Membros engand.andre Postado Julho 2, 2013 Autor Membros Postado Julho 2, 2013 Dias 180 a 184 – Hong Kong e Macau Após Filipinas, chega a vez das cidades-estado: Hong Kong, Macau e Cingapura. Para os dois primeiros entretanto, uma meia-verdade, pois desde o final do século passado estão sob a administração chinesa. Mas de qualquer forma, ainda possuem sua própria legislação e gozam de liberdades que o povo da China continental ainda não sonha possuir, como por exemplo, a internet livre. A cultura ocidental é bem presente nesses dois enclaves asiáticos, frutos da administração britânica (Hong Kong) e portuguesa (Macau) nos últimos séculos. Com superfícies pequenas e uma população considerável, possuem uma das maiores concentrações demográficas do planeta, e surpreendentemente, com organização e bom planejamento, permanecem como lugares agradáveis para se visitar, com muitas áreas verdes e recreação. Hong Kong, apesar de possuir uma área bem menor do que a cidade de São Paulo, ainda é quase 40 vezes maior do que Macau (Macau é um dos 5 menores estados do mundo, junto com Tuvalu, Nauru, Mônaco e Vaticano) e por isso, possui uma facilidade maior para possuir uma boa infra-estrutura de lazer, como parques nacionais, parques temáticos (Disneyland) e grandes resorts ao longo da costa. Desembarcar no aeroporto de Hong Kong é uma experiência da mais absoluta organização. Informativos claríssimos sobre trens, ônibus, seus itinerários, preços a pagar em cada estação, bem como a facilidade de comprar seu Octopus Card, uma facilidade na hora de usar todo tipo de transporte público. Na hora veio na cabeça o ano que morei em Berlim, onde tudo funcionava como um relógio suiço. Estava de volta em um país de primeiríssimo mundo. Assistir o percurso da janela da frente do piso superior do ônibus era fantástico, passando por belas áreas verdes, mar, pontes pênseis e skylines impressionantes. Arrumar um hostel não foi difícil, porém os preços são consideravelmente diferentes do que pagava no resto da Ásia. Fiquei na área de Kowloon, na península continental de frente para a enseada da ilha de Victoria, com uma grande vista para o centro financeiro. Nessas duas áreas estão quatro dos vinte edifícios mais altos do mundo, e com mais de dezenas de irmãos menores, mas ainda bem altos, formam um horizonte que assemelha-se a uma selva de concreto. Andando em seus entremeios, entretanto, percebe-se que existe um planejamento adequado nas construções, sendo a cidade dotada de muitos parques, bonitas alamedas e espaços muito bem determinados aos pedestres, cujo caminhos convivem entre o céu e o inferno em virtude das inúmeras passarelas existentes entre as avenidas. Entre o céu porque é seguro e muitas delas atravessam o interior de edifícios, com escritórios ou lojas (e o necessário ar condicionado), mas também entre o inferno, pois muitas vezes é preciso escalar degraus e andar bem mais para atravessar uma simples esquina. E como nem tudo é perfeito, algumas das passarelas não são bem sinalizadas e fez-me perder um tempo em algumas situações. O distrito de Kowloon, apesar de possuir bonitos parques, museus, templos e igrejas, não possui muitas áreas interessantes para andar, exceto pelo fato de conhecer-se o dia a dia da cidade. Um pouco mais ao norte, na área de Mong Kok e Sham Shui Po, existem os enormes malls para se comprar produtos eletrônicos sem imposto. Acabei comprando um tablet e um notebook pela metade do preço que compraria no país. Valia a pena terminar a viagem carregando uma maletinha a mais… Ao sul de Kowloon, na baía, existe a melhor área para caminhada, através da avenida dos artistas, lindas construções do centro cultural e museus e a vista impressionante da ilha de Hong Kong, berço da colonização britânica, e seu centro financeiro. Na ilha, fiz dois passeios utilizando a magnífica rede de ônibus da cidade. Aqui existem várias companhias de ônibus e algumas linhas são superpostas, ou seja, duas companhias fazem um trajeto bem parecido. Essa competição faz com que os preços sejam baixos e a qualidade excelente. As empresas precisam apenas garantir algumas mínimas determinações, e de resto, conquistar o público pela sua eficiência (sem subsídios de passagem pelo governo, o que na verdade, é uma injustiça, pois todos pagamos através dos impostos, mesmo quem não usa o serviço). É o capitalismo verdadeiro garantindo melhores serviços a todos. Coisas que uma grande parte dos brasileiros não entendem e ficam apoiando passeatas risíveis exigindo catraca livre, como as que aconteceram nesses últimos dias no Brasil. E além de tudo, fazem a passeata, quebra-quebra, provocam ao máximo para obter uma reação maior da polícia e depois se fazem de vítimas. Ridículo. Difícil o nosso país ir para a frente com esses pensamentos… A primeira rota, através do ônibus 973, faz um tour incrível na ilha pelo lado oeste subindo colinas, chegando no lado sul e alcançando uma avenida que margeia a costa, até atingir as praias no sudeste da ilha. Paisagens incríveis, que me lembraram o caminho que fiz de Atenas a Sounio no ano passado. As praias, apesar de não possuir grande atrativos naturais, possui uma infra-estrutura incrível com banheiros, chuveiros automáticos, água, locais de descanso sob a sombra de imensas árvores, salva-vidas, enfim, algo difícil de se achar em outros lugares do mundo. Outra rota interessante é através do ônibus 15, que vai ao pico Victoria, local que é possível ter uma visão magnífica da ilha e da área de Kowloon, e seus skylines de concreto. Tão belo quanto o destino é o caminho para se chegar até lá, em uma estrada estreita margeando grandes desfiladeiros. No segundo andar de um ônibus chega a dar um frio na barriga em alguns pontos. Além desses circuitos, andei muito a pé pela ilha, visitei o jardim botânico e o pequeno zoológico, passei por construções magníficas como o escritório governamental e seus jardins e conheci a maior estrutura de escadas rolantes do mundo, que leva pessoas regularmente para os bairros conhecidos como Mid-Levels. O conjunto é formado por vinte escadas rolantes (compridas) separadas por curtos caminhos de conexão e cobrem uma distância de 800m. Interessante é que das 06 às 10 da manhã elas se movem para baixo, e nos demais horários, para cima. Milhares de pessoas as usam diariamente para ir ao trabalho ou estudo diariamente. Voltei para Kowloon nesse dia de ferry-boat, com uma visão noturna incrível dessa cosmopolita cidade, berço de liberdades que, espero, possam ser disseminadas e influenciar uma abertura maior para todo o povo chinês do resto do continente. A cidade de Macau é alcançada por ferry-boat através de Hong Kong, em uma duração de menos de 90 minutos (dependendo da companhia), mas possui um preço salgado: cerca de 45 dólares para ir e voltar. A formalização de entrada em outro país existe, e precisa-se apresentar o passaporte e passar pela imigração. Esse pequeno enclave é conhecido mundialmente pelos jogos de azar. Centenas de cassinos existem pela cidade e o faturamento é maior do que Las Vegas desde 2005. As concessionárias pagam 35% de imposto para o governo, constituindo sua principal arrecadação. Visitei três deles e o ambiente é o mesmo que vemos nos filmes, com uma predominância muito maior dos jogos carteados do que roletas e afins. A decoração é sempre muito sofisticada, fazendo com que sintamos bem no ambiente e estejamos mais sensibilizados a ficar mais (e gastar). Monitoramento intenso: zilhões de câmeras e seguranças em todo o lugar. Além do jogo, Macau possui uma área histórica muito interessante e bem preservada, fruto da colonização portuguesa. É possível caminhar em poucas horas pelos 25 monumentos tombados pelo Patrimônio Mundiais da Humanidade (UNESCO), e os principais que considerei são a Igreja da Penha e sua colina, com uma visão fantástica da cidade tanto pelo Norte quanto ao Sul, o largo do Senado, movimentado, com bonitos calçamentos portugueses, as ruínas da igreja de São Paulo e o grande Mount Fort, que hoje sedia um museu em seu topo. No dia que andei na cidade estava um calor infernal, com uma temperatura possivelmente próxima a 40ºC, o que fez desse dia, apesar de agradável na descoberta de surpreendentes locais, terrível na resistência física, pois já vinha de dois dias de boas caminhadas em Hong Kong. Não vai ser durante a viagem que vou recuperar meus 6 quilos mesmo… Mais fotos aqui (Hong Kong) E mais fotos aqui (Macau) Próximo destino: Cingapura. Citar
Membros engand.andre Postado Agosto 4, 2013 Autor Membros Postado Agosto 4, 2013 Dias 185 a 189 – Cingapura A próxima cidade-estado após Hong Kong e Macau seria também a última visita da Ásia: Cingapura. Por ela me despediria dessa viagem por culturas totalmente diferentes e sentiria a falta de muitas sensações e amizades que pipocaram no meio do caminho. Já sentia um mistura de prévia saudade desses últimos 6 meses, mas também uma ansiedade de volta para casa, apesar de ainda possuir mais de duas semanas pela frente. De qualquer forma, a última estadia na Ásia me proporcionou antecipadamente esse sentimento de início de desfecho da viagem. Sentimento confuso, onde já não sabemos qual o tipo de vivências e pensamentos que preenchem mais, ou deveriam preencher, o nosso ocupado tempo. Mas como esse não é um post de reflexões – o qual estou devendo há tempos a mim mesmo, vamos então à Cingapura. O estado de Cingapura balança, em termos de liberdades, por dois lados. Na área da economia, o país é uma potência. A cidade é fantástica, tanto pelo lado arquitetônico quanto urbanístico. Toda pessoa que gosta de arquitetura e urbanismo deveria passar uns dias nessa cidade. Além dos desenhos dos edifícios, museus, escolas e espaços culturais, a cidade preserva muito seu passado, com a restauração de vários bairros antigos, como Chinatown e Little India - em Cingapura conheci um bairro indiano como nunca vi no país de origem: limpo, edifícios bem conservados, trânsito organizado. O sistema de transporte é fantástico. O MRT (sistema de transporte em massa, ou o nosso metrô) possui mais de 160km para menos de 700km2 de cidade, existindo mais 42km em construção e mais 113km planejados até 2030. Detalhes: a primeira linha foi inaugurada em 1987 e o país tem “apenas” 5 milhões de habitantes, muito menor do que as grandes metrópoles do mundo. Em 2030, com mais de 300km de extensão, será a maior rede do mundo em quilômetros per capita. Com o apoio de uma eficiente rede de ônibus e de um inteligente suporte para compra de passes mensais ou anuais, o sistema é o preferido pela população. Não presenciei, nenhuma vez, qualquer tipo de trânsito nas ruas da cidade. O planejamento de longo prazo é a chave para todo esse progresso. Visitei um local chamado Singapore City Gallery, talvez um dos melhores locais para entender a dinâmica da cidade em função de seu planejamento. A galeria mostra a Cingapura antiga e como os projetos urbanísticos moldaram a cidade hoje e como moldarão no futuro. Planejamento de longo prazo. Esse conceito falta em muitos países do mundo, e infelizmente também no nosso. Outra área fantástica relacionada ao mesmo tema, é a Marina Bay, dominada pelo hotel Sands, Esplanade Theaters, Gardens by the bay and DNA Bridge. É um tele-transporte para o ambiente dos filmes de ficção científica, sem descuidos do paisagismo e da limpeza, fazendo do local um excelente ponto de encontro para o convívio social. O curioso de Cingapura é que, com uma área muito pequena e com mais de 30% de seu território com vegetação preservada (tendo assim um local para convívio com uma das maiores densidade demográfica do mundo), consegue entregar uma cidade sem trânsito e com grande qualidade de vida. Como comentei anteriormente, existem dois lados a serem vistos para analisar o país em termos da qualidade de vida de seus habitantes. Fisicamente, ela é fantástica. Mas eu não me motivaria a morar em Cingapura, em virtude de minha defesa às liberdades individuais, como de expressão. O governo, embora constituído sob a égide da democracia, não tolera manifestações e livre expressão em público, como algum tipo de protesto pelos seus atos. Assim, a mídia possui um controle oculto, facilitando a aceitação da população em relação às diretrizes do governo. Uma crítica a isso levantaria que isso não seria problema, pois o governo de Cingapura está entre os menos corruptos do mundo (até onde existe liberdade para checagem) e o país esbanja prosperidade. Mas eu pessoalmente não fico à vontade com esse tipo de silêncio. Se tudo funciona tão bem, as autoridades não deviam ter nada a temer, certo? Além disso, existem excessos de leis, incluindo uma lei que multa por atravessar a rua fora da faixa. Ora, por que com uma rua totalmente vazia e eu, confiando em minhas habilidades físicas na caminhada preciso ir até a esquina para poder atravessar a rua? Isso torna o país muito chato e deixa-me com uma sensação de robozinho que não pode ter livre-arbítrio para os mais simples atos. Uma pena. Comentei anteriormente sobre áreas verdes, e utilizei um dos dias para um hiking com minha anfitriã em um parque nacional, o MacRitchie Treetop. Em um ponto do circuito, existe uma ponte no meio dos topos das árvores, levando-nos a um autêntico arborismo. O parque é imenso, e mesmo assim, não é um dos maiores da cidade. Aplausos novamente para esse planejamento urbano. O Fort Canning e o parque que o circunda também possui lugares bons para passeios, e guarda o quartel general militar utilizados pelos ingleses antes da independência do país. Porém, nada se compara com o nível do Jardim Botânico da cidade. Imenso, é um lugar onde grande parte da população usa para “farofar”, ou seja, levam o almoço, entendem lençóis pela grama e passam horas e horas do dia em confraternização. O jardim possui vários pavilhões, com atrações diversas como lagos, jardins temáticos, museu e belas estátuas que margeiam os caminhos do parque. O jardim temático “Evolution Garden” foi um destaque: os administradores desenvolveram um jardim ao longo de um caminho onde, durante a caminhada, pode-se observar a evolução das plantas de nosso planeta, desde seus primórdios. Vemos desde as primeiras briófitas em rochas, outras já mais crescidas, e depois, continuando passo a passo, as primeiras pteridófitas e assim por diante. Lembrei muito as aulas de Biologia. E eu gostava muito desse assunto. Um show! Sobre a culinária, apesar de a cidade ter predomínio chinês e eu já ter experimentado muitas refeições chinesas em outros países, na cidade de Cingapura os pratos possui suas diferenças, e minha anfitriã e uma outra colega foram fantásticas em levar-me para experimentar muitos deles. Uma diferença é que aqui não existem barracas pelas ruas. Os pontos de comidas populares são fechados, como uma praça de alimentação de um shopping brasileiro, mas ao largo das ruas, bem organizado. Mesmo as feiras de bugigangas possuem lugares próprios para serem instaladas. A organização está na Lei. Já a cultura, de predomínio chinês, possui respeito para todos os povos e transforma-se em uma cultura universal, dominando o ambiente da cidade. Passei por um momento interessante nas andanças pela cidade, onde, no mesmo quarteirão, pude fotografar uma igreja católica, uma protestante, um templo indiano, um chinês e uma sinagoga. Mesquitas também existem pela cidade, mas faltaram nesse quarteirão para fechar todas as grandes religiões do mundo. Etnicamente, a cidade possui cerca de 10% de descendentes de indianos, principalmente de Tamil Nadu, e fez com que eu me sentisse, em alguns momentos, retornando à Índia, porém, com uma percepção de nível de vida muito melhor. Uma pena que em seu país de origem as coisas continuam tão atrasadas. Percebe-se assim, que o progresso não é determinado somente pelo povo em si, mas principalmente pelo meio em que o povo está inserido. E de qualquer forma, somos quem podemos ser se atuarmos para isso com uma causa definida, retirando os grilhões que aprisionam o nosso progresso individual e nos impedem de tornar realidade os sonhos que podemos ter. Mais fotos aqui. Próximo post: Suiça, Europa! 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