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  • Membros de Honra
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Prólogo

 

Pouco depois de voltar dos meus sete meses de super-férias no Brasil e depredado por completo minhas finanças (afinal, fazia apenas UM ano que tinha ido ao Nepal e levando meu irmão comigo, cuja companhia não tem valor. Podia custar até um milhão de Euros e ainda seria barato. Não que se fosse isso tudo eu pudesse pagar, hehehehe.

 

Com o Nepal feito, mais umas besteirinhas que fizemos na Europa e mais os sete meses no Brasil... é... acho que me classifico como liso. Mas então consigo um estágio meio mal pago, cheio de trabalho, claro. Moradia ainda não é problema, porque vivo no apartamento da avó, doente. Mas terá de ser paga o mais cedo possível. Fora isso tem um empréstimo do velho, que me ajudou nos três primeiros meses de reajustes confusos. Tem de ser pago.

 

Mas então quando a situação parece estar se recuperando, meu amigo que arranjou o estágio me pergunta se eu não estaria a fim de fazer uma semana de montanha nos Alpes. Completamente alheio à minha precária e ainda sensível situação financeira, disse imediatamente que sim.

 

Ele queria fazer o Mont Blanc.

 

Ooooookaaaaay... disse eu. Sabia vagamente que o Mont Blanc é "escalaminhável", mas eram infos de 2005, quando estava passando uma vista d'olhos pro destino do meu primeiro grande trek organizado por mim. O surgimento precoce do EBC obliterou por completo qualquer coisa com a palavra "trek" sem "Evereste". Mont Blanc caiu no esquecimento.

 

Fui então ver do Mont Blanc. "Hmm... parece que existe uma categoria de trek em gelo e glaciares, com mais equipos e conhecimentos". Como a "escalada" propriamente dita era ausente, essa subida técnica era referida como "trek". Falei do meu amigo sobre capacetes, crampons, piolets...

 

Abandonamos a idéia, mas procurei infos sobre uma montanha de fato e simplesmente "trekkável". Dei com o Mount Emilius e fiz a proposta. Foi aceite.

 

Até as vésperas da partida, Mount Emilius era o destino.

 

Até as vésperas... porque às vésperas meu amigo propõe subir o Gran Paradiso. Nessa altura eu já estava mais pensando nas compras de última hora (todas). Uma olhada rápida me mostrou ser o Gran Paradiso coisa parecida com Mount Blanc: crampons, piolets, cordas. Era isso mesmo que ele queria? tudo bem... mais bagagem prá mochila... casacos, luvas, meias, gorros... ai, ai... e eu que queria ir leve.

 

Para o Gran Paradiso não confiaria de jeito nenhum na barraca do meu amigo. Comprei uma. Cara. 370 Euros. Aff... mas pareceu boa suficiente para montanha, mesmo o fabricante classificando-a como "trekking", para trilhas baixas. O peso estava dentro do aceitável para duas pessoas.

 

Cheguei em casa poucas horas antes da partida e ainda tinha de arrumar tudo. Foi dureza e confuso, mas no fim terminei com minha mochila de 25 kg de novo. Comida para cinco dias pesava muito. Mais o combustível e sempre 2 lt de água pesava também. O equipo extra não ajudava, mesmo não estarmos levando corda apropriada. Meus meio-crampons pesam quase 1 kg! Horrível! mas é isso aí... confiar no bom caimento da mochila para levar isso por horas e horas de subidas.

 

Na casa do meu amigo, nada pronto ainda. Ele acaba de voltar do trampo e ainda vai atrás de coisas. Eventualmente, perto da meia-noite, entramos no carro.

 

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Ai, ai...

 

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Isso tem de entrar na pobre azul ao lado.

 

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Um pouco de coragem antes de enfrentar a briga.

 

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Mas coube!

 

CONTINUA...

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CONTINUAçÃO.

 

Dia 01

 

Dentro do carro, 900 km de estrada pela frente. Escolhemos pegar as mais rápidas, mesmo envolvendo pedágios caros. Cansados do dia, que começou cedo e envolveu muito esforço (meu amigo trabalhou), não queríamos uma viagem cheia de vilas e cuidados em estradas nacionais e locais.

 

Meu amigo pegou as primeiras 4 horas e entrou na França. De lá eu assumi, nervoso. Detesto dirigir e nunca dirigi na Europa. Achei ridículo ter podido trocar minha habilitação brasileira a um mês de caducar por uma belga PERMANENTE, válida inclusive no Brasil. Já tinha achado uma cagada ter conseguido a brasileira (último a ser examinado, examinador cansado, querendo acabar logo com o dia de trampo, uma sexta... "vai, vai, vai. Tá bom, cabou".

 

Ainda bem que era noite. Menos carros, menos caminhões. Tenho certa fotofobia, mas como não havia muito carro cruzando e me cegando com suas luzes, menos mal...

 

Não tava nem 1 hora na direção, ainda "descobrindo" o carro e já tava dentro de uma chuva fina e um nevoeiro denso. Sorte da bixiga... passei o resto da noite morrendo de medo de acidente. Bater, sair da estrada, sei lá...

 

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Aff... medo da bixiga.

 

Felizmente nada ocorreu e no amanhecer, quase babando de sono, chegamos em Basel, cidade fronteiriça da Suíça.

 

Suíça é um saco em suas aduanas. Sempre que passei lá tinha que ficar um tempão na espera enquanto checavam passaporte. Temia o pior: ter o carro revistado. Ando limpo, para evitar justamente isso, mas o inconveniente de ficar esperando olharem dentro de tudo... e ter a mochila aberta e vistoriada... tanto trabalho prá arrumá-la e fechá-la...

 

Nada. Paguei o imposto de estrada e me mandaram seguir. Milagre! Moreno do cabelão cacheado e barba por fazer passa sem problemas na aduana suíça! Primeira página na BBC, podem checar!

 

Mas ainda não acabou a viagem. Tinha de cruzar a Suíça. Demorou e me chateei com a quantidade enorme de obras em diversos trechos das diversas estradas. Me parece que os suíços perseguem o ideal da perfeição com tanto afinco e frequência que suas estradas parecem estar sempre em obras, o que as transforma em estradas ruins, não perfeitas. Limite de velocidade parecia mais uma sugestão que uma lei. Os seguia religiosamente e fui piscado todo caminho.

 

Na passagem para a Itália, passamos por um túnel famoso, que corta uma montanha por baixo por mais de 20 km. Estava curioso para ver o tal túnel. Infelizmente os primeiros metros de excitamento foram logo substituídos por tediosos quilômetros de uma estrada estreita, lenta, fumacenta e coberta por um teto sem sal... e é caro!

 

Mas chegamos na Itália e logo fomos para Aosta, de onde partiam as estradas para diversas pequenas vilas nas encostas de montanhas onde treks e escaladas tinham início. Meu amigo estava atrás de crampons para alugar. Também precisávamos de mapas e eu de uma toalha, já que esqueci a minha com meus tios. Como é uma daquelas especiais, de secagem rápida e grande absorção, imagino que seu material e aspecto tenham feito que seja confundida por pano de chão ou cama de gato. Comprei outra. Eles só tinham dois tamanhos: minúsculo e muito pequeno. Ai, ai...

 

Mas gostei de constatar que a MSR parece ter mudado de material. Mais confortável, mais bonito. Agora não parece mais pano de chão. Parece pano de prato. Eficiente como sempre.

 

Andando pelas ruas de Aosta, meu amigo inicia uma performance teatral de surpresa. Se joga de joelhos no meio da rua, bota as mão cobrindo o rosto e grita "Oh, no! oh, no! oh, no. No, no, no, nononono...".

 

Confesso ter ficado meio confuso e encabulado. Todo mundo olhando a gente. Temi certas más interpretações...

 

Meio sem jeito, mas cumprindo uma obrigação social nessas situações, perguntei o que se passava.

 

"Esqueci minhas botas!"

 

Claro, não acreditei. Por isso achei ser brincadeira e ri prá caramba. Ninguém que sai prum trek de uma semana nas montanhas não vai esquecer as botas. Conversamos sobre isso antes de partir, com ele me perguntando se ia levar sandálias. Minhas botas estavam no meu pé desde manhã e ainda não tinham saído de lá. Não trouxe sandálias. Ele estava querendo saber se levava uns tênis ou sandálias ou os dois, fora as botas, claro. Eu pensava que ele estava na dúvida se levava bota ou tênis, mas não, era se levava botas e tênis/sandália. Levou sandália. E mais nada.

 

"Sério?!?"

 

"Sério!"

 

"PUTA QUE PARIU! E agora? Vai andar de sandálias? no gelo? com crampons?"

 

"Claro que não!"

 

"E agora?"

 

"Sei lá..."

 

Começamos bem, sim senhor..., pensei eu.

 

Seguimos prá loja, prá ver dos crampons e toalha. Lá veríamos das botas. Meu amigo estava inconsolável, coberto de remorsos. Tentei fazê-lo sair logo dessa fase, para não perdermos muito tempo. Ainda queríamos subir ao refúgio antes do Gran Paradiso neste mesmo dia. Já tava perto das 12 e ainda queríamos pegar uma pizza prá construir algum forro antes da trilha. E a vila onde a trilha começava ainda ficava a uns bons km de Aosta.

 

"Cê vai comprar outras", foi o que lhe disse. "Morreu boi. Compra outras e esquece tudo".

 

Ele já tinha duas botas, sendo uma muito boa, que sempre usou. Ter três botas era o cúmulo. Mas após uns 15 minutos, ele consegue sair do choque e conduzir 30 minutos de comprar. Botas e crampons. O mais barato possível, mas que aguentasse o que iríamos fazer. Enquanto isso eu agonizava com minha escolha entre "mini" e "mini-mini". Pensei num chapéu, mas me acho horrível de chapéu. Acho que vou testar meu capacete de cachos como protetor natural do sol de montanha no gelo... Meu amigo tem o protetor solar, fator 30. Eu queria comprar outro, fator 50, mas ele achou ridículo. Tudo bem, eu costumo exagerar mesmo... Protetor labial eu tinha. É... pode se que dê.

 

Feliz com minha toalha, voltamos pro carro. Mapas e compras levaram quase 2 horas. Meu amigo queria destroçar uma pizza e procurava não olhar muito pros pés, onde um par de botas novas brilhava de limpas. Repetidos comentários da falta de outra saída e qualidade boa das compras foram a conversa até a vila Cogne, onde começaria a trilha e onde teríamos a pizza.

 

Teve a pizza. Quando perguntamos sobre a trilha para o destino em mente, o Gran Paradiso, fomos logo informados que a via era bem técnica. Mais técnica que o Mont Blanc. Mas que se era isso que queríamos, poderíamos esperar a agência do lado abrir e ter mais infos. O centro de infos turísticas não tratava disso.

 

De lá era possível ver imensas montanhas com imensos glaciares. Meu amigo queria ir logo prá lá. Eu sugeri que isso seria coisa de dois dias, depois voltar, porque mais e além, só alpinista experiente. Não me pareceu muito indicado para duas pessoas que não dormiam há mais de 24 horas e estavam mal-equipadas. Tinha outro ponto de subida, pela vila de Pont, que eu tinha visto na Net. Era suposto ser mais fácil.

 

Então comemos a pizza e fomos prá Pont. Desce encosta e sobe encosta. Típico, ruas estreitas, tortuosas, beirando precipícios e muito tráfego. Verão, o Parque Nacional Gran Paradiso é destino popular entre os italianos. Famílias em carros ou caravanas enchem as estradas e vilas. Misturados, alguns poucos trekkers e muitos grupos alpinistas. O Gran Paradiso, com seus 4016m, era o único 4000m completamente em território italiano e cuja ascensão era considerada tecnicamente fácil, ideal para alpinista novato ter seus primeiros contatos com glaciar e subida em gelo/neve.

 

A gente gostava de pensar que essa era nossa situação. Trekkers, iríamos tentar uma subida em gelo com glaciar pela primeira vez.

 

Em Pont, cujos estacionamentos eram maiores que a própria vila, logo vimos que os ditos alpinistas novatos não eram bem como nós. A qualidade e quantidade de equipo que levavam eram muito superiores ao nosso.

 

Hum...

 

Bão, estamos onde queríamos estar e as vistas são boas. Agora era subir pro refúgio, a uns 2800m. Duas horas de subida pelas encostas, em direção às montanhas e glaciares. Pareceu dentro do resto de dia que tínhamos. Últimos ajustes, mochilas nas costas e pé na estrada.

 

Umas 3 da tarde. 32 horas sem dormir. Pizza pesada no bucho (queria uma vegetariana, mas meu amigo, vegetariano, me sugeriu pegar carne, prá ter algo com sustança na barriga). Dôr-de-barriga. Sem ir ao banheiro desde ontem. 25 kg nas costas. Subida pela frente.

 

Ah... tem vida melhor?

 

O início é ali mesmo, no estacionamento, onde termina vila e estrada. Mas tudo era largo e a trilha bem larga, cheia de famílias com carrinho de bebê, bicicleta... parecia um parquinho!

 

Em poucos minutos a subida começa. Menos família nessa etapa, mas muita gente subindo e descendo. Parece que a ida ao refúgio é percurso popular. Caminhada de fim-de-semana. Apesar de menos, tinha muita criança, que estavam excitadas por dormir nas montanhas pela primeira vez ou de novo. Trekkers de grife aos quilos. Mesmo os mais "sérios" e alpistas levavam apenas mochilas pequenas, com o material e roupa. Temi que o tal "refúgio" fosse tipo "hotel". Nossa idéia era acampar, mesmo sendo tal proibido no parque. Vamos ver se o refúgio tem lugar prá barraca. Não era o que queríamos, mas era só por uma noite. Depois a gente se metia dentro das montanhas e só voltaria dentro de cinco dias.

 

Pelo menos era o plano da gente.

 

Logo de cara, ainda nem 10 minutos na subida e meu amigo já está tendo dificuldades. Nossas vidas sedentárias tem nos feito muito mal e já sabíamos que não ia ser fácil. Eu estava pouco melhor que ele, mas estava tendo dificuldades também. Mas ele estava ruim mesmo. Mais descanso que ação.

 

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Isso promete...

 

Quase 6 da tarde e ainda subindo. As árvores ficaram para trás, mas todo mundo nos passou e parece que somos os únicos subindo tão tarde. Mesmo com todo combinado de andar juntos, foi inevitável eu me distanciar do meu amigo. Parava a cada 15 minutos, esperando ele chegar. Como muitas vezes ele não parecia ter intenção de sair do seu descanso tão cedo, eu, com frio, subia mais um pouco, beeeeeeem devagarzinho. Mais uns minutos e parava. Ele ainda descansava.

 

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Isso promete MESMO...

 

Ainda bem que era verão e teríamos luz até tarde. Até pensamos em acampar por ali, antes do refúgio. 36 horas sem dormir, nove dirigindo e uma subida sem fim estava acabando coma gente antes mesmo de completar a primeira e mais fácil etapa. Mas no fim continuamos subindo, na esperança que o refúgio não estava longe. Não estava, mas demorou pro meu amigo chegar ao local onde tivemos seu primeiro sinal. Não teríamos muito tempo prá nos acomodarmos.

 

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Eis que elas surgem!

 

Enfim no refúgio, meus temores se concretizam: um hotel. Certamente nada como os hotéis das vilas, mas hotelzinho mesmo. Acampar, não pode. Só se eles estivessem cheios, mas como tem um dormitório coletivo com três lugares ainda... cozinhar era permitido. Ao menos não éramos obrigados a comer no restaurante do refúgio. Podíamos caminhar mais e acampar, mas na condição podre que estávamos, não iríamos muito longe do olhar vigilante e ordeiro do refúgio. 60 Euros de multa por acampar era gasto que não queríamos ter. Guardamos nossas coisas numa igrejinha em construção e fizemos a comida.

 

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Vista do refúgio. Não, o cara lá em cima não é nenhum de nós. A gente tava bem sentadinhos no refúgio, obrigado.

 

Minha comida é 90% liofilizada e meti dentro de um saco resistente segundo uma ordem. O primeiro saco era o mais pesado, 400g, e supostamente menos gostoso. E foi assim mesmo. Era horrível e tinha textura de vômito. Claro, era prá ser preparado com muito mais água que eu pus. Mesmo assim não consegui terminar tudo e sobrou um resto a ser cozinhado no saco. Seria o almoço de amanhã. Meu amigo quase não comeu. Estava com dores-de-cabeça e exausto. Eu estava muito cansado também e o choque psicológico de ter acabado num antro turístico estava minando meu entusiasmo. Sugeri meu amigo partirmos amanhã prá dentro das montanhas, longe do refúgio, e andássemos pelas alturas, testássemos andar em gelo no glaciar ali “perto”, antes de tentar o Gran Paradiso. Com mais de 36h sem dormir e exaustos, seria bom ter uma longa noite de sono (o ataque ao Gran Paradiso começa às 5.30h da matina, no máximo, e são 5 horas de subida dura, segundo li). Ele concorda comigo e fomos pro nosso quarto coletivo. Tudo escuro, quarto quase cheio. Entre cochichos, conseguimos tatear dois lugares livres (após tatear muito pé e cabeça). Tinham colchão e cobertores à vontade. Mas dormimos dentro dos sacos. Mais uma vez, o meu era quente demais para a altitude, apesar do frio que fazia.

 

Mal começamos a relaxar e a convencer nossos corpos que sim, eles podem dormir e o quarto ao lado explode com vozes e risos de crianças. Aparentemente uma família resolveu pegar um coletivo prá ela e tudo era motivo de brincadeira para as crianças, que gritavam e gargalhavam de tudo. Eu estava justamente colado à parede. E a “parede” era da grossura de uma tábua. Isso porque era feito de tábuas.

 

Meia hora de galhofa e outra pessoa em nosso quarto, que também dormia colada à parede não agüentou e deu três porradas na parede. Nosso quarto era de gente que ia subir o Gran Paradiso amanhã. Era meia-noite e iam se levantar às cinco. Queriam dormir.

 

As crianças fizeram mais silêncio e os pais delas, mais ativos na preservação do silêncio. Mas o barulho continuou. Menos, mas continuou.

 

Quando enfim conseguimos algum silêncio pela direita, o quarto da esquerda enche de gente, que estava no restaurante do refúgio, provavelmente se divertindo. E se divertindo vieram dormir. E se divertindo se prepararam para dormir. E se divertindo foram caindo no sono.

 

Não sei quando tudo se calou, porque consegui dormir antes.

 

CONTINUA...

  • 2 semanas depois...
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CONTINUAçÃO.

 

Dia 02

 

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Bom Dia!

 

O dia estava bom mesmo. Os picos mais altos começavam a se iluminar. Mont Blanc em primeiro, claro. Esquerda e direita dele, uma muralha de picos menores se iluminando um atrás do outro. A montanha à nossa frente seria nossa tentativa de aclimatização. O Gran Paradiso estaria supostamente atrás dela. Se pudéssemos alcançar o que parecia ser uma larga crista ou passe e acampar lá, tentaríamos atacar ela dali. Queríamos alguma experiência no gelo ainda hoje. Nenhum dos dois estava bem equipado. Ninguém tinha jamais andando em neve e gelo antes. Tínhamos uma noção vaga sobre o que fazer em caso de escorregar e cair, mas eu estava tentando adivinhar a lógica por trás dela e o quanto ao realizá-la, parecia envolver muito de se jogar em cima de um pedaço de ferro pontudo e menos em me salvar a vida...

 

Enfim, talvez fosse um ato de fé. Como ateu, passei a olhar suspeito para o piolet.Seu uso era intuitivo, mas os achei curtos, mesmo assim. Talvez fossem melhores para se apoiar e descansar com num declive mais acentuado. Segunda-mão, custaram 15 Euros cada. A princípio a compra, do meu amigo, me assustou quanto ao peso, mas eram super-leves. Meus meio-crampons, pelo contrário, era pesadão. Para piorar, tirar e botar era meio complicado. Pesado e complicado E metade da eficiência? Olhava com inveja para os crampons novos do meu amigo. Não foram caros, eram super-leves, fáceis de pôr e tirar e... completos. Vinham em bons sacos também, que não espetavam tanto quanto o dos meus.

 

Meio complicada o dar baixa no refúgio. Meu amigo tinha se esquecido/não entendido que era prá ter devolvido a chave duma igrejinha, onde o responsável tinha deixado a gente guardar as cargueiras. O cara manifestou seu descontentamento nos mandando tomar no c*. Foi a gota d´água para mim. Queria distância do lugar, dessa agência turística. Saímos o mais rápido possível e pegamos o que parecia uma trilha menos usada. O plano era ficar e dormir pelo alto, pelas montanhas, prá testar andar no gelo e aclimatar um pouco melhor. Meu amigo não estava grande coisa.

 

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Então o plano era subir essa, ou dormir mais perto dela

 

Subindo mais um pouco, chegamos ao glaciar. Com o aquecimento global, os glaciares alpinos parecem ter suportado duros golpes. Parecia mais uma encosta nevada que um glaciar. Metemos os crampons, guardamos os bastões, meti os novos óculos, que doem um pouco, mas tem espaço prá enfiar os meus de grau por dentro. O caminho parecia tão aberto, coberto e de desnível tão pouco que parecia não valer a pena. Além disso, era mais um cordão que uma corda.

 

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A manhã foi gasta aí...

 

Os primeiros passos no gelo foram incríveis! Apesar de ter apenas meio-crampon, que me fazia estar sempre apoiado na parte posterior dos pés, era bem fácil andar no gelo. Como tudo estava coberto, era uma superfície mais ou menos plana. A subida era dura, mas com os crampons era impossível andar muito depressa, então era uma caminhada tranqüila. De vez em quando a gente parava para tomar ar e ver a paisagem. Nem meia hora na subida e meu amigo já estava parando mais que eu. Chegar naquele “passo” parecia estar mais distante...

 

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Primeiros passos!

 

Cercados por encostas e chão brancos e com diversos picos brancos acima, o bombardeio pelo sol era pesado. Para piorar, o protetor solar, que estava com meu amigo, estourou durante o dia de ontem e claro que não estava dentro de saco ou bolsinha alguma. Nossa pele estava exposta ao sol e ao sol refletido à 3000m de altitude. Eu estava de calças e camisa de mangas largas. Senti falta de chapéu. Meu cabelo certamente trabalhou muito, mas da próxima vez levo chapéu, mesmo detestando como fico de chapéu. Meu amigo, ao contrário, estava de bermuda e camiseta. Tinha um gorro estilo francês, que foi o que lhe deve ter salvado a cara.

 

Para piorar, não tinha achado meu protetor labial e meus lábios estavam sofrendo um pouco.

 

Numa parte mais ou menos plana, resolvemos parar para almoço. Primeira vez cozinhando no gelo. Por sorte, tinha achado uma pedra suficientemente grande e chata para pôr os fogareiros e fazer o cume. Mas meu amigo preferiu cozinhar em cima da neve, usando neve. Seu fogareiro não estava grande coisa, mas ele conseguiu. Eu achava que o fogareiro simplesmente iria derreter a neve abaixo, afunda e apagar. Mas ele ficou ali, em cima da neve, cozinhando. Uma surpresa também como meu amigo cozinhou só com neve. Jogava a neve na panela, derretia, juntava mais, derretia, etc. Em poucos minutos tinham 1/2l de água. E eu que pensava que isso demorava prá caramba.

 

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Isso vai arder depois...

 

Depois entramos na segunda fase da subida. Já passava do meio-dia e parecia ter muito ainda prá andar. Meu amigo cansava mais e mais frequentemente que eu. Cedo ia ficando prá trás. O sol forte nos torrava a cara. No caso dele, torrava quase tudo. Mais, ele não bebia muita água. Eu tentava dizer que era bom se manter hidratado, mas ele não bebia muito assim mesmo.

 

Fui me distanciando mais e mais e chegando em partes com mais e mais gelo e menos e menos pedras. Algumas vezes a perna entrava até metade das canelas. Pela primeira vez pensei nas fendas tão temidas por quem tem de atravessar uma em seus ataques ao pico. Não o haver fenda, mas haver fenda e estarem cobertas por camadas de neve e gelo, que dependendo da fenda, poderiam ser coisas bem finas e instáveis. Me dava certa segurança o estarmos andando numa “trilha” já usada. Seguíamos os passos de trekkers anteriores. Mesmo andando devagar, eu me cansava bastante com a subida branca e interminável. Comecei a trabalhar com objetivos pertos. Uma pedrinha, um montinho, uma curvinha... coisa de 10-20 metros à frente. TINHA de chegar lá.

 

Meu amigo ia cada vez pior e as esperas iam aumentando. Tirar fotos ajudava a passar o tempo, mas eram praticamente variações tão pequenas de ângulo de uma mesma paisagem que chegou hora que eu ficava ali, parado, olhando, ouvindo... meu amigo chegar esbaforido e dizer o quanto ele tava mal.

 

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O ator principal

 

Mais perto do “passe”, a neve ia ficando mais e mais fofa. Enterrar a perna até o joelho deixou de ser “interessante” para ser “preocupante”. Quanto mais alto, maior o acúmulo de neve fofa, mais esforço para caminhar e mais chances de afundar nalguma fenda.

 

Mas eu ainda estava mais preocupado em chegar na pedrinha ali, a 10 m

 

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Meu amiiiiigo... venha prá cáááá...

 

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Filipe resolveu cortar caminho

 

A trilha fazia uma longa e longa curva pelo glaciar e depois virava pela direita, em direção ao “passe”, mesmo afundando, eu segui por ali. Cansado e ficando prá trás, Filipe de repente foi iluminado. Foi-lhe revelado que a distância mais perto entre dois pontos passa por uma reta entre eles. Foi então que saiu da trilha e embarcou diretamente prá cima. Entre ele e o “passe”, uma fileira de grandes pedras.

 

Eu cheguei mais ou menos bem no passe. Andar gelo acima foi até fácil, apesar de umas enfiadas de canela na neve aqui e ali. Mas andar de lado no gelo foi menos fácil, ainda mais com meio-crampon. Senti falta de apoio no calcanhar. A Canaleta do Aconcágua, pelas fotos, parece ser toda uma longa caminhada de lado. Talvez outro tipo de crampon fosse algo a considerar...

 

Entretanto, enquanto chegava lá em cima, no “passe”, vi que era bem pedregoso, o que era mais ou menos esperado. Bom, podia tirar os crampons, pelo menos. Mas com meia dúzias de passos, logo vi não estar em “passe” algum. Estava era numa crista. Logo ali, dou outro lado, estava uma queda enorme e quase vertical. As pedras pareciam penduradas perigosamente sobre o vazio.

 

Então Filipe resolveu chamar. Ele andava vagarosamente em sua linha reta. Quanto mais perto da tira de pedras antes da crista, mais fofa e funda ficava a neve. Ele disse estar com medo e pediu que o olhasse. Tinha medo de sumir de repente. Fiquei meio apreensivo também.

 

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O “passe” que virou crista estreita

 

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O buraquin...

 

A razão de minha apreensão estava ao meu lado: pouco antes do caminho que eu segui dobrar pro lado direito, do lado esquerdo tinha um buracão enorme. Aparentemente as encostas eram bem abruptas aqui e ali e a neve formava montes fofos e, pelo buraco, fundos.

 

Circulando o buraco, mais pegadas levavam até um local onde parecia que os outros trekkers tinham usado para subir a montanha ao lado. Era algo que podíamos fazer, talvez. Na outra direção, a subida ao outro topo parecia impossível para nós.

 

Enquanto pensava nisso, chega meu amigo. Exausto e fraco, ele precisa de um grande descanso. Com o passar dos minutos, eu olhava preocupado para o dia avançar e não ter lugar prá dormir ali. Talvez subindo aquela passagem ao lado do buraco e subindo mais um pouco, haveria um lugar mais amplo e plano para armar barraca. A fileira de pedras que meu amigo passou tinha uma que parecia poder servir em caso de emergência. Meu amigo não estava preocupado. Mesmo prestando horrivelmente, ele achava que a gente ia achar lugar melhor prá acampar pela passagem do outro lado, sendo que sua sugestão era seguir pela crista e não descer, dar a volta no buraco e subir de novo. Linha reta de novo.

 

Andamos uns 50 m e logo ficou claro não ser possível seguir pela crista sem praticar uma escalada livre em paredes altas. As pedras, rachadas por milênios de calor, gelo e frio, não ofereciam muita estabilidade. Pedras enormes faziam “cloc!” quando pisávamos nelas.

 

Resolvemos abandonar a crista e seguir prá passagem ao lado do buraco. Mas descer da crista agora é mais difícil com as cargueiras. Mais uma vez, Felipe usa a cabeça e sugere largarmos as mochilas. O declive suavizava bastante uns 3 metros e seria o suficiente para as cargueiras pararem. Parecia.

 

Não, não... elas não rolaram glaciar abaixo e pararam logo, umas dezenas de metros mais abaixo do que queríamos, mas pararam. Infelizmente a rolada arrancou o bocal do meu Platypus, a única coisa que me fazia beber muito, já que não tinha de tirar a mochila para beber.

 

Meu amigo teve pior. Ele esqueceu de tirar uma garrafinha de 500 ml da mochila. Era de vidro. Continha grapa, uma bebida da região extremamente alcoolizada. Tudo em sua mochila cheirava a cachaça, desde dinheiro até cueca. Nunca me senti tão atraído por uma cueca...

 

Enfim, entre bocais e cachaças feridas, ainda tínhamos de contornar o buraco. De perto, no início, mais longe pelo fim.

 

Foi então que a neve ficou mesmo fofa e funda.

 

Uns 10 metros abaixo de onde os trekkers anteriores parecem ter saído da neve e entrado nas formes pedras, tive uma incrível dificuldade de achar onde meter o pé. Onde metia, ele só afundava. Pela quantidade de pegadas, os nossos predecessores tiveram problemas semelhantes. Então eu a vi.

 

Era uma abertura singela, mesmo ali, uns 50 cm de mim. Tinha uns 15 cm de largura por uns 30 de comprimento. Olhando fixamente para ele, curvando ara chegar mais perto, vi algo bem estranho: nada. Era preto de escuro lá dentro. Um engolidor de luz. Mais abaixo, o som de água.

 

Uma fenda. Estava em cima de uma fenda. Pisando em cima de sei lá que espessura de neve e gelo. Abaixo de mim, quanto? 5 metros? 10? 50? 1? A água parecia correr funda...

 

Tomei coragem. Com a mochila, eu pesava quase 100 kg. Dei um passo, afundei até o joelho e joguei a outra perna prá frente. Foi um ato de fé. Eu podia afunda todo ou dar sorte e ser uma fenda estreita e minha outra perna cairia na outra margem. Os outros trekkers passaram. Pelo menos a ausência de corpos me consolava. Ninguém morreu aqui. Ninguém caiu aqui. Eles podem não ter descido por aqui na volta, mas ao menos UMA vez eles passaram.

 

Passei.

 

Avisei meu amigo da fenda. Ele chega lá e encontra muita dificuldade de passar. Temendo o pior, ele me passa o cordão, que amarro na cintura e espero ele chegar. Eu não consigo subir pelas pedras. Mesmo colada nelas, a neve é espuma. É então que meu sangue gela: numa das tentativas, uma perna inteira de Filipe é engolida. Intuitivamente ele se joga na direção contrária. Tira a perna e começa a rolar encosta abaixo.

 

“Me segura”, ele grita. Pego a corda, me meto na melhor posição de âncora que posso, na neve fofa, e espero o puxão. A corda estica toda e sinto ele diminuir de velocidade. A pressão é grande, mas suportável. Nem afundei muito na neve.

 

Ele pára e diz estar ferido. Quando a perna afundou e ele se jogou pro outro lado, tirou a perna e rolou, os crampons do outro pé entrou na perna afundada. Um corte grande, sangrando, fundo.

 

Cabou.

 

Rapidamente decidimos descer e acampar mais abaixo, fora do glaciar e suas fendas.

Só que eu ainda tinha de passar a fenda na descida de volta. As novas de fenda afundando não eram boa. Passei na subida. Passaria na descida?

 

Então meu amigo sugere rolar a mochila. De novo. Eu pensava amarrar uma cordinha nela e desce-la, mas como Filipe tava perto, era só rolar para ele. Joguei primeiro as varetas da barraca, que estavam presas do lado de fora. Sem ver, quase faço cesta com o buraco da fenda. Então chegou a vez da mochila. Filipe diz que por cima da fenda não dava. Ela cairia no buraco. Tinha de rolar pelo lado do buracão.

 

Temeroso, larguei a bichinha e assisti desesperado ela rolar e rolar em direção ao buracão grande que contornamos. Parou uns 40 cm dele. Agora era minha vez. Deitei de bruços na neve fria e fui descendo aos poucos. Filipe estava do outro lado, segurando o cordão. Desci até a mochila, e fui descendo com ela, tentando sempre distribuir ao máximo o peso pelo espaço. Por fim chego em Filipe.

 

Sua ferida estava bem aberta e era feia e grande.

 

Descemos o glaciar por outra “trilha”, mais inseguros sobre o chão que antes. Qualquer afundada de meia canela era motivo de paradas e tateadas.

 

Por fim, saímos do gelo. Em pedra firme, nos sentimos mais seguros, mas não tinha lugar plano algum para armar barraca. O jeito era descer até achar. Estávamos meio altos, então temíamos entrar no campo de visão do refúgio e suas regras absurdas e simpatia tão grande quanto a quantidade de mato ao redor da gente, que era um nada bem grande.

 

Mas no fim descolamos um pequeno plano em cima de um Pedrão. Na falta de ter onde meter pino, tive de prender tudo com pedras. Estávamos até bem protegidos do vento, mas mesmo assim estiquei 3 guy lines, aquelas linhas que são presas na cobertura da barraca e esticadas, para dar resistência e tensão à barraca. Impedir que vento forte a leve voando ou a despedace.

 

Filipe tava cada vez pior. Vez uma limpeza e curativos rápidos na perna e foi se deitar sem comer. Nossos rostos ardiam. No caso dele, pernas e braços também. Foi então que sugeri descermos para a cidade e ir num médico. A ferida estava insensível, suja e sangrando. Pode ser que seja preciso dar pontos. Melhor não arriscar a montanha amanhã pela outra rota.

 

Foi a primeira vez que montava a barraca nova, uma Fjallraven, sueca, geodésica, duas pessoas, azul.

 

Gostei.

 

Mas Filipe, dentro dela, parecia estar querendo adotar uma posição fetal para dormir. Meio à contra-gosto, reclamei que assim ele tomava 2/3 da largura da barraca, me obrigando a dormir pressionado contra a parede. Sem saber como iria ser a condensação da noite, infamosa em vários relatos de acampamento em montanha, queria distância das paredes. Espalhei algumas sacolas para meu saco não tocar nelas. Infelizmente a superfície não era totalmente plana e escorreguei bastante no começo, até meter uns cacarecos por baixo do isolante e conseguir me estabilizar. Filipe dormia e acordava.

 

Apaguei a lanterna e fui dormir.

 

Reparei que a barriga doía...

 

062barracanovacomamigovxg6.jpg

Tou mal...

 

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Ancorada!

 

064nossojardimbc4.jpg

Nosso modesto jardim

 

CONTINUA...

  • 3 meses depois...
  • Membros de Honra
Postado

Muito bom o relato! Muito bem humorado apesar dos perrengues.

 

Não há trekking sem perrengue, mas neste aí os perrengues foram caprichados!

 

Cadê a continuação??

 

Uma curiosidade: qual a mochila que vc usava? Uma Deuter?

 

Peter

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