e carros e fui num quiosque do lado de fora para comprar umas guloseimas e água. O frio e o vento eram cortantes, mas mesmo assim comprei o que buscava e uns presentinhos feitos de pedra Ônix, bastante bonitas e interessantes. Chegamos em Mendoza às 15h e saímos, novamente, a procura de um hostel o que foi mais tranquilo de encontrar. Nos hospedamos no hostel Punto Urbano, que considerei o mais familiar dos hostels que já me hospedei. Deixamos as mochilas e partimos para a bela Praça Independência que pode-se dizer ser o marco zero da cidade. Muito bem cuidada, iluminada e limpa esta praça é considerada a mais bonita e importante da cidade. Há outras tão bem cuidadas quanto, porém menores e menos expressivas que levam nome de países como Espanha, Itália e Chile. Estava acontecendo duas grandes feiras naquela praça: Uma de livro infantojuvenil e outra de artesanatos onde compramos várias outras lembrancinhas. A preocupação do Dylan para comprar algo para a mãe e a irmã realmente me surpreendia, pois queria comprar tudo que era possível para presenteá-las. Escureceu, retornamos ao hostel e, mesmo fazendo muito frio, saímos para jantar numa cantina. Ali tomei um gostoso vinho mendocino e por volta das 22h retornamos ao hostel para descansarmos de outro dia super agitado, interessante e bem aproveitado, ainda que tenhamos passado boa parte do dia dentro de um ônibus. No pequeno percurso entre a cantina e o hostel ligamos para casa quando nos surpreendemos com a angustia da minha esposa que naquela altura estava extremamente saudosa e não conseguia parar de chorar. Demos um tempo e, dez minutos depois, voltamos a ligar quando ela já estava mais tranquila e conseguimos conversar com mais calma e clareza. Mediquei meu filho que naquele momento estava altamente gripado e com febre e passamos a discutir sobre o que faríamos no dia seguinte, quando decidimos alterar a programação inicial que no primeiro dia seria participar de um tour conhecido como Alta Montanha e no segundo ir à Maipu conhecer o Museu do Vinho e algumas bodegas da região, o que veio a ser uma das coisas que de melhor aconteceu nesta viagem para, somente à tarde, conhecer com mais tranquilidade a parte central daquela interessante cidade que foi totalmente destruída por um terremoto em 1861 e reconstruída próxima ao local de origem. Hoje, a nova cidade peca no quesito segurança para pedestres, pois os bueiros por onde escoam as águas pluviais ficam expostos, ou seja desprovidos de grades, ocasionando um perigo eminentes em especial os deficientes visuais. Uma curiosidade na cidade é que as lojas fecham das 13h às 16h ou 17h para a famosa siesta, principalmente no verão quando a temperatura chega facilmente aos 40ºC, já no inverno a temperaturas chegam próximas a 0º o que era o caso quando estávamos na cidade. 8º dia - 16-07-2012 (segunda-feira) Maipu, Argentina 12 km de pedaladas Naquela segunda-feira deixei que meu filho dormisse um pouco mais devido a gripe e somente às 9h acordei-o. Depois do dasayuno (desjejum) fomos caminhando até o terminal de ônibus onde apanhamos um coletivo até a cidade de Maipu, conhecida como o berço do vinho argentino. Não sei se já estávamos no centro, pois não vimos prédios, praças ou igrejas, mas seguindo as orientações colhidas no hostel saltamos próximo a uma pequena locadora de bicicletas para alugar duas bikes para, pedalando, conhecer o Corredor Turístico - Eixo Urquiza onde se concentra, num raio de 10 quilômetros, várias vinícolas, olivícolas e o Museo del Vino (Museu do Vinho). Uma vez com as bikes e devidamente equipados com capacetes e água, seguimos o “mapinha” entregue pelo Mr. Hugo - simpático proprietário da loja e partimos para a nossa primeira parada que foi o Museu do Vinho. Aulas com um sommelier sobre história do vinho, visita aos parreirais e por último a tão esperada degustação dos vinhos San Felipe da Bodega La Rural com as Cordilheiras dos Andes como Pano de fundo, o que foi muito prazeroso e original. Na parte externa do museu há inúmeros carros e carroças antigos que acredito terem pertencido à família de San Felipe ou utilizados no transporte das uvas até à vinícola que hoje mantém apenas 10% da produção de parreirais altos, sendo todo o restante parreirais baixos, parecidos com tomateiros. Os 10% que ainda são cultivados da forma antiga são em homenagem ao falecido San Felipe. Depois da visita guiada pela Bodega La Rural, apanhamos as bicicletas e partimos para olivícola “Entre Olivos” onde com um ingresso de R$ 10,00 pode-se experimentar chocolates, paezinhos com vários tipos de azeites de oliva e mais de uma dezena de licores, incluindo o de pina colada, pimenta e absinto. Depois da degustação há uma simples e rápida passagem pelo terreno para se conhecer três ou quatro dos muitos tipos de oliveiras e uma máquina que separa o óleo das partes sólidas da azeitona, descaroçando-as e moendo a carne para extrair o azeite. Uma hora depois fomos direto a outra vinícola a aproximadamente uns 5 km de onde estávamos. Passa-se por uma avenida bonita, ladeada de Álamos, parreirais e olivais, mas muito perigosa, pois não possui acostamento adequado e nem ciclovia. O turista divide o asfalto com automóveis e inúmeros caminhões que exportam uvas, vinhos e azeitonas. Enquanto pedalava e cuidava para que meu filho ficasse bem próximo à margem da rodovia ficava imaginando como um local tão conhecido e visitado por turistas do mundo inteiro não possuía uma ciclovia adequada àquele tipo de tour que é um dos mais difundidos em Mendoza. Resolvemos almoçar na vinícola e restaurante Família de Tommaso onde descansamos, apreciamos o local e o museu para em seguida degustarmos um prato típico da região conhecido como Locro Criollo, um cozido argentino com feijão branco, carnes de porco e batatas, semelhante a Dobradinha só que sem o fato (bucho) do boi que resolvemos comer nas mesas externas da vinícola acompanhado de um suco de laranja e uma generosa taça de vinho colonial. Mesmo com a sensação de que algo estava faltando, afinal aquele é um passeio bastante romântico e digno de ser compartilhado com a pessoa que se ama o que seria bastante agradável faze-lo com minha esposa, muito embora duvide que ela compartilhe desta idéia, retornamos e continuamos a apreciar paisagens marcantes e viver um momento realmente singular, até porque compartilhar aquele momento e aquela paisagem com meu filho amado foi motivo de muita satisfação. Lembro que muitos momentos interessantes vivi sozinho nas outras duas viagens que fiz em 2010 e 2011 e que a falta da família ofuscava a alegria, de forma que naquele momento meu filho dava um brilho a mais ao passeio. Ainda que muito gripado, o que dificulta exercícios físicos, aquele garoto que pedalava ofegante a minha frente mais uma vez demonstrou o quanto era companheiro. Sem reclamar em nenhum momento seguia firme e forte em direção à outra vinícola com uma ou outra pequena parada apenas para registrar fotos do local. Há muitas outras vinícolas a serem visitadas como a Trapiche, por exemplo, mas o frio aumentava e cinco ou seis quilômetros ainda nos separavam da loja de Mr. Hugo o que nos fez, por volta das quatro horas retornar e devolver as bicicletas para seguirmos para Mendoza. Chegamos a Mendoza quando as primeiras lâmpadas dos postes já se acendiam e novamente passamos pela praça Independência e pelo agitado calçadão, que naquela hora já estava com suas lojas abertas. Substitui a medicação trocando o antigripal por um antibiótico, pois o garoto estava ficando pior e deixei-o repousar, até mesmo pelo cansaço das pedaladas, pois não estava acostumado. Com isso resolvemos jantar no próprio hostel que, como mencionei, foi um dos mais familiares que já me hospedei. Saí apenas para ligar para casa e comprar uns ingredientes para a pizza que assamos num grande forno industrial na cozinha do hostel. Degustei outro bom vinho mendocino, montei a pizza de calabresa com queijo que, diga-se de passagem, ficou ótima e jantamos na companhia de outros hospedes: uma peruana e dois irmãos rappers, chilenos que conheciam muito bem a ilha da Magia (Florianópolis). Lá pelas 21h juntou-se a nós uma família de argentinos que prepararam um assado no mesmo forno que assamos a pizza. Tratava-se de um grande pernil de ovelha com tomates, cebolas, pimentões picados, tempero verde e ervas finas o que fez espalhar um aroma agradável pelo hostel, chegando até nosso apartamento que ficava no andar acima da cozinha. Assim, depois de uma boa “prosa” com aqueles hospedes, subimos e aproveitamos para descansar daquele dia bastante cansativo, recuperando energia para no dia seguinte que, sem saber, entraríamos na maior “furada” que nos ocorreu na viagem até aquele momento. 9º dia - 17-07-2012 (terça-feira) Uspallata, Argentina Furada! Na programação que planejei antes da viagem havia um passeio que, estando em Mendoza, não poderíamos deixar de fazer. Foi um passeio que muito pesquisei na internet e muito elogiado por todos que o fizeram, então não tinha dúvidas quando a realização do mesmo. Este tour, intitulado “Alta Montanha”, implica no percurso Mendoza, Potrerillos e Uspallata, aos pés da Cordilheira dos Andes, até chegar no Aconcágua e Caracoles, sendo que, neste caso, percorre-se a mesma rodovia antes percorrida por nós tanto na ida quanto na volta do Chile. Por essa razão resolvemos não fazer o tour que além de caro levaria todo o dia e queríamos ainda conhecer outras coisas em Mendoza. Sendo assim, resolvemos apenas conhecer Uspallata que segundo informações era uma cidade tão interessante que fora cenário do filme Sete Anos no Tibet (Jean-Jacques Annaud, 1997), cujo Brad Pitt (ator norte-americano) foi o ator principal, interpretando o alpinista Henrich Harrer. A cidade mantém praticamente intactas as Bovedas utilizadas na fundição de prata e ouro que eram levados ao Chile para depois serem transportados à Espanha. Então, na manhã daquela terça-feira acordamos mais tarde do que de costume, comemos umas medias lunas, retornamos à rodoviária de Mendoza, tomamos um ônibus e partimos para conhecer Uspallata que encontra-se a aproximadamente 130 km, cerca de uma hora e trinta minutos de Mendoza para desbravar o que imaginava ser uma cidade ou, ao menos, uma vila andina com curiosidades e pontos turísticos interessantes que valessem a pena tal deslocamento. A rodovia que liga as duas cidades, o mesmo dantes percorrido para ir e voltar do Chile, conforme comentei, é extraordinário, com paisagens surreais que por si só dão à viagem um toque especial. Chegamos a Uspallata perto do meio-dia, graças a um atraso de quase 1 hora em Potrerrillo. Um tanto ou quanto decepcionados com o que vimos, resolvemos almoçar imediatamente e optamos pelo El Rancho Parrillada um restaurante recomendado por uma senhora, dona de um hotel, que abordamos para pedir informações sobre a cidade. No restaurante pedimos um churrasco completo com pauta (maionese com abacate) e degustamos ali a carne mais macia em terras argentinas. Provei também uma cerveja de 1 litro chamada Andes que me pareceu bastante saborosa e leve. Depois daquele belo almoço de fronte a uma churrasqueira, que de tão quente aquecia todo o ambiente, onde as carnes não são assadas em espetos, mas sim numa enorme grelha, fomos conhecer as famosas Bovedas de Uspallata. Estas construções históricas, data fins do século XVIII, com três enormes cúpulas interligadas, foram utilizadas pelo General San Martin para fundir metais e, com estes, produzir as armas e os canhões usados pelo exército dos Andes. Retornamos à Mendoza com uma sensação desagradável, pois Uspallata não correspondeu às nossas expectativas. Tal sensação possivelmente se deu, pois no dia anterior tínhamos passado às margens da cidade e poderíamos ter conhecido a mesma e, assim, evitaríamos aquele deslocamento ganhando mais tempo para explorar outra ou outras cidades na Argentina. Entretanto, tudo era válido e fazer aquele caminho pela terceira vez foi importante, pois assim pudemos perceber detalhes dantes não percebidos e assim, visualizar com mais percepção a natureza e aquela paisagem magnífica. Então às 18h tomamos um banho, pegamos nossas mochilas e fomos à rodoviária para apanhar o ônibus das 20h com destino a Buenos Aires. Desta forma passaríamos aqueles 1200 km, ou seja, toda a noite e possivelmente toda a manhã seguinte viajando e tentando, de alguma forma, fazer passar as horas. Para variar, meu filho iniciou a viagem lendo e assim seguiu até quase às 00:35 quando deixava-mos a cidade de San Luis à 300 km de Mendoza. Por ser noite não foi possível obter uma boa visão da cidade, mas me pareceu agradável e bastante tranquila. A tirar pelas Terrazas del Portezuelo (Centro Cívico), a impressão que se tem é que trata-se de uma cidade bastante grande, pois seu centro cívico está instalado numa obra faraônica, entretanto é uma cidade de médio porte com menos de 170.000 habitantes. Duas horas da manhã e a única poltrona iluminada era a minha. O ponto de luz clareava as páginas do livro que levei e que lia instigando o sono que não vinha. Assim, enquanto aquele silencioso o frio ônibus nos conduzia por intermináveis retas, pensava que a distância contrastava com o tempo, pois quanto menor a distância de casa, maior era o tempo que nos separava de tudo e de todos, em especial das nossas meninas. Diminuía a distância e aumentava a saudade daquela que me confessara arrepender-se de consentir a nossa partida, pois a saudade agora era dobrada, conforme me revelou em nosso último contato. Paramos numa pequena cidade para apanharmos novos passageiros. Com o barulho meu filho acordou e mostrei-lhe o quanto fria estava e a temperatura, que de tão gelada, criou uma fina camada de gelo na parte interna dos vidros do ônibus. Passadas mais alguns quilômetros e percebendo que a leitura não surtia o efeito desejado, resolvi apagar tudo e tentar me concentrar ou talvez me desconcentrar para poder dormir, pois ainda neste dia teríamos que desbravar um pouco da capital argentina, fato este que não tinha dúvidas do quanto divertido seria. 10º dia - 18-07-2012 (quarta-feira) Buenos Aires, Argentina Conhecendo Buenos Aires Uma ou duas horas depois da rápida cochilada e antes mesmo do sol raiar eu já estava contemplando as estradas que rasgavam as planícies com inúmeras fazendas e pastagens a perder de vista que antecediam a ezuberante capital argentina - Buenos Aires. Diferentemente, meu filho dormia despreocupado e largado nos dois bancos a meu lado e assim o fez até às nove horas quando já nos encontrávamos em Lujan, cidade onde viríamos a conhecer o Zoológico de Lujan que veio a ser uma das experiências mais marcantes desta viagem. Entretanto, ali estávamos só de passagem, pois iríamos direto a Buenos Aires, coisa que me arrependi mais tarde devido a distância entre as duas cidades, percurso este que tivemos que refazer no dia seguinte. Desta forma, ele nada ou pouco viu da paisagem que antecede Buenos Aires, mas optei por deixa-lo descansar até mesmo porquê lindas paisagens não lhe faltaram nesta aventura. Não querendo ser “babão”, afinal este relato é para registrar a viagem e não a relação com meu filho, contudo, não posso deixar de mencionar que esta viagem foi um estimulante para admitir aquilo que muitos pais (e mães) demoram para perceber e aceitar, ou seja, que seus filhos crescem e viram homens e mulheres capazes. Digo isto, pois além da paisagem passei a observar também aquele garotão ali dormindo. Seu tamanho, barba e, sobretudo, a sua personalidade que muito me orgulhou durante este período que passamos juntos num verdadeiro “Big Brother” itinerante. Sua personalidade aflorou, em especial, quando cometi um grande erro que foi o único momento verdadeiramente desagradável da viagem, que por uma inconsequência minha quase pus tudo a perder. Trata-se de uma passagem que ocorreu no penúltimo dia, na feira de Tristan Navarro em Montevideo, Uruguai, a qual descreverei mais adiante com todos os detalhes, inclusive os que nem meu filho nem minha esposa sabem por completo. Por volta das 10h chegamos em Buenos Aires e com o itinerário em mãos seguimos para tomar o primeiro metro com destino ao centro da cidade. A rodoviária é muito próxima a Puerto Madero que foi revitalizado e é um dos mais lindos portos do mundo na atualidade. Com a remodelação nasceu também um novo bairro que levou o mesmo nome. Naquele momento não nos dirigimos a Purrto Madero, pois estávamos com as mochilas, algumas sacolas com presentes e, sobretudo, cansados da viagem. Rolou um pequeno estresse ao procurarmos um hostel, pois os três ou quatro primeiros que encontramos, ou estavam lotados ou eram muito caros com preços de hotéis. Senti ali que aquilo poderia ser reflexo da crise financeira mundial e Buenos Aires não escapara, o que me preocupou um pouquinho, uma vez que os preços estavam exorbitantemente além dos que pesquisara na internet. Não conseguindo hostels algum, seguimos para o plano “b” e partimos a San Telmo que é um bairro muito próximo ao centro da cidade e oferecia hostels mais baratos. O bairro San Telmo é extremamente bonito, boêmio e tranquilo . Há de tudo lá e vale muito a pena hospedar-se, afinal nada fica devendo ao centro da cidade, pelo contrário há mais segurança. Mal chegamos à praça Dorrego, a mais importante do bairro, e fomos abordados por garçons apresentando vários cardápios com as mais variadas sugestões. Optamos por uma pizza que, de brinde, acompanhava uma jarra de 1 litro de chopp Quilmes. Então, em plena luz do sol e ao ar livre estávamos saboreando uma deliciosa pizza e prestigiando uma linda apresentação de tango na praça, em San Telmo. Em seguida partimos a pé e percorremos as onze quadras que separam o hostel que nos hospedamos do centro de Buenos Aires, onde exploraríamos os locais destacados no meu itinerário. Assim fomos vagarosamente desbravando cada quadra, conhecendo cada detalhe, registrando fotos de tudo que víamos de interessante e degustando sorvetes Freddo, mundialmente conhecido e o mais saborosos que já experimentamos. Seguimos as recomendações e optamos pelo doce de leite que, de fato, é uma delícia e assim chegamos à praça 25 de Mayo que é onde se concentram algumas das mais importantes atrações turísticas da cidade como o Cabildo, a Casa Rosada, a Catedral e o Banco da Nação, por exemplo. Conhecemos a praça e registramos algumas fotos. Em seguida demos uma volta completa pela Casa Rosada – Palácio do Governo de Cristina Chirchner e, sem querer nos deparamos com o Museo Del Bicentenário (Museu Bicentenário). Depois de alguns minutos no seu interior fomos caminhando até o Obelisco quando pudemos observar quão agitada é Buenos Aires. No entorno do Obelisco encontra-se de tudo e o que mais chama a atenção são os outdoors eletrônicos gigantes e iluminados que fazem o marketing de Cassinos e marcas mundialmente famosas como Mac Donalds e Coca-Cola. Ali, desistimos de realizar um tour pela cidade em função da exploração. Percebi que assim como no Brasil na Argentina os comerciantes deixam de explorar o turismo para explorarem os turistas. O fato nos levou a fazer todo o percurso planejado na redondeza a pé, o que muito me agrada devido ao fato de proporcionar um conhecimento mais ampliado dos locais percorridos. Foi desta forma que chegamos no luxuoso Teatro Cólon, principal casa de óperas de Buenos Aires e considerados um dos cinco melhores do mundo em termos de acústica. Depois passeamos por Puerto Madero aonde comprovamos o modernismo e a imponência das recentes edificações e o quanto a zona portuária com seus armazéns e cais ficou moderna e bonita, transformando o local numa orla convidativa. Os antigos armazéns velhos e decadentes foram restaurados e transformados em academias, residências, escritórios, bares, cinemas e universidades. Os dois bilhões de dólares empregados no projeto, obviamente transformaram o local que incluiu na sua revitalização a linda Puente de la Mujer (Ponte da Mulher) que passou a ser o mais novo cartão postal de Buenos Aires. Quando já estava escurecendo retornamos à linda praça 25 de Mayo e ali permanecemos um bom tempo contemplando a bela iluminação da linda Casa Rosada que alternava as cores das luzes, ofertando àquela praça uma atração à parte. Esta praça tem esse nome em comemoração a revolução de maio de 1810 que deu início ao processo de independência das colônias da região sul da América do Sul. No caminho entre a praça e o bairro San Telmo há inúmeros restaurantes, kioskos (quiosques), padarias, e bares. Os preços, como narrei antes, estavam fora da realidade e optamos por jantar no hostel. Assim passamos numa padaria e compramos suco e algumas empanadas (pasteis). Depois do banho, conversamos um pouco e saí para comprar um vinho que resolvi tomar enquanto conversava com um paulista e um goiano que estavam bebendo umas cervejinhas numas mesinhas dispostas justamente de fronte a porta do nosso quarto. Antes mesmo das 22h meu filho já estava dormindo e eu aproveitei para relatar aquele dia e depois dormir, mas a conversa e o cheiro de cigarro dos colegas brasileiros não permitiam. O quarto era o primeiro depois da recepção de forma que as chamadas telefônicas e o entra e sai também contribuíram para a atrapalhar meu sono. Enquanto ele não vinha, pensei também em conseguir um hostel “menos pior” e resolvi que acordaria mais cedo e sairia a procura de um, o que foi feito e para a nossa felicidade encontramos um que nos proporcionou muito mais privacidade, sossego e conforto. Felizmente o cansaço venceu o barulho e a fumaça e consegui adormecer pensando no roteiro do dia seguinte quando iríamos a Lojan para visitarmos seu famoso zoológico que permite a interação direta com os animais, inclusive dentro de suas jaulas. 11º dia - 19-07-2012 (quinta-feira) Buenos Aires, Argentina A África é aqui (!?) Acordei às 6h, saí do hostel e me dirigi ao hostel Nômade próximo de onde estávamos, para ver se havia vaga, pois pretendíamos mudar haja vista o barulho. O agravante também se dava pelo diminuto tamanho e pouca higiene da cozinha, além da distância entre o quarto e os banheiro que eram fora do estabelecimento, ou seja, para usa-lo tínhamos que percorrer um corredor externo que naquele frio tornava a situação bastante desagradável. Assim que retornei, acordei meu filho, arrumamos as mochilas e as deixamos no novo hostel. Partimos então para Praça de Mayo e de lá tomamos um metrô para Praça Itália que é onde se toma os ônibus para ir à cidade de Lujan onde conheceríamos o tão renomado Zoológico de Lujan. As informações eram bastante contraditórias, contudo depois de algumas perguntas conseguimos chegar ao guichê que vende as passagens. Como as postagens na Internet afirmam que necessita-se de moedas para as passagens, algumas pessoas que estavam conosco resolveram buscar um banco para efetuar a troca das notas de pesos por moedas, pois aquele guichê vendia apenas a passagem de ida. Resolvi ignorar as informações e partimos logo no primeiro ônibus e deixaria para resolver a situação no retorno, sendo que qualquer necessidade iríamos à cidade de Lujam para efetuar a troca. Entretanto, pode-se comprar o bilhete de ida naquele guichê e o retorno no próprio zoológico o que fizemos sem estresse e sem a necessidade de moedas. Aproximadamente uma hora e meia depois estávamos no zoológico. Compramos as entradas, cuja informação na internet também não condizia com a realidade, quero dizer, os R$ 70,00 pagos por pessoa soam diferente dos R$ 15,00 informado por algumas internautas no site mochileiros.com e, com o mapa do zôo em mãos, demos início aquele surpreendente passeio em meio a um cenário bastante singular. Inicialmente interagimos com alguns cavalos, dromedários, camelos e lhamas oferecendo-lhes milho que comiam com avidez em nossas mãos. Depois de alimenta-los e sermos perseguidos por gansos, patos e marrecos que ficam soltos à procura de comida, nos dirigimos à jaula de um bugio, espécie de primata neotropical que pode atingir até 9 kg de peso e 75 cm de altura onde, através de alguns comandos de seu adestrador, veio até nós, sentou-se em nossos colos e tomou leite em nossas mãos. Depois fomos até as piscinas com algumas focas que pareciam se apresentar num belo ballet aquático enquanto contorcionavam-se na água com extrema agilidade e graça, para depois, sem jeito e sem ginga, aproximarem-se das pessoas que as alimentavam com pequenos pedaços de peixes. Contudo, é claro que não selecionara aquele zoológico em detrimento ao zoológico de Buenos Aires ou de Santiago e nem percorreria 75 km para interagir com cavalos, gansos, focas ou, com todo respeito à espécie, um simples símio adestrado que alimenta-se nas mãos das pessoas. Assim, tomamos coragem e, contrariando aos pedidos de minha esposa e de uma amiga de serviço, convidei meu filho a entrar na jaula dos Tigres-de-Bengala. Eram seis os felinos naquela jaula e nem todos com cara de bons amigos, mas não nos intimidamos e, seguindo as orientações dos três adestradores, não os encaramos, não os tocamos, nem os assustamos e calmamente percorremos a jaula até nos posicionarmos atrás de um deles para registrar as fotos tão desejadas. Meu filho parecia apavorado, sobretudo por ter outros cinco tigres atrás de nós sendo que um deles encontrava-se praticamente encostado em nós. Menos de cinco minutos depois ele, assustado, pediu para sair, mas com um brilho nos olhos como que extasiado com a situação inevitavelmente surpreendente e assustadora. Resolvemos então relaxar daquela experiência e fomos almoçar. Comemos sanduíches de pão com carne enquanto contemplava-mos aquele imenso zôo com seus diversos animais e os estridentes barulhos das tiribas ou tirivas (aves) que acasalavam-se e construíam seus grandes ninhos nos galhos das árvores acima de nossas cabeças. Depois do lanche passeamos por uma trilha e alimentamos ovelhas, veados, castores, emas, entre outros animais silvestres que vivem e dividem o mesmo espaço, ou seja, uma grande área verde destinadas a estes bichinhos que enriquecem o ambiente e dão ao zoológico um ar mais selvagem tendo em vista a suposta liberdade. Em seguida alimentamos elefantes, lhamas, camelos, dromedários e dois enormes ursos brincalhões. Vimos pássaros silvestres e uma coleção de carros antigos e de guerra fruto da coleção dos proprietários. Mais tarde, depois de brincarmos com filhotes de tigres, tomamos coragem e entramos na jaula de dois leões africanos enormes. Seguindo as mesmas orientações recebidas na jaula dos tigres, ou seja, não os assustamos, não os tocamos, nem os encaramos para, da mesma forma, registrarmos lindas fotos enquanto admirávamos aqueles imensos felinos. A experiência foi extremamente positiva e a sensação é de tirar o fôlego, pois por mais alimentados que tivessem e bem domesticados que fossem, tem-se a sensação de que a qualquer momento algo pode sair errado mudando o comportamento dos bichos o que fez nossa adrenalina subir e nossos músculos ficarem tensos. Enquanto alimentava-mos um leão o outro nos rondava nos dando uma sensação de insegurança e medo. Contudo, ficamos naquela jaula uns dez minutos e registramos muitas fotografias que logo depois foram postadas no facebook de meu filho o que rendeu dezenas de comentários de pessoas e amigos curiosos com a sena e espantados com nossa coragem. Já no final, caminhando e explorando um pouco mais do zoológico, vimos alguns flamingos e resolvemos ir vê-los. Eis que ali surgiu o momento mais marcante daquele inesquecível passeio. Avistamos ao longe uma jaula com um gigantesco leão africano e um adestrador preparando suas coisas para encerrar seu expediente. Nos aproximamos pensando que aquela jaula era reservada e a entrada não era permitida, pois não havia ninguém próximo. Nos enganamos! Conversando com aquele sr., conseguimos a sua autorização e entramos na jaula. Então éramos só nós dois (eu e o Dylan), o adestrador e o leão naquela jaula. Novamente seguimos as orientações e registramos fotos fantásticas daquele magnífico animal que resolveu cooperar conosco ficando numa posição realmente imponente e majestosa como se estivesse em transe. Felizes da vida por ter atingido mais um objetivo da nossa viagem saímos do parque cansados, afinal foram mais de sete horas caminhando e explorando aquele ambiente surreal que nos proporcionou muita satisfação e uma sensação extremamente gratificante. Dizem que os animais do zoológico de Lujan são dopados e por isso não reagem às pessoas. O parque desmente este fato informando que igual aquele só existem cinco ou seis outros no mundo e afirmam que os bichos são dóceis, pois convivem desde que nascem com outros animais nas jaulas, recebem constantes visitas dos tratadores e adestradores e que são muito bem alimentados. Fato este que realmente podemos constatar, pois vê-se filhotes de leões com cachorros e coelhos, macacos com cachorros, castor com flamingo, paca com veados, avestruzes, emas e cabritos montanheses, entre outras misturas de espécies que tornando o local super sociável a todas as espécies ali criadas. Retornamos à Praça de Mayo na expectativa de presenciar o “Movimento das Mães da Praça de Mayo”. Este movimento consiste na concentração de mulheres que se reúnem defronte a Casa Rosada para exigirem notícias de seus filhos desaparecidos durante a ditadura militar na Argentina. Seus filhos eram retirados à força com a denuncia de que seus pais eram considerados subversivos ao regime militar da época, colocando-os para adoção de famílias militares. Ainda hoje, todas as quintas-feiras, estas mulheres manifestam-se naquele local na expectativa de manter viva na memória de todos os argentinos a esperança de rever seus filhos. O drama é retratado no filme La história oficial, o primeiro a vencer o Oscar de melhor filme estrangeiro. Infelizmente não chegamos a tempo de compartilhar com aquelas mulheres a dor que sentem desde 1976, ou seja, há 36 anos. Exaltos, caminhando, não por falta de ônibus ou táxi, mas sim por opção, retornamos a San Telmo e no caminho resolvemos jantar numa aconchegante cantina para depois deliciamos outro delicioso sorvete Freddo. Feito isto comprei refrigerante, chocolate e uma garrafa de vinho e retornamos ao hostel Nômade. Fazia muito frio, em torno de 3º, de forma que depois de interagirmos um pouco com uns hermanos na sala de estar, resolvemos tomar banho e descansar. Afinal aquele fora um dia atípico, de muita caminhada e descobertas que nos cansaram de forma muito salutar, o que nos levava à eminente necessidade de descansar. No quarto, meu filho, através de seu celular, publicou outras fotos dos animais do zôo, o que rendeu, conforme já mencionado, diversos comentários, em especial sobre o último leão que interagimos. Mesmo apresentando melhoras, ainda havia sintomas da gripe. Com isso mediquei-lhe mais uma vez. Conversamos um pouco e quando ele se embrenhou na internet onde conversava com seus amigos, fui pra sacada do quarto aonde fiquei registrando a passagem daquele marcante dia, enquanto degustava um bom vinho argentino e curtia aquele agradável frio de Buenos Aires. Aquele momento estava tão agradável que sequer mencionei que o planejado para aquela noite era conhecer Palermo e/ou El Caminito, coisa que deixei para o dia seguinte o que foi a melhor escolha uma vez que durante o dia pudemos conhecer lindos parques como o Rosedal e o Jardim Japonês. 12º dia - 20-07-2012 (sexta-feira) Buenos Aires, Argentina Choque de culturas Seis e trinta da manhã, o hostel estava fechado e não havia ninguém na recepção. Por esta razão, aceitamos a sugestão de uma senhoria que peranbulava de roupão enquanto fumava pelo hostel. Pulamos um janelão cuja sacada ficava a aproximadamente 1 metro de altura da calçada de passeio do lado externo para nos dirigirmos a lanchonete da esquina onde tomamos um simples café que estava incluso na diária. Lá conversamos com um casal intercultural, ou seja de nacionalidade diferente (a moça da Argentina e o rapaz da Guina Francesa) que também apresentaram o vale café e foram orientados pela mesma senhoria a pular a janela. Aproveitamos pra obter umas informações de como chegar em Palermo e o que fazer naquela última manhã em Buenos Aires. Curiosa, a moça perguntou o que já havíamos conhecido e então sugeriu que não deixasse-mos de conhece El Caminito afirmando que daria tempo de passarmos por lá para depois irmos a Palermo. Foi o que fizemos e não nos arrependemos. Em menos de trinta minutos já estávamos no El Caminito que é um bairro extremamente boêmio, com arquitetura colorida e muitas lojas, bares e restaurantes. É também onde fica o Estádio do Boca Júnior um dos maiores e melhores times de futebol da Argentina. Passeamos pelo local, compramos sulvenires, lembranças e alfajores. Registramos inúmeras fotos e fomos ao museu do Maradona que fica no Estádio do Boca. Fiquei imaginando aquele local depois de um clássico argentino ou contra um jogo do Brasil e tentei vislumbrar a loucura que dever ser. Seria preciso estar presente e, claro, sem camisa do Brasil para contemplar tamanha agitação que los hermanos devem promover naqueles bares. Em seguida tomamos um ônibus e partimos para Palermo onde conheceríamos o Parque Rosedal, o Jardim Japonês e o Planetário. Iniciamos por uma longa caminhada que teve início no Jardim Botânico, contornou todo o longo zoológico de Palermo, cruzando um enorme parque que não me recordo o nome para, então, chegarmos ao Jardim Japonês. Compramos as entradas, circulamos pelos trilhos e pontes em estilo japonês, por obvio, e contemplamos um pouco da cultura do parque, presente doado pela comunidade japonesa da Argentina em 1979. O local oferece uma casa de chá e um restaurante, além de espaços para meditações, lago, jardins seco e atividades da cultua japonesa como origami, bonsais, danças, lutas marciais entre outras atrações. O dinheiro e o tempo já se faziam curtos e por esse motivo todas as nossas atitudes seguintes foram desproporcionais ao local zen em que estávamos, ou seja, ao invés de mantermos a serenidade, fomos com pressa ao observatório, ao invés de degustarmos uma comida japonesa, comemos pão com chouriço (linguiça). Ao invés de caminharmos, corríamos... De qualquer maneira estávamos nos divertindo e tudo contribuía para enriquecer nossa viagem. Uma vez que o observatório estava fechado e só abriria à noite para apresentação de filmes voltados a observação do espaço celeste, partimos então para o Parque Rosedal com sua linda ilhota coberta de jardins de rosas entre um grande lago com pedalinhos e muitas opções de lazer. Como era dia do amigo o parque estava fechado para que as pessoas não colhessem rosas para seus amigos, de forma que as pessoas aproveitavam o dia às margens do lago fazendo pique-nique, conversando e praticando esportes. Contornamos todo o parque e tomamos outro ônibus até San Telmo onde buscamos as mochilas para nos dirigirmos a Buquebus, empresa de transporte marítimo responsável pela travessia entre Buenos Aires na Argentina e Colônia del Sacramento ou Montividel no Uruguai, nossos dois últimos destinos nesta agradável aventura e onde perceberíamos o choque de cultura que há entre um pais e outro ou de uma cidade para outra, como foi o caso de Buenos Aires e Colônia del Sacramento. Buenos Aires é fantástica! Há inúmeras coisas para se ver e fazer naquela linda cidade. A cultura é algo que flutua no ar e as opções de lazer são diversas. Os poucos lugares que visitamos serviram apenas para dar a dimensão do quanto ainda havia para ser explorado e que três dias são poucos para conhecer a capital da Argentina. Excetuando a inflação que os argentinos convivem, principalmente depois da crise financeira mundial de 2009, é uma cidade que vale muito a pena conhecer e desfrutar. De volta ao porto, aquele que foi totalmente restaurado, seguimos direto à Buquebus para comprar nossas passagens para o Uruguai. Mais uma vez quase cai pra trás ao ouvir o preço que, novamente, fora majorado pela crise e que me apanhou de surpresa como quem recebe um susto. De qualquer forma precisávamos atravessar o Rio da Prata, pois nossas passagens de retorno ao Brasil eram de Montevideo. Então, compradas as passagens, ainda tínhamos muitas horas até que o enorme navio zarpasse. Resolvemos sair do porto e fomos conhecer a piatonal (calçadão), principal artéria comercial de Buenos Aires. Tínhamos duas horas para conhecer mais um pedacinho da cidade e não perdemos tempo. No calçadão, sem bancos e com muitos vasos de flores, nos deparamos com grande excentricidade da Argentina e por que não dizer da viagem quando nos deparamos com inúmeras ofertas, propagandas, comercio, restaurantes, apresentações de arte e cultura locais e internacionais, etc. Descansamos um pouco na Praça San Martin para, em seguida, retornar à Buquebus que ficava a umas quatro ou cinco quadras do local, para fazer nosso check-in (verificação) e então embarcarmos, mas não sem antes passarmos pela polícia argentina e uruguaia para fazermos o serviço de imigração. Já começava a escurecer quando fizemos o embarque e nos acomodamos nas confortáveis e espaçosas poltronas do navio que oferece muito requinte e até um free shopp. Aquela altura nos sentíamos mochileiros de luxo, pois se utilizar daquele moderno navio e comprar lembrancinhas em free shopp de alto padrão não condizem com o tipo de viagem que nos propusemos a fazer, muito embora deixar duas donzelas em casa e não presenteá-las com um presentinho de melhor qualidade seria era coisa que não conseguiríamos fazer. Com o atraso na saída e a hora percorrida pelo Rio da Prata, chegamos à Colônia del Sacramento por volta das 21h. Seguimos diretamente para o terminal de ônibus para comprar a passagem a Montevidéu para o dia seguinte e depois, como das outras vezes, saímos pelo centro novo da cidade à procura de um hostel. Aproximadamente uma hora depois de batermos pernas e nas portas de uns três ou quatro hostels, nos hospedamos no Sur hostel que nos pareceu bom e confortável. Faziam 2º. Cansados e com frio, optamos por permanecer no hostel onde dividimos uma pizza com um uruguaio – atendente do hostel, um mochileiro paulista e duas argentinas que faziam direito e jornalismo, sendo que a que fazia jornalismo defendia uma tese sobre a evolução política do Brasil que tinha como marco principal o Governo Lula. Fogo, pizza e vinho foi a combinação perfeita para permanecermos ali conversando e trocando experiências da viagem, além de buscar informações mais precisas a respeito de Colônia del Sacramento. A curiosidade ficou por conta da forma como o uruguaio assava suas pizzas. Primeiro assou a massa para, somente depois, pôr o recheio que naquele caso consistia apenas numas bolinhas de queijo e molho de tomate. De qualquer forma ficamos ali por volta de uma hora e meia quando às 23:30 nos retiramos para descansar daquele dia bastante dinâmico, pois na manhã seguinte nossa programação seria conhecer o centro histórico da cidade e desfrutar um pouco da colonização portuguesa com estradas e casas de pedras que convivem e misturam-se a outras casas clássicas da arquitetura espanhola e, claro, a comida. 13º dia - 21-07-2012 (sábado) Colônia del Sacramento, Uruguai Cultura européia Com certo entusiasmo partimos para a nossa primeira exploração no Uruguai. O dia estava bonito e já era o 13º que não víamos nuvens. Entretanto, foi o maior frio que enfrentamos nesta viagem, cuja temperatura era mais baixa que os outros dias no Chile e na Argentina. Mal saímos do hostel, cruzamos uma avenida pouco movimentada, na qual podemos observar um ou outro carro antigo trafegando, ou melhor, desfilando com uma suave graça, destacando-se dentre os demais automóveis conduzindo-nos a uma época remota. Em seguida recebemos a companhia de quatro grandes cachorros que nos acompanhariam todo o tempo e em todos os lugares que percorremos naquela pacata e singela cidade localizada às margens do Rio de La Plata (Rio da Prata). Quem chega não imagina que aquela simples cidadela já foi palco de guerras, tratados e negociações diplomáticas entre Portugal e Espanha. Com a independência do Brasil chegou a integrar nossos domínios até que, em 1828, quando a República Oriental do Uruguai tornou-se independente do Brasil passou a pertencer ao novo país. Ao chegarmos ao simpático e histórico centrinho de Colônia del Sacramento, sempre acompanhados pelos cachorros, por um momento pareceu me faltar algo. Não sabia ao certo, mas me parecia faltar a boa sensação de se sentir a importância de poder prestigiar aquele momento, como se não estivesse dando a devida importância a uma cidade de tamanha influência histórica. Talvez esperasse mais e, por essa razão, não lhe dei, naquele primeiro momento, a relevância merecida. Talvez fosse a vontade de voltar logo para casa ou, quem sabe, o frio ou ainda por não estar compartilhando aquela cidadezinha genuinamente romântica com minha esposa. De qualquer forma dávamos início a uma busca por algo interessante que tornasse válida a ida àquela cidade. Assim, fomos percorrendo toda a orla do Rio da Prata, contemplando suas ruas de pedras e algumas casas construídas com o mesmo material, as quais foram encaixadas de forma muito peculiar. Chegamos então a um pequeno centro de informações, recebemos um mapa e constatamos que duas horas eram suficientes para conhecer todo o espaço urbano do centro histórico da cidade, já que tudo, curiosamente, encontrava-se fechado. Entretanto, Colônia tem muito mais a oferecer que uma simples caminhada. Pode-se explorar seus bons e curiosos restaurantes, conhecer os vários museus como o Museu Municipal, Museu Português e Museu Espanhol, por exemplo. Fundada em 1680 pelo militar português Manuel Lobo e declarada patrimônio Histórico da Humanidade em 1995 pela Unesco, Colônia del Sacramento ainda tem como pontos turísticos a calle de Los Suspiros, casa do vice rei, igreja matriz, praça de touros e o portal da cidade. Depois da crise de falta de espírito cultural, posso afirmar que valeu a pena sim conhecer o local, pois a cultura européia e a história andam de mãos dadas. A arquitetura portuguesa impera em cada esquina com seus casarios com lampiões ornamentais instalados até em muros. Arquitetura esta que convivem e fundem-se com casas de tijolos e telhados de açotéia clássicos da típica arquitetura espanhola. Suas árvores coloridas adornam as ruas e paredes das casas, contribuindo ainda mais com o ar romântico proporcionado por uma cidade que respeita as tradições de seus antepassados, como se tivesse parado no tempo. Não sei a razão, mas, como disse, a cidade estava completamente deserta. Andamos por todo o seu centro histórico e não encontramos mais que dez turistas e um ou dois habitantes. As casas e o comércio estavam fechados e apenas o centro de informações e dois restaurantes encontravam-se abertos. Passadas as horas que dispunha-mos, voltamos ao hostel, apanhamos nossas mochilas e nos dirigimos a rodoviária para apanhar um ônibus com destino a Montevidéo, nosso último e definitivo destino antes de retornar ao nosso querido Brasil. Assim, por volta das 14h, deixávamos a pequena e pacata Colônia del Sacramento para enfrentar os quase 200 km que a separam da capital uruguaia. Pradarias com gramíneas predominam a paisagem que chega a dar sono devido a monótona paisagem. Não há no trajeto, ou se há não percebi, qualquer curiosidade que merecesse uma fotografia. Assim, umas duas horas depois já estávamos no Centro de Montevideo. Novamente “ralamos” para encontrar um hostel o que me fez cometer o primeiro dos dois grandes erros cometidos na viagem. Por questão econômica, mais do que nunca, precisávamos nos hospedar num hostel. Além do Che Lagarto, que fica localizado na Praça Independência, mas que estava lotado e o hotel de luxo Holliday Inn, não conseguimos encontrar outras opções pelas imediações da praça. Cansados e impacientes de tanto andar, resolvemos entrar numa hospedaria (espécie de dormitório) que encontramos por acaso. Como não fazia diferença para nós, resolvemos nos hospedar. Cometia ali meu primeiro erro no Uruguai. O edifício, extremamente antigo e sinistro, parecia um castelo assombrado. O pé direito tinha uns cinco metros de altura e o corredor era demasiado estranho forrado por tapetes escarlate e ornamentado com alguns móveis rústicos e muito antigos, em péssimo estado, além de algumas relíquias como máquinas de escrever tão antigas que remeteram meus pensamentos ao século XIX quando, em 1873, foram fabricados os primeiros modelos. Precipitadamente paguei duas diárias, o que muito me arrependi depois, como se jamais fosse possível conseguir outro local para ficar no dia seguinte. De qualquer forma, garantida a nossa estada em Montevideo e com o pouco tempo que tínhamos para conhecer a cidade, resolvemos aproveitar aquele fim de tarde para conhecer alguns pontos turísticos destacados com precedência. De imediato fomos à Praça Independência que possui no seu centro uma impressionante estátua equestre com José Gervasio Artigas – militar e político uruguaio considerado herói nacional, que também pode ser acessada por escadas e possui no subterrâneo da praça o mausoléu onde é conservado seus restos. A obra, do escultor italiano Ângelo Zanelli impressiona pelo tamanho e perfeição que é percebida em todos os detalhes, tanto do cavalo quanto do herói. Sem dúvidas é a maior do gênero que já vi em todos os paises que visitei na América do Sul e Central, destacando que não me lembro de nenhuma praça importante sem uma estátua equestre com os respectivos heróis sulamericanos. Vista a praça, o calçadão e o teatro Solís, fomos jantar e resolvemos caminhar pela Avenida 18 de Julho, que é a principal da cidade, à procura de algo qualquer que nos saciasse a fome. Não muito condizente com a situação aceitei a sugestão do Dylan e paramos num Mc Donalds. Também pudera, cansados daquele dia inteiro de andanças, quando pela manhã estávamos em Colônia del Sacramento e à noite em Montevideo, qualquer fest-food da vida ajudaria a voltarmos mais cedo para o “hotel” para descansarmos. Entretanto, antes de voltar fomos conhecer um Cassino próximo ao hotel onde ficamos alguns minutos, trocamos alguns dólares e sem demora saímos, afinal não sabia e nem queria aprender a jogar, pois não poderia arriscar meus últimos trocados numa máquina caça níquel. No quarto, tomamos banho e fomos descansar, mas algo me incomodava. Refiz meu roteiro e meu pensamento insistia em lembrar do bar Fun Fun que me fora muito bem recomendado. Neste bar acontece apresentações de tango (música e dança) que são realizadas num palco tão minúsculo que mal dá para se acreditar que ali um casal consegue dançar espetacularmente. Lá também é apresentada o Candonbe que trata-se de um ritmo proveniente da África e que, há mais de duzentos anos, tem grande influência na cultura uruguaia. Comentei o fato com meu filho que prontamente se vestiu e disse: “Vamos conhecer”. Rejeitei a proposta, pois ele apresentava sinais de muito cansaço, principalmente em virtuda da gripe que ainda guardava resquícios, mas logo depois ele me convenceu e fomos pro bar que fica atrás do Teatro Solís e próximo do “hotel” que estávamos. O frio mostrava suas garras parecendo rasgar nossa pele, gelando até nossos ossos, fazendo com que nossos passos fossem mais apressados na tentativa, talvez, de aquecer o corpo. No bar procuramos sentar numa mesa próxima a um aquecedor a gás, no entanto tivemos que nos retirar tamanho o calor que aquela engenhosidade fazia. Sentamos, então, num curioso banco de madeira com o encosto coberto de notas de dinheiro de vários países. Pedimos para o garçom colar uma nota de dois reais e ali ficamos aguardando o espetáculo, enquanto meu filho tomava suco de laranja e eu uma Patrícia, cerveja uruguaia vendida em litro. Em seguida o gerente nos pediu para mudarmos de local, pois aquele era exclusivo a alguém que, segundo ele, tinha lugar cativo no bar. Negociamos que assim que o cidadão chegasse nos retiraríamos sem problema algum. O show que começaria somente às 23h não foi contemplado por nós uma vez que preferi não explorar as energias do garoto que apresentava, conforme narrei, muito cansaço. Assim, retornei ao hotel pensando no dia seguinte e na proposta de participar de um tour organizado pelo hotel Holliday Inn que custaria R$ 200,00 e nos levaria à Punta de Leste passando por locais interessantes como a Casapueblo que é um luxuoso hotel e museu construído pelo renomado artista uruguaio Carlos Paez Vilaro. Então enquanto tentava dormir resolvi decidir o itinerário do dia seguinte somente quando acordasse, de forma que escolheria entre o tour e conhecer um pouco mais do centro da capital uruguaia. Entre a segunda opção sobressaiam-se o almoçar no Mercado del Porto e conhecer a feira de Tristán Narvaja, onde cometeria meu segundo e maior erro da viagem. Erro este que marcou a viagem negativamente e que espero que meu filho se esqueça e me desculpe pelo acontecido, bem como, assim como eu, também absorva o ocorrido como experiência para que nunca caia no golpe que caí e nunca cometa o erro que cometi. 14º dia - 22-07-2012 (domingo) Montevidéu, Uruguai Grande e lastimável erro (último dia) Depois de arrumarmos nossas mochilas, conversamos sobre o que faríamos naquele último dia daquela inesquecível viagem. Depois de expor, a meu filho, algumas alternativas interessantes, decidimos explorar um pouco mais do centro da capital. Desde o 1º dia todas as nossas ações, conversas, passeios e experiências foram extremamente positivas e ricas em aprendizado e aproximação pai e filho. Aquele domingo, no entanto, toda aquela harmonia, intimidade e principalmente a confiança e cumplicidade formada quase se esvaiu em frações de minutos. Por um pequeno deslize da minha parte parecia que toda a fantasia colorida criada na cabeça de meu filho tornara-se monocromática, cinza. Como estávamos com pouco dinheiro, resolvemos não fazer o tour oferecido pelo hotel do cassino, uma vez que, para tanto, precisaríamos sacar mais dinheiro para podermos almoçar, jantar e tomar o táxi para o aeroporto na madrugada seguinte. Desta forma, decidimos por visitar a feira de Tristán Narvaja que acontece todos os domingos e impressiona pela extensão que vai além, aliás, muito além da Rua Tristán Narvaja. Caminhando pela Avenida 18 de julho em direção a feira, encontramos um ponto turístico que não visualizara nas minhas pesquisas sobre Montevideo, ou seja, a Fonte dos Cadeados. Diz a lenda que se prender um cadeado nas grades da fonte com as iniciais da pessoa que se ama e se um dia a levar ao local, o casal estará atado para resto da vida. O local é bastante interessante e possui milhares de cadeados de todos os tipos, formas e tamanhos. Foi uma curiosidade que valeu a pena conhecer e só aconteceu graças ao estilo que exerço nas minhas viagens: muita caminhada. Chegando à feira percebemos que a mesma se arvora por todas as ruas adjacentes, transformando-se num dos maiores mercados de pulgas da América do Sul. Ainda na Av. 18 de Julho, antes mesmo de adentrar-se à Rua Tristan Narvaja, pode-se encontrar inúmeras razões para se surpreender. Aranhas, tartarugas, cachorros, peixes, gatos, faisões, pássaros (das mais diversas espécies) e muitas outras curiosidades são oferecidas com muita naturalidade, sem a menor cerimônia e, claro, sem a mínima inspeção dos órgãos públicos. Os que mais sofrem são as galinhas, galos, pombos, pássaros e coelhos que aos montes dividem minúsculas gaiolas empoleirando-se uns sobre os outros numa tortura insuportável e cruel. Aquilo aborreceu meu filho! Ele que pretende ser biólogo se revoltou com a situação dos bichos, mas senti uma incontida vontade de comprar a tartaruga-de-esporas-africana, a salamandra, a cobra, a iguana, etc, talvez para liberta-las daqueles cativeiros. Desejo este, acalentado desde criança, mas contido, pois todos eram ilegais e certamente nos causariam problemas na alfândega. A feira me surpreendeu em todos os aspectos, pois realmente oferece de tudo um pouco. São antiguidades, móveis, louças, quinquilharias, flores, ervas, frutas, legumes, laticínios, animais e muitas outras curiosidades inimagináveis. Enquanto passávamos, íamos identificando mentalmente as barracas que voltaríamos para comprar uma ou outra lembrancinha. Pelo menos umas quatro ou cinco já tínhamos mapeado e as compraríamos no retorno. Contudo, fui do entusiasmo à desilusão em menos de 5 minutos. Eis que bem no final da feira havia uma pequena mesinha com um grupo de curiosos vendo a habilidade do feirante com o jogo dos copos. Este jogo que contém uma bolinha e três copos, consiste em descobrir em que copo parou a bolinha depois de embaralhados. Percebi que a bolinha estava no copo à minha direita e o apostador errou ao apontar para o copo do meio. Em seguida apostou novamente e ficou muito claro onde estava a bolinha, pois o manipulador dos copos não parecia tão habilidoso, mas, novamente, o apostador indicou o copo errado. Eu, em contrapartida havia acertado mentalmente onde a bolinha estava nas duas vezes que acompanhei o processo. Na sequência uma senhora apostou e, mais uma vez, eu vi e tive certeza do copinho que estava a bolinha. Meu filho que pressentiu aquilo que eu deveria ter pressentido me convidou a sairmos dali. Entretanto, resolvi, erroneamente, apostar e imediatamente fui cercado por várias pessoas que falavam muito alto e apontavam o copo aonde a bolinha estava, fato este que coincidia com a minha suposição. Tomei coragem e apostei! Meu filho me puxou e eu não quis saber. Aquelas pessoas se infiltraram entre nós afastando-o de mim, mas eu nada percebia. Diz ele que discutiu e foi empurrado. Cego! Só queria jogar. De cara, pela certeza, apostei alguns pesos equivalente a R$ 50,00 e perdi. O Dylan gritou comigo enquanto empurrava uma mulher que o impediu de se aproximar. Eu nada via. Queria apenas recuperar os R$ 50,00 perdidos. Erro fatal. Apostei a mesma quantia e desafiei a mulher a apostar comigo. Ela prontamente depositou na mesa o mesmo valor e assim apontamos o mesmo copo. Perdemos! Inconformado com a situação, pois eu vi aonde a bolinha parou, abri a carteira, que naquele momento só tinha 1000 pesos uruguaios (quase R$ 100,00), e quase recuei principalmente quando meu filho apavorado gritou comigo dizendo: “Pai isso é uma farsa! Eles estão te roubando!” Falei que iria apontar o copo e o seguraria. Naquele momento tudo passou em minha cabeça: o almoço, a janta, as lembrancinhas da feira, o táxi pro aeroporto, enfim, tudo que estava jogando fora, menos a confiança de meu filho, que àquela altura estava apavorado sem que eu percebesse. Era tudo muito rápido e confuso. No desespero de recuperar os R$ 100,00 perdidos esperei o malandro mexer os copos e pus o dedo em cima com a certeza de que era naquele copo que estava, pois ele me deixou ver isso. Mas ao tirar os últimos pesos da carteira, o desgraçado deve ter mexido muito rapidamente nos copos sem que eu percebesse. A habilidade dele falou mais alto que minhas vistas e perdi todos os duzentos reais. Tentei apelar dizendo que fiquei sem dinheiro para voltar pro hotel, que tinha que pegar um táxi pro aeroporto, etc. Nada! O cafajeste não quis saber. Derrotado, desnorteado e confuso segui meu filho que saíra em passos largos andando sem nem saber para onde. Eu pedindo desculpas, ele chorando. Eu me justificando, ele ignorando. Disse que eles o empurraram. Que fiquei cego. Que algo pior poderia ter acontecido. Que não entendia como que eu pude cair naquela armação. Que todas aquelas pessoas faziam parte de uma quadrilha. Tentei, sem êxito, acalma-lo enquanto pensava no que faria para conseguir dinheiro. Será que meu cartão funcionaria? Será que justamente agora ele apresentaria problemas? Era domingo! Será que conseguiria sacar? E o táxi pro aeroporto na madrugada? E as lembrancinhas? E o almoço? E a janta? O que fazer? Eu fiquei péssimo. Sem rumo, sem chão e sem saber ao certo o que dizer a meu filho. Pode parecer bobagem, ou exagero, mas me senti impotente diante daquela situação. Como pude ser ludibriado por aqueles uruguaios? Pensei em falar com uns policiais, mas recuei, pois estava com muitas dúvidas. De certeza, tinha apenas a decepção e a desilusão nos olhos do meu filho. Foi horrível. A feira foi um divisor de água. Me senti como se até aquele momento eu tivesse atraído todos os holofotes em minha direção e com o acontecido eu os tivesse repelido. A máquina da teimosia mói centenas de curiosos por dia e eu fui apenas mais uma vítima. Saímos da feira, sem as lembrancinhas, pela primeira rua que apareceu na frente de meu filho. Como disse: Ele na frente eu atrás. Ele chorando e eu sem palavras. Adiante avistei um banco com alguns caixas eletrônicos. Entrei. Pus meu cartão na máquina e ansioso tentei sacar alguns pesos. Segundos depois, os pesos correspondentes aos R$ 200,00, necessários para aquele dia, estavam em minhas mãos. Acredito que nunca valorizei tanto o dinheiro uruguaio. Escondi a realidade e para não decepciona-lo e não preocupa-lo ainda mais, disse-lhe que recuperara parte do dinheiro e que perdera apenas R$ 50,00. Assim, num clima nada agradável e muitas desculpas depois tomamos um ônibus até a Praça Independência que era nossa baliza naquela cidade. De lá, seguimos o calçadão da rua Sarandi, que era a continuação da Av. 18 de Julho, cortado apenas pela praça, em direção ao Mercado deu Puerto, onde pretendia degustar uma costela bovina uruguaia, tomar uma cerveja e tentar esquecer por completo o ocorrido na Feira Tristán Narvaja. Quase no final do calçadão, onde já avistava-mos com mais nitidez parte do Rio da Prata, encontramos um hostel que não me recordo o nome, com uma equipe muito hospitaleira e organizada. Era por volta de 12h quando entramos para obtermos informações sobre o mesmo. Obtidas as informações, e sabendo que perderia mais uma diária, aquela que pagara adiantado à bruxa da hospedaria, resolvi fazer a troca, pois precisava tirar meu filho daquele castelo mal assombrado. Eu devia isto a mim e, em especial, a ele, principalmente depois da situação delicada pela qual o expus. Eu precisava resgatar seu entusiasmo e principalmente a sua confiança. No local em que estávamos hospedados não havia a menos chance disso acontecer. Não havia sequer internet, coisa que vinha sendo uma boa distração, pois com seu novo celular ele vinha se comunicando com os amigos. Este foi mais um fator determinante para retornar à hospedaria, pegar nossas mochilas e dar entrada naquele simpático hostel. Em seguida, ainda tensos, fomos ao Mercado del Puerto e nos acomodamos no balcão do famoso restaurante El Palenque – Parrilla / Mesón. Fazia muito frio, acredito que uns 5 graus, de forma que nos acomodamos em frente à churrasqueira onde é assado contrafilé, costela, frango, porco, etc ao vivo e em cores. A fumaça que emana das churrasqueiras e invade o ambiente é só um complemento. A comida, super saborosa, vem em porções tão generosas quanto à conta. Contudo era ali que eu tinha pensado em levar meu filho e era ali que estávamos independentes do que ocorrera ou não. Aquela altura do campeonato, meu discurso passava de lamentável para otimista. Dizia que o que ocorreu foi passado e não deveríamos pensar mais naquilo. Que valeu a experiência. Que é errando que se aprende, etc, etc, etc. Meu filho parecia mais tranquilo e até voltou a conversar comigo e a degustar aquela saborosa costela que ele apreciou, segundo ele, com o melhor suco de laranja que tomou na viagem. Tudo o que fizemos juntos até aquele último dia de viagem ficará registrado em nossas mentes da forma mais positiva possível. As brincadeiras, as surpresas, o brilho nos olhos e muitas outras coisas agradáveis que aconteceram foram momentos que valeram cada centavo gasto nesta viagem. O cansaço, a procura pelos hostels, as comidas exóticas, tudo tinha um significado especial. Tudo era surpresa, experiência adquirida. Tudo era saudade. Ao tempo em que vislumbrávamos algo, logo pensávamos nas duas mocinhas que havíamos deixado em casa. Mas o entusiasmo com que explorávamos as coisas, os lugares, as comidas, a cultura de forma geral compensavam a saudade. Dali, saímos caminhando pela Rambla (Avenida) 25 de Agosto de 1825 até à Praça Guruyú e dali rumo à Escollera (quebra-mar) Sarandi que é o ponto mais extremo de Montevideo em direção ao Rio da Prata. O dia estava ensolarado, mas fazia um forte frio e o vento que soprava era bastante intenso. Ainda assim registramos algumas fotos e ficamos observando inúmeros hermanos uruguaios pescando no Rio da Prata. Depois de algum tempo retornamos ao hostel para descansar um pouco. Mais tarde comprei umas guloseimas e uma garrafa de vinho e retornei ao hostel, pois não pretendia sair naquela noite, uma vez que duas horas da manha teríamos que embarcar para o Brasil. Defronte a lareira fiquei boa parte daquela noite refletindo sobre as agradáveis e desagradáveis surpresas daquele dia que certamente ficará registrado, enquanto degustava aquele delicioso vinho. Meu filho descansava no quarto e só mais tarde fizemos um lanche na cozinha do hostel. No horário combinado o taxista nos apanhou e nos conduziu ao lindíssimo e longínquo aeroporto internacional de Carrasco localizado no Departamento de Canelone, à leste da capital uruguaia para, enfim, retornarmos para nossa casa. Dali pra diante não incorremos em mais nenhuma surpresa, exceto a de termos que despacharmos o dragão, aquele que meu filho comprou em Mendoza, na Argentina, no aeroporto de Porto Alegre. Contudo as folhas e lembranças recolhidas ao longo daqueles dias foram preservadas e não encontramos dificuldades em decolar com as mesmas. Mas é claro que não terminaria este relato narrando o péssimo episódio ocorrido na feira. Claro que aquele lamentável momento de lapso não ofuscou todos os momentos agradáveis que juntos passamos e claro que, além desta, muitas outras aventuras hão de vir. Por obvio que valeu muito a pena ter realizado esta aventura extremamente gratificante com meu filho. Que cada dia, cada hora e cada minuto convivido com ele foi extremamente fascinante. Que cada quilômetro, cada metro e cada centímetro percorridos a seu lado foi gratificante. Viajar, a partir de agora não será mais uma aventura solitária como foi as outras que fiz pela América do Sul e Central. Ao contrário, descobri um grande parceiro e amigo. Um desbravador que, como não poderia ser diferente, assemelha-se a mim no quesito explorar. Agradeço o esforço da minha esposa em ter dado força para irmos e, em especial, por ter cuidado de nossa filha, suportando a saudade que certamente sentiu. Argentina, Chile e Uruguai foram os três países que mochilamos e desbravamos nesta aventura. Todos possuem suas belezas naturais, sua arquitetura, culinária e cultura super preservadas. Todos nos proporcionaram momentos ímpares em nossas vidas e todos certamente serão lembrados com muito carinho depois de sair “Por aí... Com meu filho”. Agradeço aos que tiveram paciência em ler este relato e espero que tenham curtido, assim como cutimos cada instante (quer dizer menos um) desta aventura. Meu filho a sua companhia foi super agradável e gratificante. Espero ter outras oportunidades para viajar com você. Te amo. Ronei Amandio. Fotos identificadas (Chile, Uruguai e Argentina) Editado Junho 21, 2013 por Visitante Citar
Membros Marcelo_Souza Postado Maio 8, 2013 Membros Postado Maio 8, 2013 Apesar de longo, um relato fantástico. Parabéns! Continue postando, de preferência com as informações mais condensadas. Abraço! Citar
Membros jcozec Postado Maio 9, 2013 Membros Postado Maio 9, 2013 Muito bom relato, li todo. Parabéns pelo filho e pela viagem Citar
Membros katieneoo Postado Maio 29, 2013 Membros Postado Maio 29, 2013 Parabéns pelo relato! E além das aventuras, o que mais me chamou a atenção foi você reconhecer que deslizou ao cair no antiquíssimo golpe da bolinha... É antigo, mas na hora você realmente fica cego, porque eles te fazem acreditar que é fácil. Além de *não* jogar, o melhor é nem parar pra ver, porque sempre tem um da quadrilha passando a mão (opa!) nas carteiras dos desatentos. Mas seu relato é muito bacana. Mais que um passeio, você estreitou sua relação com seu filho. Na próxima, leve a esposa e a filha também, e divida com a gente suas novas histórias!! Citar
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