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TREKKING E TRAPALHADAS NA NEVE – P.N. NAHUEL HUAPI

 

Final de outubro/2007 estive em Bariloche para, entre outras coisas, fazer um trekking no Parque Nacional Nahuel Huapi. Faz parte de um projeto de fazer várias trilhas famosas nos Andes, especialmente na Bolívia e Peru (ver tópico “Trekking nos Andes”, em Companhia para Viajar). Vcs verão que minha experiência com neve era nula até então!

 

Bariloche fica no Norte da Patagônia e, embora seja mais freqüentada no inverno por nós brasileiros, devido ao ski, ela tem algumas das melhores trilhas dos Andes, na primavera-verão, no Parque Nacional. Com a vantagem das trilhas não serem tão altas e disporem de ótima infraestrutura. A desvantagem é o clima patagônico. Já disseram que a Patagônia é o melhor lugar do mundo para testar equipamento de montanhismo e trekking, especialmente as tendas.

 

Cheguei num vôo de BsAs 13:30 hrs (1600 km). Existe ainda a opção de trem e ônibus, mas como minhas férias eram curtas preferi comprar estes dois dias (que levaria a viagem terrestre ) por 320 US$ (LAN Chile) ida-e-volta.

 

Deixei uma mochila com as roupas sociais no hotel que reservei (onde pegaria na volta da caminhada). Tive de esperar as lojas abrirem depois da “siesta” para poder comprar gás e benzina (que não podia trazer no avião). A benzina eles conhecem como “solvente” e vc compra numa “ferreteria” ou “pinturaria” (loja de ferragens ou de tintas). Gás em cartucho tem em todas as lojas de montanhismo (junto com BsAs e Mendonza é um paraíso para comprar estes equipamentos).

 

Depois das compras, peguei o ônibus para Villa Catedral (onde ficam os teleféricos do Cerro Catedral) e do estacionamento iniciei a trilha para o refúgio Frey. Antes, porém, tive de esperar a abertura do posto policial para registrar meu nome (obrigatório para quem vai fazer a trilha). Com isto só comecei a caminhar as 16 hrs. Até o refúgio Frey são de 4 a 5 horas. Estava um pouco atrasado, mas o sol ali se põe as 20:30 nesta época.

 

A tarde estava chuvosa e fria. Este foi um dos invernos mais fortes de Bariloche nos últimos anos. Chegou a faltar água e gás na cidade durante alguns dias, com algumas mortes devido ao frio. Segundo os moradores a primavera ainda não havia começado (isto em 25 de outubro!!).

 

Logo depois do estacionamento, seguindo a trilha, junto aos primeiros córregos já havia um pouco de neve, a apenas 1300 metros de altura. Mas o caminho (“sendero”) era muito fácil de seguir. A trilha sobe costeando, gradualmente e a esquerda, embaixo, avistamos o lago Gutierrez. Com duas horas de caminhada, sempre ladeando a encosta, chegamos ao Vale do Arroyo Van Titter. Viramos à direita e começamos uma subida um pouco mais acentuada, seguindo o vale. Nos trechos mais difíceis pontilhões de troncos de árvore tornam a travessia tranqüila. Cada vez mais manchões de neve. Quando cheguei a uma parte mais larga do vale, logo após cruzar o Arroyo Van Titter a neve passa a dominar o cenário, dentro de um bonito bosque de coihues e lengas. Cheguei ao refúgio Piedritas as 19 hrs. Leva este nome porque é uma construção que fica por baixo de uma grande pedra, construída pelo Clube Andino Esloveno. Lembra uma toca de garimpeiros melhorada, da Chapada Diamantina/BA. Como faltava ainda uma hora para o refúgio Frey não quis arriscar continuar subindo. Decidi ficar no refúgio e seguir no outro dia. Neste ponto só havia neve com pelo menos 30 a 50 cm de espessura.

 

Depois de tirar as coisas da mochila fui buscar a água para preparar a janta. Ao voltar para o abrigo vi uma placa na porta que não havia reparado ao entrar na primeira vez, algo assim:“Cerrado. Peligro de Hantavirus debido a los ratos”. Bem, ao ver a neve acumulada em volta e sentir o frio que fazia, pensei, “que Hantavirus que nada, dane-se, vou ficar aí mesmo”. A aquela altura a única alternativa seria montar a barraca na neve, o que não parecia nada agradável. Agradeci a sorte do abrigo não estar de fato cerrado.

 

Uma coisa que aprendi: por mais impermeável que seja sua bota ela acaba molhando ao andar na neve. A neve que cai em cima derrete e acaba molhando o interior da mesma, mesmo com polainas. As polainas são imprescindíveis com neve. Não evitam molhar o interior do calçado, mas vai manter a bota seca por bem mais tempo. Arrependi-me por não ter trazido a minha pesada bota de Gore Tex. Eu não esperava encontrar neve, nesta altitude tão baixa, a esta época do ano.

 

Como a bota estava molhada tirei-a para secar e calcei minhas havaianas dentro do abrigo, para fazer a janta. Ao chegar no ponto do macarrão, fui para fora para escorrer o excesso de água. Subi numa mesa de troncos ao lado do refúgio, quase totalmente enterrada na neve e passei a escorrer a água. Porém a tampa da panela abriu e o macarrão caiu na neve. Mais que depressa meti a mão no macarrão e devolvi-o a panela (estava com fome e não estava a fim de fazer novamente o macarrão). Nisso eu escorreguei da mesa e meti minha perna na neve até o joelho. Resultado: um pé congelado e uma mão queimada pelo macarrão, tudo ao mesmo tempo! Que proeza!!!!

 

Lição nº 1: não inove. Não existe um prato “pasta al neve”.

 

No que volto descubro o molho de tomate queimando no fogareiro de benzina, pois havia demorado mais que previa lá fora. Depois da janta, que vcs imaginam como foi deliciosa, limpei o que pude das panelas e resolvi andar um pouco na neve para tocar um sino e ver um altar com uma inscrição junto a uma pedra vizinha ao abrigo. Como ficava apenas a cerca de 30 metros resolvi ir de havaianas mesmo, pois a neve parecia dura. Que engano! O pé deu boas enfiadas na neve. Quando acabei de ver o altar e tocar 3 vezes o sino voltei ao refúgio com os pés gelados. Quem disse que conseguia aquecer os pés? Levei quase uma hora tentando esquentá-los com massagem e enfiando-os no saco de dormir de pluma.

 

Lição nº 2: não ande de havaianas na neve.

 

Durante a noite meu relógio marcou 2,5 º C no abrigo. Imagine lá fora com o vento. O saco de pluma resistiu bem, mas isto porque usei todas as roupas por dentro, inclusive um corta vento como “vapor barrier”.

 

Dia seguinte com frio, vento e chuva. Por volta de 9 hrs da manhã começou a nevar. Muito bonito, especialmente se vc estiver vendo da janela de um chalé suiço diante de uma lareira.

 

O tempo melhorou e saí 11:30 para a etapa final até o refúgio Frey, a 1700 mts. Uma ascensão mais puxada, porém linda, através de um sendero bem marcado na neve, cruzando por um bosque de lengas (nesta altitude da Patagônia só sobrevivem as lengas). Começou a nevar no caminho. É uma experiência inebriante caminhar enquanto neva, dentro de um vale estreito, cercado de íngremes paredes de granito negro coroadas de gelo e neve. Ops... cheguei num ponto que o caminho simplesmente sumia debaixo da neve. As pegadas que segui no dia anterior desapareceram todas na neve que deve ter caído durante a noite. Tentei ir pelo que me parecia ser a continuação natural da trilha e comecei a afundar na neve, em alguns pontos até a virilha. Tentei por outro trajeto, mas o mesmo aconteceu. É estafante andar com a perna atolando na neve a cada passada. Não tinha snowshoes (aquelas raquetes que se põem nos pés).

 

Depois parei e avaliei. Não sabia por onde seguia a trilha. E, apesar de perto, ainda era bem distante para ir atolando a cada passo. Cerca de 1 Km adiante podia ver claramente o passo na montanha para onde a trilha deveria seguir. Desisti e voltei. Lá embaixo, novamente no refúgio Piedritas encontrei um casal que vinha descendo do Frey. Ele com snowshoes e ela com um snowboard, preso as mochilas Me disseram que de fato havia um trecho de “atoleiro” muito cansativo, mas que depois melhorava, com o restante da trilha de neve dura. E que as agulhas do cerro catedral estavam lindas (dão nome ao cerro, pois parecem enormes torres de catedral) aos pés da laguna Toncek. Incentivaram-me a tentar novamente subir. Recomecei a caminhada, imaginando que agora teria rastros na neve para seguir. Porém depois de alguns metros desisti de vez porque não me agradava a idéia de subir tudo de novo com aquele tempo. Fica para uma próxima vez.

 

Desci então a trilha do dia anterior até uma bifurcação onde tomei a direita, para baixar para Playa Muñoz, a beira do Lago Gutierrez, ao invés de retornar a Villa Catedral. Descida tranqüila, apenas alguns troncos caídos atrapalhavam a passagem em alguns trechos.

 

Playa Muñoz é um lugar muito bonito, parece um cartão postal. Armei acampamento a beira do lago e resolvi aproveitar a tarde bonita de sol para secar as roupas. Isto não quer dizer que o tempo estava quente. Sempre há um incômodo vento frio.

 

Antes da janta resolvi tomar um banho no lago. Totalmente nu me atirei rapidamente no lago, levantei e me ensaboei na cabeça e nas “áreas críticas” com sabão de coco. Atirei-me na água novamente para me enxaguar. Quando levantei estava com uma bela dor-de-cabeça tal o frio da água (deveria estar algo em torno dos 6º C). Corri para a margem, me enxuguei e me vesti. Porém continuei sentindo frio por meia hora ainda. Não vale a pena tomar banho com um frio destes, pois a gente sua muito pouco e o frio do banho não compensa. Nós brasileiros temos como rotina o banho diário, mas podem ter certeza, aqui é muito fácil esquecer este hábito.

 

Lição nº 3: banho muito frio é perigoso. Cascão já sabia disto!

 

Vacilos podem levar rapidamente a hipotermia num clima destes.

 

Depois conto o resto...

  • 1 mês depois...
  • Membros de Honra
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Dia seguinte...

 

Amanheceu o dia, muito bonito. Logo cedo dois atletas de corrida de aventura ou de triathlon passaram correndo pelo acampamento. Estavam treinando. A noite anterior foi muito tranqüila. Uma lua cheia espetacular sobre o lago Gutierrez, iluminando os picos nevados atrás do lago.

 

Segui pelas margens rumo ao extremo sul do lago Gutierrez. Trilha fácil, bem demarcada. Bem perto de onde acampei topei com o deságüe do Arroyo Van Titter no lago. É necessário atravessá-lo por sobre um tronco de árvore. Os demais riachos que descem das montanhas são menos caudalosos. Com 2 horas de marcha se chega até uma área muito bonita no extremo do lago. Segui pela praia para não entrar em terreno particular e depois entrei numa área de camping privado de onde se chega numa rodovia bem movimentada que liga Bariloche ao Sul, em direção a El Bolsón.

 

Esperei mais que meia hora no acostamento. Impaciente, tentei pegar carona, mas em rodovia de velocidade é difícil alguém parar. Até que enfim surgiu o microônibus que faz o trajeto Bariloche-El Bolsón. O conductor me deixou na entrada do P.N. Nahuel Huapi, setor Pampa Linda, onde fica o Tronador e outras atrações do parque. Com mais alguns metros de estrada de rípio cheguei à entrada do parque, onde comprei o ingresso com dois simpáticos guarda-parques. Disseram não ter transporte coletivo até Pampa Linda (40 Km adiante), mas que perguntariam aos carros que chegassem se poderiam dar uma carona. E assim foi. Um simpático casal de holandeses com a filha de 4 anos me levou a sede do parque. Há um detalhe importante. A estrada de terra é considerada de mão única (aqui no Brasil seria considerada tranqüilamente de duas mãos) e assim a Gendarmeria e os guarda parques só permitem um determinado sentido de tráfego em determinados horários. Até 8 hrs da manhã se pode sair do parque. Após 8 hrs,. apenas carros entrando no parque. As 14 hrs o parque fecha para a entrada e só podem sair automóveis. Assim quem vai para Pampa Linda só entra a partir das 8 hrs e só pode regressar depois de 14 hrs. Fazem isto para evitar batidas de frente na estrada sinuosa. Dei sorte porque foi o último carro antes do fechamento do parque.

 

Pampa Linda é um local hermoso, como o nome indica. Dali saem diversas trilhas. Uma delas é para o abrigo Otto Meilling. Creio que é a base para quem vai escalar o Tronador, mas dizem que a vista é espetacular e vale a pena passar a noite lá. O pernoite, com direito a beliche, é 20 pesos segundo o site do CAB. Há outras trilhas. A trilha que me interessava era a do cruce dos Andes, para Laguna Frias. Porém a guarda-parque, para meu desalento, informou que estava fechada, devido a neve no Paso de Las Nubens. O passo é o ponto mais alto do trajeto, a meio caminho de Puerto Frias. Acreditei nela, depois do que experimentei ao tentar chegar ao refúgio Frey. Trekking nesta zona realmente fica entre dezembro e fevereiro!

 

Pampa Linda tem pouca estrutura: um camping organizado (chamam assim o camping pago) com restaurante, uma área para camping sem estrutura (grátis), uma hostería com restaurante, uma casa da guarda parque e um posto da Gendarmeria. Pensei em ficar no camping pago apenas por conta do banho quente, mas não havia água quente. Assim preferi o camping sem estrutura e grátis.

 

Quando estava na frente da hostería conversando com um turista argentino ouvi um ronco parecendo de avião passando ou de trovão. Olhei para o céu. O argentino correu e apontou para o Tronador. Na verdade o barulho era de uma avalanche na montanha. Ainda tive tempo de tirar duas fotos. São as constantes avalanches que dão o nome ao vulcão: El Tronador. Impressionante como há avalanche nesta época do ano na montanha. O resto da tarde passei ouvindo os trovões, na verdade as avalanches do Tronador. Elas são mais comuns nas tardes de dias com sol, devido ao aquecimento. A escalada nesta época do ano deve ser bem arriscada. É a maior montanha desta região com seus 3.800 mts. É considerada AD pelas suas gretas e o último trecho, mais técnico.

 

Jantei no restaurante do camping que julguei mais barato, pois é mais simples que a hostería. Nesta época do ano apenas atendem no almoço, porém se avisar com antecedência, eles preparam uma janta para vc. Não recomendo o restaurante, exceto pela lareira.

 

No dia seguinte subi a estrada rumo ao Ventisquero Negro e a base do Tronador. Manhã nublada. Com hora e meia de caminhada cheguei ao Ventisqueiro (geleira) Negro. Tem este nome porque “los argentinos lo pintan a mano”, com dizem os guias. O que dá a coloração é a terra vulcânica preta (basalto?) que suja o gelo de negro, na medida que a geleira desce a montanha (o vulcão). Vale a visita e umas fotos.

 

O que achei mais bonito foi a base do Tronador, atualmente com o acesso por automóvel proibido. Mais 30 minutos de caminhada, agora com alguma neve caindo, cheguei ao fim do vale logo abaixo dos paredões do Tronador. Pouco antes, entre a estrada de terra e um riacho, há ótimas áreas para um camping mais selvagem. A área foi recomendada para acampar por um argentino. Embora proibido pelos guarda-parques dizem que nesta época do ano dificilmente eles sobem para fiscalizar aquele ponto. Há uma área com construções e banheiros na base do Tronador, que devem funcionar como lanchonete/restaurante no verão. O terreno estava coberto de neve. Encontrei um casal de uruguaios muito gente boa, Miguel e Érika, em lua de mel, que desprezaram o aviso de proibido passar automóveis e foram até lá de carro, até onde a neve permitia. Vieram de um lugar chamado Colônia Suiza, perto de Colônia (uma linda cidade uruguaia).

 

Não só consegui uma carona de volta com eles, como também me ofereceram carona para conhecer outra área do parque, Lago Mosco, Lago Henk, Lago Fonck e a cachoeira do Alerce no Rio Manso. Um mirante do lago Mosco, a beira da estrada, se chama “Balcón de la suegra” pois fica a beira de um precipício. Todos os locais são muito bonitos. Um rafting no Rio Manso deve ser uma experiência e tanto. De manso ele não tem nada!

 

Ofereceram carona para Bariloche. Topei, pois com aquele frio e chuva não valia a pena ficar acampado, ainda mais com minha pequena barraca, que parece mais um Bivac (não dá sequer para sentar). Queria era acampar numa cama quente. Fiquei no hotel Veneza, 70 pesos. Estendi tudo que estava molhado no aquecedor do quarto.

 

E impressionante como os dias aqui se alternam entre bonitos, ensolarados e dias terríveis, com chuva e mais frio. O pior é quando temos as 4 estações num só dia! Se melhorar o tempo farei outra trilha a partir de amanhã.

  • 2 semanas depois...
  • Membros de Honra
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Na manhã seguinte o tempo estava belíssimo. Mais que depressa tomei o café e recoloquei as coisas na mochila, depois de secá-las durante a noite junto ao aquecedor.

 

Saí do hotel, desci duas quadras e já estava na avenida onde tomaria o coletivo para Colônia Suiza. Este ônibus é meio demorado (horários espaçados). Esperei quase uma hora. Ele seguiu costeando pelo lago Nahuel Huapi. É uma maneira barata de fazer um passeio que, se contratado com uma agência de turismo, seria 10 X mais caro.

 

O motorista informou onde era o início da trilha para a Laguna Negra, à direita da estrada, logo depois da ponte sobre o Arroyo Goye. Parti subindo uma estrada de terra por uma ladeira empinada. Depois de 30 min. a estrada some e vira uma trilha sempre correndo em paralelo ao rio. Muito bem sinalizada. Nas pedras e troncos apareciam as marcas de tinta vermelha indicando o caminho. A medida que seguia para o fundo do vale as marcas iam escasseando.

 

A trilha realmente é muito bonita. Um bosque de coihues cobre o vale e sempre vc avista o rio. Em dado momento começou a neve e calcei as polainas. A trilha ficava mais difícil, pois algumas marcas, pintadas em pedras, desapareceram sob a neve. Aí devemos usar nossa intuição. Algumas vezes saía da trilha, porém logo, descoberto o erro, voltava e depois descobria a marca vermelha. Grande trabalho do Clube Andino Bariloche!

 

Não descobri o Abrigo Vivac assinalado no mapa. Na verdade é apenas uma pedra grande onde é possível armar um vivac ao lado, com um mínimo de abrigo. Talvez numa das erradas da trilha tenha me desviado dele. Na neve apenas pegadas de lebres e outros animais. Nenhuma pessoa havia passado por ali nas últimas 24 hrs, pelo menos.

 

Mais acima no vale ficaram muito espaçadas as marcas e estava tudo coberto pela neve. Não há trilha visível. Vc descobre que saiu da trilha quando começa a afundar muito na neve. Quando pensei em desistir vi uma marca numa árvore ao longe. Em seguida outra. Segui, agora percorrendo as margens do córrego Laguna Negra, que desce da montanha, Este arroyo extravasa a água da Laguna Negra, onde há um abrigo do CAB, a 1700 m.

 

Começou uma subida mais íngreme com uma cascata grande ao lado. No topo um platô, de onde a subida continuava, com um monte muito grande de neve, cobrindo arvores inteiras, só deixando de fora os galhos superiores. Tentei ir avante, mas estava muito arriscado continuar, e não havia indicação da trilha. Dei meia volta. Sozinho, se caísse numa greta, estaria ferrado.

 

Depois da experiência mal sucedida em alcançar o abrigo Frey, não tinha mesmo esperança de alcançar o abrigo Laguna Negra sem snowshoes.

 

Desci para uma área de acampamento mais abaixo, onde armei minha tenda em um trecho livre da neve, ao lado dum córrego. Local muito bonito. Mas o frio sempre presente. A noite não ventou ou nevou. Um jantar agradável no meio da neve. Troncos e pedras faziam um bom apoio para a cozinha. Admiro cada vez mais a confiabilidade do fogareiro Whisperlite.

 

Acordei bem cedo para chegar na estrada a tempo de pegar o ônibus de volta de Colônia Suiza para Bariloche (tinha a tabela de horários na mão). Volta agradável, num belo dia ensolarado. Ao longo da trilha, perto das margens do rio, tem ótimos lugares para acampar. Cenários de cinema.

 

Em Bariloche encontrei com a minha mulher que chegou de BsAs e daí seguimos para roteiros mais ‘turísticos”, de van (argh!), que não gosto muito (que jeito, temos que contemporizar),e gastronômicos, estes sim, deliciosos.

 

Bariloche vale muito o passeio, no verão. Opte por dezembro a fevereiro para não ter a surpresa de trilhas fechadas.

  • 1 mês depois...
  • Membros de Honra
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Finalmente aprendi a postar fotos aqui. Estava devendo estas fotos...

 

Travessia Arroyo Van Titter

 

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Abrigo Piedrita

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Lago Gutierrez

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Acampamento Playa Muñoz

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Avalanche Mt. Tronador

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Montanha acima do Arroyo Laguna Negra

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Acampamento Arroyo Laguna Negra

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  • Membros de Honra
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show de bola !!! muito legal seu relato Peter !!! eu vi paisagens assim lá em Ushuaia, peguei muita neve lá ! Depois fui pra Bariloche, mas tava tão cansando que nem me animei em fazer trilhas lá, mas é bom saber !! Parabéns pelo relato e pelas fotos, vc publicou elas em algum lugar.

 

abraço

Celso

  • Membros de Honra
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Valeu Celso!

 

Vc escreveu sobre Ushuaia aqui nos Mochileiros? Pode me dizer onde encontro o relato de sua viagem?

 

Gostaria de fazer um circuito que existe lá (Serra Valdivieso, se não me engano) ou, quem sabe, o Circuito Dientes de Navarrino, em Port Willians, que dizem ser o trekking mais austral do mundo. Assim seu relato seria utilíssimo.

 

Porém, com sorte, isto só fica para o começo de 2009, pois acho que a temporada já passou...

 

Sds, Peter

  • Membros de Honra
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Peter, legal tb esse seu relato !! Cara, uma pergunta: vc tem um diário durante a viagem ou escreve tudo isso na volta ?

 

um abraço !

  • Membros de Honra
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Celso:

 

Vi seu relato. Legal! Deu para pescar dicas interessantes sobre Ushuaia!

 

Ogum:

 

Eu também fico curioso para saber a mochila e a barraca que usaram em certas trilhas relatadas aqui – para comprar ou para evitar!

 

A mochila foi uma Lowe Alpine Australis 70, uma barata que comprei numa liquidação Half Dome, mas gosto muito dela, especialmente da barrigueira e a maneira como ajusta nas costas. A barraca é uma Barroudeur da Lafuma. Pouco peso, porém como só tem um teto, às vezes tem condensação. Não tem avanço. A “varanda” que vc vê numa das fotos é um poncho-carpa da Integral Design que serve (óbvio!) de poncho e carpa. Na ocasião fiz de varanda usando os bastões de caminhada com cordas e espeques extras. O poncho é de silnylon, um tecido que impressiona pela leveza, resistência e impermeabilidade à chuva. Ainda vou ter uma barraca feita com este tecido....

 

Michelschon:

 

Costumava levar um diário, mas, recentemente, deixei de levá-lo, para poupar espaço e peso (êta neurose!). Também, solo, não fica muito tempo livre para escrever. Prefiro ler na hora que tenho oportunidade de descansar. Outra coisa que percebi é que a gente escreve demais se fâz o diário todo dia. O melhor é voltar pra casa e confiar na memória para escrever. Se eu esqueci é porque não tinha importância e não vou sobrecarregar um leitor dos relatos de viagem com mais abobrinhas além daquelas que já escrevo! É claro que isto vale para treks com até 5 dias. Uma trilha de dêz o mais dias realmente esquecemos muita coisa se não anotamos.

 

Abraços, Peter

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