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VÉU DA NOIVA DE MOGI

Pra quem percorre a “Trilha Mogi-Bertioga” é obrigatória a passagem pela Cachu do Elefante, grandiosa queda do

Rio Itapanhaú em seu acidentado trajeto rumo o litoral. Mas não a única queda, diga-se de passagem. Algumas

dezenas de metros mais acima outra gde queda despenca rio abaixo de forma tão imponente qto sua ilustre vizinha

e atende pelo nome de “Véu da Noiva”. Apesar de claramente visível da SP-98, esta majestuosa cachoeira é tão

desconhecida como nada freqüentada em virtude de seu difícil acesso, q demanda bons trechos de vara-mato com

lances de escalaminhadas quase verticais através de ingremes encostas e rocha úmida. Mas gratifica de acordo

quem se dispõe a encarar td esse perrengue.

 

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A lua ainda brilhava redonda naquele inicio de domingo qdo eu e a Bárbara (tb conhecida

como Bah ou Babi) chegamos às pressas na Estação da Luz, um pouco antes das 6hrs. Haviamos sido relapsos ao

esquecer q as festividades noturnas da “Virada Cultural” espalhadas pelo centro de Sampa certamente deixariam

suas ruas intransitáveis e qq tipo de transporte coletivo seria desviado de sua rota normal. Dito e feito, por

conta disso fomos obrigados a descer do busão e atravessar quase td centro velho a pé no meio do q parecia ser

um campo de guerra repleto de jovens moribundos embriagados jogados no chão. Francamente, já não tenho mais

paciência de curtir essas manifestações "culturais" como outrora. Seriam esses sinais inevitáveis da velhice?

Quiçá. Apenas q nesta vida trilheira ou se curte o dia ou a noite. E eu optei por aproveitar integralmente o

dia.

Felizmente chegamos a tempo de encontrar a Paulinha e o Ronaldo na Luz, e assim zarpar pra Mogi antes das 7hrs

embalados em muita conversa mas principalmente mortos de sono em função da noite mal dormida. Uma vez em Mogi

encontramos o Carlos q lá já nos aguardava, as 8hrs, e imediatamente pusemo-nos a andar em direção à Pça da

Bandeira, com desenvoltura e calmaria mto maior q na capital paulistana.

Meia hora depois embarcamos bocejantes no latão em direção ao bairro rural de Manoel Ferreira, e ainda mortos de

sono por fim saltamos na Balança algo de 45min intermináveis depois, já km77 da SP-98, mais conhecida como

Mogi-Bertioga. A lua cheia a muito tinha ido embora dando lugar a um céu azul pontuado por um sol de rachar

miolos, motivo pelo qual mal começamos a andar pelo asfalto nossas costas e rostos logo se empaparam de farto

suor.

 

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Mas as 10hrs deixamos a estrada em favor da famosa picada q desce a serra, no km 81, e assim mergulhamos no

agradável e bem-vindo frescor da mata q agora seria nossa companheira pelo resto do dia. A pernada é tranqüila e

sem dificuldades e 10min após iniciada a trilha desembocamos no Rio das Pedras, q cruzamos com água ate as

canelas à outra margem. Aqui nos chama a atenção de um enorme grupo de jovens mochilados (algo de mais de 30

pessoas!), q depois nos informamos eram adventistas e estavam rumando tb pra Cachu Elefante. Logicamente q

apressamos o paso pra nos distanciar deles, apesar q a possibilidade de qq esbarrão posterior com os mesmos

fosse nulo em virtude do ritmo de caminhada deles se igualar ao de tartaruga manca por conta do numero de

pessoas.

Dessa forma prosseguimos pela trilha num ritmo forte e compassado, agora começando a descer o vale atraves de

largos ziguezagues pela encosta da montanha. Ao dar de cara com um mega-deslizamento bastou contorna-lo por uma

precária picada recem-roçada pra esta finalidade ate cairmos na trilha oficial, logo mais abaixo. Na sequencia a

encosta dá lugar a uma crista descentente interminável, onde a caminhada se dá por meio de raízes e galhos como

se fosse uma escada natureba.

 

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Qdo o terreno aparenta embicar surge uma bifurcação onde a trilha normal prossegue pela direita, mas a gente

opta pelo atalho da esquerda onde se perde altitude num piscar de olhos por terreno erodido quase vertical.

Assim logo damos nas primeiras clareiras q assinalam a proximidade da cachu, cujo rugido cresce a medida da

nossa aproximação. Cruzamos um correguinho e acompanha uma picada pela mata rio acima e pronto, chegamos na

famosa Cachoeira do Elefante pontualmente as 11hrs. Esta queda sempre nos impressiona, ainda mais agora com suas

larga e enorme véu de agua despencando do alto e reluzindo ao sol do quase meio-dia!

Pausa merecida pra curtição e descanso, claro. Enqto a Paulinha e o Carlos permanecem nos largos rochedos ao pé

da cachu beliscando alguma coisa, a Bah e o Ronaldo decidem tanto se banhar nas águas ao sopé da queda como

escalaminhar os rochedos à frente da mesma. Independente de entrar ou não na água, daqui td mundo sai ensopado

por conta do borrifo q a grandiosa queda impõe a quem se aproxima. Na sequencia, nos juntamos com o resto do

pessoal e mandamos ver um lanche reforçado goela abaixo, lanche este providenciado pelo Ronaldo, q costuma

sempre levar comida prum batalhão. É aqui tb q a Paulinha me informa o porquê da cachu ter o nome de um

paquiderme, duvida q sempre martelou na minha cachola. Diz ela q tem uma enorme pedra à frente da cachu q vista

de certo ângulo lembra a frente da cabeça de um elefante. Paulinha tb é cultura.

 

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Descansados e de bucho cheio, ao meio-dia exato começamos nossa subida de cachoeira rumo á Véu da Noiva.

Saltando de pedra em pedra vamos em direção á extremidade esquerda do sopé da cachu, onde um totem assinala o

único local de acesso á parte de cima. A partir daqui vem uma legitima escalada de rocha, onde as mãos se firmam

tanto nas agarras da pedra como nas raízes e troncos a disposição. Pode parecer difícil pela declividade quase

vertical mas não é, as agarras são seguras e o terreno é firme e tem sempre onde se segurar. Dessa forma nossa

ascenção é rápida ate emergir da mata num degrau rochoso onde começa uma escalada apenas pela pedra. Felizmente

a aderência é boa e este trecho é vencido sem dificuldades, coisa q não deve ser no caso de chuva.

Ganhamos então novo patamar onde as vistas se ampliam e podemos avistar os contrafortes serranos ao redor, onde

o famoso Mirante da SP-98 figura como um mero pontinho em meio a uma moldura esmeralda. Subindo ainda pelas

aderências atravessamos um curto trecho forrado de bromélias e acompanhar o rio ate um poção represado no alto.

Aqui decidimos cruzar á margem esquerda do rio e prosseguir por ela, uma vez q há uma tendência natural pra

formação de ilhas no meio do rio, e nos manter na margem esquerda é garantia de não ficarmos ilhados mais acima

no caso do rio se tornar intransponível.

 

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Dessa forma subimos o rio pela sua ingreme margem esquerda alternando escalaminhada pelos paredões rochosos e,

nos trechos mais verticais, varando mato pela encosta q tb não era menos pirambeira, mas havia ao menos onde se

segurar, fosse raiz ou galho. Já logo neste trecho de vara-mato um susto ao quase pisar numa elegante e colorida

jararaca, q deixou a Bah feliz da vida pois a guria tem uma fissura pelas peçonhentas desde longa data.

Desviando da bichinha damos continuidade à nossa lenta ascenção, agora redobrando atenção onde pisar.

Bordejando um trecho de paredão onde o rio corre furioso do nosso lado e depois transpondo sucessivos vara-matos

em meio a taquarinhas, bambu seco e td espécie de mata caída facilmente contornável, eis q deixamos a mata pra

cair nos gdes rochedos q antecedem o enorme dique na base de uma gde cachu, as 13hrs. Era ela, a Véu da Noiva.

Pausa pra curtição e descanso. O rio despenca de um gde gargalo rochoso semi inclinado ate desaguar num enorme

piscinão, pra depois serpentear enormes rochas e e dali despencar na Cachu do Elefante. A vista daqui tb é

magnífica: de um lado a gde queda, e do outro a SP-98 surge como um risco alvo cortando a verdejante serra nas

montanhas opostas.

 

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Missão cumprida, era hora de partir. Afinal o sol e céu azul a muito haviam ido embora dando lugar a uma

nebulosidade clara e opaca q encobria o topo da serra no entorno. Pois bem, pra não ter de retornar td ate a

base do Elefante decidimos fazer o obvio, azimutar pro lado e varar-mato ate atingir a picada na crista pela

qual viéramos. So havia q decidir por onde começar pois a declividade bem íngreme onde quer q se olhasse, sendo

q havia muitos paredões rochosos verticais impossíveis de subir. Mas ai a Bah encontrou um acesso por pedras

desmoronadas e foi na frente, escalaminhando a mata em ziguezagues sucessivos e sendo seguida pelo resto. Alguns

trechos pirambeiros não havia onde se firmar e daí não restava opção senão se segurar no capim ou troncos podres

e torcer pra eles não cederem. Adrenalina total.

Nesse ritmo acabamos dando na base de um muralha rochosa vertical impossível se escalar, mas daí bastou

acompanhar a base do mesmo ganhando altitude lentamente. No final do paredão veio uma ultima piramba na encosta

q vencemos com alguma dificuldade ate finalmente caír na crista q queríamos, as 13:30, mais precisamente na

trilha pela qual viemos na altura da placa em memória dos “perimbeiros”. Agora sim, missão cumprida.

Descansamos alguns minutos e retomamos sem pressa, subindo ao planalto novamente em meio as brumas q agora

tomavam conta da serra. As 14:30 chegamos no Rio das Pedras onde nos presenteamos com um merecido tchibum de

meia hora em suas águas frias, porem revigorantes e refrescantes. Dose era evitar os mosquitos q naquele horário

estavam impossíveis e já haviam deixado dois calombos na minha testa.

 

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Dali pra SP-98 foi num piscar de olhos, onde a monótona e interminável caminhada de 5km pelo asfalto nos levou

outra vez na Balança as 16hrs, onde comemoramos com sodas, brejas e salgados a conclusão da trip. Lá encontramos

o folclórico Seu Geraldo q entre uma pinga e outra nos sussurra dicas de outro atrativo da região, o Poço das

Antas. Anotado, já garantimos nova missão qdo la formos retornar. Tomamos o busao de volta pra Mogi meia hr

depois, cujo restante da trip convém nem comentar, pois nem me recordo por estar tremendamente sonado de sono. E

assim finalizando, num pais repleto de quedas chamadas de “Véu da Noiva” onde fica difícil afirmar ou garantir

qual é a mais bela e espetacular, a Véu do Itapanhaú surge como um programa diferenciado e adrenado à sua mais

conhecida queda. E mais uma opção refrescante às tantas cachoeiras q a verdejante Serra do Mar oferece àqueles q

se dispõem a explorar seus sinuosos, desconhecidos e acidentados caminhos.

 

 

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  • Membros de Honra
Postado

Quanto mais eu vejo informações ou passo por ali, mais me apaioxono por essa regiao da Serra do Mar.

 

Uma variedade de trilhas, para todos os gostos e condicionamentos, com acesso fácil da capital (apesar de demoraaaado rs) e o melhor de tudo: custo baixíssimo de deslocamento. Dá pra explorar a região todos os fins de semana!!!

  • 3 anos depois...
  • Membros
Postado

Obs. A subida para a Cachoeira que leva o nome de Véu da Noiva, fica a esquerda de quem observa a cachoeira... Não é necessário atravessar a "Cachoeira do Elefante" para chegar a mesma. A esquerda da "Cachoeira do Elefante" (ainda para quem observa de frente), um nível um pouco abaixo, está um lago, bem raso, onde tem umas pequenas "quedas" que parecem como um chuveiro. Ali, existe uma entrada pra uma espécie de trilha, onde então você inicia a escalada. Passa por mato, pedras e deve-se tomar cuidado, mas cada esforço vale a pena.

 

Muito obrigado pelo relato Jorge Soto, foi de grande valia.

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