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Caros,

Semana passada estava em Piracicaba, sem minha mulher nem meus filhos, que tinham saído de férias, quando olhei pra minha cargueira e resolvi fazer a travessia da Serra Fina na Mantiqueira. Já namorava essa travessia faz vários anos, mas nunca tinha calhado de dar certo fazer. Bom, em dois dias reuni o material de navegação necessário, chequei o equipo, passei no supermercado e pé na estrada. Já sabia que o verão não é a época recomendada pra essa trilha, por causa das tempestades que assolam toda Mantiqueira e que são ainda mais violentas acima dos 2.500 m de altitude. A previsão do tempo era de trovoadas esparsas o que achei de bom tamanho pra um janeiro...

Pra fazer a travessia estudei as planilhas do S. Beck e do G. Cavallari (publicadas), levei a indispensável carta 1:50.000 de Passa Quatro, bússola e, como estava sozinho e queria me garantir, levei ainda um GPS com WP e Tracks carregados. Desnecessário dizer que equipo completo é obrigatório em função das viradas de tempo, então é bom estar preparado pra chuva e frio. Fiz em 4 dias, mas vi que mais leve dá pra fazer em 2, encurtando o tempo entre as fontes de água. É só uma questão de balancear os objetivos de cada um.

1º dia

Entrei no carro e rumei direto pra Toca do Lobo, que tem acesso 5 km depois da divisa SP-MG de quem vem da Dutra em direção a Passa Quatro (MG). São uns 15 km de subida que como estava seco o carrinho agüentou bem, mas recomendo deixar o carro na cidade e arrumar transporte traçado pra subir a serra. Cheguei na Toca por volta da uma da tarde, enchi os cantis (3,5L) que deveriam durar até o meio do dia seguinte e peguei a trilha rumo ao Capim Amarelo. Nenhum problema de navegação. O rumo é claro e a trilha bem marcada nesse trecho. Depois de umas 5 horas e meia eum graaaaaande desnível vencido já chegava no cume, fazia a janta e caía num sono bom.

2º dia

Amanheceu com o tempo fechado, visibilidade reduzida e na descida do Capim Amarelo já percebi que o verão tinha feito sua parte e a trilha já estava mais fechada, exigindo atenção , carta e bússola na mão pra não sair do rumo. Mesmo assim me desviei e também em função de distração minha não percebi que o GPS tinha se descalibrado... bom, problema detectado, problema resolvido, trilha reencontrada. Pra temperar veio um pouco de chuva, mas, sem grandes transtornos já chegava depois de umas 5 horas na fonte d’água. Almoço farto, muita água pra dentro e encarei a subida da Pedra da Mina por mais uma hora... chegando lá em cima, recompensa merecida, vista magnífica do vale do Ruah com o maciço de Itatiaia ao fundo. Isso durou umas 2 horas até o tempo começar rapidamente a fechar e a preparar um espetáculo de tempestade!!! Foi água pra ninguém colocar defeito!!! Por precaução não tinha armado a barraquinha no cume, mas num lugar mais protegido e não tive problemas de ser carregado pelo vento e jogado lá embaixo.

3º dia

Choveu a noite toda e tinha decidido pegar a trilha de descida do Paiolinho e interromper a travessia na metade. Afinal, pai de filhos pequenos tem que se cuidar... Mas... amanheceu com o tempo bom e não teve jeito, fui puxado em direção ao vale do Ruah coberto por capim elefante com rumo marcado pra atingir o Cupim de Boi e depois o Pico dos Três Estados. O que que é esse vale do RUAH!!! Coisa mais linda, parece uma savana africana, só faltam os leões e as girafas. O capim estava exuberante e... fechado. Mas a navegação não teve complicações, mais uma vez a desatenção junto com o crescimento da vegetação faziam perder a trilha facilmente e logo me via num emaranhado de capim dificílimo de transpor. Essa é uma tônica na Serra Fina: os rumos são claros, mas fora da trilha a passagem é muito complicada. Parabéns pra quem abriu essa travessia!!! Bom, depois de um bom banho no vale e reabastecer os cantis, cheguei rápido no Cupim de Boi e logo até o Pico dos Três. Lá pelas 4 da tarde vi o tempo fechar novamente e pensei que seria prudente acampar uma hora mais pra frente num ponto mais protegido conhecido como abrigo dos bandeirantes. Fiquei por lá mesmo. E o tempo fechou mesmo. E caiu água novamente!!! ê vidão!

4º dia

Aproveitei a noite pra coletar água e me esbaldar com o precioso líquido, amanheceu tempo fechado com um tímido nascer do sol, mas mesmo assim deu pra curtir o visual com toda a Serra Fina ao fundo e a vista perfeita de Itatiaia à frente. Era meu aniversário o que deu um tempero bom pro início da manhã. O último dia tem uma descida complicadinha logo de cara, mas a direção é certa, o Alto dos Ivos, e não tem como se perder. Em 2 horas chegava lá, e logo iniciava a descida final no meio da Mata, passando pelo espetáculo do bosque das bromélias, chegando na Fazenda e logo nas amenidades da civilização. Uma carona fácil até Itamonte (sorte???) e de lá, peguei ônibus de saída pra Passa Quatro (sorte???). Em Passa Quatro contactei o famoso Cipriano (35) 3371-1660 com sua Toyota e fui resgatar meu carrinho debaixo de muita chuva e muita paz de espírito.

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Beto:

 

Parabéns pelo relato. Sintético e objetivo. Pretendo tb fazer a Serra Fina. Pelo que vc contou a travessia foi um passeio, mesmo considerando que era (é) verão, época não recomendada para a Travessia. Não pipocaram raios durante as tempestades?

 

A vantagem é que água não faltou. Vc recolhia durante a noite o que escorria do teto da tenda!

 

peter

  • Membros de Honra
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Serra Fina no verao nao é recomendavel por diversos motivos. Alem de ser ja uma travessia dificil pelo terreno muito acidentado, verao chove e nao ha visual nenhum, sem contar q a incidencia de raios na Mantiqueira aumenta consideravelmente os riscos de q te fulminem num piscar de olhos, literalmente. As montanhas rochosas de td sua extensao funcionam como para-raios naturais! Ja passei apertos no verao na Pda da Mina, numa noite com chuva e raios onde tive q dormir sentado sobre o isolante pq o chao (rochoso) tava td eletrificado devido aos raios..experiencia nada agradavel q nao recomendo a ninguem.

Particularmente, prefiro carregar peso em agua, pegar frio mas ter tempo bom pra fotos e inclusive poder navegar decentemente. A menos q vc encare no verao e tenha sorte de ter brechas de bom tempo, o q nem sempre ocorre. Serra Fina é pra ser feita no INVERNO, onde a garantia de bom tempo promete otimo visu, q é o melhor q tem lá. Mas claro, isso é opcao pessoal. Basta mensurar os pros e contras de cada estacao. Do contrario, inverno nao seria temporada de montanha.

  • Membros
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Tudo que o Jorge Falou é verdade, mas sabendo dos riscos, sempre é mais fácil se precaver... Peguei tempestades e bem elétricas, mas procurei me proteger. Quanto ao visual... tudo tem sua beleza, e poder nadar no Vale do Ruah, curtindo uma cachoeira e um solzinho, só dá pra fazer no verão, no inverno aquilo deve ficar congelado! De qualquer forma acho que mesmo que fique bem batida, a Serra Fina nunca será caminhada pra principiantes, exige-se equipamento completo, estudo da trilha e noções de navegação.

Os dados de GPS peguei na internet, só não lembro o site, repasso pra quem quiser.

  • Membros
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Conseguiu tirar fotos ?!

Você tem como postar sua planilha ou mapa demarcado e waypoints ?

Qual sua barraca, teve problemas com ela? Como se protegeu dos raios?

Valeu pelo relato.

  • Membros
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Vamos por partes...

 

Fotos?

Antes tivesse levado minha velha PENTAX totalmente mecânica! Levei uma digitalzinha super leve que pifou. Paciência... fica pra próxima.

Com relação à minha barraca, estou usando uma mini-pack da Aztek, ela tem um monte de defeitos, mas aguenta muito bem água e é leve. Pensei em levar apenas um bivak da Integral que uso de vez em quando, mas fiquei com preguiça de encarar quatro dias com probabilidade de chuva apenas em bivak... afinal, só quem já viajou com um sabe que não é tão legal ficar horas deitado, sem mobilidade, meditando, esperando a chuva passar.

O track e os wp que usei estou anexando em formato compatível com o mapsource e inclui a rota de saída pelo paiolinnho. A carta de Passa-Quatro pode ser obtida em: http://biblioteca.ibge.gov.br/, as planilhas estão publicadas:

(i) Guia de Trilhas - Guilherme Cavallari, ed. Kalapalo

(ii) Caminhos da Aventura - Sérgio Beck (manda um e-mail pra ele que ele te manda um exemplar novinho)

Não vou escaneá-las porque os caras devem ter tido um puta trabalho pra conseguir editar... melhor é comprar um exemplar novinho.

 

Quanto aos raios, vou transcrever um trecho do Beck que sintetiza muito bem o que fazer quando o negócio apertar:

 

"(...) Os raios são uma ameaça espetacular e mais fácil de compreender, e também mais fácil de evitar. Em primeiro lugar, raios não caem em qualquer lugar. Eles são atraídos por objetos proeminentes, como o pico de uma montanha ou uma árvore alta e isolada. Por isso é perigoso procurar abrigo debaixo ou próximo de tais pontos. Escolha um bosque, onde qualquer uma das árvores poderia atrair um raio e não obrigatoriamente aquela debaixo da qual você está. Afaste-se dos picos e da crista da serra.

Mas uma descarga elétrica caindo sobre um alvo também se espalha pelas imediações, e pode causar um choque perigoso mesmo a metros do ponto de impacto. Em terreno rochoso, mesmo abaixo da crista, a dissipação de tais correntes elétricas se dá pela superfície molhada das pedras, ou pelas canaletas e fissuras úmidas. Uma toca pequena entre lajotas molhadas ou mesmo uma valeta ou degrau próximos ao ponto de impacto podem ser lugares extremamente perigosos para buscar refúgio, já que a corrente pode acabar pulando pelo trajeto mais curto entre duas superfícies rochosas – através de você, usando seu corpo como “ponte”. Nesse caso, é preferível enfrentar a tempestade sentado em cima de uma pedra mais baixa enrolado no seu impermeável e afastado de pontos prováveis de impacto. O lugar mais seguro durante uma tempestade elétrica é o chão do vale, abrigado dentro da mata, entre árvores de altura uniforme. Mas se você se vir surpreendido no topo da montanha, sem tempo para escapar, ao menos afaste-se dos pontos mais altos e óbvios, bem como da borda de penhascos, dos quais você possa cair, se levar um choque, ainda que fraco.(...)”

 

até!

  • Membros
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Valeu BetoPira,

 

Vou enviar e-mail para comprar o livro.

Não consegui baixar seu arquivo do track e wp.

Pena não ter conseguido documentar em fotos essa aventura solo.

abçs

  • 2 semanas depois...
  • Membros de Honra
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Acho muito arriscado fazer serra fina no verão.

 

Além do perigo de se perder, por causa da neblina, ainda tem os raios que caem constantamente na região.

Fora que vc perde o visual lá do alto.

 

Vale a pena fazer no inverno.

Vai tá frio p/ caramba, mas sem duvida nenhuma é a melhor época.

 

 

Abcs

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