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SUBINDO O PICO DO GAVIÃO

“Ainda subo esse pico aí!”, dizia sempre pra mim td vez q passava num trecho da trilha rumo o alto Rio Sertãozinho, região serrana de Mogi das Cruzes. Td pudera, a picada bordejava o sopé de um enorme serrote q, a despeito de sua altura acanhada se comparada a montanhas mais “famosas”, eleva-se imponente sobre o planalto mogiano coroado por dois cocorutos rochosos q despertaram minha atenção à primeira vista. Intenções de exploração do alto dos seus quase 1030m de cume logo inundaram minha mente e, portanto, a realização da trip era pura questão de tempo e disponibilidade. Depois soube q a montanha tem o nome de Pico do Gavião e, integrando o cjto de pedras significativas dos arredores (como a Pedra do Sapo, Esplanada e Garrafão) essa desfeita de curiosidade foi arrematada de vez neste ultimo domingo. Resultado: um belo bate-volta pauleira com vara-mato íngreme e algum senso de direção q é recompensado pelo visu privilegiado tanto da baixada de Bertioga como de boa parte dos atrativos à margem da SP-98.

 

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O manhã de domingo estava radiante e nenhuma nuvem maculava o céu azul qdo pusemos o pé no asfalto da Mogi-Bertioga, as 9:10. Imediatamente eu, Carlos e Myrna pusemo-nos a caminhar os menos de 3km q nos separavam da entrada da estrada rumo à casa do folclórico Seu Geraldo, gde matuto conhecedor da região. Caminhada esta q nunca foi tão animada e empolgada pela prosa dos causos da trip anterior em comum.

Meia hora depois deixávamos o asfalto pra entrar na precária estradinha q dá acesso á casa do Geraldo, chapinhando entre poças e brejo, caminho já percorrido inúmeras outras ocasiões e q dispensa maiores descrições. Entretanto, destaco algumas ressalvas q são novidade até pra mim: o inicio da estrada foi alargado de tal modo q erodiu o mato ao redor e o trecho do primeiro rio foi aterrado de modo a q agora circulam veículos pela estrada, o q leva á conclusão q devem estar circulando caminhões de reflorestamento novamente. Mas o q mais me intrigou foi o lixo espalhado até a cassa do Geraldo, esta por sua vez td revirada e escancaradamente com as portas e janelas abertas!? Teria ele sido despejado? Fica ai a dúvida, já q não encontramos o simpático senhor na ocasião.

 

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Dando continuidade á caminhada, a estrada logo se estreitou até se tornar uma razoável larga picada tomada por brejo, serpenteando a verdejante mata do planalto, sempre sentido leste com declividade imperceptível. Trechos do antigo calçamento de pedras denunciam um antigo e intenso tráfego na vereda, movimento q atualmente se limita ao de andarilhos como a gente. Mas após cruzar o discreto acesso norte à Cachu Light e passar pelo pontilhão sobre o Rio do Lobisomem, as 10:30, ganhamos um pequeno descampado onde já podemos avistar nosso destino. O Pico do Gavião surgia majestuoso a nossa frente com seus caracteristicos cocorutos apontando pro céu.

A picada então segue em direção do pico inicialmente indo pra sudeste mas depois vira abruptamente pro norte, indo de encontro ao sopé da montanha, onde chegamos a exatas 10:53. Breve pausa pra descanso, retomada de fôlego e lá vamos nós, avançando por uma discreta picada parcialmente tomada pelo mato, sentido norte, onde inconvenientes carrapitchos se agarrando à roupa. Este inicio é relativamente um porre devido à mata espessa, o chão lamacento e troncos atravessados, mas aos poucos a pernada abranda. Logo reparamos q a vereda é uma pequena vala q integra o q já fora uma antiga estrada (reflorestamento de eucalipitos?), dado o visivel corte vertical na encosta q vamos bordejando. Algumas fundações de concreto engolidas pela mata corroboram essa hipótese. Subindo suavemente e desviando de troncos, mata tombada e emaranhados de taquarinhas espinhentas não demora a declividade apertar e a “estrada” sumir de vez. E aperta mesmo. O chão de terra, úmido e escorregadio nos obriga a segurar em troncos e vegetação e assim avançar piramba acima.

 

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Apesar de estarmos sem GPS, carta nem bússola, o sentido aqui é obvio: pra cima, de preferência de modo a ganhar alguma crista ascendente. E isso não tarda a ocorrer assim q cruzamos a base de um enorme rochedo, onde uma toca pode providenciar eventual bivaque de emergência. Uma vez na crista a pernada é intuitiva, sem trilha, subindo suavemente em meio a mata facil de desviar, sem gde dificuldades. Enormes árvores no caminho surgem como sentinelas atentos á nossa ascenção, abraçando-se aos enormes pedras a seus pés através de suas raízes em busca de alguma base de sustentação naquela montanha de solo rochoso.

Mas caminhada facilitada é logo interrompida por um gigantesco rochedo inclinado se interpondo à nossa frente. Mas nossa ascenção continua, agora na base da escalada legitima do tal rochedo, nos valendo das raízes e pequenos caules como apoios e agarras pra ganhar um patamar acima, desviando de enormes bromélias espinhentas. O “chão” fofo predominante deste trecho é resultado do acumulo de folhas e sedimentos sustentado por um emaranhado de raízes, escondendo gretas e buracos. Portanto td cuidado aqui é pouco.

 

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Ganhando rapidamente altitude terminamos emergindo um patamar acima q nos oferece o primeiro vislumbre do alto e do qto subimos, em meio a frestas na vegetação. Andando novamente numa crista sempre ascendente por um tempo, somos obrigados a contornar novo paredão rochoso vertical (e impossível de encarar na escalada) pela esquerda, mas q não nos poupa de escalar o chão de terra ao redor, q se esfarela a cada passo dado.

Um patamar acima a crista arrefece e a pernada torna-se desimpedida por um tempo, ate q somos barrados por um ultimo mega-paredão vertical, provavelmente o ultimo pois por entre as frestas da mata acima ja avista-se o céu azul acima! Escalaminhando facilmente a mata deste ultimo trecho então emergimos no alto por volta das 12:30. Estamos no largo e estreito topo da montanha mas não em seu cume (o tal cocoruto visto de baixo) ainda distante. Coberto de mata arbustiva, algumas poucas arvores de pequeno porte e principalmente inconvenientes taquarinhas secas. Avançamos pela mata sentido norte, rasgando mato no peito e subindo o restante do topo ao cume. No trajeto emergimos na face norte da montanha, acima de um enorme paredão vertical de rocha tomado por pequenas bromélias. Isento de vegetação e totalmente aberto, daqui temos uma panorâmica privilegiada emoldurada de verde q nos brinda com a Pedra do Sapo à esquerda, o Morro das Antenas quase em frente e o Pico do Garrafão, despontando como uma enorme pirâmide à direita.

 

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Subindo o restante do topo em meio à mata finalmente alcançamos o cume da montanha, a exatas 13hrs! Coberto de mata e sem nenhuma laje rochosa, eu até q incito o pessoal a amaciar o capim de modo a sentar e descansar, sem sucesso. O Carlos encontrou inconvenientes carrapatinhos perambulando pelo braço o q nos desanimou por completo de sentar naquele chão. Q seja, comemos e descansamos em pé! Embora sem mto visu devido á mata, a vegetação naquela hora tava mais q bem-vida, dado o calor do sol escaldante daquele horário! E o suco providencial da Myrna nunca caiu tao bem goela abaixo.

Eu ainda escalei uma pequena àrvore pra me deliciar com o visual descortinando td o quadrante sul daquela região, onde predomina um incrível mar de vegetação verde a toda volta: à sudoeste destaca-se a linha clara das areias da praia de Bertioga contrastando com o azul do mar e celeste do céu, alem de um trecho da SP-98 riscando a mata, um pouco antes; e à sudeste temos uma porção de serras se intercalando após o pequeno espelho dágua da Represa Andes, e com um pouco mais de esforço avistamos ao longe o Pico de São Sebastião apontando pro céu, já em Ilhabela.

Até estudamos a possibilidade de descer ate a Pedra do Sapo, mas como a crista não era continua e havia um fundo vale nos separando dela, desistimos dessa idéia. Retornamos então pelo mesmo caminho, as 13:30, refazendo tds as pirambas, escaladas e descidas da ida em tempo menor. Como trilha sonora de nosso retorno tivemos a ruidosa algazarra promovida por bugios, proveniente de fundo vale á nossa esquerda.

 

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Num piscar de olhos, as 14:30 já pisávamos novamente na estradinha principal e as 15:40, no asfalto da SP-98. O busao pra Mogi foi pego de sopetão ao chegar na Balança e assim chegamos na cidade por volta das 17:30, tempo suficiente pra mandar ver brejas, sodas e pasteis num boteco dum chinês. A viagem de volta no trem foi feita no mundo dos sonhos, onde so despertei afim de aplacar minha persistente larica na Estação da Luz, inicio de noite, onde devorei um suculento, nutritivo, higiênico e saudável churrasquinho grego. Com direito a anilin.. ops, suco grátis!

 

Finalizando, apesar da altitude acanhada pois estimo q sua ascensão não atinja 450m, o Pico do Gavião é mais uma dessas pedras próximas á urbe, de fácil acesso e cuja subida é feita sem dificuldades técnicas. Isto é, ideal prum bate-volta dominical, podendo até esticar o perrengue por mais um dia, atravessando a Serra do sertãozinho e finalizar na Pedra do Sapo, o q resultaria numa travessia e tanto. Mas se a opção for apenas um simplório bate-volta ao Pico do Gavião a pedida é certa: se vc não levou nenhum tombo nas pirambas da montanha, garanta então o seu no Rio do Lobisomen, na forma de um refrescante tchibum gelado na volta. Enfim, essa é apenas mais uma das gratas surpresas q a Serra do Mar dos arredores de Mogi oferece a quem se permite vasculhar seu meandros e segredos.

 

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