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Estou sem palavras para detalhar o que foi esse festival. Mas mesmo sem palavras, o jeito é buscar do fundo da indignação e poder ao menos me pronunciar a respeito do ocorrido.

Quando alguém diz que “a propaganda é a alma do negócio” ela provavelmente sabe do que está falando. Porque realmente É! A propaganda desse festival foi marcante pelas redes sociais, era impossível não ficar com vontade de ir. Covers de artistas fodásticos como The Doors, Janis Joplin, Jimi Hendrix, Dj´s e Reggae, inclusive com artistas da própria cidade, como Ventania e Força da Paz. Fotos incríveis compartilhadas todos os dias. Três palcos de 500m pra rock, reggae e música eletrônica, certamente na intenção de atingir todas as tribos, e claro, mais gente.

 

Me juntei a uma excursão que saiu de Sp e fui. Chegando na cidade já começou a palhaçada: vários ônibus parados porque alguém disse que não dava pra passar pois estava atolando, ou deslizando, ou sei lá o quê. Para ir era preciso pegar um dos ônibus da cidade, e pagar a quantia módica de R$10,00, que subiu pra R$15,00 e depois pra R$25,00. Se não passava ônibus, porque só o ônibus da cidade passava? Cheiro de armação. Galera do ônibus convenceu nosso motorista a ir, e ele foi. Claro que não houve problema. Alguns moradores da cidade aproveitaram o momento pra extorquir dinheiro dos desinformados. O trânsito perto do local estava grande, pessoas, carros, motos, vans, peruas, e demoramos pra chegar.

 

O kilo de alimento que anunciaram no site e no convite nem foi cobrado, e quando alguém dizia que havia trazido eles apontavam um canto e mandavam deixar ali mesmo. O sol era intenso, tão intenso que me deixou com a marca do óculos e o nariz ardendo num período de apenas uma hora de exposição, que foi enquanto eu montava a barraca. O camping era no meio de um pasto, tentei escolher uma parte onde tinha menos cocô de gado, pois estava cheio de esterco por todos os lados, além de ter uma rede elétrica passando por cima, o que causou queda de raios no meio do camping. Sendo um pasto, inevitável encontrar carrapatos, e foi o que aconteceu. Tirei vários da minha coxa, da minha barriga, do meu braço. Estou coçando até agora.

Depois que montei a barraca, saí pra dar uma olhada, e parecia que eu estava no meio de uma obra inacabada: apenas cinco banheiros químicos e alguns banheiros feitos de tapume, aquela madeira de construção. Além de precários, eram insuficientes para todo mundo, e na primeira noite já estavam sem condições de uso. Perguntei onde era a área de banho, e um cara que aparentemente cuidava da organização me disse que “ainda estão montando”. Na entrada, uma das organizadoras da excursão que eu estava foi barrada porque levava uma sacolinha com coisas pra comer. Queriam que consumíssemos no restaurante de lá, óbvio. Mas não barraram pessoas entrando com caixas de cerveja, garrafas com bebida alcoolica e coolers térmicos, o que não faz sentido, já que as bebidas também seriam vendidas no local. Fui no restaurante pra tentar comer e só de olhar desisti: um monte de gente comendo em pé, mais um monte de gente sentado em poucas mesinhas, um outro tanto esperando pra comer e apenas um garçom anotando os pedidos. Sorte que eu tinha passado no mercado e levado um monte de coisas de comer na mochila, senão tinha passado fome, pois o restaurante JAMAIS conseguiria servir as 6000 pessoas que estavam no lugar.

As tendas ainda estavam inacabadas, nem de longe se pareciam com o que havia sido anunciado e o único palco mais ou menos pronto que tocou um pouco de música caiu depois de um tempo.

 

E aí veio o pior: a tempestade. A chuva durou umas duas horas e foi tão forte que inundou tudo, levou um monte de barracas embora e raios caíam no meio do camping, as pessoas saíram correndo, mas NÃO HAVIA ABRIGO. Um carioca morreu atingido por um raio, e mais três pessoas que estavam com ele se feriram. A única ambulância do local levou os feridos para o hospital de Três Corações, e o resto da festa ficou sem socorro caso acontecesse mais alguma coisa. Minha barraca ficou toda alagada, quando entrei minhas coisas nadavam na água, molhou tudo e fiquei sem roupa pra trocar, assim como a maioria das pessoas que estavam ali. A chuva forte fez com que todos ficassem ilhados, não havia como sair do local pois a estrada estava atolando, e a maioria dos ônibus haviam ficado na cidade por causa do tal boato de que “não dava pra passar”. Então nem dava pra voltar. Fomos todos obrigados a passar a noite de maneira precária. Uma das tendas que devia ter som virou um dormitório, a galera dormiu embaixo e mais um monte de gente ficou sentado na grama molhada esperando o dia clarear pra tentar ir embora. Durante a madrugada não havia o que comer, o restaurante fechou e as poucas barracas que serviam comida não tinha mais comida. Consegui comprar um pedaço de pizza no cone por R$10,00, superfaturaram o preço das poucas coisas que tinham.

 

A aparelhagem de som queimou por conta da chuva, então NÃO TEVE SOM! Se o festival prometia ser algo parecido com Woodstock, conseguiu: assim como em Woodstock, os banheiros não eram suficientes, não havia lugar para banho, não havia estrutura, não havia comida e muita gente entrou sem pagar. A diferença é que em Woodstock TEVE SOM, e as pessoas estavam ali para isso, então o resto seria contornável. Depois da chuva, as únicas pessoas que cuidavam do evento, os seguranças da portaria, simplesmente DESAPARECERAM! A polícia disse que o evento não podia continuar e todos se mandaram sem dar sequer uma satisfação. Não havia ninguém que pudesse orientar, nos mandar ir embora ou fornecer alguma informação. E o local não tinha sinal de celular nenhum para pedir algum socorro caso fosse necessário.

Durante a madrugada, todo mundo molhado e precisando se esquentar, começaram a saquear os bares e caminhões de bebida. Apareceu um cara correndo do nada com uma serra elétrica(cena de filme de terror) pra tentar espantar as pessoas que estavam saqueando, e depois saiu correndo no meio da multidão agitando a serra elétrica LIGADA para todos os lados, uma cena de filme de terror.

Para dormir um pouco, joguei a água da barraca pra fora torcendo com as minhas próprias roupas, virei a parte plástica do colchão de ar pra cima pra enxugar e dormi ali mesmo, e em volta tudo ensopado, cheio de água e pingando. Parecia que eu estava no meio de uma enchente.

 

Pela manhã, abri a porta da barraca e a cena era de um campo de guerra: todo mundo levantando, desmontando as coisas e carregando as tralhas molhadas, um monte de lixo, barracas destruídas, mochilas abandonadas e os sobreviventes se erguendo e arrumando as bagagens pra fugir dali. Alguns DJ´s que estavam presentes, mas não eram do evento, montaram uma gambiarra com o celular e caixas de som e fizeram um som, mas algo totalmente informal. Mas ninguém mais estava no pique de curtir a música.

Todo mundo foi embora pra cidade e estava tudo lotado, não havia mais acomodação. Alguns amigos conseguiram alugar uma casa e passamos a noite lá, tive que comprar roupas pra poder trocar por conta da mochila molhada. Várias pessoas dormiram dentro do ônibus mesmo.

O bom é que brasileiro sempre consegue tirar o bom de tudo. Botaram os carros de som na praça de São Thomé e fizeram a rave ali mesmo durante a noite inteira, fomos curtir um rock num dos bares de lá, visitamos as cachoeiras. Apesar de todo esse perrengue, não vi uma briga sequer, não vi nenhuma notícia de assalto e não vi ninguém se estressar. Mas uma garota perdeu a bolsa E ROUBARAM A ÁRVORE QUE EU HAVIA LEVADO PRA PLANTAR! Fiquei chateada.

 

Quando voltávamos do festival, havia um carro pendurado numa ponte estreita e o motorista não quis passar com medo de não ter espaço, aí esperamos um tempão o dono aparecer e nada. Pessoal pegou o violão, começou a tocar ali mesmo na rua, passou um carro equipado, abriu o porta malas, ligou o som e a galera se divertiu. Depois se juntaram pra tirar o carro, um cara numa troller tinha uma corda e guinchou o carro enquanto os meninos ajudavam a erguer a traseira pra não cair no rio. Brasileiro é sempre unido, principalmente nas piores situações.

A empresa que fez o evento, se é que existe uma, pois quem estava organizando deixou claro que nunca havia feito algo do tipo, deveria no mínimo ressarcir o dinheiro, pois não foi um festival barato, e mesmo que a chuva não tivesse caído, não haveria muita coisa: nem comida, nem banheiros, nem chuveiros, nem as três tendas prometidas, nem o som, pois os artistas NÃO FORAM! E eles lucraram cerca de R$700.000,00 com a venda de ingressos, tiraram o site do ar e simplesmente foram embora quando a polícia apareceu e disse que não havia estrutura pra suportar a quantidade de gente e mandou parar o “festival”. Segundo o portal G1 o evento não tinha alvará de funcionamento, mesmo o lugar tendo sido trocado por proibição do IBAMA.

 

 

A estrutura era essa aí que vcs tão vendo: As casinhas rosa são os banheiros (e os piquetes com os que nao foram concluídos), as azuis vendiam uns lanchinhos e espetinhos superfaturados, a tenda branca serviu de dormitório depois que a chuva destruiu tudo. E tinha mais uma tenda que tocou música eletrônica por pouco tempo, até que a chuva queimasse os equipamentos de som (eles deviam ter técnicos e estar preparados pra casos como esse)

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A tenda que virou dormitório dos desabrigados (já não tinha música mesmo)

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Levantando acampamento pela manhã pra ir embora, pq nao tinha condições de ficar ali (e sem som, que era o objetivo, muito menos).

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Antes de ir embora, em meio ao "campo de guerra", com a árvore que eu levei pra plantar e que foi roubada. Eu estava em dívida com São Thomé, pois havia visitado a cidade em Maio e nao plantei nada (o meu projeto Sementes na Mochila ainda nao estava em execução), e não consegui plantar de novo porque sumiram com a minha árvore num momento de descuido.

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A festa rolou na praça da cidade mesmo. Brasileiro sempre sabe tirar o melhor de tudo!

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Quando a realidade bateu à porta, o fantástico mundo prometido ficou só na imaginação, e virou mais uma história pra contar. Essa foto do Alex demonstra toda a indignação de quem criou expectativas e saiu frustrado e sentindo-se enganado:

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Para ver mais fotos e alguns vídeos, acesse o blog: http://www.sementesnamochila.blogspot.com.br

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Tatiane

Lamentavel a falta de organização.

STL é um lugar incrivel e infelizmente existem algumas pessoas querem se aproveitar da situação.

Muito triste a morte de Flávio Muniz Abreu.

Espero que esse epsodio triste sirva de lição para os "organizadores"

bjs

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