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Carnaval de Oruro

 

Incrível. Patrimônio Intangível da Humanidade pela UNESCO. Este é o Carnaval de Oruro.

 

Bueno.

 

Me despedi de Cochabamba sexta passada dando uma voltinha na noite. Me mandaram ir na Calle El Pando, que lá estava "la roda", que é como eles falam dos pontos de fiestas e junçao de gente por aqui. Caminhando por El Pando vi muitos bares e boates. Encontrei dois camaradas na rua, o Carlos e o Toni. Eles estavam indo para a Life, fui com eles. Chegamos lá e estava fechada! A maior casa noturna de Cocha fechada numa sexta. Claro, todo mundo estava indo pra Oruro. Mas eu só ia no sábado. Pegamos um taxi e fomos para La Marca, boatezinha aconchegante especializada em música eletrônica da boa. Mas nao tinha quase ninguem. Saímos e fomos para a confirmada, La Pimienta Verde.

 

Na Pimienta toca de tudo. Muito legal. Ponto tradicional dos estrangeiros que visitam Cocha. Encontrei muitos brasileiros lá. Pessoal que vem fazer Medicina aqui na Bolívia. La fiesta estava ótima mas tive que sair. Ia pegar o ônibus cedo para Oruro.

 

Acabei dormindo somente duas horas. Fui para a Rodô pegar o ônibus para Oruro. Me encontrei com a Hilda, a muito legal boliviana que conheci no vôo para Santa Cruz, que tava vindo de lá. Pegamos o ônibus das 9h para Oruro. 25 bs. Tomei um comprimido contra o soroche, o mal das alturas na saída. Como fomos de dia, deu pra apreciar a paisagem. É de tirar o fôlego, literalmente. O ônibus vai serpenteando montanhas, subindo devagarinho. Nao existem árvores. A vegetacao se resume a esparcos tufos verdes rasteiros. Só pedras e rochas. E frio. Chegamos em Oruro là pelas 13h. Largamos as mochilas na casa dela e fomos direto para a festa.

 

Como todo muculmano deve ir pelo menos uma vez à Meca, todas as pessoas devem ir ao menos uma vez ao Carnaval de Oruro.

 

Oruro é uma cidade situada entre Cochabamba e La Paz, a 3.700m de altitude. Antigamente muito rica devido às minas de prata e estanho, hoje encontra-se decadente. Conta com cerca de 170 mil habitantes. Existem algumas boas atracoes turísticas em Oruro como aguas termais e o ponto de entrada para o Parque Nacional de Sajama, ponto culminante da Bolívia, com mais 6.800m de altitude. Foi em Oruro que pela primeira vez se hasteou a bandeira boliviana. Foi aqui que se iniciou a revolta contra o domínio colonial espanhol, que desencadeou na Independência boliviana. Mas nada se compara ao Carnaval.

 

Diferentemente do Brasil, hoje quase só festa mesmo, aqui em Oruro é puro folclore. 52 corsos, vindos de todas as partes da Bolívia, que se reunem aqui de sexta a terca. É pior que rave. Começa às 9h da manha e termina às 8h do dia seguinte. Por falar em rave, tinha sábado em Oruro a Socavón Tronic. Optei pelo Carnaval tradicional.

 

Nao existe competiçao para ver quem é o melhor. Os dançarinos bailam em devoçao à Virgem de Socavón, a padroeira de Oruro. Cada corso tem seu próprio hino, cantado em êxtase pela multidao (Oruro salta de 170 mil habitantes para mais de 400 mil do Carnaval), regado por muita, mas muita cerveja e animaçao. Que samba e axé nada. Música folclórica boliviana, com muitos naipes de sopros. O trajeto dos corsos é de 3 km, pelas ruas de Oruro. Cousa de loco. Alguns trajes pesam 50 kg. E eles nao param nunca de dançar. As danças sao muito bem coreografadas.

 

Os corsos representam as diferentes culturas das cidades bolivianas. Primeiro entra um carro todo enfeitado com uma imagem da Virgem de Socavón. Depois vem os passistas com guizos presos aos pés. Eles fazem coreografias incríveis. A multidao vai a loucura. Depois algumas fantasias mais elaboradas, com máscaras impressionantes. Tem a ala das Morenas. Estas quase todos os corsos tem. A fantasias é bem parecida entre todas as morenas de todos os corsos. Sempre bailam da mesma maneira. Dois passinhos pra um lado dois para o outro. Sao lindas. Legal é ver a gurizada gritar "beso, beso" quando elas passam. Às vezes até sao atendidos.

 

A galera aqui nao para nunca. Como tem arquibancadas dos dois lados, existe uma verdadeira guerra de "globos", bixinguinhas de água voando para todos os lados. Impossível ficar seco.

Muita gente compra capas plásticas para nao se molhar muito. Compramos tambem.

 

No sábado, o Carnaval começa com a Entrada, com o desfile de todos os corsos. O ponto alto é a Diablada, quando vários bailarinos representam o diabo, desfilam pelas ruas. Infelizmente perdi a Diablada, pois chegamos só a tarde em Oruro. Por último vem a "bateria". Com muitos instrumentos de sopro. Um show à parte. Vou ver se eu posto no You Tube um dos vários vídeos que gravei para vocês terem uma idéia. Sem escutar as músicas e ver as coreografias fica difícil dar uma idéia da dimensao.

 

Saimos as 5h da manha da festa e voltamos para casa. Graças a Hilda, consegui local onde ficar em Oruro. Os preços dos hotéis multiplicam por 6 ou 7 no Caranaval. A minha estratégia, antes, era ir para La Paz e, durante o dia ir para Oruro e voltar pela manha. Ah, primeiro grande erro estratégico: tinho lido que era frio na Bolívia, mas nao pensava que era tanto. Ora pois, estamos no verao. Durante o dia, faz um calorzinho agradável, mas à noite a temperatura despenca. Cousas da altitude. Vim pra cá com 3 ermudas e só uma calça. Devia ter vindo com 3 calças e uma bermuda. Vou ter que comprar outra amanha aqui em La Paz.

 

Acordamos domingo e fomos cambiar cultura. Troquei 300 Mb de música brasileira que eu tinha no meu MP3 por 7 Gb de música latinoamericana com a Hilda. Um excelente negócio. Saímos para almocar carne de lhama. Boa carne. Pouco colesterol. Mas nada supera o boi mesmo.

 

Fomos entao visitar o famoso Santuário da Virgem de Socavón. Lá, dentro da igreja, existe uma entrada de uma mina de estanho, onde supostamente foi encontrada a imagem da Virgem. Dá pra entrar na mina, mas como tinha muita gente e uma fila enorme desistimos. Curti um poquito mais da fiesta, me despedi da Hilda e peguei o busao para La Paz, onde cheguei ontem de noite. A paisagem muda, pois estamos no Altiplano boliviano. Nao há montanhas. Cheguei em La Paz a noite e fui direto ao Hostal Copacabana (64 bs, 18 reais) descansar.

 

Acordei quase meio-dia hoje. Dei uma volta pela cidade. Almocei num ótimo restaurante um baita de um contra-filé por menos de R$ 10. Hoje é feriado aqui. Tava ruim de andar pelas ruas pois a qualquer momento poderia ser alvo de um "globo voador". Como ainda só tenho uma calca, resolvi voltar ao Hostal e mexer um pouco na net. Acabei comprando para amanha (50 bs) o passeio às ruínas de Tihuanaku (já falei sobre eles em outro post), uma civilizaçao pre-incaica cuja capital chegou a ter 60 mil habitantes, isso no ano 1000 da nossa Era. Aliás, como falei antes a verdadeira viagem começa agora, na Bolívia. Essa semana promete. Muitas surpresas e aventuras vao acontecer. Fiquem ligados. Bueno. Fico devendo o video no You Tube.

 

Descobri o verdadeiro sentido da expressao "amizade mochileira". Amizade mochileira é um misto de alegria e tristeza. Tristeza pelos amigos que se perdem, ficam para trás ou tomam rotas diferentes. Alegria por saber que muitos novos amigos virao ainda na jornada pela frente.

 

Fui.

 

Um beijo do Gordo. (Do Jô Soares... mas serve pra mim também!)

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Futebol nas Alturas!

 

Bem Amigos! (Gaviao Bueno)

 

Enfim, la paz.

 

La Paz esta situada num vale, rodeada de montanhas por todos os lados, como Cochabamba. A diferenca é que, visivelmente o vale de La Paz é bem menor e, a populacao, 3 vezes maior (1.5 milhao). Resultado: as encostas dos morros estao tapadas de casas. A cidade tem muitas subidas e descidas muito ingremes. Ao lado de La Paz, esta a cidade de El Alto, que tem o mesmo significado que Niterói, Santo André ou Canoas.

 

La Paz foi fundada em 1548 para celebrar o fim da guerra civil entre os partidários de Almagro e Pizarro, dois ex-sócios e conquistadores do Império Inca. O período de paz e amor durou pouco. Mais tarde, Almagro foi assassinado pelo próprio Pizarro, que, por sua vez, foi morto pelos partidários almagristas.

 

O ar é bastante seco em La Paz e sol brilha mais forte por aqui. Como o ar é mais rarefeito, a incidencia de raios ultravioletas é maior. Ontem, fiquei em torno de uma hora exposto ao sol e a pele do meu braçco está descascando. Tem que usar protetor solar sempre.

 

Fui visitar as ruínas de Tihuanacu ontem. Impressionante. 50 bs com transporte e guia. Saímos de La Paz às 9h da manha e chegamos em Tihuanacu lá pelas 10h30min. Tihuanacu fica a 71 km de La Paz, bem perto do Lago Titicaca. Ela foi a capital de umas das maiores civilizacoes que ja habitaram o continente sul-americano: os tihuanacotas.

 

Surgida por volta do ano 1000 AC, com uma economia com base no cultivo da batata e criacao de lhama, os tihuanacotas foram senhores de imensa área situada ao redor do Lago Titicaca. Sua capital, no auge, chegou a ter 60 mil habitantes. O engenhoso sistema de agricultura desenvolvido pelos tihuanacotas ajuda a explicar tamanho desenvolvimento. Eles desenvolveram uma técnica baseada em terraços de cultivo, chamados sukakullos. Essas estruturas mediam mais de um metro de comprimento, com superfícies para plantio de até 200m de extensao e 15m de largura. As plataformas eram dispostas paralelamente, com dique de água entre elas, encarregados da irrigaçao, amenizando periodos de seca e evitando que as águas do lago inundassem os campos em periodos de chuva. Esse diques armazenavam o calor do sol, perfazendo uma protecao a lavoura contra os rigores do frio. As algas floresciam na água aquecida, tornando-se alimentos de peixes e patos. O excremento dos patos, peixes mortos e algas, acumulavam-se no fundo dos diques, convertendo-se numa fonte de adubo organico, que era recolhido pelos agricultores e utilizado nos campos. Cada sukakullo tinha uma produtividade superior a 20 ton por hectare. Hoje, fazendas locais colhem cerca de 3 ton por hectare.

 

Outra ciencia incrivelmente desenvolvida pelos tihuanacotas foi a astronomia. Por meio dos astros, eles dividiam o ano em 12 meses e 365 dias. Sabiam exatamente as datas dos solstícios e, dessa forma, a época exata para plantar e colher. Tamanha abundancia em alimentos fez com que a civilizaçao tihuanacota florescesse e se expandisse, erguendo templos e palácios.

 

No ano 1000 de nossa era, porem, a civilazacao entrou em declinio. A populacao abandonou os campos e num periodo de 50 anos, o império desmoronou. Uma grande seca foi a causa desse colapso. A populacao se dispersou em várias pequenas tribos, sem um controle central. Os descentes dos tihuanacotas sao os aimarás, a etnia predominante na Bolívia. Mais tarde, com a ascençao dos incas, os aimarás foram incorporados a civilizacao incaica, tornando-se um dos 4 grandes estados em que eram dividido o Império Inca.

 

Hoje, escavaçoes arqueologicas estao sendo conduzidas para preservar e estudar a cultura tihuanco. Sorte que muitos templos estao soterrados pois, com a chegada dos espanhóis, o que havia em pé foi destruído para a construçao de templos católicos e outras construcoes. Alguns monolitos tem o nariz cortado, pois os espanhóis ao verem os monolitos, consideraram hereges. Um deles inclusive tem o desenho de um triangulo, feito pelos padres católicos, significando a santíssima trindade.

 

Existem dois museus na entrada do Complexo Arqueológico de Tihuanacu. Um deles contém uma enorme monolito em adobe que esta sendo estudado pelos arqueológos. O outro contém as peças ceramicas e utensilios em bronze, e conta a história da civilizacao. Em ambos no se puede sacar fotos, entao fico devendo.

 

Tendo um pouco de imaginaçao da para imaginar Tihuanacu em seu tempo áureo: uma próspera cidade, com piramides e palácios, cercada por muitas residencias em meio a uma exuberante área verde, bem diferente da árida paisagem de hoje.

 

Terminado o passeio fomos almoçar, lá mesmo dentro do Complexo. Tomei a sopa de quinua. Um cereal riquissimo em proteína, utilizado pela NASA como dieta para os astronautas. Acabei conhecendo um casal de argentinos e duas meninas russas, a Irina e Ksenia. Voltamos para La Paz e paramos para bater fotos lá cima do morro.

 

Combinei com as gurias russas de sair à noite e fomos no Mongo's, a boate badalada de La Paz, ponto de encontro de todos os estrangeiros. Pior que só tinha gringo lá, e muita música brasileira. Fiz as gurias experimentarem caipirinha e caírem no samba!

 

De ressaca, acabei acordando muito tarde hoje. Acabei almocando no Burguer King, aqui em La Paz, o combao custa 35 bolivianos, menos de 10 reais, mais barato que Cochabamba. Depois fui trocar travelers cheques e comprar uma chompa, uma espécie de moleton de la e uma calca. A noite estava reservada para o futebol. Rodada dupla no Estádio Hernando Silles. La Paz contra Atlas do México, pela Taça Libertadores de América e logo após, amistoso internacional entre as seleçoes da Bolívia e Peru.

 

No primeiro jogo, o La Paz tinha que vencer por 3 gols para se classificar ou 2 para ir para os penaltis. Empurrada pela torcida, a equipe partiu pra cima dos mexicanos, mas aos poucos a superioridade técnica do Atlas foi prevalecendo, levando muito perigo nos contra-ataques. O primeiro tempo acabou no zero a zero. No início do segundo tempo, o La Paz retomou a pressao inicial e conseguiu marcar seu gol, para delírio da torcida. O time foi pra cima, mas o Atlas segurou o placar e conseguiu se classificar para a fase de grupos da Libertadores.

 

No intervalo entre as duas partidas estavam chutando bolas promocionais para a arquibancada. Inacreditavelmente consegui pegar uma. Bola boa. De couro. Sempre quando acontece isso, o primeiro a pular nunca leva, entao esperei pra ver o que acontecia e a bola passou na minha frente e pulei igual ao Clemer. Belo troféu.

 

No jogo de fundo, amistoso internacional entre Bolívia e Peru. Antes do jogo um minuto de silencio, sei la pra que. O interessante é que foi o minuto de silencio mais silencioso que eu ja vi. Ninguem deu um pio. Outra coisa legal, nao havia divisao de torcidas, bolivianos e peruanos estavam lado a lado. Um exemplo.

 

A torcida boliviana faz um coro bem interessante. O estádio é dividido em 3 setores, atras dos gols e central. Primeiro o lado esquerdo grita "Bo-bo-bo", depois o central "Li-li-li" e, por ultimo o direito "Via-via-via", e dai todo mundo junto " Vi-va Bo-li-via".

 

Começado o jogo a Bolivia partiu pra cima. O Peru so se defendia. Porem ambas as equipes estavam sem inspiraçao no ataque. Nao saiu do zero. Segundo tempo, de novo a Bolivia em cima. De tanto insistir marcou seu gol. O Peru reagiu e após uma cabeçada no travessao, empatou o jogo. A torcida começou a pegar no pé do treinador. Gritos de "fuera Sanchez" (Hugo Sanchez) eram ouvidos em todas as partes. Mas dai, no final do jogo, após um escanteio, a Bolivia marcou seu segundo gol, dando numeros finais no placar do jogo: Bolivia 2 x 1 Peru. Depois de 10 meses e 11 jogos a Bolívia finalmente conseguiu vencer uma partida.

 

Bueno. Amanha. Bom, amanha vou fazer uma das aventuras mais impressionantes de todo o continente sul-americano: o down-hill de bike ate Coroico pela estrada mais perigosa do mundo. Se sobreviver, conto aqui como foi.

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A Estrada Mais Perigosa do Mundo

 

Ai...

 

Falei que nao era fácil.

 

Assim como o outro herói brasileiro, havia uma Tamburello na minha vida.

 

Entrei rápido demais na curva e bum, cai de cara no chao. Resultado: um pequeno talho na testa, alguns arranhoes no nariz, um lasca de dente e quatro pontos entre o nariz e a boca. Mas nada que me faça voltar pro Brasil. Continuamos sempre.

 

Saímos quinta bem cedo e fomos de van até La Cumbre, um ponto situado a mais de 4000m de altitude. De lá da pra ver o Huayna Potosi, uma montanha com mais de 6000m. Um frio intenso. Colocamos a roupa protetora de naylon. Testamos as bikes e saímos. Os primeiros 37 km sao em estrada com asfalto. Voce nem precisa pedalar pois é só descida. No caminho dá pra ver uma represa onde bolivianos geram energia elétrica, só com as águas que descem das montanhas. O visual é incrível. Em certo ponto, de tanta névoa, só é possivel ver o camarada da frente. Os dedos das maos parecem que vao congelar.

 

Terminado o asfalto, comeca a aventura: 33km até Coroico, situada a 1500m de altitude, pela estrada mais perigosa do mundo. Eu que o diga. Já morreram seis turistas, desde 2004, fazendo o down-hill. Em várias partes existem cruzes na borda do penhasc0 indicando um acidente fatal. A estrada é pura pedra. Tem uns 3m de largura, serpenteando montanhas. Em nenhum momento é necessario pedalar. 30 km descida abaixo. O visual é cousa de loco.

 

Daí o clima inverte. Quanto mais vai descendo mais calor vai ficando, tornando-se insuportavel. A encosta das montanhas, antes apenas pedras, começam a ficar verdejantes. Lá embaixo, no vale, pura floresta. E muita água descendo pela montanha, fazendo córregos que passam pela estrada. Muitas cachoeiras também. Em certa parte, tem que se passar sob uma. Nao tem como desviar.

 

Após 5h e 70km, chegamos em Coroico, lá pelas 14h. Coroico fica numa encosta de uma montanha. Nao existem lugares planos. As ruas paralelas tem um desnivel de alguns metros. Nao sei porque alguem resolveu fazer uma cidade la. A cidadezinha hoje é refúgio de pacenos ricos que querem fugir no fim-de-semana do frio de La Paz. Tem vários hoteis la. Mas é muito dificil de chegar. Estao construindo uma nova estrada até lá, mas na volta tivemos que parar tres vezes porque havia deslizamento de terra das montanhas. Porem, a vista la de cima, da cidade de Coroico, é algo que fica difícil de escrever aqui.

 

Almocamos e voltamos para La Paz. Me deixaram num hospital pra fazer os pontos. Que diacho. Nao vou poder curtir a noite de La Paz no fim de semana. Mas semana que vem ja to bom de novo. No final do passeio voce ganha um CD com as fotos e uma camiseta. Na volta, brinquei com o pessoal do grupo (só gringo): "My T-Shirt is write: I DIDN'T survive..."

 

Pois é. Entrei meio rápido demais numa curva e me espatifei no chao. Acidente. Nem por isso quem for a La Paz deve deixar de fazer o passeio. Recomendo muito. Eu mesmo faria de novo. Só iria um pouco mais devagar naquela curva.

 

Hoje, sai para visitar museus pacenos. Caminhei pela Plaza Murillo, onde ficam a Catedral e o lugar onde mora o Evo Morales. Na Plaza Murillo moram os pombos mais gordos que eu já vi. Nos cantos da praça existem vendedores especializados em milho picado e alpiste. As crianças enchem o saco dos pais fazendo com que eles comprem comida para os pombos. E os bichos passam o dia todo comendo.

 

Depois fui visitar os museus municipais. Voce compra a 4 bolivianos o ingresso que permite acesso a quatro museus. Primeiro fui no Museu Juan de Vargas, situado numa reformada casa colonial. O museu proporciona uma boa introducao às tradicoes folclóricas do altiplano e a história de La Paz, por meio de reprentaçoes em miniaturas de fatos historicos e personalidades.

 

Depois fui visitar o Museu do Litoral Boliviano. Pois é, os bolivianos tem um museu para recordar uma guerra perdida, a Guerra do Pacífico, em 1879, contra o Chile. O museu conta os motivos e antecedentes que levaram à invasao pelo Chile do território marinho boliviano. Mais tarde, o Peru se aliou à Bolívia e também perdeu parte do seu território. O Chile praticamente dobrou de tamanho depois da guerra. Até hoje os bolivianos reinvindicam a devolucao do território perdido para o Chile no confronto. Há uma placa com os seguintes dizeres: "Bolivia no ha perdido ni perdera jamas el derecho de reclamar su salida al mar como atributo indispensable de vida. El litoral fue y sera de Bolivia". A traduçao quer dizer mais ou menos o seguinte: "Seus chilenos fiasdapu, queremos um lugar para treinar pro WCT".

 

Saindo do Museu "Quero Minha Praia de Volta!", fui visitar o Museu de Metales Preciosos. Todos os acessos sao internos desses museus, saindo de um voce vai chegando aos outros. Esse museu abriga peças em prata e ouro confeccionadas pelas culturas tiahuanacu e inca. Na sala das pecas em ouro, uma enorme porta-cofre e varias cameras espalhadas cuidam para que ninguem se aventure a levar um "souvenir" para casa.

 

Voltei para o hotel e fui descansar. Amanha cedo tenho que voltar ao hospital pra ver como tá o machucado. Vou tirar os pontos só na quarta. Amanha a programacao é de novo urbana. Alguns outros museus, sacar fotos no Mirador Lakaikota, passear pela parte chique de La Paz, o Prado e comprar algumas "coisas" no Mercado de Brujas, talvez um feto de lhama. Yo no creo, pero que las hay...

 

Fui.

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Chacaltaya

 

Hola!

 

Bueno. Continuamos de onde paramos. No sábado. Um dia tipicamente urbano. Dei uma volta pelo Prado, uma das poucas áreas planas de La Paz, onde ficam bancos e restaurantes. Um lugar muito legal de dar uma caminhada. Também fui fazer compras e caminhar pelos mercados de La Paz. Um deles, o Mercado de Brujas.

 

Confesso que pensei que seria mais autentico. Hoje ja esta meio para turistas. As bancas de vendedoras de ervas e "fetiços" estao dando espaço para vendedores de cartoes-postais e souvenirs turisticos. Mas ainda há alguma cousa bruxófila. Vi algumas vendedoras de fetos de lhama. Sei lá pra que que serve. Mas tava lá. Ervas medicinais também, além de amuletos e ceramica "cerimonial", se é que me entendem. Como acho que to com mau olhado, depois de ficar dois dias sem dormir, só me coçando, por causa da alergia que peguei no Paraguay, e depois do tombao de bike em Coroico, comprei uma figuras da Pachamama pra ver se ela faz alguma cousa.

 

Voltei pro hotel, nem sai de noite, quase nem podia falar direito e me preparei para o dia seguinte: dia de enfrentar o temido Chacaltaya.

 

Chacaltaya é a estaçao de ski mais alta do mundo, com 5.400m. Está prestes a desaparecer por causa do aquecimento global. As neves vao diminuindo ano a ano. A estaçao abre somente no inverno, pois no verao é impossivel descer esquiando pois as rochas estao muito salientes, devido a falta de neve. Uma pena, senao eu me largava lá de cima.

 

Saímos de La Paz lá pelas 9h e chegamos próximo do Chacaltaya em torno de 11h. A van tem que subir por uma ingreme estrada de terra, um descuido pode ser fatal. Isso que o motora bateu num taxi na saída de La Paz. Adrenalina pura. Após uma pequena caminhada chegamos a base da montanha, no chalé e sede do Clube Andino Boliviano. Tomamos um forte mate de coca e fomos subir a montanha.

 

Pois é. Dos 9 do nosso grupo, 5 desistiram. Muitos desistem ali. A subida é fueda. Também tinha pensado em desistir. O frio e o vento sao muito fortes. Há risco de escorregar e despencar montanha abaixo. A subida em alguns pontos chega a ter quase 60 graus. A falta de ar para respirar é grande, devido ao ar rarefeito da altitude.

 

Mas fui. Peguei umas folhinhas de coca pra mascar e fui. Parando de 2 em 2 minutos para respirar. Devagar e sempre. Cheguei no cume do Chacaltaya. Montanha vencida. 5.400m. Recorde baketense. Quando se chega lá em cima, a única coisa que se pensa é voltar o mais rápido possível. Dei um tempo vendo a incrível paisagem. Dá pra ver El Alto, a cidade ao lado de La Paz. La Paz nao da pra ver porque ela tá num vale, um buraco.

 

Quando tava subindo o tempo tava se armando. Lá em cima começou uma nevasca fina. Resolvi voltar para a base. A descida quase pior que a subida porque há mais risco de escorregar. Eu mesmo cai tres vezes. Cheguei lá embaixo e a neve caia forte. Depois da tradicional guerra de neve e da tentativa frustrada de fazer um boneco, voltamos para a van.

 

Fomos a segunda parte do passeio, o Vale de La Luna, nos arredores de La Paz. Trata-se de uma formacao rochosa, que por causa da erosao, devido estar numa parte baixa, onde recebe ás aguas dos riachos que descem das montanhas, se parece com o territorio lunas. Nao é muito interessante. Acho que fizeram um marketing legal do troço. Terminado o passeio, voltamos para La Paz. Tudo isso por 50 bs, mais 15bs para o Chacaltaya e 15bs para o Vale, com guia. Em reais, R$ 22,00.

 

Mais tarde, na volta fui no Mirador Lakaikota, um morro bem no meio de La Paz. Lá em cima, se tem uma visao 360 graus da cidade. Os pacenos aproveitaram e fizeram um parque infantil lá. Lota no domingo. Voltei para o hotel e a noite fui dar uma caminhada no Prado.

 

Bueno. Adios La Paz. Em lunes, me voy a Copacabana, nas margens do Lago Titicaca.

 

Algumas comparaçoes pacenas:

 

Coca-Cola 500ml: R$ 1.10

Gasolina (litro): R$ 0.90

A la minuta em restaurante ótimo: R$ 5.00 com refri

Onibus (nao ha, mas sim lotacoes): R$ 0.30

Taxi (trajeto Beira-Rio / Centro): R$ 2.70

Batata Pringles grande: R$ 4.20

 

Os Incas

 

Parte 1: As Invasoes Bárbaras

 

Capítulo 2: A civilizaçao incaica

 

Nao é à toa que essa primeira parte chama-se As Invasoes Bárbaras. Os invasores, nesse caso, foram os próprios incas, que na base da força ou "diplomacia" conquistaram e subjugaram os povos vizinhos.

 

O primeiro imperador inca que se tem noticia chamava-se Manco Capac, isso no ano de 1.200. Segundo a lenda, Manco Capac, filho de Ayar Manco, criado pelo deus Viracocha, que surgiu das profundezas do Lago Titicaca para criar os homens. Manco Capac era a personificacao do Deus-Sol na Terra, senhor de tudo e todos. Ele era chamado de Inka, um adjetivo como Rei, Czar, etc. Portanto, Inka com k era o próprio imperador. Daí deu-se o nome de Incas, com c, para designar os pobres mortais governados pelo Inka.

 

Manco Capac recebeu uma ordem do Deus-Sol para criar uma cidade, Cuzco, que em quéchua, o idioma dos incas, quer dizer "umbigo do mundo". Criado o umbigo, Manco tratou de expandir seu império. Dizendo-se descendentes do Tihuanacu, absorveu grande parte da cultura e tecnologia desta civilizaçao.

 

Diferentemente dos indios brasileiros, que estavam na Idade da Pedra quando os europeus chegaram aqui, os incas possuíam uma sociedade muito organizada e hierarquizada, de base agrícola. Em muitos aspectos, suas cidades eram mais desenvolvidas que as do Velho Mundo, como na pavimentaçao de estradas e abastecimento de água. Dominavam sofisticadas técnicas de construçao, permitindo erguer templos, fortalezas e palácios, que poderiam estar de pé até hoje, caso suas pedras nao tivessem sido aproveitadas pelos espanhóis para outras construçoes.

 

Estradas pavimentadas uniam os vários pontos do Império. Elas eram percorridas a pé, pois os incas nao conheciam a roda (ou nao utilizavam). Bois, cavalos e outros animais de tracao nao existiam no continente americano (pois é, gado e cavalo sao animais trazidos pra ca em navios). As lhamas eram usadas apenas para transportar carga leve. Sao animais muito temperamentais. Se transportar sobrepeso, ela simplesmente nao anda. Só se tirarem o excesso de peso. A noite tambem nao. Se forçadas, elas simplesmente cospem sobre o importuno.

 

Isso torna mais impressionante ainda os complexos arquitetonicos como Machu-Pichu, no topo de montanhas.

 

Os incas cultivavam milho, feijao e principalmente, batatas, em terraços nas encotas das montanhas, irrigados por aquedutos e canais, adubado com guano, cocô de aves marinhas, trazidos do litoral. A importancia do guano era tamanha que quem matasse uma dessas aves era condenado à morte.

 

Os incas eram hábeis artesaos, esculpindo em madeira e outros materias. Dominavam a fabricaçao de ceramica e a metalurgia do bronze. Porem nao conheciam o ferro. Ouro e prata nao tinham valor economico e somente serviam para adorno pessoal e religiosos. O trabalho desses metais era realizado no "tempo livre", sendo considerado superfluo.

 

Sua alimentacao tinha como base produtos agricolas, como cereais, frutas e nozes. Domesticaram a lhama e o porquinho-da-índia (que nao é da Índia, como sabemos agora), utilizados como alimento, bem como peixes e mariscos.

 

O calendário incaico tinha doze meses. A cada mes deveriam ser realizadas determinadas atividades, ccompatíveis com as estaçoes do ano, que começava no solstício de verao, em dezembro.

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Copacabana, a Princesinha do Lago

 

Saí de La Paz na segunda à noite. Acabei demorando demais pra resolver umas cousas e só consegui pegar o "transporte" para Copacabana no final da tarde. Sabe aqueles ônibus que a gente vê em filme, com um bagageiro em cima onde o pessoal coloca de tudo um pouco? Pois é, tava num desses. A estrada entre La Paz e Copacabana é boa. O problema é o motora. Como a estrada é cheia de curvas, tinha que torcer para que nao viesse um outro carro em sentido contrário. O motora andava de um lado pra outro na estrada, pra fazer melhor as curvas.

 

Para chegar em Copacabana tem que atravessar o Lago Titicaca, no estreito de Tiquina. É estranho porque Copacabana é uma pedaço da Bolívia dentro do território peruano. É possível chegar lá somente por terra, mas daí tem que entrar no Peru. Entao, emoçoes mais fortes estavam por vir.

 

Já era quase noite e um temporal estava se armando. O "transporte" pára nas margens do Titicaca, a galera desce e pega um bote até o outro lado, enquanto o "transporte" vai via balsa. Pois é, temporal chegando e nao é que o bote apaga no meio do lago. E ficamos dez minutos a deriva. Dos dois lados tudo preto e a chuvarada e vento chegando. Mas chegamos salvos do outro lado. Embarcamos no "transporte" e chegamos em Copa já a noite, após 4h de viagem.

 

Fui direto procurar um hotel. Achei uns amigos brasileiros que conheci em La Paz, mas o hotel deles já estava ocupado. Me quedei no Hostal Wara, a 40 bolivianos. No outro dia cedo, ia tomar o bote até a Isla del Sol.

 

Copacabana é uma cidadezinha de 8 mil habitantes. É o centro religiosos da Bolívia. Lá tem uma imensa catedral dedicada à Virgem de Copacabana. Nas festas religiososas a cidade ferve. Copacabana tem esse nome porque..... porque sim. A outra Copacabana, a do Rio é que tem o nome em homenagem à Copacabana boliviana. Diz a lenda que pescadores peruanos, passando por uma tormenta na costa do Rio pediram socorro à Virgem de Copacabana. Como o nome pegou acredito que eles se salvaram.

 

E tem muito gringo em Copa. Todo mundo querendo ir conhecer a Isla del Sol e a Isla de la Luna, os centros religiosos sagrados pré-colombianos. A cidadezinha é puro hotel, albergue, hostal e restaurante. Opçoes para todos os bolsos e gostos.

 

Bueno. Cedo peguei o bote até a Isla del Sol. Deixei o grosso de minha bagagem no hotel e fui so com o necessario. 2h de viagem navegando pelo Titicaca, a 15 bs. Optei por desembarcar na parte norte, na localidade de Challapampa. Lá é onde ficam os lugares sagrados dos tihuanacu e dos incas. Os primeiros a ocupar a ilha e transforma-la em lugar sagrado foram os tihuanacotas, até sua desintegraçao, em 1100. Depois foram os incas, vindos do norte, isso já em 1300. Portanto, é necessario identificar as diferencas entre as duas culturas, do que é milenar, a Tihuanacu e do que é mais recente, a incaica.

 

Encontrei outros amigos brasileiros lá. Aqueles que encontrei no Chacaltaya e fomos explorar a parte norte da ilha. Com a ajuda de um guia, caminhamos 45min até a primeira atraçao: uma pedra onde os tihuanacos aplicavam a pena de morte aos que desrespeitavam as leis. A cultura tihuanacota tinha tres mandamentos, todos eles punidos com a pena de morte: 1 - Nao roubar; 2 - Nao mentir, 3 - Nao ser preguiçoso. Na pedra é possivel ver as marcas, na altura do peito de cordas onde os desafortunados eram amarrados e depois degolados.

 

Seguindo mais adiante, chegamos até a Roca Sagrada, a pedra sagrada dos tihuanacotas e dos incas. Em frente a pedra, um altar cerimonial para oferendas e sacrifícios. Os tihuanacotas sacrificavam lhamas e outros bichos. Já os incas, sempre que tinha uma seca, inundacoes ou terremotos nao hesitavam em matar gente mesmo. Na Roca Sagrada foi onde o deus Viracocha, emergindo das águas do Titicaca criou Manco Capac, o primeiro inca, segundo a lenda incaica, aos pés da rocha sagrada. Na Isla del Sol moravam sacerdotes e pessoal de apoio que trabalhava no cerimonial. Sempre nas datas festivais, o Inti Raymi, por exemplo, solstício da primavera, a ilha lotava de incas para celebracoes. Até hoje, já uma festa católica, é realizada uma série de cerimonias na ilha no solsticio da primavera.

 

Ao lado da Isla del Sol, está a Isla de La Luna, dedicada ao culto do feminino. Na ilha, no tempo dos incas, moravam 50 mulheres, as mais belas de todo o Império, escolhida a dedo pelo Inka. Elas esperavam a vez de serem sacrificadas. E o pior de tudo, iam com boa vontade, sabendo que estavam satisfazendo um desejo do Inka, que era a encarnacao do deus-sol na Terra. Era uma honra para os pais terem uma filha escolhida para viver na Isla de la Luna.

 

Depois de conhecer a parte Norte da Ilha - 9km de comprimento por 5km de largura - tinha duas opcoes: voltar para o barco (junto com os outros brasileiros) e ir via água para Yumani, a cidadezinha maior e situada na parte sul, ou percorrer a pé a ilha, pelas montanhas, com incríveis paisagens do Titicaca. Claro que fui pra Yumani a pé.

 

É uma longa caminhada de 4h, cheia de aclives e declives. Mas vale a pena. Só o fato de saber que se esta caminhando por uma estrada de 2500 anos. E ela é pavimentada com pedras. Mas isso mais recente, só a 600 anos atras, quando os incas tomaram conta da ilha.

 

No caminho encontrei um casal de peruanos. Eles estavam mal mesmo. A caminhada nao é facil. Acabei por fazer uma gentileza a guria e emprestei meu boné para ela. Que mancada. Como rapei o coco, acabei queimando a careca. Agora nem consigo botar boné. O sol brilha mais forte por aqui. Tem que usar protetor solar sempre.

 

Chegando em Yumani, optei por passar a noite na ilha. Até porque o último bote para o continente partia as 16h. Os peruanos queriam ir mas tiveram que ficar também. Fiquei num pequeno alojamiento a 30bs. Há diversas opcoes na ilha. O legal é que sao administrados pelos proprios moradores. Pra se ter uma ideia da tranquilidade do lugar, a energia elétrica funciona só até as 22h30min.

 

Acordei cedo na quarta e fui dar um passeio pela zona sul. Queria ter ido a Isla de la Luna, mas nao deu. Os botes para lá saíam pela manha e voltavam á tarde. Daí teria que pegar o das 16h para Copa, e nao daria tempo de conhecer a cidade ja que teria que estar em La Paz na quinta bem cedo pra tirar os pontos do machucado.

 

Entao peguei o bote das 10h30min para Copa. Só gringo no bote. Das 50 pessoas, tinha só uma véinha boliviana. Cheguei la, almocei e fui conhecer a cidade. Fui na imponente Catedral, caminhei pelas ruazinhas e resolvi subir no Cerro do Calvário, que disseram que a vista era fantástica la de cima.

 

Ainda bem que nao sou catolico e nao sabia quantas estacoes duravam a Via-Crucis de Jesus. Estaçoes pra mim sao quatro. Subindo pela montanha, a cada momento, vao aparecendo cruzes contando a historia do calvário, estacao por estacao, ate chegar la em cima onde existem outras crendices religiosas. Mas a vista é impressionante. De um lado o Titicaca, embaixo Copa.

 

Voltei para o chao e peguei um onibus para La Paz, onde estou agora. É impressionante o número de montanhas no caminho onde há terraços de cultivo abandonados, do tempo dos incas. Nao havia fome de jeito nenhum naquela época.

 

Chegando em La Paz, fui no hospital e saquei los puntos. Acho que ainda preciso de uma semana pra entrar em forma de novo. Daqui a pouco vou para Potosi. Como acabei ficando mais tempo que o previsto em Copa, acabei por tirar Sucre da viagem. Se pudesse até ficava mais tempo em Copa.

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La Plata de Potosí

 

Potosí talvez seja o lugar mais fascinante e trágico de toda a Bolívia.

 

Foi daqui, na montanha de Cerro Rico, que se extraiu a prata que financiou a Revoluçao Industrial na Europa.

 

Tudo começou em 1545 quando um pastor de lhamas perdeu a hora de voltar para casa e acampou nas encostas da montanha. Quando escureceu, ele acendeu uma fogueira para se aquecer e viu o brilho dos veios de prata realçados pelas chamas. A noticia nao demorou a chegar aos espanhóis, sedentos por riqueza e, nos proximos vinte anos Potosí se tornou a maior fornecedora de prata do mundo. No século XVI, Potosí era uma maiores metrópoles do mundo, com populaçao superior a Londres e Madrid, em torno de 160 mil habitantes. A cada dia a prata fazia brotar igrejas, casas imensas, bordéis, saloes de bailes, engenhos e teatros. Menina dos olhos da Coroa Espanhola, foi a única cidade das Américas a receber o título de "cidade imperial".

 

No entanto, mais de 7 milhoes de pessoas morreram no Cerro Rico, nos mais de 400 anos de exploracao da montanha, em funcao das condicoes insalubres de trabalho. Os primeiros mineiros, escravos, eram obrigados a trabalhar mais de 12h por dia no subsolo. Nem viam a luz do sol.

 

Depois da segunda metade do seculo 17, a producao caiu, a prata perdeu valor comercial, reduzindo a populacao da cidade para 9 mil habitantes em 1825. Mais tarde, a cidade teve um novo impulso com a exploracao do estanho, mas nunca retomou o explendor e riqueza dos anos da prata. Miguel de Cervantes, no clássico Don Quixote, cunhou a expressao "Vale um Potosí", para indicar algo muito valioso.

 

Por toda a heranca colonial, importancia histórica e pelo legado arquitetonico, Potosi foi declarada Patrimonio da Humanidade pela UNESCO em 1987. Hoje, a cidade conta com 160 mil habitantes e sua principal atividade economica continua sendo a mineracao, extraindo o que ainda se pode do famoso, glorioso e trágico Cerro Rico.

 

Cheguei em Potosi na sexta, como estava cansado da viagem resolvi dormir e só a tarde fui dar uma banda na cidade, comprar uns passeios e fui visitar a primeira igreja, a de San Francisco, de 1550. Dá pra subir no telhado e ter uma vista espetacular da cidade. É uma daquelas construcoes imponentes de Potosí. Aliás, igreja é o que nao falta na cidade, umas 30, todas com mais de 250 anos. A quantidade de quadros, esculturas é impressionante. Abaixo da igreja, da pra visitar as catacumbas, onde se depositam os corpos dos padres mortos e alguns figuroes da cidade.

 

À noite, dei uma volta pela cidade, mas nao tinha nada interessante. Fui dormir porque o sabado seria puxado. Ia adentrar o Cerro Rico.

 

Quando estava fazendo o doc "Ouro Negro" por duas vezes desci a Mina de Carvao Leao I em Minas do Leao, que nao estava mais em atividade mas ainda em manutencao. A mina é bem feita, com escoras, sistema de ventilacao, iluminacao, pouco perigo. Agora, o Cerro Rico é uma mina de 400 anos. Logo no inicio o grupo recebe uma roupa protetora, lanternas e se dirige ao Mercado Mineiro, onde podemos comprar alguns "regalos" aos mineiros. Vale lembrar que a mina esta em plena atividade e os mineiros que trabalhama lá nao gostam de ser "atracao turistica". Aquilo é o trabalho e a vida deles. Alias, vida que nao ultrapassa os 45 anos.

 

Bueno. Compramos refrigerante, folhas de coca e bananas de dinamite. Fomos ao Cerro Rico. De todas as aventuras e passeios que fiz ate agora, todos, absolutamente todos eu faria de novo, mesmo o passeio de bike em que me quebrei. Agora, voltar ao Cerro Rico nunca mais.

 

A mina nao foi construida. É apenas um buraco feito a mao. Em alguns momentos tem que se abaixar com o peito no chao para passar, por distancias de ate 20m. Voce se transforma num legitimo tatu. A unica iluminacao é a do seu capacete. Para pessoas claustrofobicas, nem chegue perto. O meu problema foi respirar. Voce esta a 4060m, nao ha circulacao de ar, e o que tem é extramente poluido com pó e particulas de minerais. A minha vontade quando entrei, foi a de sair dali o mais rapido possivel. Incrivel como pessoas podem trabalhar naquele ambiente. Na entrada da mina ha um pequeno museu, com a figura de El Tio.

 

Os primeiros mineiros foram os indigenas. Catequizados pelos padres catolicos espanhois, que diziam que deus esta no ceu e o diabo embaixo da terra, logo pensavam que as entranhas do Cerro Rico era o proprio inferno (nao deixa de ser mesmo) e comandado pelo diabo. Para trabalhar la, necessitariam da permissao do senhor das trevas. Criaram entao a figura do El Tio, o ser dono das profundezas e faziam oferendas pedindo permissao para trabalhar la e rogando para que nada de ruim acontecesse durante o trabalho. A tradicao persiste ate hoje. El Tio nao houviu muitas das preces.

 

Fui para o hotel tomar banho, voce fica completamente sujo e à tarde, fui visitar a incrivel Casa de La Moneda, uma enorme construcao no centro da cidade cuja funcao principal foi cunhar moedas de prata para toda a Europa. Hoje um museu, a Casa da Moeda conta com 200 salas. Visitamos toda o procedimento para beneficiar a prata e sua cunhagem, ora em moedas, ora em lingotes que eram enviados à Espanha. Por ironia do destino, as moedas bolivianas hoje sao produzidas na Espanha...

 

Depois fui visitar o Museu e Convento de Santa Tereza, uma grande construcao destinada a enclausurar meninas para passar a vida toda adorando deus e rezando. Era uma honra para as ricas familias tradicionais dos séculos XVI e XVII terem uma familia no convento. O dote para entrar, em valores de hoje, chegava a 100 mil dolares. Depois que a menina passava a porta de entrada, nunca mais poderia voltar, e nem ter contato nenhum com o meio externo. Quando se produzia algo para vender ou se necessitava de alguma coisa, as trocas eram feitas por rodas, onde nao se podia ver ninguem. Como o convento era extramamente rico, a quantidade de obras como esculturas e pinturas, todas com temas religiosos, é claro, é imensa. Cousas da nefasta igreja catolica.

 

No domingo e segunda fui visitar outras igrejas e monumentos e apreciar a gastronomia boliviana. Comi as famosas saltenas, uma especie de pastel de forno, recheado com carne ou pollo e bastante temperado. Alias tempero aqui nao é brincadeira. Num restaurante tinha tambem comida mexicana. Tá louco. Se as bolivianas sao assim, imagine as mexicanas-bolivianas. Comi tambem a trucha, um peixe que da aqui no Lago Poopó.

 

Na segunda, fui para Uyuni, onde estou agora. Daqui a pouco, vou fazer um passeio de 4 dias pelo Salar de Uyuni, ate chegar no Chile, em San Pedro de Atacama.

 

Bueno. Adios Bolivia, hola Chile.

 

Volto com certeza para ca. Nao deu pra ver nem 30 % das cousas. O lugar é fascinante, e o que é bom, extremamente barato.

 

Nos vemos em San Pedro, no deserto de Atacama, onde nao chove desde 1952.

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O Salar de Uyuni

 

Ola pessoal. Voltamos com o blog após alguns contratempos tecnológicos.

 

Bueno. Atrasado que estou, vamos fazer como o esquartejador, vamos por partes. Ja estou fisicamente no Peru, mas contando historias bolivianas.

 

Cheguei em Uyuni lá pelas 2h da manha, vindo de Potosi. O trajeto Uyuni-Potosi foi terrivel porque pior que uma estrada de terra boliviana é uma estrada de terra boliviana em preparacao para asfalto. Procurei um pequeno hostel e fui dormir (30 bs). Uyuni, antes uma cidade com um importante entroncamento ferroviario, seria uma daquelas cidades-fantasma nao fosse porta de entrada para um dos maiores espetaculos desse planeta, o Salar de Uyuni.

 

Comprei o tour de 3 dias pelo Salar em La Paz. Me mandaram encontrar a agencia Sandra Travels em Uyuni. Cheguei na hora marcada (10h) para o inicio do passeio. Esperei ate as 12h para sair. Uma super desorganizacao. Fui eu e mais dois argentinos para o Salar, no primeiro dia. O Salar é uma imensa porcao de sal, antes um grande lago que ia desde o Titicaca, mas aos poucos foi evaporando. Sob uma camada de 20m de sal há agua. Mas a camada de sal é suficiente para aguentar onibus e caminhoes. Neste periodo, por causa das chuvas, ha uma pelicula de uns 20 cm de agua sobre o salar. Por esse motivo os carros tem que andar devagar e nao se pode chegar a Isla del Pescado, que, no meio do Salar parece uma ilha mesmo. No entanto, o horizonte se confunde com o ceu por causa da agua. Impossivel ficar sem oculos escuros e protetor solar. O branco do sal reflete a luz do sol.

 

Fomos a cidadezinha de Colchani onde almocamos e entramos no Salar. No trajeto, ja dentro do Salar estao sendo construidos dois grandiosos hoteis de sal. Isso porque onde estavamos indo, o Hotel de Sal esta fazendo muito sucesso, apesar de bem mucufa. A diaria custa 25 dolares, mas nao vale a pena. Tudo la dentro é feito de sal, camas, cadeiras, mesas. Se o almoco nao esta bom, basta tirar um pouco da mesa e por na comida.

 

Apos um tempo no Hotel voltamos para Uyuni, onde eu ia esperar o novo grupo para seguir ate Villa Allota, em direcao ao sul da Bolivia. Antes, passamos no Cemeterio de Trenes, onde despejam carcacas de trens sem uso. Chegado o transporte, conheci o novo grupo, um argentino e quatro irlandeses. Comecamos a viagem ate Allota. No meio do trajeto, fura um pneu. Tudo bem, nada de mais, é comum em estradas assim, so de pedras. Mas o pior ainda estava por vir.

 

Comecou uma chuva danada e a estrada virou um barril. Puro barro. Comecava a escurecer. Vi que o motora estava ja com dificuldades de enxergar, ele estava com oculos escuros. ¨Saca las lentes", lhe disse. Ele tirou. Passou um tempo e perguntei porque nao ligava os farois. Resposta: "No hay luces". Incrivel. Viajamos na completa escuridao a uns 5 km por hora em uma estrada completamente embarrada.

 

Chegamos saos e salvos em Allota, porem o pessoal se rebelou e disse que so continuaria viagem se trouxessem outro carro e outro motorista, ja que haviamos pedido para ele parar e seguirmos a pe e ele nao obedeceu. No outro dia, ligamos para a agencia e nos enviaram outro motora e outro carro. Primeira coisa que fizemos foi testar as luzes. O argentino pegou nojo da cousa e voltou para Uyuni. Seguimos eu e os irlandeses. Allota parece uma cidadezinha de faroeste. Um nada no meio do nada.

 

Como eles nao falavam nada de espanhol e o motora-guia nao falava ingles, chamei no english para os irishs. Foram dois dias de completa absorcao em ingles. Beleza. O passeio continuou passando por paisagens incriveis, formacoes rochosas estranhas, lagunas altiplanicas de extremas beleza. Passamos pela Arbol de Piedra, uma formacao estranha que um vulcao perto cuspiu a 4000 anos. Passamos por algumas lagunas e chegamos a tarde a Laguna Colorada, onde ficava nosso refugio para passar a noite.

 

A Laguna Colorada é da cor vermelho e branca por causa da presenca de bórax e algas. Estava filmando a laguna quando vi uma manada de lhamas vindo em minha direcao, foi muito engracado. La no refugio se encontrava todas 4 x 4. A noite, foi uma das mais divertidas ate agora, ficamos conversando eu (unico brasileiro), argentinos, chilenos, irlandeses, belgas, galeses, franceses, italianos e alemaes. Uma sopa de letrinhas e idiomas. Combinamos ate de bater uma bola mas o vento estava tao forte que teriamos que buscar no Chile. Saimos na rua, um frio de ranguear cusco pra ver o eclipse da lua depois. Dae fui dormir pues, quem vai para Uyuni sai as 10h, e quem vai para o Chile sai as 4h. Tinhamos que acordar cedo no outro dia para ver o Planeta Terra soltar pum.

 

Os geiseres sao um fenomeno muito bonito de se ver, principalmente quando se esta amanhecendo. Cheira a enxofre e a temperatura varia muito entre cada buraco, desde o suportavel para por a mao ate os mais de 100 grados. Depois dos geireses chegamos a uma pequena piscina de agua termal onde se pode tomar banho. La dentro, agua quentinha a 35 graus. La fora, o termometro marcava 1 negativo. Nao me arrisquei. Me arrependi depois. É que tinha que tirar calcao de banho e toalha que estava na mochila em cima do carro e uma das irlandesas tava chata que nem saia do carro. Dai seguimos viagem. Uma galera ficou tomando banho la.

 

Passamos pela Laguna Blanca e a impressionate laguna Verde aos pes do Vulcao Licancabur. Infelizmente era muito cedo e a neblina encobria a paisagem. Chegamos ao refugio da empresa e acabou-se o passeio de tres dias. Fomos a fronteira e pegamos tranporte ate San Pedro de Atacama, ja no Chile. Mas isso eu conto dispois.

 

Algumas coisas interessantes sobre o espanhol, que estou aprendendo aqui. Vaso em espanhol significado copo. O que seria o nosso "vaso" quer dizer taca (com cedilha). Entao, se voce chegar chegar num restaurante e pedir uma taca vao te indicar o banheiro. E se voce estiver apertado e perguntar onde ha um vaso, vao lhe trazer um copo. Cousas da nossa lingua hermana.

 

Os Últimos Dias de Butch Cassidy e Sundance Kid

 

Parece filme de Holywood... e foi mesmo, com Robert Redford e outro cara que nao me lembro, isso em 1962. Mas a história é real. A Bolívia é pródiga em matar foragidos. Assim foi com Che Guevara. No incio do seculo, os dois mais procurados bandidos norte-americanos, estavam com cartazes "wanted" pendurados em quase todas as cidades dos EUA. Resolveram se mandar e foram para a Bolivia trabalhar na mineracao de estanho. Conseguiram emprego como ordenadores de despesa, olha só. Nao demorou muito para roubarem o pagamento dos mineiros, 90 mil dolares na epoca, um absurdo de dinheiro. Seguiram para um vilarejo perto de Uyuni, onde foram encurralados e, apos um tiroteio, mortos por policiais bolivianos. Mas uma das coisas que so acontecem na Bolivia

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Chile e o Pacífico Oceano

 

Bem-vindo à REALidade, ou melhor a DOLARidade. O Chile é tao ou mais caro que o Brasil.

 

San Pedro de Atacama é uma cidadezinha puramente turistica. Na alta temporada, dormem por dia 3000 pessoas em San Pedro, 1500 habitantes e 1500 turistas. E coisas pra se fazer e ver em San Pedro nao faltam. Para quem ja vem da Bolivia até parece repeticao, mas os chilenos tambem tem o direito de explorar turisticamente as belezas naturais da regiao, e fazem isso muitissimo bem.

 

San Pedro é puro hostal, hotel, albergue e restaurante. Por todos os lados. Sao rusticos, mas nao aquele rustico pobre, mas o rustico "estiloso". De muita qualidade. Os precos, claro, salgadissimos, nao so porque o Chile é caro, mas porque la é uma cidade turistica. Na rua principal nao se ve morador, so turista europeu.

 

Escolhi o hostal mais barato de todos, o da bandeira do Hostelling Internacional, a 6000 pesos chilenos. O peso esta 450 para cada dolar, o que da uns 13 dolares. O "quarto" era de 2 por 3 metros onde nao sei como colocaram dois beliches, um deles com tres camas ainda. Conheci la o Augusto (Barcelona, mas nao curtia futebol) e o Alvaro, do Chile mesmo. O Alvaro disse que no Chile se fala o pior espanhol da América do Sul. Sai na rua pra conferir. E é verdade. Na Bolivia entendi tudo perfeitamente, no Chile nao se entende nada. Eles nao terminam o final das palavras.

 

Bueno. Escolhi, dos trocentas opcoes tres passeios. O primeiro, pra quinta-feira, dia 21 mesmo. O passeio mais comum. Um tour pelo Valle de la Luna e o Valle de La Muerte. Lá do Vale da Lua se tem uma visao incrivel da Cordilheira dos Andes e de toda a regiao. A paisagem é árida e cortada frequentemente por ventos muito fortes, desenhando nas encostas formas estranhas. Depois fizemos uma caminhada pelo interior do Canyon, onde ha muito tempo atras passava um córrego. Dá pra ver as marcas da água nos tempos remotos.

 

Saindo dali fomos ao Vale da Morte. O Vale tem esse nome, dizem porque um explorador teria dito que o lugar se parecia com o planeta Marte, pois a paisagem é marciana mesmo. O povo teria entendido "morte". Entao o nome pegou. A verdade é que no Vale da Morte nenhuma espécie viva, vive. O lugar é completamente morto. Ficamos nas dunas ate o por-do-sol. Na volta, em vez de voltar como todo mundo pelo lugar comum, resolvi voltar pelas dunas.

 

Voltamos para San Pedro. Jantei num restaurante muito bom. Eles parecem pequenos de fora, mas quando se entra sao enormes. Todos muito bons. Torcia para que fizesse uma lua muito brilhante, pois a segunda aventura dependia disso: sandboard à noite nas dunas de San Pedro de Atacama.

 

Que coisa mais legal. Descer as dunas imensas em uma prancha. A velocidade que se pega é incrível. Claro, o guia deu os macetes para travar, essas coisas. Nas duas primeiras vezes fui bem despacio, tentando mais me equilibrar e ficar em pé do que aproveitar mesmo. Na terceira já me sentia "o" sandboardista. Peguei velocidade e no final ainda tentei manobras, olha só. Fui dar um pulinho e rolei duna abaixo. Ainda bem que tava no finalzinho, senao o tombo teria consequencias piores. Suerte que nada se passou.

 

No outro dia, ja no sabado, acordei um pouco tarde e perdi a saída do terceiro passeio, pelos pueblitos e as pukaras. Esse passeio seria ja pendendo para o lado etno-arqueológico. Nessa viagem, estou fazendo de tudo um pouco: aventura, arqueologia, cultura e fiesta. Há muitas outras coisas pra se fazer em San Pedro, como por exemplo os passeios pelas Lagunas Altiplanicas e os Geiseres del Tatio, mas como ja tinha visto as lagunas e geiseres do lado boliviano deixei para outra hora esses passeios. Peguei o onibus mais cedo para Calama. A cidade grande mais proxima de San Pedro, a uma hora e meia de viagem.

 

Na viagem, se passa pelo meio do deserto de Atacama, o deserto mais seco do mundo. A estrada em perfeitas condicoes. Paisagem incrivel. Cheguei em Calama era 14h. Fui logo conhecer a cidade. Estava acontecendo la uma mais ou menos Expointer deles. Fui ver. No Parque El Loa. Aproveitei para conhecer o interessantissimo Museu de Calama. Lá se conta um pouco da Guerra do Pacífico contra o Peru e a Bolívia. Antes, Calama era boliviana.

 

Em Calama já se nota as diferencas entre Bolivia e Chile. Primeiro na populacao, ja bem mais branca, europeia. Na Bolivia, 90% da populacao é de origem aimará. Outra coisa, é que depois de muito tempo vi carros particulares. Na Bolivia, 60% dos carros sao taxi, 35% sao vans para transporte coletivo. O restante, 5% (e olhe lá, to sendo generoso!) sao carros particulares. O problema é que acabei esperando 5 min por um taxi, contra os 5 seg que se espera na Bolivia. Na Bolivia tambem, existe um ponto de internet a cada 50m. Isso porque é mais dificil da populacao adquirir carros ou ter internet em casa por exemplo. É o sonho de todo turista. Internet e taxi a todo momento.

 

Comprei passagem para Arica para sexta à noite. Fui comprar um sorvete antes. Duas bolas a quase 3 reais. É o Chile. Cheguei em Arica no sabado lá pelas 4 da manha. Fui direto para o Hostelling Internacional de Arica, diária a 6000 pesos. O Hostel de Arica é muito legal. O mais interessante e engracado que ja passei. Nas paredes o pessoal deixa recados. Tinha gente de todo o mundo la. O clima é de total descontracao.

 

Acordei no outro dia e fui resolver um problema que estava me incomodando ja alguns dias. Fui no dentista e arranquei um dente. O sizo. Depois de uma alergia no Paraguay e uns pontos na Bolívia, agora um dente no Chile. Sai urucubaca. Tirei o dente e fui visitar Arica, meio mal.

 

Arica é uma cidadezinha de 20 mil habitantes, banhada pelo Oceano Pacífico. É muito bonita. Bom tambem para respirar ar ao nível do mar depois de tantos dias de altitude. Fui conhecer as praias da regiao. Subi no Morro de Arica para ter uma visao geral do Pacífico e da cidade. Tremula a enorme bandeira chilena no Morro de Arica. O local foi palco de uma batalha na Guerra do Pacífico. Os peruanos estavam entricheirados no morro, mas nao resistiram às forcas chilenas.

 

Depois fui visitar o Museu Etnológico de Arica, que conta com a múmia mais antiga encontrada em todo o mundo. No caminho se ve a plantacao de muitas oliveiras. A base da economia de Arica é a producao de azeite de oliva, implantada a muitos anos pelos espanhois.

 

Arica é bonita, agradável e de clima muito bom. Só há um problema: os morros pelados. No entorno da cidade existem muitos morros, todos bem pequenos. O problema é que esses morros nao tem vegetacao nem pedras. É terra mesmo, o que faz com que voce, no final da tarde, acumule um pequena camada de poeira pelo corpo, em funcao dos ventos. Fui dormir cedo, la pelas 20h, com dores no dente, ou melhor, no lugar onde estava o dente, cuspindo sangue. Além disso, tinha tomado um suco de pepino la em Calama que acredito, teve um resultado laxante. Uma pena, pois a galera do hostel me contou no outro dia que fizeram uma churrascada e foram todos pra balada depois. Que merda. Eu que ja tava louco por uma festa e ja tava curado do acidente na Bolivia. Paciencia, Arequipa, no proximo sabado, nao me escapa.

 

No domingo, peguei um taxi e fui para a rodoviaria de Arica pegar um onibus para Tacna, ja no Peru. Nao existem onibus para Tacna. Tem que pegar um coletivo, ou seja, um carro, que quando lota sai em direcao à Tacna, distante 60km de Arica, por 3000 pesos. Barato. Antes, passamos pelos tramites burrocráticos de fronteira. Beleza, pensei, saio de Arica às 11h, chego em Tacna às 12h e pego o busao para Arequipa que sai as 12h30min.

 

Que nada, o Chile tem uma hora de diferenca para o Peru, alem de estar no horario de verao. Resultado, sai de Arica às 11h e cheguei em Tacna, uma hora depois, às 10h. Esperei duas horas pelo onibus. A moeda muda de novo, agora sao soles. Um dolar equivale a 2.90 soles. Peguei o onibus da Cruz del Sur, por 35 soles. Onibus de primeira, inclusive com comisaria e servico de bordo e ate um bingo durante a viagem.

 

Cheguei em Arequipa à noite sem nenhum tostao furado no bolso. Nao consegui sacar, sei la porque. Peguei um taxi fiado e fui para um hotel em que se aceitava cartao de crédito. Parei no Marcones del Moral, por 60 soles, 20 dolares, bem caro. Mas era o que aceitava cartao, e eles pagaram o taxi para mim.

 

Na segunda, fui dar uma banda por Arequipa, comprar uns passeios e minha passagem para Puno, onde iria durante a noite. Conto sobre Puno no próximo post. Falou.

 

Os Incas

 

Parte 1: As Invasoes Bárbaras

 

Capítulo 3: A sociedade incaica

 

A sociedade incaica, embora expansionista e guerreira, se baseava na terra. O Estado era dono de tudo. A populacao camponesa tinha o direito de trabalhar na terra, obedecendo um sistema chamado mita, que fornecia mao-de-obra e parte da producao ao Estado. Essa producao servia para alimentar o nobres, o Inka e sua familia, alem dos militares e pessoas com outros oficios como artesaos, ourives, oleiros, etc. Todos recebiam terras para cultivar e quem nao aproveitasse era punido. Os incas seguiam os mandamentos dos tihuanacotas: 1-Nao roubar. 2-Nao mentir.3-Nao ser preguicoso.

 

Embora toda a terra pertencesse ao Estado é um engano pensar a civilizao incaica como "socialista". Havia uma rígida hierarquia de classes e a sociedade interferia em tudo na vida do individio, do trabalho ao casamento. Os historiadores acreditam que a sociedade incaica seja mais parecida com a japonesa medieval e a espartana, aristocrática e guerreira.

 

No primeiro plano, o Inka, senhor de tudo e de todos, com poderes de vida e morte sobre todos, chefe supremo do Estado, seguido por uma aristocracia formada por sacerdotes e nobreza - altos funcionários e militares. A nobreza se dividia em nobres de sangue e de privilégio. Os de privilégio, abaixo dos de sangue, eram chefes tribos submetidas ou aqueles recompensados pelo Inka, seja por feitos militares ou descobertas tecnológicas. Nobres podiam ter várias mulheres, mais gado e mais terras, mas eram severamente punidos por qualquer falta, pois supunha-se que, na condicao de membros da elite, deveriam dar o exemplo de conduta impecável. Seus filhos estudavam na Casa do Conhecimento (Yachauyhuasi) e recebiam educacao em artes militares, astronomia, leis, religiao, esportes e moral. Como nao desenvolveram a escrita, tudo era repetido exaustivamente ate ser decorado.

 

Havia uma casta de sábios, chamados amautas, responsavel por manter a historia e o saber do Império, que foram exterminados pelos espanhois, fazendo com que muitos conhecimentos se perdessem. O clero, numeroso e hierarquizado, era chefiado pelo Sacerdote Supremo, parente do Inka.

 

Na base estava o povao, obrigatoriamente monogamico e que nao recebiam educacao formal. Ja que estavam destinados ao trabalho bracal, nao precisavam de muita sabedoria. Os homens, cultivavam a terra e as mulheres teciam roupas e cozinhavam.

 

Os incas nao desenvolveram a escrita porem possuiam um linguagem codificada em quipús, cordoezinhos coloridos de diferentes grossuras, com nós. Esses cordoes informavam datas, quantidades, dados economicos, historicos e demográficos. Um sistema de mensageiros, os chasquis, se revezavam na trasmissao de noticias entre os distantes pontos do Império e mantinha o Inka informado do que se passava em cada provincia. O mensageiro decorava mensagens curtas e devia repetir com exatidao ao proximo chasqui. Os postos se situavam em pontos estratégicos e poderiam se comunicar em sinais de fumaca ou luminosos em caso de alguma rebeliao. Assim, em poucas horas, a noticia chegava a Cuzco.

 

O império, centralizador e autoritário, guerreiro e agrícola, tinha base em comunidades chamadas ayllus. Os ayllus das terras altas cultivavam batatas, os do litoral, sal e pescado. Nos vales, criavam lhamas e alpacas. Cada ayllu tinha seu chefe, um prefeito que cuidava dos assuntos admnistrativos, recolhia os impostos e prestava contas ao Tucuy Ricoc, representante do Inka. Todos eram extremamente fieis ao Imperio e tinham interesse em manter a ordem, pois se alguem agisse errado, as vezes, todo ayllu era punido. Cada ayllu tinha tres tipos de trabalho: o ayni, para subsistencia, propria e da comunidade; a minca, trabalho nas terras do Inka, realizado anualmente; e a mita, prestacao de servicos para construcao de obras publicas. Tambem tinham que fornecer soldados ao Exército. Completado o tempo de servico poderiam voltar para casa. Visando fortalecer os lacos da comunidade, duas vezes por mes faziam refeicoes comunitarias com a presenca de todos.

 

A lei e moral era prerrogativa do Inka. A forte punicao do Estado desencoraja os delitos, que eram poucos. Nao havia prostituicao e sequer uma palavra para designar. A lei emanava do Inka e era divulgada pelos amautas para que ninguem alegasse sua ignorancia. As punicoes para os crimes graves, como assassinato ou estupro eram invariavelmente a morte, de forma cruel. Quando nao condenado a morte, o sentenciado era encerrado em um compartimento subterraneo com insetos e cobras venenosas, pumas ou condores, com poucas possibilidades de sobrevivencia. Se em dois dias ainda estivesse vivo, o Inka o perdoaria.

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Puno: De Volta ao Titicaca

 

Saí de Arequipa na segunda de noite, rumo a Puno, às margens do Lago Titicaca. Optei por viajar de noitao para economizar no hotel. Deixei o grosso da minha bagagem em Arequipa e segui somente com a mochila de ataque. Puno é uma cidade de mais ou menos 80 mil habitantes. Meio sujinha, vive basicamente do Titicaca e do turismo.

 

Tive que refazer o planejamento da viagem pois so iria a Puno no fim de semana. Acontece que havia dois trens de Puno a Cuzco: a categoria M, de Miseráveis, por 22 dolares e a categoria M, de Magnatas, por 148 dolares. A partir de 2008 a companhia retirou a categoria M, de Miseráveis e manteve a M, de Magnatas. Como planejei a viagem em dezembro, ainda havia as duas. Pois é, como meu orcamento é bem mais para a categoria M, optei por ir a Puno e voltar dois dias depois para Arequipa.

 

Peguei o busao das 22h e cheguei em Puno na terca, la pelas 4h. Depois de uma esperada sentado e um desayuno fui para o Centro comprar os passeios programados para Puno. No primeiro dia, a tradicional visita às Ilhas Flutuantes dos Uros, uma comunidade indígena que vive em ilhas feitas com um capim chamado totora, pela manha e a tarde uma visita a Ilha Taquile, tudo isso por apenas 25 soles.

 

Segundo o guia, os Uros foram morar no meio do lago porque nao quiseram se submeter aos Incas. Expulsos das suas terras ás margens do Titicaca, construiram ilhas flutuantes feitas de totora. Hoje parece improvavel que pessoas vivam em meio a umidade constante. As totoras tem que ser periodicamente repostas pois vao afundando com o tempo. O Uros hoje, vivem da pesca e do turismo. Parece ate cenario armado pra turista ver. Eles chegam todos sorridentes enquanto a turistada vai descendo dos barcos.

 

Depois seguimos viagem a Ilha Taquile, onde um comunidade aimará vive em estado puro. Caminhamos pela ilha e almocamos la. Sao 3000 moradores na ilha, todos vestindo roupas tipicas. A vestimenta fala tudo: se sao casados, solteiros, se estao de mau ou bom humor. Eles vivem em um sistema quase socialista. Toda a producao é dividida. Qualquer disputa é resolvida no domingo, no conselho da ilha. Da pra se ter uma visao privilegiada do Titicaca de la.

 

Voltamos para Puno, sao quase 3h de barco. Me hospedei no Hotel Presidente, com TV a cabo por 20 soles, uma ninharia. O engracado de Puno sao os taxis. Sao uma motos com tres rodas. Alguns sao bicicletas mesmo. Nao adianta, cada cidade tem sua caracteristica. Fui ver como é a noite de Puno, no barzinho da hora. Acabei marcando minha presenca por la.

 

No outro dia, pela manha fui dar uma banda pela cidade. A praca principal, em frente à Catedral foi a mais limpa que eu ja vi em toda minha vida. Fui conhecer o Yavari, um navio de guerra da Armada Peruana, ancorado no porto, de 1862. Ele foi construido na Inglaterra, levado ate Arica (ainda peruana na época), desmontado, embalado e transportado no lombo de mulas até o Titicaca e entao reconstruido. Tudo isso levou uns 5 anos. Hoje serve como museu. Nunca entrou em combate.

 

À tarde, fui conhecer as ruínas de Sillustani, proximo de Puno. Sillustani serviu como cemitério para diversos povos como os tihuanacotas e os incas. Eles escolheram esse lugar devido a quantidade de ferro existente na montanha, que supostamente seria especial. A verdade é que ela atrai muitos raios. Várias chulpas, como sao chamadas as sepulturas enormes estao comprometidas ou destruidas em funcao das intempéries. Outras pela acao dos cacadores de tesouros ou vandalos mesmo.

 

Saindo de Sillustani, voltamos para Puno. Peguei o bus das 18h e cheguei em torno da meia-noite em Arequipa. Voltei ao hotel e fui logo dormir. No outro dia, quinta, comecava a maior aventura de toda a viagem pela América do Sul: a conquista do Vulcao El Misti, que eu conto no proximo post.

 

Fui.

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El Misti

 

Conto agora a aventura (ou desventura) de conquista do El Misti, o vulcao que vigia Arequipa.

 

Cedo da manha de quinta passada me pegaram no hotel para o inicio da ascensao ao Misti. Estava eu, o guia (Adriano), um italiano (o Zeno) e um alemao (o Martin). Seguimos de carro ate um bom pedaco na entrada da Reserva Nacional Salinas e Aguada Blanca, isso a 3400m.

 

Ali comecou a caminhada. Era umas 11h da manha e checamos o nosso equipamento: barraca, macete, corda, saco de dormir, roupa para o frio, luvas, lanternas, agua, comida.... O inicio foi animador, apesar de cada um carregar uma mochila com uns 30kg nas costas. Pensar que em breve estariamos no cume de um vulcao a 5.900m de altitude fazia esquecer qualquer pesinho. Mas foi so o inicio.

 

Quando de fato chegamos a base do vulcao, a coisa comecou a piorar. Caminhamos uma hora sem parar, sempre subindo. Quando paramos perguntei ao Adriano, o guia peruano, quanto haviamos subido, ele respondeu 90m! Puxa, caminhar uma hora subindo, andando quase como tartaruga, subindo pedras, atolando o pe na areia fina com 30kg nas costas e subir 90m..... faltava ainda 2.400m.

 

Depois de 4h mais, la pelas 4h da tarde, chegamos ao acampamento baixo, onde iriamos passar a noite. Estavamos exaustos e a 4300m. Iriamos deixar os 1600m para o outro dia, mais 8h de subida. Dai tomamos uma decisao. Como chegamos relativamente cedo ao acampamento baixo, optamos por acampar no acampamento alto, a mais 500m acima, para diminuir o tempo e esforco de escalada no outro dia. Porem tinha dois caminhos a seguir: o normal, mais duas horas, e o mais peligroso, escalando, mas que chegariamos em uma hora. Tivemos que descartar o primeiro porque chegariamos a noite no acampamento, o que ficaria ruim para armas as barracas e jantar. Fomos pelo paredao, ate porque o Zeno tinha alguma experiencia subindo umas montanhas nos alpes italianos.

 

Seguimos bem devagar pelo paredao. O Adriano foi na frente para fixar os pinos e as cordas. Seguimos depois. Minha primeira escalada vertical. Muito legal. Nao ha tanto perigo assim, o negocio e confiar que tudo ta bem fixado e subir bem devagar, com cuidado. Cair la embaixo e dificil pois voce ta amarrado nas cordas. Se escorregar, pode se machucar porque voce bate nas rochas. Mas seguimos normal. Chegamos ao acampamento alto exatamente uma hora depois.

 

Armamos as barracas. O Adriano foi fazer o jantar. Sopa e macarrao. Tava bom. Alias, qualquer coisa estaria bom depois de 5h de subida. Meus pes estavam me matando pois nao tinha botas e tive que alugar uma, que nao me caiu legal. Fomos dormir era umas 19h. Escurece la pelas 18h aqui. No outro dia iamos acordar a 1h da manha e sair a 1h30min, de noitao mesmo, para chegar ao cume la pelas 8h da manha.

 

Nao consegui dormir nada. O frio era muito. Botei tudo o que eu tinha de roupa mas sentia muito frio ainda. Estava morto de cansado e com bolhas nos pes. O Adriano acordou o pessoal na hora. Dai tomei uma decisao. Guivupei. Desisti. OK, Misti, voce venceu. Nao conseguia segurar o macete nas maos (apesar das luvas) de tanto frio. Meus dedos estavam congelando e sabia que ia piorar ao amanhecer, ainda mais la em cima. Fiquei no acampamento. O pessoal foi. Voltaram la pelas 10h. Acabados.

 

Desfazemos o acampamento e comecamos a descer, desta vez pela areia, por isso foi bem rapido. Em 2h estavamos la embaixo. Meus pes em carne viva por causa das malditas botas. No final, tirei elas e fiquei so de meias. Deveria ter ido com meus tenis mesmo. O carro passou la pra pegar a gente.

 

Chegamos em Arequipa era umas 17h da tarde. Cansado, tomei um banho e fui direto dormir. No outro ia explorar a "cidade branca". Pois é, nao foi dessa vez. Meu recorde continua o Chacaltaya, com 5.400m. Perdi para o Misti, o frio e as botas. Mas ele ta no meu caderninho, esse safado. Um dia eu volto, com mais roupas e botas descentes e ele vai ver so. Chego la, nem que seja me arrastando.

 

Os Incas

 

Parte 1: As Invasoes Barbaras

 

Capítulo 4: A Expansao do Império

 

A formacao do maior Império da América do Sul pre-colombiana foi sobretudo, forjada a forca. O sucesso do poder militar dos incas foi sua disciplina: um exercito de guerreiros bem treinados. Inicialmente, o Inka, o chefao supremo, enviava falso mercadoress, que eram na verdade espioes, encarregados de avaliar a capacidade militar do inimigo. Depois chegavam os embaixadores, que propunham aos governantes locais que se submetessem. No caso de recusa, a guerra era declarada, porem sempre que possivel, obtinha-se a rendicao negociada. Esse "metodo" forcado de aculturamento e dominacao aliado ao pouco tempo de formacao do imperio (com magoas e vaidades expostas) foi o fator determinante para a sua ruina.

 

Os povos que aceitavam a hegemonia inca eram poupados, integrados ao Império e se beneficiavam do conhecimento cientifico e administrativo os incas. Arcavam porem, com tributos e eram obrigados a seguir as leis e religiao incaicas, como participar da mita. Tambem eram obrigados a aprender o quechua, o idioma oficialdo do Império, apesar de que podiam manter a sua lingua original. O antigo rei era mantido no posto e seus filhos enviados a Cusco para aprender o quechua e assimilar a cultura. Parte da populacao era transferida para outras partes de forma a ser mais facilmente controlada e aculturada, da mesma forma que militares-agricultores incas se estabeleciam nos terrenos dominados para "quechuizar" a populacao.

 

Porem, com os povos que nao aceitavam a dominacao, os incas eram cruéis. Taxavam a populacao com altos impostos e obrigavam a migracoes forcadas. O Inka ingressava na cidade em sua liteira, cujos carregadores pisavam sobre os guerreiros derrotados. O rei vencido era exibido nu. Quando a resistencia era feroz, os guerreiros vencidos eram escravizados e os chefes mortos e empalhados, para exibicao no desfile triunfal, como um trofeu de guerra.

 

O Império Inca comecou aproximadamente no ano de 1200, tendo seu auge entre os anos 1460 e 1530. Nesse periodo, o império era formado por 12 milhoes de pessoas, em uma extensao que ia do sul do Equador ate o norte da Argentina. Pouco a pouco os incas foram dominando os povos vizinhos. O ultimo grande imperio dominado foi o Chimu, no norte do Peru. Foi no perido do Imperador Inka Pachacuti (1438-1471) que o imperio incaica se consolidou, com a vitoria sobre os Chimus. Era mais ou menos um Brasil e uma Argentina, que comercializavam entre si e viviam em paz. Dai o Brasil resolveu invadir a Argentina, que no inicio se rebelou mas nao conseguiu suportar a pressao. Entao o Brasil fez com que toda a Argentina aprendesse o portugues, trocasse o tango pelo samba e enfim, aprendesse a jogar futebol.

 

Como o Império Inca era recente, comecou um crise a partir de 1527, quando morre o Inka Hayna Capac. O Inka tinha uma centena de filhos com concubinas e esposas. Uma de suas concubinas, a filha do rei de Quito, que aceitou se submeter ao Inka, era mae de Atahualpa, filho ilegitimo mas particularmente querido de Capac. A sucessao do trono deveria caber a Huascar, que vivia em Cusco era filho do Inka com sua esposa principal. Quando ia morrer, Capac chamou Huascar e disse que deixasse para Atahualpa a parte norte do Império (a regiao de Quito), no que foi atendido. Porem, poucos anos depois, Huascar se sentiu acuado e obrigou Atahualpa a declarar publicamente vassalagem e que renunciava a expansao norte do Império, ou seja, queria "cortas as asas" do Atahualpa. Huascar ordenou que Atahualpa fosse a Cusco levando a múmia de seu pai. Atahualpa mandou a múmia mas nao deu as caras. Huascar considerou um desrespeito e matou todos da comitiva de Atahualpa. Entao Atahualpa, maroto, disse que aceitava ir a Cusco prestar vassalagem ao irmao. Faria mais: iria acompanhado de milhares de seus suditos, que tambem declarariam fidelidade ao Inka.

 

Saiu de Quito uma enorme comitiva formada por soldados quitenhos sem a menor intencao de se submeter a Huascar. Este, a principio nao desconfiara de nada, mas avisado pelos governadores das provincias, armou sua defesa, mas seus guerrreiros estavam espalhados pelo Imperio e Huascar acabou prisioneiro. Com medo de nao ser aceito Inka pela sua condicao de bastardo, Atahualpa fez uma limpeza etnica na corte, matando todas as mulheres e filhos de Huascar.

 

Mais ou menos nessa época, nesse contexto de guerra civil, é que Atahualpa foi informado que estranhos homens barbudos em grandes naus passeavam pela costa... a rivalidade entre dois irmaos, o genio forte e ganancia de ambos seriam decisivos para o fim do imperio incaico.

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