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SERRA FINA – A GRANDE TRAVESSIA ENTRE O INFERNO E O PARAÍSO.

 

..........Já é final de tarde quando dois homens de meia idade, quase que cambaleando, descem por uma crista de pedra rumo ao acampamento base da Pedra da Mina. Um branco e magrelo o outro barbudo e de chapéu. Os dois indivíduos lutam contra o vento que vez ou outra tenta jogá-los montanha a baixo. Estão molhados, com muito frio e tentam localizar o caminho se guiando por pequenos totens de pedras, mas a forte neblina e a chuva não os deixam enxergar um palmo à frente do nariz. Quem olha a cena vê logo que os dois sucumbirão ao mal tempo a qualquer momento, parece só questão de tempo. Der repente o magrelo pisa em uma pedra lisa, escorrega e quase vai parar la em Passa Quatro – MG. O homem de chapéu fica inerte, quase não se move, fica só esperando a hora certa para tirar um sarro do seu amigo de infância (filho da mãe!). O magrelo tenta se levantar, mas o peso da mochila não o deixa. Ele se esforça e consegue. Suas mãos estão toda ralada. Sua bunda toda dolorida, mas não quebrou nada. Os dois homens seguem. Suas mãos estão congeladas e eles parecem estar em estado de semi-hipotermia. Estão com tanto frio que mal conseguem segurar seus cajados e se não conseguirem encontrar logo uma área para acampar estarão em maus lençóis, já que a noite se aproxima e a temperatura deve cair mais drasticamente ainda. Apesar de parecerem frágeis, estes homens não podem ser subestimados. Há dois dias eles vêm suportando toda desgraça que o mau tempo na montanha vem lhe jogando às costas. Suas pernas já estão destruídas, já tomaram tudo que é tipo de tombo. Seus ombros já estão tortos de tanto carregarem suas mochilas com mais de 20 quilos de peso. Já subiram montanhas com desníveis gigantescos. Já perderam o caminho várias vezes e com muita força e determinação, voltaram a reencontrá-lo. Vê se logo que não são super-homens, mas carregam dentro de si uma garra e uma vontade incontrolável de chegar ao seu destino, pois com eles sempre foi assim, não desistem nunca, são mesmos uns bravos. Finalmente antes do sol se por, eles conseguem atingir uma área de camping a 100 metros antes do acampamento base. Não pensam duas vezes, jogam suas mochilas no chão e rapidamente montam sua minúscula barraquinha. Estão salvos! Jogam-se para dentro da barraca, colocam roupas secas e entram no saco de dormir. Logo apagam, estão exaustos. Somente horas depois quando a chuva cessa um pouco é que vão cuidar do jantar.

 

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Bom, estes dois caras sou Eu e o Dema e como uma travessia não pode começar pelo meio, esta história também não. Vamos ao seu começo.

Precisou que mais de 10 anos se passasse para que eu me animasse a voltar à SERRA FINA, onde está localizada a montanha conhecida como PEDRA DA MINA, com altitude de 2.798 metros acima do nível do mar, a montanha mais alta de todo o Estado de São Paulo, o ponto culminante de toda a Serra da Mantiqueira e a quarta montanha mais alta do Brasil. A notícia que uma galera de amigos virtuais estava montando uma expedição para serra e a oportunidade de apresentar esta fantástica travessia ao meu amigo Dema foi o estopim que faltava para minha volta a estas montanhas. Diferentemente de 2001, hoje a Travessia da Serra Fina ficou famosa e quando surge uma oportunidade a galera disputa uma vaga nos grupos a tapa. No final ficou decidido que seriam 17 pessoas, divididos em dois grupos, para caberem em duas Kombis. Mas a previsão do tempo foi mudando e a possível entrada de uma frente fria no feriado começou a espantar algumas pessoas. Alguns desistiram por problemas de saúde na família, outros preferiram ir participar da passeata colorida na Av. Paulista e teve uns que não foram porque tinham que fazer inscrição no programa “O MAIOR ARREGÃO DO MUNDO” (kkkkk, foi só brincadeirinha galera). No final acabaram sobrando somente Eu e o Dema e mais dois ou três paulistanos. Combinamos de nos encontrarmos na cidade de Passa Quatro – MG, por volta das seis horas da manhã.

Às 18 horas, Eu e o Dema embarcamos na rodoviária de Campinas rumo a São José dos Campos e em São José pegamos outro ônibus às 23h40min para Passa Quatro, aonde chegamos antes das três horas da manhã. Até o dia amanhecer, ficamos “hospedados” na “Rodoviária Palace” e nos acomodamos nos confortáveis bancos de madeira. Assim que o sol surgiu por de trás do céu cinzento, nos deslocamos até o local combinado para encontrarmos nossos amigos paulistanos. Quando tocamos o interfone do hotel onde os sujeitos deveriam estar, recebemos a informação que não havia ninguém com os nomes citados. Pronto! Estávamos agora só nós dois, sem transporte para o início da trilha, perdidos em uma cidadezinha deserta de gente por causa do tempo ruim. Pelo menos a cidade estava muito bonita, com as ruas todas decorada por causa do feriado de Corpus Crist. Tentamos alugar um taxi para nos levar até a Toca do Lobo, que é o início da travessia, mas o cara quis arrancar o nosso coro, então o mandamos a merda e decidimos enfrentar os quase 20 km a pé mesmo, desistir é que não iríamos, há isso não!

 

Da minúscula rodoviária de Passa Quatro seguimos até a ponte que atravessa o rio de mesmo nome e pegamos a rodovia para a esquerda. Andamos uns 500 metros e perguntamos para um grupo de romeiros que estavam indo para Aparecida se ainda estava longe a divisa de Estado. Eles nos disseram que deveria ficar a uns 5 quilômetros, só que ficava no sentido contrário . Putzzz que furo, nem começamos a caminhada e já tínhamos errado o caminho. Voltamos para o lado correto da rodovia e em mais ou menos uma hora de caminhada, depois de passarmos pelo marco de concreto da “Estrada Real”, chegamos ao barracão da CONAB e então pegamos para esquerda na rua asfaltada. O asfalto acaba depois de uns 500 metros e mais um quilômetro à frente todo o aglomerado de casas ficou para trás e então vamos acompanhando pelo lado esquerdo, o vale do Rio Quilombo. A caminhada é agradável e não chega a ser enfadonha. De vez enquando, passa por nós a galera que também se dirige para o início da travessia, todos sortudos que conseguiram arrumar transporte e não precisarão enfrentar todo esse percurso a pé. Chegamos a pedir carona, mas todos os carros e jipes estão lotados. É vamos na canela mesmo! Logo à frente encontramos um nativo que a cavalo, vai tocando duas mulas de volta para seu pequeno sítio. Ele acabará de descarregar sua pequena produção de leite em um sítio de um parente onde há um freezer para conservar o produto. Logo puxamos conversa com seu Lourival. Homem simples e humilde não pensa duas vezes e nos oferece as suas mulas para levar nossas pesadas mochilas por pelo menos uns 3 km à frente, onde ele terá que abandonar a estrada para acessar sua casa. Mais que depressa jogamos as mochilas nos ombros das mulas e sentimos o alívio de andar morro acima sem pesos nas costas. Quando ele chega ao seu destino, nos convida para um gole de água e para saborear umas bananas maduras. Impossível recusar tal proposta. Hidratados e com a barriga cheia, voltamos para a estradinha de terra e retomamos a caminhada. Passamos por uma placa curiosa: ”PROÍBIDO A ENTRADA DE PESSOAS E TAMBÉM DE ANIMAIS”. É parece que os animais por estas bandas também são alfabetizados (rsrsrsrsrs). A pernada continua por um bom tempo até que chegamos a uma ponte que cruza o Rio Quilombo. Perguntamos a uns nativos se a Toca do Lobo está longe. Como bom mineiro eles nos dizem que se continuarmos andando no ritmo que estamos não levamos nem meia hora. Levamos mais duas. Chegamos a Toca às 11h30min da manhã. A Toca do Lobo é o final da estrada e não passa de um pequeno buraco no barranco, onde á sua frente temos o pequeno poço de águas cristalinas, onde todos devem se abastecer com pelo menos 4 litros de água para 2 dias de caminhada. Fizemos uma parada para um pequeno lanche. Logo passa por nós dois montanhistas apressados, tão apressados que com GPS e tudo perdem o começo da trilha. Explico para eles por onde seguir e volto para mastigar meu lanche.

O tempo volta a fechar. Somos os últimos a entrar na trilha. Pulamos, portanto as pedras que barram o pequeno riacho e logo encontramos a trilha que faz uma pequena curva para a esquerda e segue sempre subindo.

O relato que segue, não será um relato explicando o caminho a seguir e tão pouco servirá de guia para outros montanhistas. Claro que muitas dicas serão dadas e algumas muito úteis. Mas confesso, não tenho a mesma competência de outros caminhantes experientes que vão anotando passo a passo todo desvio e saídas de trilhas. Essa gente alem de escrever muito bem, ainda presta um grande serviço a todos os amantes de trilhas e montanhas e a eles todo o meu respeito. Muitos me acusarão de várias vezes “assassinar” Camões e fazer “picadinho” de Fernando Pessoa e isso será a pura verdade. Não sou escritor, sou montanhista e este texto não é um guia para o “ENEM”, é só um relato que deixo para minha filha e meus netos contando as aventuras que passei na minha vida, na esperança que sigam meus passos e possam dedicar suas vidas a proteger aquilo que tanto amamos : As montanhas, as florestas,os rios e todo tipo de vida selvagem. Texto que disponibilizo também aos meus amigos, os virtuais e os reais.

O tempo continua, portanto, muito fechado, mas não faz muito frio. Eu e o Dema vamos seguindo pela trilha que vai sempre na ascendente. Logo à frente ouvimos o barulho de água correndo do lado direito da encosta, mas me parece muito trabalhoso descer uma íngreme encosta para pegar água, mas como nossa mochila já está com o líquido suficiente para os próximos dois dias, nem nos preocupamos em investigar. Passamos pela parte da trilha em que a crista fica realmente fina e como não conseguimos ver muita coisa por causa da intensa neblina, o caminho se torna muito sinistro e ficamos imaginando a altura dos abismos de um lado e de outro da serra. O caminho passa por pequenos capôes de mata rala, passa por enormes corredores de capins de quase 2 metros de altura, que nos molha até a alma. Vez ou outra perdemos o caminho em alguma trilha falsa, mas logo a reencontramos. É preciso ir sempre prestando atenção nos sulcos que se escondem por baixo destes enormes tufos de capim. Sempre encontramos algum bom lugar para montar uma barraquinha, coisa que praticamente não existia em 2001. Em um destas áreas de acampamentos, fizemos uma pausa mais longa para um descanso e um descuido meu e do meu amigo, nos fez perder quase meia hora, quando caímos no sono. É, estamos só o bagaço! Os quase 20 km de caminhada adicional de Passa Quatro a Toca do Lobo nos destruíram, já começo a duvidar que chegaremos ao topo do Capim Amarelo hoje ainda. A trilha vai sempre subindo e não conseguir ver o nosso destino devido à neblina, nos deixa com os nervos a flor da pele. Aos poucos a temperatura vai caindo e o frio vai aumentando. O corpo já dá sinais de exaustão, chegamos ao nosso limite. O terreno muda radicalmente e então nos vemos escalando um paredão gigantesco e escorregadio. É lama que não acaba mais. Não são poucas as vezes que escorregamos e voltamos para baixo e aí temos que recomeçar o processo novamente. Mais fico feliz, acho que falta pouco para chegar ao topo. Tiramos força de onde não temos mais, cada obstáculo transposto é comemorado. – Vamos Dema, o topo está próximo! Mais um escorregão, mais uma grande rocha escalada, mais uma “bambuzada” no olho e finalmente ás 17h30min alcançamos o topo de coisa nenhuma. Que frustração! Uma rajada de vento faz surgir a nossa frente mais uma enorme montanha. Vemos logo que se trata do próprio Capim Amarelo. Olhando a foto do mapa que eu tirei em uma placa perto da Toca do Lobo percebo que estamos no alto do Camelo (2.380 m), uma hora ante do topo do Capim Amarelo (2491 m). No Camelo existe uma pequena clareira, que mal cabe uma barraca. Eu e meu amigo Dema nos olhamos e praticamente sem dizer nada um ao outro jogamos nossas mochilas ao chão e demos por encerrado nosso primeiro e longo dia de caminhada. Dez horas de caminhada e sem dormir já estava de bom tamanho, nossa jornada chegara ao fim naquele dia, não tínhamos mais luz natural, não tínhamos mais forças, precisávamos de calor e comida, tínhamos ido alem do que poderíamos agüentar. Não conseguimos chegar ao topo hoje, mais ainda estamos vivos e psicologicamente resolvidos a terminar esta Travessia e nada iria nos desviar do nosso caminho.

No Camelo o tempo fecha de vez. Montamos nossa barraca rapidamente e nos jogamos para dentro. Tiramos a roupa molhada e suja de lama, colocamos roupas secas e nos lançamos para dentro do saco de dormir, ficando por La por um bom tempo até que o nosso corpo pudesse adquirir uma temperatura confortável. De dentro da barraca, piloto meu fogareiro e logo cozinho arroz, frito umas tiras de bacon, esquento o feijão pronto. Jantamos muito bem e antes mesmos da chuva apertar já caímos no sono da morte. O primeiro dia no “inferno” estava finalizado.

Já são mais de 09h00min quando um raio de sol atinge a nossa barraca naquela manhã gelada do dia 8 de Junho. Levanto-me de supetão. O sol me anima a sair logo de dentro da barraca. A chuva se foi, é o que eu penso, mas em minutos o tempo volta a se fechar e ficar carrancudo e cinzento, não dá nem tempo de bater uma foto e a neblina cobre tudo. Coloco a água para ferver a fim de preparar um chá de mate e de gengibre. Enquanto a água esquenta tento tomar coragem para por de novo as roupas molhadas e a bota encharcada. Esse é um momento de maior angústia na montanha. Sair da cama quentinha e vestir aqueles trajes nojentos, ninguém merece! Começamos a ouvir vozes que vinham das montanhas. Pensamos ser a galera que estava no topo do Capim Amarelo se preparando pra recomeçar a caminhada, mas não era. Era uma expedição guiada que abandonaram a Travessia e estavam descendo e indo embora para casa. Mais umas 12 pessoas que desistiram de seguir. O guia que era de Petrópolis decidiu que não seria seguro continuar com o mau tempo. “Essa é a grande vantagem de contratar um guia, ele decide por você, ele sabe o que é melhor para você, ele é o senhor do seu destino” (rsrsrsrsrsr). Bom, nós não temos guia, não temos GPS, não temos se quer visibilidade para nos guiar nessa jornada. Estamos por conta própria, as pessoas a nossa frente já estão muito longe e atrás de nós parece não haver viva alma. Mesmo que houvesse seria impossível vermos alguma coisa.

Então ás 10h00min da manhã jogamos nossa mochila às costas e partimos para a escalada do Pico do Capim Amarelo. A trilha entra pelo mato molhado (cacete) e vai avançando até chegar a outro paredão, liso, escorregadio, enlameado, íngreme. E lá estamos nós, mais uma vez nos pendurando parede acima. Quarenta minutos depois atingimos os (2.491 m) do topo do Capim Amarelo. Infelizmente não conseguimos ver coisa alguma la de cima. Faz muito frio, cai uma garoa fina e uma neblina espessa toma conta de tudo. O pico do Capim Amarelo é um bom lugar para acampar, com muitas áreas bem abrigadas do vento, mas nesta manhã ele se encontra vazio e solitário. Como já estamos atrasados, tratamos logo de tentar encontrar a continuidade da trilha. Em 2001 me deram a informação que a trilha não seguia para onde seria óbvio, ou seja, para leste e sim segui quase para o norte. Lembrando-me disso, peguei minha bússola e encontrei o ponto cardeal e realmente encontramos uma trilha bem batida naquela direção. Essa trilha depois de uns 3 minutos começa a descer para leste e vai descendo entre as árvores e então se perde uma meia hora depois. É pegamos a trilha errada. Parece que todo mundo desce essa trilha, se perde no vale e depois tem que voltar a subi-la novamente. Foi o que fizemos. Voltamos para cima da montanha e encontramos outra trilha a uns 10 metros daquela que pegamos, essa sim, a trilha correta.

 

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O nosso caminho começa a descer por dentro da vegetação espessa e molhada. Nós procuramos acelerar o passo, primeiramente para tirar o atraso e também para nos mantermos aquecidos. Uma hora depois passamos por uma pequena área de camping e logo depois chegamos a um vale, que imaginamos ser o local conhecido como Avançado (2.296 m). Nesta hora o tempo abriu e todas as montanhas do lado mineiro podiam ser vistas. Ficamos super contentes e paramos por um bom tempo para bater umas fotos, mas meia hora depois o tempo voltou a fechar e a temperatura despencou de vez. Começou a ventar, mas não um ventinho qualquer, eram rajadas de ventos fortíssimas que faziam nossa alma virar picolé. Chegando a esse vale, é preciso encontrar uma trilha do outro lado, no meio do capinzal alto e então subir a parede de pedra e ir se guiando pelos totens de pedra. Um cego conseguiria se guiar melhor que nós naquele nevoeiro. Localizar três pedrinhas, uma encima da outra não era tarefa fácil. A 13h30min chegamos ao Maracanã, que é um dos maiores locais de camping da Serra Fina. Paramos ali para comer alguma coisa, mas ficar parado era coisa que não podíamos se não corríamos o risco de não nos levantarmos mais. A trilha continua par a esquerda, bem na entrada do camping. Entra na mata e vai subindo e descendo. Passando por ilhas de pedras expostas, onde eu e o Dema sofríamos para achar o caminho. E assim foi quase pelo resto da tarde. Perde trilha, acha trilha. Procura totem, procura marco de pedra, até que mais uma bobeada e nos lançamos de novo em uma trilha falsa, bem na divisa entre Minas e São Paulo. Foi mais uma pernada inútil serra abaixo. Aí toca a gente subir tudo de novo. Esses pequenos erros vão enervando a gente. A gente já começa a achar que o sucesso da nossa empreitada começa a ficar comprometido. O excesso de frio e o estado de semi-hipótermia começa a mexer com o nosso psicológico. A parte física já está pra lá de comprometida. A mochila já pesa uma tonelada, as pernas não respondem como antes. As quedas começam a acontecer com mais freqüência.

Abalados com o mau tempo que não dá uma trégua, para piorar, um vendaval avassalador nos atingi em plena crista exposta. O vento frio e cortante nos humilha e nos transforma em bonecos e nos joga para onde ele quiser. Não temos mais como resistir. Somos dois pobres coitados vagando por uma crista pedregosa. Mal conseguimos segurar nossos cajados. Praticamente não sentimos mais nossas mãos. Cambaleando, vamos avançando muito de vagar. Não sabemos onde estamos, não sabemos se a próxima área de camping está perto ou longe, não temos certeza de mais nada. Vamos seguindo conformados com o nosso destino ingrato e o nosso sofrimento mútuo. Resignados com a nossa desgraça. Já sabíamos que essa travessia com mau tempo não era para qualquer um. Decidimos fazê-la assim mesmo, estávamos pagando o preço pela nossa ousadia. Será que não estaríamos mesmos velhos para essas coisas? Seríamos capazes de nos safar e voltarmos inteiros para contar a história? Ou foi mesmo uma estupidez sem precedentes ignorar o aviso de tanta gente para não vir com o mal tempo? Foi com esses pensamentos na cabeça que continue descendo pela crista, até ouvir um barulho logo à frente. Não víamos nada, mais tínhamos certeza, tinha mais alguém perto da gente. Enquanto o Dema tentava chamar atenção com seu apito, acelero o passo para tentar interceptar esse grupo que está a nossa frente. Num descuido, piso em uma pedra Liza, os meus dois pés sobem para cima e caio no chão com tanta força, que chego a ficar meio tonto. Foi mesmo um tombo cinematográfico. Fiquei ali estatelado no chão. Levanto-me com dificuldade. Não sacudo a poeira, porque é só lama que tenho impregnado na roupa. Agora é que não sinto mais minha mão mesmo. O Dema me olha com aquele olhar sarcástico. O desgraçado também está sofrendo, mas não se furta de dar um sorrisinho sem vergonha no canto da boca (rsrsrsrsr). De pé, seguimos mais alguns minutinhos e encontramos uma galera de seis pessoas. Na verdade são dois grupos de três pessoas que se conheceram na travessia e se juntaram para serem cúmplices da mesma desgraça. Eles também estão em estado lastimável. No grupo de São Paulo, um menino de 14 anos e no grupo do Rio, um jovem de 57 anos e sua namorada de 29 e ainda tinha o filho do homem de 57 anos, um rapaz de 27. O grupo paulistano eu não consegui decorar os nomes, pois falavam pouco ou quase nada. Já o grupo Fluminense eram o Sr: Olau e sua namorada Viviane e o filho do seu Olau era o Rameno.

O Rameno estava com um GPS e nos disse que não estávamos nem a 300 meros do acampamento base da Pedra da Mina. Seguimos todos juntos e 200 metros depois antes de um morrote encontramos uma pequena clareira de acampamento. Faltavam apenas 100 metros para o acampamento base, mas eu e o Dema não queríamos nem saber. Vimos a nossa salvação pular á nossa frente e não iríamos deixar escapar. Naquele pequeno espaço, em meio ao capim protegido do vento, caímos com mochila e tudo. Por hora estávamos salvos, amanhã seria um outro dia, quem sabe um dia melhor, porque pior do que está seria impossível ficar.

Tremendo de frio, fizemos um enorme esforço e montamos nossa barraca. O nosso estado é realmente lastimável. Sem perder tempo entramos na nossa casa de mato. Tiramos toda a nossa roupa e colocamos roupas secas. Coloquei todas as roupas que eu trazia na mochila. Gorros, luvas, meias. Mais uma vez estávamos envoltos nos nossos sacos de dormir e não demorou muito apagamos e fomos acordar lá pelas sete ou oito da noite. Foi quando me animei a sair da barraca e ir preparar o nosso jantar, que não passou de arroz, grão de bico e lingüiça. Foi comer e voltar para dentro do saco de dormir. Mas meia hora depois ao me levantar para “regar uma moita de capim”, me deparo com um céu todo estrelado. Entro para dentro da barraca com esperança de que no dia seguinte teremos sol, mas meia hora depois uma tempestade desaba sobre nós e minha esperança volta se transformar em frustração. O jeito é ir dormir e esquecer esse negócio de sol. Parece mesmo que nosso destino já está traçado.

 

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Sábado, 09 de junho, 08h00min da manhã. Como parece não haver desgraça que dure para sempre, o dia amanhece lindo e ensolarado. Quando abri os olhos e me deparei com os raios de sol já atingindo a nossa barraca, vi logo que todo o nosso sofrimento acabara de chegar o fim. Havíamos passado pelo purgatório e agora ganharíamos o paraíso de presente e no nosso caso, a porta do paraíso estava a apenas uma hora de caminhada e atendia pelo nome de PEDRA DA MINA. Eu e meu amigo Dema não perdemos tempo. Desmontamos a barraca, enfiamos tudo nas mochilas e sem mesmo tomar café, abandonamos a área de camping e partimos. Subimos o morrote que nos separava do acampamento base da Pedra da Mina e em cinco minutos chegamos à beira do riacho (Rio Claro), onde o outro grupo estava acampado. Trocamos algumas palavras com nossos novos amigos e combinamos de nos encontrar no topo. Eu não queria perder mais tempo, queria aproveitar enquanto o tempo estava aberto. A Pedra da Mina estava a nossa frente e a sua subida é feita pela sua rampa do lado direito. Então, atravessamos o riacho e vamos galgando os ombros rochosos um por um, nos guiando pelos totens de pedra, mas como estamos com um grande, vamos seguindo por onde parece ser mais fácil passar, parando algumas vezes para tomar fôlego e tirar fotos de todos os ângulos que podemos. Quando os ombros rochosos acabam, entramos de vez no capim e vamos subindo a grande rampa. Eu estou eufórico, meu corpo foi invadido por uma adrenalina que há muito tempo eu não sentia. Na minha cabeça só existe uma coisa, chegar ao topo o mais rápido possível. Enfio a cara no mato, vou escalando pedra por pedra, rampa atrás de rampa e quando chego ao gigantesco totem de pedra, que não existia em 2001, espero a chegada do meu amigo que vem logo atrás.

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Juntos agora, seguimos rumo ao topo. Nas mãos carrego a bandeira do Brasil, para muitos um patriotismo idiota, mas par mim, é um gesto de respeito a essa grande montanha, a essa natureza exuberante. Em 2001 eu trouxe a bandeira da cidade que adotei para ser o meu lar e agora trago a bandeira do meu país. É a minha homenagem a essa montanha que já se tornou lendária, cobiçada por todos os amantes das montanhas. E foi assim que as 10h00min desse lindo dia Junho, que fincamos os nossos pés no topo da PEDRA DA MINA (2.798 metros), o ponto mais alto de todo o Estado de São Paulo, o cume da Serra da Mantiqueira e a quarta montanha mais alta do Brasil.

Chegar ao topo e encontrar o tempo todo aberto foi mais que um presente, foi um prêmio pela nossa sofrida conquista, pelo nosso esforço, pela nossa dedicação, pela nossa ousadia de contrariar todos os prognósticos desfavoráveis. É a segunda vez que chego ao topo dessa montanha, mas a satisfação é ainda maior que em 2001. Parece mesmo que toda conquista com muita dificuldade é ainda melhor. No topo, como em 2001 estou novamente emocionado. É uma visão realmente lindíssima, para muitos a mais bela visão de todo o sudeste do Brasil. No topo encontramos apenas um montanhista que subiu pela trilha do Paiolinho. Logo vai chegando a galera do acampamento base. Aí o cume se transforma em uma grande confraternização. Todos se cumprimentam e se abraçam, todos sabem que venceram e se superaram. A travessia só está em sua metade, mas o grande prazer de conseguir chegar ao topo da Pedra da Mina é algo indescritível.

No topo, alem do marco geodésico de 2.000, agora existe também um outro marco do IBGE, alem de uma grande caixa de alumínio, onde está o livro de cume, destinado para que todo montanhista possa deixar alguma mensagem e assinar a sua presença. Existem ali várias clareiras para acampar e em algumas clareiras foram colocadas ao seu redor grandes pedras empilhadas para formarem uma barreira contra os constantes ventos que varrem o cume. Ficamos por mais de uma hora contemplando as grandes montas ao redor da Pedra da Mina. Montanhas onde quase ninguém já foi. Quase a leste é possível observar os destroços de um pequeno avião que se chocou contra a montanha e muito mais ao longe, em todas as direções, é possível ver outras tantas montanhas famosas, que já trilhamos em outros tempos: Agulhas Negras, Serra do Papagaio, Marins e Itaguaré, Serra da Bocâina, Picú e muitas outras. Mas o tempo vai passando e a travessia tem que continuar. Nosso caminho agora vai em direção ao Cupim de Boi e Pico dos Três Estados. Mais cinco minutos de caminhada nos leva ao início da descida em direção ao Vale do Ruah (vale de Deus). Antes da grande descida resolvemos tomar nosso café. Nossa, a visão desse vale é realmente fantástica, são poucos os lugares que se pode sentir um isolamento tão grande da civilização como é este vale. Eu e meu amigo ficamos ali admirando tamanha beleza e acabamos sendo os últimos a começar a descida. Descida que é feita pela direita do Vale, seguindo os totens e as trilhas no capim. Só se percebe o tanto que descemos, quando chegamos ao fundo do vale e olhamos o caminho que fizemos. A chegar o fundo do VALE DO RUAH (2.512 metros), nos juntamos ao grupo da galera do Rio e de São Paulo. Agora somos 8 sobreviventes, juntos em um só grupo, unidos até o fim da travessia.

Vamos seguindo pelo fundo do vale, margeando o Rio Verde, que nasce a 2.576 de altitude, sendo assim a mais alta nascente de um rio da Bacia do Prata no Brasil. Como tivemos vários dias de chuva o vale está inundado e qualquer tentativa de fugir da lama e da água é inútil, por isso meto logo o pé no barro e vou seguindo por entre os tufos de capim elefante que de vez enquando escondem grandes buracos e fazem a gente sumir , mas como já tomei tudo quanto é tombo nessa travessia, uns a mais uns a menos pouca diferença faz. O Rio Verde vai aumentando de tamanho e já começa a ganhar algumas pequenas quedas de água e quando ele resolve se lançar de vez cânion abaixo é hora de abandoná-lo, mas não sem antes nos abastecer de água para mais um dia e meio. É a última água que teremos até o final da travessia. Faz um sol espetacular, mas a água está congelante e ninguém se arisca a tomar banho. O nosso caminho segue para a direita, aproveitando as trilhas no meio no capinzal e mesmo que se perca a trilha, o que é muito fácil de acontecer, o caminho é óbvio, vai subir a crista e galgá-la até o seu fim, no Pico do Cupim de Boi. De cima da serra, damos adeus ao Vale do Ruah e tiramos aquela foto clássica com a Pedra da Mina ao fundo. A nossa jornada vai subindo e descendo pequenas montanhas, passando por capões de mato e línguas de pedras, até que nos deparamos com um gigantesco vale a nossa direita. É uma visão arrebatadora da parte paulista da serra. Uma garganta realmente digna desta travessia. Antes de chegarmos ao cume do Cupim de Boi, nos deparamos com um abismo com uns 1.000 metros de profundidade e enquanto eu e o Dema fazíamos poses para fotos à beira do despenhadeiro, o seu Olau, o jovem de 57 anos e sua jovem namorada caminhavam de gatinho, quase se arrastando pelo chão. Foi engraçado, porque o seu Olau é um militar reformado e até então eu o via como uma espécie Rambo. É, parece que todos nós temos nossas fraquezas e medos e a fraqueza do seu Olau é o medo de altura. Já seu filho Rameno parece uma espécie de soldado universal, se alisou na Legião estrangeira, serviu na França e na África. Bom, um de quatro pés, outros fazendo gracinha à beira do abismo, foi assim que todos nós chegamos às 05 da tarde no cume do CUPIM DE BOI (2.530 metros).

 

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Ao lado direito do Cupim, existe uma montanha muito alta e muito provavelmente deve dar para contar nos dedos às pessoas que foram até lá, isso se tiver algum caminho que chegue até ela. O nosso caminho passa um 50 metros após o cume do Cupim de Boi e desce em um grande totem de pedra. Chegando ao totem pega-se para a esquerda e desce-se até o vale. Não é um caminho fácil de seguir, mas fomo nos guiando pelos raros totens até encontrarmos a trilha que entra na mata. Já é tarde e logo o sol vai desaparecer, por isso aceleramos o passo e em meia hora chegamos ao bambuzal, onde existe uma grande área de acampamento. Já estamos todos exaustos, mas a galera menos experiente já está nas últimas e todos decidem que é hora de dar por terminado esse terceiro dia de caminhada. Eu, o Dema e o Rameno, resolvemos seguir sem mochilas por mais uns 15 minutos á frente para ver se não haveria uma área ainda maior para acamparmos. O caminho começa a subir por uma trilha muito íngreme e nos leva até o topo de um morro. Não vimos nenhuma área para camping, mas em compensação tivemos a honra de presenciar um dos fenômenos mais espetaculares da natureza, um arco-íris de 360 graus. Em quase 20 anos de montanhismo eu jamais havia presenciado um fenômeno destes. Um espetáculo para aplaudir de pé.

De volta ao acampamento, montamos nossas barracas e cada um foi cuidar do seu jantar. Eu e o Dema dosamos bem o nosso consumo de água, pois eu já sabia que o dia seguinte seria muito longo e me lembrava também que em 2001 tivemos problemas com a falta de água. Mas nos chamou a atenção o fato de parte de a galera estar comendo miojo cru porque não tinha mais água para cozinhar. Se há um lugar onde a individualidade não tem vez, esse lugar são as montanhas. Se estamos juntos, somos um só grupo, uma só família e se é para passar sede, vamos passar todos juntos, por isso ofereci uma das nossas garrafas de água par o resto do grupo. Como fazia muito frio, jantamos e fomos dormir e esse foi o dia mais seco de toda a nossa travessia e a melhor noite que passamos.

Um dia lindo, foi assim que nasceu nosso ultimo dia de travessia. Acordamos cedo, bem cedo. Tomamos café e partimos. Logo de cara enfrentamos uma enorme subida e quando chegamos ao topo se descortinou à nossa frente uma magnífica paisagem, um tapete de nuvens esplendoroso, nos sentamos ali por um bom tempo. Mas o nosso objetivo estava logo ali á nossa frente nos chamando. E então partimos e só paramos quando chegamos à outra grande atração desta travessia: O PICO DOS 3 ESTADOS (2.656 metros), local exato onde os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro se encontram. Um grande marco de ferro com as letras dos 3 estados foi colocado lá encima para marcar o ponto geográfico da divisa.Do topo desta linda montanha , as Agulhas Negras ficam ainda mais espetaculares e a Pedra da Mina aparece em toda sua magnitude. Todos nós nos juntamos no topo para uma foto do grupo. Tomamos os últimos goles de água que nos restou nos cantis. Daqui para frente começará a nossa desesperada luta para encontrar água. Como no topo não é lugar par se encontrar água, tratamos de descer logo e abandonamos o Pico dos 3 Estados a sua própria solidão. É uma grande descida e algumas partes são mesmo complicadas de descer, mas nada que não possa ser vencida com muita determinação. Desta grande descida já avistamos la de cima uma ilha de pedra no meio de uma pequena mata. Uma ilha de pedra toda úmida, que aos nossos olhos parecia conter alguns filetes de água escorrendo por ele. Ao chegarmos no final dessa descida, a um selado, eu e o Rameno nos lançamos no meio do mato tentando localizar esse possível oásis . Depois de arrebentar um pequeno bambuzal no peito eu até cheguei a encontrar estas pedras, mas só havia uma grande umidade, água que é bom, nem uma gota. A situação foi ficando cada vez mais crítica e alguns de nós já começou a lamber alguns musgos, só para eliminar a secura da boca. A procura pela água era constante e cada um tentava fazer a sua parte. A caminhada seguia, a paisagem continua linda e agora tínhamos a nossa frente o Pico Alto dos Ivos, uma subida considerável. Eu e Dema estávamos com sede, mas não teríamos nenhum problema para terminar a caminhada sem beber água. O mais preocupado era o seu Olau, que tentava encontrar água de qualquer jeito. Talvez a sua maior preocupação fosse por causa da sua namorada, a única menina do grupo. Foi em mais uma tentativa de lamber uns musgos, já na subida os Ivos, que tentando puxar umas raízes, vi que elas saíram pingando água. Enfiei as mãos bem fundas nas raízes dos musgos parecendo uma esponja, puxei e torci. Meio copo de água jorrou. Dei um grito e chamei todo mundo. Então a “colheita” começou. Pegamos as panelas e fomos torcendo os musgos, do qual saiam um líquido vermelho com de barro, grosso, nojento, gosmento. Tentamos coá-los, mas não obtivemos sucesso, o líquido era muito espesso. Então o que não tem solução, solucionado está. Agora tínhamos água o suficiente para terminar a caminhada, faltava só estômago para encarar o fluído. Chegamos ao ALTO DOS IVOS (2.513 metros) e foi neste pico que abrimos a “garrafada nojenta” e bebemos sem nenhuma frescura. Era o “A PROVA DE TUDO” real, sem truques, sem cortes. Depois de tomar isso, não há mais nada que nos assuste. O que é engraçado é que depois de beber aquele negócio, não sentimos mais sede, é como se o nosso cérebro desse um aviso para o nosso corpo para não sentir mais sede. É o cérebro defendendo o organismo (rsrsrsrsr).

 

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Depois dos Ivos começa a grande descida e a grande atração fica por conta da visão das formações rochosas do Parque Nacional de Itatiaia. Ao chegarmos a uma área de acampamento, talvez o último desta travessia, paramos para um breve lanche e depois eu e o Dema aceleramos á frente e quando a trilha ficou plana no meio da mata quase corremos na trilha, até que ela se transforma em uma estradinha abandonada e em mais meia hora nós dois estávamos parados na bica salva-vidas a beira do caminho. Bebemos o quanto conseguimos e só não bebemos mais pára sobrar água par os outros, que chegaram uns 15 minutos depois.

Todos juntos mais uma vez, retomamos a caminhada e logo a frente chegamos a uma bifurcação em “T”. Pegamos para a esquerda e em mais uns 15 minutos chegamos ao sítio ou pousada do Pierre, que não é mais o dono do lugar a muito temo. O certo é que tudo parece abandonado, como estava em 2001. Mais o caminho não terminou, ainda tinha uns 40 minutos de caminhada pela estrada até o asfalto. Quando chegamos ao asfalto, foi a primeira vez em 4 dias que nos sentimos de novo com os pés na civilização. Lá encontramos outro grupo que havia feito a travessia e então nos juntamos todos nós para uma foto de despedida. E cada qual voltou para sua casa. Nós e o grupo do Rio alugamos uma perua até Engenheiro Passos e depois seguimos para Resende e de Resende para São Paulo e logo em seguida para Sumaré-SP.

E foi assim que num feriado de 2012. Eu e meu amigo Dema nos lançamos nesta travessia que é considerada por muitos a mais difícil Travessia de montanha do Brasil. Muitos poderão contestar e até apontarão outras caminhadas como mais difíceis. Podem até terem razão ou não, haverá sempre controversas. Algumas destas travessias por enquanto não passam de vara mato e outras são uma trilha que emenda em outra para formarem grandes travessias. A serra Fina é uma Travessia única, selvagem, grandiosa. Contém um das mais altas montanhas do país. Tudo isso é verdade, mas o grande atrativo desta trilha é ser travessia livre, sem encheção de saco de regras de Parques Nacionais e de órgãos ambientais. É a travessia da liberdade, é difícil, é complicada e com mal tempo o Everest paulista pode se transformar no K2 e o que mais me impressionou é que passado mais de 10 anos esta caminhada ainda continua do mesmo jeito. Não vi lixo algum, não há erosão nas trilhas, sinal que os caminhantes que por la estão passando , estão tendo uma consciência espetacular e a todos temos só que agradecer.

Finalizo este relato agradecendo ao meu amigo professor: Dema e aos outros amigos que fiz durante a travessia. O seu Olau nos disse que o homem passa sua vida inteira a procura da felicidade e que a maioria jamais a encontrará. Acho que é isso mesmo, mas mesmo assim nós vamos seguindo, de trilha em trilha de montanha em montanha, à procura da nossa felicidade e se não a encontrarmos, valerá os momentos felizes que passamos, valerá os amigos que fizemos e os grandes lugares que conhecemos. Desta vez estivemos no topo do Estado de São Paulo, mas poderemos ir a lugares mais altos, mais distantes, porque ainda não conhecemos nosso limite.

DIVANEI GOES DE PAULA – JUNHO / 2012

 

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  • Membros de Honra
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Pauleira heim Divanei! ::hein:

Em certos momentos senti como se estivesse lendo o roteiro de um filme de sobrevivência em ambientes extremos, resguardando as devidas proporções me trouxe a mente o The Way Back (Caminho da Liberdade), o que implicitamente é no fundo o que vocês buscavam naquelas montanhas.

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Mais uma vez parabéns pela jornada e pelo relato. ::otemo::

  • Membros
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Sensacional o relato, a dramaticidade das situações são roteiro para qualquer alma que anseia por liberdade! Parabens pela ousadia!!!

  • Membros de Honra
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Obrigado a todos que tiveram paciência de ler um relato tão extenso.Sei que a maioria de vocês são montanhistas muito melhores e mais experientes que eu e sabem o prazer que é realizar uma camionhada como esta.Os meus agradecimentos aos irmãos da montanha.

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  • Colaboradores
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Divanei

Já vi corredor de aventura patrocinado por marca nacional grande fugindo da Serra Fina em condições climáticas bem melhores.

 

Motivação é essencial no trekking! Você queria fazer a travessia e o fez, mesmo com a pernada extra a partir de Passa Quatro.

 

O trekking nos ensina as vezes em alguns dias o que levamos anos na vida para aprender. Tal como não desistir facilmente!

 

Meus parabéns pela força de vontade e superação. Mesmo com clima adverso, problemas de navegação e água vocês foram no peito e na raça!

 

Abraço

  • Membros de Honra
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Obrigado a todos que tiveram paciência de ler um relato tão extenso.Sei que a maioria de vocês são montanhistas muito melhores e mais experientes que eu e sabem o prazer que é realizar uma camionhada como esta.Os meus agradecimentos aos irmãos da montanha.

GRANDE Divanei, não existe montanhista melhor ou pior, escalador melhor ou pior... existe gente melhor ou pior. E você já provou mais de uma vez (aqui mesmo, através dos seus relatos) que você faz parte do grupo GENTE BOA DA MELHOR QUALIDADE. ::otemo::::otemo::

Você e os demais que encararam essa travessia perrengosa mostraram raça e determinação, e o melhor, companheirismo e ajuda ao irmão montanhista.

Tiago, gostei do novo avatar... ::cool:::'>

  • Membros
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Parabéns pelo relato Divanei. É engraçado, mas quando li o seu relato, pude sentir cada coisa que vc viveu e como viveu... Cada um fez a travessia de uma forma diferente, mas no fim, todos nós saímos vencedores! Já fiz muitas e muitas trilhas, mas até agora, nenhuma me marcou tanto que nem a Serra Fina... Foi realmente um sentimento ímpar!!! Grande abraço!

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