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O Místico Vale de Kathmandu



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Patan, a mais antiga cidade real do vale de Kathmandu

 

Depois de quase um mês na Índia, chegamos ao Nepal. O país que fica entre a Índia e a China tem oito das dez maiores montanhas do mundo e uma cultura extraordinária. Desde o começo da viagem foi destino certo no nosso roteiro. O pequeno aeroporto de Kathmandu, de tijolinho à vista, simples e com cara de anos 70, estava lotado, mas não demorou muito para nos localizarmos naquela confusão. Tiramos o visto na hora. Levamos uma foto 3X4, o comprovante da vacina de febre amarela, pagamos 25 dólares cada um e entramos no país numa boa, sem muita burocracia. Por esse valor, o visto é válido por 15 dias, tempo que ficamos no país.

 

“Vocês são Oswaldo e Stela?” Sim somos nós, respondemos ao nepalês magrinho que, ao lado de vários homens, disse que havia um carro à nossa espera. Foi uma surpresa já que não tínhamos combinado nada com o pessoal do hotel. Pegamos nossas malas nas esteiras, saímos do portão de desembarque, andamos um pouco e logo chegamos ao carro. Era um FIAT 69, pequeno e quadrado, parecia uma geladeira em péssimo estado. Antes de entrarmos fomos abordados por uns dez homens, carregadores de malas que costumam oferecer seus serviços por alguns nepalis. Não aceitamos porque já estávamos ao lado do carro. Isso é muito comum no Nepal, por ser um país pobre, sempre tem alguém oferecendo pequenos serviços desnecessários. Entramos desconfiados. Não tínhamos certeza se realmente era o transporte do nosso hotel. O carro era uma sucata com cortinas floridas. Horrível. Sabíamos que estávamos indo para o centro da cidade. O que nós não sabíamos ainda é que todos os táxis no Nepal são parecidos, antigos e caindo aos pedaços... Chegamos sãos e salvos ao nosso hotel, no bairro mais animado de Kathmandu, o Thamel, repleto de restaurantes e vida noturna, coisa que não víamos havia um bom tempo. A temporada no norte da Índia foi bem tranquila. Bares e casas noturnas não existem por lá.



Deus alado em Patan Durbar Square

Oitenta por cento dos nepaleses são hindus, porém a forte influência budista torna o comportamento social bem mais livre e parecido com o ocidental. O sincretismo religioso é uma das maiores características que tornam o Nepal ainda mais especial. Muita gente vai pra lá para estudar o hinduísmo, o budismo e o xamanismo. O turismo religioso é bem forte e é o que nós decidimos priorizar. Em Kathmandu, existem dezenas de bares com música ao vivo e uma enorme mistura de pessoas locais e turistas de várias nacionalidades que buscam diferentes experiências. Tem a galera do alpinismo, sempre equipados e vestidos à caráter. Tem os que procuram conhecer algo místico e os que vão pra lá só para curtir as baladas. Existe muita maconha e outras drogas no país. A cada esquina tem um vendedor oferecendo baixinho “Smooooke?”. A insistência exagerada perturba um pouco e chega a ser engraçada... A abordagem de pedintes e comerciantes é bem menor que na Índia. Caminhar pelas ruas não é fácil, porém bem mais agradável que no país vizinho. Os pontos turísticos e templos são incríveis, a começar pelo templo dos macacos!

 

O TEMPLO DOS MACACOS

 

O Templo Swayambhunath, considerado patrimônio mundial pela UNESCO, é um lugar de muita paz e religiosidade, cheio de macacos vivendo livremente. Eles andam aos bandos e moram na região do templo que fica no topo de uma montanha. De lá do alto, a vista panorâmica de Kathmandu é magnífica. Embora a íngreme escadaria pareça não ter fim, subir os quase 400 degraus e passar parte do dia no templo vale muito a pena. Cercado de memoriais e grandes estátuas de Buda, o acesso ao templo é uma atração à parte. Os vendedores de artigos budistas fazem uma tímida abordagem e tentam interagir com os turistas ao longo do trajeto. Chegar ao topo é gratificante (levar uma garrafinha de água é essencial). Depois do desafio demos de cara com uma enorme estupa, uma espécie de torre em formato de sino que representa a imagem de Buda e a busca pela iluminação. Ao redor da estupa, vários rituais de purificação são celebrados, pelos locais, entres mantras coloridos e incensos que esfumaçam o ambiente e se misturam no ar.

 

Os tradicionais mantras budistas lembram bandeiras de festa junina...

 

Dezenas de macacos brincam e comem as oferendas, eles não têm medo dos humanos e são pacíficos. Passamos um bom tempo observando os animais e a vista belíssimada cidade. Lá em cima tem várias lojinhas de souvenir, restaurantes, um monastério, uma biblioteca e até um hostel, para quem quiser se aventurar.

 

O vale de Kathmandu

 

Conhecida como “a cidade das artes”, Patan foi fundada em 570 DC e é a cidade real mais antiga do vale de Kathmandu. Fica a cerca de 10 Km do centro da cidade. Um táxi de Thamel até lá sai cerca de R$10,00. O palácio e os prédios públicos que permaneceram são posteriores, do século XVI. É um lugar lindíssimo, de arquitetura oriental, pagodas e templos muito interessantes. Tudo feito de pedra e madeira esculpidas, com trabalhos muito bonitos e extremamente detalhados.

 

Alguns prédios públicos estão mal conservados, outros em restauração, mas o conjunto da praça tem uma beleza única, é imperdível, um dos cartões-postais da cidade. Caminhar pelas coloridas ruas e vielas é uma volta ao passado. Muitas festividades religiosas são celebradas em Patan.

 

Celebração do dia de Shiva

 

Por sorte, nós presenciamos uma dessas celebrações, em que as mulheres andavam pelas ruas com flores, tambores e baldes cheios de grãos em homenagem ao deus hindu Shiva. A praça central de Patan estava em festa. Mulheres e crianças faziam as oferendas. Tudo muito colorido, bonito de ver!

 

Boudhanath, uma das mecas do budismo

 

Estupa construída no século XIV

Com 100 metros de diâmetro e 40 de altura, é uma das maiores e mais antigas estupas do mundo e um dos lugares mais sagrados do Nepal. É lá onde vivem milhares de monges tibetanos, refugiados do domínio chinês desde a década de 50. Eles foram e são até hoje recebidos de braços abertos no Nepal, onde vivem em harmonia, longe da perseguição política.Estima-se que por volta de 60 mil tibetanos vivam atualmente no país. Os monges vendem colares com mantras, incensos e outros artigos budistas, mas não podem tocar no dinheiro, o pagamento é deixado numa espécie de cesta ou urna pelos religiosos e turistas. Existem cerca de trinta monastérios ao redor da praça, que é bem mais calma que o centro caótico de Kathmandu. A entrada nos monastérios é gratuita, mas nem todos são abertos ao público. Nós visitamos dois ou três, onde os monges dão palestras e explicações sobre a religião considerada a quinta maior do mundo. Buda, ou Siddhartha Gautama , nasceu no Nepal em Lumbini perto da fronteira com a Índia no século V AC. Mas o budismo só foi de fato difundido no Tibete, no século VI DC.

 

A estupa de Boudhanath, com quatro olhos gigantes um para cada lado, representa a imagem de Buda e o centro do universo budista. De cima, os treze níveis que formam o templo lembram uma mandala. Segundo a tradição, para as preces serem atendidas e a iluminação alcançada, é necessário dar três voltas em Boudhanath com a mente tranquila e o coração aberto.

 

Morte e vida em Pashupatinah

 

O sagrado rio Bagmati. Local das cremações

 

Rituais de cremação ao ar livre, com fumaça invadindo o ambiente e um clima fúnebre no ar é algo que só tínhamos visto pela televisão. Sem dúvida o lugar que mais nos marcou no Nepal foi Pashupatinah, um conjunto de templos dedicados a Lord Shiva, o deus hindu que representa a morte e o renascimento. É lá o local onde dezenas de corpos são cremados todos os dias. Os rituais são realizados nos ghats, as escadarias que ficam na beira do rio Bagmati. Ser cremado lá é como ser cremado no Ganges, segundo a tradição, só assim a pessoa atingirá o Nirvana (paraíso buscado por todo hindu). Os hindus acreditam em reencarnação e na reintegração dos corpos à natureza. Assim como na Índia, no Nepal os corpos são cremados a céu aberto, para quem quiser ver. Ricos de um lado, pobres de outro. Assistir aos rituais foi uma experiência impressionante. A fumaça toma conta do ambiente é muito forte e o clima de espiritualidade nos faz refletir profundamente sobre os valores da vida e como ela é frágil e passageira.

 

Nesse mesmo complexo, em Pashupatinah, conhecemos uma nepalesa que nos ensinou sobre a história do lugar e nos convidou para assistir a uma aula de canto, dentro de um dos templos. Ganhamos chá e bolachas e foi muito bonito acompanhar aquelas pessoas cantando mantras com tanta naturalidade durante horas a fio. O professor, um homem de uns cinquenta anos, era uma figura. Fazia gestos incessantes com as mãos e cobrava empenho dos alunos...O mantra mais repetido foi o om namah shivaya, uma popular adoração a Shiva, muito utilizada durante a meditação por praticantes de yoga e por pessoas que buscam relaxamento físico e mental e até efeitos curativos.

 

O Nepal é um país rural, com forte potencial turístico, muito diferente do que estamos acostumados a ver. O choque cultural é evidente e começa a partir do momento em que se pisa no aeroporto. Ao mesmo tempo em que encanta pode assustar. Chegamos lá na primeira quinzena de agosto, período de monções - de junho a setembro - quando o calor é bem forte. Nessa época do ano, as chuvas são quase diárias (este ano foi mais seco que o normal e nós pegamos apenas alguns momentos de garoa). A capital nepalesa é uma cidade bastante suja e poluída, tem cerca de 25 milhões de habitantes e uma das maiores densidades demográficas do planeta. Incrivelmente, esses dados superlativos não diminuem o charme e o valor histórico do lugar. Os nepaleses intitulam o país como o topo do mundo. Eles possuem a mais alta cadeia de montanhas, os Himalaias e o ponto mais alto do planeta, o Everest ( 8.840 metros de altura). Só isso já é motivo de sobra para visitar o Nepal. Artigos de trekking e escalada são muito baratos, vale a pena comprar tudo por lá.

 

Onde comer em Kathmandu:

Nós adoramos o Shisha Café, um restaurante que fica no bairro de Thamel, super animado, com música ao vivo e comida típica e ocidental. Também recomendamos o italiano Roadhouse Café, que tem bom preço e ótimas pizzas. É bom tomar cuidado com a comida vendida nas ruas, tudo é bem sujo em Kathmandu. Os restaurantes mais turísticos e recomendados nos guias de viagem são mesmo a melhor opção.

Dica de massagem:

O Nepal tem forte tradição quando o assunto é massagem. É bem melhor e mais barata que no Brasil. Perfeita para depois de um dia pleno de turismo e dezenas de quilômetros caminhados. O lugar que nós mais gostamos foi o Tranquility Spa. Recomendamos a foot massage (baseada na reflexologia) e a ayurvédica que abrange o corpo todo. O Tranquility Spa tem ótimos massagistas, super profissionais.

 

 

Kathmandu, Nepal

 

Hospedagem: 25 dólares/dia - Hotel Nepalaya

Transporte: a pé, de táxi e de tuktuk

Culinária : 4 dólares por prato -

Hospitalidade do povo local:

Pontos Turísticos:

Preços:

Clima Local (média 28 graus):

Fuso Horário: 09 horas a mais em relação ao Brasil

Distância Percorrida desde o último destino: 1.100 km

Distância Percorrida desde o ponto de Partida (Lisboa): 22.406 km

 

De onde viemos: Nova Delhi, Índia ( de avião)

Para onde vamos: Pokhara, Nepal ( de ônibus)

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