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http://jorgebeer.multiply.com/photos/album/191/Cachu_Rio_Vermelho

 

A “FERRADURA” DO RIO VERMELHO

O Rio da Onça, tortuoso curso dágua q deságua no Rio Mogi atraves do conhecido “Vale da Morte”, é o resultado da junção de 3 rios menores q despencam do alto dos contrafortes da Serra do Meio, situada no limite municipal de Sto André e Paranapiacaba. São eles: o Rio das Areias, do qual despenca a Cachu da Fumaça; o Rio da Solvay, q é aquele do Lago Cristal e Cachu Escondida; e o Rio Vermelho, seu tributário menos conhecido. A topografia recortada e relevo acidentado desta região possibilita variados circuitos trekkeiros entre rios, dos quais o mais conhecido é a “Ferradura da Fumaça” (ou “Trilha do Lamaçal” ou “7 Cachus”). Contudo, existe outra variante casca-grossa q em formato de “U” desce o Rio da Solvay e sobe a Rio Vermelho, passando pela imponente cachu homônima, vencida somente mediante rapel ou legitima escalada regada a muita adrenalina. Pois bem, eis a “Ferradura do Rio Vermelho”.

 

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A manhã encontrava-se relativamente fria e o céu, encoberto por um brumado cinza-claro qdo saltamos do busão, as 8:40, mais precisamente no km 44 do asfalto q interliga Rio Gde da Serra e Paranapiacaba. Após muitos “canos” e desistências de última hora, a única q topou encarar a roubada daquele sábado foram a Mari e o João. Q assim seja, o programa em questão era incerto pois ninguém do trio o havia realizado, os obstáculos no caminho eram consideráveis e a necessidade de rapidez e agilidade era fundamental. Afinal, ninguém queria ter de andar na mata ou escalaminhar um rio à noite. Nada de GPS, bússola ou mapa. Apenas um estudo prévio da carta indo de encontro com algumas infos (des)encontradas e bom senso, além de raspadas nos cafundós da minha memória.

Retrocedemos algumas dezenas de metros do pto de descida e adentramos numa trilha pela qual já andei mais de uma vez, palco de trocentas aventuras já um pouco datadas, uma delas com bônus de um assalto. Chapinhando em meio a muito brejo e lama, sinais de pegadas recentes de algum pequeno veado-campeiro no chão resultam nas primeiras fotos da trip. O zunido eletrostático das torres de alta tensão rompe o silencio de nossa marcha qdo ignoramos a direita numa bifurcação, mergulhando de vez na mata até desembocar nas nascentes do Rio Vermelho, q aqui marulha mansamente. Uma “ponte” improvisada na forma de toras de madeira de aderência duvidosa sobre um enorme tubo de concreto, permitem passagem à outra margem como tb assinalam o pto de retorno da trip, em tese. A trilha prossegue em trechos bem erodidos e outros nem tanto, acompanhando as torres de alta tensão em suaves sobe-desces no mato ate dar, enfim, nas nascentes do Rio da Solvay, às 9:30.

 

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A partir daqui bastou acompanhar o riacho em nivel, “costurando” suas margens constantemente e não tardou a cair nas pequenas clareiras de acampamento (repletas de lixo, diga-se de passagem) ao lado do belo Poço ou Lago Cristal. A partir daqui o terreno se debruça serra abaixo e a trilha vai no mesmo compasso, onde se perde altitude rapidamente na base da desescalaminhada auxiliado por rochas, troncos e raízes. Sempre acompanhando o agora encachoeirado rio pela direita, as 9:50 damos num lugar chamado de “Mirante”, isto é, no alto de uma enorme cachu onde a água é jogada de uma altura de mais de 40m e já se vislumbram os contrafortes serranos opostos cobertos de farta vegetação.

Sempre desescalaminhando a trilha em meio à mata pela direita no mesmo compasso, as 10hrs alcançamos um pequeno patamar onde um afluente do Rio da Solvay despenca à nossa direita. Olhando mais atentamente pra ele percebemos outra grandiosa cachu despencando de uma enorme muralha, bem mais acima. É a Cachu Escondida, cujo acesso dá-se pela sua margem esquerda e em 15min se pode alcançar seu topo, atraves de muita escalada auxiliada por algumas cordas dispostas estrategicamente. Como nosso destino é outro e o tempo cronometrado, deixamos a tentação de subi-la pra outra ocasião mais oportuna.

 

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A partir daqui a trilha some mas o sentido é obvio: rio abaixo, e a descida se dá ora pela íngreme encosta ora pelas pedras, sempre na base da desescalaminhada. A pernada aparenta nivelar um pouco mas logo embica novamente e de vez, rio abaixo. No caminho, muitas cachus, poços cristalinos e um enorme cânion q afunila num “V” pedregoso o rio durante um trecho. Mas não demora a emergir da densa floresta e descer um trecho dominado exclusivamente pelo leito de enormes rochas, onde a vista se amplia e permite um vislumbre dos patamares consecutivos q dominam o vale, assim como o risco alvo do Rio das Areias despencando no contraforte oposto.

A desescalaminhada íngreme prossegue inipterrupta, sem gdes dificuldades aparentes e costurando o rio ora de um lado ora de outro, sempre por onde der pra descer ao patamar seguinte, logo abaixo. O rio começa a fazer uma pequena curva pra direita e imediatamente descortina-se um escarpado paredão avermelhado vertical q assinala a convergência do Rio das Areias com o rio q percorremos, assim como o sinuoso Vale da Morte e sua Garganta do Diabo, mais adiante. Chegar ate lá é pura questão de tempo, onde após mais alguns lances de escalada e trepa-pedra, damos na base do paredão supracitado as margens de um bucólico e aprazível poção, as 11hrs. Na verdade estacionamos bem no local onde o Rio Vermelho deságua no Rio das Areias, apenas alguns metros acima da “convergência” oficial. Pausa pra descanso, lanche e tchibum, claro. Como recompensa mais q merecida, a nebulosidade deu lugar a um tímido sol q aquecia o final daquela manhã mais q mostrava-se mais q agradável e prazerosa.

 

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Devidamente revigorados, as 12:45 retomamos nossa jornada q agora seria Rio Vermelho acima. Inicialmente fomos escalaminhando as pedras do caminho, ate logo tropeçar com uma sucessão de cachus íngremes despencando e impossíveis de escalar. Mas vasculhando na mata da margem direita há uma picada q embica forte encosta acima, e é por ela q ganhamos altura num piscar de olhos. Mas logo a bem-vinda picada parece se perder ou desviar demais pra direita, afastando-se do rio. Mas até aqui já ultrapassamos o paredão q nos impossibilitava avançar e portanto voltamos ao rio, varando um pouco de mato ou nos valendo de valas dágua pra cair novamente na leito pedregoso do mesmo.

No entanto, outra cachu vertical se interpõe no caminho, mas aqui a intuição nos leva à outra margem e por ela prosseguir, onde a mata é menos espessa. E tome escalaminhada de encosta de terra bem íngreme, onde os apoios são poucos e a chão parece se esfarelar a cada paso dado. Bem, a declividade da piramba era a mesma q dos lajedos do rio, mas ao menos a mata, raízes e arvores permitiam uma subida c/ ancoragem mais segura. Mas logo caímos numa crista q foi bastou seguir afastando o mato com as mãos, sempre acompanhando o rio à nossa direita. Qdo notamos q os gdes abismos e muralhas já haviam sido deixados pra trás voltamos ao rio, e assim a escalaminhada teve continuidade desimpedidamente por um tempo.

 

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Mas eis q desponta outra queda vertical barrando nosso caminho, obrigando-nos outra vez a varar a vegetação atraves de sua íngreme encosta direita, de onde saímos imundos de mato pelo corpo td. Na sequência nos vemos no q parece ser um trecho onde o rio aparenta nivelar, mas eis q numa curva descortina-se com td sua imponência o q seria o maior desafio daquele dia. Estavamos num poção ao sopé da Cachu do Rio Vermelho, q dividida em 3 niveis sucessivos lançava suas águas de uma altura de mais de 50m!!! Pq maior desafio? Pelo simples fato q dali não havia como escalaminhar mato ou encosta alguma pela alta declividade, não restando opção senão subir pelo paredão de rocha q bordeja a cachu pela direita, na base de legítima escalada.

Respiramos fundo e lá fomos nos. O primeiro nível é facil e curto, bastando segurar firme as agarras e saliências secas na rocha e tomar impulso muralha acima. Grampões fincados na rocha denunciam a pratica de rapel, e tb servem de apoios providencias durante nossa ascenção. De cara o borrifo da cachu somado a jatos dágua ricocheteando nas rochas nos ensopa parcialmente. Saber fincar os pés nos apoios menos escorregadios é regra, uma vez q a rocha alem de úmida encontra-se besuntada de limo visguento. O segundo nivel é repeteco do primeiro, porem um pouco maior. O terceiro nível é o maior de tds e o mais exposto, mas o problema é q ali já se ganhou altura considerável e qq falha é queda livre na certa. Claro q subo sem olhar pra baixo visando apenas o degrau acima, com sentimentos divididos entre a excitação e o medo. No entanto, é neste trecho q Mari e João parecem ter dificuldades e decidem varar mato pela vegetação à direita, q aqui parece mais escalaminhável. Ali eles encontraram vestígios de uma trilha q aparenta descer a cachu, fato q ainda deve ser confirmado noutra ocasião.

 

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As 13:20 fincamos os pés no topo da Cachu do Rio Vermelho, isto é, no alto da serra. Visivelmente contentes por ter vencido essa provação pra lá de adrenada e pq a partir dali o restante da trip seria na horizontal, em nível. O porto de Santos imerso numa opaca nebulosidade emoldurado pelas montanhas e vales verdejantes ao redor completavam a satisfação de estar ali, razão pela qual nos presenteamos com uma longa pausa de contemplação, conversa furada e descanso. E ali ficamos nos prostrados nos lajedos, donos absolutos daquele pedaço.

Após lagartear ao agradável sol daquele inicio de tarde, as 14hrs, retomamos a pernada pelo agora calmo Rio Vermelho, cujas águas acobreadas justificam seu nome pela gde qtidade de matéria orgânica em suspensão. O avanço daqui em diante transcorreu livre e desimpedido, e assim seguimos pelo sinuoso e tortuoso rio, alternando margens, chapinhando na agua ou saltando de pedra em pedra. Eventualmente houve q transpôr alguns pequenos cânions emparedando o riacho, ora pela margem arenosa (com agua ate a coxa) ou pelos estreitos apoios onde era possível avançar agarrado à encosta. Mas após um tempo o rio emergiu da mata mais fechada pra marulhar bem raso rasgando silenciosamente os descampados de arbustos, passando por baixo das torres de alta tensão. A esta altura entrar na água ate o joelho não era problema, dose sim era a incomoda areia q entrava dentro do calçado.

 

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As 15hrs alcançamos o trecho onde ele intercepta a trilha do inicio do dia, ou seja, na “ponte” marcada pelas toras e tubo de concreto. E após lavar as botas, despedimo-nos do rio pra retomar a picada de volta. Ao chegar na primeira bifurcação do dia tomamos à esquerda (direita, na ida), q durante 20min andou pela planície pra desembocar no km43 do asfalto. Com disposição mais q sobrando, ainda encaramos mais 3km de asfalto ate Rio Grande da Serra, onde chegamos as 16hrs.

 

Sedentos e famintos, estacionamos num restaurante onde devoramos uma suculenta e farta feijuca num piscar de olhos, regada a cerveja, sorvete e tubaína q nunca desceram em tão boa hora como recompensa daquele dia adrenado na serra. Serra do Mar esta a meio caminho entre Rio Grande da Serra e Paranapiacaba q nos presenteia não apenas com belas paisagens de seus fundos vales contrastando com suas verdejantes montanhas apontando pro céu. Nos brinda tb com inúmeros circuitos q vão além dos programas e atrativos conhecidos na tradicional e pitoresca vila inglesa. Circuitos ou "ferraduras" perrengueiras pra andarilho q se preze nenhum botar defeito.

 

 

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