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O mapinha e ilustrativo, não serve para navegaçã. Paranapiacaba, em tupi, lugar de onde se pode avistar o mar. Para mim sempre foi: Lugar onde se pode ser assaltado. Os vários relatos de crimes no pequeno vilarejo com características inglesas, sempre me manteve afastado daquelas bandas, ainda mais por sempre associar o local com muita muvuca e mochileiros maloqueiros. Talvez fosse mesmo certo preconceito, mas com tanta coisa para fazer e tanta trilha para caminhar, nunca achei que valesse a pena explorar a região. Houve um tempo que o trem ia até o vilarejo, o que acabou tornando Paranapiacaba mais famosa ainda. Na década de 90 até cheguei a fazer uma visita, nos tempos em que me aventurava sobre duas rodas juntamente com meus primos paulistanos. Desci até o poço da Pedra Lisa em uma tarde de muita neblina em que nada vi ao visitar também o Mirante. Nos últimos meses começou a pipocar na minha caixa de e-mail, relatos de aventureiros experientes que contavam maravilhas de explorações por lá realizadas. Isso acabou aguçando a minha curiosidade. Foi aí então que no feriado da Páscoa resolvi botar minha mochila nas costas e juntamente com meus amigos Dema e João Paulo, partimos na quinta-feira a noite da rodoviária de Campinas para a capital paulista. Partimos às 20 horas e surpreendentemente às 10 horas da noite já estávamos em São Paulo, sem atrasos, coisa rara em véspera de feriado. Desembarcamos no Terminal Rodoviário do Tietê e logo em seguida pegamos o metrô para estação da Luz. O metrô estava apinhado de gente e o vagão havia se transformado em um verdadeiro hospício. Uns caras batiam em uns tambores e uma centena de pessoas cantava e rebolava. Ficamos paralisados diante daquela cena. Era um tal de “Quica, quica, quica na latinha”. Pra nossa sorte logo chegamos à estação da Luz, onde se juntou a nós o outro integrante da trip. Meu primo Lindolfo mora na capital, se deslocou lá da zona leste para nos encontrar. Desde a Volta da Ilha Grande não caminhamos juntos, já imagino logo: Vai ser uma travessia divertida. Da Luz partimos para Rio Grande da Serra e logo nos dirigimos para o ponto de ônibus de onde sai o transporte para Paranapiacaba. Na tentativa de conseguirmos informações, acabamos puxando conversa com uma guia ambiental, que trabalha no vilarejo inglês. Ela nos disse que todos os caminhos partindo de Paranapiacaba estava fechado a muito tempo pelos órgãos ambientais. Ninguém poderia passar, nem os guias estavam podendo trabalhar lá. Fecharam as trilhas para recuperação e a fiscalização estava pegando pesado. Pronto, agora ferrou, pensei logo! A informação que haviam me passado que seria possível passar a noite sem levantar suspeita, agora parecia que não estava mais valendo. Ela ainda nos disse que a Trilha do Rio Mogi havia desabado e passar a noite por lá seria muito ariscado. Paciência, já estávamos a caminho e só nos restava ver no que iria dar. Menos de meia hora depois saltamos no vilarejo de Paranapiacaba, bem junto da sua igreja principal. Meio perdidos e sem saber o que fazer, pois já passava da uma da madrugada, ao vermos um grupo estacionado em um carro ao lado da igreja fomos tentar obter alguma informação. Quando nos aproximamos levamos um baita susto. Todos os cinco elementos estavam com uniforme do exercito. Putzzz, fomos tentar pegar informação logo com o pessoal da fiscalização, que azar dos infernos!!! Pra nossa sorte não era a fiscalização, era só alguns soldados se preparando para ir até um mirante, também iriam tentar burlar a fiscalização. Convidaram-nos para seguir com eles e nos deram a dica de a partir do Mirante, descer a trilha que vai ao Poço das moças, que ficava no Rio Quilombo.A priori a nossa intenção era descer pelo vale do Rio Mogi e Subir pelo Vale do Rio Quilombo, mas diante da situação, resolvemos acompanhar os soldados, já que moravam na região e conheciam os atalhos para fugir da fiscalização. Tudo acertado, descemos a ladeira que leva até a grande ponte e cruzamos a linha do trem, de onde se avista o relógio parecido com o Big Bem Londrino. Passamos pela lanchonete da Zilda e logo acima estacionamos em um boteco aberto pára comer alguma coisa. Foi nesse pequeno bar que conhecemos o Ronaldo, uma figura totalmente estereotipada, uma mistura de Baden Pawer,o fundador do esoterismo , com o Indiana Jones. Como um amigo depois me disse era o tio do Indiana Jones em pessoa.Um cara extremamente prestativo, que nos deu várias dicas sobre a trilha para o Poço das Moças. Então seguimos todos juntos: Nós, os soldados, o tio do Indiana e seu fiel escudeiro. Passamos em total silêncio enfrente da base da polícia militar e alguns minutos à frente pegamos a estrada-trilha calçada, passamos pela base da fiscalização, que pra nossa sorte estava fechada e vazia. Eu estava morrendo de medo de sermos pegos, mas 10 minutos depois veio a notícia que não havia mais perigo, havíamos passado, o caminho estava livre, minha dor de barriga passou. Paramos logo acima para nos abastecer em uma bica. Logo veio a lua e iluminou todo o caminho. A noite estava linda. Passamos pelo grande paredão rochoso e mais a frente na bifurcação, pegamos á direita e em poucos minutos atingimos o topo do Mirante. De cima do mirante é possível avistar as luzes de Cubatão e suas fábricas e usinas. Já passava da três da madrugada e enquanto a galera ficou tomando vinho com os soldados, eu que não sou dado ao álcool, fiquei batendo papo com o Ronaldo, que acendeu uma tocha feita de bambu e óleo diesel. Ele me contou uma história ou lenda sobre o cara que acionava o gerador que havia ali no topo para iluminar uma antena sinalizadora para aviões. Disse que naquela noite o funcionário que ficava la encima foi morto por uma onça e não pode ligar o gerador e por causa disso um avião de pequeno porte se chocou contra a montanha. Acho que foi o único caso em que uma onça derrubou um avião. Bom, papo vai papo vem, mas já estava ficando tarde. O Tio do Indiana ia descer a trilha a noite,os soldadinhos foram até o pico só para tomar cachaça e fumar um cigarrinho do capeta e já se preparavam para voltar à Paranapiacaba e nós iríamos acampar por ali mesmo. Como a noite estava espetacular resolvemos somente bivacar, sem montar barraca alguma. Estendemos nossos sacos de dormir no concreto que servia de base para as antigas antenas e caímos no sono, mas não demorou muito uma nuvem safada resolveu pingar encima de nós. Então pegamos nossas coisas e fomos dormir embaixo de uma laje destruída, que abrigava os antigos geradores, que por sinal ainda protege as carcaças do dito cujo. O lugar é escuro, sombrio, parece uma toca de ratos, mas estava seco e abrigado do vento e foi lá que passamos a noite, embaixo de uma laje de dois palmos de altura. O dia amanheceu lindo, sem nenhuma nuvem no céu. Logo cedo meu primo, que tá parecendo o tio do Rambo (rsrsrsrsrsr), nos acordou e ficou enchendo o saco para a gente levantar. Sem muita vontade e caindo de sono, antes das sete da manhã saímos da toca do rato, tomamos um café, batemos uma foto do mirante e partimos serra abaixo em direção ao Poço das Moças, no Rio Quilombo. A trilha não tem segredo, vai sempre descendo e quase todas as bifurcações vão sempre sair no mesmo lugar. Seguimos de vagar. Eu e o Dema à frente e o Lindolfo e o João Paulo atrás. Quando aparecia alguma trilha duvidosa, eu informava meu primo pelo rádio e lhe indicava qual o caminho a seguir. Pegamos sempre os caminhos da esquerda e não tivemos nenhum problema até que pouco mais de uma hora depois tropeçamos no Poço da Pedra Lisa. Para ir até o poço é necessário deixar a trilha por um instante e cruzar por cima da pequena cachoeirinha, coisa de 20metros e não mais que isso. O poço não é muito grande, mas deve ter uns 2 metros de profundidade. A água é cristalina e um pouco gelada, mas como estava fazendo um calor insuportável, tiramos a roupa e nos “pinchamos” pra dentro daquele paraíso e ficamos lá um bom tempo descansando e jogando conversa fora. A trilha que estamos fazendo muito provavelmente deve ser a tal trilha do zigue- zague, que hoje está interditada e totalmente proibida, o que acabou até sendo uma boa, pois da última vez que estive lá na década de 90 era uma farofada só e hoje somos donos absolutos do lugar. Deixando o poço, voltamos de novo para a trilha, que desce alguns metros até o cabo de aço que da proteção para que ninguém despenque da Pedra Lisa. Cruzamos então por cima da pedra, atravessando o riacho que vem do poço que havíamos tomado banho e entramos logo na mata. A trilha continua descendo e com uma grande inclinação, onde de vez enquando um dos integrantes é obrigado a usar sua área de laser como freio, não eu é claro, porque minha área de laser é outra (rsrsrsrsrsrs). Sempre descendo, eu e o Dema nos adiantamos muito e então resolvemos dar uma parada para esperar os outros dois. Assim que eles chegaram partimos novamente e não andamos nem 50 metros, tivemos que fazer uma parada obrigatória. Uma peçonhenta havia estacionado no meio da trilha e ficou lá nos olhando com seu olhar venenoso, pronto para nos enfrentar. O Dema foi quem deu o alarme. Nesse momento fiquei feliz de estar portando minha perneira ante cobra tabajara. Sabe como é né, quem já foi picado de cobra, tem medo até de cipó. Quando me aproximei para tentar fotografá-la, ela deu no pé, melhor assim. Novamente nos pomos a caminhar, sempre em um ritmo devagar para não perdermos muito de vista o João e meu primo, que caminhavam em passos de lesma tetraplégica. Mas como nenhum caminho é tão longo que nunca chegue ao seu fim, às 13horas chegamos finalmente ao famoso Poço das Moças. O Poço das Moças, no Rio Quilombo, é daqueles lugares que valem o esforço de qualquer caminhada, vale todo o suor derramado e todo o esforço desprendido. Todo caminhante, excursionista, trekking, deveria se sentir honrado de conhecer um lugar como aquele. Principalmente nós que moramos em cidades cada vez mais poluídas, onde a oportunidade de encontrar águas com aquela qualidade é cada vez mais rara. É um gigantesco poção de quase 10 metros de profundidade com águas totalmente potável. Antes de cair no poço a água que passa sobre a imensa laje, serve de verdadeiro parque de diversões. Tem uma piscina profunda, tem um escorregador que te leva para dentro de um buraco que depois te cospe para cima, tem um grande balanço pendurado em uma árvore, de onde você salta e se joga no vazio até cair no poço profundo. Enquanto a galera se divertia, fui cuidar de preparar o almoço. O sol estava muito quente e vez ou outra eu largava meus afazeres e me jogava na água. Dei muita risada e zoei muito o João Paulo, que tentava sem sucesso saltar do balanço. Ele só pulou porque eu e o Dema encarnamos na alma dele, já o Lindolfo nem se meteu a besta porque esse negócio de água profunda não é com ele,já que o único estilo que ele nada é o machado sem cabo(rsrsrsrsrsr).Pronto o almoço , nos reunimos todos na laje e ficamos comentando como tudo estava dando certo até ali, até agora tudo estava perfeito. Com a barriga cheia, alguns foram tirar uma soneca, eu e o Dema fomos tomar banho no poço que engole e depois de um descanso merecido, jogamos as mochilas às costas e partimos para outras paragens. Atravessamos o rio por onde a água escorre do poção e reencontramos a trilha do outro lado. Ela segue em nível, atravessa um córrego de águas cristalinas e em 20 minutos demos de cara com a barragem, que alguns também chamam de Poço do Quilombo. O Poço do Quilombo é outro lugar irresistível, não dá para passar por ele e não se jogar na água. Estávamos lá dando altos pulos, quando vimos um helicóptero da Policia Militar começar a dar rasantes por cima de nós. Voltamos a ficar tensos e apreensivos, poderia ser a fiscalização atrás de intrusos na área do Parque Estadual da Serra do Mar, ou seja, nós. O bicho ficou feio quando o pássaro de aço resolveu pousar junto ao poço. Ficou a uns 10 metros do chão e de dentro do helicóptero desceu 2 homens armados até os dentes. Aquela minha dor de barriga, voltou com tudo. Pensei: ”Agora a gente não escapa”. Logo vimos um grupo de resgate que veio por terra e passou a passos rápidos por nós e então ficamos sabendo que eles estavam atrás de uma pessoa que havia se perdido junto à Pedra Lisa e havia feito contato por celular. Voltamos a ficar aliviados. Pegamos nossas coisas e voltamos para a caminhada. Atravessamos o poço, beirando o lado esquerdo e então saímos já na rua de terra, onde várias viaturas e uma ambulância estavam estacionadas. Uns soldados da polícia militar nos fitavam com cara de poucos amigos, até que um deles, o mais mal encarado de todos me intimou a dar esclarecimentos. “Porra” logo eu! Queria saber de onde víamos, para onde íamos. Hesitei por um momento. Falo a verdade ou conto uma lorota? Não consegui mentir, estava hirto de tanto medo. O policial me olhou com cara de reprovação, mas queria saber se não tínhamos visto o tal sujeito perdido na trilha. Depois dos devidos esclarecimentos, eu queria era sair dali o mais rápido possível e então voltamos a caminhar naquela estradinha tão estreita como uma trilha. Poucos minutos à frente damos de cara de novo com o Rio Quilombo e sua gigantesca ponte pêncil, onde também é possível passar de carro por dentro do rio, já que uma grande laje de concreto foi construída por lá. Foi neste local que reencontramos nosso amigo Ronaldo, que mantém escondido no meio do mato, em algum lugar secreto, uma área de acampamento onde ele vai desfrutar das belezas deste lugar com sua família e seus amigos. Fiquei curioso para conhecer a família do tio do Indiana, um cara de uma gentileza do tamanho do mundo. Encontrar com estas figuras na trilha faz qualquer viagem valer a pena. Ficamos lá por um bom tempo batendo papo com o Ronaldo, quando chegou o pessoal da REDE GLOBO LITORAL. Conversaram com a gente, perguntaram se sabíamos de alguma coisa, se estávamos a par do acontecido. Foi então que de repente a linda repórter e o feio cinegrafista, perguntaram se a gente não poderia conceder uma entrevista para eles. Até agora não sei quem foi o filho da puta que disse que eu era o cara que deveria falar (rsrsrsrsr).Fui respondendo as coisas que a repórter ia me perguntando, que por incrível que pareça não tinha nada a ver com o caso do sujeito perdido na trilha. Ela queria saber como era aquele negócio de um monte de homens largarem a civilização e sair a caminhar no mato, se a gente fazia isso há muito tempo, se não era perigoso e essa balela toda que a imprensa burra e desinformada gosta de explorar. Demos adeus aos nossos minutos de fama, nos despedimos do nosso amigo Ronaldo e partimos novamente para caminhada, que já sabíamos que seria muito longa, até chegarmos à Piaçaguera-Guarujá, coisa de mais de 10 km, mas a sorte bateu a nossa porta novamente. Uma caminhonete do Corpo de Bombeiros, que estava voltando do local do resgate, parou e nos ofereceu uma carona. Pulamos para cima do veículo e passamos mais de 10 km rindo dos acontecimentos. O bombeiro nos deixou enfrente a um bar, a 1 km da Piaçaguera. Resolvemos entrar no boteco para tomar um refrigerante e comer alguma coisa. O nosso próximo objetivo era tentar conseguir uma maneira de chegar até a entrada da trilha do Rio Mogi, sem ter que passar pelas dependências da Cosipa (companhia siderúrgica paulista), porque já haviam me avisado que sair até que é fácil, mais entrar por lá era impossível. Um dos soldadinhos havia me avisado que daria para acessar o Rio Mogi, sem passar pela Cosipa. Nós deveríamos passar por baixo do viaduto em curva e caminhar paralelo a linha de trem e de lá achar uma maneira de acessar o Rio. É muito fácil falar para quem já conhece um pouco o local, mas nós não tínhamos a menor idéia do que ele estava falando. Foi aí que ao perguntar para um senhor no boteco sobre a tal possibilidade, ele me fez uma proposta: “Coloca aí uns 10” conto “ de gasolina e eu levo vocês lá”.Não deixamos nem o homem respirar, antes que ele desistisse,pegamos nosso refrigerante e nossas mochilas, jogamos tudo no porta malas do carro e também nos jogamos para dentro do veículo. Alguns minutos depois já havíamos ganhado a Rodovia Piaçaguera-Guarujá e o veículo foi cruzando por um monte de pontes e aí fomos vendo que jamais encontraríamos o tal caminho sem a ajuda de alguém. O veículo fez um retorno e voltou por cima e depois por baixo de algumas pontes, que sinceramente não tenho nem como dar informações. Só sei que ele passou por baixo de mais uma ponte e começou a rodar ao lado de uma linha férrea e depois de alguns quilômetros ele a atravessou e então paramos quase no final da estradinha de terra, a uns 150 metros da Oficina de Concertos da rede ferroviária, acho que era a antiga Estação Raízes da Serra, bem no local onde as composições começam a subir pela cremalheira, uma espécie de linha com dentes e engrenagens. Bom, sabíamos que o Rio Mogi estava ali em algum lugar a nossa esquerda e que a Cosipa já havia ficado para trás, mas ainda havia um problema a ser solucionado: Como passar pela Companhia Ferroviária e não ser parado? Quando o carro chegou à guarita não teve jeito, tive que descer e me informar. Lá estava ela, de novo a me importunar, a dor de barriga e o frio na espinha. Pensei logo: Não vão nos deixar passar de jeito nenhum, vamos ser barrados. Na guarita um guardinha com um rádio me pergunta o que eu quero. Sem titubear vou logo dizendo: O chefia como eu faço para acessar o Rio Mogi? Ele olhou na minha cara, me examinou de cima em baixo e disse: “Atravessa a linha na torre que lá tem uma corda que da para descer até o Rio Mogi. Suspirei aliviado e voltei para o carro e pedi para o motorista avançar mais uns 50 metros para nós podermos descer as mochilas sem chamar muita a atenção. Despedimos-nos do dono do carro e cruzamos aceleradamente pela linha sem ao menos olhar para trás. Eu queria chegar ao Rio o mais rápido possível. Estávamos parecendo tartaruguinhas recém saídas do ninho correndo a toda velocidade para a água. Chegamos à tal torre e nada de achar a tal corda. Eu já tava a fim de me meter na capoeira e abrir o mato no peito de tanto medo de sermos pegos.Fomos seguindo a linha do trem até a cremalheira, que fica enfrente á estação velha. Foi lá que vimos uma trilha bem larga , quase uma estradinha saindo á esquerda e o mais rapidamente pegamos aquele caminho e saímos de vez das vistas do pessoal da Oficina de maquinas. Andamos uns cinco minutos na trilha larga. O Dema ia a frente e foi ele quem deu o alarme:”fodeu Divanei , tem um guarda aí na frente e ele já nos viu”. De novo minhas pernas tremeram.Faltava tão pouco e os cara foram nos pegar justo aqui.Mas não era um guarda,era só um morador de um casebre que roçava o terreno com um facão e estava com um uniforme. Perguntamos pelo Rio e o gentil “Seu Severino “ nos guiou até ele,abrindo a picada com o facão. Finalmente estávamos no famoso Rio Mogi. Já passava das cinco da tarde e a noite não tardava em cair. Despedimos-nos do seu Severino e começamos a subir o rio, que tinha águas limpas, mas não cristalinas por causa de um tributário próximo que trazia um pouco de sedimentos. Esta parte do rio é extremamente rasa, mas não há trilhas em sua margem, é preciso ir cruzando de uma margem a outra e escolhendo o melhor caminho para seguir. O dia já se foi e a nossa preocupação era arrumar um local para acampar. Foi quando chegamos a uma praia de areias claras e eu e o Dema batemos o olho e decidimos que o melhor local era ali mesmo. O tempo estava muito bom e não parecia que iria chover e então decidimos por não montarmos as barracas, iríamos bivacar mais uma vez. Acendemos o lampião de velas e enquanto alguns tomavam um banho outros cuidavam do jantar. Na areia da praia espalhamos um grande plástico e esticamos nossos sacos de dormir e isolantes. A lua chegou, mas não era uma lua qualquer, era uma lua cheia, esplendorosa, transformou a noite em dia e isso nos fez ficar conversando sobre a vida até altas horas da noite. Eu e o Dema confessamos a nossa apreensão. Tudo havia dado tão certo até agora que não descartávamos a hipótese de algo muito ruim nos acontecer daqui para frente. Era muita sorte para uma caminhada só, tudo estava parecendo um roteiro de filme. Fomos para a cama muito tarde, mas mesmo assim eu não conseguia pegar no sono, eu estava muito excitado com os acontecimentos. Fiquei olhando para lua cheia e pensando de como a vida pode ser extremamente simples e de como o ser humano precisa de tão pouco para sobreviver e ser feliz. Estávamos ali, quatro amigos perdidos no meio de um vale, a beira de um rio, dormindo ao relento e felizes da vida. Vai entender a cabeça dessa gente trilheira que encontra prazer nas maiores dificuldades, que dá risada do perigo, que vibra na hora que o bicho ta pegando feio, que se realiza em lugares onde a maioria das pessoas detesta e abomina. É, nós não somos mesmo deste planeta!!!!!! Apesar de estarmos no outono, o dia já amanhece extremamente quente e antes das 07 horas já estamos de pé. Estamos no sábado de aleluia, não temos nenhum Judas para espancar, mas temos pela frente um longo dia de caminhada, que nos promete trazer muita aventura e satisfação. Arrumamos tudo e partimos após o café. O caminho é sempre por dentro da água, vez ou outra alguém pisa em uma pedra lisa e vai beijar algum poçinho com mochila e tudo e aí acaba a frescura de tentar não molhar as botas. Um escorregão me fez dar uma boa ralada nos joelhos, sinal que experiência não garante coisa alguma, são as pedra que escolhem suas vítimas. Fomos subindo e em menos de uma hora de caminhada estacionamos na confluência do Rio Mogi com o Rio da Onça, onde se pode acessar o Vale da Morte e a tal Garganta do Diabo. Como estávamos super avançados no nosso roteiro por causa das caronas do dia anterior, resolvemos explorar um pedaço do vale, que estava a nossa esquerda. O Rio da Onça começa rasinho, mas alguns minutos depois já começa a aparecer os obstáculos. Os cânions começam a surgir e já é preciso passar com a água pelo pescoço. Foi aí que decidimos esconder as mochilas no mato e seguir de mãos vazias, apenas com uma corda e as máquinas fotográficas e o Lindolfo levou seu colete salva vidas, só para garantir. Fomos escalando os paredões e subindo por onde dava, algumas vezes era preciso mesmo se jogar com roupa e tudo dentro dos poços profundos e nadar. E nadar de roupa, bota e perneira e ao mesmo tempo segurar a máquina fotográfica para não molhar, era terrível. A água estava com uma temperatura super agradável, a adrenalina estava super alta, nunca sabíamos o que encontraríamos pela frente. Aquilo sim era aventura e das boas. Encontramos com um pequeno grupo que havia descido todo o Vale e aproveitamos a corda deles para subir em um paredão. Subimos o cânion por umas duas horas e voltamos. A volta foi super rápida, deixamos as frescuras de lado e voltamos por dentro da água mesmo, pois já conhecíamos os perigos. Chegávamos à beira dos poços e saltávamos e já saíamos nadando, pura diversão. Voltamos, portanto, novamente ao Rio Mogi e daí para cima o rio deixa de receber os sedimentos do Rio da Onça e suas águas são as mais cristalinas e pura que os olhos humanos podem ver. Coisa linda a cor daquelas águas. O único lugar que vi águas tão fascinantes foi ás margens do Rio Aiuruoca, quando acampei na travessia da Serra Negra,no Parque Nacional de Itatiaia. A grande diferença era que em Itatiaia a água era tão fria, que era impossível de tomar banho e no Rio Mogi não. A temperatura da água estava maravilhosa e no primeiro poço de mais de um metro de profundidade paramos para um banho de roupa e tudo e para fazer um lanche. Ficamos mesmo encantados com tanta beleza, mas o tempo passa depressa e era preciso voltar para a caminhada. De 100 em 100 metros aparecia um poço diferente e lá estávamos de novo imersos na água e inventando um adjetivo novo para descrever cada um dos poços e foi neste ritmo que ás 15h30min da tarde, chegamos ao Poço do pulo, onde encontramos um pequeno grupo desmontando seu acampamento. Nossa intenção era seguir até a famosa Prainha do Rio Mogi, uma meia hora á cima, mas como os garotos disseram que já havia um grupo acampando na área, decidimos ficar por lá mesmo, ainda mais quando vimos a qualidade do poço que passaríamos o resto da tarde. Poço de águas verdes, com uma enorme pedra para mergulho. Jogamos nossas mochilas no chão e demos por encerrado nosso segundo dia de caminhada e assim que o grupo partiu, montamos nossas barracas e fomos cuidar do almoço. Nossa comida já estava no fim e a única coisa que sobraria para o dia seguinte seria dois pacotes de miojo e uma caixinha de feijão pronta. Então o nosso almoço também seria a nossa janta. Almoçamos muito bem e passamos o resto da tarde nadando e conversando na Pedra do Pulo, até que caímos no sono lá pela cinco da tarde. Faltando pouco para as 06: horas o Dema me chamou para irmos conhecer a prainha. Topei o desafio e não gastamos mais de 20 minutos para chegar lá, o João e o Lindolfo continuaram no acampamento, descansando. Ao chegar à prainha encontramos três caras acampados por lá. Batemos um papo, tomamos um café e ainda descolamos um valioso pacote de macarrão. A Prainha do Rio Mogi é igualmente linda, mas como já estava escurecendo ,deixamos o banho para o dia seguinte e voltamos rasgando antes que a noite nos pegasse pelo caminho. De volta ao acampamento fomos tomar o último banho do dia e depois ficamos na pedra do pulo apreciando a majestosa lua cheia, batendo altos papos e tomando balde e mais baldes de café e de cappuccino. Então lá para 08h00min da noite resolvemos preparar os dois pacotes de macarrão instantâneo com feijão, já que agora tínhamos mais um pacotão de macarrão, que havíamos ganhado na Prainha do Mogi. Comemos ali mesmo na Pedra do Pulo, onde ficamos celebrando a vida e a amizade, até que resolvi me atirar para dentro da barraca, enquanto o Dema e o Lindolfo preferiram bivacar encima da Pedra do Pulo, nessa hora o João já havia morrido na barraca dele. No domingo de páscoa, acordamos preguiçosamente, sem muito compromisso com nada, apenas curtindo o bom e velho ócio, que é a arte de fazer coisa alguma. Vagarosamente, desmontamos as barracas. Tomamos café, demos mais uns pulos no paraíso de águas verdes e partimos. Subimos por uns 10 minutos, onde passamos pelo poço do sonrizal, que chamei por esse nome porque uma pequena queda fazia sair de dentro do poço milhares de bolhas, como se ele estivesse em ebulição. Outros 20 minutos foram gastos para alcançarmos a Prainha o Rio Mogi. Os três rapazes ainda estavam lá e já se preparavam para ir embora. Essa prainha é muito famosa na região de Paranapiacaba, porque é possível alcançá-la por uma trilha de não mais de 3 horas de descida, mas como tudo que desce um dia tem que ser subido ela acaba sendo uma trilha para ser realizada em um dia inteiro e intenso, dessa maneira não é muita gente que se aventura por aqui, ainda mais agora que a trilha esta fechada e vigiada pela fiscalização. Tanto que em dois dias de travessia pelo Vale do Mogi, só encontramos apenas dois pequenos grupos. O poço da prainha também tem uma coloração esverdeada, onde existe uma pedra que serve de trampolim natural. Passamos mais ou menos uma hora nos refrescando e então demos ás costas para o Rio Mogi e partimos para a derradeira subida. A trilha entra na mata pelo lado esquerdo de quem está subindo o rio e vai quase que subindo paralela ao próprio rio, vai cruzando vários riachos e em alguns pontos está tão fechada que é preciso procurá-la no meio da vegetação, sinal que está sendo pouco usada. Eu e o Dema vamos sempre à frente e hora ou outra paramos para esperar o meu primo e o João. È uma trilha longa, mas não de muita inclinação, mas o João e o Lindolfo já começam dar sinal de esgotamento. O Lindolfo não reclama, parece já estar resignado com o sofrimento que está por vir, mas o João não se faz de rogado. Reclama do aclive da trilha, da falta de comida, da falta de água, reclama da cor das borboletas e dos formatos das pedras. Passamos pelo último riacho, encho meu cantil e sigo. Ninguém mais se preocupou em pegar água. A caminhada foi se estendendo, a fome e a sede foi apertando, o João reclamando e dizendo que já estava para desmaiar. Quando vi que a coisa estava feia chamei o Dema em um canto e falei para ele assumir o cuidado com o João e o Lindolfo, que eu iria acelerar na frente até o ponto em que havia água e fazer o nosso rango. Tomei à dianteira e com um pé na frente do outro foi ganhando terreno sem parar nem para descansar. Em certo ponto da trilha me lembrei da água que eu havia guardado para uma emergência. Tomei um pequeno gole, fiz um totem com três pedras e deixei o meu cantil no meio da trilha na esperança de que ele pudesse salvar a vida dos que vinham atrás, pelo menos dos mais despreparados. Logo á frente encontrei os meninos que estavam acampados na prainha. Estavam parados embaixo de uma das torres de alta tensão que serve de acampamento. Perguntei sobre o ponto para pegar água e eles me disseram que eu deveria subir mais umas duas torres. Subi a mil por hora, feito um mamute arrebentando tudo que era mato no peito, até que encontrei a fonte de água cruzando a trilha. Bebi o quanto agüentei, peguei uma panela, acendi o fogareiro e coloquei o macarrão para cozinhar. À uma hora de distância de onde eu estava, o Lindolfo e o João lutavam para não desistir. O Dema dava o apoio psicológico. Disseram-me que o João teve que comer uns torrões de açúcar para conseguir seguir enfrente. De vez enquanto parava e deitava no meio da trilha e ficava lá feito uma barata tonta, com as pernas para cima (desculpa caro amigo eu jurei que não iria zoar, mas foi mais forte que eu, kkkkkk). Enquanto o macarrão cozinhava, passou por mim a galera do acampamento da prainha e me ofereceram uma panela de comida pronta e mais um pacote de molho de tomate. Agora sim o banquete estava completo. Logo apareceu o Dema e o Lindolfo e a notícia não era nada boa: “O João está puto com você”. Disse o Dema. Fazer o que, eu havia errado na quantidade de comida por causa da correria que foi na véspera do feriado. Sempre carregamos comida demais e dessa vez faltou. Meu erro quase fez um amigo sucumbir de inanição. Já era quase 3 horas da tarde e os caras não haviam comido nada, mas agora ali estava uma super panela de macarrão com arroz e legumes e um super suco de jabuticaba, espero que eles me perdoem. O João apareceu na curva da trilha. Era o demônio em pessoa, seus olhos arregalados me deram medo, pensei em fugir correndo mata adentro (rsrsrsrsr). O cara me esculhambou legal,foi difícil fazê-lo aceitar as minhas desculpas. Enchi um super prato de comida e dei nas mãos dele. O menino comeu feito um refugiado africano. Para reparar o meu erro, nem almocei, dei toda a minha comida para ele, afinal o erro havia sido meu, eu que pagasse pela minha falta de planejamento. Todos alimentados, as energias revitalizadas,o humor de volta, seguimos trilha acima até chegarmos ao mirante perto de uma das torres. Lá encontramos uma galera que estava indo ao poço Formoso. Já estávamos preocupados com a fiscalização na entrada da trilha, pois estávamos a menos de quarenta minutos de Paranapiacaba. A galera nos deu uma dica de uma trilha alternativa, que sai a direita antes de chegarmos onde estaria a fiscalização, mas acabamos não encontrando o tal bambuzal que eles haviam relatado e de supetão demos de cara com o carro da fiscalização. Pensamos em voltar, mas os caras já haviam nos vistos. Não havia mais nada o que fazer, era enfrentar aquilo de que havíamos corrido durante três dias. Fomos pegos e agora teríamos que enfrentar nossos pesadelos de frente, com a cabeça erguida, como homens que somos. Realizamos uma travessia perfeita, uma caminhada para entrar para nossa história de excursionistas. Uma caminhada para guardar para sempre na memória, uma caminhada de dias de aventuras intensas, de amizades e companheirismo. Erguemos a cabeça, estufamos o peito e olhamos direto nos olhos daquele que seriam os nossos algozes. KKKKKKKKK, eram dois tiozinhos jogando baralho dentro da vam do meio ambiente: “ Oceis num sabia que é proibido caminhar por essa trilha e que ela ta fechada pra recuperação”. Não senhor, nós não sabíamos, estamos vindo do litoral e não existe nenhuma placa indicando qualquer proibição,disse eu.” Pois é, agora ceis tão sabendo ! Nos despedimos dos dois “guardas” e ganhamos o estacionamento, passamos enfrente ao cemitério e estacionamos nossos corpos cansados e extremamente felizes enfrente a Igreja principal, exatamente onde tudo havia começado a três dias atrás. Na igreja de Paranapiacaba, tentei persuadir os meus amigos a descer até a grande ponte, mas os caras não queriam mais saber de dar mais nenhum passo. Então peguei minha mochila e fui dar uma volta na vila histórica. De cima da grande ponte, de frente para a réplica do Big Bem, fico imaginando e relembrando parte da minha infância, quando viajávamos de trem de Campinas para São Paulo para visitar meus avós. Isso acontecia todo final de ano. Eu e meus irmãos esperávamos o ano inteiro por isso. O meu país só tinha dinheiro para viajar de trem, eram tempos difíceis. Hoje o trem já não existe mais, meus avós já morreram, mas ainda me restam as lembranças. Lembranças que levo deste lugar maravilhoso, que por muito tempo reneguei ao esquecimento e ao desdenho, mas agora que o descobri, prometo voltar muitas vezes, para descobrir novos paraísos, para fazer novos amigos e para continuar celebrando a vida e a amizade com os velhos amigos, porque é isso que faz valer a pena continuar vivo, porque é isso que faz valer a pena continuar seguindo enfrente. Obrigado meus amigos, vocês foram demais........... DIVANEI GOES DE PAULA- ABRIL/2012
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http://jorgebeer.multiply.com/photos/album/142/Travessia_do_Quilombo TRAVESSIA DO VALE DO QUILOMBO O Vale do Quilombo é um dos vários rincões selvagens nada visitados q se traduzem em fundos vales cavados por rios de águas cristalinas. Situado em Paranapiacaba e paralelo ao Vale do Rio Mogi, o Quilombo despeja suas águas através dos ingremes e escarpados contrafortes serranos rumo Santos formando inúmeros remansos, cânions, poços gigantescos e cachus. Como descer o rio era pura questão de tempo, resolvemos matar essa desfeita neste ultimo fds apenas pra indicar mais este programa radical de 2 dias q rasga o vale serra abaixo até o tradicional Poço das Moças, vencendo árduos 1180m de desnível, pra depois subi-los novamente até a vila inglesa. Aventura, adrenalina e perrengue garantidos q comprovam q fora dos limites formais de Paranapiacaba existe mta coisa ainda pra explorar. Um dos meus filmes preferidos é “King Kong” onde a parte q mais gosto é a minuciosa e emocionante exploração da misteriosa “Ilha da Caveira”, habitat do personagem-titulo. O clima de aventura e tensão q se instaura até metade da produção é fantástico no q se refere tanto a diversão escapista como a interrogação qq da busca rumo o desconhecido. O resto é encheção de lingüiça melodramática. E era essa mesma ansiedade q tomava conta de mim na véspera da trip proposta, já q desde meu primeiro contato com o Rio Quilombo (algo de uns 3 anos), sempre cogitei ávidamente a possibilidade de um dia descê-lo por completo, percorrendo seus misteriosos meandros atraves de td sua extensão, serra abaixo. Já estivera em seus limites extremos, mas sempre me indaguei: o q haveria bem no meio? Contudo, a falta de cia apropriada, disponibilidade de tempo ou qq outro porém sempre terminei adiando este programa de fds. Ate agora. E pra entrar previamente no clima revi o filme do enorme simio á noite anterior a empreitada. A previsão de tempo era bastante incerta mas ainda assim, teimosos feito mulas, fomos resolver essa antiga pendega com a Serra do Mar nos arredores de Paranapiacaba q era descer o Rio Quilombo. Dessa forma eu, Fernando e Abade (ambos da“T2 Aventura”) chegamos numa vila inglesa envolta em seu tradicional e indefectível nevoeiro as 8:30. A passos ligeiros tomamos rumo o Taquarussu de modo a ganhar o maior de tempo possível na pernada, e meia hora depois mergulhávamos finalmente na mata fria e úmida da picada principal q leva tanto pra “Comunidade”, pro Quilombo e o Anhangabaú, q por sua vez era um brejo só em virtude das ultimas chuvas. O ritmo imposto à caminhada e o calor abafado imediatamente fizeram nossos corpos se encharcarem de suor, mesmo com rápidas paradas pra clicar este ou aquele outro detalhe dos habitantes da floresta. Com a mata filtrando através de suas folhas um tímido sol ameaçando sair, o canto metálico de uma araponga avisava-nos da chegada à famosa “bifurcação das bananeiras”, as 10:30. Tomando o ramo da esquerda e sempre no mesmo compasso, ignoramos as bifurcações sgtes sempre buscando nos manter na vereda principal, embora no coração da floresta reconhecer isto seja algo bem subjetivo eonde há certa necessidade de alguma vivência na mesma pra discernimento das poucas ocasiões necessárias de farejo da mesma, principalmente qdo o caminho se encontra repleto de obstáculos, como mta mata tombada por exemplo. O trecho final, marcado por uma interminável descida de crista de declividade considerável, foi feito na base da corrida de forma ate meio irresponsável; com o chão besuntado de lama escorregadia e da inércia inerente de nossa velocidade imposta o risco do nosso freio falhar e meter a cara no chão ou na arvore sgte era constante. Após um curto trecho desescalaminhando pedras numa vala erodida, alcançamos enfim o Rio Quilombo nos arredores do “Rancho 71”, um antigo reduto de palmiteiros, as 11:10. Empolados no alto de uma gde pedra as margens do rio nos brindamos com uma pausa de descanso e de lanche merecido antes de efetivametne começar a descida do mesmo. O local é emblemático do q estava por vir: enormes pedras desmoronadas formando gdes cachus e belos poços represados entre os rochedos cercados da mais espessa mata! Dez minutos depois dávamos inicio oficialmente à trip, descendo com cautela a larga lajota de pedra em q estávamos pra acompanhar o rio pela margem direita. Mas isso durou pouco pq poços, abismos, pedras e pirambas rochosas maiores surgiram nos obrigando a cruzar à outra margem, e assim sucessivamente fomos “costurando” o rio conforme a segurança ditava. Este trecho é bem íngreme e perde-se altitude com rapidez em meio a um rio furioso. Andar pelas pedras requer extremo cuidado pois estão besuntadas de um limo visguento desgraçado, e derrapar nelas era um risco quase q constante de acidente serio. Por esta razão td travessia foi feita com calma, sem pressa, mas ainda assim isso não nos livrou de belos capotes, carimbadas de bunda e pancadas na canela. Por volta das 13:30 a declividade suavizou e fomos pela margem esquerda, q era dominada por pequenas pedras roladas. Mas não tardou a monólitos rochosos maiores barrarem nossa avanço nos obrigando a contorná-los, seja na escalaminhada de pedras seja no vara-mato de encosta puro e simples. Felizmente sem maiores dificuldades, pra espanto das varias pererequinhas q saltavam assim q surgiamos. Ate outra vez a declividade aumentar e a paisagem se assemelhar com a de inicio. Apesar de relativamente lento em virtude da cautela com pedras escorregadias, nosso ritmo era constante sem nada q o alterasse. Ainda assim estavamos preparados pra qq surpresa q surgisse na próxima curva do rio. E assim nos reverzavamos na dianteira na tarefa de decidir q caminho era o mais segura pra atingir o patamar sgte, rio abaixo. O esforço conjunto tanto dos braços como das pernas q o tempo td nos mantinha transpirando, mas por sorte estavamos bem do lado do rio, cujo liquido universal translucido em mais de uma ocasião refrescou tanto nossos rostos qto nossa goela seca, embora mtas vezes tivessemos q andar através dele com agua quase ate a cintura. Enqto isso, o tempo mantinha-se apenas naquela nebulosidade clara, não se decidindo se chovia ou abria. O destaque neste trecho foram os incontáveis remansos repletos de monumentos rochosos, poços, gdes cachus e piscinoes naturebas. Parar, no meu caso, era impossível em virtude das trocentas moscas-varejeiras q não perdiam um descuido nosso pra sugar sangue fácil numa irritante e dolorida mordida! Dessa forma seguimos em frente firme e forte, engolindo td sorte de teia de aranha q surgia inadvertidamente na minha frente! De suas margens, observamos como os cipós, espinheiros, os galhos das árvores e as folhas secas enroscam-se, a ponto de impedir a penetração do sol. Seguindo sempre nesse compasso árduo, porem constante, atingimos o inicio de um aparente canionzao, com enormes paredões inclinados emparevam com media declividade o rio q serpenteava sinuosamente através dele. Aqui houve necessidade e subir a encosta direita diversas ocasioes e avançar em meio à vegetação até retornar outra vez á margem do rio, bem mais adiante. E assim sucessivamente ate q chegamos num local onde o rio cavava um cânion ate desaguar no pai de tds os poços daqui, as 15:30, um mega-maxi poço do tamanho de um campo de futebol oficial, envolto em gdes muralhas de pedra inclinadas num ângulo de 45 graus!!! O enorme espelho dágua refletia maravilhosamente a nebulosidade clara daquele horário de forma impar. Ao contorna-lo, na encosta encontramos vestígios de uma trilha e uma clareira de acampamento. Sera q essa trilha era a q vem da “Cruz do Firmino”? Fica lançada a duvida e mais um motivo pra retornar pra mais explorações. Dando as costas ao mega poço damos continuidade à pernada inabalável rio abaixo, alternando trechos íngremes com outros mais suaves. A paisagem alternava-se com freqüência de gigantescas pedras desmoronadas e pequenos cânions q culminavam sempre em majestuosos e convidativos poços ideais pra banho, embora a esta altura uma fina garoa comecava a fustigar nosso rosto suado. Foi a partir das 16hrs q começamos a ficar preocupados da demora em chegar no Poço das Moças, apesar do nosso ritmo ágil. “Meu, essa porra não acaba! Kd o Poço?”, reclamava Abade. Mas sua preocupação era justificada, já q ele era o único q não trazia nada prum eventual pernoite, apesar de ter sido previamente avisado do risco da pernada não ser concluída naquele dia. Eu e o Fernando estavamos bem precavidos e não tínhamos pressa alguma, mas éramos apressados justamente pelo descuidado Abade, q não queria de forma alguma ficar ao relento caso houvesse necessidade. E a tarde já quase no fim.. A pernada prosseguiu árdua ate q chegamos noutro canionzao q acompanhamos outra vez pela mata, na margem direita, e la encontramos uma picada bem evidente q ia na direção desejada. Como ir pela picada vereda bem mais q pelo rio não tivemos duvida e fomos por ela, ganhando tempo. Mas as 17:30 esbarramos com 3 jovens (um deles segurando uma galinha desesperada pra não ir pra panela!) numa barraca q nos informou já estarmos no Poço das Moças!!! Dito e feito, olhei com atenção em volta e realmente aquele lugar me era conhecido, havíamos concluído a travessia!! Uhuuu! Se prosseguissemos 500m abaixo desembocariamos numa represa e depois o Quilombo corria manso, quase na horizontal, em meio ao bairro do mesmo nome ate desaguar próximo da Rodovia Piacangüera. Uma fina garoa voltava a cair e nos presenteamos um momento de descanso e de lanche naquele bucólico lugar enqto conversávamos com o trio, q fazia parte dos “Funiculeiros”, grupo q costuma andar pelo antigo sistema funicular de Paranapiacaba serra a abaixo, e vice-versa. O papo tava bom mas tínhamos q ser ligeiros e rápidos. Eu estava preocupado com o q ainda tínhamos pela frente, afinal a travessia havia sido concluída mas não a trip! Havia ainda q vencer os 1180m q nos separavam da vila de Paranapiacaba através de uma trilha q eu conhecia razoavelmente, porem isso com luz natural. Como o ultimo q desejava era andar a noite apressei meus colegas pq afinal á noite tds os gatos são pardos e qq coisa pode ser uma trilha, podendo haver alguma confusão no caminho. Nos despedimos do trio funiculeiro e as 18:45 inciamos o longo e íngreme caminho q tínhamos pela frente ainda. E tome uma forte e interminável piramba quase na vertical - similar à do Corcovado de Ubatuba - q num piscar de olhos ensopou nosso rosto e nos separou uns dos outros! Mas a declividade era apenas um dos obstáculos, pois umedecida pela chuva fazia com q déssemos um passo e retrocedêssemos dois, escorregando! E assim fomos ganhando lentamente altitude ate o som do rio ficar lá atrás. A subida tb exigiu bastante do Fernando, q teve q parar em mais de uma ocasião acometido de fortes cãibras nas pernas e uma dor-de-cabeça dos infernos. Após um tempão q pareceu interminável começaram a surgir as bifurcações q geraram duvida da minha parte, mas esta preocupação se diluiu assim q a picada nivelou e subiu em ziguezagues a encosta, dando na Pedra Lisa e onde nunca tomamos agua com tanto gosto, já quase escurecendo. Daí começou outra vez uma íngreme subida vertical onde os atalhos apenas mais confundem q ajudam qdo se tem pouca visibilidade, o q nos obrigou a usar as headlamps. Mas ainda assim isso foi insuficiente, principalmente qdo o único q conhecia o caminho (mais ou menos) era eu, e olha q à noite sou cegueta total em virtude da minha maledita miopia, mesmo com lanterna. Por isso q evito andar a noite pois não confio em meus instintos. Áquela altura estavamos ensopados por completo pela chuva q novamente caia e após duas bifurcações em “T” numa piramba vertical começamos a bordejar a encosta direita da montanha durante um tempão. Já eram quase 20:30 e na demora obvia em alcançar o “Mirante” q a ficha caiu: nalgum lugar havíamos tomado a picada errada!!! Bosta!!! Particularmente estava muito cansado e já não raciocinava nem enxergava direito, so vendo a hora de encostar nalgum canto e desfalecer. O pessoal insistiu em prosseguir mas foi voto vencido qdo percebeu q isso so nos levaria mais longe ainda, q já estávamos no rumo errado. E andar noite adentro às cegas tava fora de cogitação! Conclusão: não terminaríamos infelizmente naquele dia, daríamos um jeito de passar a noite ali e terminaríamos somente na manha sgte! E assim cada um aninhou-se do lado da picada como pôde. Eu trazia minha rede á tiracolo e não tive problemas em arrumar duas arvores pra acomodá-la me cobrindo com um plástico pra proteger da chuva; já o Fernando e o Abade dividiram um plástico e isolante no chão e se cobriram com uma pequena lona enqto tentavam se acomodar ora sentados ora deitados. O fato era q estavamos tão cansados q nem sequer comemos, mal improvisamos nosso pernoite trocamos nossa roupa encharcada por outra mais seca e quente q apagamos, ou pelo menos tentamos dormir. Meu sono foi de certa forma através de capítulos, pois dormia um tanto e acordava outro, mas não pelo desconforto e sim pela fria umidade q a rede depositara na região dos meus quadris. Mas bastou vedá-lo com varias sacolas plástica de supermercado q tornei a dormir feito anjinho. Já o Fernando e Abade tentavam dormir ora sentados, ora virando de um lado pro outro naquele chão folhado irregular naquela noite q pra eles pareceu não ter fim. Por sua vez a idéia do tempo era ditada pelo apito do trem nalgum lugar ou pelo intermitente “toc, toc, toc!” de um picapau martelando nalgum lugar. Felizmente a chuva cessara na calada da noite, mas já havia deixado seu estrago. O domingo amanheceu radiante e sem vestigo algum de nuvem, e assim q clareou levantamos doloridamente dos nossos respectivos cafofos. Enqto arrumávamos as coisas, as 6:30, eis surge um senhor no meio da mata acompanhado do seu cachorro, q ate imaginamos em se tratar ou de um guarda municipal ou caçador, pois trajava roupa camuflada. Q nada, seu nome era Felix e apresentou-se como morador da regiao q apenas costumava passear ali aos domingos. Claro q não pensamos duas vezes em indagar-lhe da trilha pro Mirante, o q apenas confirmou nossas suspeitas de q havíamos deixado passar a picada certa bem atrás alem de nos indicar um oportuno atalho pra direção correta. Nos despedimos do prestativo senhor e após subir durante pouco tempo outra piramba serra acima não é q emergimos no maledito Mirante, as 6:44, agora sim na cota dos 1185m de altitude?? Pois é, havíamos pernoitado próximo de onde desejávamos chegar e q isso sirva de lição de saber como a luz natural é diferencial pra reconhecer ou não uma picada certa no mato. E de não ir alem dos próprios limites qdo as forcas já não permitem, pois ai dá-se margem pra desatenção e descuidos. E pros perdidos, naturalmente. A partir do Mirante já é caminho da roça e não tem mais segredo. Após entrar e sair da mata, descer td estrada de paralelepipedos da Boa Vista e passar pelo portal do Pq Municipal das Nascentes sem alma viva na guarita, damos finalmente no centro da vila de Paranapiacaba as 7:30, q sequer havia amanhecido incluindo o Bar da Zilda, ainda de portas fechadas. Enqto os primeiros turistas começavam a chegar à vila nos íamos zarpando e so tomamos nosso sarado café-da-manha em Rio Grande da Serra, por volta das 8:30, onde comemoramos a perrengosa porem vitoriosa empreitada. Dores musculares pelo corpo td e espinhos nas mãos por retirar era um tributo ate mais baixo cobrado pelo Quilombo pela aventura e tanto q havia nos proporcionado. Espécies raras na vegetação, arvores frutíferas, animais de vários tipos e tamanhos cortados por um sinuoso rio cristalino serra abaixo. Esse é o Vale do Quilombo, uma área aproximada de 10km de comprimento por 2km de largura q ainda se conserva quase virgem. Sem necessariamente macacos gigantes, ferozes dinossauros ou canibais comedores-de-gente, porem detentora de uma imensidão verde de Mata Atlantica, o Quilombo ainda detém programas selvagens inesgotáveis à direita, a escarpada Serra do Jurubatuba e, à esquerda, as encostas da Serra da Boa Vista. Tem ainda o Morro Cabeça de Negro no fundo do vale. Com uma riqueza de manaciais e espécies exóticas o Quilombo parece pertencer a outro mundo. E como estes atributos vão alem da charmosa vila inglesa e da opulência da mata q forra seu parque municipal homônimo, basta apenas um fds de bom tempo e disposição pra meter as caras pra perceber q nossa vizinha Serra do Mar não deve em nada em aventuras emocionantes à misteriosa “Ilha da Caveira” do filme do Peter Jackson.