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Esta viagem aconteceu a quase 3 meses atrás e desde que chegamos estou tentando finalizar o relato e não consigo. Gostaria de ir colocando fotos que ilustrassem algumas das etapas mas ainda não consegui. Por enquanto vou publicar o texto que já escrevi contando o nosso roteiro de SP até Florianópolis passando por Cananéia, Barra de Ararapira e Paranaguá. Mais pra frente, quando conseguir escrever como foram os nossos dias em Floripa, volto aqui e faço outro tópico.

 

Abraços e boa leitura aos que conseguirem...

 

 

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03/01/2011

Na verdade a viagem começou mesmo três dias antes de embarcarmos, quando o alemão foi na minha casa para definirmos o roteiro, estimarmos o tempo, o esforço, e os recursos que seriam necessários na viagem. Neste dia, definimos o seguinte roteiro:

- Iríamos até Cananéia, de lá atravessaríamos para a Ilha do Cardoso e acamparíamos na Vila de Marujá. Faríamos a ponta da ilha a pé (16 Km de praia) e quando chegassemos ao Pontal do Leste no extremo da ilha precisaríamos atravessar de barco para a Ilha do Superagui já no Estado do Paraná. Acamparíamos em Barra de Ararapira (ainda não sabíamos o nome do lugar, só sabíamos que havia uma vila de pescadores no local de frente com a ponta da Ilha do Cardoso). Depois disso faríamos outra caminhada, desta vez de 36 km atravessando a Ilha do Superagui para chegar a Vila do Superagui de onde tentaríamos um barco para Paranaguá e se não fosse possível iríamos para Guaraqueçaba, para de lá partir rumo a Paranaguá. Em Paranaguá procuraríamos por um ônibus que fosse para Florianópolis pois não conseguimos ter certeza se existia esse ônibus neste momento, até achamos linhas que fazem o percurso na internet mas ao entrar em contato com a empresa por telefone fomos informados de que não havia esta possibilidade. Caso não conseguissemos iríamos para Curitiba e de lá pra Floripa. E aí, chegando em Floripa, veríamos o que fazer e ficaríamos tanto quanto nosso tempo e dinheiro nos permitisse. Estava pronto o planejamento geral da viagem.

 

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04/01/2011

Dois dias antes da viagem foi a minha vez de encontrar o alemão. Fui a São Paulo para comprarmos as passagens para Cananéia e alguns itens importantes que ainda faltavam tais como saco de dormir, capa de chuva, lanterna, etc... e o que pensamos ser o mais importante, comida para pelo menos três dias sendo itens variados e que não estragassem com calor, pois iriam ficar nas mochilas, mais pra frente perceberíamos que exageramos um pouco. Compramos barras de cereais, amendoim, castanha do pará, banana desidratada, bala de goma (1kg), rapadura, pão sírio, salame e vários copos de macarrão instantâneo. Andamos bastante nesse dia. Quando termínamos o corre e fomos a casa do alemão, batemos uma bela duma chepa preparada como sempre com muito talento pela Dona Geraldina, vó do alemão, rangão maroto. E ainda fomos fazer um "favor", fomos do outro lado do Brás a pé buscar uma mesa e quatro cadeiras que ela queria comprar. Pra nossa sorte e azar dela, já haviam sido vendidos quando chegamos. Depois disso retornei pra casa com o que tinha comprado pra mim e parte da comida, a outra parte ficou com o alemão.

 

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05/01/2011

Um dia antes da viagem fiquei em casa o dia todo, durmi bastante e comi bem. Até que chegou a hora de fazer a mala, confesso que passei um grande aperto pra isso. Pensei em tudo o que ia precisar, tentei prever todas as situações possíveis e comecei a separar tudo o que eu queria colocar na mochila, vi que não caberia mas mesmo assim tentei, quando a mochila estava cheia metade das coisas ainda estavam pra fora...

Diminui drasticamente o número de roupas, tirei o outro calçado que ia levar e resolvi ir só com o tênis calçado e um chinelo na mala, e mesmo assim não tava cabendo tudo.

Enfim, coloquei e tirei tudo da mochila pelo menos meia dúzia de vezes, em alguns momentos fiquei apavorado, achando que a viagem poderia não dar certo, chegou a bater até um certo medo, mas depois de muito sufoco e deixar muita coisa que eu pensava ser indispensável para trás, consegui finalizar. A mochila fechou, a barraca iria do lado de fora e era assim que eu ia, era com aquilo que eu teria que me virar tantos dias quantos a viagem durasse. Detalhe que a mochila parecia muito pesada, e dava impressão de que eu não suportaria 10 minutos com ela nas costas, ainda mais caminhar 36 km. Mas vamos em frente.

 

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1º dia - De São Paulo à Cananéia, e chegada a Ilha do Cardoso onde acampamos na Vila de Marujá.

06/01/2011

Encontrei o alemão por volta das 8h da madrugada, conforme havíamos combinado, no terminal rodoviário da Barra Funda em São Paulo, de onde o ônibus saíria as 9h. O ônibus foi pela Rodovia Régis Bitencourt, e quando a viagem estava começando a ficar cansativa começamos a passar pelas cidades do Vale do Ribeira que até então eu só conhecia de nome até por conta do trabalho, passamos por Miracatu, Juquiá, Registro e Pariquera-Açu antes de chegar a Cananéia, em parte do caminho vimos áreas gigantescas com plantações intermináveis de banana, fora as areas de plantações as demais áreas eram sempre de mata nativa, com rios e lagos, tudo muito bonito. Aproveitei bastante este trecho da viagem. Chegamos em Cananéia pouco antes das 14h.

Descemos na última parada do ônibus, nos informamos sobre onde poderíamos conseguir uma forma de atravessar para a Ilha do Cardoso e logo estavamos na avenida beira mar, dentro da cidade de Cananéia não existem praias, existem piers de onde saem escunas e voadeiras, a maioria delas levando os interessados para a Ilha do Cardoso.

Conhecemos o centro de Cananéia, com cara de "centro histórico" e logo estavamos na avenida beira mar, de onde era possível ver a ponta da cidade de Ilha Comprida, inclusive havia uma balsa da Dersa fazendo a travessia de pessoas e automóveis entre os municípios.

Nos pier encontravamos pessoas atendendo como se fossem agenciadores de passeios turísticos, ficamos sabendo que para ir à Ilha do Cardoso teríamos duas opções, uma seria de escuna, o passeio saíria R$ 35 por pessoa e demoraria cerca de 3h ou de voadeira, que poderia levar até 5 pessoas mas a travessia saíria R$ 200, o que era muito caro para dividir para apenas duas pessoas e demoraria 1h. Sendo que devido ao horário não havia mais a opção da escuna para aquele dia, teríamos que ficar em Cananéia e atravessar no dia seguinte.

De qualquer forma optamos por deixar nossos nomes cadastrados e se aparecesse mais alguém afim de dividir a voadeira conosco para que os segurassem lá enquanto sairíamos para almoçar, afinal, aquela poderia ser nossa última refeição descente nos próximos dias. Fomos indicados pela moça da travessia a almoçar num restaurante chamado Pirão no Prato, disse que não era caro e que a comida era muito boa, fomos lá e realmente não nos arrependemos, comida para duas pessoas muito boa, fartura, peixes, pirão e 1L de suco de cajú que saíram por pouco mais de R$ 20. Quando estavamos indo do pier para o restaurante, uma gringa parou o alemão e começou a falar alemão (rsrsrs), eu já estava mais a frente e quando percebi que ela tinha parado pra falar com ele fiquei olhando de longe, eles conversaram nem 1 minuto e ele já tava olhando pra mim cara de toiço, cheguei perto e percebi que ela estava falando inglês, consegui entender tudo o que ela disse, inclusive que estava em um grupo com várias pessoas e que gostariam de ir para a Ilha do Cardoso, não que eu fosse conseguir trocar idéia, mas depois que o alemão mandou um "we too", em uma tentativa de dizer que agente também iria pra lá, só me deu vontade de rir e não saiu uma palavra, até que ela se irritou e foi embora... Perdemos a oportunidade de talvez dividir a voadeira com alguém por não saber inglês.

Depois de almoçarmos e muito bem por sinal voltamos ao pier e fomos informados que havia aparecido um casal que também iria para a Ilha do Cardoso e que dividiriam a voadeira conosco, ficando assim R$ 50 por pessoa, o que já aliviou bastante, pois se fossemos só os dois gastaríamos R$ 100 cada e se ficassemos em Cananéia para atravessar de escuna no outro dia perderíamos muito tempo e gastaríamos para acampar ou em alguma pousada em Cananéia que também não era tão barato.

Por sorte o casal chegou e ficamos conversando até que aprontassem a voadeira, tratava-se de um casal de meia idade onde o senhor era um professor de geografia aposentado e a senhora uma psicologa, eram de sorocaba (se não me engano) e sempre iam para a Vila de Marujá passar uns dias e comer peixe. Depois ainda ficariam na mesma pousada onde acampamos no Camping/Pousada da Débora.

Com a voadeira pronta, partimos, o rapaz que nos levou morava na Ilha do Cardoso e tinha uma espécie de barzinho na Vila de Marujá, tanto que fomos no barco junto com vários alimentos, sacos de gelo (pois não há energia elétrica na ilha) e sua mulher, que tinha ido a Cananéia fazer um ultrassom pois estava grávida. Achei estranho porque primeiro nos disseram que não teria como atravessar por menos de R$ 200, mas na viagem o cara voltou pra casa com a mulher e ainda levou a despesa do mês e uma série de suprimentos para o seu boteco, sendo que se não fossemos ele não ganharia nada. Será que eles não voltariam aquele dia se não aparecesse ninguém?? Ou será que voltariam sozinhos sem ganhar os R$ 100 que pagaríamos pela travessia dos dois?? Só Deus sabe, mas isso não importava mais, afinal estavamos de férias e o rolê tava só começando...

Viajando pelo canal ainda pude ver um golfinho próximo a uma margem do canal com o mangue.

Depois de cerca de 1h de barco, chegamos ao local onde passaríamos a primeira noite fora de casa, o rapaz nos deixou no quintal do camping da Débora, pois tanto agente quanto o casal iria ficar lá.

No camping acertamos com a Débora o valor de R$ 15 por pessoa para acampar ou R$ 23 com café da manhã, o que depois me deixaria desconfiado pois vimos um tipo de cardápio que dizia: Camping R$ 10, camping com café da manhã especial R$ 15, mas, como ainda não tínhamos visto isso obviamente acertamos que acamparíamos e tomaríamos o café da manhã no outro dia antes de partir rumo ao Pontal do Leste.

Depois de acertar, montamos a barraca, organizamos mais ou menos nossas coisas e fomos para o outro lado da Ilha do Cardoso, chegamos pelo canal e depois de arrumar tudo fomos para o outro lado, de frente para o mar aberto. Estava muito calor apesar de não ter sido uma tarde de sol, foi uma tarde encoberta parecendo o tempo todo que choveria mas a temperatura estava alta e então fomos pegar uma praia, que por sinal era linda, havia algumas pessoas mas bem longe de onde estavamos, era uma praia quase deserta e com uma água incrivelmente limpa. Quando estavamos saindo do mar e voltando ao camping encontramos um tatu na estreita faixa de mata existente.

De volta ao camping tomamos banho, comemos um copo de macarrão instantâneo cada, e fomos durmir, afinal no dia seguinte, caminharíamos 16 km com aquela mochila que eu ainda estava me acostumando a carregar nas costas. De madrugada enfim choveu bastante, colocava a mão no forro da barraca e sentia que estava muito molhado.

 

 

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2º dia - 16 km de caminhada pela ponta da Ilha do Cardoso, atravessamos de barco para Barra de Ararapira, paramos o lugar qdo chegamos, conhecemos o Seu Cotô, combinamos o valor para acampar em seu quintal, fomos a casa de seu irmão, Sr. Sebastião, que iria de barco (unico meio de transporte) para a Ilha das Peças ou Guaraqueçaba no domingo e com isso não precisariamos atravesar a ilha do Superagui a pé, como estava planejado e tanto de Guaraqueçaba, quanto da Ilha das Peças conseguiriamos facilmente outro barco que fosse até Paranaguá (nosso próximo destino), posteriormente Sr. Sebastião foi nos comunicar que iria direto para Paranaguá o que facilitaria ainda mais a nossa vida.

 

2º dia - 16 km de caminhada pela ponta da Ilha do Cardoso até o Pontal do Leste, de onde atravessamos para Barra de Ararapira, já no estado do Paraná.

 

Talvez por causa da temperatura agradável por causa da chuva da noite, dormimos mais do que deveríamos, levantamos tarde e fomos tomar o café do camping, comemos bem, sem pressa, arrumamos nossas coisas e desmontamos a barraca, pagamos o camping e quando estava tudo pronto para a partida já passava das 10h da manhã, a hora do sol mais forte estava por vir e nós, começaríamos nossa caminhada de 16 km rumo ao Pontal do Leste.

Resolvemos começar a trilha por dentro da vila de Marujá, já que com certeza mais pra frente teríamos muitos kilometros a percorrer por praia, iniciamos a saga por dentro da vila, pudemos perceber que as primeiras casas eram sempre campings, pousadas e alguns pequenos comércios, pouco mais pra frente a vila vai se tornando de pescadores da região. Logo as casas acabaram e continuamos caminhando por uma trilha envolta por vegetação baixa, mas que era suficiente para proporcionar agradáveis trechos de sombra. Apesar de estar no meio da faixa de terra/areia da ilha, sabíamos que a nossa direita estava o canal e a nossa esquerda o mar aberto.

Quando a trilha acabou, não teve jeito, agora era a praia, o mar, vegetação rasteira, o sol e agente.

Durante a caminhada pudemos observar algumas espécies de aves, principalmente urubus, que nos acompanharam a maior parte da caminhada.

Andamos e paramos várias vezes durante todo o dia, a imensidão daquela praia impressionava, só não mais do que a quantidade de lixo que encontramos ao longo de quase toda a extensão. Lixo que não foi deixado por pessoas que ali estiveram pois a praia é deserta e realmente tinha muito. Lixo que com certeza foi jogado no mar em lugares muito distantes e foram parar naquela praia, trazidos pelo mar. Encontramos uma série de objetos e principalmente embalagens e garrafas vazias, um dos mais curiosos foi uma embalagem de shampoo grega.

Sempre que encontravamos algo maior como algum tronco de árvore ou alguma parte de navio aproveitavamos para largar um pouco a mochila e descansar, neste dia o almoço foi amendoim com barra de cereal e banana desidratada.

Até que não foi tão difícil, pelo menos eu estava curtindo muito o rolê apesar das dificuldades, os principais eram o peso da mochila, que em alguns pontos de areia fofa fazia o pé afundar mais do que o normal e consequentemente a força que se tinha que fazer também era maior, o sol que estava muito forte mas chega uma hora que você se acostuma. Lembro que até comentei com o alemão que estavamos de baixo de um sol muito forte, carregando muito mais peso do que eu já tinha carregado por tanto tempo em toda a minha vida e nem estava suando mais. Outro ponto que encomodava era não saber o quanto já tinhamos andado e quanto faltava para chegar ao pontal, uma ciclista que passou disse que chegaríamos lá quando estivessemos na reta de uma ilha bem afastada da praia, andavámos mais e mais e talvez pela distância da ilha parecia que não tinhamos saído do lugar, afinal não estavamos andando em direção a ela.

No caminho ainda encontramos uma tartaruga morta, era muito grande, devia ter quase 1,5m de comprimento, e já estava bem deformada, talvez os urubus a tivessem pegado, uma coisa que eu não sabia é que o casco da tartaruga amolece quando ela morre, pelo menos o dessa estava todo deformado.

Enfim era possível ver a ponta da ilha, paramos para descansar pela última vez, agora em uma espécie de barranco mais alto que tinha na praia, próximo a um barco e de onde era possível avistar uma casa no meio da mata rasteira do lugar.

Resolvemos seguir pela praia e ver o que encontraríamos na ponta da ilha, contornamos aquele que seria o ponto mais ao sul do Estado de São Paulo, e já era possível ver, do outro lado do canal o vilarejo de pescadores onde pretendíamos passar a noite, vendo do lado de cá destacavam-se a igrejinha e uma casa azul, que tinha uma cor bem forte.

Contornamos a ponta da ilha e agora precisaríamos encontrar uma forma de atravessar o canal. Avistamos um barco e uma casa a alguns metros de distância e fomos até lá.

Chegando perto, percebemos que vários homens estavam construindo uma casa, que quando estiver pronta, será a casa mais ao sul do Estado de São Paulo. Cumprimentamos e o alemão já foi logo dizendo como poderíamos atravessar para o outro lado do canal. Naquele momento foi estranho, ninguém respondeu nada, ficaram em silêncio, um olhando para o outro, depois conversaram alguma coisa entre eles que eu não consegui entender, até que aquele que parecia ser o dono do barco pediu a um dos outros homens para nos atravessar, ao perguntar quanto cobrariam pela travessia o dono do barco disse para deixarmos uma gorjeta e estaria tudo certo.

Quando estávamos na metade do canal alguns moradores da vila de pescadores nos viram chegando e foram chamando outros moradores e se juntando em frente a unidade dos Correios do lugar. Quando o barqueiro nos deixou na praia e voltou havia muita gente olhando de longe, conversando baixo e rindo entre eles, me senti um ET chegando na terra, mas aí bastou olhar para o alemão e logo percebi do que estavam rindo e quem era o ET.

Enquanto o alemão ficou na praia brigando com a mochila eu fui até o grupo de moradores que estava nos olhando e perguntei sobre um lugar que pudessemos acampar, e tal, estavamos conversando quando o alemão chegou e perguntou pelo Seu Cotô, todos riram por causa da pronúncia, ele disse Seu Côto e todos o chamavam Cotô, e logo apontaram um senhor vestindo a camisa 10 do Santos, ajeitando uma rede de pescador com outro rapaz em uma coberta do lado da casa azul que se destacava olhando do outro lado do canal, agradecemos e fomos de encontro àquele que seria o nosso guia turístico durante o final de semana. Seu Cotô foi citado em outro relato de um mochileiro que fez a travessia que pretendíamos fazer no sentido contrário e por isso já tínhamos essa referência.

Chegamos para conversar com o Seu Cotô, que na verdade se chama Santiro e dissemos, que pretendiamos acampar por ali aquela noite e no outro dia partir rumo a Vila de Superagui do outro lado da ilha de onde tentaríamos chegar em Paranaguá. Ele disse que tudo bem, que poderíamos acampar ali mesmo onde estava ajeitando a rede, acertamos o preço de R$ 7 cada um e em seguida informou que seu irmão Sebastião iria para Guaraqueçaba de barco no outro dia de manhã e é claro que nos interessamos, combinamos que depois ele nos levaria para conversar com seu irmão e verificar a possibilidade de irmos junto, afinal já estavamos cansados, eu tinha queimado muito meus pés e pernas no sol durante a caminhada e seria muito dificil fazer 36 km no dia seguinte.

Montamos a barraca, arrumamos as coisas mais ou menos enquanto conversavamos com o Seu Cotô, que nos contou sobre a cataia que é uma planta da região que eles misturam com cachaça, experimentamos e eu particularmente gostei, e nisso fomos a casa do Seu Sebastião, ver sobre a carona de barco. Chegamos a casa dele e o alemão já foi logo dando a letra de que estavamos sabendo que ele iria para Guaraqueçaba no outro dia e se haveria a possibilidade de irmos junto, pois gostaríamos de chegar a Paranaguá e tal. Ele disse que não iria mais no sabado e sim no domingo, e que não iria para Guaraqueçaba e sim para a Ilha das Peças, mas disse que de lá também o transporte para Paranaguá era fácil. Resolvemos que passaríamos o sábado ali, naquela vila simples de pescadores, chamada Barra de Ararapira e no domingo sairíamos antes do sol nascer rumo a Ilha das Peças, acertamos o valor de R$ 20 por pessoa pela carona. De certa forma demos sorte, pois apesar de não sentir o corpo estava cansado.

Voltamos a casa do Seu Cotô e eu fui tomar banho, quando saí, o alemão já estava dentro da casa do Seu Cotô, batendo um prato de comida e conversando, fui até lá e ficamos conversando mais um tempo.

Aí descobrimos muitas coisas sobre Barra de Ararapira, que é um vilarejo de pescadores onde moram aproximadamente 40 famílias. Faz parte de uma reserva e portanto não podem vir pessoas de fora morar no lugar, o único acesso é através do canal, de barco, a energia elétrica que utilizam é captada por placas de energia solar o que é suficiente para que tenham algumas lâmpadas dentro de casa e assistam televisão de vez enquando, mas não é o suficiente para terem uma geladeira por exemplo. O único telefone do lugar é um orelhão que funciona por ondas de rádio. E uma série de curiosidades sobre Barra de Ararapira e a região.

Conhecemos também o Beto, que eles chamam de Polaco quando ele não está por perto. É um cara grande, alemão e fisicamente muito diferente de toda a população do lugar, um cara simples que gosta de mergulhar e pescar e fica por ali, parece conhecer quase todo o litoral brasileiro e muito mais sobre a vida nas cidades do que qualquer habitante da vila, não entendemos direito o tipo de relação que eles tem mas o tal Polaco mais parece que mora dentro da casa do Seu Cotô com sua família.

Tomamos um pouco de cataia, busquei nosso amendoim para acompanhar e tivemos um fim de tarde muito agradável. Depois o alemão foi tomar banho e eu fiquei conversando com o Seu Cotô que me contou sobre as festas religiosas que fazem na região, sobre as romarias com barcos, sobre os dias santos que comemoram, etc. Me contou também sobre uma mulher de Curitiba que havia ido até lá, conversado com ele, copiou algumas anotações que ele fazia e depois voltou e entregou um livro sobre o assunto, e confessou que ele ainda não havia lido (RS), me mostrou o tal livro, era uma tese de mestrado de uma aluna da UFPR de algum curso relacionado a antropologia e grande parte do trabalho tratava da comunidade de Barra de Ararapira e todos os aspectos geográficos que os envolvem, parecia ser interessante, mas de fato era muito extenso.

O alemão voltou, conversamos mais um tempo e fomos dormir, afinal o dia tinha sido muito cansativo. Eu não durmi quase nada, não tive uma noite muito boa, tava muito calor e tinha muito inseto e eles não perdoavam, inclusive dentro da barraca. Essa noite foi osso.

 

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3º dia - Em Barra de Ararapira, acordamos cedo, tiramos algumas fotos do sol nascendo da vila ainda sem ninguém fora de casa, da casa do Seu Cotô, do correio, da igreja, etc. E fomos andando pela praia, encontramos com um senhor bem idoso e até comentamos que talvez seria o pai do Seu Cotô, que ele já havia nos dito ter 93 anos.

 

Essa noite realmente foi a mais difícil de toda a viagem, além de muitos insetos dentro da barraca estava com as pernas muito queimadas e não achava nunca uma posição boa pra dormir, talvez até por isso acordamos bem cedo, quando o sol ainda estava nascendo. Ao ver aquele nascer do Sol maravilhoso, do outro lado da Ilha do Cardoso, resolvemos tirar algumas fotos e já aproveitamos parafotografar a Vila também, principalmente o que estava por perto da casa do Seu Cotô, onde acampamos. Depois começamos a andar pela praia, junto ao canal, em direção ao mar aberto, apenas admirando a paisagem e curtindo o lugar, o sol nascendo, vendo as casas do lado da vila que ainda não tinhamos ido, olhando aquela praia deserta, pensando na vida e no dia a dia que é tão corrido, enquanto existem lugares como aquele, onde o tempo parece não passar. Enquanto estavamos indo encontramos com um senhor bem idoso, que já estava voltando e disse que só era possível ir até certo ponto na praia por conta de uma "tranqueira" que não permitia a passagem. Contínuamos a caminhada comentando que talvez aquele seria o pai do Seu Cotô, que ele já havia nos dito ter 93 anos, só não contou que ele também morava ali em Barra de Ararapira. Chegamos a tranqueira e começamos a voltar, interessante é que a essa hora os insetos da mata e do brejo atrás da vila não perdôam, é impossível ter sossego, das 9h da manhã as 16h da tarde você nem lembra deles, mas desde quando a noite se aproxima até a hora que o sol começa a ficar forte é terrível. Quase chegando a casa do Seu Cotô novamente encontramos com o mesmo senhor de antes, que estava nos esperando próximo ao barco do Polaco, que fica onde é praticamente o quintal do Seu Cotô. Começamos a conversar e ele nos disse que se chamava Antônio Marcelino, que tinha 93 anos (embora tenha encontrado certa dificuldade para acertar a idade) e que era o pai de Santiro, para nós, Seu Cotô. É impressionante como em tão pouco tempo você fica admirado com a sabedoria de uma pessoa. Com tanta idade, tendo vivido tanta coisa e tão disposto, com 93 anos levantar-se antes do sol nascer e sair para caminhar, sendo este senhor extremamente lúcido de tudo o que fala e compreendia muito bem o que agente falava, o que é complicado para uma pessoa de tanta idade conversando com estranhos e que falam de forma diferente daquela com a que ele está acostumado, pois apesar da proximidade com a divisa, o pessoal de Barra de Ararapira tem sotaque bem arrastado, fala como os outros paranaenses.

Durante esta conversa ele disse muitas coisas interessantes mas foram duas que marcaram mais, inclusive rimos até hoje com elas. A primeira é que existem três tipos de mulher: véia, mais ou menos e menina. E a segunda é que o mundo está acabando e está ruim do jeito que está por dois motivos: o primeiro são as drogas e o segundo os advogados. Claro que foram frases ditas sem pensar e estavam inseridas dentro do contexto da conversa de cada um dos momentos, mas de fato marcaram. Enquanto conversavamos as pessoas iam acordando e saindo de casa. Logo o Seu Cotô apareceu e começou a mexer em suas redes e demais materiais de pesca, inclusive usou uma canoa pequena e foi até seu barco, Dourado, que ficava ancorado próximo a margem. Rapidamente ele voltou e nos chamou para tomar café. O alemão pegou nosso pão sírio e o salame para fazermos uns lanches e fomos a cozinha da casa do Seu Cotô mais uma vez. Tomamos café conversamos, bastante e quando saímos, ficamos ali por perto, em uma espécie de pracinha que tem um banquinho e várias redes penduradas conversando. Seu Cotô iria sair para pescar com seus filhos e o polaco e nos convidou, perguntamos se não atrapalharíamos e fomos da canoa até o barco de pesca e partimos, em direção ao mar aberto. Talvez por ser um sábado, o canal estava cheio de voadeiras com pescadores de fora, com certeza alugaram os barcos em cananéia para pescar no canal. Por causa da maré baixa, havia um enorme banco de areia bem no meio da saída do canal para o mar aberto e foi lá que ancoraram o Dourado para pescar. Eu e alemão estavamos apenas observando, essa hora o sol já estava bem forte. Todos saímos do Dourado e ficamos no banco de areia, a técnica utilizada era mais ou menos assim: Um dos filhos do Seu Cotô e o Polaco seguravam uma das pontas da rede junto a praia formada no banco de areia, enquanto Seu Cotô e o outro filho iam de canoa fazendo um semi-circulo com a rede a medida que se afastavam da praia. Seu Cotô ia soltando a rede enquanto o filho mais velho remava a canoa, quando a rede terminava, levavam a outra ponta até a praia então começavam a puxar, dois puxando uma ponta e os outros dois a outra, até tentamos ajudar mas eu rapidamente desisti pois estava fazendo muita força e parecia que não ajudava em nada, o alemão até que insistiu e os ajudou a puxar toda a rede. Durante a primeira tentativa pegaram apenas um peixe, de uns 30 cm e que disseram ter muitos espinhos e a carne nem era tão boa e o acabaram soltando. Repetiram todo o procedimento e desta vez não veio nada. Hora de recolher a rede e voltar ao Dourado para retornar a casa do Seu Cotô. Assim que retornamos a mulher do Seu Cotô veio dizer que o almoço estava pronto e fomos convidados a almoçar com a família, e aí sim comemos muito bem, arroz, feijão, ovo frito e peixe, e devo confessar que a comida estava ótima.Depois do almoço novamente nos reunimos ao pé da árvore com um banquinho e algumas redes e ficamos ali conversando por um bom tempo. Seu Sebastião, dono do barco que iria nos levar no dia seguinte veio dizer que havia resolvido e iria para Paranaguá, o que foi muito bom, pois era melhor ir direto do que ficar em Guaraqueçaba ou na Ilha das Peças e procurar um meio de chegar a Paranaguá.

Esta tarde conversamos bastante com o Polaco, sobre diversos assuntos, ele mostrou ser uma pessoa bem informada e que sabe como é a vida em vários lugares do país, contou curiosidades sobre vários pontos do litoral brasileiro e também sobre o jeito que leva a vida. Esse papo também rendeu uma frase que marcou a viagem: "Quanto mais coisas você tem, mais tempo precisa perder para cuidar delas", o que é a mais pura verdade, até citou um amigo cheio da grana e que tem muitas propriedades então sempre está ocupado para cuidar de tudo o que tem ou então trabalhando para pagar todos os gastos que seus bens geram.

Achei bem interessante que a medida que iamos conversando, uns moleques da vila, crianças e adolescentes chegavam e ficavam ali prestando atenção na conversa, sem falar nada, e foi juntando uma galera. Até que o Polaco saiu para mergulhar e pescar, o alemão também saiu e eu fiquei um pouco, pra ver qual seria a da molecada, que estava ali antes prestando atenção. Ficaram quietos por algum tempo, só olhando o mar, a vila, e aquela tarde de sábado passar, o que pra eles não faz muita diferença, afinal todos os dias são praticamente iguais, independente de ser domingo ou quarta-feira. Até que começaram a conversar, e eu tinha que prestar muita atenção ao que falavam para entender, as vezes me pegava distraído com outra coisa enquanto falavam e eu percebia que não estava entendendo nada, o que chega a ser engraçado. Depois disso, vimos cenas que a muito tempo eu não via, um moleque se divertindo tanto com tão pouco... O moleque tinha uma espécie de prancha de madeira, que ele jogava na água, subia em cima, pulava, subia e deixava o corpo cair, tentava deslizar sobre a água com ela na parte mais rasa, e tudo isso com um sorriso no rosto, que não consigo expressar através de palavras. Depois disso o filho mais novo do Seu Cotô, que deve ter mais ou menos 17 anos foi lá e brincou um pouco com esse moleque. Assim que pararam com a farra, já estava se aproximando o fim da tarde, então eu e o alemão resolvemos entrar no mar, ali no canal, na praia que ficava a menos de 10 metros de onde estava nossa barraca. Não ficamos muito tempo, e também nem poderíamos pois seria dificil tomar banho depois que anoitecesse no banheiro sem energia elétrica. Depois do banho arrumamos mais ou menos as coisas e ficamos mais uma vez conversando na cozinha da casa do Seu Cotô, desta vez o Polaco estava junto, tomamos cataia, e falamos sobre a viagem do dia seguinte, que provavelmente contornariamos a Ilha de Superagui por dentro, pelo canal apesar de por mar aberto ser mais perto. Tudo dependeria de como o mar estaria, mas a chance de estar "bravo" era grande e indo por dentro a viagem seria mais longa. Seu Cotô comentou que iria conosco até Paranaguá pois havia aparecido um trabalho e que ele ficaria lá por volta de dois dias para fazê-lo.

Esta noite fomos dormir relativamente cedo, pouco depois de escurecer, afinal acordaríamos as 3h para desmontar a barraca e arrumar todas as nossas coisas para sair as 5h, hora que estava combinada com o Seu Sebastião.

 

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4º dia - De Barra de Ararapira a Florianópolis

 

As 3h da madrugada o celular estava despertando e nos levantamos, arrumamos nossas coisas e desmontamos a barraca, quando estávamos terminando já era possível perceber movimentação dentro da casa do Seu Cotô, ele também estava se aprontando para a viagem. Não poderia deixar de citar o céu repleto de estrelas que pudemos observar aquela madrugada. Um céu limpo e todo estrelado, como a muito tempo eu não via. Dentre todas as estrelas que enchiam aquele céu, uma se destacava com um brilho muito mais forte que as demais, mais tarde Seu Cotô nos contaria que aquela era a estrela Dalva. Terminamos de nos aprontar e mais uma vez estavámos prontos para seguir viagem, com a barraca desmontada e as mochilas prontas, Seu Cotô nos convidou mais uma vez para um café antes de irmos até a pier do Seu Sebastião.

Tomamos café, conversamos um pouco e saímos, para chegar a casa do Seu Sebastião era preciso atravessar a vila inteira, então, pela última vez teríamos visto de perto Barra de Ararapira. Não dava pra ver muita coisa porque estava bem escuro, além de ser noite de lua nova, por mais exagero que possa parecer o que mais iluminava o caminho era a estrela Dalva.

Fomos seguindo o Seu Cotô, eu confesso que não conseguia enxergar onde pisava, fomos por dentro da vila e depois pela praia até chegar ao barco do Seu Sebastião.

Embarcamos, era possível perceber que tinha mais gente no barco, só não dava pra ter certeza de quantas pessoas eram, ele logo ligou o motor e partimos, eu e o alemão estavámos um tanto quanto abobados com aquele momento, de madrugada, dentro de um barco de pescador, com um céu maravilhoso cheio de estrelas, dava uma sensação de liberdade indescritível. O alemão ainda viu uma estrela cadente cortando o céu. Com o barco já em movimento, como estavamos indo para dentro do canal ao invés de ir no sentido mar aberto, era possível observar luzes de algumas casas ao longo da Ilha do Cardoso. Estavamos navegando entre a Ilha do Cardoso (Cananéia/SP) e a Ilha de Superagui (Guaraqueçaba/PR).

A medida que adentrávamos o canal a empolgação ia passando, bem aos poucos mas ia, até que o dia começa a clarear e o sol começa a raiar. É fato, o Sol nascendo é muito bonito, principalmente quando você observa de algum lugar que te permita ver o horizonte, estando cercado de natureza por todos os lados. Conforme o dia ia ficando claro conseguimos ver que além do Seu Cotô e do Seu Sebastião, tinha uma senhora com uma criança no meio do barco e lá atrás, perto do dispositivo que dita a direção do barco (não sei se aquilo é um leme ou como chama) tinha alguém deitado com a cara coberta, depois quando ele acordou e se levantou pudemos ver que era um rapaz de uns 17 anos, provavelmente filho do Seu Sebastião. Logo a senhora e a criança desceram do barco, ficaram em uma vila que tinha Fátima no nome, ainda na Ilha de Superagui, as margens do canal.

Seguimos viagem pelo canal, enquanto o Sol ia ganhando altura e o dia ia ficando quente. Ao longo do canal pudemos observar algumas vilas, distantes uma das outras e dos dois lados do canal, Seu Cotô sabia o nome e alguma coisa sobre todas elas. Quando o Sol já estava bem forte, a forma que eu encontrei de me proteger, pois ainda estava com a pele bem queimada, foi colocando os braços para dentro da camiseta e ficando com os pés onde meu corpo fazia sombra, a perna estava protegida pois neste dia, já contando com isso eu estava de calça.

Durante a viagem encontramos com alguns outros barcos e lanchas que sempre faziam ondas (marolas) e faziam com que o nosso barco balançasse. Em alguns pontos, parecia que não estavamos saindo do lugar, a maré parecia estar contra e o motor do barco não parecia ser dos mais fortes, não cheguei a ficar com medo, mas nessas horas me questionava sobre o que poderia acontecer caso fossemos pelo mar aberto.

Quando eu estava começando a ficar irritado com o barulho do motor do barco que não parava (graças a Deus) nem um pouco na minha cabeça, e a viagem estava novamente começando a ficar cansativa, Seu Cotô nos mostrou que estavamos chegando a Ilha das Peças, onde ficaríamos caso os planos de Seu Sebastião não tivessem mudado. Contornamos a ilha e já era possível avistar o porto de Paranaguá e a Ilha do Mel. Nessa hora parecia que já estavámos chegando, pura ilusão. Desde o local de onde era possível ver o porto até onde descemos do barco ainda deve ter demorado quase 2h. Estavamos indo em direção ao porto, e cada vez mais nos aproximavamos dele (óbvio), mas não chegava nunca.

Achei interessante que chegando em Paranaguá pelo canal existem como se fossem os postes sinalizando o caminho que os barqueiros devem percorrer, conforme íamos nos aproximando, era possível perceber que os postes indicavam onde era mais profundo e não haveria risco de encalhar a embarcação, a nossa volta era possível observar muitos bancos de areia, onde a profundidade era de apenas poucos centímetros e se algum barco tentasse passar por ali com certeza teria problemas para sair depois.

Enfim chegamos bem perto do porto de Paranaguá, mas ainda não ficaríamos ali, o porto é para navios e grandes embarcações e tivemos que dar volta grande em mais um banco de areia antes de começamos a contornar a cidade pelo canal. Agora sim, estavamos chegando. Do canal era possível observar várias marinas e pouco mais a frente diversas construções antigas, com cara de "centrinho histórico". E foi no centro histórico que desembarcamos. Cumprimentamos pela última vez Seu Sebastião e seu filho e o Seu Cotô, agradecemos por tudo, mochila nas costas e partimos.

Tinhamos chegado a Paranagua, e agora começava a parte da viagem que não havíamos planejado, nosso objetivo era Floripa, mas ainda não sabíamos como nem quando conseguíriamos alcança-lo.

Perguntamos sobre a rodoviária de Paranaguá para ver se dali seria possível conseguir um ônibus direto para Florianópolis, indo em direção a rodoviária, avistamos um Hostel, famoso entre os mochileiros e fomos até lá, ver se era possível tomar um banho e especular preços, caso fosse necessário passarmos a noite em Paranaguá.

Tomei um banho muito firmeza, coloquei uma roupa + ou - limpa e saí de lá renovado, embora já estivesse suando porque estava muito calor.

Fomos até a rodoviária e encontramos ônibus para o mesmo dia para Floripa. O ônibus saíria as 16h, como ainda eram pouco mais de 14h deixamos as mochilas em um guarda-volumes e saímos para almoçar e conhecer um pouco a cidade.

Almoçamos muito bem, a fome era grande pois neste dia havíamos comido apenas uma barra de cereal.

Depois do almoço saímos andando pelo centro histórico da cidade pois ainda tinhamos algum tempo até a partida do ônibus.

Talvez por ser domingo a tarde e ali possívelmente ser um centro comercial, as ruas estavam vazias e os imóveis fechados. Não precisamos andar muito e chegamos à praça da igreja, onde o alemão foi mais rápido e eu fiquei para trás pois estava tirando fotos das ruas e falando ao celular.

Quando o alemão pisou na calçada da igreja um sujeito estranho, meio suspeito dobrou a esquina e foi andando em sua direção, detalhe além da pinta de gringo perdido meu parceiro estava com a camera digital na mão e tirando fotos. Só fiquei vendo de longe.

Ainda bem que o alemão entrou na igreja, nessa o sujeito passou direto pela porta e dobrou a outra esquina. Sem que ele me visse fui até a igreja e falei pro alemão que o cara tava de olho nele, pra gente ficar esperto. Fui andando em direção ao altar e vi o cidadão tomando água dentro da igreja, havia entrado por uma porta lateral e estava em uma sala auxiliar bebendo água, aí ele ainda não havia me visto. Voltei, contei pro alemão e saímos pela porta principal da igreja, voltando pela praça, descendo sentido a rodoviária, vimos o meliante voltando, desta vez já estavamos os dois juntos e bem longe de onde ele nos viu, para nos alcançar teria que correr, e se corresse, também correríamos. Cortamos a primeira rua e voltamos para a parte de baixo, as margens do canal, onde estava mais movimentado. Talvez não fosse nada, mas tivemos a impressão de que seríamos no mínimo abordados. De volta a parte baixa, o alemão perguntou a mais umas três pessoas sobre uma fonte, que havia sido inaugurada a pouco tempo na cidade e ninguém sabia informar, até hoje tenho minhas dúvidas sobre sua real existência. Atravessamos uma espécie de ponte sobre o canal para ver o que tinha do outro lado, chegamos a um lugar que parecia ser um bairro residencial e resolvemos voltar.

Desde o possível assaltante passamos a ter a impressão de que todos estavam nos observando naquele lugar. É como se estivessemos em uma cidade pequena, onde todo mundo conhece todo mundo e sabe quando tem alguém de fora no lugar. Por esse motivo, desistimos de continuar andando e resolvemos permanecer na rodoviária até que o ônibus saísse.

Ainda na rodoviária, enquanto esperavamos o ônibus, estavamos pensando sobre o que faríamos ao chegar Floripa, pois chegaríamos perto de meia noite sem conhecer nada. Foi aí que o alemão ligou pro Himura e pediu para pesquisar alguns hotéis baratos e perto da rodoviária de Florianópolis. No primeiro momento ele desacreditou, mandou agente ir em lan house, mas concordou em fazer a pesquisa. Estamos esperando a resposta até agora. Dias depois, quando já havíamos retornado, no churrasco de aniversário do Volks, ele mostrou a mensagem com os nomes e telefones dos hotéis, mas ela nunca chegou aos nossos celulares.

Chegada a hora, embarcamos, mesmo sem saber o que faríamos ao chegar em Florianópolis. O jeito seria arrumar uma forma de ir até o norte da ilha, até Canasvieiras e procurar um camping, informação que a minha namorada tinha conseguido antes de saírmos de casa.

Entramos no ônibus, era um semi-leito marotissímo e eu pensei que fosse durmir a viagem inteira por vários motivos, pelo conforto - pode não parecer, mas quando você está a 3 dias durmindo em barraca, sendo que uma das noites foi muito mal durmida e na outra teve que acordar as 3h da madruga, um ônibus de viagem passa a ser muito confortável, pelo cansaço, pelo almoço marotíssimo, mas, não conseguia dormir de jeito nenhum. Apesar de estarmos no fundo do ônibus, do lado do banheiro e do compartimento com copos de água mineral que eram frequentados ininterruptamente pelos passageiros que abriam e fechavam aquelas portas a todo momento isso não me incomodou nem um pouco. O que mais me incomodava era uma família argentina que estava sentada na poltrona à frente do banheiro, era um casal jovem que tinha uma menina de aproximadamente 5 anos que era muito chata e não calava a boca. Além da voz irritante eu não entendia nada que ela falava.

Mas tudo bem, não foi isso que fez com que minha viagem fosse ruim, no começo pensamos que antes de Florianopolis o ônibus iria até Curitiba, mas depois percebemos que não. Pegamos até um pouco de trânsito em um trecho da rodovia, mas normal, nada que abalasse. Pouco depois o ônibus começou a ganhar velocidade novamente e não demorou muito chegamos a cidade de Matinhos e a atravessamos, parece ser uma cidade bonita e tranquila. Estavamos parados mais uma vez no transito, desta vez em uma descida, de onde era possível ver o mar e uma balsa atravessando veículos para o outro lado, até pensamos que era algum farol, mas não, estavamos na fila da balsa. O ônibus entrou na balsa, saímos, tiramos fotos e assim chegamos a cidade de Guaratuba, também muito bonita. Atravessamos a cidade e mais uma vez estavamos na estrada. Pouco a frente atravessamos mais uma fronteira, desta vez entre os estado do Paraná e Santa Catarina. Durante a viagem o ônibus ainda entrou e foi até as rodoviárias de Joinville e Blumenau onde desceram alguns passageiros.

Depois disso, anoiteceu e eu finalmente durmi, só acordei quando alemão já me chamou, estavámos terminando de atravessar a ponte que liga o continente a ilha de Florianópolis, haviamos chegado.

Era 23h30 quando desembarcamos, pegamos nossas mochilas, passamos da plataforma de desembarque para dentro da rodoviária e já apareceu um sujeito dizendo: "Informaciones? Informaciones?". Agente ainda meio assustado, afinal estavamos em um lugar totalmente estranho, não conheciamos nada e ainda estavamos nos localizando, acabamos dizendo que não precisava, que nos localizariamos e iriamos pra onde estavamos indo, seja lá onde fosse.

Enquanto o alemão fuçava no celular a procura de um sinal wi-fi para pesquisar um local no google eu fui até a frente da rodoviária perguntar aos taxistas sobre Canasvieiras, se era longe dali e quanto saíria a corrida, pois pensei que a essa hora não encontraríamos mais ônibus para lá. Disseram que era longe, a uns 30 km e que o táxi saíria em torno de 60-70 conto. De volta ao saguão da rodoviária, já com a idéia do táxi descartada o alemão estava na internet, e com a pesquisa do google pronta para "camping canasvieiras", telefonou no primeiro resultado e fomos informados que só recebiam pessoas até meia noite, como só faltava 20 minutos, estavamos a 30 km de distância e não fazíamos idéia de como chegar lá descartamos esse. Ao ligar no segundo resultado, Camping Caminho do Rei, fomos informados de que poderíamos chegar a qualquer horário e o preço era de R$ 15 por dia por pessoa para acampar. Demorô, é pra lá que estamos indo.

Nos informamos com alguns funcionários da rodoviária, e ficamos sabendo que ali perto da rodoviária tinha um terminal de ônibus e que de lá saía ônibus todas as partes da cidade. Fomos em direção ao terminal, a essa altura estavamos começando a constatar uma das coisas que o polaco nos disse em Barra de Ararapira, que é difícil entender o que os manés da ilha de Florianópolis falam.

Realmente o terminal era bem próximo da rodoviária, embora tudo ser bem tranquilo confesso que estava com um pouco de receio, afinal de contas estavamos em uma cidade grande, onde não conheciamos nada, de madrugada e pagando de turista. Graças a Deus foi tudo bem, rapidamente localizamos o local de onde saíria o ônibus para Canasvieiras, conversando com uma funcionária da empresa de ônibus ficamos sabendo que teríamos que descer no TICAN (Terminal de Canasvieiras) e pegar outro ônibus, um circular que roda pela região norte da ilha e descer no centrinho de Canasvieiras, e de lá procurar uma maneira de localizar o camping Caminho do Rei. Não demorou muito e ônibus chegou, embarcamos e lá fomos nós, por Florianópolis, de madrugada, sentido norte. No começo, ainda no centro da cidade, a cara era de cidade grande, muitas avenidas e prédios. Não demorou muito o ônibus entrou em uma rodovia, já cercada de mata e realmente foram uns 30km, não era história do taxista. Quando pensamos que tinha chegado o ônibus entrou no Terminal de Santo Amaro (se não me engano), não descemos, rodamos mais um pouco e finalmente desembarcamos no TICAN. Mais uma vez fomos conversar com funcionários da empresa de ônibus, dessa vez juntaram vários, cada um com uma opinião diferente, até que entraram em consenso. O melhor a se fazer era ir no circular até o centrinho de Canasvieiras e pegar um táxi até o camping pois não era tão perto. E lá vamos nós, entramos no circular, que nos deixou na esquina da Avenida das Nações com a Rua Madre Maria Vilac, bem no meio do movimento, gente andando para todos os lados, muitos bares e baladas, pelo menos essa foi a minha primeira impressão, depois pudemos notar que não era tudo isso.

Estavamos na esquina, no meio da muvuca, tentando ver no mapa no celular do alemão para onde iriamos e já colou um maluco dizendo que fazia serviço de táxi, querendo saber para onde iriamos e tal. Eu fiquei com receio, mas o alemão já foi logo dando a letra que iriamos para o camping e por quanto sairia a corrida, o cara fechou com agente R$ 10 e nisso chamou outro cara, que disse ser seu sobrinho para nos levar. Nisso já veio um cara mais novo, gente boa, trocando idéia e abriu o porta malas de um Voyage prata, que não tinha nenhuma identificação de taxi. Eu estava achando estranho, mas fui né. Colocamos as mochilas no porta malas, entramos no carro e saímos, pouco tempo rodando e o cara já começou a dizer que o tanque do carro tava seco, que precisava abastacer urgente e não sabia onde encontraria um posto aberto aquela hora. Aí meu pensamento já foi a mil, você já tá com medo, não conhece nada, achando a situação suspeita e o cara ainda dá dessa, só pensava assim: "mano, se esse cara sumir com agente aqui agora fudeu, ninguém mais acha". Mas aí o cara foi em um posto, eu já dei os R$ 10 que estavam combinado, o cara abasteceu só os 10 e de fato o ponteiro de combustível nem mexeu, tava só no cheiro. No posto o cara conhecia todo mundo, brincou com os frentistas, e eu não sabia se isso era bom ou não. Saimos do posto e já estavamos praticamente no camping, ele nos levou ao endereço que estava no site, na Rua Tertuliano Brito Xavier, mas lá era só o fundo do camping, a entrada ficava do outro lado, era preciso contornar todo o quarteirão. Mas tudo bem, o cara levou agente lá de boa e até esperou pra ver se agente ia ficar lá mesmo. Graças a Deus deu tudo certo. No camping, conhecemos o Alex, figuraça esse cara. Era ele que tomava conta do camping a noite. Já era mais de 1h da madrugada e ele foi nos mostrar o camping e os lotes disponíveis, onde poderíamos montar a barraca. Escolhemos ficar no meio do camping, do lado de umas pedras grandes, a noite o lugar pareceu ótimo, depois descobrimos que não era um dos melhores lugares, inclusive que certa vez o camping estava lotado, só havia uma vaga e era bem aquela - RS. Toiço é toiço. Mas tudo bem, já fazia quase 24h que havíamos acordado em Barra de Ararapira e quase 24h que estavamos viajando, para chegar ali. Esse com certeza foi o dia mais longo de toda a viagem. Enquanto montavamos a barraca o Alex ficou junto, trocando a maior idéia, contando como era Florianópolis, como era aquele bairro onde estavamos, o que tinha de bom, o que tinha de ruim, muito gente boa o cara. O alemão já tava zumbizando essa hora, só queria dormir, eu ainda tava acelerado, igual criança, lugar diferente, medo de me lascar, então tava aproveitando pra conseguir o máximo de informações que o Alex pudesse passar. Esqueci de comentar que a essa hora o Alex já tava bebado, quando chegamos percebemos o cheiro de álcool, mas de boa, ele não tava ruim nem nada, depois descobrimos que ele faz isso direto. Como tem que ficar a noite toda acordado ele chapa mesmo - RS, e tudo assim, de boa.

Terminamos de montar a barraca e o alemão já caiu pra dentro, capotô, eu ainda fui tomar um banho antes, até para dormir melhor.

 

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Resumo dos dias em Floripa:

 

 

Florianópolis

1º dia - Centrinho Canasvieiras - a tarde - Ponta das Pedras, Praia Canasvieiras, Praia da Cachoeira até a Ponta das Canas, noite Centrinho Canasvieiras

2º dia - Praias de Jurerê, Jurerê-Internacional, Fortaleza de São José da Ponta Grossa e Praia do Forte, volta de ônibus, chegamos a noite, tomamos banho, fomos dormir um pouco para sair a noite e dormimos direto

3º dia - Centro de Florianópolis - conhecemos o centro da cidade, comemos, vimos a ponte famosa lá e compramos as passagens para volta

4º dia - Role de carro com a Marlene - Praia Mole, Praia da Galheta, Lagoa da Conceição, Dunas da Joaquina, Praia da Joaquina, role a noite no centrinho de Canasvieiras, balada argentino-teen Porto Night, zuada, ganhei bebado do Caio no WE PS2...

5º dia - Praia da Daniela e Praia do Forte, a noite primeiro dia do Planeta Atlantida, alemão saiu para vender cerveja com a Marlene e eu fiquei jogando baralho e fazendo amizade com a garotada no camping...

6º dia - Busão até o Terminal de Santo Amaro, de lá praia do Santinho, passando pelos Ingleses - Praia do Santinho, Alto do Costão de onde era possível ver a praia do Santinho, Praia e Dunas dos Ingleses, Praia de Moçambique, depois trilha pelo costão até a Praia de Moçambique, onde os cachorros não nos deixaram entrar na praia, retornamos a praia do Santinho, o alemão foi comer e eu fui no mar, dpois voltamos de busão para o camping, para desfazer a barraca, tomar um banho e arrumar as coisas para ir embora...

 

Assim que escrever com detalhes os dias em Floripa volto e faço outro tópico.

 

Abraço

 

e parabéns se vc conseguiu ler tudo...

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