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Relato de viagem à Índia, Nepal, Sudeste e Sul da Ásia - Janeiro de 2013


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Dias 87 a 90 - Krabi, Au Nang e Koh Samui

 

Após ter conhecido Koh Samui, uma das ilhas do lado leste da Tailândia, fui a Krabi, uma cidade que fica na margem oeste do litoral do país banhada pelo estuário do Rio Krabi e do Mar de Andaman. Krabi é a capital de uma província que inclui o vilarejo de Au Nang (onde fica a melhor praia da cidade) e das ilhas de Koh Phi Phi, imortalizadas no filme “The Beach”. A cidade é bem organizada, bonita e possui uma ótima infraestrutura, apesar de possuir menos de 30mil habitantes. Possui um grande e bonito templo na área central da cidade, e mescla grandes oportunidades de compras e alimentação junto aos locais, como também um razoável shopping center no centro. Não possui, porém, uma praia para passar um período do dia. Praia decente, apenas em Au Nang, um subdistrito da cidade. Cheguei no final da tarde e jantei no Mercado Noturno, em frente ao rio. Experimentei uma típica panqueca de banana e aproveitei para começar a fazer uns experimentos de preços nas agências turísticas para um pacote para Koh Phi Phi e a ida de van para a Malásia. Para finalizar a Tailândia, decidi pagar algo mais em um transporte para turistas ao invés de ficar pegando ônibus locais. Ter um pouco mais de conforto e não usar tanto do meu tempo em trocas de transportes.

 

No dia seguinte, fui a Au Nang. O ônibus local, que, como Koh Phi Phi nada mais é do que uma pick-up adaptada, leva 20 minutos para lhe deixar em frente à praia. A praia é bonita, tranquila, com alguma movimentação turística e cheia de barcos que dali partem para as ilhas mais badaladas. Mas não tem nada de muito destaque. Lugar mais para relaxar do que apreciar. Eu fiquei impressionado com a estrutura do vilarejo, transformado em mais um spot turístico na Tailândia; inúmeras agências de turismo, hotéis e resorts. Procurei também aqui algumas agências para o passeio em Koh Phi Phi no intuito de comparar os preços, após uma caminhada de algumas horinhas nas duas grandes praias que abraçam as avenidas principais.

 

De volta à Krabi, com os orçamentos do passeio e da van na mão, apresentei-os ao gerente do hotel e o mesmo cobriu ambos. Fechei tanto o pacote a Koh Phi Phi como a van até Penang, na Malásia. Para Koh Phi Phi, apesar de ter todos os pontos negativos de “pacotes”, entendo como necessária a contratação de um serviço de agência para quem decida usar apenas um dia para conhecer o arquipélago. Para efeito de comparação, paguei no pacote, com almoço buffet incluído, mais uns mimos durante a viagem (sucos, frutas e bolos) e empréstimo do snorkel e máscara, 1000 baht. Apenas um tickey one-way de ferry de Au Nang até Koh Phi Phi custa 300 baht. E isso para uma das ilhas. Assim, achei melhor fazer o pacote, conhecer 7 locais diferentes (mesmo com o horário controlado). Posteriormente, sempre tem a opção, já conhecendo melhor os locais, de ficar um dia em um local específico em uma viagem individual.

 

E as ilhas são magníficas, apesar de a indústria do turismo estar trabalhando maciçamente para sua lenta degradação. Os barcos são inúmeros, e na praia da ilha de Phi Phi Don, vila principal do arquipélago, já se nota uma água mais turva, e manchas escuras oleosas onde os barcos se concentram. Algum lixo, gerado pelos inúmeros restaurantes, já está presente ao largo das ruas e praias. Consequências inevitáveis? Acredito que não. Não sou contra a exploração comercial dos mais belos lugares do mundo em si, mas acredito sempre que possa existir um melhor gerenciamento dos recursos e da poluição gerada. O ponto é sempre encontrar um equilíbrio entre esses dois extremos. Mas se a praia de Phi Phi Don já apresenta algum desgaste na natureza, as demais ainda mostram de forma esplendorosa suas belezas. A primeira ilha que paramos, a Bamboo Island, possui uma areia branquissima e nas margens da água já nota-se sua cristalinidade, típica da região.

 

As duas próximas paradas (Loh Sama Bay e Monkey Beach) foram acompanhadas de snorkling. O barco parava a uma distância da praia onde podíamos cair na água e apreciar o fundo, que abriga lindíssimos corais e muitos, muitos peixes que nadavam ao seu lado sem receio. A água cristalina e o dia claro, com muito sol, colaborava para que enxergamos todo o fundo a longas distâncias, difícil de estimar. A profundidade média que o barco parava estava em torno de 5 a 10 metros, e todo o fundo era claramente visível. Conforme nadávamos em direção a praia e essa altura diminuia, novos detalhes apareciam para admiração. Não tinha como proteger adequadamente minha câmera para tirar fotos, mas na internet há muitas para ter uma ideia das belezas do local.

 

Os próximos locais a ser visitados foram a Phi Leh Bay, uma baía magnífica e idílica, e posteriormenteuma caverna com mais de 3km2 com desenhos pré-históricos que lembram barcos vikings. A caverna está fechada para o público, mas habitantes chineses arriscam-se para coletar ninhos de pássaros “swift” para cozinhar uma iguaria local: sopas de ninhos de pássaros. O almoço foi no vilarejo de Phi Phi Don, já com alguma infraestrutura, mas sem espetáculos naturais, diferentemente da Maya Beach, famosa por ter sido o local de filmagem do filme “The Beach”. Apesar de estar constantemente lotada de turistas, está bem preservada e a beleza do local mantém o visitante extasiado, com as grandes rochas guardando a entrada da baía. O passeio nas ilhas de Koh Phi Phi não foi tanto para “relax”, em virtude do pouco tempo que tínhamos para ficar em cada local (sempre menos de uma hora), mas sim para ter curtir um pouquinho e ter consciência do que existe de naturalmente maravilhoso nesse nosso mundão

 

O dia seguinte foi reservado para conhecer mais de Krabi e me despedir da Tailândia. Esse foi o primeiro país predominantemente budista da viagem, e que mostrou uma infraestrutura muitas vezes melhor do que havia visto no último mês e meio, na Índia e no Nepal. Arrisco-me a dizer que ainda melhor do que a Grécia e Turquia. Um país que vem se desenvolvendo bem rapidamente e que hoje se assemelha-se ao Brasil: ilhas de prosperidade e excelência, mas com alguma miséria ainda presente. Nos subúrbios da cidade, ao lado das linhas de trem pude presenciar moradias que assemelham-se às nossas favelas. É um país onde a principal religião não tem um Deus, mas cujas imagens de seu guia ficam restritas aos templos, enquanto as imagens da família real estão por toda a cidade, ocupando o lugar do Deus que não existe. Um culto oficial apenas como uma doutrinação à manutenção de um poder atribuído, e não conquistado por méritos. E esse é o pior poder. As pessoas, por respeito ou medo, não gostam nem de citar o nome do rei. E isso faz-me lembrar uma frase que diz que nossos medos precisam ter nome antes que possamos bani-los. Até para recuperarmos nossa liberdade de falar.

 

Mais fotos aqui.

 

Próximo post: Penang, Malásia.

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Dias 91 a 94 - Penang, Malásia

 

E vamos ao sexto país da viagem: Malásia! Como comentei no post de Krabi, fiz uma opção para uma viagem mais sossegada, sem preocupação e paguei um assento em uma van. A viagem a partir de Krabi passou pela cidade de Hat Yai, onde almocei com um sérvio que vim conversando no caminho e onde também trocamos de van. A passagem na fronteira ocorreu sem problemas. Tanto na Tailândia quanto na Malásia brasileiros não precisam de vistos, o que facilita o trâmite. As estradas de ambos os países estão muito bem conservadas, tornando a viagem rápida e confortável, embora a longa distância e a parada para o almoço fez com que gastássemos no total quase 8 horas. Decidi na Malásia fazer uma parada em Penang, uma grande ilha que abriga a capital do estado de mesmo nome e uma das mais importantes cidades do país: Georgetown. O nome Penang refere-se normalmente tanto à ilha quanto ao estado, e vou usá-lo para ambas as regiões no relato.

 

Penang, além de ser conhecida no país como a capital e paraíso da alimentação, tem uma rica história de imigração de povos e em função de possuir um importante porto e centro comercial controlado pelos ingleses desde 1786, desenvolveu-se muito no século XIX a ponto de ser conhecida no século XIX como a “Pérola do Oriente”. Hoje o estado é um das mais importantes economias do país e sedia grandes empresas de informática e é o único onde a etnia chinesa é maioria entre diversas, embora em geral, não haja grande miscigenação, como no Brasil; em geral, as famílias são formadas entre pessoas da mesma etnia. A UNESCO atribui à cidade em 2008 o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, o que fez crescer muito o turismo a ponto de tornar-se uma nova importante fonte de recursos para a cidade. E a infra-estrutura da cidade mostra-se apta para esse novo desafio: grandes avenidas e muito bem conservadas, boas linhas de ônibus, jardins, parques e pontos turísticos bem sinalizados e cuidados e grandes shopping-centers. Visualmente a cidade é muito bonita, limpa e apesar de algum trânsito, não poluída. A primeira impressão da Malásia foi que o país está um degrau acima da Tailândia em grau de desenvolvimento econômico e infra-estrutura. E ambos já estão à frente de nosso país nesse quesito. Perdem porém, na liberdade de expressão, mas oferecem sem dúvida, mais liberdade de negócios.

 

Em Penang tive uma oportunidade de utilizar a rede do Couchsurfing pela segunda vez. Mas diferentemente de Bangkok, onde o anfitrião morava só mas abrigava muitos estrangeiros ao mesmo tempo em sua casa, aqui em Penang eu fiquei só, junto com uma família chinesa, o que ajudou muito a imersão cultural. Jantei todos os dias com eles, e no último dia fomos a feiras típicas na vizinhança. O anfitrião CheeWee também me acompanhou em um trekking e no primeiro dia de visita na cidade antiga. Trocamos muitas informações sobre ambos os países e devido sua herança chinesa anterior ao abominável Mao Tsé-Tung, aprendi muito da China também. História, sociedade, linguagem e cultura. Foi uma ótima experiência, principalmente em função da ótima recepção e amizade criada! Na cidade, os imigrantes chineses criaram inicialmente vários píeres como local de residência da mesmas famílias, compartilhando entre eles a mesma linhagem, cultura e história. As casas foram construídas ao longo desses píeres e conforme a família ia aumentando, novas residências eram adicionadas. Hoje existem apenas 6 píeres que ainda são utilizados, mas com o aumento do turismo, muitos deles foram descaracterizados em função de demanda. Já há inclusive guest-houses no maior deles e um comércio de souvenirs bem desenvolvido. Mas não deixa de ser uma atração que remete a uma das consequências da imigração chinesa na cidade.

 

A cidade histórica, entretanto, guarda muito mais da herança inglesa a partir do século XVIII. As principais edificações, todos em bom estado de conservação, são a Torre do relógio Queen Victoria, o Fort Cornwallis, construído por Francis Light e cujo nome homenageia o governador geral britânico em Bengali, Charles Cornwallis e a atual sede do governo do estado. Muitos prédios construídos margeiam a avenida Pengkalan Weld, construída na área aterrada pelos britânicos posteriormente. O Museu Penang é uma atração altamente recomendada para fornecer uma ideia de como foi estabelecida historicamente a cidade em função dos diferentes povos que participaram dessa construção. É um pouco difícil para um brasileiro imaginar todas as consequências que isso pode acarretar, uma vez que tivemos um volume muito pequeno de imigração no nosso país e principalmente, a miscigenação impediu a manutenção da identidade dos diferentes povos que recebemos. Porém, isso não é uma crítica. Perdeu-se um pouco dessa identidade cultural e nacionalista no nosso país, mas essa liberdade de miscigenação construiu uma tolerância cultural a qual poucos países possuem, e de certa forma suprimiu, culturalmente e biologicamente, o conceito de raça. Mas infelizmente hoje, o nosso governo faz tudo para resgatar e dividir, em termos de direitos e deveres, nós que somos simplesmente humanos.

 

A ilha também tem uma atração imperdível para os trekkers: o Parque Nacional de Penang. Existem dois caminhos básicos para serem seguidos, e ambos terminam em uma praia, que só é acessível através dessas trilhas. Alguns barcos fazem o circuito a partir de Tekan Peluk, local no noroeste da ilha onde a estrada termina. Escolhemos o circuito de Teluk Kampi, com quase 5 km de muitas subidas, descidas e trilhas íngremes, para chegar posteriormente num lago que é formado e remodelado continuamente com o período de monções através do enchimento pelas águas de um pequeno rio que desce do monte e pela drenagem que segue para o mar, formando um pequeno estuário. Uma infinidade de conchas habita essas areias e quando nossos olhos focalizam o mesmo ponto percebemos que as mesmas se movem, isso é, são habitadas por moluscos. Posteriormente, chegamos em uma praia praticamente deserta, que abriga também um centro de preservação de tartarugas marinhas. Mais adiante, com a companhia de alguns macacos, o último mergulho isolado no mar antes de voltarmos. Nessa área rochosa, uma infinidade de cracas, crustáceos sésseis, habitam o local. Cada vez que as ondas batiam nas pedras um espetáculo se formava com a movimentação para deglutição dentro de seu exoesqueleto. Para quem gosta de um pequeno trekking e de natureza, é um passeio imperdível. De brinde uma grande vista da janela do ônibus pelo litoral pelas praias de Batu Ferringi.

 

A visita ao Jardim botânico, entretanto, deixou a desejar. A cachoeira, que poderia ser uma boa atração, estava fechada para visitações. Apesar de existir muitas espécimes de árvores e vegetações, há muito poucas flores. Achei que veria muitos hibiscos, símbolo do país, mas existia uma única estufa com alguma concentração de flores e estava fechada para um longo horário de duas horas de almoço. No caminho de volta, passei pelo tempo hindu de Balathandayuthapani, cuja construção original data de 1850 e é o mais antigo de Penang. Recentemente, um novo pavilhão foi construído no topo do rochedo, o que faz com que o destemido “walker”, aquele que enfrentou penosos 512 degraus, aprecie uma visão panorâmica da cidade, reconfortando-se em sentir sua energia dispendida recompensada. Infelizmente, o interior do templo estava fechado para visitantes no dia em que lá estive. E nesse mesmo dia, subi ao 60ºandar do maior edifício da cidade para uma visão 360º da ilha. O edifício, construído em 1974, abriga vários escritórios e um mega shopping center nos pisos inferiores, mas possui um certo grau de abandono nos últimos andares, embore mostre algum esplendor, pela decoração, de um brilho no passado. A visão entretanto, a 220 metros de altura, é incrível.

 

No último dia andamos mais um pouco pela cidade, tirei umas fotos em algumas pinturas de rua e comprei a passagem no confortável ônibus que me levaria à Kuala Lumpur, capital do país. No caminho, passei pela ponte de 13,5km, a quarta maior da Ásia e pouco maior que a Ponte Rio-Niterói, no Rio de Janeiro. No caminho, lindos condomínios e muitos ainda em construção mostram uma cidade que não pára de crescer. E para cima: impressionante como aqui a grande maioria das novas construções são altas. Em Kuala Lumpur esse crescimento ficaria ainda mais evidente.

 

Mais fotos aqui.

 

Próximo post: Kuala Lumpur.

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Dias 95 a 101 - Kuala Lumpur

 

A chegada em Kuala Lumpur no final da tarde prenunciou como seria toda a semana: grandes pancadas de chuva à tarde. Lembrou-me um período em que fiquei em Belém onde toda a tarde, praticamente no mesmo horário, chovia. A cidade impressionou logo na chegada. Altíssimos edifícios, amplas avenidas e dezenas de gruas revelam uma cidade que se moderniza muito rápido, e está em pleno processo de desenvolvimento. O transporte público, recheado de opções além dos ônibus, como metrô, trens elevados e trens suburbanos mostram a aposta correta: o trânsito, apesar do fluxo enorme de veículos, não é caótico. A miséria aparente é muito menor do que vi nos países anteriores, incluindo a Grécia e a Turquia, e muitos espaços de lazer, como imensas praças com jardins muito bem cuidados florescem pela cidade. Assim como relatei em Penang, Kuala Lumpur reflete um país que, apesar da corrupção (muito comentada aqui mas ainda menos endêmica que nosso país – está na 54º posição no índice de percepção de corrupção [1] contra o 69º lugar do Brasil), avança a passos largos para integrar logo o rol dos países desenvolvidos. Seu PIB per capita (PPP) que na década de 90 era menor do que o brasileiro, já é hoje cerca de 40% maior [2]. E na lista de liberdade econômica, o país está em 56º em uma lista de 177 países. O nosso país está em 100º [3]. Talvez isso explique boa parte da diferença. Mesmo no IDH também está mais de 20 posições na frente do Brasil, e avançando bem mais depressa [4]. A mentalidade socialista e o viés ideológico que reina em nosso país nos qualificará a ser o eterno país do futuro que não chega.

 

Na região central, uma caminhada nas áreas da rua Bukit Bintang e Tuanku Abdul Rahman sensibiliza até a mais frugal das pessoas a realizar algumas compras. Enquanto a primeira é mais voltada a maiores gastos, a segunda é recheada de lojas de ruas, com preços super convidativos. Mesmo com uma mochila cheia acabei comprando umas camisetas, bermudas e novo tênis. Estava precisando jogar algumas coisas fora. Na Malásia percebe-se que os vendedores não são muito invasivos, como em outros países. Você entra na loja, olha de tudo tranquilamente e só depois que solicita ajuda, eles aparecem. Normalmente mulheres com véu, são muito educadas e solícitas. Mas mantém o costume dos países anteriores de comprar uma taxa extra se comprarmos com cartão de crédito. Já perdendo na conversão e sendo roubado pelo governo em mais de 6,38% no IOF, não dá para aceitar mais taxas. E a gente finaliza comprando em dinheiro vivo mesmo.

 

A área onde repousa as Torres Gêmeas é um show à parte. Transformada num centro de lazer a imensa praça conta com lagos, parque infantil, espaços de lazer e um aquário, além de escritórios e um grande shopping center no complexo do edifício. As torres foram concluídas em 1998 e na época, eram os edifícios mais altos do mundo (hoje estão na sexta posição). A estrutura, de aço e vidro, é realmente muito bonita e impressiona. A cidade ainda possui uma outra mega construção, a KL Tower, situada na mesma região dentro de uma reserva ecológica na área central da cidade. Seu ponto mais alto está a apenas 20 metros abaixo do solo em relação a altura das torres gêmeas, mas como está construída em um terreno de maior elevação, parece um pouco maior quando observa-se o skyline da cidade. É a sétima maior torre de comunicação do mundo. Ao redor da torre, existe um complexo turístico interessante com reconstruções de casas típicas malaias e um bonito jardim. Próximo à região encontra-se o Museu de Comunicações, onde pude ver alguns antiguidades em telefones, e como algumas fizeram parte da minha vida, senti-me um velho do século passado. ]

 

 

Jardim de hibiscus, símbolo da cidade

O lado oposto ao centro da cidade guarda uma área com muito verde – Taman Tasik Perdana, e muitas atrações interessantes. Junto com uma colega chinesa que conheci na Tailândia, fizemos os passeios desse dia juntos. Ao redor do imenso verde e lagos, existem museus (dentre os quais o Museu da Polícia de Kuala Lumpur, muito bom) sempre com fotos internas proibidas, orquidários, jardins de hibiscus (flor símbolo da cidade – muitos postes de iluminação são decorados com imitação de pétalas), a grande mesquita Masjid Negara e o Monumento Nacional, entre outros. Voltando à cidade, passamos pela Merdeka Square, famosa por ser um símbolo da independência do país e abrigar ao seu redor grandes construções de inspirações britânicas e muçulmanas, como o Palácio Sultan Abdul Samad e o Royal Selangor Club. Grandes mesquitas localizam-se ao redor da praça, assim como a Galeria KL, interessante local onde podemos conhecer a história da cidade através de fotos, vídeos e lindas maquetes, além de ser um centro para divulgação e venda de artesanato local.

 

Além da cidade, fui a Batu Caves, localizada na última estação do trem suburbano, no distrito de Gombak. Vários templos hindus começaram a ser construídos na região no século XIX, dedicado ao Lord Murugan, representado por uma estátua de 43 metros de altura na entrada da escadaria de 272 degraus. O local é formado por várias cavernas de calcário e a principal fica a mais de 100 metros de altura com um alto pé direito e o teto com várias ornamentações hindus. Ao nível do solo, existe a caverna Ramayana com muitas estátuas e desenhos que descrevem a história de Rama, um dos avatares do deus Vishnu. O local é muito frequentado pela comunidade hindu da Malásia (casamentos hindus estavam sendo inclusive, realizados no local), basicamente indianos, mas muitos turistas, como chineses e mesmo malaios. Foi um dia que pude prestar mais atenção na multi-etinicidade do país, algo que já havia relatado no post de Penang. Muitas etnias, mas sem miscigenação. Uma forma peculiar de islamismo que lembra os rigores árabes (vagões de trens apenas para mulheres e em lugares públicos há avisos de “proibido comportamento indecente”, expressados por uma caricatura de duas pessoas se beijando), mas com uma liberdade maior nas roupas. Era normal ver na ruas jovens usando o hijab, o véu islâmico, mas com jeans apertadinhos e camisetas curtas. Uma combinação estranha, mas melhor do que a burka…

 

No final de semana, passei por mais uma experiência de couchsurfing em Kota Kemuning, ao sul de Kuala Lumpur. Uma experiência mais caseira, com visitas a shopping center, supermercados, restaurantes típicos e lojas para animais domésticos rs. A Clarise, que me hospedou, trabalha em KL durante a semana e me ofereceu essa oportunidade de conhecer um final de semana de um morador local. Acompanhei-a em algumas compras, fizemos outras no supermercado, cozinhamos (mais ela do que eu), perturbei um pouco os cães e o gato dela (principalmente o gato) e conheci alguns amigos dela durante um jantar em uma das noites. Foi uma excelente experiência novamente pela rede. Já ouvi algumas histórias negativas, mas como tudo na vida, temos que filtrar bem quem escolhemos para esses encontros, e até agora, meu filtro tem funcionado. E no dia seguinte, embarquei para voar até o Camboja, com a notícia que a Air Asia havia cancelado meu próximo vôo do Vietnã para a Indonésia. Pior para mim: perdi a conversão do dólar e o IOF e vou ter que pagar mais caro para reservar agora com outra companhia.]

 

Muito mais fotos aqui.

 

Próximo post: Phnom Pehn.

 

[1] Lista de países em percepção em corrupção – Transparência Internacional

[2] Lista de países classificados por GDP/percapita por várias fontes

[3] Lista de países classificados por liberdade econômica

[4] Lista de países classificados pelo IDH

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Dias 102 a 105 - Phnom Penh, Camboja

 

A ida ao Camboja foi planejada sobretudo para a visita do complexo de Angkor Wat, em Siem Reap, que será comentada no próximo post. Porém, conhecer sua capital fez-me rever alguns pré-conceitos que eu tinha desse país. Foi, provavelmente, o primeiro país que eu não imaginava ser como é. Ao menos em relação aos lugares em que passei. Para quem sempre gostou de geografia econômica, o Camboja é conhecido por ser um dos países mais pobres do mundo, com renda per-capita da mesma magnitude da África subsariana, e um IDH que o coloca na 138º em um total de 189 países. Além disso, o país é um dos recordistas em percepção de corrupção no mundo, ocupando a 157º posição em uma lista de 174 países. Eu esperava encontrar muitas situações que ilustrem essas condições, principalmente após o choque de modernidade que recebi em Kuala Lumpur. Mas não foi exatamente o que ocorreu.

 

A capital possui sim seus problemas, como qualquer cidade brasileira, mas também mostra o desenvolvimento de um bom planejamento urbanístico, preservação e cuidados que não imaginava encontrar em um país com indicadores tão ruins. Existem muitas avenidas largas, bem asfaltadas, arborizadas e com belas praças entre as pistas. Em muitas delas, muitas estruturas de lazer para as crianças. As calçadas, embora usadas praticamente como estacionamento de carros, são bem preservadas e na região central, muitos restaurantes e dois razoáveis shopping centers. A avenida cheia de bares que margeia o rio Mekong é acompanhada de um largo boulevard que é muito frequentado pela população após o final da tarde, quanto o sol dá uma trégua. Existem muitos que usam os aparelhos de ginástica para exercitar-se e grupos de aeróbica participam de aulas ao ar livre. Outros grupos jogam futebol, peteca e vôlei às margens do grande rio, que também é palco de passeios de botes para os interessados. Muitos cestos de lixos nas ruas e praças, traduzindo-se em poucos problemas de acúmulo de sujeira.

 

A concentração de renda aqui, porém, apesar de o índice Gini do país não ser tão absurdo, aparenta ser grande; muitos, mas muitos carros caros passeiam pela cidade, incluindo Bentleys, Porsches e Ferraris. Mercedes é quase carro popular aqui. A maioria deles estacionam próximos aos órgãos públicos, muitos deles sediados em edifícios magníficos. Considerando a informação da corrupção que reina no país, precisa dizer mais alguma coisa? De qualquer forma, eu acredito que o país possua uma economia informal muito grande para mostrar tal pujança em comparação o tamanho atribuído à economia. Imagine, o PIB de todo o país de 15 milhões de habitantes é 30% inferior ao PIB de Campinas, com 1 milhão de moradores! De onde vem todo esse dinheiro senão através de uma grande economia informal? Mas, embora esse ponto seja até positivo (menos impostos para o governo e mais dinheiro para as pessoas), o que se pode dizer da informalidade nos processos governamentais, como os projetos que são patrocinados por outros países (e são muitos – construção de praças, saneamento básico, preservação de templos), principalmente Canadá, Japão e China. Será que eles recebem integralmente todos os recursos que são enviados?

 

De qualquer forma, o país está reconstruindo-se. O Camboja foi palco na segunda metade dos anos 70 do século passado de um regime considerado o mais cruel do século, que matou cerca de 2 milhões de pessoas em um total de 8 milhões (25% da população) durante a sua curta, mas trágica, existência. A história pode ser entendida melhor através da visita do antigo escritório S-21, hoje transformado no Museu Tuol Sleng, palco de detenções, interrogatórios, torturas e assassinatos. Apontam-se 20.000 mortes somente nesse local, uma antiga escola secundária. O Museu mantém abertas as salas dos prisioneiros, mostra instrumentos de tortura e muitas fotos, algumas das quais não tive coragem de fotografar. Algo chocante. Mantém uma sala com ossos e crânios encontrados e 14 túmulos para o funeral dos 14 corpos encontrados já em decomposição após a derrubada do regime. O regime comunista, liderado pelo insano Pol Pot, inspirou-se posteriormente no maoísmo para construir uma sociedade basicamente agrária, e eliminou muitos que pudessem prejudicar suas estratégias, basicamente as pessoas de boa educação e formação que podiam questionar suas viabilidades, principalmente os professores. São marcas ainda difíceis de remover na memória das pessoas mais velhas do país.

 

A cidade de Phnom Penh não tem grandes atrações turísticas. Alguns bonitos templos, bem como o palácio real, são alguns locais que merecem ser visitados, mas para quem já passou pela Tailândia, não possui muita novidade. O país também é predominantemente budista e as construções, muito semelhantes. Eu gastei uns dias a mais na cidade pois fiz meu visto do Vietnã na embaixada daqui, e demorou 2 dias para ficar pronto. Enquanto na embaixada vietnamesa de Kuala Lumpur o visto custava US$100.00, aqui custou-me US$60.00. Ainda caro, mas 40% menos... Para entrar por terra no Vietnã, ter o visto antecipado é a única possibilidade. Aproveitei também para assistir um filme tailandês em um cinema local, com uma dublagem de terceira categoria para o cambojano. Uma comédia meio pastelão, onde a mocinha é uma garota de programa e é objeto de paixão do rapaz bonzinho. Algumas piadas e tiradas eram possíveis de entender, mas muitas vezes o pessoal que assistia se divertia e eu não fazia ideia do que estava acontecendo. De qualquer forma, é uma boa situação para treinar nosso entendimento de percepções corporais alheias.

 

Mais fotos da cidade e dos cambojanos aqui.

 

Próximo post: Siem Reap e Angkor Wat.

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Dias 106 a 109 - Siem Reap e Angkor Wat

 

De Phnom Pehn fui a Siem Reap de van com uma irlandesa que conheci no hostel. A viagem deveria demorar 5 horas, mas levou 6. Perfeito para os notórios atrasos na Ásia. De qualquer forma, como saímos bem cedo, chegamos após o almoço na cidade e conseguimos descansar um pouco. Na chegada, pegamos um tuktuk ao novo hostel e posteriormente já agendamos com ele para ser nosso motorista nos templos de Angkor Wat no dia seguinte. O calor estava muito forte e a princípio, apenas tomei um banho e fiquei no ar condicionado. No final da tarde, com a temperatura um pouco mais baixa, vimos alguns templos, uma apresentação de um recital em uma escola infantil (por acaso) e fomos jantar. O dia seguinte começaria cedo, pois escolhemos a visita do nascer do sol em Angkor, isso é, o motorista passaria no hostel às 05 e meia da manhã.

 

O parque arqueológico de Angkor Wat abriga o que restou de uma das maiores cidades do mundo nos séculos IX e XV. Inicialmente construído por povos hindus do reino Khmer, passou a ser modificado para o budismo após a conversão religiosa de um rei no ano de 1200 AD. Seu sucessor porém, retomou o hinduísmo como religião principal do reino e iniciou um processo de destruição de todas as imagens de Buda. Muitas estátuas sem cabeça estão bem preservadas para a visitação. Da mesma forma que os muçulmanos possuem uma história negativa na Índia, pela destruição dos templos hindus, os hindus também fizeram o mesmo nessa área tempos atrás. O complexo é enorme e é impossível visitar todos os locais em apenas um dia. O motorista do tuktuk, que recebeu 15 dólares pelo dia conosco, passou no horário combinado e nos levou ao portão Oeste das ruínas de Angkor Wat após passar pelo imenso fosso de 200 metros de largura. Essa grande quantidade de água era necessária para manter a umidade do solo constante durante os meses de seca e de monções, evitando rachaduras e a consequente implosão das construções. Assistimos ao nascer do sol por trás das gopuras, refletindo suas sombras no lago em frente às construções. Começar cedo ajudou a enfrentar melhor o calor intenso que fazia em Siem Reap nesses dias e tivemos um bom aproveitamento até umas 10 horas da manhã. Após esse horário o rendimento caiu e acabamos voltando para o hotel antes das 16 horas. De qualquer forma, foram quase 12 horas de visita, suficiente para visitar os templos principais do sítio.

 

Outra interessante área visitada foi o templo de Ta Prohm, onde após seu abandono pela civilização khmer (o abandono da cidade ainda é um mistério), a natureza formou complexos onde grandes árvores cresceram abraçadas às construções, formando hoje uma harmonia meio duvidosa, pela destruição que está sendo causada aos templos históricos. Já na cidade de Angkor Thom, o templo de Bayon impressiona pelas grandes faces de pedra esculpidas em suas torres e o templo Baphoun, construído em forma de pirâmide, permite a subida do visitante e proporciona uma linda vista do alto. Durante a visita, percebe-se algumas áreas bem conservadas, em geral apadrinhadas por organizações estrangeiras (com uma boa publicidade), mas muitas outras construções estão literalmente desabando. É permitido ao visitante quase tudo, e são poucas áreas cuja visitação é proibida. Muitas construções, se não receberem manutenção o mais rápido possível, não resistirão ao tempo, infelizmente.

 

Os dias seguintes à visita do complexo foram gastos para conhecer a cidade e seu dia a dia, bem como mais alguns templos e o agitado mercado noturno. Siem Reap é uma cidade bem menor do que Phnom Penh e conta com uma infraestrutura razoável, mas certamente bem pior do que a capital. Já demonstra um pouco mais a pobreza do país, embora conte com lugares agradáveis para percorrer (exceto pelo calor que fez nesses dias), como a avenida ao longo do rio e a praça em frente à residência real. As caminhadas são mais tranquilas, em função do trânsito menos intenso. E com uma frequência bem maior do que Phnom Penh, avista-se pré-adolescentes, na faixa de 10 a 12 anos, pilotando os pequenos scooters que pipocam por todo o lado que você anda, com uma liberdade gostosa de se pilotar em baixa velocidade sem capacete. Já arquitetonicamente a cidade não possui muitas atrações, exceto pelos grandes hotéis de luxo, numerosos em função das visitas de turistas para o Angkor Wat.

 

Mais do que conhecer a cidade, visualizei muito do interior do Camboja pela estrada, tanto na ida a Siem Reap quanto no prosseguimento da viagem até o Laos. Quando passávamos nas pequenas vilas, a impressão positiva do país através da capital desvanecia, pois a pobreza é mais escancarada. Algumas visões remetem às visões da Índia e do Nepal. A infraestrutura também é precária; as estradas, simples, possuem trechos em que seria melhor tirar todo o asfalto que sobrou e deixar apenas a estrada de terra. O país, assim como todo o Sudeste asiático, possui um período de chuvas muito forte anualmente, as monções. E todas as construções vistas da estrada são construídas elevadas, da mesma forma que as palafitas na região amazônica, e em sua frente ou nas laterais são escavados pequenos açudes para armazenamento da água nesse período. Como passei no final do período de seca, a maioria deles já estava vazio. Por toda a estrada são comuns os campos de arroz, base da alimentação da região e também usado como matéria-prima para as cervejas locais. E não vi nenhum prejuízo para a qualidade das mesmas na troca do nosso querido gritz (milho desengordurado) pelo arroz. As cervejas aqui são tão refrescantes quanto as brasileiras!

 

Mais fotos aqui.

 

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Dias 110 a 113 - Don Det e Don Khon, Laos

 

Essa visita é um exemplo de mudanças de planos ocasionadas pelas sugestões de colegas durante a viagem. Meu plano inicial era ir direto para a capital do Laos, possivelmente através da Tailândia novamente, pois o caminho é mais curto. Mas resolvi fazer um outro caminho, através da fronteira do Camboja para alcançar um lugar conhecido como 4000 islands, ou Si Phan Don, um grande arquipélago fluvial no meio do Rio Mekong. Dentre todas as ilhas, as mais visitadas são as ilhas de Don Det e Don Khon. Foi o lugar mais remoto e longe da civilização que visitei até agora. Uma simples verificação no Google Maps demonstra do que estou falando. A viagem de ônibus desde Siem Reap, que começou às 05 da manhã, durou 14 horas. Embora o ônibus “VIP” até fosse razoável, a má condição da estrada principalmente na fase final de chegada na fronteira não permitiu nenhum conforto durante a viagem; parecia que estávamos no lombo de um burro… Para os procedimentos burocráticos na fronteira, praticamente todos os passageiros delegaram ao funcionário da companhia de ônibus a tarefa de providenciar a saída do país, a emissão do visto e a chegada ao Laos. Não esperamos nem uma hora, e nem vimos a cara dos agentes laosianos. Ele voltou e entregou os passaportes todos carimbados e com o visto. Claro que recebeu uma boa comissão por isso. Mais uma prova que visto só serve para encher o bolso do governo e remunerar alguns funcionários através de propinas.

 

Chegamos já de noite, e o ônibus nos deixa em uma estrada próxima a uma pequena vila às margens do rio. Nessa vila, pegamos um bote totalmente rústico, que quase virou quando uma das pessoas mudou de lugar. Em um breu absurdo, numa noite totalmente estrelada e longe das luzes das cidades, não seria um bom lugar e uma boa hora para o bote virar, com todas nossas bagagens… Mas chegamos são e salvos na outra margem. Esses dias passei com um pessoal da Inglaterra, um australiano, com o qual dividi um bangalô, e uma espanhola, todos recém-conhecidos no ônibus durante a viagem a partir do Camboja. O sinal de Wi-fi na ilha é muito recente e péssimo. O dono dos bangalôs, um indiano-inglês nos disse que até a energia elétrica só passou a ser oferecida 24 horas por dia no ano passado, e mesmo assim, apenas em algumas construções. Não existe iluminação nas vielas. De noite, a escuridão reina. E, após um jantar e umas cervejinhas, dormimos relativamente cedo, pois estávamos todos cansados da viagem.

 

No dia seguinte percebemos o quanto a ilha lhe obriga a relaxar. Não se tem muita coisa para fazer, mas sim para sentir e apreciar. Um atmosfera preguiçosa toma conta de todo o local. Não existem avenidas, nem carros, apenas uma rua que circula por toda a ilha com no máximo 5 metros de largura. Os habitantes locais não devem passar de 300 pessoas, enquanto a maior parte são de turistas interessados nesse ambiente. Os turistas, entretanto, já mudam um pouco o estado da ilha, pois já existem muitos pequenos escritórios de turismo no local, que, em conjunto com alguns campos de arroz e a pesca, já a maior fonte de receita do local.

 

Decidimos alugar algumas bicicletas e pedalar até uma outra ilha, Don Khon, que é ligada de forma interessante a Don Det: através de uma ponte de concreto, construída pelos antigos colonizadores franceses, resquício de uma pequena ferrovia no passado. Confesso que li algo sobre isso mas não consegui entender a lógica dessa construção, que foi abandonada na década de 40 do século passado. De qualquer forma, ainda hoje é utilizada pelos locais. Para passar para a outra ilha não tem almoço grátis, nem em um país que se considera socialista (e manter essa consideração é uma piada, ainda vou escrever sobre isso posteriormente): existe um pedágio de 25.000 kips para estrangeiros (pouco mais de 3 dólares) para posteriormente termos acesso às cachoeiras e a praia fluvial. As quedas d’água chegam a impressionar em virtude das ilhas serem totalmente planas até então no nosso circuito. Mas quando chegamos mais perto das quedas, vemos ao fundo uma elevação de onde vêm o fluxo de água. A ilha de Don Khon é suficientemente grande para mantê-lo perene durante todo o ano, embora nas monções ele modifique completamente a paisagem. As cachoeiras formam alguns lagos naturais que possibilitam o mergulho e desembocam num estuário que forma a praia em que fomos a seguir, de areias impressionantemente brancas e volumosas, como uma praia marítima. Voltamos posteriormente para assistir um pôr do sol espetacular brilhando sobre o Rio Mekong. Uma paz que nem os barquinhos barulhentos a motor conseguiam desvanecer.

 

No segundo dia completo na ilha decidi não fazer absolutamente nada e absorver um pouco a atmosfera do local. Enquanto o sol estava forte, li alguma coisa que tinha salvo para ler no computador e um pouco de um livrinho de alguns ensinamentos budistas que ganhei, de frente ao rio no grande bangalô do restaurante da pousada. No meio da tarde aluguei um “tube”, ou uma câmara de pneu de caminhão, e fiquei de bobeira no rio até um novo pôr do sol. Deixava a corrente levar, influenciava os movimentos eventualmente para chegar na outra margem (o que não foi legal, pois vi um depósito de lixo “escondido” dos olhos dos turistas), mas sempre na mesma forma vagarosa, nesse novo arranjo de viagem lenta: na câmara de um pneu de caminhão flutuando no Rio Mekong… Sempre tem um jeito de aumentar as possibilidades!

 

No dia seguinte, decidimos todos deixar a ilha, mas cada um do grupo teve seu destino. Eu parti para a capital do país, em uma viagem cansativa, de 4 horas até Pakse e uma espera de 5 horas na cidade para pegar o ônibus-leito até Vientiane, que demoraria mais 10 horas. Foram três dias de relaxamento total e mais um quarto dia de viagem que me manteve praticamente ausente do mundo digital: só conseguia alguns minutos de conexão por dia e apenas pelo celular. Mesmo para quem usa esse meio para contatos e alguma forma de trabalho, um afastamento é importante para ao menos, certificar-se que você ainda controla e responde pelos seus próprios atos, e que a intensidade da ansiedade pode ser menor do que a sensação trazida por esse afrouxamento das tensões mentais. Talvez seja um caminho a ser provado em direção à capacidade de meditar e relaxar a mente… :)

 

Mais fotos da ilha aqui.

 

Próximo post: Vientiane.

  • 3 semanas depois...
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Dias 114 a 117 - Pakse e Vientiane

 

Saí de Don Det meio zen, com uma sensação fantástica de relaxamento mas sentindo também que nos últimos 3 dias a vida passou e eu não acompanhei. Mas conclui que necessitar estar a par de tudo é algo como uma doença moderna, e isso pode não ser bom. E considerei dar uma desacelerada nas leituras, nos trabalhos, no blog e no facebook. Porém, a capital do país, Vientiane não ajudou muito. É uma cidade agradável, mas não tem muitas atrações. Além disso, o calor não permitia aproveitar a caminhada de forma agradável. Acabei ficando mais tempo no ar condicionado do que imaginei. Mas por outro lado, algumas amizades que fiz no hostel ajudaram-me a manter parcialmente meu compromisso nessa desaceleração! E com uma cervejinha barata (e bem razoável) toda noite! :-)

 

Na viagem de ônibus de Don Det a Vientiane, passamos por Pakse, e tivemos que esperar por mais de cinco horas o ônibus que nos levaria à capital. Andamos um pouco pela cidade, passamos por um templo bem interessante, com pinturas da vida de Buda que eu ainda não tinha visto (e percebi que aqui nos templos do Laos essas pinturas são comuns), mas foi só. O ônibus que nos levou à Vientiane era leito e consegui dormir de forma razoável, apesar de perceber que a estrada era péssima. Na capital seguimos para um hostel sugerido por um alemão que conheci na viagem e nos estabelecemos. A cidade ainda não estava tão quente e não parecia que nesses próximos 3 dias a temperatura chegaria a 40ºC e tornaria simples caminhadas em penosos desafios.

 

 

Bancos de areia do Mekong na estação seca

Vientiane me pareceu uma cidade muito bem arrumada para (mais) um dos países mais pobres do mundo. Surpreendeu-me, assim como a Phnom Penh. Boulevares, bons calçamentos nas ruas, bem limpa em toda a área central, mas com um ar um tanto carregado de poeira. Porém, essa poeira não vem principalmente de ruas sem asfalto, mas sim do banco de areia que o Rio Mekong, na estação seca, deixa exposto em função da diminuição da altura do seu leito. A paisagem impressiona. Do boulevard até às margens do rio, nessa estação, existe uma distância de aproximadamente 400 metros, formada por terra bem seca, que flutua pela cidade ao sabor do vento. Logo depois avista-se o rio, margeando ao sul a cidade tailandesa de Si Chiang Mai. Vem logo à cabeça como os ciclos influenciam a história. Tanto os longos ciclos da natureza, reconhecidos mirando-se, por exemplo, nessa paisagem, como os ciclos curtos, apreciando esse pôr do sol!

 

A cidade mantém uma vida de aspecto praiano em função do rio, assim como Phnom Penh. Os jardins que margeiam o rio estão sempre cheios pela população local, que misturam-se entre várias atividades como acompanhar as crianças pelos brinquedos dos parques, participar de uma aula de aeróbica ao entardecer, correr ou caminhar, passear pelo night market, cujas barracas começam a ser montadas após às 5 horas da tarde, enfim, um local de total socialização, que não deve nada aos calçadões das cidades praianas brasileiras. Lembra-me muito João Pessoa, no sentido de que a cidade, apesar de relativamente grande (cerca de 700 mil habitantes, embora menos da metade disso more na região central), ainda guarda ares de cidade mais interiorana, com um trânsito calmo, com prédios baixos (exceto por um hotel, não vi edifícios maiores do que 10 andares, mesmo comerciais) e um ar de que não pretende alterar a situação. Há poucas construções na cidade e nenhuma alterará esse padrão.

 

Turisticamente, a cidade não possui muitas locais de visitação. O principal é o Pha That Luang, um dos mais importantes monumentos budistas no país, localizado em uma imensa e bonita praça com muitos templos ao redor, sendo o principal à sua direita, o Wat Thattluang Neua, com bonitas pinturas da vida de Buda no seu interior. O Victoria Gate, monumento que procura se assemelhar ao Arco do Triunfo de Paris, mas possui uma arquitetura própria, antecede um belo boulevard com fontes e bem cuidados jardins. Os monumentos públicos, sempre construídos claro, com dinheiro público e com a ineficiência que faz parte dos Estados, são uma grande atração arquitetônica, cujas linhas assemelham-se muito das construções tailandesas. A cidade possui ainda muitos grandes templos. Apenas num raio de 1km do hostel que fiquei, existiam pelo menos 10 deles. E muitos deles abrigam escolas de meditação e residências para os monges, que misturam-se no dia a dia da cidade de forma muito frequente, com sua tradicional vestimenta laranja.

 

Uma atração não muito conhecida na cidade, mas que gostei muito de conhecer é o COPE (Cooperative Orthotic and Prosthetic Enterprise), organização que providencia reabilitação através de órteses e próteses para pessoas que sofreram acidentes através de munições explosivas, como minas e bombas. O Laos foi um dos países mais bombardeados no mundo durante a Guerra do Vietnã (falam-se em dois milhões de toneladas de bombas) e muitos artefatos não explodiram durante a queda, mas vieram a causar muitos acidentes posteriormente. A população do país possui uma das maiores incidências de amputações de membros no mundo e essa organização, financiada por ONGs internacionais, procura oferecer condições melhores para as vítimas. Eles mantém um museu com muitos vídeos e histórias sobre a guerra e suas consequências posteriores para a população. Muito enriquecedor!

 

De Vientiane comprei uma passagem de ônibus leito para Luang Prabang, meu último destino no Laos. O ônibus impressionou pelo conforto. O transporte rodoviário no Laos é caro para os padrões asiáticos, mas os veículos tem um nível surpreendente de conforto. O que estraga são as estradas, que dificultam ao máximo seu sono.

 

Mais fotos aqui.

 

Próximo post: Luang Prabang.

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Dias 118 a 121 - Luang Prabang

 

Após uma viagem durante toda a noite em um bom ônibus leito, mas que não faz milagre em proporcionar algum conforto em função da péssima conservação da estrada, cheguei em Luang Prabang, antiga capital do antigo reino do Laos (desde 1353) e hoje Patrimônio Cultural da UNESCO. Ainda vou entender melhor como funciona essas atribuições da UNESCO, pois vários lugares que visito fazem parte desse patrimônio. Com tanta gente no time, não dá mais para analisar a real riqueza do lugar apenas por esse título. Não sei até que ponto interesses políticos e econômicos influenciam essas escolhas. Apesar de eu ter gostado do ambiente da cidade, com uma influência arquitetônica francesa muito forte nos casarões, bonitos templos e cercada por montanhas e muito verde, construindo uma personalidade única e charmosa apesar de estar localizada em um dos países mais pobres do mundo, não sei até que ponto merece estar classificada como Patrimônio Cultural da Humanidade. Bom, mas por comparação, se até Brasília está… Luang Prabang merece sim estar na lista…

 

Cheguei na cidade por volta das 06 horas da manhã, e guiado pelo GPS, decidi ir a pé para o hostel e fiquei na esperança de encontrar alguns monges coletando “rice alms” dos devotos budistas. Essa cerimônia ocorre diariamente e os moradores da cidade oferecem alimento aos monges mas não por caridade em si, e sim por respeito a pessoas espiritualmente mais desenvolvidas. Demonstra ainda humildade e uma ligação para o reino espiritual, além de ser uma oportunidade para os leigos de fazer o mérito. Tive sorte, embora não tenha conseguido boas fotos, pois os monges andam em um passo acelerado… Com sono e carregando quase 15Kg fiquei para trás. Mas consegui acompanhar duas devoções e ouvir por um bom tempo a canção que eles entoam durante sua caminhada.

 

Já estabelecido na cidade, foi minha vez de peregrinar. Algumas caminhadas agradáveis encontram-se na colina Phou Si, cercada de vários templos, sendo um deles inclusive dentro de uma pequena gruta com a imagem de Buddha (sempre ele), além de estar representado em vários pontos por várias estátuas. Uma pena que a cidade estava com o céu completamente nebuloso e a vista da cidade do topo da colina não foi tão impressionante assim. O circuito termina em um monastério budista, onde vários jovens monges estavam saindo de um de seus encontros de meditação. Ao final dessa caminhada, em direção à parte leste da cidade e fazendo o retorno pela avenida que margeia o rio, pode-se observar vários dos mais belos templos de Laos, ruas bem cuidadas, arborizadas e com bonitas construções europeias. Dessa margem do rio a visão para o pôr do sol é privilegiada, mas com a má condição atmosférica deixou muito a desejar.

 

A cidade possui um grande mercado noturno, que sempre tínhamos de atravessar para alcançar os pontos para jantar. Vende-se de tudo e na área de alimentação, os famosos baguetes franceses roubam a cena, embora hajam várias barracas de comida laosiana sendo oferecida como buffet por 10.000 kips (US$1,30) o prato (pequeno, mas você podia fazer uma montanhinha). Encontrei na cidade duas colegas que havia conhecido em Don Det, uma espanhola e uma holandesa. E jantamos juntos uma noite antes da espanhola deixar a cidade. No dia seguinte, fomos visitar as cachoeiras Kuang Si, a cerca de uma hora da cidade por tuktuk. Nele, acabamos conhecendo um alemão que

 

nos acompanhou no passeio. As cachoeiras são um espetáculo, com diferentes níveis de quedas, onde cada nível guarda uma grande piscina natural, com águas azuis esverdeadas que poderiam ser ainda mais impressionante se o tempo não estivesse meio nublado. Caminhando cada vez mais nível acima, chega-se na cachoeira “mãe”, com 50 metros de altura e que alimenta todo o fluxo de água e tanta beleza. A área também guarda um centro de preservação de ursos negros asiáticos, que são caçados na região. Existiam cerca de 8 ursos no parque. Mas apesar de ser da mesma linha ancestral que nossos queridos cães, não são muito amistosos… Não dão a mínima para você!

 

Alimentada pelo turismo, Luang Prabang oferece algumas atrações noturnas também. Em uma noite fomos num barzinho de nome utopia, ambiente muito agradável, maior parte sem cobertura e iluminação por velas, que toca muito rock dos anos 90, embora de vez em quando aparecia uma Adele no meio da “playlist”. Em outra noite fomos ver um filme oferecido nas instalações de um hostel, gratuitamente. Ou mais ou menos. Você precisava fazer ao menos um pedido, em um menu com preços bem inflados em relação à cidade. Mas está valendo. Pagamos também pelo ambiente e é assim que tem de ser. O problema é que faltando uns 20 minutos para o final o DVD travou e foi impossível continuar. Soubemos do final consultando a internet hehe. No dia seguinte, adiantei algumas coisas nas minhas leituras e fui no final da tarde pegar o ônibus para o Vietnã. Seriam 24 horas de viagem. E, já sabia, de estrada péssima. Bom, para quem se aventura a viajar no interior do Laos não se pode esperar muita coisa…

 

Mais fotos aqui.

 

Próximo post: Hanoi e Halong Bay, Vietnã.

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Dias 122 a 125 - Hanói e Halong Bay

 

A chegada no Vietnã lembrou-me um pouco a Índia. Após uma longa viagem de ônibus de Luang Prabang, onde ficamos esperando mais de uma hora a fronteira do país abrir e mais uma hora pela lerdeza dos funcionários em providenciar nossas entradas (e olha que todos já tinham visto – não existe meios de conseguir vistos nas fronteiras terrestres do país), cheguei de noite e rapidamente abordado por centenas de taxistas e mototaxistas implorando para me levar no hotel. A visão indiana permaneceu na mente quando deparei-me com o trânsito, sem regras, barulhento, caótico, onde 90% dos veículos são de duas rodas. Devem ter aprendido a buzinar com os indianos, formando uma sinfonia que desnorteia seu juízo. Para ajudar a chegada, o motorista que me levou cobrou posteriormente a mais do que o preço combinado. Depois de uma discussão de 5 minutos, dei um trocado a mais, deixei ele falando sozinho e entrei no hostel. Chegada nada positiva no país.

 

O dia seguinte foi dedicado à cidade, e meu planejamento era usar os dois próximos dias em Halong Bay. Hanói é a capital do país, embora o posto de maior cidade do Vietnã seja de Saigon, renomeada cidade de Ho Chi Minh após a vitória das forças comunistas do norte, bem ao estilo do ridículo culto de personalidade que rege os governos (ditos) vermelhinhos. Digo “dito”, porque o estado sofre, como Laos e Camboja, de uma falta de auto-afirmação ideológica tremenda ao afirmar-se comunista-socialista, mas incentivando o capitalismo em toda a parte, de forma a promover o crescimento da economia e a diminuir a pobreza. Como falei anteriormente, ainda vou escrever sobre isso; como a manutenção do poder, o verdadeiro mal de um Estado, o leva a insistir tanto na manutenção de ideologias fracassadas, que nem subsistem mais na orientação econômica do país.

 

A capital do Vietnã não é uma cidade turística, com muitas atrações. Isso não me afeta tanto, pois também gosto de conhecer as cidades reais e não os spots existentes para serem apreciados por estrangeiros, e em praticamente todas as vezes, meios de extorsão financeira indireta pelos altos preços praticados nos arredores. As primeiras visões diurnas da cidade refletem algumas expectativas, como as senhorinhas de chapéu típico carregando duplas bandejas de frutas (e muitas coisas mais) penduradas em um suporte que é levado aos ombros, parecendo as antigas balanças manuais. Inúmeras pessoas sentadas em banquinhos e em frente de mesas cujas alturas parecem casinha de boneca. Eu jantei no dia anterior nesses banquinhos e a sensação é no mínimo desconfortável… Bicicletas e motocicletas forma 90% dos veículos e carregam o que se pode imaginar. Seu conceito mental sobre carga em duas rodas é completamente alterado.

 

A cidade, em meio a um trânsito irritante, mantém algumas praças bem cuidadas, bem como calçadas e ruas. Alguma sujeira visível sim: as cidades do Camboja e Laos me pareceram melhor cuidadas. Mas sem comparação com as cidades indianas… As influências arquitetônicas mais contemporâneas mesclam elementos franceses e soviéticos, além da influência chinesa em construções mais antigas. Apesar de estar banhada por um rio, na área central a cidade não aproveita bem suas margens: sujas e com construções mal cuidadas ao redor. Não há uma avenida e calçadas o acompanhando, muito menos seu uso para lazer da população. Existe sim alguns lagos a oeste da cidade com alguma estrutura para seus moradores, mas é algo bem limitado.

 

Visitei o Museu da prisão de Hoa Lo, construída em 1896 pelos franceses, quando os mesmos ocupavam o Vietnã. A construção hoje restante é apenas uma parte da original, que chegou a encarcerar 2000 pessoas nos anos 30 do século passado. Foi usado pela França contra os revolucionários vietnamitas e pelos próprios vietnamitas contra os americanos posteriormente. Como não poderia ser diferente, um país sempre conta a história sob sua perspectiva, e o museu é recheado de honras aos revolucionários vietnamitas do passado, inclusive dos comunistas que venceram a guerra em 1975. Celas ainda bem conservadas podem ser visitadas e expõem bem a angústia das pessoas que tiveram a infelicidade de te-las presentes na sua vida. Outro local interessante foi o Templo da Literatura, uma grande área com jardins muito bem cuidados e muito verde, fundada em 1070 AD e transformada em universidade 6 anos depois, tornando-se a primeira universidade do Vietnã, contemporânea ao início dos movimentos universitários na Europa. O templo tem muita influência chinesa e é dedicado ao Confucionismo. Existe ainda na cidade uma avenida bem larga com a maioria dos prédios governamentais e com templos dedicados ao culto de Ho Chi Minh. Passei batido. Abomino qualquer tipo de cultos à personalidade, principalmente quando o mesmo está embalsamado em um mausoléu da mesma forma que Lênin em Moscou e tal qual, propagou ideias comunistas e fracassadas pelo mundo, levando à morte milhões de pessoas.

 

Os próximos dois dias foram dedicados a Halong Bay. Preferi comprar um tour fechado do que ir só, pois o preço era pouca coisa maior e eu economizaria um bom tempo. Saímos de Hanói cedo e em três horas e meia chegamos no porto de Halong, onde pegamos o barco cuja sala de estar já estava preparada para o almoço. O barco não era grande, mas acomodava bem cerca de 20 pessoas. A noite foi passada no mesmo em quartos bem arrumados, porém um pouco velhos. Como o mar estava bem calmo, não foi difícil pegar no sono, embora, com atenção, podíamos perceber um leve vai e vem do quarto. Tínhamos água e energia normalmente, mas o barulho do gerador atrapalhava perturbava um pouco. Visitei a baía de uma forma usualmente diferente do que as fotos mostram: com tempo chuvoso. O local, com várias pequenas ilhas de formação calcárea é similar ao que visitei em Koh Phi Phi, a qual foi um espetáculo em virtude do tempo e da cristalinidade das águas. Talvez por esses dois fatores não tenha me impressionado muito por Halong Bay. Minha base de comparação estava em um grau muito elevado e aqui, o tempo nada ajudou. A chuva deu uma trégua, entretanto, na hora de passear de caiaque na baía. Foi o melhor momento do passeio. A visita de uma das praias foi feita apenas pelo barco, pois a chuva tornava a aproximação mais arriscada. Visitamos duas cavernas, na verdade parte de um mesmo sistema subterrâneo com formações muito bonitas, mas já um tanto alteradas para o turismo, com vários pisos construídos em pedra e muitas passagens em madeira construídas sobre vãos da caverna. Foram as primeiras cavernas que visitei com luzes coloridas, de gosto duvidoso. Elas selam qualquer experiência de visitar uma caverna em sua forma bruta e impedem a sensação que só uma caverna pode oferecer ao visitante: o silêncio, a serenidade e a ausência completa de luz, fazendo com que sejamos forçados a sensibilizar os demais sentidos. Por um outro lado, permitem observar com clareza todas as lindas formações em seu interior. Mas como ouvi recentemente de uma amiga, não precisava ser toda colorida, estilo Walt Disney :)

 

E após um pneu furado da Van, chegamos de volta à Hanói no dia seguinte…

 

Muito mais fotos aqui.

 

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Dias 126 a 128 - Hue

 

O ônibus noturno vindo de Hanói chegou na cidade de Hue por volta das 8 horas da manhã. As estradas no Vietnã, ao menos as principais, parecem um pouco melhores do que as do Camboja e Laos, fato que me permitiu dormir bem no ônibus. Não havia reservado hotel na cidade, e aceitei o convite de um grupo canadense para checar o único hostel da cidade, que elas haviam feito reserva. Decidi ficar por lá mesmo. Como o check-in ocorreria apenas às 11 horas e o sinal de internet estava péssimo, saí para andar um pouco pelas adjacências e deparei-me uma cidade bem menor do que Hanói, com menos pressa e pessoas mais gentis, mesmo na situação de abordar os turistas pela rua. Sendo uma cidade mais voltada para os estrangeiros, existem menos locais que caracterizam o país, como as mesas e cadeiras de bonecas, principalmente na parte turística, recheada com restaurantes de todos os tipos e bem mais caros que a média local. Mas mesmo assim, é difícil encontrar algum prato por mais de 6 ou 7 reais. E esses são os mais caros, com camarões ou frutos do mar. Viver no Vietnã de fato é muito barato.

 

A cidade de Hue possui uma situação histórica ímpar no país. Ela foi o centro imperial do da dinastia Nguyễn, que governou a região de 1802 a 1945, quando foi vencida pelas forças comunistas de Ho Chi Minh. O maior sítio legado pelo império foi a cidade velha e a Cidadela, na margem norte do Rio Perfume. A construção é imensa e originalmente possuía em seu entorno muralhas com um comprimento total de 10km, cercada por um fosso de 4 metros de profundidade e 10 portões fortificados. Grande parte da população reside na área. Dentro dessa grande área, existe a cidadela menor, centro principal do antigo império, onde todos as muralhas estão preservadas e ocorre a visitação turística paga. Dentro dessa perímetro de muralhas de 6 metros de altura com um comprimento de 2,5km,

 

encontram-se palácios, templos, pavilhões, mercados, teatro, museus e galerias, em um ambiente onde é proibido a circulação de veículos motorizados, fornecendo uma paz única nas longas caminhadas possíveis de serem realizadas. Aparenta uma real cidade, com ruas internas construídas em quadriláteros e muros em cada quarteirão guardando as construções. A área, infelizmente, ficou abandonada durante algumas décadas e nota-se que em muitos quarteirões as construções estão bem comprometidas ou nem mesmo existem mais. Em outros, porém, sobrevivem com um esplendor que possui uma áurea chinesa, em função da influência que essa cultura exerceu no Vietnã em séculos passados.

 

No mesmo dia, via site dos mochileiros.com, recebi um e-mail de uma brasileira que coincidentemente estava na cidade e ia na manhã seguinte para Hoi An, uma cidade ao sul do país. Jantamos juntos na companhia um malaio em um restaurante local. A especialidade da cidade é o bún bò Huế, com noodles feitos de arroz e mais grossos do que o phở, mais consumido em Hanói. Inclui carne de vaca, verduras e temperos que lembram capim-cidreira. A cerveja é barata, cerca de 1,5 a 2 reais a garrafa. De noite, a iluminação da ponte principal e de algumas construções deixa a cidade com um ar cosmopolita e agradável. Seguindo a tradição vietnamesa das cores, a iluminação da ponte muda de cor constantemente, assim como alguns prédios e restaurantes seguem o mesmo padrão. O movimento da cidade dilui-se cedo, entretanto, levando ao desligamento de todas as luzes de decoração às 22:00hs.

 

No dia seguinte fui conhecer a Dieu De National Pagoda construída em 1841, a National School, famosa escola secundária onde estudaram muitas personalidades vietnamitas e uma bonita e diferente catedral (Phu Cam Cathedral), além de claro, aproveitar para andar pelas ruas e perceber o modo de vida das pessoas. Pela primeira vez no Vietnã, fui em um grande supermercado ao final da tarde para comprar algumas coisas para comer entre as refeições. É um ótimo lugar para checar também os sobrepreços que cobram da gente nas esquinas da área turística. Lá, percebe-se que os preços de biscoitos, snacks e chocolates que são vendidos alcançam o dobro do preço real, mesmo ainda que baratos para os padrões brasileiros. Imagina-se quanto é o preço nos supermercados…

 

Mais tarde, encontrei-me com duas colegas do Couchsurfing que moram na cidade, e fomos primeiramente tomar uma Bia hơi, cerveja fraca e meio aguada típica do Vietnã. É produzida diariamente em containers, não é monitorada pela agência de saúde e custa uma fração do preço das cervejas engarrafadas, que já são baratas. Equivale a 50 centavos de real por caneca. Acredito que tenha menos de 3% de álcool e cerca de 7º de extrato original. Não, não é um primor de cerveja, mas para refrescar durante o calor daqui (e por esse preço) está valendo. Ainda mil vezes melhor do que um refrigerante. O padrão varia muito em relação ao local, como percebi depois nas próximas cidades… Posteriormente, esperamos uma amiga delas também do couchsurfing, mas francesa, para jantarmos. Fomos a uma das barracas tradicionais da cidade, onde todos os clientes são vietnamitas. De estrangeiros, apenas eu e a francesa. E comi a melhor refeição que tinha comido na cidade, embora tenha vindo com um pouco de pimenta a mais. Arroz, salada, um bom bife e brotos de feijão por R$1,50. Coisa de louco…Mas a noite de vivência local ainda não tinha acabado. Fomos a outras barracas de sobremesas, e comemos uns bolinhos fritos, mas doces. Um deles parecia nossos bolinhos de chuva, e tinha outros muito bons com banana dentro. E para completar a noite, paramos em um show de música pop vietnamita, promovido na cidade pela Yamaha. Pelo que comentaram, todos que estiveram no palco são astros no país e eram admirados por muitos, embora a expressão da emoção é mais contida aqui do que no Brasil. Porém, quando o Justin Bieber local apareceu ao final do show, alguns grupos de meninas não contiveram os gritinhos. A contenção da emoção só vai mesmo até onde uma causa possa atingir seu limiar. E, para tudo, sempre existe uma causa que pode atingir qualquer limiar...

 

Mais fotos aqui.

 

Próximo post: Da Nang.

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