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Olá pessoal, meu relato trata da viagem de carro que fiz em dezembro de 2009 saindo de Blumenau, no estado de Santa Catarina com destino a Ushuaia, viagem que fiz sem documentos obrigatórios de identificação (identidade e/ou passaporte) para poder entrar no argentina e também no chile ou qualquer outro país do mundo. Me referi a argentina e chile porque foram os países que atravessei aduana para chegar ao destino final, Ushuaia.

 

No fim deste relato postei links de fotos e documentos que comprovam minha história.

 

Bom, um ano antes da viagem eu e 2 amigos, busa e musse (apelidos), iniciamos o planejamento da viagem, conforme organizado no decorrer do ano, partimos em viagem dia 26 de dezembro de 2009, com o objetivo de chegar em Ushuaia dia 30 e passar a virada de ano na cidade. Enfim, busa e musse tinham seus documentos todos conforme manda a lei, musse foi com a identidade e busa com passaporte, porém eu deveria ter feito uma nova identidade pois havia perdido a minha havia alguns meses e nao fiz, como nao tenho passaporte tmb nao levei. Como minha unica experiencia com aduanas até então era com a aduana de foz do iguaçu que divide brasil e paraguai, achei que identidade nao era motivo pra me preocupar, contudo levei comigo minha carteira de trabalho e minha habilitação, para ao menos comprovar que eu era eu. O carro estava com a documentação toda em dia e não era problema.

 

Saímos de Blumenau dia 26 de dezembro bem cedo, e próximo da meia noite chegamos a divisa do Brasil com a Argentina em uruguaiana, musse e busa fizeram sua documentação de entrada na argentina na aduana que nem era muito bem fiscalizada, eu poderia ter atravessado tranquilamente sem ter feito a documentação, porém devido a inexperiência e pressão de busa resolvi ir até a aduana e tentar apresentar meu documento de habilitação e alegar que perdi minha carteira durante o trajeto da minha cidade até aquele ponto.. ( que idéia estupida), o plano B era tentar subornar o cara do guichê da aduana. Então coloquei o plano em prática e expliquei a situaçao da carteira perdida para o rapaz argentino, e categoricamente ele me disse o seguinte: "aqui é a ARGENTINA, aceitamos identidade ou passaporte, se voce nao tem se resolva primeiro com seu país e depois voce volta para argentina", ele preencheu um termo, me fez assinar e basicamente me expulsou do país. Resultado: passamos a noite do dia 26 em uruguaiana, num hotel proximo a aduana, no Brasil.

 

 

No outro dia, após passar a noite em branco, pensando no que faria, resolvi ir clandestino dentro do carro e ver no que daria.

 

Seguimos viagem sem muitos problemas, me pediam identidade nos hostel`s, hotéis e essas bobagens, essas situações eu contornava facilmente com desculpas do gênero: "minha carteira esta em alguma das mochilas dentro do carro, anota ai o numero do meu Rg que quando abrirmos as malas passo aqui para apresentar o documento para voce". Eu sabia que em questão de horas trocaria o turno do recepcionista e passaria em branco e de qualquer forma eu nao passava mais que uma noite em cada cidade.

 

Quando chegamos na regiao da patagonia, começaram a aparecer fiscalizações frequentes, vistoria de alimentos, blitz militares, blitz policiais em geral, percebemos que quando éramos abordados na rodovia, somente pediam a documentação do condutor do veiculo e os documentos do carro, sendo assim eu nao dirigia, afim de evitar que me pedissem documentos, apesar da dor no estomago a cada abordagem da policia na rodovia, seguimos tranquilos até dia 30 de dezembro a noite.

 

Na madrugada do dia 30 de dezembro de 2009, estava garoando, rajadas de ventos fortíssimos e apesar de ser verão, fazia um frio de lascar, era noite, o tempo nao estava colaborando e o movimento de veiculos ser Zero. Então chegamos na nossa segunda aduana, agora argentina/chile, nessa aduana praticamente nao tive problema, fiquei dentro do carro deitado, busa e musse entraram na aduana fizeram toda a documentação necessária, voltaram para o carro e seguimos. Alguns poucos kilometros depois tomamos o ferry boat e cruzamos o estreito de magalhaes nele, seguimos pela estrada de ripío, e para sair do chile o procedimento foi o mesmo, fiquei dentro do carro, esperei busa e musse voltarem de fazer seus documentos e seguimos para a próxima aduana, que são separadas, para entrar na argentina foi um pouco mais complicado, busa voltou ao carro e me disse que viriam revistar o veiculo, então tive que sair do carro passar por trás do departamento da aduana, cuidando com barulho, para nao ser visto e segui a pé um trecho, em seguida fiquei esperando busa e musse passarem a aduana e me pegarem na estrada. Tomei o cuidado de caminhar o suficiente para que quando meus amigos parassem com o carro para me pegar nao pudessem ser vistos parando pelos funcionários da aduana.

 

Dia 31 pela manhã chegamos em Ushuaia, após 5 dias completos de viagem, somente parando para dormir e as vezes nem isso.

 

Ficamos em ushuaia 3 dias, e no dia 03 de janeiro de 2010 iniciamos o retorno, logo cedo.

 

O objetivo estava cumprido, cheguei na ponta do continente e se fosse pego na volta, paciência....

 

As coisas nao começaram boa, na primeira aduana da volta fizemos o que fazíamos normalmente, fiquei dentro do carro, e eles foram fazer a documentação, porém tudo estava pior, apesar do vento e o frio serem o mesmo, era a luz do dia, e as aduanas estavam lotadas, dia 03/01/2010 era domingo, muitos funcionarios trabalhando e alguns deles estavam fora do prédio para poder controlar a passagem dos carros e onibus que entram e saem do país.

 

Quando busa e musse voltaram com a documentação feita, seguimos em direção a chancela da aduana que estava baixada, havia uma mulher que pedia os documentos e abria a chancela após fazer a vistoria, busa entregou os documentos para a funcionaria da aduana e ela nos perguntou: "Aqui no documento diz que são 2 pessoas no veículo, porque voces estão em 3 pessoas?".

Busa respondeu com cara de bobo: "Será que eles erraram ali na aduana? , vamos voltar lá e ver o que aconteceu!"

A funcionaria da aduana abriu a chancela e disse, "nao é necessário, pode passar."

Foi o maior susto, por algum momento pensei que tinha sido descoberto..... mas serviu pra ficar mais atento, pra ver que a volta nao seria tao facil como a ida.

 

Alguns quilometros depois era a aduana para entrar no chile, e isso me preocupava, chegamos na aduana do chile, fiquei reparando de dentro do carro e vi que nao havia pessoas para cuidar da chancela, ela estava aberta permanentemente e voltei ao plano "A", ficar dentro do carro esperando busa e musse voltarem com a documentação feita e seguir viagem, pois como eu disse nao havia ninguém cuidando da chancela.

eles pararam o carro com uma certa distância da aduana, uns 50 metros, e foram fazer a documentação, volta e meia eu tentava espiar pra ver se alguém tinha ido cuidar da chancela, numa dessas espiadas puder ver musse e busa caminha em direção ao carro acompanhados de uma funcionaria da aduana chilena, nessa hora tive certeza que iria me ferrar...

 

A funcionaria da aduana era um senhora de uns 50 anos, cabelo curto e meio claro, mas nao me recordo o nome dela, ela chegou no carro e me viu "dormindo", me acordou e me perguntou o que eu fazia ali?, eu respondi que meus amigos haviam me acordado para fazer a documentação mas eu havia pegado no sono novamente, ao mesmo tempo que eu falava fui pegando minha carteira de trabalho, ela é azul, estava velha e desgastada e ja nao tinha mais o simbolo impresso que tem em cima das carteiras de trabalho e se parece muito com o passaporte brasileiro. A funcionaria da aduana me pediu que acompanhasse ela até o prédio para fazer minha documentação, busa me avisou que ja haviam feito tudo que precisavam e que iriam me esperar dentro do carro do outro lado da chancela. Dentro da aduana havia uma fila com umas 7 ou 8 pessoas, entrei na fila e a chilena ficou ao meu lado aguardando, quando faltavam cerca de 3 pessoas na minha frente, soou um chamado no radio da policial, nao consegui entender bem o que dizia, mas a policial chilena que me acompanhava na fila, me disse para aguardar ali e saiu logo após ouvir aquele recado no radio dela. Esperei alguns segundos até ela se afastar, e em passos rapidos fui até o carro onde estava musse e busa, entrei no carro e partimos o mais rapido possivel, porém a estrada é de ripio e nao conseguiamos andar a mais de 60 km/h, alguns minutos depois olhei para traz e vi que uma camioneta, vinha atras da gente muito rapida, levantando muito pó, avisei o busa e constatamos que era uma camioneta da aduana chilena ... diminuimos a velocidade totalmente pensando que se tratava da gente, mas quando encostamos, a camioneta chilena passou por nós em alta velocidade e nos ignorou totalmente,,, comemoramos novamente e seguimos, 15 minutos mais de viagem e vimos a mesma camioneta chilena dando auxilio a um peugeot 206 preto que havia capotado na estrada de ripio.

E me safei uma vez mais, contando com a sorte.

 

 

Agora só faltava uma aduana que me preocupava, era uma aduana unica para sair do chile e entrar na argentina, era grande, com muita gente, muito movimento. havia uma fila de veiculos, paramos na fila e vi que haviam pessoas na chancela, que a idéia de ficar escondido no carro desta vez seria muito arriscada, porque além de uma possível revista no veiculo ainda corria o risco de a funcionaria da chancela implicar com a quantidade de pessoas no documento divergindo da quantidade de pessoas no carro.

Desci do carro e fui passear dentro da aduana (investigar), enquanto busa e musse ficaram dentro do carro na fila de veiculos. Dando algumas voltas a pé pela aduana percebi que o banheiro é do lado argentino - depois da chancela, e que existe uma vaga ali para estacionar, bem em frente ao banheiro, aiiii me veio a ideia!!! voltei ao carro e falei para o busa e o musse procederem normalmente, para eles fazerem os documentos na aduana, deixar o carro ser revistado, seguir pra chancela, entregar os documentos e quando estivesse tudo certo, quando eles só precisassem seguir viagem, o busa deveria pedir para a mulher que fiscalizava a chancela, onde ficava o banheiro? eu ja sabia que ela iria apontar o lado argentino e a vaga em frente ao banheiro para ele estacionar, somente busa sairia do carro iria até o banheiro e eu estaria la esperando e juntos seguiríamos para carro e em seguida pé na estrada. Se a mulher da aduana reparasse em nós dois saindo do banheiro juntos, ela iria lembrar que estavamos em dois dentro do carro, e na posiçao que ela se encontrava ela iria nos ver de costas e nao desconfiaria por termos estaturas parecidas... musse ficaria dentro do carro tentando passar despercebido. na teoria o plano era muito bom, na prática foi um pouco mais conturbado...

Quando me dirigi ao banheiro para aguardar o busa dar o sinal pra gente seguir viagem, um militar chileno ficou me observando fixamente, entrei no banheiro debaixo dos olhares dele, me tranquei num box que tinha uma privada e fiquei la por uns 10 minutos, pois só me dirigi ao banheiro quando meus amigos estavam em direçao a chancela. Esse militar deve ter me observado perambulando dentro da aduana por mais de meia hora e desconfiou, enfim, quando busa entrou no banheiro me pediu pra nao abrir a boca e seguir pro carro, foi o que eu fiz, nao falei nada, nem respondi, olhei pra frente e vi o "tal" militar na porta do banheiro e entendi, passei por ele de cabeça baixa, sai do banheiro e entrei no carro. uns 2 minutos depois o busa voltou do banheiro e entrou no carro e seguimos viagem, entao busa comentou que após eu sair do banheiro aquele militar revistou todos os boxes do banheiro e lixeiros, e que quando ele saiu do banheiro o militar ainda estava la procurando algo no banheiro... 100 km/h depois ja comecei a sentir a sensaçao de alivio, de saber que só faltava uma aduana e que era com o brasil e eu nao teria problemas.

 

Foi uma experiência para vida toda, vários golpes de sorte, admito e muita adrenalina. Carrego comigo a certeza de que eu poderia tentar mais cem vezes e nao conseguiria novamente.

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  • Colaboradores
Postado

que demaaaais!

Sem lenço, sem documento! hahahahahaha

Cara, ´serio... eu admiro quem tem essa coragem toda, eu não teria, viu!

E que amigos , hein? Colocaram toda a trip em risco por ti. uou ;)

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