Membros de Honra renato5129 Postado Março 2, 2012 Membros de Honra Postado Março 2, 2012 (editado) Dando sequência no projeto de exploração das montanhas, cavernas e cachoeiras da região, parti pro trekking mais pesado até aqui, na Serra da Bocaina, no município de Niquelândia. Essa serra fica a uns 45km de Uruaçu, de onde temos uma ótima visão de sua “silhueta”, na qual se destaca um pico bem mais alto que os demais e bem mais agudo também. Ela se estende no sentido sul – nordeste e é cortada pela GO-237, rodovia que liga as cidades de Uruaçu e Niquelândia. A rodovia passa a uns 4 km do início da serra, depois segue pro norte e 20km adiante faz uma curva à leste atravessa a serra e segue sentido Niquelândia. É um local bem preservado, mesmo tendo todo seu entorno ocupado pela agropecuária, e com vários relatos de observação de onças nas redondezas, o que torna a serra pouco visitada. Como ando sem tempo durante a semana e tenho folga somente a cada 15 dias, só pude estudar o roteiro pelo Google Earth. A dificuldade de encontrar água seria grande, pois pelas imagens, identifiquei apenas um curso d’água e algo que parecia ser uma pequena lagoa. O plano era deixar o carro em uma lanchonete à beira da rodovia e caminhar cerca de 5km até o início da serra, que tem uma subida bem suave e, de lá ir pela crista da serra, pernoitando no pico mais alto, até a intersecção da GO-237, onde há um restaurante e área de camping e de lá, pegar uma carona de volta à lanchonete. A primeira investida foi no dia 13 de agosto de 2011. Depois de arrumar a mochila após um cansativo dia de trabalho, fui dormir por volta das 23:30, acordei às 05:00 da madruga bem animado. Como planejado, deixei o carro na lanchonete e parti ainda escuro rumo à Bocaina. O caminho é por uma pastagem baixa e terreno plano, onde a caminhada rende bastante. O sol nasceu forte atrás da serra e pude ter uma ótima visão da região. O início da subida é bem suave e logo alcancei o topo do primeiro monte. Sem dúvida alguma essa é a serra de relevo mais acidentado que andei por aqui. Não sei se pela forma física ruim, ou pela caminhada pesada e ritmo acelerado, logo nas primeiras horas já demonstrava um certo cansaço. Após 4 horas de muito sobe e desce, resolvi parar um pouco pra comer e descansar. O sol estava escaldante e o calor castigava, não tinha termômetro, mas acho que estava na faixa dos 35ºC. Dois dos três litros de água que levei, já estavam perto de acabar. Comi os 3 sanduiches, pois fiquei receoso que estragassem. Mais duas horas de caminhada e cruzei uma pequena estrada vicinal que corta a região. Foi o primeiro local que encontrei sinais de animais domésticos. Dali até a pequena lagoa era um pulo. Pra minha surpresa, a lagoa literalmente virou pó. Exitei um pouco antes de continuar, afinal não estava nem na metade do caminho e minhas reservas de água estavam no limite, mas resolvi ir até o que acreditava ser o próximo ponto de água. Após a lagoa, há uma subida bastante íngreme e meio suja, a vegetação é mais alta e tem que seguir no vara mato. No outro monte a vegetação rasteira novamente toma conta da paisagem e fui presenteado com inúmeros paepalanthus, flores conhecidas como sempre vivas, além de vários pés de caju da serra repletos de frutas. Aproveitei pra comer alguns. Dali até o topo foi rápido e tive uma bonita visão da redondeza, o pico mais alto da serra estava próximo. Tinha caminhado quase duas horas desde a lagoa e a hora já estava adiantada. Ali encontrei vários sinais de animais silvestres, primeiro o rastro de uma anta, mais adiante o “banheiro” delas, parece que todas defecam no mesmo lugar, pois havia muitas fezes frescas. Também havia fezes de veado e um local onde haviam dormido alguns animais e, bem próximo dali, um rastro antigo do grande predador da região, a onça. Pelo tamanho devia ser de onça parda. Estava louco pra encontrar algum desses animais, mas foi em vão. Desci até o local que parecia ter um curso d’água e para minha decepção, somente um rio de areia. Tive que tomar a difícil decisão de voltar, pois não havia nem sinal de água e já eram quase 16:00 horas. Tomei o caminho de volta até a estrada vicinal e de lá até a rodovia, no caminho, peguei um lindo por do sol. Já na rodovia, peguei carona até a lanchonete e de lá o carro até minha casa. No caminho já planejava o retorno à Bocaina. Seis meses se passaram até o esperado retorno. A estação das chuvas tinha chegado e a serra estava ainda mais exuberante. Fui um pouco mais preparado também, com 8 litros de água na mochila e já conhecendo boa parte do caminho. Fiz o mesmo trajeto e apesar de ter engordado uns quilos, estava melhor fisicamente, pois vinha fazendo trilhas com certa freqüência. O sol também estava castigando menos e acabei fazendo o trajeto com quase 3 horas a menos. Mesmo na estação das chuvas, tanto a lagoa quanto o córrego estavam completamente secos. Infelizmente os paepalanthus e os cajus haviam acabado. Rumei rumo ao topo do que fui descobrir adiante se tratar do “Morro do Machado”, a subida é difícil, bastante íngreme e com trechos de escalaminhada. A vista é fantástica, via a cidade de Uruaçu, a uns 50km e boa parte da extensão do Lago de Serra da Mesa. Pra minha surpresa, encontrei um vértice de triangulação do Conselho Nacional de Geografia, com o nome do morro, Machado, datado de 1938. O vento estava muito forte, mas não havia sinal de chuva. Acampar com chuva em picos mais altos torna-se perigoso devido a ocorrência de raios. Apesar de ter um pequeno colo mais protegido, procurei o local mais exposto ao vento para testar minha barraquinha numa condição um pouco mais extrema. Tive certo trabalho pra montar a barraca, pois o vento estava implacável. Fui acompanhado nesse trabalho por um majestoso urubu-rei que plainava sobre mim, fazendo rasantes a todo momento, acho que o vento estava atrapalhando seu vôo também. Depois de montá-la, tirei umas fotos lá do alto e resolvi descer até um monte adjacente pra dar uma olhada numa mata um pouco mais alta em sua encosta em busca de água. Mesmo na época das chuvas é incrível como não encontrei nenhum ponto de água, acho que somente os animais dali sabem encontrar a fonte do precioso líquido. Voltei pra barraca, tomei um banho de lenço, preparei um macarrão com sardinhas, jantei e fui me recolher. Levantei mais tarde e fui dar uma olhada no céu, que apesar de ter algumas nuvens, estava lindo. Fiquei algumas horas apreciando o silêncio, a paz e a beleza daquele lugar. Ventava forte e o tempo estava perfeito pro sono. Dormi tanto que perdi o nascer do sol. Acordei após às 07:00 horas com o sol já alto. Levantei preguiçoso, preparei meu leite em pó com achocolatado, pão com salame e comi bastante. Tinha um pouco de dores na perna, mas nada demais. Desarmei a barraca e pernas pra que te quero. A descida foi meio sinistra, tendo que arrastar a bunda em alguns trechos. O caminho a partir dali era mais suave e a caminhada rendeu bem. Passei bem próximo a uma plantação de eucaliptos e presenciai quantas agressões a serra está sofrendo, todo seu entorno está tomado por soja. Do pico do Morro do Machado até a rodovia foram 4:30 horas de caminhada, passando por várias grotas e montes menores, uma caminhada agradável, mesmo com o sol mais forte que no dia anterior. Infelizmente, vi algo que me cortou o coração. Um local ainda selvagem, que sofreu tantas agressões e ainda continua exuberante, agora está sob a maior ameaça, a mineração, que praticamente, destruiu um monte da Serra da Bocaina. Editado Março 24, 2012 por Visitante Citar
Membros de Honra billythekid Postado Março 2, 2012 Membros de Honra Postado Março 2, 2012 Parabéns renato,belo relato,caras essas de ficar sem agua é pesado rsrs.Infelizmente hoje apesar de muito se falar em preservação poucos temos visto de ação de nossas autoridades para coibir essa desenfreada investida e poluição de nossas serras,matas,rios. Valeu. :'> :'> Citar
Membros marcosmm Postado Março 4, 2012 Membros Postado Março 4, 2012 Renato, belas fotos. Você esté se tornando (sem querer é claro) o meu grande incentivador, pois com seus relatos mostra que para uma grande aventura basta um bocado de vontade e preparo. Parabéns!! Saudações, Citar
Membros Andrea e Fabio Postado Março 5, 2012 Membros Postado Março 5, 2012 Muito legal cara! Se é a mesma serra que eu estou pensando, ela já está na nossa "wishlist" faz tempo! Deixou um livro de cume? abraço, Fabio Citar
Membros de Honra renato5129 Postado Março 6, 2012 Autor Membros de Honra Postado Março 6, 2012 Fábio, não deixei um livro não, mas se for pra vc assinar, levo um o quanto antes. Vou gostar muito de fazer o "sacrifício" de subir a serra novamente. E aí, já tem algo programado pra esses dias? Tem um rapaz aqui do forum que está de mudança pra região e tá afim de fazer umas trilhas. Não tenho hábito de caminhar em grupo, mas se a gente combinar uma pernada, se vc não se importar, podemos convidá-lo. Abraço! Citar
Membros Paco Postado Março 6, 2012 Membros Postado Março 6, 2012 Parabéns, Renato! O relato é incentivador pra quem quiser conhecer a região! 1 Citar
Membros Andrea e Fabio Postado Março 6, 2012 Membros Postado Março 6, 2012 Vamos combinar algo sim. Que tal subirmos juntos a serra da Bocaina para deixar o livro lá? Pretendo fazer algo nesse final de semana, mas vai depender da Andrea ter alta da fisioterapia que está fazendo no Joelho. Se Ela puder caminhar, é provavel que a gente vá acampar no Sertâo Zen, lá perto de Alto Paraiso. Caso contrário, vou fazer algo rápido aqui perto de BSB mesmo, só para treinar. Mas só vou poder confirmar o que vai ser mais pro fim da semana. Abraço, Fabio Citar
Membros de Honra renato5129 Postado Março 7, 2012 Autor Membros de Honra Postado Março 7, 2012 Fábio, vamos levar o livro de cume lá sim. Só precisamos marcar com um pouco de antecedência, pois só tenho folgas a cada 15 dias. Abraço! Citar
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