Membros Este é um post popular. Érica Munhoz Postado Novembro 22, 2022 Membros Este é um post popular. Postado Novembro 22, 2022 Em outubro tive a oportunidade de ir conhecer mais um pedacinho do nosso maravilhoso Nordeste e dessa vez fui para o Ceará e um pedacinho do Rio Grande do Norte! A oportunidade surgiu com a realização do 11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e de Morcegos, área na qual atuo, que ocorreu em Fortaleza entre 17 a 21 de outubro de 2022. Daí torrei uns dias de hora extra no trabalho antes e após o período do congresso, e consegui explorar alguns locais que já estavam há tempos na minha lista de desejos. 13/10/22 (quinta): Meu voo saiu de Belo Horizonte (Confins) às 06h, com escala em Salvador e chegando em Fortaleza às 11h. Peguei o transfer da Localiza no aeroporto para buscar o carro que havia reservado e consegui pegar estrada por volta das 12h. Mas antes, um adendo sobre os perrengues que passei com o carro alugado. Até hoje, todos os alugueis de carro que já fiz, sempre reservei a categoria econômica e nunca tive nenhum problema. Dessa vez, a Localiza me passou um Fiat Mobi 1.0 que estava absolutamente novinho, com apenas 150 km rodados. Mas mesmo novinho, me deu uma baita dor de cabeça ao longo da estrada. O primeiro problema é que o tanque de combustível estava com algum problema provavelmente na válvula respiro (pelo menos foi isso que os frentistas me falaram!). Quando eu parava para abastecer, era um verdadeiro exercício de paciência pois o tanque voltava o combustível o tempo inteiro, desarmando o bico automático da bomba de combustível. Resultado que os frentistas precisavam ficar dosando manualmente a quantidade de combustível injetada e liberando o combustível beeem devagar. Então para encher apenas meio tanque, o que seria feito em 2 minutos, gastávamos cerca de 15 a 20 minutos para conseguir abastecer apenas meio tanque. O segundo problema e que realmente me deixou bastante ansiosa em vários momentos é que para ligar o carro, era necessário pisar na embreagem. Porém, parece que tinha algum problema de comunicação elétrica ou sei lá o que, porque mesmo pisando fundo na embreagem, tinha hora que o carro simplesmente não ligava (e não era problema com combustíveis batizados). E isso foi piorando muito ao longo da viagem, a ponto de as vezes eu evitar desligar o carro em pequenas paradas pois não tinha a garantia que o carro iria ligar de volta. No último dia do aluguel, quando parei para abastecer o carro para devolvê-lo, fiquei mais de 10 minutos no posto junto com os frentistas tentando fazer ele ligar. Já tava quase desistindo e acionando o socorro da Localiza. E o foda é que o carro começou a apresentar esse problema para ligar quando eu já estava bem longe de Fortaleza e em áreas mais remotas, sem outras unidades da Localiza para tentar trocar o carro, incluindo áreas de estrada de terra no meio do sertão e sem uma alma viva por perto. Foi tenso. Curioso que eu nunca tive problemas com o Mobi e o carro era quase zero quilômetro. Mas depois dessa experiência, não alugo mais esse carro. Bom, voltando à viagem, saindo de Fortaleza fui em direção à Beberibe a cerca de 1h30m da capital. Beberibe é bastante conhecida pelas falésias na praia, que foram o motivo da minha visita. Eu tinha a impressão que a cidade seria bastante movimentada pelo turismo e, consequentemente, com muitas opções de passeios, hotelaria, restaurantes, algum lugar legal para fazer uma caminhada a noite, etc. Mas infelizmente o que encontrei foi o oposto e essa foi minha primeira frustração. A cidade era pequena, poucas opções de hospedagem e caras para a qualidade do serviço oferecido, e sem opções de lazer noturno. Na praia, há poucas opções de quiosques, várias pessoas ficam tentando te vender pacotes de passeios de Buggy o tempo inteiro e alguns vendedores chegaram a ser bastante inconvenientes, me seguindo pela cidade inclusive para me exigir pagamento para estacionar o carro na rua bem longe da praia e ainda fazendo comentários do tipo “podem roubar o carro aí, hein. Me paga que eu olho”. Não fiz nenhum passeio de Buggy pois a minha intenção desde o início era explorar as falésias a pé e pernoitar na cidade. Mas fica como dica para você pesquisar bastante o preço dos pacotes, pois varia muito o valor e alguns vendedores tentaram superfaturar os pacotes pra cima de mim. Bem desonesto. Comecei a minha caminhada por volta das 15h. Caminhei por cerca de 1h pela praia e explorando alguns trechos internos das falésias em que o acesso é permitido, mas reparei que a maré estava subindo bastante e a maioria dos carros com os turistas estavam retornando. Então, meu conselho é que você chegue cedo para conseguir explorar por mais tempo, pois a maré chega na altura das falésias. Eu achei as falésias realmente muito lindas e acho que vale sim o passeio, além de render fotos maravilhosas. Mas infelizmente eu tive más impressões da cidade. Não achei segura, pouca infraestrutura, um assédio ao turista muito grande, e uma baixa conservação das áreas das falésias. Os carros transitavam livremente pela a areia e com velocidades absurdas, as pessoas circulavam livremente em qualquer área das falésias, o que impacta a degradação local. Inclusive vi alguns relatos e algumas reportagens sobre a cidade e todos esses problemas parecem ser um pouco crônicos de lá. Outro problema que tive na cidade foi com a hospedagem. No geral, eu sempre tento fazer buscas e reservas pelo aplicativo do Booking. E por ser uma usuária frequente, eu consigo pontos que podem me dar bons descontos nas reservas futuras. No caso, tinha feito reserva assim que cheguei na cidade em uma hospedagem, que me dava uns R$30,00 (totalizando R$90,00) de desconto e cheguei a pagar com o cartão de crédito. Mas a hospedagem não aceitou o desconto gerado pelo aplicativo e queria me cobrar o valor a mais. Pedi a eles para cancelar então a hospedagem e eles não quiseram cancelar, dizendo que eu que deveria cancelar e aí foi uma novela. Porque se eu cancelasse, eu pagaria o valor da hospedagem como multa por cancelar com menos de 24h, uma vez que fiz a reserva para o mesmo dia do check-in. E isso definitivamente não era justo, pois se eles não concordavam com a política de descontos do Booking, eles não deveriam estar no aplicativo ou no mínimo não permitirem a aplicação de descontos para a hospedagens deles. O resultado é que depois de quase 2h conversando via WhatsApp com a hospedagem enquanto eu visitava as falésias, eles não cancelaram a hospedagem, mas colocaram meu cartão de crédito como recusado. Porém, isso bloqueou o meu cartão junto ao aplicativo da Booking por 3 dias, que era exatamente os dias que eu iria precisar utilizar o app. Então, depois disso, em todos os lugares que passei, tive que ficar pesquisando no Google ou no boca-a-boca possibilidades de hospedagens baratas para tentar uma vaga. Mas no final das contas, talvez a melhor coisa que tenha acontecido é essa reserva em Beberibe ter dado errado, porque como não gostei da cidade em si e outras opções de hospedagem eram inviáveis, peguei estrada de novo e fui para Canoa Quebrada, chegando lá por volta das 18h. E foi a melhor decisão que eu tomei. Consegui uma pousada superconfortável por $60,00 (ou seja, 30 reais mais barata do que a outra com o suposto desconto aplicado), com garagem e exatamente na Rua Dragão do Mar, que é o principal point de restaurantes, bares e lojas. Me senti bastante segura, estava cheio de turistas e o local era bem descontraído para caminhadas a noite, me lembrando um pouco Pipa (RN). A cidade estava bem cheia, mas era um cheio na medida. Talvez por ter sido uma noite de quinta, mas a impressão que me deu é que no final de semana, quando o aporte de turistas é maior, deve ficar cheio além da conta. Então se você, como eu, não curte lugares abarrotados de gente, evite o final de semana em Canoa Quebrada. 14/10/22 (sexta): Acordei cedo e já caminhar pela praia de Canoa Quebrada, que faz jus à fama do turismo intenso. A praia é realmente linda e as falésias predominantemente alaranjadas são sensacionais pois eram bastante altas, apesar de chapadas na maior parte do tempo. No caso de Beberibe, as falésias eram muito diferentes. Elas não eram tão altas quanto em Canoa Quebrada, mas eram mais irregulares, com vários formatos e cores diferentes. Então em termos de diversidade de paisagem geológica, são passeios que se complementam. Andei pela praia por cerca de 3h, mas o sol começou a esquentar demais. Voltei para a hospedagem para tomar um banho e caí na estrada de novo por volta das 12h, rumo à Mossoró (RN), chegando lá por volta das 14h e fui direto para o Memorial da Resistência. Para quem não sabe, Mossoró foi a única cidade do Nordeste que conseguiu espantar os cangaceiros do bando do Lampião, sem a ajuda das forças militares e unicamente com a participação do povo da cidade. Então de um ponto de vista histórico do Brasil, a cidade tem um papel importante na luta contra o Cangaço. E no centro da cidade tem o Memorial da Resistência, um museu e áreas de grandes painéis que falam sobre o conflito com os cangaceiros. No site de Mossoró, dizia que o museu estava aberto, mas chegando lá, parece que o museu está fechado há muito tempo e sem previsão de retorno. Mas os painéis com as fotos (que é de fato os atrativos principais) com um pouco da história ficam do lado de fora e estavam relativamente bem preservados. São muito bonitos e interessantes, mostrando fotos das pessoas envolvidas no conflito da época. A praça onde o memorial se localiza é bem conservada também e ao lado parece ter uns prédios históricos, mas que não consegui identificar o que eram pois estavam fechados e sem placas ou informações no Google. Porém, algumas ressalvas importantes para a visita. Eu não me senti nem um pouco segura na área. Na verdade, na cidade como um todo. Mossoró é tida como uma das cidades mais violentas do Brasil e de fato, o clima na cidade não é muito legal. Não sei se é um reflexo dessa violência ou outra razão, mas eu não via quase ninguém andando nas ruas, poucos carros estacionados na rua e a maioria dos comércios estavam fechados ou tinham portas fechadas, na cidade como um todo. Cheguei até a olhar se era algum feriado municipal ou coisa assim, mas não vi nada. Os motoristas (motos e carros), dirigiam de uma forma muito agressiva no trânsito também. No Memorial, não havia absolutamente ninguém, exceto 3 garis, que não recomendaram que eu andasse por ali. Curioso é que quando eu estava andando na rua, dava para ver claramente a cara das pessoas nos carros e motos olhando para mim espantadas. E de fato eu estava me sentindo um alvo bem fácil para assaltos ali. Então, basicamente tirei umas fotos rápidas dos painéis para ler as informações em casa e não ficar lá vacilando. Fui então para um shopping para conseguir usar um banheiro e tentar ver hospedagens pelo Google/Booking. Mas não achei nenhuma barata e que tivesse garagem. Então decidi seguir viagem e fui para Apodi (RN), chegando lá por volta das 16:30h. Novamente, foi a melhor decisão que eu tomei. Apodi é uma cidade pequena e não tem muitas opções de hospedagem. Pelo que vi no Google, só vi 2 pousadas, as duas uma em frente a outra logo na entrada da cidade. Se tinha mais, eu não vi, mas deve ter porque a cidade é pequena, mas não é minúscula. Tive a sorte de conseguir um último quarto em uma das pousadas porque estava tendo um encontro regional de igrejas evangélicas na cidade e as pousadas estavam cheias. Deixei minhas coisas no quarto e saí para explorar a cidade. Lá tem uma represa bem grande, sendo um dos pontos turísticos da cidade a orla/calçadão da Lagoa do Apodi e a Barragem de Santa Cruz. Eu achei o calçadão bem agradável para caminhar e no pôr do sol, rende fotos muito bonitas das veredas no local. Já a Barragem, eu não gostei muito. É interessante para ver a barragem, que realmente impressiona pelo tamanho e pela força da água que é expelida no vertedouro. Então vale a visita. Mas achei o local muito sujo, cheio de jumentinhos soltos e com muitas fezes deles espalhadas pelo local. Pessoal recomendou bastante banho por lá, mas eu Érica, bióloga e parasitologista, não recomendo de jeito nenhum. Embora a água seja aparentemente limpa, o local é um perfeito laboratório de parasitologia a céu aberto. Inclusive fiquei doida pra coletar umas amostras de água e dos caramujos que vi por lá para analisar! Hahahaha! Vai por mim: vá visitar, mas com calçado fechado e não entre na água. Quando escureceu, voltei para a pousada e depois mais a noite fui jantar em um restaurante no calçadão da lagoa. Na região há alguns bares/restaurantes bem agradáveis. 15/10/22 (sábado): Após o café da manhã, fui direto para o Lajedo de Soledade, o real motivo da minha visita à Apodi. O lajedo é um dos maiores sítios arqueológicos do Brasil e é uma pena o quão pouco ele é conhecido (e valorizado) pelos brasileiros. Ele fica localizado em um distrito de Apodi, a cerca de 15 minutos da cidade. Acessá-lo é muito fácil pois há placas indicativas em todo o caminho, que é asfaltado ou de pedra. O ponto de partida inicial é o Museu do Lajedo de Soledade (https://www.lajedodesoledade.org.br/). Para a visita é obrigatório a contratação de um guia do museu, que é uma associação cooperativa dos moradores locais. Então você contrata o guia no local e ele pega carona com você até a entrada do lajedo (cerca de 1 km do museu). Cheguei no museu por volta das 08:10h, logo após sua abertura às 8h. E por isso, tive a minha sorte de ir sozinha junto ao guia para o sítio, o que foi ótimo para explorar cada cantinho daquele lugar com calma. É muita coisa pra ver! Tem muita pintura rupestre, mas muita mesmo! É incrível! E muito fóssil pra tudo que é lugar, especialmente de conchas. É muito fóssil de concha! Você vê com muita facilidade e uma diversidade enorme. E a minha outra grande sorte foi ter ido com o Aldemir, que é um dos guias mais experientes lá, apaixonado pelo lajedo e muito gente boa! Embora ele não seja formado em Ciências Biológicas, eu senti que ele era um biólogo naturalista nato e dava gosto de ver o interesse dele na arqueologia e espeleologia! Em nossas conversas, ele acabou ficando bastante interessado nas minhas experiências de trabalho com os morcegos e cavernas, e acabou explorando o local muito mais do que era o planejado. Então ele acabou me levando em umas áreas fora do roteiro principal, como umas cavernas e em um dos esconderijos de uns morcegos que estávamos escutando a vocalização. O que foi outra coisa incrível também porque quando eu cheguei no local, eu nem acreditei. Era de uma espécie de morcego que, até onde se sabe, geralmente forma colônias pequenas, no máximo uns 10 indivíduos. Mas ao chegar lá, tinha mais de 50! Foi sensacional! Resultado é que filmei e mostrei para os especialistas do grupo no Congresso de Morcegos na semana seguinte e eles ficaram alucinados com a quantidade (#ostentei!). Minha visita com o Aldemir que era pra durar no máximo 1h, durou cerca de 2h30min. Foi incrível demais e serei eternamente agradecida à ele por tamanha disposição em me guiar e sua empolgação para a troca de informações. Existe um limite de visitantes por dia no Lajedo (não lembro quantos). O local é visitado sobretudo por excursões de escolas, então recomendo que chegue cedo para garantir seu passeio e evitar a barulhada da meninada. O museu também vale demais a visita. Embora seja bem simples, existem informações interessantes lá dentro, além de lembranças e artesanatos muito legais produzidos pela cooperativa. Além do site do Lajedo mencionado acima, vocês conseguem informações nas redes sociais: @lajedodesoledade Saí do museu/lajedo por volta das 11h para ir rumo à Quixadá, ver os monólitos e a famosa Pedra da Galinha. Para isso, as opções de trajeto eras as estradas CE-358 (1ª opção), ou BR-405/CE-265 (2ª opção), ou BR-405/CE-266 (3ª opção) até a cidade de Limoeiro do Norte, e de lá até Quixadá pela CE-265, com previsão de 3h30min a 4h de viagem. Porém, parece que essas 3 opções de estrada não eram nada boas. No caso da 1ª opção eu não testei, mas pelo Google Maps dava a entender que era estrada de terra. Já a 2ª e 3ª opção de fato eram estradas de terra (exceto os trechos da BR-405) até Limoeiro e não quis arriscar por vários motivos. Primeiro porque o carro já estava começando a dar pau com a questão da partida. Segundo que a região era o sertão típico, então com certeza teriam vários bancos de areia, ao invés apenas de terra batida. E eu já tinha passado um perrengue com isso em Fiat Uno no agreste 5 anos antes, então achei melhor não arriscar. E terceiro é que a região tem um monte de campos de petróleo e grandes monopólios de monocultura de algodão, o que é inclusive um dos grandes problemas agro-sociais hoje no Nordeste. Então sinceramente fiquei com o c* na mão de cair dentro de alguma fazenda e estar completamente desamparada. Resultado é que eu fui pelo caminho mais garantido e que todos fazem, porém bem mais longo, cerca de 5h de viagem (BR-405 até Mossoró, RN-015 passando pela região do Parque Nacional da Furna Feia – que não é aberto à visitação - e indo em direção ao município de Russas, BR-116 em direção a Limoeiro do Norte, e de lá pela CE-265 até Quixadá). Mas embora o caminho tenha sido mais longo, valeu cada segundo. Primeiro por causa da condição das estradas, que estavam muito boas. Embora fossem pista simples e sem acostamento, eram relativamente vazias, muito bem sinalizadas, asfalto impecável, planas e retas, o que dava para fazer ultrapassagens bem seguras. Segundo, e especialmente, por causa das paisagens que eu vi pelo caminho. Cada vez que eu viajo pelo sertão, mais eu me apaixono por essa sub-região do Brasil! Que paisagens! Dentre as roadtrips que já fiz pelo Nordeste, a diversidade de paisagens que eu vi nesses trechos foram de impressionar. Três coisas em particular chamaram muito a minha atenção dessa vez. A primeira é que, nos trechos em que passei, boa parte do tempo você tem grandes cadeias de montanha no horizonte. Curiosamente não são altitudes tão elevadas (média 1000 metros), mas como o resto da região é muito plana, a impressão que dá é que as montanhas têm muito mais do que mil metros. Em outras regiões do Nordeste em que já viajei de carro e apresenta uma topografia parecida, esse contrates não me chamou tanto a atenção na época como agora. A segunda coisa que chamou muito a minha atenção é a quantidade de monólitos. No caminho para Quixadá é incomparável a quantidade (é muito mesmo!), mas em várias outras regiões é possível ver outros monólitos com frequência também na paisagem. A terceira coisa é o ressurgimento da vegetação da caatinga próximo a açudes e outras coleções d’água. Você está andando e vendo aquelas paisagens bastante xeromorfa, amarelada ou amarronzada, rasteira e/ou sem folhas. Daí tem um pequeno rio ou algum açude e do nada brota uma vegetação muito desenvolvida, com um verde vivo muito marcante e uma diversidade de aves gigantesca. É impressionante a transformação da paisagem! Isso eu observei em vários trechos de várias estradas, mas ficou muito marcado na minha memória a região do município de Russas. É incrível! Enfim, cheguei em Quixadá às 17h e logo após conseguir um hotel, fui voando para o açude do Cedro ver o pôr do sol na Pedra da Galinha. E que pôr do sol! Tudo bem que peguei os últimos 5 minutos de raio solar, mas ficou como uma fotografia bem marcada na memória e eu dei mais um check na minha lista de desejos na vida! As atrações de Quixadá giram principalmente em torno dos monólitos. Parece que é um destino que o pessoal faz bastante ecoturismo e escaladas, mas eu fui lá basicamente com o intuito de ver a Pedra da Galinha, que é sem dúvidas o monólito mais conhecido. Você pode vê-lo de vários lugares, mas o melhor lugar é o Açude do Cedro, que por si só é um local incrível e com uma baita importância também para a história do Brasil. No caso, ele foi construído a mando do D. Pedro II em decorrência da Grande Seca (1877-1879) que atingiu o Nordeste. A obra era para ter começado em 1880, mas começou mesmo em 1890 e foi concluída em 1906 após várias interrupções (como é grande a eficiência dos governos brasileiros em prol do povo... tsc, tsc). O acesso ao local é gratuito e eu achei lindo. Estava relativamente bem conservado e a paisagem do açude é deslumbrante. Se você for no pôr do sol, leve bastante repelente ou alguma roupa para proteger os braços e as pernas, pois ao cair do sol, os mosquitos e pernilongos são muito vorazes. Mais a noite eu saí para jantar e na praça principal da cidade estava tendo um megaevento relativo ao dia das crianças, com shows infantis, brinquedos, pescaria, entre outras atrações que me deu um sentimento bastante nostálgico da minha infância. 16/10/22 (domingo): Pela manhã voltei no Açude do Cedro para aproveitar com mais calma o local, já que os pernilongos me expulsaram de lá! E a minha impressão é que tão bonito quanto à primeira vez! Ao sair de lá, tentei procurar algum outro lugar para ir explorar, mas eu estava tão cansada dos últimos dias (afinal já não tenho mais 20 anos infelizmente!) e resolvi ir embora para Fortaleza para aproveitar um pouco a Praia do Futuro. Assim, peguei a BR-122 e depois a BR-116. O caminho foi bastante tranquilo até chegar na cidade de Chorozinho. Até então, todas as estradas nas quais havia passado, fossem elas federais ou estaduais, estavam maravilhosas. Mas acho que Chorozinho deve ter esse nome porque a estrada deu vontade de chorar! Que estrada horrível! Um tráfego muito pesado de caminhões carregados, muito buraco na pista, sem sinalização, motoristas super imprudentes, asfalto com deformações enormes por causa do peso dos caminhões, etc. Tem que ter muita atenção e paciência nesse trecho. E a partir dele, o trânsito também se intensificou bastante até Fortaleza. A previsão de tempo de estrada era de 2h30min, mas gastei cerca de 3h30min. Fui para o Parque do Cocó esticar as pernas. É um parque bem bonito e vale uma caminhadinha por lá. Cheguei na Praia do Futuro por volta das 14:30h e lá estava um fervo! Muita, mas muita gente! Foi legal conhecer a região, mas eu detesto praia cheia. Além disso, era tudo muito caro. Fui na região do Crocobeach, que é o principal point da Praia do Futuro e os quiosques/restaurantes eram uns mais luxuosos do que o outro e disputavam quem colocava o som mais alto do que o outro. É uma praia legal porque a faixa de areia é bem larga e as ondas não são fortes, mas de longe não é o tipo de praia que eu gosto. O resultado é que fiquei 30 min lá e fui embora. Como já tava muito cansada, acabei indo pro meu hostel e a noite fui caminhar na orla da praia de Meireles. 17/10/22 (segunda): Resolvi alguns problemas do meu pôster pro Congresso na parte da manhã e entreguei o carro por volta das 10h. Voltei pro hostel e fui para o Congresso a tarde, onde fiz bastante balbúrdias com os outros pesquisadores sobre mamíferos brasileiros. 18/10 a 21/10 (terça a sexta): Balbúrdias no Congresso de Mastozoologia e Morcegos de 09 às 22h. 22/10/22 (sábado): Aluguei um carro novamente no aeroporto de Fortaleza e peguei estrada em direção ao Parque Nacional Ubajara totalizando cerca de 5h30min de viagem via o município de Sobral. O caminho foi bem tranquilo, apenas com um fluxo maior de caminhões em Sobral. Não sei se há outro caminho, mas precisei subir a serra em Ibiapina, já bem próximo ao Parque. Essa serra é bem estreita, íngreme e sinuosa. Mas é só ir devagar e que dá pra subir de boa. E foi uma pena que esse trecho de serra não tivesse acostamentos, pois é um caminho bem bonito e que renderia várias fotos incríveis. O grande atrativo do Parque Nacional de Ubajara é a caverna do Ubajara, que é uma das maiores e mais bonitas cavernas abertas à visitação do Brasil. Mas há também opções de algumas trilhas. A entrada no Parque é gratuita, mas todas os circuitos de trilhas devem obrigatoriamente serem acompanhados pelos condutores ambientais do Parque. E esse serviço é pago. O valor varia de acordo com a trilha e/ou a quantidade de pessoas. Cheguei ao Parque por volta das 15:20h e foi a conta para pegar uma última turma que estava indo fazer a trilha para a cachoeira do Cafundó às 15:30h (R$20,00 por pessoa). Do parque até o início da trilha foi cerca de 3km e fomos todos nos seus respectivos carros. A trilha foi bem fácil, é bem demarcada e a cachoeira, embora pequena, é bem bonitinha. Um pouco antes da cachoeira há também um mirante muito bonito. A entrada na caverna é gratuita, mas o número de visitantes por dia é limitado (não lembro agora se eram 250 ou 350/dia). Então para visitá-la é necessário chegar bem cedo no Parque pois eles distribuem senhas que garantem o seu acesso. O parque abre às 08h e segundo o pessoal que conversei no Parque, dependendo do dia, as senhas chegam a acabar às 08:30h, no máximo até às 9h. Portanto, chegue cedo para ficar na fila e garantir sua senha para a caverna. 23/10/22 (domingo): Cheguei na fila de carros para entrada no Parque às 06:50h e fui a segunda da fila. Às 07:30h já tinham mais de 20 carros e um ônibus de turismo recheado de gente. Por volta das 07:50h, além de mais carros, vi pelo menos mais uns 4 ônibus de turismo lotados de gente. Ou seja, chegue bem cedo para garantir sua senha individual para visitar a caverna. Há duas formas de visitar a caverna. A primeira e mais fácil é através do teleférico. Então basicamente você pegará o teleférico e ele te deixará na entrada da caverna e você voltará de teleférico de novo. A segunda forma é fazer a trilha completa Ubajara-Araticum, de 7km de nível médio-difícil, chegando até a caverna via trilha e voltando pelo teleférico. A senha distribuída é para acessar a caverna apenas via teleférico. Caso você vá na caverna via trilha, apenas voltando pelo teleférico, a senha não é necessária. Mas é preciso chegar cedo também para iniciar a trilha, uma vez que ela é bem demorada para fazer. Assim, os guias saem de hora em hora até no limite de 11h. Para qualquer atividade há um mínimo e um máximo de pessoas que podem ir nas atividades. E o valor varia de acordo com o mínimo de pessoas. Por exemplo. Para a trilha Ubajara-Araticum, o valor é R$150,00, mas como o mínimo de pessoas é 5 pessoas, acaba saindo R$30,00 por pessoa. Se você quiser ir sozinho ou com menos pessoas, é possível, mas valor continua sendo 150. Então se forem apenas 2 pessoas, cada um pagará R$75,00. Essa regra não se aplica de rateio não se aplica para o limite máximo de pessoas. Ainda usando a trilha Ubajara-Araticum como exemplo, o limite é de 20 pessoas por grupo, o que daria R$7,50 para cada um. Porém, o valor individual acima de 5 pessoas continua sendo R$30,00. Ou seja, meu grupo tinha cerca de 17 pessoas e eu paguei R$30,00. Sobre a trilha, ela exige bastante das pernas pois é bastante escorregadia e com uma descida muito íngreme. A caminhada começa dentro do próprio parque e vamos caminhando até à cachoeira do Cafundó. O caminho é quase todo sombreado e a maior parte do tempo plano ou com pequenas inclinações. Após a cachoeira é que começa a parte mais pesada da trilha pois o caminho é todo de pedra e com uma inclinação bastante acentuada. Muito mesmo. Segundo o guia, o desnível é cerca de 460 metros de altura percorridos em menos de 4 km. O segredo para não cair ou levar escorregões com frequência é sempre pisar nas quinas das pedras e obviamente ir de bota ou tênias próprio para trilha (vi gente andando de chinelos). Embora o caminho seja bem íngreme, para quem tem muito medo de altura como eu, é bem tranquilo de fazer, pois o caminho é uma antiga estrada construída por escravos e utilizada para o comércio na região. Assim, não há desfiladeiros ou coisas do tipo. É apenas uma estrada de pedras e que tem um declínio enorme. Curiosamente, ainda hoje alguns moradores locais utilizam ela para transportar carvão no lombo dos jumentos. Embora eu não tenha presenciado isso, fiquei surpresa como os animais podem subir/descer aquela ladeira enorme e anda com peso nas costas. Como a descida é muito acentuada, dependendo do grupo, a caminhada pode ficar absurdamente demorada. Se você fizer a caminhada de forma rápida e sem parar nenhum momento, acredito que com umas 2h seja possível realizar todo o trajeto de 7km. Mas o grupo que peguei tinha um pessoal que definitivamente não tinha costume de fazer trilhas, enrolava muito e o passeio que era para demorar entre umas 4 ou 5h no máximo de caminhada e fazendo muitas paradas, já tinha quase 6h de caminhada e ainda faltava uns 2km de caminhada até a caverna. Assim, quando outro condutor passou pelo meu grupo com o grupo dele, eu e mais um casal pedimos para migrar para o grupo desse condutor e fomos. Ao final da trilha chegamos na entrada da caverna, onde há os teleféricos. A caverna é muito bonita! Eu já visitei várias no Brasil e ela está entre as mais bonitas que conheço até agora. Além da beleza da caverna em si, uma das coisas mais diferentes para mim foram as pilhas enormes de guano de morcegos dentro da caverna. De todas as cavernas que já visitei, de longe lá tem a maior colônia de morcegos que eu já vi. É incrível! E segundo o condutor, a caverna estava vazia quando visitei que em janeiro o número de morcegos era mais do que o dobro. E de fato dá para ver isso pelas manchas de gordura dos animais nas paredes e nos tetos. Ver ela muito mais cheia do que eu vi, deve ser algo incrível! No momento da minha visita teve uma cena muito engraçada. Eu nunca tinha visto tantas pilhas de guano grandes como as que tinham lá. E quando eu vi, eu comecei a tirar um monte de fotos e selfies muito empolgada. Um dos meninos do meu grupo me perguntou: “Nossa, que rocha diferente. Que rocha é essa? Você estuda ela?”. E eu disse: “Não é rocha! É uma pilha de cocô de morcego!”. Nunca vou esquecer a cara de nojo que ele fez e achando que eu era louca! Hahahaha! Daí ele me perguntou: “ Você é bióloga, né?”. Disse que sim e especialista em morcegos e caímos na gargalhada! Após finalizar o passeio na caverna, pegamos o telérico e fui para Sobral (cerca de 1:30h) para dormir por lá e já adiantar o caminho de volta para Fortaleza. 24/10/2022 (segunda): Às 07:30h saí de Sobral e fui para a praia de Icaraizinho de Amontada chegando por volta das 10h. Essa praia realmente foi do jeito que eu gosto: linda, mar com água clara e sem ondas, areia fininha, vazia e barata. A maior parte do caminho a estrada estava muito boa, exceto um trecho de uns 20 km que tinha MUITOS buracos. Mas a estrada era pouquíssima movimentada, então dava para evitar a maioria dos buracos sem precisar reduzir demais a velocidade. Fiquei lá desfrutando aquele paraíso até por volta das 14h. Cheguei em Fortaleza por volta das 17h, fiz algumas compras na feirinha da Praia de Meireles e fui para o aeroporto por volta das 20h, onde pernoitei para pegar meu voo de volta para Belo Horizonte às 5h do dia 25/10. Fiz escala em Brasília, chegando em BH às 09:30h e fui direto pro trabalho. Morta de cansaço, mas de alma lavada! Eu já viajei a maior parte do Brasil. Já conheci todos os biomas brasileiros. Já vi muitas paisagens incríveis. Mas de tudo o que eu já vi e vivi, o Nordeste está sempre entre as melhores lembranças e paisagens! E quanto mais eu viajo por lá, especialmente no sertão, mais eu entendo a profundidade e as diferentes nuances da frase “O sertão é dentro da gente”, de Guimarães Rosa. Espero que ele nunca saia de dentro mim! 5 Citar
Membros Roberto Brandão Postado Novembro 24, 2022 Membros Postado Novembro 24, 2022 Que diário de viagem maravilhoso. Descrição perfeita, viajei na sua viagem. 1 Citar
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