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  1. Estamos na patagônia e a temperatura está pouco acima de zero. Venta e o sol está escondido pelas nuvens. Vez por outra, pode se sentir uma leve garoa. Sensação térmica precisamente descrita por “de bater os dentes”. O caminho, muito bem marcado, não deixa dúvidas: - “Temos que atravessar o rio.” Não há pontes e não é possível saber sua profundidade. Tiramos a bota, as meias e as calças. Chinelo nos pés, botas e calças pendurados. Avante! A correnteza não parece que vai derrubar ninguém, mas é forte o suficiente para manter a tensão a um nível respeitável. O chão de todo o vale por onde se caminha são de pedras irregulares, que sozinhas, já tiram o seu equilíbrio e dificultam a caminhada. E agora essas pedras estão submersas e invisíveis. Você sente a correnteza te empurrando. Os pés doem pelo frio da agua. Os bastões são empurrados pela correnteza. Se você cair, ficar molhado é a menor preocupação. Sua preocupação pesa mais de 20 kilos e está em suas costas. Cair no rio é ter o saco de dormir encharcado. É a máquina fotográfica perdida. É sua comida inutilizada. Não haverá refúgios para se secar, nem onde conseguir comida, vai amargar o prejuízo de sua máquina perdida e não levará nenhuma foto para casa de lembrança. Muito mesmo a perder.... Por isso o passo é lento. A caminhada é tensa. O andar cauteloso. Há muito em jogo, muito a perder! Chegou do outro lado. Sentar no chão frio, secar os pés, se vestir, colocar a bota e seguir em frente. É estranho, mas não há sensação de alívio pela superação deste obstáculo. Isso porque ele não foi o primeiro e está bem longe de ser o último. Na verdade, até o final desta travessia, se cruzam mais de duas dúzias de rios iguais ou piores a este. Quer fazer essa viagem? Se lidar com isso for muito para você, pare por aqui. Existem outras viagens. Essa travessia, definitivamente, não é pra você. Agora, se você consegue lidar com essa situação e manter o bom humor e até mesmo estampa um sorriso no rosto.... bem, seu problema é grave. Recomendo ajuda profissional urgente. Um psicólogo deve ajudar. RESUMO RÁPIDO A QUEM QUER FAZER A VIAGEM NÃO tem muitas informações na internet. Use a cara e a coragem. Nível de dificuldade, para quem é autossuficiente, cruza rios, é bem baixa(!). Apesar disso, acredite, é um circuito popular. Houve um dia que cheguei a cruzar 15 pessoas na trilha, metade deles eram chilenos. Só não vi um único brasileiro.... http://www.wikiexplora.com/index.php/Valle_Aviles_(English) http://www.parquepatagonia.org http://www.cochranepatagonia.cl/ http://www.chilechico.cl/ http://www.kalapalo.com.br/index.php/expedicao-parque-patagonia-2014-relato-e-fotos/ http://pt.wikiloc.com/wikiloc/view.do?id=5981347 CALÇADO PARA CRUZAR RIOS em Jeinimeni – ALERTA! NÃO há formula vencedora, sempre há um porém! É uma caminhada por um vale, o rio serpenteia de um lado para outro, você precisa cruzar por dentro dele várias e várias vezes. De um rio para outro eles podem estar muito próximos ou muito distante, isso é, você anda 50 metros ou 1km até cruzar de novo. NÃO é possível avistar nem adivinhar essa distância . O terreno, dentro e fora do rio, é puramente de pedras soltas. Escolha: - Descalço / havaiana é possível, porém, com cuidado. Vai ter que tirar e botar a bota uma dezena de vezes por dia, o que enche o saco e consome muito tempo.... - Croc / Sandália. Deixa a bota na mochila e anda o tempo todo assim. Você não perde tempo tirando e botando calçado mas.... vai andar mais lento por não estar de bota. O terreno de pedras fora do rio não permite rápido avanço com calçado tão frágil. - Tenis / bota leve que molhe. Calçou e avançou, molha, entra e sai. Vai andar bem rápido no chão seco ou no rio, perfeito!(?)... mas após o segundo dia, esse calçado será quase inútil. Daqui pra frente ele vira um peso morto na mochila. PARA O NORTE OU PARA O SUL? - Pela altimetria, melhor ir pro sul. Mas não é nada demais subir uns metrinhos. - Pela orientação melhor ir pro norte. A trilha é propositalmente escondida sentido sul, sem GPS eu a teria me perdido. - Na altíssima lotação de jan/fev não haverá ônibus suficiente mas haverá abundante carona, vá sentido norte. - Off season ônibus não será um problema, já a carona... terminar em Jeinimeni, sem saber quando alguém te leva para cidade, ou andar 70 km é uma aposta terrível. Vá para sul. DICAS Transporte é um problema! Não tem ônibus nem pra hoje, nem pra amanhã, caronas são disputadas com dezenas de mochileiros na estrada. Tenha dias reserva!!! Sem GPS? Faça o trajeto de Cochrane até Jeinemeni (de sul para norte). Invertido, o caminho não tem erro. Dinheiro torna tudo possível, mas cartão de crédito, apenas nos grandes estabelecimentos. Coyhaique é SUPERLOTADA. Não tem vaga. Afaste-se o máximo possível do centro para achar uma vaga em hospedagem. EPILOGO (INFORMAÇÕES CHATAS E NECESSÁRIAS) DIA 6 e 7 de fevereiro – O transporte Saimos em 3 de SP, eu, um amigo carioca, o Clei e minha namorada. Avião de SP até Santiago do Chile. Compra de comida para 10 dias de trekking, avião até Balamaceda, Transfer até Coyaique, transfer comprado facilmente na esteira de bagagem por 5.000CLP (R$ 30)... Bem, Coyhaique. Experiência única em turismo.... e não é algo positivo. Vale um comentário: Mandei mais de vinte e-mails tentando reservar algo, sites como booking, decolar, são inúteis. Em termos de internet, a cidade parou no tempo, estamos nos anos 90. Cheguei lá, em campo, sem reserva. Rodei por umas duas horas de lugar em lugar até achar um único lugar que aceitasse ficar com minha mala guardada enquanto fosse para trilha. Tive que reservar e pagar adiantado. Nunca pensei que houvesse um lugar que recusasse ficar com suas coisas, mesmo que cobrasse para isso. Lá é assim... Comprei linguiça e salame que faltou para comer. Gás, bujão grande, facilmente encontrado, mesmo aos domingos, na loja sodimac http://www.sodimac.cl/sodimac-cl/static/staticContent1.jsp?active=12&id=cat80080 Tranfer até Puerto Ibanez, agendado através da pousada por 5.000CLP (R$ 30).... Balsa até Chile Chico (2.000 CLP, vulgo R$ 12) quase duas horas de navegação. Para chegar até aqui, foram 2 aéreos, 2 tranfers e uma balsa. Devido a horários, dificilmente fará em menos de 2 dias. Chile Chico é uma cidadezinha que parece ser linda, mas, como cheguei lá quase a noite, pouco conheci. Minha preocupação era achar um transporte para o parque. Contratei para nós 3 por 90.000 CLP (R$ 500) até o parque. Uma facada, admito. O serviço foi bom, muito bom mesmo, incluía uma guiada pelo circuito piedra clavada. Devo dizer que o cara é apaixonado pelo lugar, fez o trabalho de forma tão prestativa que não me senti tão roubado pelos R$ 500. Recomendo: ciclismogarnikbike@gmail.com Sobre minha hospedagem, mandei 20 emails para região, Coyahique e Chile Chico. O ÚNICO QUE RESPONDEU foi o seu Manuel. RECOMENDADISSIMO hostel em Chile Chico Hostal y Departamentos Olicer Manuel Cerpa Bernardo Ohiggins #426 09-84211054 (56)-67-2583124 evaoliva123@hotmail.com TRAVESSIA – Jeinimeni até Vale Chacabuco DIA 8 Fev – De Chile Chico até JeinImeni. Tempo 4:00 Dist 10km desnível acumulado +750 -750 (sem mochila, piedra clavada) + Tempo 4:00 Dist 10km desnível acumulado +150 -150 (com mochila, Jeinimeni) Bundas na caminhonete, parada no circuito Piedra Clavada. Apenas 10km, sem carregar mochila. Moleza! Maravilhoso! Normalmente são 2,5horas, mas fizemos em 4 devido ao excesso de paradas para foto. Após o circuito, mais meia hora no carro e chegamos na entrada do parque. O guardaparque cobra as taxas e explica a trilha toda, sendo enfático para não acamparmos fora de área oficial e termos cuidado com o fogo. Na beira da lagoa tem comedores, mesas e banheiro com chuveiro frio. Lá almoçamos e começamos a caminhada. Contornamos a lagoa pelo lado esquerdo (sudeste) nos mantendo pela estrada de terra. Veículos 4x4 de turistas ficam por ali. Chegando em um cruzamento, fomos ao mirador, ver a laguna de cima. Parada obrigatória imperdível. Estava me baseando na pernada do Cavallari, ele havia acampado a uma hora de distância. Seria tranquilo.... mas... Pouco antes da Laguna verde, onde seria local de acampar, vi que era um local proibido. Eu queria seguir as regras, todos concordaram, fomos pra frente. A distância não seria um problema, mas o tempo sim. Ainda não tinha noção que se perde tempo demais cruzando os rios. Primeiro cruze de rio, altura do calcanhar. Depois caminhamos mais um quilometro (?) e agora era um rio mais fundo e mais largo. Cruzamos... A preocupação era que não sabia onde era a área oficial de acampamento. Quanto mais tinha que andar? A luz estava acabando iria anoitecer... Acampamos em um bom local, protegido do vento mas.... proibido. É a vida... DIA 9 Fev – local desconhecido – Refugio Valle Hermoso Tempo 6:00 Dist 8,5km desnível acumulado +240 -240 Olhando os números do dia, começa a ficar bem óbvio pela distância de 9km percorrido em 6 horas que cruzar rios consome muito tempo... Bem, acordamos e começamos a caminhar pelo Estero La Gloria. É um caminho de pedras com um rio serpenteando, obrigando seu cruzamento por uma dúzia de vezes. Muito chato... Até aqui, parece que os veículos 4x4 mais corajosos ainda chegam. Foi apenas 30 minutos de caminhada até ver a placa de acampamento oficial do parque.... se eu soubesse não tinha dormido no proibidão... Uma hora depois, com muito entra e sai de rio, a oeste, temos uma estaca que indica o início do caminho morro acima. Vamos cruzar um passo de montanha no Cordón de La Glória. Inclinado, mas fácil, nenhum absurdo, apenas uns poucos 240m de desnível. O passo é uma óbvia área de piquenique que tem uma bela vista do lago Verde. E que vista! Descemos e pouco a pouco vamos chegando a beira desse lindo lago e lá embaixo mais um cruzamento de rio. Esse era mais assustador, porque não se via o fundo, era beirando o lago mas na prática foi bem tranquilo. A geografia do outro lado do Cordón não mudou nada: um vale, com montanhas em ambos os lados, caminho de pedra com um rio serpenteando.. Por uns 30 minutos andamos dentro do mato e chegamos na área de acampamento, o refúgio Valle Hermoso. Havia uma única barraca, mas estava claro pelo “check-in” do hotel que muita gente para lá todos os dias. Não demorou, apareceu um grupo 5 de chilenos, estavam fazendo um trabalho de exploração! Iam andar onde não tem trilha e ver as possibilidades do parque. Conversei muito com eles sobre seu pioneirismo e fiz a idiotice de não pegar um contato para saber o resultado desse trabalho.... DIA 10 – Arregando e descansando Tempo 5:00 Dist 10km desnível acumulado +100 -100 Comum acordo, vamos ficar um dia aqui. Comer, descansar e conhecer os arredores. O combinado era ir até o glaciar ao norte do refúgio. São dois, mas no mapa se referência apenas um, chamado de glaciar guarda parques. Logo ao sair do camping, 500 metros a frente, tem que cruzar o rio para adentrar ao vale. Foi a primeira baixa, o Clei nem quis tirar a bota, desistiu. Preferiu ficar descansando. Depois de cruzar o rio, andei com a Paula uns 2km vale a dentro. Cruzamos alguns rios, mas ela não estava mais disposta. Os tabanos incomodavam, o nariz escorria a frescor, opa, o cansaço batia. Pediu para voltar. OK.... voltei. Não cheguei a ver o glaciar naquele lindo dia azul. É um caminho fácil, sem erro, e com muitos rio para cruzar. Realmente, tem que ter saco para cruzar tanto rio... É dia ainda, há muito tempo, então vamos descansar no refúgio. Bem, não leve muito a sério a palavra refúgio. Não tem ninguém lá para te recepcionar, comida quente, cerveja, etc. É apenas uma.... casinha de madeira abandonada. Mas ela faz as vezes de local quente com teto e lareira onde todos se reúnem. Para quem faz trilha, um luxo. Hoje.... foi mais um dia de frustração e descanso... Ficamos conversando com pessoas que vinham sentido oposto ao nosso. Um canadense, deu de cara com um huemul... um americano, que mora no chile que arrumou um emprego e em breve vinha morar no Mato Grosso e falava português trazia uma vara de pesca, bem, ele jantou peixe fresco com a namorada australiana que morava no Chile! Em conversa com demais, vi o quanto meu grupo destoava destes e de todos os viajantes que eu ia cruzar durante toda a viagem. Muitos me perguntavam...não apenas nesse dia, mas todo o tempo......- Quanto tempo voce vai viajar? No início respondia 20 dias....era a verdade e considerava algo normal, mas depois.... dava vergonha de responder: Todo mundo viajava por no mínimo 4 meses a anos... O ideal seria ficar 2 dias lá, no mínimo, para se visitar os glaciares. Tem outro glaciar a oeste do vale. Glaciar que nem nome tem, mas mesmo de longe parece lindo! DIA 11– Até o meio do Valle Avilles Tempo 8:30 Dist 12km desnível acumulado +250 -300 Descansados, hora de continuar. Sem segredo, rios para cruzar em um caminho de pedra sentido oeste. Com pouca caminhada, cruzamos com um grupo de 5 caras chilenos indo em direção oposta. Mais uma horinha e duas meninas, que ficaram sem graça porque cruzavam o rio sem calças e com as pernas a mostra estavam visivelmente constrangidas. Eu não... achei bem natural. Elas eram baixas e realmente usar calça vai molhar tudo! Um russo....solo..... mais um pouco um alemão solo tbm... É..... o que é isso? Torres del Paine? A trilha tá lotada! Cadê o isolamento? Bem, você deve ficar atento porque a trilha vai mudar em direção ao sul e sinceramente, não é difícil passar batido. Um poste pequenininho mostra uma entrada na floresta, se perder esse poste tem que usar o mapa de referência, para perceber que fez burrice e procurar. O Cerro Jeinemeni denúncia a entrada ao Valle Avilés. Pouco depois de entrar na floresta tem um local não oficial para acampar e um rio para cruzar por um tronco que dá medo de escorregar. Sobe-se bastante por uma floresta com muitos pica paus fujões que não se deixam fotografar e uma infinidade de ratos. A subida acaba e a paisagem se abre. Perfeita visão do Cerro Jeinemeni. Assim começa a descida que termina em uma ponte bem pequenininha com um tipo de abrigo. Essa é uma área oficial de acampamento. Eu sei que estou oficialmente na beirada do parque Jeinemeni, a passos do Parque Patagonia. Existe uma tal de Laguna Escondida que, segundo guarda parque, é fácil de chegar. Abortamos essa trilha opcional, porque queríamos ver outras coisas. Não daria tempo de ver tudo. Continuamos e damos de cara com um casal americano. Era sua segunda vez no parque. O tinham conhecido em 2012. Comentaram que o caminho agora era muito bem marcado, antes era realmente mais selvagem. Mais uma hora de pernada, no meio da floresta tem outra área para se acampar. Pensavamos em parar lá, mas quando chegamos, achamos pouco. Dava para caminhar mais. O Próximo ponto ficava próximo, mais uma, uma hora e meia..... porque não? Andamos e deparamos com um rio, parecia que ia cruzar, mas não. Um tronco marcava discretamente uma continuação a esquerda. Respiramos aliviados, ninguém queria cruzar mais um rio... Infelizmente, a geografia não se importava conosco. Pouco depois, deparamos com um rio para cruzar e eu deparei com a minha asnice. Pendurei errado a sandália na mochila e ela havia caído. Tive que cruzar o rio com pés descalços. Passei com cautela e lentidão. Paciência. Mais meia hora e chegamos em uma casinha abandonada, restos de fazenda. Acampamos ali. O acesso a água era dificultado por um barranco, era meio exposto e pouco lugar realmente plano para acampar. Eu estava com muita frescura. Tanta frescura que me preocupava em entrar naquele casebre com medo de hantavírus. O guardaparque inclusive nos orientou: “- Não durma nas cabanas devido aos ratos!” Ao final do dia, a poucos minutos do anoitecer, um milagre ocorreu: O casal de chilenos que tínhamos deixado para traz chegou e trazendo minha sandália perdida! Os cruzamentos de rio perderam sua emoção adicional. DIA 12 – O rio de limonada e a casa de pedra Tempo 8:30 Dist 20km desnível acumulado -400 Partimos preguiçosos. O dia não estava lá grande coisa. Bem nublado, com eventuais e vez por outra frequentes literais chove não molha. Andamos pela planície gramada do vale entrando eventualmente em um pequeno trecho de floresta Passamos por um rio, o último da travessia. Daqui pra frente, não seria mais necessário tirar a bota, sempre teria uma ponte ou o rio seria suficientemente raso. Mais uma casa abandonada. Ainda bem que acampamos na anterior, nesta a água é bem distante. Eu estava em uma expectativa, que ainda não revelei neste relato. Um canadense no refugio valle hermoso deixou uma dica inacreditável.... Eu cruzei um rio, que escorria do cerro Pintura, ele tinha várias pedras vermelhas, batia com a descrição do Canadense, não tive dúvida: Enchi minhas mãos e bebi a sua agua. LIMONADA! SIM! A agua do rio tem gosto de limonada! Químicos, por favor, viagem até lá, tirem amostras e me digam porquê. Meu palpite é que as pedras, minérios, enfim, deve ter algum ácido. Não passei mal, mas tampouco me empanturrei com essa agua. Bebi uns 200ml pela fascinação. Continuei o caminho maravilhado com o incomum ponto turístico. A paisagem vai se estreitando e um canion surge repentinamente. Bem fotográfico! Paramos para lanchar em um ponto elevado abrigado do vento que dividia o lugar. Ao continuar, um pouco mais a frente, o clima foi piorando. Começou a chover, mas agora molhava. Ventava. Temperatura baixa. Roupas impermeáveis ativar! Poucos passos depois, chegou a ponte colgate, que íamos cruzar. Queria tirar fotos mas... a chuva me fez guardar tudo. Estava frio, todo mundo ficou apressado com isso, principalmente a Paula que liderava a passos largos. Nessa pressa, nem pensei. Cometi um erro. Existem dois caminhos um por cima (lindas paisagens!) outro por baixo (mais plano e direto). Planejei fazer a viagem passando por cima, mas, na chuva, para que ia fazer um caminho com desnível maior e mais distante? Na ponte crianças, o lado leste é alto e lindo... o lado oeste plano e direto..... fica a dica. O estupido fez o caminho mais desnivelado e mais longo, em meio a chuva e sem bater uma única foto. Em todo caso, ambos os caminhos se cruzam logo abaixo, ligados por uma outra ponte colgate. O destino, a casa de piedra, pode ser visto a quilômetros de distância, devido as grandes árvores que ficam em seu redor. Ainda não está funcionando, mas lá será um hotel luxuoso, com área de acampamento com comedores fantásticos, esses, já estão “funcionando”. Nos secamos, nos instalamos e comemos. Havia um mapa largado na mesa da reserva Tamango, com uma marca a caneta escrito “easy way to Patagonia Park”. Que bom que é easy, porque é pra lá que eu vou. DIA 13 – Afastando os espinhos para ganhar uma carona Tempo Dist km desnível acumulado .... bem, vms fingir que nada aconteceu, ok? A ídeia era sair e ir até o Lago Gutiérrez. O Cerro Torres de apenas 830m se impõe a frente dele formando um verdadeiro muro de acesso. Mapa de nível mostra um caminho meio óbvio a leste, contornando e um caminho direcionado a oeste até o lago. Guilherme Cavallari fez esse caminho, então, era esse o plano. Vou resumir: Arregamos. Não há qualquer trilha definida e a quantidade de arbustos com espinhos é infinita. Para entender, a noite, nossas canelas estavam visivelmente com uma centena de pintinhas vermelhas. Sim, caminhar lá transforma as pernas em peneiras. Um facão indisponível, resolveria o problema. O que era claro, é que o caminho não estava claro. Andamos 500 metros trilha adentro e não havia noção se a coisa piorava. Férias, com período curto, sem obrigações. Sofrer pra que? Vamos pegar uma carona pela estrada! O dia economizado aqui, será muito bem usado no Cerro Castillo! Consenso, ótimo plano, todos de acordo. Fomos para a estrada e duas horas depois uma caminhonete nos levou até a sede do Parque Patagônia. Faltou a bola de cristal. Eu só ia descobrir que essa decisão era ruim dali a uma semana. O parque tem um restaurante luxuoso, onde rasgamos nosso dinheiro. A área de acampamento fica a 30 minutos de caminhada, ao chegar lá, a diarreia foi geral em todos ao mesmo tempo.... restaurantezinho caro e sem vergonha... O local de acampamento tem vários luxuosos comedores, mesas, bem abrigado. Chuveiro semi quente. É pago, mas.... ninguém toma conta e para pagar tem que ir caminhando de volta até a cede do parque, a 30 minutos.... pelo amor né? Dei calote. A noite, nos recolhemos. Deixei alguns objetos no comedor. Amanhã eu descubro a burrice. DIA 14 – Lagunas Altas Tempo 7:00 Dist 13km desnível acumulado +730 Por enquanto é o único circuito oficial do parque com área de acampamento. Só dois dias... em um parque tão grande.... Há muito trabalho de demarcação de trilhas e circuitos para se fazer. Bom, subimos pelo lado leste do circuito, fazendo o sentido horário, invertido ao recomendado. Assim podíamos subir, passar por todas lagunas e ao chegar a leste, cruzaríamos o cerro Tamango em direção a Cochrane. Pegamos as coisas para partir e surpresa; Ratos fizeram a festa, roeram tudo. Garrafinha de álcool vazando, mochila furada, os roedores não perdoaram nada. O mais dolorido foi o GPS. Sim, os ratos comeram meu GPS e agora ele estava furado, mas funcional. Achei que a subida seria dura, mas, é bem suave. Uma vez no alto, voce vai contornando várias lagunas, uma mais diferente e linda que a outra. Como é alto de montanha, sempre a paisagem para se ver, circuito realmente sensacional. No meio do circuito, há uma laguna chamada Norita onde tem a área oficial de acampamento. É semi abrigado, fora das árvores, fora da sombra, mas um chão perfeito. Alguns troncos fazem a vez de mesas e bancos e patos fazem a vez de anfitriões. DIA 15 – Laguna Cangrejo Tempo 6:00 Dist 11km desnível acumulado +360 -460 Hoje era dia de sair do Parque Patagonia e adentrar no Parque Tamango. Pouco mais de 45 minutos de caminhada tínhamos uma clara vista para o Tamanguito e um arrependimento de ter acampado no local oficial. A laguna que nem nome tinha era linda! Acampar ali seria mais agradável e ia me inspirar a bater muita foto noturna. Uma pena! Logo chegamos em um cruzamento. Não estava no mapa, apenas um ponto dizia no GPS “Cruze Tamanguito”. É apenas um ataque ao cume do Tamanguito, ou dá caminho até cruzar? Na dúvida, mantemos nosso caminho... O circuito foi descendo a encosta da montanha. Péssimo isso, afinal, ia ter que subir de novo. O GPS indicou o ponto exato em que deveria sair do circuito lagunas altas e subir sentido sul para o Cerro Tamango.... e olha, ainda bem que eu tinha GPS. O caminho é propositalmente fechado, para que os caminhantes do circuito não subam “sem querer” até o Tamango. Qualquer um poderia passar por ali sem perceber o cruzamento e descer de novo até o acampamento WestWings. Sem GPS? Fique atento! A subida é tranquila até o ponto que chega em uma área devastada por incêndio florestal. Ali já é um pouco confusa. Se faz um longuíssimo ZIG até oeste e um ZAG para leste. Bem no meio desse ZIG ZAG temos uma trilha que.... continua! Possivelmente aqui temos uma ligação mais inteligente do circuito lagunas altas, naquele cruze tamanguito. O passo do Cerro Tamango é maravilhoso, largo e com algumas lagoas. Acamparia fácil lá, apenas para escalar ambos Cerros, Tamango e Tamanguito. Nâo propus isso porque o clima estava feio e tinha cara de piorar. A descida dali para Cochrane ERA para ser tranquila, mas, com o caminho do Guilherme Cavallari no GPS, eu achava que era só seguir. Totalmente errado... o Caminho do Cavallari, se desvia do caminho correto no exato momento que a trilha fica indefinida. Não sei se ele “errou” e foi na bússola ou se é um caminho novo no parque. Em todo caso, depois de bater alguma cabeça do lado oeste, vimos o óbvio e bem marcado caminho contornando a floresta pelo lado leste. Chegamos na Laguna Cangrejo , armamos barraca em um solo ruim, mas com uma grande mesa de apoio. Hoje seria a última noite antes da civilização. DIA 16 – Cochrane Tempo 4:30 Dist 13km desnível acumulado -830 Fim de trilha. Hoje era apenas levantar e voltar pra cidade. Não sabia de nenhuma parada ou paisagem ou algo que seria relevante. Era só andar mesmo... Contornamos a laguna Cangrejo pelo lado oeste e seguimos em direção a Cochrane. Pouco tempo de caminhada depois, descemos a encosta da montanha e temos uma linda visão da cidade. Há um refúgio muito ajeitado no caminho, mas fechado a visitantes. Apenas para guarda parques. Havia terminado essa travessia, mas não as férias. O plano agora é partir para fazer outra travessia, a do Cerro Castillo. Mas o azar extremo não iria dar espaço para fazer mais nada. Chegamos na cidade conseguimos um barato Hostel e logo descobrimos nossa estadia deveria se prolongar. Não havia ônibus na cidade para Vila Cerro Castillo. No dia seguinte, foi confirmado a chegada de uma frente fria no meio da travessia e seria impossível faze-la. Tentamos fazer um ataque, mas não passou de frustração. Patagonia deixou, como sempre, o gosto de “quero mais” e o pensamento de “volto na próxima temporada”..
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