Membros brasilia3333 Postado Março 18 Membros Postado Março 18 África: expedição a uma reserva de gorilas em Uganda Kenneth e Alexandre viveram a emoção de ficar cara a cara com gorilas em Uganda Meus queridos amigos Kenneth Fleming e Alexandre Pinheiro viveram uma super experiência na África (uma viagem que eu ando louca pra fazer), com direito a safari na Tanzânia e observação de gorilas em Uganda. Em um roteiro de 11 dias, em julho deste ano, eles visitaram o Parque Bwindi, em Uganda, habitat de cerca de 500 gorilas (metade da população total no planeta) e exploraram as principais áreas de observação de animais da Tanzânia — os parques nacionais e Manyara, Serengeti e Tarangire a Cratera Ngorongoro — onde fartaram o coração de ver os chamados big five (leões, leopardos, elefantes, rinocerontes e búfalos) e muitos outros bichos e contemplarem belíssimas paisagens à sombra de centenários baobás. A viagem dos meus amigos começou em Lisboa e passou por Frankfurt e Istambul para chegar à África, entrando no continente por Kigali, Ruanda, que oferece a melhor logística para chegar ao Parque Bwindi, no vizinho Uganda. Mamãe gorila com seu filhote no Parque Bwindi, Uganda Eu adoro as viagens de Kenneth e Alexandre (a jornada deles pelo Irã é uma grande inspiração para meus planos de visitar o país). É com enorme prazer, portanto, que apresento aqui na Fragata essa maravilhosa aventura na África. Kenneth e Alexandre tiveram a generosidade de compartilhar conosco sua maravilhosa viagem à África. Não é uma viagem simples, daquelas que a gente pega uma mochila e vai. Mas a experiência deles prova que, com um pouco de pesquisa, é perfeitamente possível encontrar os serviços e logística necessários para explorar rincões menos urbanizados na África. Iniciando a série da aventura africana de Kenneth e Alexandre, a Fragata Surprise orgulhosamente apresenta o relato detalhado deles da visita aos gorilas de Uganda, com todas as dicas práticas, preços e outras informações que podem ajudar na sua viagem a esse continente fascinante. Nos próximos posts, você vai saber como foi a passagem pela Tanzânia, com safari no Serengueti e outros parques importantes. Aproveite as dicas e comece a planejar. (Um parêntese da Fragata: olha só o sangue frio de Alexandre fazendo uma selfie do ladinho dos gorilas) Visita aos gorilas em Uganda Texto: Kenneth Flemming Fotos: Alexandre Pinheiro Ainda que já tenha visitado mais de 40 países, a África era o único continente no qual ainda não tinha posto meus pés e vistas. Por muito tempo, a África permaneceu naquele arquivo “viagens no futuro”, sempre com a consciência de que são várias e diferentes Áfricas, possibilitando muitos enredos, paisagens, sonoridades e culturas. Mas enfim, chegou a hora de ir à África e escolhi o pedacinho daquele mundo que sempre me despertou muita curiosidade: a vida selvagem do continente, especialmente os gorilas de Uganda e os safaris possíveis em países como a Tanzânia. A chegada à África foi por Kigali, capital de Ruanda, cidade que oferecia a melhor logística para a visita aos gorilas em Uganda Vistos para Uganda e Ruanda Para ingressar Uganda e Ruanda, é exigido visto. A boa notícia é que há um visto, chamado de East Africa Tourist Visa, que vale para o Quênia, Ruanda e Uganda, e pode ser solicitado online (siga o link). O visto permite múltiplas entradas e tem um custo de U$ 100. O visto também pode ser solicitado na chegada a esses países ou presencialmente, nas missões diplomáticas de Uganda, Ruanda ou Quênia. Para a solicitação online, é bom saber que ela deve ser feita no site do primeiro país que você for visitar (o país de sua chegada à África). Pesquisando sobre o pedido de visto pela internet, encontrei dezenas de sites de empresas privadas, que cobram taxas para fazer a mesma coisa que se pode fazer nos sites oficiais, sem maiores dificuldades. Creio que não há necessidade do auxílio delas, já que a aplicação é muito fácil e toda online. As paisagens, as aventuras e a vida selvagem são fascinantes. Mas foi o calor e a simpatia das pessoas, especialmente das crianças, que marcaram nossa memória para sempre Após preencher o formulário de pedido do visto, recebe-se um e-mail para realizar o pagamento. Dias depois, mandam um aviso de que a aplicação foi aceita e em breve será emitido o visto. O site assegura um prazo de até sete dias para a emissão do visto. Não recebi qualquer aviso sobre os trâmites do meu documento. Ao chegar em Kigali, capital de Ruanda, às 2 h da manhã, o funcionário teve alguma dificuldade em encontrar meu pedido. Mas, ao final, o encontrou e colou o visto em meu passaporte. Ainda que não tenha tido problema para entrar em Ruanda, onde cheguei em 19 de julho, 20 dias depois da minha chegada àquele país, já em casa, recebi um e-mail, no dia 8 de agosto, informando que o meu pedido fora aceito e que eu receberia o visto à chegada. 😊 Além de gorilas, encontramos várias outras espécies de animais nesse passeio Protocolos relativos a Covid Ruanda é o único país do nosso roteiro pela África que ainda exigia teste de Covid para o ingresso no país, além de comprovação de vacinação completa. Fiz o meu exame de Covid gratuitamente em Frankfurt, num quiosque de rua, com o resultado em 10 minutos. Na chegada a Ruanda, porém, a imigração não me pediu nem o teste o de Covid nem o certificado de vacinação. Na saída do Aeroporto de Kigali, havia um controle, onde fomos perguntados se estravámos vacinados. Bastou respondermos que sim e fomos liberados, se precisar apresentar qualquer comprovação. Em todas as passagens de fronteiras deste roteiro pela África, apenas na saída do Quênia para a Tanzânia é nos me pediram o certificado de vacinação. De Kigali ao Parque Bwindi, em Uganda, a viagem de é de 200 km Como chegamos à África Optamos por voar para a África partindo de Frankfurt (Alemanha), aeroporto que oferece voos para diversos países da África, inclusive de companhias europeias, o que dá maior flexibilidade (e por que não, segurança nos voos) para montar o roteiro. Nosso voo de ida para Kigali foi pela Turkish Airlines, com uma conexão em Istambul. O retorno à Europa foi com a KLM, de Daar es Salam (Tanzânia) para Amsterdam. Kigali, como já disse, foi a cidade que nos pareceu mais conveniente para chegarmos aos gorilas em Uganda. Se chegássemos por Nairobi (Quênia) ou por Kampala (Uganda), teríamos que viajar cerca de 10 horas de carro para chegar ao Parque Bwindi, onde vivem os gorilas em Uganda. Partindo de Kigali, a viagem até o Bwindi foi de menos de 4 horas. As ruas de Kigali são mais limpas do que as de Frankfurt. As estradas de Ruanda também primam pela limpeza Passagem por Kigali, a capital de Ruanda Nossa passagem de três dias por Kigali, capital de Ruanda, foi apenas uma escala estratégica para chegar aos gorilas em Uganda. É mais fácil chegar aos habitats dos gorilas partindo de Kigali do que de Kampala, capital e sede do principal aeroporto de Uganda. Não vi maiores atrativos na cidade, que tem como ponto turístico mais conhecido (mais ou divulgado), o Genocide Memorial Centre (Museu do Genocídio), que conta e mostra o genocídio ocorrido em 1994, quando 1 milhão de pessoas (a maioria da etnia tutsi) foram massacradas pelos hutus. A chacina, uma das mais sangrentas da história da humanidade, foi deflagrada após a queda do avião presidencial que matou o presidente hutu. O horizonte de Kigali visto do nosso hotel, o Milles de Colines O Aeroporto de Kigali, de porte médio, tem uma estrutura razoável. A moeda de Ruanda é o franco ruandês, mas o dólar e o euro são bem aceitos em quase todos os lugares. O que mais me surpreendeu, positivamente, foi a limpeza das ruas em Ruanda. Não se vê um papel no chão. Minha mãe, que nasceu em Frankfurt, virá puxar-me a perna, mas, a caminho de Kigali, fiz uma parada em Frankfurt, e posso afirmar com segurança que Kigali é muito mais limpa que a cidade alemã, que encontrei muito suja, principalmente na região mais central. Viajamos em torno de 100 km por estradas de Ruanda, e vi centenas de pessoas (a maioria mulheres) a limpar a beira da estrada. Não estavam a limpar uma rua, e sim uma rodovia. E ao longo dela, não se via uma sujeirinha. O Hotel Milles de Colines foi o cenário dos episódios narrados no filme Hotel Ruanda Hospedagem em Kigali Ficamos hospedados no Hotel Milles des Collines. Descobrimos, depois — e com um friozinho na espinha — que foi este o abrigo de muitos tutsis durante o massacre que traumatizou o país, como retratado no filme Hotel Ruanda (de Terry George, 2004). Hoje, o Milles de Collines é um excelente hotel (o único onde já me hospedei que tem dois banheiros por apartamento), bem central e com restaurante, shows de atrações locais e boa estrutura. Para ir do Aeroporto de Kigali ao hotel, contratamos um transfer oferecido pelo Mille de Collines e com custo de U$25 o trecho. O hotel tem ótima infraestrutura e acomodações muito confortáveis Segurança em Ruanda Caminhamos tranquilamente pelas ruas de Kigali, apesar do assédio dos ambulantes vendedores de bugigangas. Mas a preocupação com a segurança é grande e muito evidente. À entrada do portão do hotel, já é feita uma varredura no carro, com espelhos por baixo, para verificação de bombas, por exemplo. No acesso ao hotel, há aparelho de Raio-X, como o dos aeroportos. Toda a bagagem e os hóspedes são checados. Andamos pelas ruas de Kigali sem qualquer susto ou risco Na entrada do Aeroporto de Kigali há um enorme túnel. Ali os carros são parados, os passageiros descem todos para checagem no Raio-X. O automóvel segue sozinho por uma esteira rolante, passando por um scanner veicular. O motorista o apanha mais à frente. Todos os prédios comerciais de Kigali, pelo que constatei, têm controle com seguranças e Raio-X à porta. O trânsito em Kigali até pode embaçar, mas tudo corre em ordem Na ida do aeroporto ao hotel, na madrugada, passamos por umas seis ou sete barreiras policiais, sendo parados em uma delas. As pessoas com quem conversamos falam que não há problemas em Ruanda, que é só um excesso de precaução. Melhor assim. O trajeto entre Kigali, Ruanda, e o habitat dos gorilas em Uganda é de 200 km, atravessando montanhas e muitas plantações A caminho de Uganda No trajeto de Kigali para Uganda, a estrada margeia um imenso vale, por centenas de quilômetros. E todo o vale está plantado, cada centímetro. Me informou o guia que as comunidades adjacentes plantam em sistema cooperativo, onde cada um tem um pequeno pedaço de terra para cultivo. O que achei interessante é que há uma diversidade muito grande de espécies cultivadas. Vimos chá, café, arroz, hortaliças, banana, milho, feijão, cana e outras plantações. As pessoas sempre muito simpáticas e prestativas nas informações e interlocuções. A caminho do Parque Bwindi, atravessamos cenas da vida cotidiana Seguro viagem para Uganda e Ruanda Como sempre faço, achei necessário contratar um seguro de viagem. Além de estarmos em tempo de pandemia de Covid, esta viagem envolvia alguns riscos de quedas, doenças tropicais e outros perrengues. Descobri, então, que a quase totalidade das seguradoras não cobre viagens em Ruanda e Uganda, a exemplo de Irã, Síria e alguns outros países. Considerando que a vida selvagem, como nossos irmãos gorilas, são muito simpáticos e amigáveis, não representando perigo (o perigo sempre são os humanos), contratei um seguro que só cobriu a Alemanha, Turquia, Quênia e Tanzânia, por 15 dias e a um custo de € 70 por pessoa. Os gorilas em Uganda A população de gorilas na África teve um incremento forte nas últimas décadas, fruto de políticas de proteção adotadas pelos países que compartilham o habitat da espécie. Em 2000, estimava-se a existência de apenas 650 gorilas no mundo. O último censo da espécie (2019-2020) apontou uma população de 1.063 indivíduos, o que alterou a classificação deles de “seriamente ameaçados” para “ameaçados”. As comunidades de gorilas são compostas, em geral, por 20 a 30 indivíduos. A população de pouco mais de 1.000 gorilas do planeta habitam um território situado entre Ruanda, Uganda e República Democrática do Congo Três países compartilham seu território com habitats de gorilas: Ruanda, Uganda e República Democrática do Congo (RDC). Na organização deste roteiro, descartamos de pronto a passagem pela República Democrática do Congo. Crise política e problemas graves de segurança não recomendam, atualmente, uma viagem àquele país — incidentes recentes resultaram, inclusive, em mortes de turistas. Como é a observação de gorilas em Uganda No Congo, Ruanda e Uganda, é preciso pagar para ver os gorilas. Cada passeio de observação dura no máximo 1 hora, nem minuto a mais. Os turistas são sempre acompanhados por guias e os grupos têm limite máximo de integrantes de nove pessoas. Dá pra chegar pertinho dos gorilas, mas é preciso usar máscara para não contamina-los com vírus e outros riscos A taxa para ver gorilas na República Democrática do Congo é de US$ 400 por visitantes. Em Ruanda, o preço é de US$ 1.400. Uganda cobra a metade disso, US$ 700. Esse foi o motivo de termos escolhido ver os gorilas em Uganda. Há em torno de 100 grupos familiares de gorilas nesses países. Em Uganda são 50 grupos, metade deles acessíveis ou “visitáveis”. Os outros têm pouco contato com os humanos e podem, eventualmente, ser agressivos — embora, generalizando, os gorilas sejam pacíficos. O Bwindi Impenetrable National Park tem uma população de cerca de 500 gorilas Onde vimos os gorilas em Uganda Nossa expedição para avistamento de gorilas em Uganda foi ao Bwindi Impenetrable National Park, a cerca de 200 km de Kigali (e a 500 km de Kampala). O Parque Bwindi tem 321 km², com altitudes que variam entre os 1.200 metros e os 2.600 metros (as altitudes de Brasília e Machu Picchu, respectivamente). No Bwindi vivem cerca de 500 gorilas. O turismo é a maior fonte de divisas de Uganda, com a entrada de US$ 1,5 bilhão no último ano. Do que é arrecadado com as taxas de visitação aos gorilas, 20% vão para as comunidades vizinhas ao parque. O Bakiga Lodge, próximo ao Parque Bwindi, tem acomodações básicas, mas confortáveis Como é a visita ao Parque Bwindi Chegamos à área do Parque Bwindi e nos hospedamos Bakiga Lodge, hotel modesto, mas onde tudo funcionou bem e a simpatia dos atendentes faz a diferença. Moradores das imediações do Parque Bwindi recebem os turistas com cânticos e danças No dia seguinte, às 7:30h, fomos levados a uma das entradas do Parque Bwindi, onde assistimos a uma rápida apresentação de danças por mulheres e homens da região. Depois disso, são formados os grupos com oito a nove pessoas, que visitarão famílias diferentes de gorilas. Os carros das agências levam os turistas, os guias, carregadores, ou porters (e anjos da guarda), dois guardas armados com fuzis e mais dois mateiros. Cada grupo de turistas visita uma família específica de gorilas. Nossos anfitriões foram os integrantes do Grupo Bitukura O local que visitamos no Parque Bwindi foi o Ruhija Tourism Sector, onde vivem quatro famílias de gorilas. Nossos “anfitriões” foram o Grupo Bitukura, cujo líder/alpha é o gorila Mugisha. Chamaram-me a atenção os dois guardas com fuzis. Perguntei sobre sua finalidade a duas pessoas. A primeira me disse que era para precaução contra elefantes, que poderiam ser agressivos. Imaginei que os elefantes devem ser trapezistas para conseguir andar naquelas pirambeiras, mas calei-me. Já a segunda pessoa, o guia, deu-me resposta mais confiável. Disse que, ainda que raros, poderia haver encontros com os grupos de gorilas não sociáveis, e que os fuzis seriam usados apenas para espantá-los com o barulho das armas, não para matá-los — o que é bastante razoável: não haveria sentido em se promover visitas aos gorilas com a possibilidade de ter-se que abatê-los a tiros. As armas dos guardas serviriam para espantar algum gorila mais agressivo com o barulho dos tiros, segundo nos explicaram Os organizadores da expedição são experientes e já têm uma ideia preliminar dos locais onde podem estar os gorilas. Os mateiros precursores descem para o vale antes dos turistas e avisam quando avistam o grupo de animais. Os gorilas habitam os fundos do vale, já que ali é onde está a água. Só aí os visitantes deixam os carros, saem da estrada e começam a descida, que é muito íngreme (acho que num ângulo de 100 graus, por aí). Na apresentação, antes da descida, somos informados sobre a possibilidade de contratarmos um carregador, por US$ 15. Num primeiro instante, não considerei a possibilidade, me achando capaz de levar a minha mochila, que não estava pesada. Mas a questão não era carregar a mochila. Era a ajuda na caminhada. Confesso que foram os US$ 15 mais bem gastos da minha viagem. Cada participante recebe um bastão para auxiliar na caminhada, mas o auxílio do carregador, experiente, foi fundamental para eu completar minha caminhada. Ficar tão pertinho de um bicho tão imponente valeu cada tombo levado nesse passeio Mesmo com ele me amparando, caí feio umas três ou quatro fezes, fora os escorregões frequentes. E muitos outros também caíram ou escorregaram. Nada dramático, que exigisse chamar o SAMU. Mas o chão, todo tomado de cipós, samambaias rasteiras e outras plantas com raízes expostas, facilita as quedas. Meus 67 anos e o sobrepeso também não foram meus aliados, por evidente. Amparado pelo carregador e pelo guia, consegui realizar a minha visita com sucesso. O caminho até os gorilas é muito acidentado Mesmo aos mais jovens e bem preparados fisicamente, sugiro que calcem uma boa bota para caminhadas, com ranhuras adequadas no solado (o tênis escorrega muito). E contratem um porter. Certamente, sua visita aos gorilas será menos penosa. Atenção à vestimenta adequada para essa visita: calça comprida, camisas de mangas longas e meias longas (para proteger o corpo das formigas). Água e um bom repelente de insetos também são fundamentais. Vilarejo nas imediações do Parque Bwindi Cara a cara com os gorilas em Uganda O tempo de convivência com o grupo de gorilas é de 1 hora, cronometrada. Ao nos aproximarmos deles, é preciso colocar as máscaras, para evitar que sejam contaminados por Covid ou outras doenças, já que passam, às vezes, a menos de 1 metro de você . Não é preciso dizer da forte emoção que se tem ao encontrá-los. E eles não estão nem aí para nós, fazendo cara de paisagem. Continuam suas caminhadas, comilanças e brincadeiras, ignorando-nos solenemente (ainda bem). Mas digo com tranquilidade que é muito seguro, muito light, não há stress, e não vi ninguém do meu grupo assustado ou temeroso. A partir do momento que encontramos os gorilas, começamos a segui-los ou ficamos bem próximos, muitas vezes a 1 metro ou até menos. Os guias e guardas nos orientam, indicando quando nos afastar ou o que não fazer. Decorrida a hora exata da visita, iniciamos a penosa subida rumo à estrada, que não conseguimos avistar, em função da mata fechada. Mas, com a ajuda do meu porter e do guia, também muito prestativo ao ver que minhas energias já haviam se evanescido naquela floresta, consegui chegar à estrada. Cansado, mas inteiro, concluindo uma das viagens mais fantásticas que fiz, ou a mais. E até um diploma de visitante ganhei. As comunidades próximas à áreas do Parque Bwindi aproveitam cada pedacinho de terra para o cultivo Quanto custa observar os gorilas em Uganda Como já falei, escolhemos visitar os gorilas em Uganda, que tem a taxa de visitação de U$ 700 por pessoa. Sempre gostei de fazer minhas viagens independente, sem agências ou guias, exceto naquelas onde tal não era possível. E essa, por evidente, exigia uma agência de turismo, pela logística. Ao pesquisar sobre o Parque Bwindi, achei indicações de agências de turismo no site oficial do Parque (achei isso até estranho), e optei pela melhor avaliada. A empresa atendia ao que queríamos — transporte entre Kigali e o parque, transporte até os gorilas em Uganda e a viagem de de volta à capital de Ruanda. As comunidades nos arredores do Parque Bwindi são beneficiadas com 20% da taxa paga pelos turistas para ver a vida selvagem O custo total da nossa visita aos gorilas em Uganda foi de US$ 1.163 por pessoa, numa viagem que eles classificam como “private”, vez que era exclusivamente para duas pessoas. O valor já inclui a taxa de U$ 700 da visitação por pessoa. A agência nos recolheu no hotel em Kigali para uma viagem de cerca de 200 km até Bwindi, atravessando a fronteira com Uganda. Fizemos um pernoite numa pousada, digamos, três estrelas, com alimentação incluída. Depois, fomos levados de volta a Kigali. Creio que o custo-benefício valeu, pela distância e pelo fato de o carro ser exclusivo nosso. Nosso LandCruiser apresentou defeito e foi socorrido por uma junta mecânica A Junta Mecânica Ao longo da vida, já vi junta médica, junta de apuração, junta disciplinar e outras. Mas nunca tinha visto uma junta mecânica em ação. No retorno do Parque Bwindi a Kigali, nosso carro, uma LandCruiser, da Toyota, adaptada para os safáris (elas ficando maiores, com oito lugares e teto retrátil, ganham geladeira e ar condicionado), apresentou problemas no freio e no carburador. Paramos para reparos no carro em uma cidade de maior porte Kabale (53 mil habitantes), ainda em território ugandês. A oficina que o motorista/guia encontrou por lá foi um caminhão parado num terreno baldio imundo. E aí a Junta Mecânica, que jazia a descansar, se formou. A cidade de Kabale, em Uganda. No canto direito da imagem, o caminhão da junta mecânica Nosso motorista (de camisa listrada, à direita) foi assistido por um autêntico conselho para consertar o carro Eram seis ou sete “mecânicos” a dar palpites, cada um mexendo no carburador, no disco de freio e outras pares do carro. Ligavam para lojas de peças automotivas e lá vinha um rapaz de motocicleta, trazendo uma peça. Não servia, lá ia ele de novo, para depois trazer outra peça. Um vai e vem sem fim. E a junta a discutir, enquanto cada um batia, martelava, enfiava arames e torturava o pobre do carburador, que, exausto, após umas três horas de exames e intervenções terapêuticas, entregou a sujeira e voltou a funcionar. Fiquei imaginando quando aparecer um caminhão com problemas. Vai demorar mais do que as perícias do INSS. O calor e a simpatia dos ugandeses e ugandesas tornou nossa viagem muito especial O melhor da viagem: os sorrisos das crianças Ver os gorilas foi ótimo, excitante, emocionante e coroou um dos meus sonhos de viajante. Os humanos, porém, sempre encontram um jeito de suplantar tudo. Sem pieguice, confesso que receber os sorrisos das crianças, os seus “tchaus” singelos, autênticos e sem qualquer outro interesse do que manifestar sua alegria, sua simpatia, foi para mim um dos highligts da viagem. Ganhamos muitos tchaus e sorrisos das crianças ugandesas. Mas as da foto abaixo declinaram do convite para embarcar na Fragata. Será medo do mar? 😊 A cada aceno, a cada sorriso, a viagem ia se tornando mais barata, mais leve e mais inesquecível. A vida selvagem, as paisagens das savanas, os desafios daquele pedaço da África me marcaram para sempre. Mas minha memória vai ter sempre um lugar especial para guardar o que é universal: a doçura daquelas crianças expressada em sorrisos. Agradeço a gentileza da Fragata Surprise, que muitas vezes já fez o papel de "equipe precursora" para as minhas próprias viagens, em albergar esse nosso relato. Mais sobre esta viagem: O Safari na Tanzânia de Kenneth e Alexandre Tanzânia: como organizar uma viagem ao Serengeti 3 Citar
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