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saba_celina.jpg

Eu, Sabá, Celina e Silvanede - aqui foi a nossa casa: Celina e Sabá são descendentes de escravos da região do Curiaú (região quilombola).

"Ter conhecido o Sr. Sabá e D. Celina foi um dos principais acontecimentos na Viagem pro Amapá".

 

“Amapá, aqui começa o Brasil...”

 

No dia 19 de maio de 2007, viajamos para Macapá com 2 objetivos em mente:

- O primeiro era concluir as pesquisas de levantamento da área do Curiaú para fins da conclusão do mestrado da Silvaneide.

 

Curiaú: formado por uma populção remanescente de quilombo e dotada de uma exuberante beleza natural, que hoje se constitui a vila do Curiaú. Localizado a 15 quilômetros do centro de Macapá.

 

- Fazer um levantamento da área de Macapá-AP para uma possível trilha interestadual.

 

Mas na verdade ao sair de Belém eu sabia que ambos os objetivos iriam se compartilhar.

 

Pois bem, antes de chegar ao aeroporto, recebi uma ligação do Alan Tamer, que iria para Macapá em outra companhia aérea. A ligação foi no intuito de alertar-me do atraso do meu vôo. Isso me deixou tranqüilo, pois já estávamos atrasados.

 

Chegando no aeroporto, fazendo o cheking, a moça verificou as bagagens e informou-me que eu teria que pagar uma taxa pelas bikes. Mas respaldado disse o seguinte:

 

- Olho só, no dia da confirmação das passagens, eu liguei para o 0300 e falei com a Vivian, que trabalha em vossa companhia, e informou-me que eu tenho direito de levar até 23kg, seja lá o que for. Passei o horário da ligação e logo ela chamou a supervisora. Pediu as nossas carteiras federação, e eu informei que não tínhamos.

 

- Vocês tem a carteira da federação?

 

- Infelizmente não, não estão conosco no momento.

 

- Vocês tem alguma outra bagagem adicional?

 

- Informei que não, era só aquilo e nosso camelback (que continham nossos objetos pessoais e algumas mudas de roupa).

 

Ai ela deu a ordem para moça atendente continuar os procedimentos.

 

Quero deixar registrado aqui que fomos muito bem tratados pela companhia Gol no cheking. Elas foram muito compreensíveis e educadas.

 

Bem, passando por essa etapa, chegamos na alfândega, onde iriam passar o raio-x em todas as bagagens de mão. Na minha a moça viu várias coisas estranhas, e o agente da PF me perguntou o que era.

 

- São coisas pra bike e pro mato.

 

- Eu gostaria de ver essas coisas do mato...

Ok, abri a parte maior do camelback e comecei a espalhar as roupas no balcão. Ele gostaria de ver um objeto pontudo. Mostrei o meu câmbio reserva e pronto, tudo ok, deixou passar.

 

Na verdade não tinha apenas um simples câmbio, e sim um canivete com uma faca super afiada que esqueci de tirar.

 

Quero deixar registrado aqui a falha da PF quanto esse procedimento, pois em mãos errada esse objeto poderia causar sérios danos no vôo.

 

Pois bem, já dentro do avião não fiquei na janelinha, que pena, porque eu queria ter fotografado muita coisa, mas mesmo assim consegui algumas.

 

Sentei ao lado de uma senhora já de idade, e ela não largava um terço, estava com muito medo. E eu ainda passando a viagem todinha o braço na frete do rosto dela pra tirar as fotos.

 

Essas senhora ficou com mais medo ainda, apertou com mais força o terço quando o comissário de bordo começou a falar os procedimentos se houvesse uma pane. Eu acho isso um absurdo, porque a pessoas já entra nervosa, com um medo danado, e o cara só fala desgraça, tipo:

 

- Senhores passageiros, informo que se houver a despressurizarão desta aeronave, mascaras de ar cairão...

 

- Senhores, informe que esta aeronave tem poltronas que bóiam na água no caso de uma possível queda no mar...

 

- E ainda, as poltronas devem estar em estado de 90° em caso de queda. E não esqueçam a bandeja da poltrona aberta, certifique-se que ela esteja fechada e travada...

 

- Ou, temos 8 portas de emergência para caso de queda...

 

Coitada da velhinha, ela rezava mais forte a cada informação dada.

 

Eu concordo que tenha que haver essas informações, mas de forma otimizada, onde a entonação passe que seja quase impossível acontecer.

 

Ele poderia falar também de coisas alegres, pra descontrair, como algumas informações turísticas do destino.

saida_belem.jpg

Belém já fica pra trás...

 

rota_voo.jpg

Cortamos toda a ilha do Marajó na sua diagonal.

 

Algumas informações do vôo:

Velocidade média de taxiamento: 25km/h.

Empuxo ai sair pra decolagem: de 0km/h a 100km/h em 4.5 segundos.

Velocidade de decolagem: 340km/h.

Velocidade máxima no vôo: 890km/h.

Altitude máxima no vôo: 9.735mt.

Velocidade de aterrisagem: 280km/h.

 

Obs.: O trajeto Belém Macápá é tão curto que a aeronave não consegue atingir a altitude de cruzeiro, que é de 11.000mt a 13.000mt.

 

Mas vamos voltar ao mérito da questão...

 

chegada_macapa.jpg

Ae, solo amapaense...

 

mapa_trajeto.jpg

 

Chegando em Macapá, fomos para a sala da esteira das bagagens, e por lá já nos esperava o Bruno, já conhecido de algumas trilhas aqui em Belém. Ele me informou que o Fernando estava lá fora nos esperando, já a caráter pro pedal (cabra gente boa, pessoa do bem mesmo). O conheci pela Internet antes de partir pra Macapá em uma das pesquisas.

 

Pegando os malas-bike, que era a nossa única bagagem de peso, fomos para fora do aeroporto montar as bikes. O Fernando se aproximou e ajudou a Silvaneide, enquanto eu montava a minha. Nessa altura o Bruno tinha ido trocar de roupa e pegar a bike. Marcou com o Fernando pra nos encontrar em um ponto.

 

Eu até que levei o bagageiro pra transportar os malas-bike, mas achei que seria muito incomodo andar com eles. Verifiquei no aeroporto um serviço de guarda-volume, e lá mesmo ficaram os malas-bike (agradecimentos a Dani Araújo e ao Thiago da Pé de Roda por me emprestar.

 

Vamos lá, bikes montada saímos no pedal na capital amapaense. Logo chegamos no ponto marcado com o Bruno, e depois de uns 10 minutos ele chegou.

 

O destino naquele momento era a região do Curiaú: O objetivo do dia era concluir o trabalho da Silvaneide.

 

As ruas de Macapá são largas, e o transito é muito perigoso, porque os carros sempre estão em alta velocidade. Mediante isso pedimos que o Fernando nos levasse por ruas de poucos movimentos. Além disso as ruas são um sobe e desce danado, podendo fazer algumas trilhas mesmo na cidade.

 

Bem, porque digo que podemos fazer trilhas na cidade: Macapá é uma cidade muito bonita, porém maltratada. Tem grandes avenidas no centro, mas em muitas das transversais o estado é precárias, esburacadas, em algumas parecem a Pirelli. Por isso possivelmente boas trilhas. Andamos pelo subúrbio, e a pobreza impera. Pareceu-me um povo apolítico. Com alguns que falei, me disseram que só aparecem por lá em meados de eleição (espero que nas próximas eleições cumpram o seu dever de voto, e saibam escolher a pessoa certa. Analisando o passado e o presente de cada político, e que não se vendam por voto).

 

No rumo de Curuaú a chuva já começava a formar-se, e poderia atrapalhar os trabalhos. Já estávamos dentro da zona do Curiaú e fomos visitar algumas pessoas de conhecimento da Silvaneide.

 

Logo chegamos na casa do Sr. Sabá, personagem muito importante daquele lugar (local onde íamos pernoitar). Ele é o tipo da pessoa que em apenas um olhar pode te responder várias perguntas. Ou com apenas uma palavra pode resolver questões que para alguns são uma problemática, mas para ele é simples.

 

Publicou um livro que se chama: "Curiaú: A Resistecia de um Povo".

Autor: Sebastião da Silva Nunez.

 

Vale a pena conferir!

 

Um exemplo: o Curiaú tem um museu, que é aberto de segunda a sexta (não tive o privilégio de visitar). Quando um visitante tenta aprofundar-se em determinados assuntos, as monitoras do lugar mandam que a pessoa procurem o Sr. Sabá, pois ele saberá responder as perguntas.

 

Pessoas também como a Sr. Celina (esposa do Sr. Sabá), não podem ficar despercebidas. Quem diria que a Presidência da República já se rendeu as mãos de ouro daquela caboca amapaense. O bolo de laranja da mulher é fantástico, tamuatá, camarão no bafo, moqueca de peixe etc... Esses foram os cardápios por lá.

 

Foi tão pouco tempo naquela casa, e tantas estórias. Penso que juntando alguns personagens de algumas outras viagens, como a de Maiandeua, Serra do Piriá e agora Macapá-AP. Daria um mundo e tanto...

 

No domingo acordamos por volta de 06:30h, ficamos ainda no churrasquinho (pra lá e pra cá, pra lá e pra cá na cama), até despertar mesmo, acho que era umas 06:45h. Tínhamos marcado com o Fernando e o Bruno as 09:00h no Marco-Zero, bem no centro de Macapá.

 

Na ida teríamos que marcar alguns pontos no GPS, para o trabalho da Silvandeide, era caminho.

 

Entramos em algumas trilhas no Curiaú, mas por falta de tempo não adentramos mais. Ao entrar em um ramal na invasão Ipê (faz fronteira com o Curiaú), égua do ramal louco. Cada vez que o meu pneu girava, mais ia acumulando lama.

 

trilha_curiau.jpg

Trilha no Curiaú...

 

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Desde quando comecei a pedalar, nunca tinha parado pra tirar a lama do pneu. Simplemente a roda dianteira travou de tanta lama.

 

Ficou complicado, o cambio da Silvaneide acumulou tanta lama na roldana, que travou e quebrou a gancheira do câmbio. Ai, ai, ai, e agora?!

 

Pensei até em ligar pro Alan Tamer, que estava por lá também. Mas pensei, de férias, o Alan não iria lembrar de trazer uma gancheira pra cá.

 

Começamos a andar atrás de uma oficina. Estávamos em uma parte periférica da cidade, longe do centro. Achamos uma oficina, mas neca neca de gancheira. Pois bem, pedi que ele colocasse só em uma lamina a corrente, ai partimos em busca de uma loja. Ali iniciei uma conversa com aquele mecânico, e ele me informou da seguinte maneira:

 

- Rapá, nós somos de Belém, viemos passar o final de semana aqui atrás de trilhas, sabes onde posso encontrar algumas.

 

- Cara, pegando a BR-156 tem muitas. Em Mazagão também tem outras. Mas é uma pena que não posso ir com vocês. Se fosse no sábado eu iria. Mas, agora, se queres passeio mesmo, vai em direção a Serra do Navio, lá é coisa de cinema cara. Você vai ver cada coisa fantástica.

 

Eu já pesquisei algumas coisa sobre a Serra do Navio, e os relatos que li eram de fato bem contundentes. Mas depois de toda a convicção que o mecânico daquela oficina falou, penso que tenho que ir por lá...

 

Já pedalando em uma única lámina, saímos de lá em busca de uma loja pra compra a gancheira. Foram indicadas várias, e nada. Em uma tinha o mesmo quadro, mas a gacheira nada. A Silvaneide até perguntou o valor dele, será se ia comprar pra tirar a gancheira, vai saber...

 

Já passavam das 10:00h e resolvemos ir ao encontro de nossos companheiros (nós já bem atrasados), pedalamos um pouco mais e chegamos no Marco-Zero, umas das minhas curiosidades de Macapá-AP.

 

Nossos anfitriões não estavam mais lá, perguntamos para o guarda e ele nos informou que já tinham passado por ali.

 

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O monumento Marco zero é localizado exatamente sobre a linha imaginária do Equador, é formado por um gigantesco relógio de sol, através do qual pode-se apreciar no Equinócio, fenômeno solar que acorre nos meses de março e setembro.

 

O Equinócio é quando a terra fica simetricamente iluminanda pelo sol, tanto o hemisfério norte como sul. Por isso podemos ver o sol exatamente dentro do relógio.

 

Macapá é a única capital do país, e uma das poucas cidades do mundo, cruzada pela linha do Equador.

 

OK, não foi em vão o atraso. Subimos e fizemos várias fotos solitárias. Mas logo nossos companheiros do pedal chegaram e integraram-se a nós.

 

todos_pontozero.jpg

Silvaneide, eu, Fernando, Bruno e o primo do Bruno: Uma perna no hemisfério norte e a outra no sul (aqui é o meio do mundo).

 

O Bruno muito gentil da parte dele, ofereceu pra irmos a casa dele, pegar o carro e irmos atrás da gacheira em outras lojas.

 

Chegamos a casa do Bruno e fomos recebidos pelo pai e mão dele (pessoas de altíssima grandeza). Naquele instante o companheiro Fernando nos deixava também (valeu Fernando, certamente ainda vamos pedalar muito).

 

Pegamos o carro e já eram quase 12:00h, chegamos até em uma distribuidora e nada. O Jr, não sei se proprietário ou gerente daquele recinto foi muito cordial e atencioso. Mesmo sem ter a peça ele nos informou de várias pessoas e até ligou pra ver a possibilidade.

 

Não achamos mesmo, foi o jeito a Silvaneide andar sem câmbio, árdua tarefa essa.

 

O Bruno nos convidou para almoçarmos com ele antes de seguirmos para o Curiaú (na sua casa de final de semana). Convite aceito partimos para o Tuaré, local muito agradável a beira do rio Amazonas.

 

ar_ecologico2.jpg

Ar-condicionado ecologicamente correto: reparem nas entradas de ar na parte superior da parede. Aqui o vento vem do rio Amazonas.

 

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Agora dentro o ar é distribuido por canais de ventilação por toda a casa. E forte mesmo, coloquei a mão e deu pra sentir o vento.

 

Churrasco a mesa, e grande destaque para a torta de limão (repeti 2 vezes).

 

Após o almoço, e admirar bem o local, nos despedimos e o Bruno nos levou de volta a casa dele para que pegássemos as bikes.

 

Seguimos em direção ao forte, outra curiosidade. Confesso que aquela obra me impressionou bastante. É um lugar muito bonito em Macapá, pena que vimos somente externamente.

 

forte_longe.jpg

Ao fundo a muralha do Forte.

 

chegada_forte.jpg

Paidégua...

 

No forte ainda tivemos duas surpresas:

 

1ª:

tribo_eu.jpg

Ae, o Diego manda ver com a galera de cross: quando estávamos tirando fotos do forte, apareceu por lá uma tribo de cross (pouco doidos). Pena que quase todos estavam sem capacetes, mas vamos conscientizá-los).

 

2ª:

tribo2.jpg

Mas adiante, encontramos a turma de trilha Sinal Verde. Eles nos escoltaram até o Curiaú, valew galera!!

 

Ao chegar em uma cidade que você não conhece, acho muito paidégua quando encontro grupos pedalando. Isso me faz pensar que ao pedalar eles estão longe de drogas e bebidas.

 

Dali partimos de volta ao Curiaú, um longo pendal ainda, já que a Silvaneide estava sem cambio, e algumas vezes tinha que descer da bike para subir as ladeiras.

 

Chegamos por volta de 16:50h. Com o sol ainda forte, fomos no restaura onde a Celina trabalha. Sentamos na beira de um dos lagos do Curiaú, pedimos um camarão no bafo e aproveitamos a beleza do local.

 

rio_curiau.jpg

Um dos lugares a beira dos lagos do Curiaú.

 

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Ponte para a ilha Piauí (uma das diversas ilhas do Curiaú).

 

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Já na ilha Piauí...

 

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Trilha na ilha...

 

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Ae, a mascote da viagem...

 

placa_eart.jpg

...

 

O Macapá e especialmente o Curiaú deixaram muitas saudades por diversos aspectos analisados, dentre eles o seu eco-sistema e raça de um povo que tem toda uma história naquele estado.

 

Saímos de Macapá com a certeza de que aquele povo adora o paraense. Lá somos um ponto de referência por todas as pessoas que conversei. Foi muito bacana saber disso.

 

Eu sei que as vezes eu sou muito profundo em meus relatos, que saio do contexto bike. Mas é que é super importante notar as diferenças de comportamento da sociedade, os sabores, o cheiro, ir lá e sentir as coisas. Usando sim a bike como meio, de outra forma eu não teria esses sentidos.

 

Até a próxima aventura...

 

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Na viagem pra Macapá encontrei essa curiosidade:

banheiro_gls.jpg

o Alan é nativo daquela cidade. Será que ele migrou a idéia para a barraca também...vai saber!

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