Membros Guilherme_Breda Postado Fevereiro 15, 2013 Membros Postado Fevereiro 15, 2013 Grandes Mochileiros! Lá pelo dia 15 de dezembro de 2011 eu e meu camarada Marcel recebemos a notícia que deveríamos tirar os 10 dias de férias pendentes. Em meio as provas finais e com pouquíssimo tempo, estudamos alguns destinos para uma trip curta como essa e optamos por Torres del Paine que já era um sonho antigo. Já havíamos estado no Chile antes, em um mochilão que fizemos em 10 dias passando por Santiago, Pucon (subida do Villarica) até Puerto Varas. Não tivemos muito tempo para planejar, mas nos informamos sobre onde chegar para ir ao parque e o que seria necessário comprar para enfrentar as severas condições da região. Optamos por fazer o circuito W visto que não teríamos muito tempo e íamos voltar para passar o ano novo no Brasil. Compramos as passagens com saída dia 23/12 de Floripa e chegada em Rio Gallegos (ARG) dia 24/12 (pesquisamos indo para Punta Arenas, El Calafate e saindo de outros lugares do Brasil, porém o preço ficava cerca de 1500 reais acima) e a volta saindo dia 30/12 de Rio Gallegos e chegando dia 31/12 em São Paulo da onde cada um seguiu para seu destino. A viagem foi pela Aerolineas Argentinas e custou R$1200,00 com taxas. Compramos botas (Nômade), segunda pele (Quechua), calça impermeável (Quechua), toalha ultra absorvente, emprestamos blusas para extremo frio e impermeáveis com os amigos e montamos nossas mochilas de 60L. Quase todo nosso equipamento foi comprado na Decathlon, onde normalmente o preço é bem mais em conta do que os outros lugares, exceto a bota que compramos na Território, Fizemos um suprimento de comida também para os dias do Trekking baseado no que encontramos aqui no Mochileiros. Dieta a base de cereais, grãos, Miojo, salame, chocolate, frutas secas, castanhas, Whey Protein e Maltodextrina. Como somos de Curitiba, fomos pra Floripa no dia anterior ao nosso voo e ficamos hospedados na casa do nosso brother Raul. Saímos no dia mais quente do ano, 37º, dormimos no aeroporto de Guarulhos e nosso voo como de praxe atrasou , porém como tínhamos conexão de Buenos Aires até Rio Gallegos a Aerolineas nos alocou em outro voo que sairia com meia hora de atraso quando comparado ao horário correto do nosso voo. Resultado, chegamos em Buenos Aires as 12:30 sendo que o voo para Rio Gallegos era 12:15. Enquanto o Marcel esperava as mochilas eu fui correndo tentar conversar com o pessoal da Aerolineas para conseguir entrar no voo. Depois de muita correria e muito portunhol e inglês ao mesmo tempo rs, conseguimos embarcar, e quando vimos devido ao horário de verão ( que não há na Argentina) existia 1 hora de fuso e estávamos mais confortáveis do que pensávamos... mas pelo menos estávamos dentro do avião e com tudo em ordem para a trip! Decolamos e ao chegar em Rio Gallegos (16:00) sentimos realmente o contraste do clima. 8ºC e com ventos de 80Km/h congelantes, mas estávamos preparados. Nossa ideia era partir já no mesmo dia para Puerto Natales (cidade mais próxima do Parque Torres del Paine). Pegamos um táxi até a rodoviária, onde fomos procurar um ônibus (a informação na internet é escassa a respeito de horários) mas ao chegar lá descobrimos que não haviam mais ônibus indo para Puerto Natales. A possibilidade era aguardar até o dia seguinte onde sairia um ônibus as 10:00 indo pra Rio Turbio, de lá pegarmos outro ônibus até Puerto Natales e na sequencia até o Parque. Porém não estávamos dispostos a perder 2 dias (não conseguiríamos chegar a tempo de pegar o ônibus com destino ao Parque TDP em Puerto Natales, então teríamos que pernoitar em Puerto Natales). Falamos com os taxistas e eles queriam US$350 para levar-nos até Rio Turbio. O valor era muito acima do que esperávamos, porem por falta de opções já estávamos cogitando a ideia. Até que encontramos um grupo de gringos, que sugeriram a possibilidade de ir até El Calafate que fica a 50 Km de Rio Turbio, o que se tornou a melhor opção. Compramos a passagem por um valor muito barato, 11 pesos se não me engano, e enquanto tocávamos umas musicas no violão com uns hippies esperando o ônibus chegar, surge do nada, inexplicavelmente um ônibus com placa de destino Rio Turbio!! nem acreditamos quando vimos, fomos direto falar com o motorista que confirmou que o destino era aquele e falamos pra ele esperar enquanto trocávamos as passagens. Nem o funcionário que nos vendeu as passagens acreditou e foi ver com os seus próprios olhos, ele falou que aquele ônibus não era para estar ali, que ninguém tinha divulgado nem nada, mas que se tratava de um ônibus extra e não teríamos que pagar nada a mais para estar nele. Coisa linda! Ônibus leito, dois andares... Fomos de patrão, tranquilassos na primeira poltrona da parte superior, curtindo o visual das planícies patagônicas sem acreditar no que havia acontecido.. mal sabíamos que essa era só a primeira ajuda divina da trip rs... . Vale a pena comprar nesses bancos, o visual é alucinante! Chegamos em Rio Turbio as 21:30 na esperança de pegar um táxi e partir pra Puerto Natales ainda no mesmo dia. Andamos pela cidade e ela parecia deserta... quase nenhuma pessoa na rua, pra não dizer nenhuma... encontramos um segurança e ele nos fez cair a ficha do porque de tanta solidão, era 22:00 do dia 24 de dezembro!!! Nos conformamos em não conseguir um táxi e fomos atrás de um lugar pra dormir. Quando estávamos indo para um hotel que haviam nos indicado decidimos perguntar para um cara que estava mexendo em seu carro no lado de fora da casa, e ele falou que o hotel que nos haviam indicado era muito caro e que ia nos levar em um bom hotel mas por um preço mais acessível. Enquanto o Marcel hesitava em receber a carona eu já tinha jogado a mochila no porta malas e estava entrando no carro... ele entrou na onda e fez o mesmo. Confesso que pensando depois foi uma atitude impulsiva que poderia ter custado caro, mas no momento resolveu nossa situação. Entramos no carro e trocamos uma ideia com o sujeito que na realidade era paraguaio e havia se casado com uma argentina, contamos sobre a aventura e ele ficou bastante interessado. O nosso amigo de nome Miguel, muito gente fina, nos deixou na frente de uma casa de madeira, mas muito bem cuidada e devidamente enfeitada para o Natal. Batemos na porta já com as mochilas nas costas e uma senhora nos recepcionou, explicamos a situação e a mulher, mesmo meio cabreira, nos alugou um quarto por US$50, o que na atual conjuntura era excelente. Nos acomodamos no quarto e enquanto o Marcel tomava banho e eu tentava acessar a internet pelo celular, bateram na porta. Era o filho da dona da hospedaria falando que tinha alguém esperando a gente lá embaixo... Fiquei cabreiro.. mas fui lá ver qual era... quando vi era o paraguaio com uma puta caixa de papelão na mão forrada de comida e bebida! água, uma garrafa de Bud, uma de espumante.. amendoim, 2 sanduíches de queijo e presunto, miojo, ruffles, e muito mais coisa... inacreditável! mas mesmo com tanto generosidade ainda fiquei cabreiro e não quis mostrar q tinha dólares.. dei 12 reais pra ele hahaha e agradeci. Realmente um gesto exemplar do nosso amigo! Depois disso saímos dar uma volta pela cidade com as bebidas que o paraguaio nos deu... mas não sabíamos nem pra onde ir, não tinha nada naquela cidade... fomos até um posto de gasolina pedir informação e o atendente era nada mais nada menos que Ernesto Che Guevara hahaha sério.. o cara era idêntico.. vestido de guerrilheiro ainda.. uma pena mas não tiramos uma foto com esse personagem! e o bicho era sangue bom.. indicou um lugar onde poderíamos fazer uma ceia. Antes, paramos numa praça, tiramos umas fotos.. e tava um frio absurdo.. seguramente tava uns 3 a 5 graus... E quando já estávamos na rua do lugar indicado pelo Che, um carro entra numa garagem na nossa frente.. advinha quem era? El Miguelito hahaha que já desceu do carro convidando a gente pra fazer a ceia na casa dele! Desta vez nem pensamos e já caímos pra dentro da casa. Quando entramos um puta porco assado inteiro em cima da mesa, além de vários outros pratos... Aí você me pergunta, maravilha? Não, era uma merda hahaha meu senhor.. pense numa comida horrível... gelada.. pra vocês terem noção até o cachorro rejeitava os rangos ahhaha Piramos um pouco ali, trocamos uma ideia, tomamos umas geladas e tocamos umas musicas... o paraguaio inclusive deixou a gente ligar pra casa. Em algum momento o nosso amigo nos falou que não conseguiríamos táxi para ir até Puerto Natales, pelo fato de ser natal e nos ofereceu carona se quiséssemos! Esse cara é um santo! hahaha Saímos da casa dele umas 2 hrs da manhã, com ele querendo que nós dormíssemos lá... Acordamos as 5 pra ir em busca de um táxi... andamos a cidade e chegamos até a avenida principal.. .ruas desertas, e alguns táxis transitando.. porém nenhum parava para nós! Fomos no único lugar aberto da cidade, uma empresa de segurança, onda tinham 2 caras que foram muito solícitos e gente fina... os bichos ligaram para vários números de táxis... mas mesmo assim não tiveram êxito... tomamos um chimarrão com eles, trocamos uma ideia, mas a nossa missão de ir até Puerto Natales não estava concluída, já eram 8 horas e nada de conseguir táxi... eis que me lembrei que o paraguaio tinha me passado o numero de telefone dele. Sem alternativas, tivemos que recorrer ao nosso velho amigo de guerra... ele prontamente atendeu e falou que era pra irmos lá que ele nos levaria. Nos despedimos dos amigos argentinos e eles nos deram mais alguns presentes.. um Panetone típico da região e mais uns outros confeitos... Os argentinos do sul são sangue bom.. fizeram de tudo para ajudar-nos... Chegamos até a casa do paraguaio, demos o Panetone pra ele, e partimos, juntamente com a sua esposa, com destino a Puerto Natales... Passamos pela alfandega.. aquele embaço de sempre... barraram a nossa maior fonte de proteínas... o salame... além disto queriam nos cobrar uma multa equivalente a 150 dólares por termos declarado não possuir nada de origem animal e estarmos com o salame... mas o fiscal aliviou pra nós pois era natal e tal... passamos com dois pães com queijo e presunto no carro... Chegamos até Puerto Natales e procuramos um lugar para se informar a respeito de onde saiam os ônibus.. recebemos a noticia que só havia um ônibus as 19 hrs... hora que sai a ultima balsa com destino ao acampamento Pehoe (por onde iniciaríamos a trilha) entramos no carro do paraguaio e ele ficou injuriado com a noticia... e enquanto pensávamos que ele estava indo para rodoviária para comprarmos a passagem, na realidade ele já estava indo com destino ao Parque! Com a saída rápida de Puerto Natales não conseguimos alugar os equipamentos de acampamento lá, porém nos foi informado que os acampamentos possuíam estes itens para alugar. Como puderam perceber teria sido mais vantajoso comprar a passagem de avião direto para Punta Arenas ou El Calafate mesmo com o custo mais elevado, pois de lá partem diversos ônibus durante o dia com destino a Puerto Natales. Vale a pena fazer essa analise, pois em viagens o tempo é mais precioso do que o dinheiro investido. Fica como lição. Chegamos na entrada do parque e como forma de retribuir, além de pagarmos a gasolina, compramos também as entradas do parque para ele e sua esposa. A entrada custa 18000 pesos chilenos. No caminho, até onde íamos pegar o barco para ir até o Pehoe, haviam muitas alpacas e a cada uma que aparecia o paraguaio fazia uma graça. Ou tentava se comunicar, ou saia correndo atrás e em uma oportunidade quase atropelou uma, claro sem intenção. Como o catamarã sairia somente as 18:00 hrs e eram 14:00 tivemos um tempo para conhecer a parte mais “continental” do parque. O lugar é deslumbrante, ali já vimos que a viagem seria marcante. Cachoeiras como a do Salto Grande, pontes caídas, fortes ventos e diversas trilhas que levavam a vários lugares de belezas distintas. Como estávamos com eles, optamos pelos caminhos mais próximos, porém muito bonitos. Tivemos também a oportunidade de conhecer mais sobre a vegetação local e por indicação do paraguaio, saboreamos uma pequena fruta de gosto exótico chamado Calafate. Caso tenha a oportunidade aproveite para chegar mais cedo e conhecer esses lugares, pois vale a pena. Chegamos para pegar o barco, comemos um lanche e logo na entrada vimos um individuo que aparentemente havia feito a trilha. Largado, dormindo em baixo do sol, que era forte. Quer motivação maior para iniciar o circuito?! hahaha Assim que o barco chegou, nos despedimos do nosso amigo e sua esposa, e seguimos em direção ao tão esperado trekking. O catamarã é bacana, só haviam gringos quando fomos. Não recordo muito bem o custo mas era em torno de US$30/pessoa. Quando chegamos no Pehoe (ou Paine Grande) havia uma fila enorme esperando para pegar o catamarã no sentido contrário, cumprimentamos todos com Holas rápidos, saudação local. Nos informamos como seria a parte de aluguel de barracas e acessórios de acampamento e não teríamos como alugar os equipamentos em determinados acampamentos e entregar no acampamento final. Portanto teríamos que ter a sorte da disponibilidade de aluguel destes itens para conseguir nos alojar em cada acampamento. Isto limitou a nossa estada aos acampamentos onde haviam uma estrutura melhor, pois nem todos tinham os equipamentos para alugar. Então tivemos que replanejar o roteiro contanto com essa condição. Como não conseguimos alugar os bastões de caminhada improvisamos uns cajados de madeira que foram muito úteis no trajeto. Ou seja, a saída repentina de Puerto Natales poderia ter nos saído muito caro. Mas por outro lado se você quiser economizar um peso na mochila se programe para fazer o mesmo que nós. Acho muito válido principalmente em se tratando de distancias longas. Porém faça as reservas com antecedência pelo site das administradoras dos acampamentos. Saímos direto sentido acampamento Gray as 19 hrs. De todos os tripulantes que estavam no barco, somente nós começamos a fazer a trilha no mesmo dia. No começo uma pesada subida já nos deu uma real noção de que a trilha não seria tão baba como pensamos. Quando pegamos o mapa a primeira coisa que pensamos quando vimos as horas de caminhada, de um acampamento ao outro, era que os tempos eram jogados para cima, em virtude da quantidade de pessoas de idade avançada que faziam a trilha. Porém esta primeira trilha nos deu a real noção que o estimado era aplicável a nós, com as mochilas. Depois da primeira subida, fizemos uma pausa para hidratação e alimentação e pensávamos que estávamos próximos, andando apenas meia hora haha doce ilusão... após caminhar cerca de 1hr30 vimos as geleiras do Gray. O percurso até aqui é repleto de riachos, ou seja, falta de água não é problema. O visual é realmente impressionante. Fizemos uma segunda pausa, porém o tempo começou a nos preocupar. Sabíamos que o dia não iria durar muito, e não tínhamos nenhum sinal do acampamento. Aceleramos o passo e fomos adiante. Quando começou a escurecer, por volta das 22:15, avistamos e acampamento. Chegamos lá bastante desgastados. Estávamos dispostos a gastar um dinheiro a mais para ficarmos no alojamento. Conseguimos um lugar por 35 dólares no total. Era um quarto com 2 beliches onde já haviam 2 pessoas. Nos instalamos e fomos fazer uma comida. Porém aquela hora a pequena mercearia do acampamento já estava fechada e não conseguimos alugar um fogareiro com botijão (Lembrem-se que não alugamos os equipamentos em Puerto Natales pelos motivos especificados anteriormente). Porém, pedimos para um pessoal,que depois descobrimos eram locais que carregavam a mochila de turistas, e eles nos emprestaram um para que fizéssemos um miojo. Nossa janta do primeiro dia foi Miojo, Castanhas, Nozes e Whey Protein. No dia seguinte acordamos um pouco tarde (por volta das 9:00), comemos umas barras de cereal, tomamos um Maltodextrina e fomos até o acampamento Los Guardas, onde há uma vista incrível do Glaciar Gray. Vale a pena. Neste dia o tempo estava meio nublado, mas não fechou em nenhum momento. Fomos e voltamos em 3 horas. De volta ao Gray, almoçamos (miojo cru, nozes, Whey Protein e duas barras de cereais) e seguimos até o Pehoe novamente. A trilha de retorno é mais tranquila que no sentido inverso, uma vez que o acampamento Gray fica mais alto e o Pehoe fica logo na beira do lago. Fizemos esta trilha em 2hrs30, o mapa indica 3hrs30. Chegamos cedo no Pehoe, alugamos uma barraca e montamos num lugar protegido do vento, que não era tanto neste dia. Neste acampamento aceitam cartão de crédito (ao contrário do Gray), portanto resolvemos nos alimentar bem, visto que as nossas refeições anteriores haviam sido muito pobres e o próximo dia seria intenso. Este é o acampamento mais completo (excetuando-se o Hotel Las Torres), nele há acesso a internet (mesmo que escasso), um refeitório grande, uma mercearia e até um bar. Gastamos cerca de 20 dólares na refeição por pessoa, mas a comida era excelente. Acordamos mais cedo no dia seguinte (7:00) tomamos um café da manhã no refeitório (muito bem servido) por 15 dólares cada, pois sabíamos que o dia seria intenso. A primeira trilha, do Pehoe até o acampamento Italiano, é tranquila, uma planície quase que do começo ao fim. O visual do lago é muito bonito e dá uma disposição extra nos momentos de cansaço. Como a trilha era fácil, decidimos por apertar o passo e fizemos a trilha em 1hr30, o mapa indica 2hrs30. Quando atravessamos a pequena ponte de madeira e chegamos ao Italiano, nos preocupamos mais em acelerar, recarregamos as garrafas com água e pegamos somente 2 barras de cereais cada um, este vacilo quase custou caro. Conversamos com o guarda que cuida do acampamento e deixamos as nossas mochilas lá para iniciarmos o trajeto até o Francês. Como estávamos com todo o gás, fomos acelerando pois o tempo já dava indícios de chuva. A primeira subida da trilha é por meio de um monte de pedras empilhadas. Em determinado momento, quando fomos subir numa pedra mais alta, senti uma dor intensa na virilha. A partir daí tive que diminuir o ritmo pois o incômodo estava aumentando e ainda tínhamos um grande caminho pela frente. No meio do percurso começou a ventar muito forte, nunca tinha visto ventos daquela velocidade. Ainda me lembro do barulho que o vento vazia, as famosas uivadas do vento. Em certos momentos quando chegávamos em áreas descampadas era difícil inclusive de manter o passo. Como previsto logo começou a chover. Neste percurso você atravessa florestas, leitos de rios secos, leitos de rios com água. Enfim, um misto de cenários distintos e muito bonitos. O sentimento é de estar em um dos filmes do Senhor dos Anéis. Finalmente chegamos no acampamento Ingleses, com muito custo, estávamos a meia hora do Francês. Decidimos dar uma parada para alimentação, porém só tínhamos 2 barras de cereal para cada um e a fome era grande. O Marcel me cedeu meia barra dele ainda, na pura camaradagem. Como eu estava ressabiado em função da virilha, resolvi ficar por ali, dar uma descansada e seguir de volta para o Italiano. O Marcel, por sua vez, decidiu ir até o Mirador do Francês visto que estávamos tão perto. O percurso é de 1 hora, ida e volta e ele fez em 26 minutos, praticamente correndo na trilha. Vim com calma, e como o percurso de volta é basicamente uma descida, foi tranquilo. Porém uma meia hora depois de ter chegado no acampamento, um casal de espanhóis me informou que haviam cruzado o Marcel e que ele não estava passando muito bem na trilha. Com a alimentação prejudicada, ele ficou fraco no meio do caminho, ao ponto de embaçar a vista. Até o momento que decidiu dar uma parada. A sua sorte foi que esse mesmo casal espanhol passou por ele e viu a situação, aí deram alguns mantimentos para que ele desse uma recuperada. Após ingerir estes alimentos e dar um tempo para se recuperar ele veio em direção ao acampamento e eu encontrei ele na trilha, já próximo. Nos alimentamos devidamente, recuperamos as forças, tomei um anti-inflamatório pois a dor na virilha era intensa e fomos em direção ao acampamento Los Cuernos. Neste momento já eram cerca de 16 hrs. O tempo fechou novamente e por orientação do guarda do acampamento Italiano já estávamos devidamente equipados para a chuva que caiu por cerca de meia hora. A trilha até o Los Cuernos é mais comum, visual de florestas, caminhos formados pela água da chuva e no meio do caminho o padrão é quebrado por uma “praia”. Chegamos no Los Cuernos as 19 hrs, porém não haviam mais lugares disponíveis para dormir. Já contávamos com essa possibilidade, e por isso eu já havia abortado a ida até o mirador Francês. O trecho seguinte era o mais longo da viagem (4hrs30), ou seja, teríamos que ser rápidos para chegarmos ainda de dia no acampamento Las Torres. Esse é um acampamento onde é realmente difícil de conseguir vagas, é um lugar pequeno, portanto se pensa em ficar aqui reserve com antecedência. Aqui é onde acontecem algumas festas, o alojamento é bem agitado pra quem procura desvirtuar um pouco da trilha. Partimos a todo vapor sem olhar para trás. Logo no começo da trilha vimos um refil destes de água da Deuter, jogado na beira de um rio. Chamamos por diversas vezes, sem sermos atendidos, achamos que aquilo podia ser útil para nós e que alguém simplesmente abandonou aquilo lá. Seguimos a trilha sob posse do refil, e cerca de 15 minutos e vários metros adiante, um maluco aparece gritando e pedindo educadamente o refil. Ele ainda nos pediu desculpas por não ter respondido no momento, devolvemos e seguimos a trilha. Seguimos em frente. É interessante notar a postura das pessoas na trilha de acordo com a sua experiência. Por alguns momentos perguntávamos se o acampamento ainda estava longe. Os mais inexperientes (chegamos a encontrar um americano de calça Jeans nesta trilha) sempre respondiam que ainda restavam muito, que a gente tava ferrado e esse tipo de coisas. Enquanto que os com mais vivência em trilhas, por mais que soubessem que o caminho ainda era longo, sempre nos falavam que estávamos chegando, e nos motivavam. Portanto pra quem for fazer qualquer tipo de trilha, entenda, o fator psicológico é muito importante, portanto ao invés de negativizar a situação, tente dar um estímulo, a não ser lógico, que seja uma condição de risco. Neste dia nos submetemos a uma condição extrema, tanto física quanto psicológica. Pegamos sol aberto quase por toda trilha. O visual é basicamente um campo com pasto e uma trilha no meio, existem vários morros a serem trilhados, além de atravessar os rios com maior correnteza que encontramos no parque. Nossa tática era nunca olhar para o final de uma trilha ou, principalmente, subida, sempre olhar somente o próximo passo, a fim de não desanimar. Em determinado momento o desgaste físico era muito grande. Esta trilha pra mim foi uma introspecção muito grande, você acaba tendo consciência de coisas que normalmente não nota. De como a sua mente joga contra com pensamentos negativos, e como tentando focar em coisas boas os resultados são evidentes e as dificuldades se tornam menores. Em nenhum momento da trilha reclamamos ou fizemos críticas, simplesmente caminhamos, imaginando como seria o acampamento, como seriam as Torres, mentalizávamos coisas que nos favoreciam como pensar em todas as vivências boas que tivemos no decorrer desta aventura. Logo no final da trilha quando contornávamos o ultimo morro, apareceram dois coelhos correndo, emblemático, achávamos que seriam alucinações haha. Quando eles atravessaram para o outro lado do morro e os seguíamos com os olhos, vimos lá no fundo o acampamento surgir. Foi emocionante, depois de tanto esforço chegar lá. Ainda restavam mais alguns poucos quilômetros, mas agora sabíamos que o destino estava próximo e mesmo que já estivesse próximo de anoitecer chegaríamos lá. Ao entrarmos no Hotel, completamente encardidos e munidos de nossos cajados, afirmamos que pagaríamos o que fosse preciso mas ficaríamos lá. O hotel é luxuoso. A primeira impressão foi a melhor possível. Percorremos um corredor inteiro e chegamos na recepção, ao pedir um quarto fomos informados que não haviam vagas e que as reservas normalmente se encerram 6 meses antes, pelo menos para alta temporada (dez, jan e fev). A recepcionista informou que existia um alojamento no final da estrada. Neste momento já era noite (23:00), e como sabíamos, as pumas são animais de hábitos noturnos haha o que aumentou a nossa aventura. Fomos até o alojamento que era a cerca de 500 metros do hotel. Quando chegamos lá eles já estavam prestes a fechar (inclusive já tinham fechado a contabilidade do dia), lógico, deram um puta esporro na gente por chegarmos nesse horário, e nós lógico que falamos que éramos argentinos kkkk. Depois de escutar quietos, fomos informados que não haviam mais vagas no alojamento, então, o cara que atendia nos jogou uma barraca nas mãos e falou que no dia seguinte as 7 hrs iria nos cobrar o valor. Partimos dali em direção ao camping (que fica no meio do caminho entre o hotel e o alojamento), mancando e tudo ferrados. Chegamos no camping e montamos a barraca quase sem luz, por sorte achamos um bom lugar. Montamos a barraca já de saco cheio. Neste dia, para acabar, não tivemos banho. Somente trocamos de roupa, estendemos dentro mesmo da barraca, pois o vento era muito intenso, e entramos no saco de dormir. Dormi comendo uma barra de miojo e acordei com a cara cheia de tempero sabor carne haha. Lembro de ter acordado durante a noite e um vento muito forte estar soprando, mesmo com a barraca bem fixada, além dos apoios comuns apoiamos pedras na parte de fora e as mochilas nas laterais, por alguns momentos a bichinha chegava a envergar, mas aguentou firme a noite toda. No dia seguinte acordamos por volta das 8:30 e o desgaste físico era muito grande, mas ainda tínhamos a última e principal etapa da trilha, o percurso que vai até as famosas torres que nomeiam o parque. Nos alimentamos, tomei novamente um anti-inflamatório, desmontamos e pagamos a barraca e partimos. O percurso que vai até as torres começa com uma subida abrupta, mas depois se torna mais leve, principalmente até o acampamento chileno. Este foi o trecho mais populado de todo nosso trajeto no parque, muita gente fazendo o trekking e algumas pessoas fazendo a cavalo, só vi isso neste trecho, ao custo de US$250/dia. Após o Chileno o trecho vai ficando gradativamente mais íngreme. Lembro que nessa parte cruzei um cara bem novo que estava também na ultima perna do W, porém ele havia carregado o seu filho nas costas durante todo o trekking. O filho devia ter uns 2 anos. Fiquei imaginando carregar a criança, a mochila e ainda as coisas do filho. Guerreiro. Já no trecho final, quase chegando no mirador das torres, vi um senhor que devia ter uns 70 anos já descendo a trilha após ter estado no mirador. Ele estava com seu neto e ainda teve disposição para dar risada da sacola que eu carregava na ponta do cajado, ao melhor estilo bolsa de trapos kkk falou q eu parecia o Chaves haha. Fiquei impressionado. O neto que o acompanhava me falou que sempre foi um sonho dele conhecer as famosas torres e que só teve possibilidade agora depois de velho. Muito legal a iniciativa dos filhos e netos em incentivar dando o suporte preciso! Sonho realizado e alegria estampada no rosto daquele senhor! Seguimos em frente... nessa trilha tem bastante pedra e um trecho por dentro de uma floresta. No momento que se sai da floresta existe uma “escada” de pedra que leva até a base da ultima parte da subida que finda no mirador. A escada já é relativamente íngreme e exige algum esforço físico, mas a ultima parte necessita de um preparo, principalmente na condição que estávamos. Esse é aquele momento em que você não vê progresso.. passos lentos... pra mim foi o trecho mais puxado, desgaste físico forte... onde 500 metros parecem uma maratona... mas chegamos lá e o final foi altamente recompensador. Um visual surreal. Impossível de entender como geometria tão singular pode ter se formado ali. A energia do lugar é muito forte. A introspecção causada pelo desgaste físico em conjunto com tudo que há ali é de uma força incrível. Uma experiencia fora do normal. Ficamos algum tempo ali, mas tínhamos que nos apressar pois não podíamos perder o ônibus que nos levaria a Puerto Natales. Depois de carregar nossas energias, fazermos uma refeição e enchermos as garrafas de água no rio que fica a frente das torres, partimos de volta. Com pressa, fizemos o trajeto de volta em 1:20, a volta é mais tranquilo uma vez que são essencialmente mais descidas. Finalizamos o trecho de ida e volta em 4:30, no mapa constava só a ida 4:30. Chegamos ainda 1 hora antes do Onibus! Deu tempo de comprarmos umas cervezas e comemorar esta conquista pessoal! Quando chegamos, tivemos a informação do incêndio nos arredores do Gray, mal pudemos acreditar que existem pessoas capazes de agredir um lugar tão magnifico como esse e desequilibrar o ambiente mais equilibrado do planeta. Caso tivessemos começado o circuito pelo acampamento Las Torres não conseguiriamos finalizar o W, uma vez que o Gray foi fechado em virtude do incêndio. 3 dias, 90km, 4kg a menos, muito suor e muita parceria! Uma experiencia única que recomendo a todos, porém claro, cada um fará no seu tempo. Depois fomos obrigados a tirar a barriga da miséria e recuperar o peso perdido, ao custo de cordeiro patagônico e parrillada. Mudanças climáticas momentâneas. Natureza muito viva e forte. Diversidade de paisagens. Lugares lindos. Esse é o resumo desse lugar tão especial! Segue aqui o link para as fotos: Um grande abraço! Citar
Membros rafaelsanches Postado Fevereiro 19, 2013 Membros Postado Fevereiro 19, 2013 Fala Guilherme; Bem "manera" sua aventura. Contaram com a sorte, realmente! Emoção pura!!! Estou conferindo as fotos aqui no Flickr. Pegaram tempo bom!!! Abraços. R. Sanches Citar
Membros de Honra deiafranzoi Postado Fevereiro 19, 2013 Membros de Honra Postado Fevereiro 19, 2013 Que loucura que voces fizeram hein!!! Ainda bem que a sorte realmente estava do lado de voces! parabens pela aventura! Déia Citar
Membros Guilherme_Breda Postado Fevereiro 21, 2013 Autor Membros Postado Fevereiro 21, 2013 Realmente, tivemos uma grande ajuda da sorte! Valeu a aventura! haha Mas fica a lição, poderíamos ter voltado frustrados da viagem.. Rafael, O tempo estava muito bom, pegamos somente um ou dois trechos de chuva e alguns momentos com o céu encoberto, mas o clima lá é uma loucura, muda a todo momento. Citar
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