Ir para conteúdo

Pesquisar na Comunidade

Mostrando resultados para as tags ''urubici''.

  • Pesquisar por Tags

    Digite tags separadas por vírgulas
  • Pesquisar por Autor

Tipo de Conteúdo


Fóruns

  • Faça perguntas
    • Perguntas Rápidas
    • Perguntas e Respostas & Roteiros
  • Envie e leia Relatos de Viagem
    • Relatos de Viagem
  • Compartilhe dicas de Roteiros Gastronômicos
    • Roteiros gastronômicos
  • Encontre Companhia para Viajar
    • Companhia para Viajar
  • Encontre companhia, faça perguntas e relate experiências em Trilhas
    • Trilhas
  • Tire dúvidas e avalie Equipamentos
    • Equipamentos
  • Outros Fóruns
    • Demais Fóruns
    • Saúde do Viajante
    • Notícias e Eventos
  • Serviços com Desconto
    • Seguro Viagem
    • Reservar Hospedagem
    • Cupom de Desconto

Encontrar resultados em...

Encontrar resultados que contenham...


Data de Criação

  • Início

    FIM


Data de Atualização

  • Início

    FIM


Filtrar pelo número de...

Data de Registro

  • Início

    FIM


Grupo


Sobre mim


Ocupação


Próximo Destino

Encontrado 15 registros

  1. Parte 2 Travessia solo da Serra da Anta Gorda 1°dia de travessia – Rancho Búfalo da Neve até Abrigo 1500 – 17km No ano passado em julho de 2020 eu havia feito a travessia do Campo dos Padres relato aqui .. https://www.mochileiros.com/topic/93114-travessia-do-campo-dos-padres-%E2%80%93-sc-%E2%80%93-julho-de-2020-%E2%80%93-80-km-em-5-dias-%E2%80%93-do-c%C3%A2nion-espraiado-morro-da-boa-vista-at%C3%A9-o-morro-das-pedras-brancas/ no sentido sul-norte saindo da Pedra da Águia as margens do rio Canoas, passando pelo canion Espraiado e cruzando todo o Campo dos Padres seguindo o rio Canoas até a sua nascente, subi o Morro da Boa Vista e ainda passei pelo morro do Chapéu, o Arranha Céu e morro das Pedras Brancas terminando as margens da BR 282. Mas o nome “Serra da Anta Gorda” havia me chamado a atenção na carta topográfica, essa serra ia desde o morro da Boa Vista até Águas Brancas em Urubici, eu até já tinha estudado pelo google maps um trajeto por ali. Então dessa vez de novo no Campo dos Padres resolvi fazer a travessia leste-oeste por essa serra que divide Urubici e Bom Retiro. As 8h20 pus a mochila e parti em direção a Serra da Anta Gorda saindo por trás do rancho até o Canoas, cruzei o rio e subi a antiga estrada que ligava o Campo dos Padres a Urubici pelo Rio dos Bugres, estrada essa, abandonada onde só passava cavalo e a pé. Logo na subida vi muitas gralhas azuis fazendo um estardalhaço sobre as araucárias, parei um pouco para observar e tentar tirar alguma foto. Logo alcancei o topo e fui seguindo a estrada que ia dando a volta pela margem esquerda de um afluente do rio Canoas, formava um pequeno canion, esse foi o canion da grota que no dia anterior entramos nele até a cascata do Leão Baio. Lá adiante cruzei o vértice deste canion e teve outra subida até o topo da Serra da Anta Gorda nos campos, ali próximo havia uma casa e um galpão já abandonados na margem direita do canion bem no topo protegido por uma coxilha, mas fora da estrada. Porém não cheguei perto e fui seguindo a estrada/trilha, dei uma parada para mastigar umas castanhas e tomar agua era umas 10h da manhã, também já me preparei, pois a chuva estava vindo e fazia bastante frio e vento. Ali era uma área de campo de altitude e segui adiante pela estrada até uma pequena descida que já estava bastante erodida onde havia uma outra casa com galpão também abandonados logo atrás meio que escondidos, cruzei outro arroio e vi dois cavalos, um branco e outro preto que ficaram só de olho em mim. Passei por eles e cheguei em uma mangueira velha de madeira toda quebrada, ali a trilha principal ia a direita, mas logo entrava na mata que estava na encosta norte em direção a Bom Retiro, preferi seguir a da esquerda na encosta sul voltada para Urubici e subi um morrinho e logo a chuva veio com força e junto a serração, minha ideia era seguir pelos campos ao invés de ir pela mata, mas ali havia muito banhado então decidi subir para a direita em direção a mata e alcançar a estrada de novo. Era uma estrada/trilha bem marcada sentido sudoeste, tendo uma elevação a minha esquerda e a direita o vale do Paraiso da Serra e por ali fui andando por um bom tempo, a chuva só piorava e o frio aumentava, minhas mãos expostas segurando o bastão já estavam congeladas e a minha capa de motoqueiro já estava passando água pelas costuras. Logo adiante a frente abriu para o campo do vale do rio dos Bugres e a estrada dava uma volta no morro agora sentido sudeste até um galpão cercado de uma mangueira de taipa bem robusta, cruzava um rio que formava um pequeno canion do rio dos Bugres e a estrada ia acompanhando pela margem esquerda até passar uma porteira grande e cruzar o rio sobre uma ponte. Já a direita havia uma propriedade habitada que era a estancia Bonin, passei bem próximo seguindo a estrada a direita em direção ao Abrigo 1500 que era o meu destino daquele dia. No caminho havia uma plantação de pinus Ellioti a direita e eu estava bem tranquilo trabalhando a minha respiração ao estilo Win Hof, ritmo cadenciado, tentando espantar o frio para ver se esquentava, o passo era firme, derrepente do lado esquerdo da estrada do meio das vassouras do campo me aparece um javaporco... tomei um susto, mas ele também, e cada um correu para um lado... Boa parte da Serra Geral está tendo problemas com Javalis e com a cruza deles com porcas que viram o “javaporco” que são enormes, destroem plantações fuçando o chão e comendo de tudo, podem ser muito agressivos e perigosos, por isso muito atenção com eles. Como vi que não veio atrás de mim, segui adiante no meu passo que já estava firme em meio a chuva que seguia forte me molhando cada vez mais. Parei adiante por uns minutos e logo passou um carro que buzinou e seguiu em direção a cachoeira do rio dos Bugres. Em pouco tempo lá pelas 14h e com aproximadamente 17km percorridos cheguei também no Abrigo 1500, que é a propriedade que tem a vista da cachoeira do Rio dos Bugres e camping. A princípio eu iria acampar, mas chovia tanto e eu estava tão molhado e com frio que pedi permissão para pernoitar no galpão pelo valor do camping, o Sr. Elói foi muito gentil e falou que não tinha problemas, inclusive me convidou para entrar em sua casa e me aquecer no fogão a lenha e secar minhas roupas. A rede elétrica não chegava até ali, e a luz era obtida por placas solares que davam conta de tocar a geladeira e algumas lâmpadas e tomadas. O camping custa R$ 30,00 e eles servem pastel e paçoca de pinhão, nem pensei duas vezes e pedi a paçoca que foi meu almoço e estava uma delícia. Depois a esposa dele pôs mais pinhão na chapa e fiquei ali tomando um café e comendo pinhão. Também estava ali o Romeu que havia passado por mim de carro com a família, e ficamos conversando um pouco sobre trilhas e Urubici. Logo em seguida a chuva deu uma trégua e fui dar uma volta pelo campo do camping e acessar os mirantes da cachoeira dos Bugres. São 2 mirantes acessados por uma pequena trilha, tem um deck de madeira para segurança e uma vista incrível da cachoeira que é uma das maiores de Santa Catarina com 218m, em um dos mirantes é possível ver duas grandes cachoeiras a dos Bugres e outra numa grota próxima e abaixo o vale/canion que forma o rio dos Bugres. Seguindo pela borda onde está o camping tem outra grota mais a direita de um outro afluente dos Bugres que vinha da serra formando outra grande cachoeira. É um excelente lugar para acampar e curtir a paisagem desta região do Campo dos Padres e rio dos Bugres, uma ótima estrutura, recomendo acampar ai no Abrigo 1500. Ao norte atrás da propriedade está a continuação da Serra da Anta Gorda, que segundo o Sr. Elói tem esse nome pois ali haviam muitas antas e algumas bem gordas, que hoje infelizmente não vemos mais na região. Também ali no topo daquela serra foi encontrado uma ponta de flecha de pedra lascada da tradição Umbu, mais um sinal do nome Bugres. A tradição Umbu foi um grupo muito antigo de caçadores e coletores que deixaram muitos vestígios na região em forma de pontas de flecha, estima-se que esse grupo antecessor das demais etnias indígenas esteve aqui entre 13 e 4 mil anos e habitavam toda a região do planalto de araucárias e campos rupestres. No galpão havia umas mesas com chão de madeira e junto está a estrebaria que é onde se ordenha as vacas, já na terra batida, uma caveira de búfalo todo pintado de preto ornava pendurado na parede, e alguns equipamentos para ordenha e arreios. Comecei a preparar minha janta, que seria polenta com queijo e bacon; sai do galpão para buscar um pouco de água, quando voltei dei conta que meu queijo havia sumido, pensei quem foi o gatuno que surrupiou parte da minha janta, dei uma olhada ao redor e achei um pedaço do queijo no plástico todo comido e rasgado e um gato escondido entre as madeiras na estrebaria. Achei o meliante e junto a sua ninhada. Deixei o queijo para eles, e eu que pensei que era os ratos que gostavam de queijo... ou será que por causa do sabor rato ao queijo que os gatos gostam também... Janta pronta, estava muito bom, só faltou o queijo para dar mais sabor... já consegui me aquecer um pouco com a refeição quente. Montei embaixo de uma mesa o meu isolante de eva, isolante inflável, travesseiro e o saco de dormir, pus minha roupa de dormir que é composto de uma meia de lã merino, uma calça e blusa térmica segunda pela, e uma blusa de lã sintética que tenho desde os meus 14 anos e sigo usando ela sempre. Além da touca e de uma luva de fleece. Está noite fez 6°C. Ao lado do saco de dormir deixo sempre uma garrafinha com água, meu afrin em caso de nariz entupido e a lanterna a mão. Guardei as comidas na bolsa de cozinha e pus dentro da mochila ao meu lado com “um olho no peixe e outro no gato”. E assim fui dormir, pois o dia seguinte ainda tinha muito chão pela frente. 2° dia de travessia – Abrigo 1500 até Urubici – 25km Acordei as 6h30, já fui guardando minhas tralhas de dormir, vestir minha roupa de trilha e tomar um café. Meu café em travessia consiste sempre em café passado na Pressca (tipo de prensa francesa de acrílico) pão com polengui, salame e “queijo” (quando tem...), carrego também para lanche de trilha uma garrafa pet com um mix de castanhas, uvas passas e gotas de chocolate, além de uma barra de chocolate, particularmente tenho levado o chocolate Talento da Garoto por ter uma quantidade grande de calorias, ser gostoso e ter muitas versões. Mochila pronta e café tomado, sai do galpão e dei de cara com o frio, me despedi do Sr. Elói e aproveitei o dia de céu azul para ir de novo nos mirantes da Cachoeira do Rio dos Bugres para curtir mais um pouco a paisagem. Depois passei pela casa de novo e logo atrás segue a trilha que sobe até a Serra da Anta Gorda novamente, a irmã do Sr. Elói é a única moradora naquela região acima, apesar de ter outras casas e galpões, porém desocupados. Fui seguindo o caminho por um faxinal bonito, corria um arroio sobre uma laje de pedra, parei para umas fotos. E logo a frente a trilha subia forte até a cumeeira da serra e dali se tinha uma vista linda ao norte do Paraiso da Serra e de um mar de montanhas, a leste se via o Morro da Boa Vista e Morro do Chapéu. Fui seguindo pelos campos ora margeando a borda norte, ora para o sul. Neste momento senti arder a sola do meu pé próximo ao dedão, a meia e o tênis estavam molhados então já sabia o que poderia ser. Parei logo em seguida e tirei meus tênis e meias, torci as meias que estavam encharcadas, sequei meu pé e passei uma pomada de vick vaporub que é o santo remédio do montanhista podendo ser usado para muitas coisas. Deixei meu pé respirar e aproveitei para comer meu chocolate e castanhas e curtir a paisagem. Depois colei um esparadrapo, calcei minhas meias e tênis novamente. Segui adiante e fiquei monitorando, o segredo para bolhas é fazer os primeiros socorros logo no primeiro sinal de irritação e vermelhidão, não pode deixar levantar a bolha, se não é problema. Caminhei todo o trajeto sem problemas. No meu caminho ainda cruzei algumas vacas e cercas, até que vi mais abaixo a uns 500m ao sul a propriedade da família do Sr. Elói, fui contornando o morro por cima até que chegou na estrada de acesso a propriedade e onde chegava também a rede elétrica. Ali a estrada era transitável de carro. Resolvi tentar seguir fora da estrada pelos campos, mas algumas vezes não tinha como até que fui descendo até uma propriedade bem grande onde havia bastante gado e de ali em diante seria só por estradas. Achei alguns pinhões debulhados pelo caminho e fui enchendo o bolso até que mais pra frente parei embaixo de uma araucária e fiz outra bela sapecada de pinhão, não sabia quando teria a oportunidade de novo, já que fazia muitos anos que eu não comia, ai aproveitei para curtir esse momento de fazer a pilha de grimpa, por fogo e os pinhões e sentado no chão ir pegando pinhão por pinhão sapecado, queimado pelo fogo com partes ainda em brasa, ia esfregando na mão, queimando e sujando de carvão, e assim fui me deleitando com essa iguaria serrana. Fiquei imaginando essa região a alguns séculos atrás ainda antes dos tropeiros com os diversos povos indígenas que por aqui haviam passado coletando pinhão, obviamente que o pinhão sapecado deveria ser a principal forma de comer essa rica e proteica semente da araucária nos meses frios de inverno. Logo fui seguindo pela estrada, abrindo e fechando porteira e passando por um corredor de araucárias que por muitas vezes formava um túnel no caminho. Era uma paisagem muito bonita e bucólica. Logo começou a descida bem forte ziguezagueando a estrada, em um certo momento encontro um pônei com uma franja muito estilosa, me aproximei dele, mas ele não quis muita conversa. E assim segui até a base da estrada e dei de cara com um bosque de araucárias todo varrido, grimpas amontoadas e uma entrada tipo de condomínio. E aí percebi que eu já havia chegado em um ponto turístico de Urubici chamado de Cavernas dos Bugres, que na realidade não são cavernas e sim paleotocas. Essas estruturas eram tocas que foram escavadas pelos gliptodontes, os tatus gigantes da megafauna que eram do tamanho de um fusca. Mais tarde diversas etnias indígenas (tradição Umbu, LaKlãnõ-Xokleng, Kaingangs...) ocuparam de forma aleatória essas tocas, deixando ali alguns registros rupestres, além de pontas de flechas e outros artefatos líticos. São diversos túneis de até uns 100m de extensão, ora se interligando, ora se sobrepondo. Havia dois conjuntos de túneis e logo abaixo corria um arroio. Dentro destes túneis haviam alguns morcegos e vários opiliões que são uma espécie de aracnídeo de cavernas. São estruturas baixas, tendo que andar levemente abaixado e algumas vezes até engatinhando. Aproveitei que já era 13h e o bosque de araucárias ali, sentei no gramado tirei meu tênis e almocei meu sanduiche de polengui, salame e mel de bracatinga. Só faltou o queijo.... kkkkk Seguindo a estrada abaixo há um portão fechando a rua e ali tem a pousada da Caverna Rio dos Bugres, fui barrado de forma agressiva e mal-educada por um homem dizendo que ali era propriedade particular e que eu tinha que pagar uma taxa, ai eu falei tudo bem, quanto é? Eu pago! Falei que não sabia que aqui era propriedade particular uma vez que passei por várias propriedades estrada acima. Aí ele falou que ele era dono de tudo ali, e eu passando por aqui poderia sumir uma vaca, e as câmeras dali me pegariam então eu seria o culpado... falei: pera ai loco! Tá me chamando de ladrão?? Sou montanhista e estou vindo de longe desde o canion espraiado, passando por várias propriedades, pedindo autorização a todos, mantendo todas as porteiras, cercas e animais como estavam, aí ele disse que não precisava mais pagar, mas tinha que avisar não sei quem... Infelizmente temos ignorantes assim, ainda mais para quem trabalha com turismo me pareceu muito despreparado e totalmente focado no dinheiro e na cobrança pela passagem pois o ponto turístico era propriedade dele, não sei se a estrada realmente é ou não. Porem precisa melhorar a abordagem. Então fica a dica de quando passarem aqui, já vir com dinheiro na mão. Passado esse contratempo segui pela estrada que ia margeando o Rio dos Bugres que dá nome a localidade, uma área rural muito bonita, com muitos sítios e chácaras, havia bastante criação de gado, cabra, também hortaliças e pomares. Mais adiante já alcancei o asfalto que liga Urubici ao Corvo Branco e fui até o camping Hospedagem Rural Nossa Senhora das Graças, um lugar muito bacana com uma ótima infraestrutura para acampar, tem também espaço para motorhome e chalés para alugar, recomendo o lugar. E ai finaliza essa minha jornada desde o Canion Espraiado, passando pelo Campo dos Padres, Serra da Anta Gorda, Rio dos Bugres e Urubici.
  2. Travessia do Campo dos Padres – SC – julho de 2020 – 80 km em 5 dias – Do Cânion Espraiado, Morro da Boa Vista até o Morro das Pedras Brancas *INFORMAÇÃO*: Essa travessia é realizada em área particular é OBRIGATÓRIO solicitar AUTORIZAÇÃO para passar nas propriedades do Campo dos Padres. Vamos respeitar os proprietários e manter o local aberto para que possamos continuar com nossas travessias e trekking. Entrar em contato com a Fazenda Búfalo da Neve. Instagram: @fazendabufalodaneve via direct Fone: 48-99617 7552 Arno Philippi – 48-99152 1277 Lucas Philippi *IMPORTANTE* -NÃO FAÇA FOGO NUNCA – Use fogareiro -LEVE TODO O SEU LIXO EMBORA -TUBOSTÃO (Vamos todos começar a usar esse banheiro) nesta região estão muitas nascentes importantes de SC, é necessário mantermos o meio ambiente em equilíbrio e limpo. Temos outras áreas de montanha do Brasil como o Pico Paraná e Pedra da Mina que já estamos tendo problemas sérios de contaminação por conta das fezes, papel higiênico e dos lenços umedecidos deixados nos “banheiros” ao redor das áreas de acampamento. O TUBOSTÃO serve para vc levar tudo isso de volta para a sua casa e descartar no lixo. Vamos a Travessia Essa travessia eu tinha combinado com meu parceiro Bernhard que já havia ido comigo em Itatiaia, porém tive um imprevisto na empresa e acabamos não indo. Sorte nossa, pois foi bem na semana do tal ciclone bomba que destruiu muita coisa em Santa Catarina e no Campo dos Padres não foi diferente, tem áreas de mata lá que parece que passou um trator derrubando tudo. Neste interim entrou em contato comigo o Rafael @dinklerafa perguntando sobre a travessia solo que eu havia feito entre Urubici e Bom Jardim da Serra pelo PNSJ. E que ele estava programando vir para a serra catarinense fazer uma travessia, eu disse que ainda estava em aberto ir para lá e assim combinamos a parceria para a travessia. Marcamos então nos encontrar em Urubici na Pedra da Águia no vale do Rio Canoas no domingo a noite. O meu amigo Bernhard começou a trabalhar naquela semana infelizmente mas por sorte minha foi em Lages, e aproveitei a carona com ele saindo de Itajaí. 1° Dia – Pedra da Águia Este dia já começou de noite. Kkkkkkk cheguei no ponto de encontro quase as 20h, garoava um pouco naquele momento quando o Bernhard me deixou no Vale do Rio Canoas junto a propriedade Pedra da Águia que serve como base para camping e estacionamento para aqueles que vão para o Cânion Espraiado. Chamei na casa e ninguém atendeu apesar de as luzes estarem acesas e ter carro ali estacionado, tão pouco sinal do meu parceiro Rafa que a esse momento já deveria estar por ali, dei uma olhada ao redor para ver se já não estava acampado, mas não encontrei. Aproveitei o ultimo facho de luz do farol do carro e montei próximo ao rio minha barraca. Quando estava ajeitando minhas coisas o Rafa aparece do meio do nada! Ele disse que o taxista deixou ele uns 5 km adiante já em direção ao Cânion Espraiado e ele teve que voltar andando pela estrada na chuva. Ali nos conhecemos e fomos conversando, um cara muito bacana. Enquanto preparávamos nosso rango o papo fluía. Acertamos alguns detalhes referente a travessia como um todo e do próximo dia também, o qual ao invés de seguir o caminho tradicional pela estrada para alcançar o Cânion Espraiado, sugeri então contornar a Pedra da Águia e passar por trás dela e seguir até a borda da Serra Geral próximo ao Corvo Branco e então seguir sentido norte bordeando os peraus até chegar ao Cânion Espraiado. Logo em seguida fomos dormir para descansar. 2° Dia – Pedra da Águia até o Cânion Espraiado – 12km de trilha Acordamos cedo, ainda estava meio nublado mas entre as nuvens já víamos que iriamos ter um dia limpo pela frente. Enquanto a água ia fervendo para o café íamos desmontando o campo e arrumando a mochila. O vale do Rio Canoas nessa região é muito bonito com a vista da Pedra da Águia de fundo as araucárias na extensão do vale e o rio descendo suavemente entre as pedras. Após tudo pronto começamos nossa caminhada as 8h, os cachorros vieram nos seguindo uma parte da estrada e foram dispersando um a um, mas sobrou um pretinho que nos acompanhou toda a trilha. Logo quando contornamos a pedra da Águia passamos pela casa do Candimiro e ficamos ali um tempo de prosa com ele que nos autorizou passar pela propriedade e assim seguimos nosso rumo. Uma subida suave por uma antiga estrada que já não passa mais carro. Depois de uma hora e pouco de trilha chegamos a borda da Serra Geral ao sul estava a estrada da Serra do Corvo Branco na direção norte o Cânion Espraiado, paramos para curtir o visual e tirar fotos, naquele momento nos preocupamos um pouco com o cachorro pretinho que vinha nos seguindo. O caminho todo foi bordeando a serra seguindo a estradinha abandonada na margem direita do Espraiado. Em um certo ponto chegamos em uma depressão onde formava um pequeno Cânion afluente do rio Canoas em direção oposta a borda da serra geral ali tinha uma pequena faixa de mata para cruzar e adiante seguimos andando pelos campos, banhados e turfeiras que seriam uma constante em toda a travessia e também curtindo o visual do Cânion. Passado das 13h paramos de frente para a cachoeira do Adão para almoçar. Tinha sobrado um macarrão com linguiça Blumenau da noite anterior e já pus na panela, ainda fervi água para um bom chá de hortelã com gengibre e ali ficamos contemplando aquele visual. Quando retornamos a caminhada vimos logo acima do vértice do Cânion que havia um objeto retangular e ficamos imaginando o que poderia ser, o Rafa falou que poderia ser uma placa informativa eu já pensei que fosse tipo um deposito/armário de madeira para guardar o material do pendulo. Quando chegamos lá a nossa surpresa foi que era uma geladeira da Cervejaria Patagônia, eles estavam fazendo um comercial publicitário. Ali encontramos também a Carol proprietária da Fazenda Espraiado e ela nos indicou ir na cachoeira e avisou que a outra parte da borda do Cânion estava proibido passar por problemas de vizinhos e uso da área. Descemos até a cachoeira, que na realidade são 2 uma primeira menor que forma um baita poço para banho e a queda principal que desagua por 86m Cânion abaixo. Neste momento flagramos o pretinho abocanhando alguma coisa no mato e quando vimos era um tipo de roedor que em seguida ele soltou no chão. Logo fomos em direção a sede da fazenda onde é o camping e hostel do Cânion Espraiado. Ali conversamos com o Jacaré do Cânion que trabalha na fazenda, acertamos com ele o valor de R$ 40 pelo pernoite em camping, comemos um pastel muito bom e montamos nossa barraca, depois ficamos no galpão crioulo ao redor do fogo de chão proseando e tomando uma cerveja Patagônia com o Jacaré. Aproveitei para secar minhas meias, com os furos que minha bota tinha e os banhados no caminho esse seria um problema que eu enfrentaria todos os dias com os pés molhados. Também recarregamos o celular e aproveitamos para mandar as últimas mensagens pois a partir dali não teria mais sinal pelos próximos 4 dias. Preparei minha janta uma bela polenta com bacon e conversando com o pessoal, falaram que a partir dos 2 próximos dias viria uma frente fria muito forte. Pegamos umas dicas da trilha para o próximo dia cedo em direção ao Morro da Antena (agora montanha infinita) para ver o nascer do Sol e em seguida fomos dormir. 3° Dia – Cânion Espraiado – Campo dos Padres – parte alta do Rio Canoas - 18km de trilha Acordamos as 4h30 pois queríamos estar as 7h para o nascer do sol. Já fomos desmontando a barraca e o frio já era forte na escuridão da madrugada, havia um pouco de gelo no sobreteto da barraca. Após tudo desmontado tomamos um café passado pelo Jacaré dentro do galpão e comi meu pão sírio com polengui, queijo e salame, além do meu super brownie com malto e dextrose além de algumas castanhas (esse seria meu cardápio de café da manhã de todos os dias). As 6h horas seguimos pela trilha por entre a mata até o topo do morro da Antena e já no chapadão do cume presenciamos várias poças de água congeladas. As 7h05 foi o alvorada sobre um mar de nuvens aos nossos pés e um céu limpo sobre nossas cabeças, a vista do Cânion espraiado lá de cima é linda e ainda é possível ver toda a extensão da Serra Geral com destaque para as Pirâmides Sagradas e o Morro da Igreja. Estive nesse morro em 2001 subimos eu e o meu amigo BIG Daniel Casagrande de Toyota Bandeirante, na época ainda havia a Antena em pé, hoje ela foi derrubada, lembro que nós curtimos o visual por ali e quando decidimos ir embora atolamos a Toyota e quem disse que conseguimos tirar.... foi uma longa história e uma grande aventura. Voltando a 2020, nossa ideia original era seguir bordeando até chegar no rio canoas, pois pela carta teria somente 2 faixas de mata pra cruzar morro acima. Mas ai o Jacaré nos indicou seguir pela estrada e lá adiante passando a porteira entrar na antiga estradinha, eu sabia que havia essa trilha, mas tinha receio de seguir pois era uma mata grande, e imaginava ter vários caminhos por conta do gado. Mas enfim mudamos nosso plano inicial e seguimos então pelo caminho sugerido. Logo que passamos a porteira eu vi uma estradinha seguindo adiante e outra descendo, supus que essa seria a estrada, ledo engano..... descemos o morro e cortamos a estradinha para lá embaixo tentar encontrar ela de novo, havia um morro bem grande de mata a frente que se estendia a leste até a borda da serra e para o lado oposto a oeste entre esse morro havia uma encosta suave de mata e a borda do profundo Cânion do rio canoas, a trilha só podia ser nesta encosta suave e fomos descendo mas não encontrei a estrada. Seguimos adiante pela mata até chegar ao rio que já formava um pequeno desnível, pensei que já fosse o começo do Cânion afluente do Cânion principal do rio canoas. Demos uma volta enorme em círculo e voltamos para o mesmo lugar. Seguimos acompanhando a estrada e tentamos mais uma vez descer na direção daquela encosta, mas a mato tava muito fechado voltamos mais uma vez para a estrada e então decidimos seguir a estrada, logo adiante vimos uma casa e antes de chegar nela uma entrada a direita com cara de estrada abandonada. Só podia ser essa. Bingo! Já era 12h passado e então paramos ali na estradinha e fizemos nosso almoço o meu seguiu o mesmo cardápio do café da manhã sendo pão sírio, polengui, queijo e salame e chá de hortelã com gengibre, e assim foi todos os dias. Depois de 40min de pausa retornamos a trilha. A trilha é em uma antiga estrada abandonada que não é mais possível transitar de carro nem de 4x4, somente a pé ou a cavalo, uma descida suave por entre a mata de araucárias até chegar em um pequeno rio que corria sentido Cânion do rio canoas. Esse era o ponto mais baixo e após o rio a trilha começava a subir. “A algumas horas atrás chegamos bem perto deste rio porem a mata estava muito fechada e o rio afunilava em um brete e não conseguimos achar um caminho para passar e acabamos voltando”. Lá adiante na trilha encontramos um barraco destruído e depois cruzamos com um pequeno rio onde fomos seguindo ele rio acima até a trilhar sumir no mato, ali percebemos que em algum lugar lá atrás teríamos que ter contornado o morro. Resolvemos então subir aquela encosta de mata bem fechada com muitos xaxins, bambus e mata nebular. Foi um momento um pouco tenso pois já eram umas 17h sabíamos que estávamos no rumo certo, mas não na trilha e onde estávamos não tinha como acampar. Fomos mirando o topo tendo as copas das araucárias ainda iluminados pelo sol. Quando alcançamos então a parte mais alta abriu um pequeno descampado sujo com vassouras, porem plano e com condições de acampar. Decidimos seguir ainda um pouco mais adiante até as margens do Rio Canoas, mas de qualquer forma não fomos muito longe e acampamos por ali mesmo. Aquela noite prometia muito frio, tratamos de montar nossas barracas e a escuridão já tomou conta e o frio veio junto. Arrumei minhas coisas e tratei de ferver uma água para o chá e picar o bacon, quando comecei a fritar o Rafa já sentiu o cheiro maravilhoso do bacon, e ele com aquela comida liofilizada dele. Prometo que vou tentar de novo, nem que seja levar para uma noite a liofilizada, confesso que ainda venho tentando uma comida boa e leve sem abrir mão de certos luxos que conquistei nesses 30 anos de acampamentos, mas que agora com a idade e falta de tempo para treinar a boa forma já não posso mais carregar tanta coisa, sei que tenho que diminuir peso. Nesta travessia eu pesei item por item antes de sair de casa, desde celular, meia, cueca, itens de primeiros socorros, comida, enfim tudo grama por grama e encontrei que eu carregava no corpo 3kg contanto botas, roupas, bastão...; na mochila mais 24kg contando 4 litros de água que me dispus a levar mesmo com a fartura de água da região somente para testar meu consumo e uso em cozinha. É muito interessante pesar pois sempre imaginamos o quanto levamos, mas só anotando tudo e fazendo um verdadeiro checklist é que sabemos o quanto de peso realmente carregamos e não sabemos. Depois da janta ainda era cedo e não conseguiria dormir, então decidi sair da barraca para ver o céu estrelado, minha saída noturna não demorou mais que o suficiente para ir ao banheiro e voltar correndo para a barraca de tanto frio que fazia. Nessa noite os termômetros bateram negativos os - 8ºC dormi no limite do frio essa noite. 4° Dia – Parte alta do Rio Canoas – Cemitério – Borda da Trilha dos Índios – Morro do Campo dos Padres – Morro da Boa Vista - 15 km de trilha Acordamos pelas 6h mas o frio era tanto que não deu vontade de sair do saco de dormir, o sobreteto da barraca do Rafa congelou a condensação, neste quesito estava muito satisfeito com a minha Naturehike Cirrus pois o layout dela permite uma boa ventilação e evita o acumulo de condensação, mas vi que tinha que fazer alguns ajustes no sobreteto para incluir mais 2 pontos de cada lado para fixar mais espeques e poder abaixar mais a lona para o vento não entrar tanto em dias frios. Também tive minhas meias congeladas e a água nas garrafas estavam congeladas. Já pus a água para ferver e fazer meu café na Pressca e ao mesmo tempo já ir guardando minhas coisas. Mas foi difícil desmontar a barraca, os dedos doíam de tanto frio. Eram 7h30 e saímos, vimos que 1h30 era o tempo que precisávamos para começar o dia. Logo adiante avistamos uma cabana bem bonita de madeira que é a sede da Fazenda Búfalo da Neve, passamos ao lado e seguimos adiante descendo a encosta do vale do rio canoas até atingir suas margens, havia muita geada no pasto e as poças d´água no caminho estavam congeladas e também partes do rio onde a água estava parada. Aproveitamos para repor nossos cantis e tirar fotos com os pedaços de gelo. Essa parte é muito linda, o vale com os morros de mata de araucárias, o rio e suas curvas e os campos formavam uma bela paisagem. Fomos subindo o rio e logo alcançamos uma pequena cachoeira e uma taipa de pedra logo acima formando um caminho de tropeiros e por ali seguimos dando uma grande volta para desviar a várzea do rio que formava um banhado e suas turfeiras. Logo adiante vimos 1 casa azul e 1 galpão passamos por ela e logo a frente no vale havia um morro isolado, pelas minhas contas ali deveria ser o cemitério. Uma subida íngreme e logo no topo já vimos um quadrado de taipa e ali estava o cemitério, haviam 3 túmulos com cruz, uma lapide que não conseguimos ler e ao que parecia algumas covas abertas. Interessante imaginar um lugar inóspito daquele que outrora pessoas moravam ali em um passado não muito distante, mas longe da civilização. E tinham que ali mesmo enterrar seus entes queridos, escolheram um belo lugar para ser os Campos Elíseos destas pessoas. Logo descemos a encosta em direção ao rio canoas e dali iremos a leste para alcançar as bordas da Serra Geral. Naquela altura quando atravessamos o rio canoas ele era tão límpido e cheio de plantas aquáticas, uma pintura natural. Subimos uma pequena encosta e por acaso encontramos a trilha dos índios que liga a Anitápolis, dali subimos uma pequena mata e já no topo paramos para almoçar e contemplar a vista. O dia estava lindo e podia ver o horizonte bem longe, sendo possível ver a serra do tabuleiro e o contraste do mar mais a sudeste. Depois do almoço fomos bordeando os peraus tendo o Morro do Campo dos Padres na nossa direção e mais a noroeste o Morro da Boa Vista que é o ponto mais alto de Santa Catarina onde iriamos acampar. Para alcançar o morro do Campo dos Padres tivemos que dar uma volta para contornar a mata e depois seguir por uma subida bem íngreme. Bem ao longe no colo onde ligava esse morro com o morro da Boa Vista avistamos 2 capatazes campeando o gado. Alcançamos o topo do morro e ficamos um tempo ali contemplando uma das vistas mais bonitas da trilha. Depois seguimos em curva de nível até o colo e em seguida partimos para cima do Morro da Boa Vista, neste momento o Rafa começou a ficar sem água e chegou até a coletar um pouco nas turfas, eu ainda tinha água dentro do meu teste de consumo e cozinha, e ofereci para ele um pouco caso precisasse. Já no topo vibramos pois éramos as pessoas mais “altas” em solo catarinense, localizamos o marco geodésico e ali ao lado acampamos com a porta das barracas virada para o nascer do sol, porem naquele momento presenciamos um lindo pôr do sol, tiramos muitas fotos e vídeos e ficamos curtindo aquele momento. Já dentro da barraca tratei de fazer meu ritual de limpar e secar os pés úmidos dos charcos e passar vick vaporub, um santo remédio para o montanhista já que serve para muitas coisas. Pela primeira vez na vida levei lenço umedecido e tomei meu banho de gato, gostei do resultado melhor que toalha úmida. Tratei logo de me vestir pois fazia muito frio aos 1827m de altitude. Nesta noite cozinhei uma invenção que fiz com sopão+arroz+bacon, porem o arroz não cozinhou o suficiente e o sopão já começou a empelotar, não gostei nada. Ainda bem que sempre levo como emergência 2 pacotes de miojo e tive que atacar um com linguiça frita e queijo ralado. Durante a noite sai para ver o céu, estava menos frio que a noite anterior, mas ainda sim muito frio, consegui ficar um bom tempo ali observando as constelações e algumas estrelas cadentes, também vi ao longe a luminosidade das cidades como da grande Floripa que formava um grande clarão a leste e a oeste uma área menor porem mais luminosa a cidade de Lages. Me recolhi ao aconchego da minha barraca e dormi. Acordei com o vento batendo forte na barraca, chegando até a entortar as varetas, mas a barraca segurou bem. Não dormi muito bem pois volte e meia acordava com o vento. 5° Dia – Morro da Boa Vista – Arranha Céu – Morro da Bela Vista do Guizoni – Campos de Caratuva - 17km de trilha O vento batia forte na barraca, o céu estava bem nublado predizendo que o tempo estava mudando. Como montei a barraca a sotavento, pude deixar a porta aberta e curtir o nascer do sol no horizonte enquanto preparava meu café foi um alvorada fantástico mesmo com o céu nebuloso. Tomei meu delicioso café com brownie e pão sírio/queijo/salame a combinação perfeita e rápida para o desjejum. Logo em seguida desmontamos todo o acampamento. Nesse dia pude testar melhor uma pratica que encontrei para usar o banheiro de forma confortável e privativo (uma dica para as mulheres). A minha barraca Cirrus tem como desmontar o tapete e o mosquiteiro interno sem desmontar a lona do sobreteto e assim deixar o chão somente na grama. Desta forma com toda a mochila arrumada ficando somente o sobreteto e a armação por último, pude dentro da barraca mesmo pôr o meu jornal no chão com cal e dar uma cagada tranquila, depois só por mais cal em cima, embrulhar o jornal, por numa sacola plástica e aí dentro do tubostão. Usei um cano de pvc de 100mm com 2 caps nas extremidades e vedou muito bem, sem cheiro nenhum ou vazamento, tem na internet como fazer. Porem só achei um pouco pesado. Da próxima vez vou testar um pote de tampa larga e de rosca de 1l que tenho em casa, pois é bem mais leve e o volume é o suficiente para uns 4 dias de trilha. Saímos as 8h40 para a trilha o vento era muito forte e o sol já raiava, inclusive quando fui desmontar a lona ela quase sai voando. Nos protegemos bem e começamos a descida pelo colo do Boa Vista com o Morro do Campo dos Padres que é o divisor de águas do rio Canoas e do rio Itajaí, paramos numa pequena nascente e enchemos nossos cantis e seguimos bordeando a Serra Geral. Lá pelas 11h passamos pelo rio Campo Novo do Sul que corre aos pés do Morro Bela Vista do Ghizoni e demos uma parada para um banho rápido e gelado além de aproveitar que paramos fomos almoçar. Nesse momento o tempo voltou a nublar e esfriar. Depois deste descanso subimos até a rampa que dá acesso ao Ghizoni e deixamos nossas mochilas ali e demos uma esticada até o pico do Arranha Céu que estava na borda do Cânion que na outra ponta estava os Soldados do Sebold. Voltamos as mochilas e subimos mais uma rampa e deixamos a mochila novamente e caminhamos por 2h ida e volta no chapadão do Ghizoni por um grande charco de turfeira até subir os matacões do topo onde havia o marco geodésico, ali era o terceiro ponto mais alto de SC e o Morro da Igreja é o segundo. O tempo já estava piorando e voltamos até a mochila já passava das 16h e vimos que não alcançaríamos o objetivo do dia, pois quando olhamos ao longe vimos que iriamos cruzar a parte mais estreita do campo dos padres onde havia perau e Cânion para os dois lados, e tínhamos pelo menos 2 morros com mata para subir e cruzar. Conseguimos somente cruzar o primeiro que tinha uma trilha bem fechada com muitos caminhos de gado até chegar num ponto bem estreito com perau e uma antiga taipa utilizada para cercear o caminho do gado e não cair precipício abaixo. Chegamos em um campo que vimos lá do Ghizoni que tinha uma vegetação diferente, a princípio eu imaginava ser de vassourão, mas a tonalidade era outra, quando chegamos lá me surpreendi em constatar que eram o bambuzinho caratuva bem comum na região do Pico Paraná e que eu nunca tinha visto por essas bandas. Ali a cerração começou a fechar então decidimos já achar um lugar plano para acampar. Montamos nossa barraca bem ao lado da trilha que era bem demarcada e única. Não deu nem uma hora e caiu um temporal, era tanta chuva e vento que tínhamos que manter tudo bem fechado. Fizemos nossa janta nessa condição, uma das escolhas que fiz pela barraca cirrus foi o avanço um pouco maior para que me possibilitasse cozinhar em condições de chuva e vento e também espaço para 2 pessoas para que a cargueira ficasse dentro da barraca. Acabamos dormindo cedo nesse dia. Apesar que durante a noite levantei algumas vezes para conferir se estava tudo em ordem e seco na barraca, pois foi a primeira chuva torrencial que ela pegava, choveu a noite toda, e tudo se manteve seco. Passou no teste. 6° Dia – Campos de Caratuva - Morro das Pedras Brancas – Localidade das Pedras Brancas - BR 282 - 18km de trilha Lá pelas 7h a chuva parou, levantamos e já fomos tomando nosso café e desmontando as coisas. A trilha a nossa frente era um rio de tanta água, fomos secando o que dava na barraca para guardar na mochila e as 8h30 saímos e logo entramos na mata que estava muito molhada e fomos subindo o aclive em diagonal, era uma trilha bem batida na encosta que descia ao Cânion do Rio Campo Novo do Sul, havia muitas árvores caídas e quebradas por conta do ciclone bomba que havia atingido a região a uma semana atrás. Quando saímos no topo o sol já despontava meio tímido, mas a chuva já havia ido embora. Tinha uma bela vista do Morro do Ghizoni e do Cânion logo abaixo. E fomos seguindo pelos campos e cruzando algumas faixas de mata, banhados e turfeiras até chegar ao istmo como uma “ponte” de 5m de largura que ligava o campo dos padres até o Morro das Pedras Brancas, ultimo resquício de planalto ligado a Serra Geral. Já era 12h30 atrasamos meia hora pelas nossas contas, mas ainda sim estávamos muito longe do nosso destino final que era a BR 282 onde tínhamos combinado com nosso amigo Bernhard de o encontrar as 17h. Descemos a trilha íngreme aproximadamente 500m de desnível, nesse ponto o estrago do ciclone foi bem maior, a destruição era grande por toda a trilha. Alcançamos a estrada e fomos seguindo tendo o vale do rio Santa Barbara como caminho. Passamos pela comunidade das Pedras Brancas e precisávamos de sinal de celular e internet para avisar a todos que tudo estava bem e comunicar o Bernhard que estávamos ainda 1h atrasados. Aí passamos por uma propriedade que indicava “informações pousada do vô Chico” paramos ali e conhecemos o vô um senhor nascido ali e bem gente boa que nos emprestou a internet e nos deu uma carona até a estrada. Sorte nossa pois ainda havia uns 7 km a frente com subidas e descidas, mas uma estrada rural muito linda tendo sempre as Pedras Brancas ao fundo como destaque e o vale do Rio que vinha esculpindo um bonito Cânion. Chegamos a BR e encontramos nosso amigo e assim termina nossa pernada. Somamos 80 km de trilha no total
  3. Travessia do Parna de São Joaquim – Urubici até Bom Jardim da Serra – SC - julho/2019 Desta vez a minha ideia original era ir pra Serra Fina, mas acabaram mudando a data da festinha da minha filha e a semana ficou curta, eu não podia faltar a apresentação dela que seria na sexta. Essa jornada é a continuação da travessia do Canyon do Funil e das Laranjeiras que eu havia feito em julho de 2018, que na época infelizmente por conta da chuva e de um parceiro que se machucou no caminho tivemos que abortar a travessia no Canyon Laranjeiras. Então decidi por fazer a travessia solo no Parna de São Joaquim. Posso dizer que minha vida na montanha começou nos canyons, mas precisamente na região do Canyon Fortaleza no RS, tendo sido guia no Parna Aparados da Serra e redondezas e feito várias travessias pela região. Mas só agora que comecei a explorar mais a região do lado catarinense. Mas vamos aos preparativos. No fim de semana juntei minhas tralhas de acampamento, comprei comida e tentei alguns albergues e pousadas em Urubici que estavam lotados, pois foi neste final de semana do dia 6/7 veio uma forte frente fria e previsão de neve, lotando a região da serra catarinense. Acabei encontrando lugar no Hostel e Armazem Heyokah uma pernoite com café por 60$, já reservei e falei que provavelmente chegaria tarde da noite pois o único ônibus saindo de Floripa era as 18h chegava as 22h30 lá. Mas o dono do hostel me passou um contato de um taxista, o Gilson (48)999672262. Que fazia esse trecho pelo mesmo valor do ônibus e que ele saia depois do almoço, tratei logo com o Gilson e as 13h30 ele passaria na rodoviária de Floripa. Logo cedo pela manhã de segunda feira peguei o ônibus para Florianópolis saindo de Itajaí e chegando lá encontrei com o Gilson que ainda pegou mais 2 pessoas. E assim com a lotação completa subimos a SC 282 com destino a Urubici, chegamos as 18h lá e já fui para o Hostel, deixei minha tralha no quarto e fui atrás de uma mercearia para completar minhas refeições e comprei um queijo serrano e uma linguiça de Urubici. Estava bem frio e nem me animei dar uma volta. Retornei para o Hostel e tratei de fazer uma janta e estudar a carta topográfica novamente. Lá pelas 22h fui dormir e as 6h tava de pé para o café da manhã. As 7h30min comecei minha jornada, fazia muito frio e os campos estavam brancos da geada. Sai do hostel em direção sul para o vale do Rio Urubici conhecido como “Baianos” logo no início da estrada rural havia uma placa turística informando os atrativos da região. Uma estrada muito bonita, cercado por morros e peraus e coberta de muitas araucárias, havia várias propriedades pelo caminho. Uns 40 min depois passou por mim um carro e logo em seguida parou e cruzei com eles, estavam chegando em casa e me perguntaram para aonde eu estava indo e expliquei meu trajeto. Ele achou muito doido, e disse que não havia visto ninguém ir para aqueles campos, somente os campeiros atrás de algum gado desgarrado. Ele disse ainda que fazia alguns acampamentos pois era escoteiro e admirava os mochileiros, aí completei falando que eu era escoteiro também. Pronto! Me convidou na hora para entrar e tomar um café, assim foi uma hora de prosa e causos. Um bate papo muito bacana, mais eu tinha muito chão ainda pela frente, agradeci pela acolhida me despedi e segui meu rumo. Logo em seguida fico observando uma propriedade bem bonita quando faço a curva da estrada logo na porteira estava o capataz dessa fazenda arrumando a cerca, mais um dedinho de prosa ali. E mais adiante outra parada para um bate papo. Mas vou dizer que isso foi uma das melhores coisas desta caminhada, poder conhecer um pouco das pessoas que ali nasceram e cresceram e as dicas preciosas que consegui, esse último tinha sido capataz por 6 anos da Fazenda Caiambora, local onde eu ia passar ainda hoje. Ele falou que era loucura acampar naqueles campos, pelo frio que fazia. Me indicou um caminho pelo passo dos momos para ir até lá. Depois adiante havia um cruzamento, indo a esquerda ia para a serra do Bitu, que haviam dito que agora até carro passava e levava até a estrada de acesso do morro da Igreja. A direita seguia para a serra dos Padilhas que também levava ao morro da Igreja porem com transito limitado de veículos. Esse caminho era a continuação dos baianos e seguia pelo rio Urubici. Ali a paisagem ficou ainda mais bonita, os paredões imponentes de cada lado o rio margeando a estrada e as araucárias por todo o lado. Cheguei na Pousada dos Encantos da Natureza (49-991120278) do Sr. José e da Dona Valsíria um lugar muito bonito, com 3 chales aconchegantes, área para camping e quartos da casa principal. Com certeza retornarei a este lugar para me hospedar com a família. Dependendo do horário de chegada em Urubici, vale a pena esticar até aqui para acampar. Pois esta a apenas 7km de Urubici. Parei mais um tanto ali para uma prosa com o casal e mais dicas da trilha, o Sr. José me indicou uma antiga trilha de tropeiro para vencer aquele paredão e lá encima me direcionou para ir pelo caminho dos momos, fundo dos tigres até a fazenda Lageado, onde seu primo João era capataz, e dessa fazenda subia a trilha até o topo da serra que fazia parte do Morro da Igreja e separava o vale do rio Urubici do vale do Rio Pelotas já dentro de área do Parna São Joaquim. Depois dessa boa conversa com eles, olhei o relógio e já era 10h50 e estava umas 2h atrasado pelo meu cronograma, tirei os casacos e touca, guardei na mochila, tomei uma água e parti para cima. Era uma trilha bem aberta mais muito erodida e íngreme, do meio dela tinha uma vista bonita do vale, segui adiante até ir adentrando no meio das araucárias até uma bifurcação onde mantive a direita seguindo as dicas do Seu Zé, logo ficou plano e fez uma grande curva, havia várias vacas no caminho, a trilha virou uma estrada e começou a descer, apareceram várias casas e logo uma antiga trilha a esquerda e nessa entrei andando pouco por ela, já alcancei a estrada de novo. Tive logo adiante a primeira vista do Morro da Igreja e do Radar do Cindacta a estrada começou a descer e passei pelo sitio que tinha um açude ali segui reto em outra trilha pouco batida. Ali começava o caminho dos momos. A trilha/estrada ia em curva de nível pelo morro a direita passando pela mata de araucárias, havia alguns pomares de maça no caminho e vacas. Depois a trilha foi fechando e ficando mais barrenta. Próximo a uma vereda parei para comer era 13h30, ali passava também uma linha de transmissão que rasgava a mata e a trilha fechou de vez, com muitos atoleiros das nascentes de água e arroios que estavam presentes em toda a trilha, água não faltava. Segui o caminho e cruzei de novo com a linha de energia, ali começou a aparecer trilhas a esquerda, mantive a direita e logo depois de passar por uma cancela a trilha batida seguia adiante, e a direita um carreiro subia, consultei a carta topográfica e optei subir pois logo acima havia campos de altitude. Cheguei em um descampado grande e mais acima já via o topo da serra e uma faixa de mata que separava. Fui seguindo os campos e rastreando a mata até que achei uma trilha que subia a floresta e fui subindo até o topo. Uma parada para respirar, tomar água, comer um chocolate e pensar nos próximos passos, pois pelo meu cronograma eu já devia estar na fazenda Caiambora e isso era umas 15h30. Vi um vale muito bonito a direita e acima os campos de Santa Barbara, a esquerda abaixo o vale do rio Urubici e seguindo o caminho dos momos a fazenda Lageado o qual eu já estava acima dela. Fui seguindo a crista dos morros até o cruzamento com a antiga estrada que ligava a fazenda Lageado com a Fazenda Caiambora e ali peguei a direita e fui seguindo a estrada até a borda da serra e o começo da descida, lá embaixo estava a antiga fazenda “abandonada” e recentemente comprada pelo Parna. Logo passei por uma área congelada. Era uma nascente que corria na trilha e ali estava tudo congelado, com certeza a dias, com a vinda do ar polar que por ali passou. A trilha é uma antiga estrada toda erodida e com muito vassourão crescendo, tem dois momentos que a trilha some, mantenha a direita para não se perder e logo a trilha aparece de novo e vai ziguezaqueando até o fundo do vale as margens do Rio Pelotas. Cheguei as 18h na fazenda Caiambora a noite já estava chegando. Bem longe do horário que eu imaginava por volta das 15h, Mas também só de conversa perdi mais de 2 horas... kkkkk Montei meu acampamento ao lado da taipa de pedra. O frio veio de uma vez, me troquei e pus minha roupa noturna, segunda pele, blusa e lã, moleton e fleece, além dos acessórios de luva e gorro, troquei as meias e ainda acrescentei uma de lã. Montei minha cozinha, fervi água para o jantar e o chá de gengibre com camomila. Fritei a linguiça com alho, joguei a lentilha “vapza” e um pouco de água. Logo já estava pronto. Que delicia ficou. Tomei meu chá e ainda fiquei por ali fazendo algumas anotações do mapa e traçando o próximo dia. Fui dormir. Acordei as 6h comecei a arrumar as coisas e ferver água para o café. Preparei meu pão de queijo escoteiro. 3 colheres de polvilho azedo 1 colher de leite em pó 1 pct de queijo parmesão ralado 1 pitada de sal 1 pitada de fermento químico Prepara-se previamente os secos em casa. Quando for preparar despeje em um prato, acrescente 1 ovo e 100ml de água. Depois é só fritar como uma panqueca. Fica muito bom. Dei uma volta pela redondeza, fui ao banheiro “TUBOSTÃO” todos devem utilizar ele e trazer de volta seus dejetos embora da montanha, NUNCA deixe seus dejetos nessas áreas. Tirei algumas fotos, terminei de desmontar o acampamento e montar a mochila, explorei as redondezas da fazenda e do rio Pelotas onde carreguei água do rio e parti as 8h30. Eu iria subir o morro logo em frente, era muito íngreme e no topo haviam alguns cocurutos de pedra onde achei que talvez fosse perigoso passar com a mochila pesada. Desisti e segui margeando a encosta. Não havia trilha e o capim era muito alto o campo estava com muita vegetação o que dificultava caminhar. Fui seguindo até uma pequena mata de vereda. Ali a encosta ainda era muito íngreme mais visualizei uma passagem por entre as rochas lá em cima e parti rumo ao céu. Este trecho todo desde a fazenda Caiambora me atrasou bastante, acredito que o melhor teria sido subir o enorme morro mesmo e passar pelas pedras, pois estando ali em cima elas já não pareciam tão difíceis. Isso já eram 11h achei que estava novamente muito atrasado. Fui seguindo pela crista e parei no topo mais alto para comer. A vista era fantástica, se via bem em frente ao norte o Morro da Igreja, toda a trilha que eu havia feito, os Campos de Santa Barbara, o vale do Rio Pelotas, o caminho que iria percorrer e ao longe ao sul o canyon Laranjeiras e mais ao fundo os ventiladores eólicos gigantes que estão ao lado da Serra do Rio do Rastro, e toda borda da serra Geral e a Serra Furada com seus imponentes picos. Dali vi a trilha que iria continuar e consultei meu mapa, comi umas frutas, chocolate e meu super brownie o qual acrescentei muitas castanhas, whey protein, maca peruana, maltodextrina e dextrose. Meu carbo e barra proteica caseira. Peguei um gás e desci rumo a borda da Serra Geral. Na descida passei por um banhado e logo alcancei a borda dos peraus e fui caminhando até uma subida com vara mato. No topo fui seguindo pela curva de nível o máximo que pude para não gastar energia. Neste ponto meu joelho começou a incomodar, havia uma descida forte e um capão logo depois, contornei o capão e segui varando por dentro numa área bem aberta. A vantagem dos capões de araucárias que em geral são bem limpos e fáceis atravessar por dentro. Já as matinhas nebulares são terríveis pois são arvoretas baixas e com muitos galhos que dificultam atravessar. Sai num pequeno vale bem bonito, peguei o mapa e consultei o relevo e decidi ir margeando o vale ao invés de subir o morro e seguir pelas bordas. Normalmente nessa região da Serra Geral as bordas são mais secas e fáceis de caminhar, pois nos vales e campos aparecem muitas nascentes formando banhados e turfeiras. Neste momento a dor do joelho se intensificou, meti para dentro 1 torsilax e 1 paracetamol. E segui desviando os banhados e mantendo a curva de nível até a margem de uma mata, ali fui procurando e achei uma antiga trilha, bem limpa apesar de apresentar uma vossoroca. Na saída dela já no campo vi o próximo pinheral a cruzar descendo por entre a mata bem fundo até o vale do rio Campo Bom e a subida do outro lado era bem forte, passava das 16h30 e sabia que não conseguiria e a noite iria me pegar no meio daquela subida, e não seria uma boa ideia para acampar e ainda tinha meu joelho. Com a mapa na mão tracei um novo rumo, vi que o vale do rio Campo Bom dava em uma estrada, e que no meu mapa aparecia uma antiga estrada das serrarias que cruzava o pinheiral que estava a aproximadamente a 3km por cima dos campos em curva de nível, assim o esforço seria menor e poderia achar um lugar melhor para acampar, e assim com novo azimute comecei a jornada, a dor no joelho começava a diminuir por conta das boletas. Fui contornando o morro com o vale logo abaixo e um pinheiral enorme do outro lado do vale e do lado que eu estava passando era só campo, e notei que muitos vales tinham pinheiral em um lado e campo do outro, notei que a mata estava a sul, não sei porque, mas acredito que por se tratar de Mata Atlântica de altitude conhecida como Ombrófila mista, ou seja de área sombreada o lado sul seria realmente a melhor face para elas se desenvolverem, porém não consegui provar minha teoria. No meu caminho divagando sobre a vegetação levei um susto, pois derrepente da minha frente sai um graxaim correndo do meio do nada. Acho que assustei o canino, e ele me assustou também... kkkk. Encontrei a antiga estrada abandonada e fui seguindo por ela quando era 18h achei um lugar plano e bom para o acampamento. Como de costume montei a barraca, pus minha roupa noturna e pulei para dentro da barraca. Entrei no meu saco de manta e pus a agua para ferver. Piquei o alho e a linguiça de Urubici e reservei. Pus um pouco da água fervida na térmica com gengibre e chá para ir tomando e o restante deixei na chaleira, e comecei a fritar o alho e a linguiça e aos poucos jogando agua quente para ir preparando minha fritada. Coloquei arroz e logo depois toda a água da chaleira e o macarrão e deixei cozinhar. Quando estava no ponto joguei um mini pacote de vono, mexi um pouco e pronto! Fui me deliciando com esse sopão que fiz e tomando meu chá. Que maravilha! Depois de bem alimentado “lavei” a louça com papel toalha. Organizei minhas coisas e comecei a rever o mapa novamente. Depois passei um tempo por ali e adormeci. Acordei as 5h e já tratei de arrumar minhas coisas, passar meu café na minha cafeteira pressca, comer um brownie e desarmar o acampamento. As 6h com lanterna na cabeça e mochila nas costas, parti. Logo entrei na mata, me abasteci de água e fui subindo pela antiga estrada lentamente até o topo e cheguei na margem do pinheiral que estava na borda direita do rio Campo Bom na face sul. A trilha se fechou e bifurcou, sendo que uma voltava na direção que eu havia vindo do dia anterior e a outra descia por entre o pinheiral acompanhando uma cerca em boas condições e recente. Ali havia marca de gado e resolvi seguir, a descida bem íngreme e com muitos xaxins gigantes com mais de 7m um espetáculo da natureza, presumindo que cresce 1cm por ano, estava eu ao lado de plantas com mais de 700 anos, quiçá milenares, e curioso que apesar da exploração massiva das araucárias não havia nenhum exemplar de pinheiro realmente grande, mas os xaxins ainda estavam ali e felizmente não foram derrubados com as araucárias. Durante a descida, derrepente a trilha sumiu, mas a mata era bem limpa por entre os xaxins gigantes e as araucárias, as vezes aparecia algum rastro de gado no caminho e assim fui descendo até chegar a beira do rio Campo Bom, estava com bastante geada ao redor e ainda muito frio. Era um rio com uma paisagem muito bonita, parada para algumas fotos, tirar o excesso de roupa e consultar o mapa, porém cadê o mapa? Tinha perdido ele no caminho, voltar nem pensar, dificilmente acharia o mesmo caminho de volta, ainda bem que eu havia estudado ele e sabia que hoje seria só seguir o rio até a estrada e ai seguir para a cidade com a esperança de talvez pegar alguma carona no caminho. Fui margeando o rio, saltando um banhado ou outro, as imagens das araucárias, com o rio, o branco da geada estavam impressionantes, apesar de já ter visto isso muitas vezes, ainda me causava uma sensação de ser a primeira vez. Passei por alguns cavalos e isso me alertou que já devia estar próximo da estrada, logo adiante vi um galpão e um arroio que precisava cruzar, quando estava prestes a chegar na propriedade não prestei atenção e afundei meus dois pés no banhado!!! Que merda!! Depois de ter passado ileso por todos os banhados acabei me molhando. Atravessei o rio me equilibrando nas pedras e comecei a caminhar em direção ao galpão, achei estrando em não ver fumaça, algo me dizia que não havia ninguém... havia uma mula dentro da área cercada da propriedade, abri a cancela e confirmei que não havia ninguém. Sai e fui até a estrada que ali era o fim do caminho, e o começo da minha pernada até Bom Jardim da Serra. Parei para um lanche e para pegar água, mas peguei uma água ruim com gosto de terra... então passei por 2 casas que estavam longe da estrada e com fumaça na chaminé. Sai na localidade de Santa Barbara, com a igrejinha e o salão comunitário. Logo adiante tinha uma casa bem na beira da estrada, e o senhor do lado de fora se esquentando no sol e com um velho barreiro do lado. Cumprimentei e falei de onde vinha e para onde estava indo, estava ele e sua mulher que me convidou para um café, agradeci e falei que estava com pressa e pedi um pouco de água só. E segui adiante, uma estrada muito bonita, daria um belo passeio de bike. Eram 20 km até a cidade, neste caminho cruzou por mim somente 2 carros que estavam cheios, mais adiante encontrei um cara numa casa a beira da estrada batemos um papo e segui, quando faltava algo de 5 km bem próximo ao cruzamento da estrada que vinha do canyon laranjeiras um caminhão parou e me deu carona até a rodoviária. Chegando lá era 12h, encontrei com o Sr. Que era responsável pela rodoviária já o conhecia de outras aventuras por ali, ele havia sido 6 vezes vereador da cidade e ostentava um quadro na parede de um gaúcho pilchado com cuia e chaleira na mão que era seu pai. Me disse que o próximo ônibus saia as 15h e ia para Lages e de lá eu podia pegar um ônibus direto para Itajai, me indicou um restaurante no centro para almoçar e lá fui bater um rango forte. Depois fui na tenda da Lili comprar um bom queijo, suco de maça e salame para levar para casa. Peguei o ônibus e cheguei em casa depois da meia noite. Agora os planos são fazer o Campo dos Padres. SICILIANA fichas e planilhas.pdf
  4. Costurando Nossa aventura começa ao acaso, não que nunca planejássemos percorrer a Serra Geral Catarinense, mas não estava nos planos de 2020. No entanto, uma tal de pandemia resolveu estancar nosso planejamento, e aos 45 do segundo tempo conversando com um amigo de Tubarão resolvemos seguir para essa região pouco frequentada. De início achei que não conseguiria, o primeiro contato com o pessoal da região assustou, uma agência enviou um orçamento de rei, junto de uma ameaça; argumentava ser a única a ter acesso à região, de outra forma eu nem deveria tentar ir. Passado o susto, conversei novamente com meu amigo que me disse ser possível fazer sem agência sim. Então comecei a garimpar. Acabei encontrando o relato aqui no mochileiros do Marlon procurei ele, que foi baita parceiro e me passou contatos dos donos da fazendas e dicas da região. Fim de agosto e lá fomos nós, eu e a Bruna. Como não consegui autorização com uma das propriedades (que fica em um ramal da travessia), e também não consegui mais companhia resolvemos inovar e fazer um circuito na região saindo do Cânion Espraiado indo até o Lageado e retornando ao ponto de partida. Pagamos pelas autorizações R$ 200,00 em duas pessoas para permanecer nas terras 3 dias. Negociamos no Espraiado estacionar lá durante a travessia, sem custo. Se hospedaríamos lá por 2 noites depois. O Tempo Fechou Saímos no dia 29/08 às 08:00 da manhã, dia limpo, coisa linda. Logo de início a subida é pesada, e para piorar a trilha é em meio a pedras de todos os tamanhos até a Montanha do Infinito. Lá de cima dava para avistar no horizonte os Campos reluzentes a alguma milhas de distância. Mal conseguíamos esperar ansiosos por caminhar naquelas banda sob um céu limpo e noite estrelada. Os primeiros 6 km foram tranquilos, em meio a mata de araucárias, por uma trilha (estrada antiga abandonada), basicamente um declive. Nesse trecho a única dificuldade são as pedras soltas e os vários canais de água e lagos onde os búfalos (existem muitos na região) tomam seus banhos. Avistamos duas cachoeiras distantes em meio a mata, até aí acreditamos que iríamos passar nelas. No entanto me contaram que algumas dessas provavelmente nunca ninguém foi até lá (eu filmei uma com o drone na volta, corre no youtube que tem lá). Depois do km 6 a coisa complica, subidas longas com pedras soltas, um descuido e o tornozelo já era. Em vários trechos a trilha some e se confunde com carreiros dos búfalos, fácil se perder e parar nos perais dos cânions. Depois dos 10 km a trilha bifurca para a Grande Cachoeira do Canoas e Casa Azul. Seguimos para a cachoeira. A trilha some em meio ao banhado e as vassouras (vegetação baixa e de muitos galhos). Adentramos um trecho de mata com muitas araucárias, trecho em que encontramos os proprietários das terras montados em cavalos e acompanhados por cães enormes. Eles ainda insistiram que passássemos no rancho para um café, porém nosso tempo não permitiu. A essa altura o tempo já fechara, a viração tomava conta. Tivemos dificuldade para achar a cachoeira, houve um incêndio recente ali, e a trilha havia desaparecido por completo, só restara as vassouras e com a viração não dava para ver o horizonte. Na primeira investida fomos surpreendidos por um perau de uns 400 m, ouvindo a queda tentamos progredir pela borda, mas a mata se fechou deixando a situação arriscada. De volta nas vassouras demos mais uma investida e poucos metros a frente se abriu um campo baixo e pudemos avistar a queda superior. A queda maior só avistamos de relance, como a hora já havia adiantado, e o tempo pegando escolhemos não se arriscar muito nas bordas do cânion. Retomamos a caminhada, consultando o mapa a cada 30 min. 2 km e saímos nos campos, a caminhada ficou mais fácil. Até a Casa Azul abandonada é possível identificar a estrada antiga. O lugar é mágico, cercas de taipa, o Canoas, a cabanha, o cemitério, e aquele cenário todo coberto pela névoa, de tirar o fôlego e insinuar miragens. Descemos e acampamos do lado do rio. Como o fogo passara por ali também, não foi difícil achar um descampado para dormir. Apagamos fácil depois dos 22 km, e a noite gelada e úmida num breu total envolvida pela neblina. No dia 2 começamos cedo, às 06:15 já estávamos encharcados em meio a vegetação rasteira. Com alguma dificuldade chegamos às bordas da Serra, a visibilidade variava entre 100 e 50 metros. Mesmo perante as condições climáticas que encontramos a imponência dos cânions impressiona e assusta, com uma visibilidade ruim dessas seria um terror acabar ladeira abaixo. Seguimos pelo vale da nascente do Canoas. Alguns quilômetros à frente estávamos novamente nas partes altas, contornamos o Morro do Campo dos Padres e descemos para a Cachoeira do Rio Campo Novo onde paramos. Devido as péssimas condições do clima (a visibilidade agora não chegava a 30 m) e o horário já adiantado, resolvemos esconder as cargueiras e seguir até o Morro da Bela Vista do Guizhoni (1804 m) o terceiro mais alto do Estado, retornando sem ir até o Lageado. Subir o Bela Vista não foi fácil, cerca de 2 km, parte em uma carrasqueira de pedras e a outra em meio ao charco dentro da mata nebular, sem trilha demarcada, foi um banho por completo, nem a roupa impermeável deu conta. Atingimos o pico, idos meio-dia. E o clima só piorava, uma pena, não conseguimos ver nada. Retornamos sob as mesmas condições, a única diferença foi que durante a descida houve um relapso no tempo e pudemos enxergar o horizonte, foi incrível. De volta nas cargueiras, retomamos a marcha para o Morro da Boa Vista (1824 m, o mais alto do Estado e o terceiro do Sul do Brasil). A volta até a Bifurcação perto do Morro do Campo dos Padres foi mais tranquilo, já conhecíamos o traçado, o que facilitou bastante. Afinal, nesse dia foi ainda pior a navegação. A trilha não é definida, existem muitos caminhos de vaca e muita variação do relevo, como não dava para ver na cortina de névoa seguimos o relevo, nas vezes que tentei seguir por trilhos quando consultava o mapa já havíamos saído consideravelmente da rota. De início tentei me referenciar durante as curtas aberturas entre as nuvens, mas logo percebi que aquela oscilação mudava a paisagem e nós acabávamos seguindo pontos de referência distintos (muito parecidos), o que nos levava a se perder. Depois de passar por um longo campo de turfas chegamos de volta à bifurcação. Largamos as mochilas e atacamos o Morro do Campo dos Padres, subimos rapidinho, e quando olho no mapa, puts, errei. Viro pro lado e com atenção percebo uma sombra medonha em meio ao branco da viração. Se jogamos, a subida é hard, um paredão 60º forrado de gramíneas, uma subida engatinhando, o mais incrível é que só víamos o paredão mal enxergamos um o outro. 30 minutos e uns 400 m percorridos com elevação de 300 m, chegamos no céu, kkkkkk. Mal víamos os arbustos do entorno, mas estávamos lá, o mapa confere dessa vez. Descemos ladeira abaixo, literalmente. E partimos para o Boa Vista, pela carta de navegação, caminhamos por uma crista (meio larga) cerca de 1 h e 30 min, sempre que chegávamos no pé de algum cume ficávamos animados por ter chego. Ao consultar o mapa, era falso. Foram 3 falsos cumes e meio a visibilidade negativa, isso acabou com a graça da chegada. Depois de subir o verdadeiro levamos uns minutos conferindo a carta para comemorar com certeza a chegada. Montamos acampamento no cume sob um vento de 60 km/h, parecia que a barraca iria decolar. Entocados na barraca, dormimos igual pedra (foram mais 21 km nesse dia). Passou a noite ventando forte e tomado pela neblina, esta amanheceu implacável (de novo, hshs) no dia 3. Levantamos acampamento e seguimos pelo sul do Morro para o vale do Canoas. Em meio dos charcos e turfas. Passamos por muitos córregos e em um dos vários cânions que se formam por ali encontramos três cachoeiras vizinhas. Saímos novamente na trilha dos índios, margeando a borda da Serra Geral. Mais uma vez não vimos nada. Cortamos o Campo dos Padres tomando a trilha por trás da casa azul. De início foi fácil segui-la. Mas não demorou muito até se perdermos e passar 40 min caminhando nos caminhos de búfalos das encostas até avistar lá embaixo um pedaço da antiga trilha. Descemos aliviados, os pés ardiam, A Bruna com bolhas arrastando-se. Paramos para almoçar e furar as bolhas, só assim para continuar. Estávamos novamente na trilha demarcada e o tempo abrira, víamos as araucárias imponentes ao nosso lado e no horizonte por vezes vimos a silhueta da montanha infinita. Seguimos, carrasqueira a frente. Eram já 18:00 quando pisamos na estrada que leva ao Rancho do Cânion Espraiado. Chegamos no rancho exaustos, molhados e com um vento de mudar cavalo de invernada. Não fosse a hospitalidade do pessoal do Espraiado, deixar acamparmos dentro do celeiro, teríamos uma noite conturbada. Durante a madrugada as rajadas davam a impressão de que o próprio celeiro iria tombar. Agora que estávamos de volta, no dia 4 amanheceu limpo e pudemos aproveitar as vistas do Cânion Espraiado (fica para o próximo relato).
  5. Fala galera! Faz um tempo que não posto nada aqui, nesse período de pandemia acabou não dando pra fazer muitos dos planos que tinha pra esse ano, mas realizei uma viagem rápida de 10 dias pro sul do Brasil recentemente e gostaria de compartilhar com vocês. Gosto sempre de planejar minhas viagens por meio de planilhas, vou compartilhar abaixo o modelo que eu utilizo, fiquem a vontade para utilizar também. Floripa - Outubro 2020.xlsx Bom, nossa viagem partiu de Jaguariúna, interior de SP com primeiro destino a Curitiba. Posteriormente, Florianópolis, Urubici, Imbituba e retorno. Foram na verdade 9 dias e fizemos a viagem inteira de carro. O roteiro está abaixo: Eu vou fazer o relato de cada cidade nos comentários para não ficar muito extenso cada post. Espero que gostem!
  6. "No século XII, o geógrafo oficial do reino da Sicília, Al-Idrisi, traçou o mapa do mundo, o mundo que a Europa conhecia, com o sul na parte de cima e o norte na parte de baixo. Isso era habitual na cartografia daquele tempo. E assim, com o sul acima, desenhou o mapa sul-americano, oito séculos depois, o pintor uruguaio Joaquín Torres-García. “Nosso norte é o sul”, disse. “Para ir ao norte, nossos navios não sobem, descem.” Se o mundo está, como agora está, de pernas pro ar, não seria bom invertê-lo para que pudesse equilibrar-se em seus pés?" De pernas pro ar, Eduardo Galeano O nosso norte é o sul, Joaquín Torres-García Cheguei ontem pela madrugada em casa. Agora sentado na frente do computador sinto uma necessidade, quase insuportável, de contar sobre meu caminhar até o fim do mundo. Foram 50 dias de viagem e mais de 14.000km percorridos por terra. Entre ônibus e caronas percorremos o sul do Brasil e a Patagônia Argentina até Ushuaia, parando em muitos lugares nos dois países. O dinheiro era pouco, mas a vontade era muita. A necessidade que tenho de escrever deve-se as pessoas que de alguma forma nos ajudaram a realizar esta viagem ao extremo sul da América do Sul. Tanta gente boa pelo caminho. Tanta solidariedade. Tanta gratidão. Pela primeira vez, antes de uma mochilada, eu não estava completamente bem e seguro. Nos meses que antecederam a viagem estava escrevendo a dissertação do meu mestrado (isso, por si só, já era muita tensão) e nesse intervalo de tempo perdi meu pai, a mulher que aprendi a amar resolveu seguir sem minha companhia e quase antes de embarcar perdi minha vó. Como é de se imaginar, meu estado de espírito não era nada bom, na verdade era o pior possível. Com isso tinha muito medo de atrair coisas ruins pelo caminho, como por exemplo ser vítima de violência. Assim, resolvi mudar a ideia de mochilar sozinho e decidi ter uma companhia nessa viagem. Meu amigo/irmão Matheus embarcou comigo nessa jornada. Enfim, tenho como intuito neste relato contar a história dos lugares por onde passei, minhas histórias nesses mesmos lugares e, principalmente, falar sobre as muitas pessoas (leia-se anjos) que nos ajudaram nesta viagem. Quero contar de maneira honesta os acontecimentos e os sentimentos que me permearam nesses dias, e de alguma forma quero deixar esse texto como agradecimento a cada pessoa que tornou essa viagem algo possível. Agora vamos ao que interessa, bora comigo reconstruir essa viagem por meio de fotos e palavras! Parte 1 - De Rio Claro até Timbó: o mesmo início de outra vez Parte 2 - A Serra Catarinense vista por Urubici Parte 3 - O casal das ruínas de São Miguel das Missões Parte 4 - Do Brasil para a Argentina Parte 5 - Buenos Aires, la capital Parte 6 - O começo da Ruta 3 e o mar de Claromecó Parte 7 - Frustrações na estrada e a beleza de Puerto Madryn Parte 8 - O anjo do carro vermelho Parte 9 - Cruzando o Estreito de Magalhães com San Martin Parte 10 - Enfim, o fim do mundo Parte 11 - Algumas das belezas de Ushuaia Parte 12 - El Calafate, Glaciar Perito Moreno e Lago Argentino Parte 13 - O paraíso tem nome, El Chaltén Parte 14 - A janela do ônibus Parte 15 - O caminho de volta: Buenos Aires, São Miguel das Missões, Curitiba e Prainha Branca Parte 16 - Reflexões
  7. Venho visitando o Cânion Espraiado na cidade de Urubici em Santa Catarina há alguns meses e a cada expedição tenho uma conexão mais forte com o lugar. Em nossa última visita, fizemos diversas aventuras, desfrutando de momentos épicos em um dos lugares mais incríveis que eu já vi na vida! E para finalizar o final de semana resolvemos aproveitar a vista de um ângulo diferente, instalamos uma rede no meio das montanhas! Tivemos a oportunidade de estar onde ninguém nunca esteve antes, sentado na rede, sentindo o lugar e a energia. Centenasde metros do solo, “flutuando” em meio a imensidão do cânion, se pode ouvir os pássaros, o riacho passando lá em baixo, o vento. Utilizamos os recursos e conhecimentos da nossa prática de highline (que é o slackline nas alturas) para montar a rede. Essa experiência é recomendado para pessoas com conhecimento sobre as técnicas do highline, lembrando que estamos presos e com segurança a todo momento. Todos do grupo quiseram desfrutar um pouco dessa experiência. O Canion é uma propriedade privada onde você só tem acesso mediante a 3 horas de trilha ou com um veículo 4x4. Deixo o convite se quiser conversar e conhecer mais sobre as nossas expedições e aventuras meu Instagram é @angelomaragno
  8. A contagem regressiva a começa, os gritos ecoam, 3... coração começa a bater mais forte 2... respiração ofegante 1... hora de saltar!! Eu fiz umas das aventunturas mais incríveis da minha vida, pulei de um penhasco! Quem não tem o sonho não é? haha O Cânion Espraiado novamente foi palco para mais uma das minhas aventuras, se jogar de um pêndulo no cânion. Após você chegar no topo do cânion onde tem um retiro da montanha, começamos a caminhada de 25 minutos até o local do salto. Nesse caminho passamos por um riacho, banhado e terrenos bem úmidos até chegar a borda do cânion onde caminhamos por mais 10 minutos (então nada de tenis ou botas impermeável uma galocha até o joelho é a melhor solução para esse trajeto haha) Chegando lá o pessoal te recepciona e te prepara para saltar. A contagem regressiva começa, os gritos ecoam... 3... coração começa a bater mais forte 2... respiração ofegante 1... hora de saltar!! A partir daí são 2 segundos de queda livre até você pendular lá no meio do canion. O grito de felicidade é inevitável! Sem dúvida uma experiência incrível, umas das mais sensacionais da vida! Estar ali, pendurado olhando a 300 metros para baixo de você, olhando as montanhas, os pássaros passando a sua volta, tudo isso é tão incrível quanto o desafio de saltar. Logo após você inicia o processo de retorno para a borda do cânion, 5 minutos depois você já está de volta e pronto para saltar novamente. Em questão de 15 minutos você já saltou e está super super feliz!
  9. Olá amigos, Primeiramente quero informar que este é o meu primeiro relato de viagem aqui no Mochileiros. Sabe aqueles dias em que você se sente um pouco entediado e pensa “Nossa, acho que eu precisava conhecer um lugar novo e ver pessoas que nunca vi”. Bom, acho que pra quem gosta de viajar essa reflexão provavelmente tem com certa frequência. Foi exatamente assim que essa viagem começou...logo já entrei em contato com uma amiga, e ela falou que entraria em férias em duas semanas (estávamos no final de Abril/2016), e que topava ir! E essa foi nossa primeira viagem que iríamos apenas nós duas. Logo já começamos discutir possibilidades de destino, ela falou que gostaria de ir pra algum lugar de clima frio, eu pensei no Chile, mas ela falou que gostaria de ir para o sul do país, eu particularmente já conhecia a cidade de Gramado e Canela, porém na época de Natal (época que também é fantástica em Gramado), mas a cidade de Gramado é mágica e sempre vale um repeteco, então decidimos que iríamos fazer um roteiro por algumas cidades do Sul. O primeiro detalhe foi pensar nas passagens, pesquisamos pelas várias companhias que realizam voos entre São Paulo (seja VCP, CGH ou GRU) a Porto Alegre (POA), acabamos optando pela Gol, pois a ida compramos com milhas que eu tinha e a volta ela comprou. Fechamos o aluguel de carro pela “Foco”, melhor preço (R$ 604 para diárias com condutor adicional, seguros para terceiros e seguro com co-participação do dia 19 às 14:20 ao dia 27 às 7:15) e o atendimento também foi bom, principalmente quando tivemos um probleminha que contarei mais adiante. Fechamos os hotéis pelo “Booking” (super recomendo, pois nunca tive problemas) e o hotel de Canela compramos por uma promoção pelo site “Laçador de ofertas” (site de compra coletiva do Sul, também recomendo pois tudo que compramos deu certo). Partida 19/05/2017 Saímos de Rio Claro (SP) bem cedo, pois nunca sabemos o que espera do transito de São Paulo, no fim chegamos no estacionamento próximo ao aeroporto de Congonhas bem próximo a 1 hora de antecedência antes do voo, decolamos e em apenas 1 hora e pouquinho já estávamos em Porto Alegre, chegamos no começo da tarde e estava bem friozinho lá. Lá em Porto Alegre avisamos a locadora de veículos que havíamos chegado, logo já chegaram e nos levaram para retirar o carro, optamos apenas pelo seguro de terceiro e não contratamos o seguro total, pois aumentaria uns quarenta e poucos reais por diária. Lá vamos nós né...eu que fui dirigindo, apenas no sair da locadora já foi possível notar que os gaúchos dirigem de uma forma bem acelerada e adoram uma buzina hahahah. Fomos almoçar uns pastéis uruguaios que havíamos comprado pela compra coletiva e passeamos pelo arredor, logo após fomos para o hotel Garibaldi fizemos o check-in, e saímos fomos andar nos Antiquários, no Centro Histórico (ruas José do Patrocínio, Coronel Fernando Machado e Marechal Floriano Peixoto), e depois fomos ao Parque Farroupilha que é lindo! E a noite fomos à um barzinho requintado chamado ”Dado Pub” no bairro Moinhos de Vento. 2º dia Fomos almoçar no Mercado Público e ficamos andando no centro. Sobre Porto Alegre não vimos muitas coisas turísticas para se fazer, a cidade tem seus pontos bonitos, mas não deixa de ser uma capital com seus problemas, durante esses 2 dias que ficamos lá levamos dois sustos, um no centro em que estávamos na porta de loja e ouvimos um tiro, aparentemente nada aconteceu, mas por precaução entramos na loja e ficamos dando uma enrolada lá, só pra garantir e a outra vez estávamos de carro e um andarilho ameaçou jogar seu carrinho de supermercado na nossa direção. E a noite usamos outro cupom de compra coletiva pra ir jantar em um restaurante no bairro de Pedra Redonda chamado “La Piedra”,uma delícia pedimos um prato de peixe Saint Peter com risoto de funghi, decoração diferenciada e após o jantar saímos na parte externa apesar do frio e do vento que estava, durante o dia a vista deve ser maravilhosa pois o restaurante fica bem na beira do lago Guaíba. Na volta paramos para tirar foto do Estádio José Pinheiro Borda, conhecido como Gigante da Beira-Rio (localizado às margens do lago Guaíba) é um estádio de futebol pertencente ao Internacional, localizado às margens do lago Guaíba. 3º dia Tomamos café e saímos cedinho do hotel com destino à Gramado, paramos em Novo Hamburgo no “Fashion Outlet” onde compramos algumas coisinhas, perto da hora do almoço chegamos a Gramado e fomos almoçar na “A Mina”, almoço gostoso e bem caseiro, e também visitamos à Mina de Pedras Preciosas e conhecer a loja, também usamos cupom. A chegada à cidade já foi emocionante demais, pois um carro sem condutor começou a descer e bateu no nosso carro, pegamos o telefone da pessoa e o contato do seguro dela e a noite o segurador foi leva no hotel todos os dados e papéis, caso a locadora cobrasse de nós. E fomos conhecer as lojas de chocolate ao longo da avenida das Hortênsias, uma mais linda que a outra e um chocolate mais gostoso que o outro, porém ao sair de uma das lojas a neblina estava muito densa e acabamos ralando a porta esquerda do Celtinha em um poste. E fomos para a pousada “Villa Allegro” em Canela, onde devido aos ocorridos do dia resolvemos ficar por lá e pedir uma pizza pra jantar. 4º dia Acordamos cedo, tomamos café e pegamos nossas malas, fomos para o centro de Gramado, aliás é maravilhoso, as construções e os jardins, passamos por mais algumas lojas de chocolate. Almoçamos na “Alemanha Encantada”, também compramos cupom e tem que agendar, almoço gostoso com chopp típico alemão e subimos na torre e conseguimos ver Gramado de cima. Apesar da garoa fomos ver o Lago Negro e a tarde fomos fazer o passeio no “Mundo Gelado” que também já havíamos comprado pela compra coletiva, muito legal, mas é rápido. Ai fomos conhecer o centro de Canela e a Catedral de Pedra em Canela, nesse dia tivemos que trocar de hotel, pois como acabamos reservando muito próximo a viagem e tinha um evento na cidade não conseguimos estadia para os 2 dias em um mesmo hotel, então nesse segundo dia ficamos no hotel “Grande Hotel Canela”, fizemos o check-in, um dos colaboradores do hotel falou que dia seguinte faria muito frio, como no nosso dia seguinte iríamos para Urubici, ficamos entusiasmada com a possibilidade de ver neve. Nos arrumamos e saímos pois esse era o dia de ir no fondue, fomos no “La Divina” pois já havíamos também comprado pela site de compra coletiva, o fondue de carne na pedra faz toda a diferença, é bem mais gostoso do que quando é frito, também comemos o fondue de queijo e como sobremesa não pode faltar o fondue de chocolate. Após as comilanças voltamos para o hotel. 5º dia Acordamos cedo, tomamos café de leve e andamos pelo hotel para conhecer, que por sinal é muito bonito. Era segunda, como ainda estávamos um tanto preocupadas com o estrago na porta do carro fomos até uma concessionária da Chevrolet pedir um orçamento de quanto ficava pra arrumar a porta, para pelo menos ter noção do preço, pra ver se a locadora não cobraria um preço absurdo. Às 11 no horário que já começavam a servir o café colonial fomos para o “Coelho Café colonial”, também já havíamos comprado, a quantidade de coisas que se serve nos café coloniais de lá é insana, é realmente muita diversidade pra se comer. E assim com a barriga cheia pegamos estrada rumo a Urubici, indo pela BR-101 próximo as cidade de praias, pois havíamos perguntado a várias pessoas de como era a estrada por dentro e todas falaram que apesar de mais longe era melhor irmos pela BR-101, eu fiquei um pouco chateada, pois a minha intenção era conhecer dois caminhos diferentes, mas como não conhecíamos acabamos acatando a opinião das pessoas. Como acabamos saindo já era às 13 horas acabamos atrasando um poquinho, e chegamos à Serra do Rio do rastro já era fim de tarde, porém como quase não havia movimento na serra foi tempo suficiente para nós subirmos tranquilas admirando a vista que é maravilhosa, porém até chegar em Urubici ainda tínhamos mais 80 km para fazer no escuro e a lua não estava colaborando com a visibilidade nesse dia, infelizmente acabamos acertando um buraco, em que apenas quando chegamos no hotel vimos que um pedacinho da nossa calota havia quebrado e a roda havia entortado um pouco, e o pneu estava um tanto murcho. Após quase sete horas cansativas na estrada conseguimos chegar no hotel em Urubici, “Pousada Recanto da Serra” que eu reservei pelo site Booking, a pousada fica dentro da cidade e apesar de não ter nada de especial é bem charmosa, nova e limpa; mas simplesmente tomamos banho e dormimos. 6º dia Acordamos cedo, tomamos café e para termina nossa onda de azar, fomos pegar o carro e o pneu estava bem murcho, falamos com o dono da pousada e ele nos indicou um lugar para arrumar, como era a apenas uns 3 quarteirões dali, levamos o carro lá, ele desentortou a roda, encheu o pneu e tivemos que comprar uma calota nova. Após o drama do dia, pegamos nossas coisas e fomos na “cachoeira do Avencal”, e depois apenas pegamos um salgado pra comer e até a cidade de São Joaquim para fazer a visita guiada na vinícola “Villa Francioni”, muito bonita e os vinhos de lá são muito bons. E após a visitação pé na estrada, pois desceríamos rumo a Laguna, paramos para admirar a Serra do Rio do Rastro de cima e é possível até avistar o mar lá de cima, e descemos a serra, chegamos a Laguna já era de noite e infelizmente nosso hotel “Atlântico Sul” estava sem água, mas enquanto essa situação se regularizava fomos jantar. Depois voltamos, pudemos tomar banho e dormir. 7º dia Acordamos, tomamos café e fomos dar uma voltinha nas lojinhas ali perto do hotel, ai pegamos nossas coisas e fomos ver na beira da praia tem um píer que fala que é realizada pesca artesanal com auxílio dos golfinhos, se eles ajudam eu não sei, mas que eles ficam lá, isso eles ficam e é um espetáculo ficar admirando eles nadando. Pegamos a estrada e fomos rumo a Torres, no caminho paramos para almoçar e também paramos em um shopping e em uma grande loja de sapatos, e tivemos que comprar uma bolsa de mão para trazermos os chocolates e queijos que havíamos comprado em Gramado. Conhecemos as belas praias Torres, a praia da Guarita, O morro do meio e o Morro do Farol, com enormes penhascos e falésias a beira mar, fazendo a paisagem ficar única e deslumbrando. Após demos uma voltinha beira ao rio Mampituba e fomos para o Hotel “Pousada Molhes da Barra” que ficava ali perto, que eu reservei com o próprio hotel mesmo, uma gracinha o hotel, começamos a dar uma organizada na nossa mala e depois nos arrumamos e fomos jantar no restaurante “Beira Rio” próximo dali mesmo que fomo de a pé, e apreciamos a vista do rio a noite. Ai voltamos para o hotel e dormimos. 8º dia Acordamos, tomamos café e seguimos rumo ao Cânion Itaimbezinho no Parque Nacional de Aparados da Serra, localizado na cidade de Cambará do Sul, a estrada é bem ruim, mas devagar chegamos lá, e a vista de seus paredões verticais cobertos pelas araucárias vale totalmente o esforço de chegar lá. Ai seguimos de volta para Porto Alegre e nos hospedamos novamente no Hotel Garibaldi e a noite saímos jantar um delicioso Entrecort no Bar e restaurante ”Vila” no bairro Moinhos de Vento. Voltamos ao hotel, organizamos tudo em nossas malas, pois no dia seguinte o nosso voo era na parte da manhã e dormimos 9º dia e volta pra casa Acordamos cedo, tomamos café e carregamos o carro para partir, fomos até a locadora, resolvemos com eles a questão da porta que por nossa sorte cobrou um terço do valor que havíamos orçado, após acertar todos os detalhes, eles levaram a gente para o aeroporto Salgado Filho (POA) e voando de volta pra São Paulo encerramos a nossa aventura por algumas cidades do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.
  10. Depois do meu último relato sobre como você pode visitar o lugar mais frio do Brasil, falarei hoje um pouquinho mais a respeito das outras diversas opções de passeios em Urubici, uma das mais aconchegantes cidadezinhas da Serra Catarinense. A começar por sua localização, Urubici é o lugar perfeito para você se estabelecer durante um roteiro serrano! Além de dispor de excelentes opções de hospedagem (daquelas que farão você se esquecer do resto do mundo!), oferece ainda boas variedades gastronômicas típicas da região e é abundante em atrações naturais! Urubici é um descanso para a mente e para a alma! É a cidade perfeita para você cansar o corpo e relaxar a mente! E o que pode ser melhor do que aquela sensação de liberdade que só o contato com a natureza é capaz de nos proporcionar? Mas que Cargas d'Água se tem pra fazer em Urubici? Cargas d’água” sim, senhor! Muitas atrações da cidade envolvem essa temática “água”! Cachoeiras, cascatas, rios… Ah! E é importante salientar que todas as atrações requerem o uso de um carro, visto que os atrativos mantêm uma distância considerável uma das outras. Lista dos Lugares para Visitar: Gruta Nossa Senhora de Lourdes Serra do Corvo Branco Cascata Véu da Noiva Morro da Igreja Morro do Campestre (Morro da Cruz) Centrinho de Urubici & Igreja Matriz Mirante do Avencal Inscrições Rupestres Cachoeira do Avencal + Cascata da Neve + Caverna do Rio dos Bugres + Rio Sete Quedas ☞ Leia todo o post neste link aqui: https://www.vivajando.com/2017/11/24/passeios-em-urubici/ Lá no blog eu comento sobre cada um dos passeios! Dê um pulinho lá, comente! Estou aqui pra te ajudar!
  11. Entrar em contato com a natureza traz diversos benefícios, sendo alguns deles a diminuição do stress, aumento da criatividade e até a diminuição da pressão arterial. Interessante né? Mas por que estou te contando isso num post sobre Urubici? Porque visitar Urubici é se conectar diretamente com a natureza, e eu posso garantir que você vai sentir cada um dos benefícios e vai deixar a cidade com a mente tranquila. Conheça essa pequena cidade de Santa Catarina, que com apenas 10 mil habitantes, vai te mostrar toda a beleza e imponência da natureza, que se exibe em Urubici de diversas maneiras. Descubra o que fazer em Urubici, desvende cada cantinho desse paraíso natural e aproveite ao máximo sua visita a cidade. Receptividade, simplicidade e humildade Logo ao chegar em Urubici, o que mais impressionou foi a receptividade do povo, que nos recebeu de braços abertos. Um povo humilde, simples e disposto a ajudar, coisa que nem sempre vemos por ai. Isso por si só já me conquistou no primeiro dia em Urubici, e tenho certeza que você também será recebido tão bem quanto eu. O que fazer em Urubici Como já comentei, a cidade é um paraíso natural, onde a natureza se exibe em suas mais lindas formas. Urubici é conhecida principalmente por suas cachoeiras, mas vai muito além disso. Descubra agora o que fazer em Urubici, desde os lugares mais visitados até os pouco conhecidos. Ah, e não se perca, pois o melhor ficou para o final. Vamos lá? Inscrições Rupestres Um dos mais importantes registros arqueológicos de Santa Catarina, são inscrições gravadas em paredes de pedras pelos primeiros habitantes de Urubici, que viveram por ali há mais de 4 mil anos atrás. Inscrições rupestres O principal registro é a Máscara do Guardião. Acredita-se que este lugar era sagrado, e o guardião era quem o protegia. Além desse, há diversos outros desenhos e símbolos interessantes, que apesar de simples, tem valor histórico incalculável. Cascata Véu de Noiva Subindo para o Morro da Igreja, do qual vou falar mais adiante, encontra-se a pousada Cascata Véu de Noiva, onde está a cascata de mesmo nome. Devido à sua inclinação e largura, a água desliza pelas pedras em direção ao solo de modo que forma-se uma fina camada de água corrente, que lembra muito um véu de noiva, dando origem ao nome da cascata e da pousada. Parece ou não um véu de noiva? Dentro do complexo, além da cachoeira e do hotel, ainda existe um restaurante e uma tirolesa. Chegamos muito cedo para o almoço, mas o buffet estava começando a ser preparado e parecia ótimo! Gruta Nossa Senhora de Lourdes Também no caminho para o morro da Pedra Furada, a 11 kms do centro de Urubici está a Gruta Nossa Senhora de Lourdes. Uma gruta natural cercada por paredões de pedra, que ainda conta com uma tímida queda d’água de 10 metros. A Gruta Nossa Senhora de Lourdes merece uma visita Desde 1994 a gruta abriga uma imagem de Nossa Senhora de Lourdes e atrai diversos turistas e fiéis, que deixam por ali suas homenagens. Mesmo para não religiosos, vale a pena visitar a gruta pela sua beleza natural. Cachoeira da Neve Sem dúvidas uma das mais lindas e interessantes cachoeiras de Urubici, recebeu esse nome pois no inverno, a água é espalhada pelo vento durante a queda, e vira pequenos flocos de neve que caem suavemente até atingir o chão. No inverno, a água congela e cai como neve A Cachoeira da Neve está localizada dentro do camping Arroio do Engenho, a aproximadamente 3,4km do centro da cidade. Para chegar até a cachoeira, deve-se fazer uma trilha de aproximadamente 30 minutos, de nível leve. Ao chegar, a vista da cachoeira é deslumbrante já a primeira vista, porém, a experiência não acaba por aqui. Você pode seguir uma trilha que chega atrás da água. Por trás da cachoeira Morro do Campestre Também conhecido como Morro da Cruz, oferece uma das vistas mais lindas da região. A subida é parte de carro, parte caminhando. Uma subida leve, de aproximadamente 15 minutos. Formações rochosas no Morro do Campestre No topo, você vai encontrar formações rochosas de arenito, que ficam a 1.380m de altura. Esse é o ponto principal, mas caso você queira se aventurar um pouco mais e ter uma vista ainda mais incrível, você pode continuar até o final da trilha, que é mais pesada, sendo quase uma escalada em certos pontos. Morro da Igreja e Pedra Furada Esse talvez seja o principal motivo para as pessoas visitarem Urubici, e também é um dos maiores cartões postais da cidade, junto com a Cascata do Avencal, que vou mostrar pra você daqui a pouco. O que muitos não sabem, é que na verdade a Pedra Furada está em território de Orleans, porém, a melhor vista dela é mesmo de Urubici. Então fique tranquilo, você está no lugar certo. Vista do morro da Igreja, Pedra Furada ao centro. Foto: Kiko Luis Ricardo @kikoluisricardo Para chegar ao Morro da Igreja, são aproximadamente 30km saindo do centro do Urubici. Todo o trecho é asfaltado, porém de péssima qualidade. Recomendo dirigir com cuidado para evitar os buracos. Curiosidades: É o ponto habitado mais alto do sul do Brasil; É onde foi registrada a temperatura mais fria do país, -17,8 graus; A altitude á de mais de 1800m. O melhor horário para ver a Pedra Furada é durante a manhã, pois a chance do tempo estar aberto é maior. Mas eu não tive essa sorte, e acabei vendo só nuvens. Caverna Rio dos Bugres Esse está aqui mais como informação do que como recomendação. Na verdade são pequenos túneis interligados, que ficam em uma propriedade particular, também no caminho para o Morro da Igreja. Há diversas teorias do surgimento desses túneis, sendo uma delas que os túneis serviam de abrigo para os índios, que ali dormiam para se proteger do frio intenso da região. Já outra conta que os buracos foram feitos por tatus gigantes. O passeio é rápido, e é recomendado levar lanterna para passear por entre os túneis. Paróquia Nossa Senhora Mãe dos Homens Construída entre 1965 e 1973, a igreja matriz de Urubici contempla 31 comunidades. Tem uma arquitetura única e totalmente diferente de qualquer outra igreja que eu já tenha visto. A Imagem de Nossa Senhora Mãe dos Homens que está nessa igreja, veio de barco do Rio de Janeiro em 1930. Arquitetura única e impressionante Mirante de Urubici A caminho do parque Cascata do Avencal, que você vai conhecer daqui a pouco, e também muito perto das inscrições rupestres, está o mirante de Urubici. Um lugar bacana que oferece uma bela vista da cidade. Vista linda de Urubici Serra do Corvo Branco Também um clássico da região, a Serra do Corvo Branco é sem dúvidas imperdível. Saindo de Urubici, você vai chegar ao topo da serra, de onde tem-se uma vista fantástica da região, que abrange paredões de pedra enormes. Serra linda, porém perigosa São 30km de estrada de chão do centro do Urubici até a serra, e já vou avisando, a estrada é horrível. Mas também já digo que vale muito a pena. Visitar a Serra do Corvo branco definitivamente deve estar na sua lista de “o que fazer em Urubici”, pois a vista é sensacional! Ali você vai contemplar o maior corte em rocha basáltica do Brasil, que se impõe com seus paredões de até 90m de altura. Estima-se que essas montanhas tem mais de 160 milhões de anos. Maior corte em rocha basáltica do Brasil! Ao descer a serra, que é oficialmente a SC-370, chega-se a Grão Pará, porém não é recomendado descê-la. A estrada é ruim e deslizamentos acontecem com frequência, tanto que a serra é interditada diversas vezes durante o ano. Visitar o topo, por outro lado, é totalmente seguro. Parque Cascata do Avencal Lembra que eu falei que o melhor ficou pro final né? Então conheça o Parque Cascata do Avencal, ponto turístico clássico e cartão postal de Urubici. Localizado a 6km do centro de Urubici, o parque conta com hotel, restaurante, lago com pedalinhos, tirolesa e a famosa Cascata do Avencal. Tirolesa de Urubici. Tem coragem? A tirolesa tem 200m de comprimento, e passa por cima da cascata, oferecendo uma vista fantástica e única do lugar. A velocidade é controlada e lenta, então não há muita adrenalina, a não ser pela altura, que pode assustar, pois a cascata tem 120m de altura. Cascata do Avencal – Parte Alta A cascata pode ser visita por dois ângulos, a parte alta e a parte baixa. Para visitar a parte alta deve-se ir ao Parque Cascata do Avencal, onde paga-se entrada. Chegar até lá é fácil, basta seguir as placas indicando. Confira no mapa ao final do post a localização de todos os pontos turísticos de Urubici. Parte alta da Cascata do Avencal Cascata do Avencal – Parte Baixa Já o acesso a parte baixa da cascata é um pouco mais complicado. No caminho para o parque, saindo do centro de Urubici, deve-se entrar em uma rua à direita, seguir até onde der de carro e depois fazer uma trilha de aproximadamente 800m. Parte baixa da Cascata do Avencal A trilha é de nível leve, mas dependendo de como esteve o tempo nos últimos dias, pode haver pedras escorregadias. Ao final da trilha, a incrível Cascata do Avencal, vista de baixo. Se o tempo estiver bom, você pode até aproveitar para tomar um banho no lago que se forma ao pé da cascata. A gastronomia de Urubici é única, e seus restaurantes, apesar de simples, oferecem pratos de altíssima qualidade, muito saborosos e com preços ótimos. Agora que você já sabe o que fazer em Uribici, bora descobrir o que e onde comer? Onde comer em Uribici Zeca’s Bar O prato mais típico de Urubici é a truta, que pode ser apreciada de diversas maneiras. Um dos melhores lugares para experimentar esse peixe tradicional de Santa Catarina é o Zeca’s Bar. Eu experimentei a truta ao alho, um prato muito bem servido e saboroso. Truta ao alho no Zeca’s Bar E além da truta, no Zeca’s você também encontra pratos feitos, como arroz, feijão e bife, ou até pizzas, que é uma das especialidades da casa. Posto Serra Azul Sem exagero, esse é um dos postos de combustível mais legais que já vi. Já de cara você vê um carro antigo, com metade estacionado para fora e outra metade para dentro da conveniência do posto. O carro na verdade foi transformado e serve de caixa. Muito legal né? E além disso, toda a decoração é no melhor estilo americano, com placas por todo o lado e meses feitas com peças de carro. Tudo pra dar um charme. A melhor parte, no entanto, é a comida. No posto Serra Azul eles vendem um delicioso sanduíche de truta, normal ou defumada. Eu fui no com truta defumada, acompanhado de uma boa cerveja artesanal da região. Sanduíche de truta defumada. Uma delícia! Pousada em Urubici Não adianta você ter uma lista enorme dessa sobre o que fazer em Urubici se você não sabe onde vai se hospedar, não é mesmo? Eu tenho uma boa notícia pra você: Em Urubici você vai encontrar ótimas opções de hospedagem. Em fiquei da área de camping da Pousada Nossa Senhora das Graças, que oferece o tipo de hospedagem rural. A área de camping é muito bem estruturada, com cobertura, tomadas dentro da área coberta, chuveiros a gás e churrasqueiras. Foto: Pousada Nossa Senhora das Graças Mas também há chalés muito charmosos na pousada, e confesso que deu uma vontadinha de me hospedar em um deles. São chalézinhos de madeira, muito bonitos e aconchegantes. Foto: Pousada Nossa Senhora das Graças Há também um galpão, que abriga uma cozinha bem completa e área de lazer, com mesa de sinuca e tênis de mesa. Ou seja, tudo para sua hospedagem ser perfeita. E tem mais! Acredita? A Pousada Nossa Senhora das Graças é muito bem localizada, bem pertinho do centro, onde ficam os postos de gasolina, mercados e restaurantes. Jogando tênis de mesa na pousada Pra mim, o atendimento é super importante, e nessa pousada esse ponto vai além das expectativas. A senhora que é dona da pousada foi muito gentil, ajudou com tudo o que pode e me recebeu muito bem! Gostou dessa opção de hospedagem em Urubici? Você pode verificar os valores e disponibilidade clicando no botão abaixo. Verificar disponibilidade Pra não se perder ;D Encontre no mapa abaixo a localização de todos os lugares citados nesse post. Visite Uribici Visitar Urubici é muito fácil, tranquilo e prazeroso. Além de tudo o que eu já mencionei aqui, a cidade é muito bem organizada e sinalizada, ou seja, é fácil achar todos os pontos turísticos mesmo sem um GPS. Se você quiser ver tudo o que está listado nesse post, 3 ou 4 dias são o ideal, mas se quiser focar apenas nos mais famosos, sua viagem pode ficar com 1 ou 2 dias.
  12. Guia completo para quem deseja conhecer a neve e o frio do nosso Brasil tropical. Nesse vídeo mostro como cheguei na cidade com maior potencial turístico da Serra Catarinense e seus atrativos. Conto também dicas para quem assim como eu, se apaixonou pela cidade, e resolveu morar nela, ou ao menos, deseja ter um refúgio nas montanhas.
  13. DICAS: SÃO JOAQUIM, URUBICI São Joaquim, distante de Florianópolis 233 km, é o retrato europeu no nosso país. O clima da região é temperado, sem estação seca, com temperatura média anual entre 18°C. O município que fica a 1.360 m de altitude, no inverno, a temperatura é bastante baixa e algumas vezes chega a nevar, (junho a agosto). Mesmo quando não neva, a cidade pode chegar a -10°. No Estado, só não é mais gelada que Urubici, localizada a 1.425 metros de altitude. O período mais chuvoso é entre os meses de agosto e outubro. O acesso pelo litoral já vale a viagem. Pela Serra do Rio do Rastro, o viajante aprecia vistas panorâmicas entre precipícios. No Snow Valley (Vale da Neve) a 10 km do Centro, há uma trilha com várias cachoeiras. A Maçã também atrai Spamres de turistas a São Joaquim. Calendário turístico Fevereiro a Abril: Período de colheita da maçã; Abril/Maio: Festa Nacional da Maçã. Urubici está na base das encostas do Parque Nacional de São Joaquim. Com menos de 10.000 habitantes, possui pousadas e albergue, oferecendo as mais diferentes opções para quem quiser conhecer o Parque e a região. De Florianópolis são 170 km até lá e dizem que o céu é deslumbrante: lotado de estrelas! Outros locais de visitação: Igreja Matriz A igreja é totalmente construída em pedra basalto, retirada dos morros da região. Na parte externa da igreja, confira esculturas de profetas bíblicos e de Adão de Eva. Ela está localizada na praça central João Ribeiro. Mirante Permite a vista panorâmica da cidade, com uma bela visão dos campos da região, a 1400 metros de altitude. Acesso pela Rua Major Jacinto Goulart. Epagri Na Estação Experimental de Fruticultura, que fica a 2 km do centro, é possível ver os modernos equipamentos de pesquisa utilizados para o aprimoramento do cultivo de frutas. De agosto a novembro você poderá ver a floração da maçã - mais de 270 variaedades - e, entre fevereiro e abril, a colheita. A visitação é em horário comercial. Parque Nacional da Maçã É onde acontece a Festa Nacional da Maçã, entre outras feiras e leilões agropecuários. Com 214 mil metros quadrados, possui áreas específicas para camping, canchas de laço, pavilhão de exposições e palco para shows. Fica a 2km do Centro. Vale da Neve Parque ecológico formado por 30 hectares de mata. O local é impregnado por xaxins gigantes, com mais de 1 metro de altura, cachoeiras e lagos. São 2,7 mil metros de trilhas que podem ser percorridas com o auxílio de um guia. Museu Histórico Municipal No espaço Assis Chateubriand você pode visitar exposições temáticas e aprender um pouco sobre a história de São Joaquim. Fica na Rua Major Jacinto Goulart, 168. Cascata do Pirata Distante 17 km do centro, a cascata possui queda livre de 15 m no Rio Postinho. O acesso é pela SC-438, em direção a Bom Jardim da Serra. Anexo à Fazenda Refúgio do Pirata. Uma observação importante: Se for de carro é recomendável colocar fluido anticogelante no radiador do carro. Retorne amigo mochileiro.... para com suas informações poder auxiliar outros mochileiros!
  14. Eu e minha esposa Janaina Telles resolvemos na última terça-feira (18-07-17) dar umas voltas pelo interior de Santa Catarina e resolvemos ir a Urubici e São Joaquim. Urubici e São Joaquim são cidades próximas (60 km), levando os turistas a conhece-las quando em viagem na região do planalto serrano catarinense. A primeira (Urubici) recheada de belezas naturais e aventuras, a segunda (São Joaquim) de importantes vinícolas, produtoras dos renomados “vinhos de altitude” muito elogiados e indicados por enólogos, sommeliers e, claro, por nós, os enófilos. Procure conhecer a Rota Vinhos de Altitude Santa Catarina... Fomos e recomendamos a Villa Francione, (reserve uma visitação antes)... embora em São Joaquim localizam-se 14 das 20 vinícolas da Rota Vinhos de Altitude e nem todas exigem a reserva... Vá por nós, reserve ao menos dois dias em cada cidade. Neste post vamos abordar apenas os principais pontos turísticos de Urubici, pois São Joaquim, como mencionamos, é mais voltado à vinicultura... Vamos ao que interessa: Sem ser pejorativo, quem olha a cidade de Urubici não percebe ou acredita o quanto ela pode surpreender com suas magníficas obras da natureza. Mas antes de qualquer coisa, passe no SESC de Urubici onde tem um ponto de Informações Turísticas e você poderá esclarecer dúvidas e retirar gratuitamente um mapa turístico da região. Morro da Igreja e Pedra Furada: Um de seus principais pontos turísticos é a Pedra Furada no Morro da Igreja. No inverno o local fica extremamente frio e por que não dizer congelante. A temperatura é muito baixa e a sensação térmica é cortante, mas nada que um bom e gostoso chocolate quente ou um bom vinho não aumente a temperatura de seu corpo e aguce seus pensamentos... O local fica a 29 Km do Centro da cidade e a 1.822 MSNM. Atenção: Para entrar no Sindact II (base da aeronáutica que controla o espaço aéreo de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul), de onde se pode avistar a Pedra Furada, deve-se, “antes”, passar no ICMBio (atrás do banco do Brasil), no Centro de Urubici, para validar "gratuitamente" a autorização de acesso. Você também poderá requerer a autorização por telefone ((49) 3278-4994) ou por e-mail (agendamentoparque@hotmail.com). Se você for em alta temporada (inverno/férias julho) é bom saber que, no ICMBio, dependendo do movimento, poderá obter a autorização apenas pro dia seguinte, pois é limitado a 200 carros/dia. Mesmo assim você estará sujeito a enfrentar fila, pois, por conta do estacionamento, é autorizado a permanência simultânea de apenas 20 carros no local, ou seja, a partir deste número você vai ter que esperar um carro sair para poder entrar... logo, se chegar cedo, terá grandes chances de não enfrentar fila. Mas relaxe, pois, as 200 permissões/carro de acesso são distribuídas ao longo do dia e claro isto só ocorrerá em altas temporadas como férias de julho, por exemplo... A vista do local vale qualquer esforço. Ao chegar no cume da montanha você vai ficar extasiado com tanta beleza natural. Montanhas a perder de vista, sem contar a personagem principal e motivo do seu deslocamento, ou seja, a Pedra Furada ou janela da vida... Dicas: 1 – Retire a autorização no ICMBio (local, telefone ou internet); 2 – Coloque água no seu carro, afinal são 1.882 MSNM; 3 – Muito cuidado, pois tem vários trechos com gelo na pista o que a torna extremamente escorregadia e perigosa; 3 – Leve roupa de frio e máquina fotográfica; 4 - Fácil acesso, inclusive a cadeirantes. Cascata Véu de Noiva: Antes ou depois de conhecer a Pedra Furada, você poderá conhecer a Cachoeira Véu de Noiva. Não há queda d`água, mas a água desliza pelos 62 metros de altura de uma rocha gigantesca, assemelhando-se, como propõe o próprio nome, a um véu de noiva quando na sua plenitude, ou seja, quando há bastante vazão de água. O desvio até o local leva apenas 5 minutos e fica a caminho da Pedra Furada. No local há pousada e restaurante. O custo é de R$ 5,00 por pessoa. Este é um passeio casado, ou seja, não dá pra conhecer a Pedra Furada sem conhecer a Cascata Véu de Noiva e vice-versa. Local de fácil acesso podendo chegar de carro a 100 metros da cascata e o caminho é muito tranquilo com calçada de concreto, ou seja, podendo ser acessado também por deficientes físicos. Dicas: 1 – Leve câmera fotográfica; 2 - Leve dinheiro; 3 - Fácil acesso, inclusive a cadeirantes. Serra do Corvo Branco: Feito os dois passeios e de volta à SC370 pegue à direita e ande mais 20 ou 25 km para conhecer a serra do Corvo Branco. Mas prepara-se para a adrenalina, pois a serra não está asfaltada e o caminho é extremamente estreito... Dicas: 1 - Vá com calma e sem ingerir álcool; 2 - Leve máquina fotográfica. Cachoeira da Neve: Não chegamos a conhecer a Cachoeira da Neve, mas segundo relatos é uma das mais bonitas dentre as 80 existentes na região. Segue um pequeno relato neste link: https://www.tripadvisor.com.br/LocationPhotoDirectLink-g1632650-d7374697-i137081057-Arroio_do_Engenho-Urubici_State_of_Santa_Catarina.html Morro Campestre: Depois de conhecer a Pedra Furada, as Cachoeiras Véu de Noiva e da Neve e a Serra do Corvo Branco, procure relaxar um pouco e guarde fôlego pro dia seguinte. Afinal, como afirmamos no início deste post, Urubici oferece muitas opções naturais a serem exploradas pelos turistas. Afinal, se você estiver com pouco tempo e quiser aproveitar todas as atrações de Urubici num único dia, isto será impossível. E para relaxar, antes de jantar num dos vários bons restaurantes da cidade, vá, "no final do dia", ao Morro Campestre para vislumbrar um dos mais lindos pôr do sol que você certamente verá e guardará em sua memória... Local de fácil acesso, podendo chegar de carro bem próximo do cume. Mas atenção, nem sempre é possível chegar de carro próximo ao cume. Isto vai depender da ocasião (alta temporada é mais difícil) e do seu automóvel... De qualquer maneira você não perderá o pôr do sol, pois poderá deixar o carro e caminhar por aproximadamente 1.000 metros... Custo R$ 5,00/pessoa. De três coisas tenha certeza: Você vai revigorar as energias pro dia seguinte; Se estiver acompanhado, vai “causar” com a sua (seu) parceira (o); além de poder registrar belas fotos... Dicas: 1 – Não deixe pra ir quando o sol já estiver se pondo. Vá antes para garantir um lugar bacana e pra não ficar no meio do caminho quando o sol se pôr... Se isto acontecer não se desespere. Retorne no dia seguinte...; 2 – Leve roupa de frio e câmera fotográfica; 3 - Leve dinheiro trocado. PENSA QUE ACABOU? Cascata do Avencal: No segundo dia (mais relaxado) não deixe de conhecer a Cascata do Avencal e mexer um pouco com a sua adrenalina (sua e de quem estiver com você). É que além da beleza natural e mágica do local, você poderá fazer uma tirolesa sobre a cascata (R$35,00). Acredite é incrível! A cascata do Avencal, com 100 metros de queda livre, é frequentada por praticantes de rapel. O nome deriva da avenca, vegetação comum na região. É possível chegar de carro à parte de cima da cachoeira e a pé à parte de baixo, mas é preciso ter calçados apropriados e tomar cuidado com as pedras escorregadias. Fica no Morro do Avencal, próximo às inscrições rupestres, na saída de Urubici para quem vai a São Joaquim. Dicas: 1 – Leve dinheiro (R$ 10,00 por pessoa) um absurdo! 2 - Faça a tirolesa (R$ 35,00); 3 – Leve máquina fotográfica; 4 - Fácil acesso, inclusive a cadeirantes. Caverna Rio dos Bugres: Também não fomos, mas segundo consta é um antigo abrigo de índios. Para chegar no local será necessário enfrentar 11 km de estrada estreita de terra batida. Um rio é presença constante no cenário. Nos últimos 300 metros antes de chegar à caverna, a trilha piora e o melhor é deixar o carro e seguir a pé. Dicas: 1 – Levar lanterna para apreciar o interior da caverna; 2 – Aberto de segunda a domingo com atendimento 24 horas; 3 – Leve dinheiro trocado (R$ 3,00 por pessoa); 4 – E-mail: pousadariodosbugres@hotmail.com / Telefone: 49 9128 2937 ou 49 8409 8257. Outras dicas sobre Urubici e região: Baixe o aplicativo Guia SerraSC no seu celular e desfrute de muitas dicas como passeios, mapas, hotéis, restaurantes/cafés, etc. Se quiser economizar almoce e jante no SESC, embora Urubici tem opções gastronômicas para todos os gostos e bolsos... No SESC o almoço fica por R$ 17,00 o Kg para comerciários e R$ 38,00 para público em geral. A janta é a la carte. A Igreja Matriz "Nossa Senhora mãe dos Homens", localizada no final da avenida que corta a cidade é muito bonita. Não espere ver no inverno fazendas de videiras e macieiras verdinhas com frutos brilhantes e suculentos prontos para a colheita. No inverno tanto as parreiras de uvas como os pés de maçãs ficam sem folhas, flores ou frutos. Expõem seus caules retorcidos e acinzentados, lembrando (em especial as macieiras) aqueles bosques assombrados de filmes de terror... Mas não pense que isto diminuirá o brilho da cidade ou de sua viagem. Não, isto não acontecerá. Afinal, se as árvores estão secas tenha certeza que a colheita foi feita e você poderá desfrutas de uma bela torta de maçã ou um bom vinho em dos bons restaurantes da cidade. A viagem não poderia ser melhor, afinal na companhia de minha esposa não poderia ser diferente. Esperamos que estas dicas os ajudem a se organizarem quando estiverem indo a Urubici. Ronei Amandio e Janaina Telles – São José/SC
  15. TRAVESSIA MORRO DA IGREJA – CÂNION LARANJEIRAS (URUBICI A BOM JARDIM DA SERRA – SC) Ou “Expedição Era do Gelo” Passo a relatar a seguir uma travessia que mobilizou montanhistas dos três estados do Sul do Brasil em prol de um objetivo comum: a consolidação do Parque Nacional de São Joaquim e a consagração do direito de acesso às áreas de conservação federais sob gestão do ICMBio. O relato é extenso e as fotos não estão todas publicadas aqui. Veja ao final os links para o material complementar. Travessia realizada entre os dias 07 e 10 de junho de 2012 (feriado de Corpus Christi), entre o Morro da Igreja e dois pontos distintos de saída – Cânion Laranjeiras e Serra do Rio do Rastro - realizada em conjunto pelo pessoal da AMC – Associação Montanhistas de Cristo (Getulio, Otávio Luiz, Serginho, Cirlene, Cover, Soraia, Thomas, Ingrid, Luís Delfrate e Zeca Reinert – todos do Paraná), Rodrigo Mioto e Fernando Faria (Santa Catarina), Marcelo Juká e Tiago Korb (Rio Grande do Sul). ANTECEDENTES E PLANEJAMENTO: A ideia de fazer uma travessia pelos platôs da Serra Geral, seguindo as escarpas entre o Morro da Igreja e a Serra do Rio do Rastro, nos municípios catarinenses de Urubici e Bom Jardim da Serra, já povoava o meu imaginário há alguns anos, fruto do meu encantamento com as belezas daquela região, descortinadas em algumas viagens e incursões rápidas, seja rodando de jipe, caminhando ou cavalgando por aquelas bandas. Tal intento foi reavivado ao “viajar” algumas vezes pelo Google Earth na região, pois com o meu “retorno” ao montanhismo e ao trekking em 2010 comecei a estudar as possibilidades de pernadas mais sérias na área, estimulado ainda mais pelas fotos de alguns trekkings na região, postadas por usuários do Site Panorâmio, que fornece as imagens georreferenciadas visualizadas no Google Earth. Pouco tempo depois me deparei com uma discussão aqui no Mochileiros.com sobre o Parque Nacional de São Joaquim, onde se debatia justamente a existência “real” do Parque e a obrigatoriedade de contratar condutores credenciados para poder trilhar na sua área de abrangência (veja AQUI o tópico). Ali a discussão ganhou corpo e me levou, junto com outros usuários do Fórum (em especial o companheiro Mioto), a travar contato com o Chefe daquela Unidade de Conservação administrada pelo ICMBio, o Sr. Michel Omena, com o qual estabelecemos um diálogo bastante profícuo no sentido de liberar o acesso de trekkers e montanhistas preparados na área sem a necessidade de contratar guias turísticos, mediante o preenchimento de alguns requisitos. Também passamos a conhecer melhor os esforços empreendidos para tirar o Parque “do papel” e conciliar os diversos interesses, muitas vezes conflitantes, sobre a área. Recebi dele por e-mail, em certa ocasião, farto material informativo sobre o histórico do Parque desde sua criação, desafios e problemas enfrentados em diversos momentos, bem como as iniciativas adotadas, dentro da estrutura e regras existentes, para viabilizar a consolidação do PARNA e a conservação da área. No seio das discussões naquele tópico (que se estenderam por meses), em jan/2012, falando sobre a elaboração do Plano de Manejo do PARNA e a situação da regulamentação das visitas, obtivemos do Mioto (que pouco antes conversara pessoalmente com o Chefe do Parque, em Urubici) a notícia de que em breve estaria sendo regulamentada a visitação e permanência por meio de uma Portaria, permitindo o acesso livre da necessidade de condutores (mediante o preenchimento de alguns requisitos) mesmo antes da conclusão do Plano de Manejo do PARNA. A notícia logo fez disparar o coração dos mochileiros que acompanhavam o tópico: a possibilidade de uma travessia (livre e autorizada) dentro do PARNA São Joaquim, proscrita desde 2009, era agora algo tangível! Graças à proatividade do Chefe do Parque, Sr. Michel Omena, provavelmente, ao menos em parte, sensibilizado pela nossa participação e pressão saudável nas discussões. Foi só o Mioto postar esta informação e logo as nossas cabeças irrequietas começaram a imaginar e traçar planos para “a travessia”, como datas possíveis, roteiros e logística. Desde o início o percurso-base estava definido na cabeça de todos = Morro da Igreja – Serra do Rio do Rastro, seguindo o máximo possível as bordas das escarpas da Serra Geral, uma das regiões mais belas de todo o Estado de Santa Catarina, seja pelos marcantes aspectos geográficos e geológicos envolvidos, seja pela rara beleza cênica presente. A data logo ficou definida para o feriado de Corpus Christi – entre os dias 07 e 10/06/2012, pelo entendimento de que seriam necessários 4 dias para a magnitude do projeto. Desde a sinalização favorável até a data de realização da travessia transcorreram mais de 4 meses de conversas, estudo e planejamento para que tudo ocorresse de forma tranquila e segura. A região que seria atravessada em nosso trekking, apesar de não apresentar elevada variação altimétrica ou grandes dificuldades técnicas, trazia alguns percalços que não poderiam ser menosprezados, como grandes áreas de charcos, trechos de mata fechada, a constante possibilidade de nevoeiros densos capazes de impedir a navegação visual (a famosa “viração”) além do mais temido deles: o frio, constantemente abaixo de zero nos meses de outono/inverno, pois se trata da região mais fria de todo Brasil e onde quase todos os anos temos a presença de neve! Definidos o trajeto-base e a data, passamos a nos debruçar sobre as cartas topográficas e as imagens de satélite da região estudando as peculiaridades do terreno para definir o traçado de uma rota viável diante da topografia dos morros, campos e platôs que povoavam nosso percurso. Foi um trabalho notável pela precisão (como se notará no desenrolar do relato), em grande parte realizado pelo amigo Otávio Luiz, que após alguns esboços desenhou a rota principal pelo Google Earth tendo em conta a topografia e vegetação, além de marcações importantes, como pontos de abastecimento de água. Nesta fase também colaborou o companheiro Mioto, que traçou caminhos alternativos e detalhamentos da rota separados em trechos. A mim coube basicamente os primeiros esboços, a revisão e algum detalhamento sobre os traçados do Otávio, a marcação de pontos de referência no terreno, como cumes e fazendas bem como a criação de possíveis rotas de fuga por estradas da região. Tudo isso tinha um único objetivo: produzir material de navegação abrangente e completo. Primeiro, para conhecer previamente o terreno, da melhor forma possível e, em segundo, levar nos nossos aparelhos de GPS tudo gravado para o caso de ser necessário navegar sem visual – situação muito comum na região por conta da viração, fenômeno metereológico caracterizado basicamente por denso nevoeiro que se forma rapidamente, encobrindo vastas extensões de terreno e que limita sobremaneira o alcance visual. Não poderíamos nos dar ao “luxo” de sequer correr o risco de nos perder. Estaríamos fazendo uma “reinauguração” de travessia dentro de um Parque Nacional, uma espécie de “piloto” e não queríamos de forma alguma comprometer o trabalho de convencimento até aqui arduamente realizado junto à Administração do PARNA. Como eu havia lido vários relatos sobre travessias anteriores na área que pretendíamos cruzar e em várias delas haviam referências a dificuldades (algumas inesperadas), além das cartas e imagens de satélite resolvi estudar com mais cuidado as imagens de outros trekkers que andaram pela região. Neste processo me deparei várias vezes com imagens muito nítidas e esclarecedoras de aspectos importantes da vegetação e relevo local, que me chamaram a atenção e bastante nos ajudaram. Entre esses fotógrafos que trilharam antes pela região destacavam-se nomes como: Valdo Balbinot, Ênio Frassetto e Ademir Sgrott ... Todos profundos conhecedores da região. Diante disso resolvi buscar deles alguma informação que considerassem importante, algum aspecto que poderia ter passado desapercebido e mesmo a solução de algumas dúvidas que nos acometiam nas diversas horas que passamos analisando as imagens de satélite e as cartas topográficas da região (como se sabe as IS nem sempre são de boa qualidade e via de regra as cartas estão desatualizadas). Como a internet aproxima as pessoas! Disparei alguns e-mails e, “voi-lá”!, logo tinha alguns “pareceres” sobre a região, desde a topografia, vegetação e condições do terreno até dicas sobre autorizações de passagem pelas fazendas na região do PARNA (nem todas desapropriadas como deveria ter ocorrido, pois o Parque ainda não está totalmente regular sob o aspecto fundiário). Destaco aqui a grande quantidade de fotos e informações repassadas pelo hoje amigo Valdo Balbinot, de Porto Alegre, que me enviou um verdadeiro dossiê sobre os Aparados da Serra e nos forneceu dicas valiosas para o percurso. Ao amigo os nossos mais sinceros agradecimentos mais uma vez! Com o roteiro pronto, munidos de mapas, nossas tracklogs e informações mais do que suficientes sobre todos os pormenores do nosso percurso a ansiedade aumentava à medida em que a data se aproximava. Havia sobretudo o fantasma das condições metereológicas – sempre determinantes neste tipo de atividade, e sobre o qual não podíamos intervir... Mas haviam ainda alguns pontos não definidos que precisávamos enfrentar. Um era a logística, do qual em parte dependia também a definição final do grupo. Outro era a própria autorização “oficial” do Parque Nacional, sobre a qual ainda pairavam algumas dúvidas. Cada qual a seu tempo... Enfrentamos primeiro a questão logística. Em nossa opinião, a melhor solução desde o início passou pela locação de uma van dadas as dificuldades práticas de utilizar o transporte regular de ônibus (horários péssimos + necessidade de baldeações = perda excessiva de tempo). Descartamos também ir de carro, tanto pelo cansaço que causariam aos trekkers-motoristas (seriam afinal 480 Km de deslocamento para quem partia de Curitiba) quanto pela pequena capacidade de transporte e necessidade de posterior resgate dos mesmos. Com a escolha da van, vinha o segundo ponto, bem desgastante, que era a definição final do grupo que faria a travessia. Desgastante pois quando se fala em “Serra Geral” e fazer uma travessia pelo PARNA São Joaquim, quem é do Sul sabe que se trata de um momento raro, especial mesmo, pelas belezas daquelas paragens... E é aí que o “bicho pega”, pois o número de interessados cresce absurdamente! Facilmente lotaríamos uns 3 ônibus de pessoas dispostas a encarar o frio extremo da região para ter esta oportunidade, mas como isso não é possível, vamos administrando os pedidos de diversos amigos que nos procuram sabendo “por alguém” que projetávamos um trekking de tal magnitude para o feriadão. Com um limite de 15 pessoas estabelecido (lotação máxima da van) e alguns nomes “hors concours” em razão da sua participação, desde o início, na discussão sobre o PARNA São Joaquim, praticamente não 'sobravam' vagas. Foi nesta fase que dissemos muitos “não” e, nos perdoem os companheiros que ficaram de fora, não se tratou em momento algum de favorecer ou excluir ninguém, o critério foi bem objetivo – saibam disso. Desde o início este projeto nasceu para ser limitado em número de integrantes, especialmente em vista da necessidade de autorização do PARNA, das regras de mínimo impacto em ambientes naturais e da própria segurança do grupo, além das dificuldades logísticas inerentes. Com um grupo “grande” e a logística definida faltava o último dos fatores importantes do projeto que de alguma forma dependiam de nossa atuação: a autorização formal da administração do Parque Nacional de São Joaquim. “Como assim?!” Podem perguntar alguns, por dois motivos/posições: 1)- Já não estava concedida a autorização? Como vocês montam toda a estrutura para a travessia sem saber se terão a autorização? e 2)- Para quê autorização? Façam na “raça”, “por baixo dos panos” ora!!! Primeiramente, o caso é que já tínhamos fortes indicativos de que a autorização seria concedida. A nossa apreensão, no final, recaía sobre o tamanho do grupo, algo maior do que o usualmente recomendado para este tipo de atividade, especialmente em um Parque Nacional, o que acabou não sendo problema. Na semana anterior, com as previsões climáticas desenhando um cenário de frio extremo e até possibilidade de neve na região para o feriado, ficamos apreensivos sobre a possibilidade da administração do parque, justificadamente, desautorizar a travessia. Era um risco palpável, concreto, devido ao agravamento das condições metereológicas. Houve até notícia de graxaim encontrado congelado "em pé" na região... Imaginem! Em segundo lugar, fazíamos questão, desde o início, de solicitar e ver concedida a autorização formal do PARNA São Joaquim como forma de quebrar o paradigma e “pressionar” legitimamente a administração do parque sobre os interesses dos trekkers e montanhistas na área, assim como para valorizar a atuação dos profissionais que o administram, criando antecedentes para manter as “porteiras abertas”, como se diz na gíria aqui do Sul. Nosso interesse sempre foi e continua sendo pelo diálogo com as autoridades ambientais, ainda que discordemos de alguns pontos e soluções de gestão adotadas para as UC's. Respeitamos para sermos respeitados – essa é a nossa regra. Não é pela afronta ou desrespeito que conquistaremos algum direito, mas pela argumentação e participação efetiva nos fóruns institucionais adequados às discussões que originam os planos de manejo, que em regra tornam-se a “lei” de cada unidade de conservação. Inclusive fica a convocação para que as entidades ligadas ao montanhismo em Santa Catarina (alô FEMESC!) envolvam-se e participem dessa e de outras discussões em torno das UC's naquele estado. E a autorização? Saiu, claro! Mas apenas poucos dias antes da data marcada para o início da expedição recebemos o e-mail do Sr. Michel Omena que chancelava a nossa autorização (ufa!). Tudo pronto enfim. PRIMEIRO DIA: Em síntese, saímos de Curitiba 22:30h abaixo de chuva na quarta-feira, 06/06, véspera de feriado, com destino a São José e depois Santo Amaro da Imperatriz (SC), onde embarcariam nossos 2 colegas de Santa Catarina, Mioto e Fernando. Rodando durante a madrugada conseguimos dar umas cochiladas no caminho e chegamos cedo a Urubici, cerca de 5:30h. Reinava um frio “daqueles” de “renguear pingüim”. Como ainda era muito cedo e precisávamos aguardar para pegar nosso “salvo conduto” na sede do ICMBio e depois tomar nosso café da manhã, tiramos mais uma soneca na van estacionados em frente ao prédio do órgão ambiental, aguardando o tempo passar. Às 7h, já de posse da carta de autorização, encontramos os 2 companheiros gaúchos que gentilmente ficaram acampados no gramado da casa do Zé Marcos, guia turístico e dono da agência Serra Sul. Ao lado da agência tomamos um delicioso e reforçado café da manhã na padaria Beckhauser, agendado por telefone com a proprietária no dia anterior, que se dispôs a abrir seu estabelecimento mais cedo do que de costume para nos atender. Em seguida tocamos para o Morro da Igreja, cujo acesso agora é inteiramente asfaltado desde a cidade com a conclusão das obras na SC-439. Na estrada que sobe o Morro da Igreja um grande movimento de veículos, especialmente no trecho final, em frente à base militar. Muitos carros e desorganização dos motoristas congestionando a estradinha estreita, já que a manhã fria e sem uma única nuvem sequer no céu descortinava plenamente todas as paisagens que a vista alcança de lá, atraindo muuuiiita gente ao mirante em frente à base. Ainda assim conseguimos ver por segundos um graxaim correndo no campo ao lado do portão da base militar. A visão ali era um misto de beleza e terror, e já dava indícios do que encontraríamos pela frente nos próximos dias. Beleza em razão do maravilhoso cenário que já se vislumbra dali. O terror era por conta do caótico congestionamento de pessoas e veículos que se apinhavam em tão curto espaço físico. Este seria passageiro, enquanto aquela foi perene durante toda nossa jornada. Ali topamos também com os primeiros sinais de gelo, outra coisa que nos acompanharia praticamente todos os dias na travessia e era abundantemente visível no entorno do mirante, acumulando-se nas pequenas poças nas beiradas da pista e nas lajes de pedra próximas, gelo com cerca de 2 cm de espessura!!! Muito vento e um frio intenso também se faziam presentes e incomodavam um pouco. Já se passava de 8:30h quando chegamos no mirante. Tiramos algumas fotos e manobramos com alguma dificuldade a van (contamos com a ajuda dos militares da FAB, que gentilmente abriram para nós os portões da base permitindo-nos manobrar a van com a carreta de bagagem, pois a estradinha ali na frente estava impossível)... Um tenente da FAB com o qual conversei rapidamente, todo encapotado, ficou abismado quando soube que iríamos atravessar os campos do outro lado e dormir em barracas naquele frio, especialmente com as previsões aterradoras para o feriado... Rsrsrs. Abandonamos a muvuca do mirante em frente à base e descemos a estradinha, retornando rumo a Urubici por uns 3 Km até o portão que dá acesso ao “morro da antena”, ponto inicial da nossa jornada. Enquanto descarregávamos nossas mochilas alguns carros com turistas pararam para nos perguntar o que iríamos fazer... Todos se assustavam quando contávamos! Rsrs. Descarregadas as mochilas, calçadas as botas e acertados os últimos detalhes com o motorista da van, jogamos as pesadas mochilas cargueiras nas costas e iniciamos a jornada propriamente dita. Um a um os companheiros atravessaram o portão metálico e seguiam morro acima pela precária estradinha de manutenção da instalação no topo, que aparenta ser uma repetidora de rádio. Já passava das 10h da manhã, sol alto no céu e, mesmo assim, onde havia alguma sombra nas beiradas da pequena estradinha, gelo aparecia em abundância, formando até estalactites de água congelada nos pequenos barrancos. Rapidamente atingimos o topo do morro da antena e dali tiramos algumas fotos aproveitando o visual alucinante já no início da caminhada. Ali, Mioto, Fernando e Tiago Korb tomaram a dianteira seguidos pelo Zeca, sob o pretexto de adiantar a caminhada, pois combinaram de levar um termômetro de max/mín que seria deixado na antiga Fazenda Caiambora de onde seria resgatado no outro dia pelo Sérgio Sachet Jr.(Graxaim), guia da região que acompanharia outra expedição na região (veja o relato deles AQUI). Logo descemos todos a crista, transpondo uma cerca de arame farpado, a primeira de muitas ao longo da travessia. Rapidamente cortamos pelo campo seguindo uma trilha batida, entrando na mata, mais abaixo. Em pouco mais de 40min atingimos o fundo do vale, atravessando um pequeno charco, uma matinha nebular e logo depois o famoso Rio Pelotas, ainda pequeno próximo das suas nascentes. Nosso objetivo imediato a partir dali era um grande platô gramado, visível por quem olha do Morro da Igreja e cuja vista privilegiada da Serra Furada queríamos usufruir. Para nosso azar, entretanto, logo que subíamos uma elevação que antecede esse platô a viração começa a cobrir toda a borda do platô e fecha todo o visual para o lado do MI e Pedra Furada. O grupo pára para descansar e lanchar. Um pequeno destacamento do grupo larga as cargueiras e sobe o morrote à frente confirmando a ausência completa de visual só na área do platô, especialmente na linha de borda, pois ao redor o céu encontra-se completamente límpo. Dali enxergamos mais abaixo o quarteto que se desgarrara hora antes voltando do platô a passos largos. Ficamos alguns minutos no topo do morrinho, lanchamos e respiramos para repor o fôlego gasto na subida... Arriscamos algumas investidas próximas, subindo uma elevação rochosa ao sul e depois a borda mais próxima do platô. A viração só aumentava e, estranhamente, se mantinha apenas sobre o platô e as elevações próximas da borda. Retornamos para vale anterior, onde deixamos as cargueiras e o restante do grupo estacionara para descansar e almoçar. Quando chegamos encontramos o Zeca que acompanhara um tempo o trio Tiago Korb, Mioto e Fernando. Estes já haviam novamente deixado o grupo e se adiantaram bastante, sem levar rádio para comunicação e sem maiores “combinações”. Como a viração aumentando e sem visual das bordas, decidimos seguir dali o rumo originalmente traçado, um pouco afastado das bordas das escarpas, acompanhando “por cima” o vale do Rio Pelotas, seguindo as curvas de nível das elevações que o limitam pelo leste. Andamos por cerca de 2h quase ininterruptamente e, de uma elevação, avistamos ao longe, no fundo do vale, as ruínas da Fazenda Caiambora (abandonada), marcada por característicos muros de taipa (pedras), nas margens do Rio Pelotas. Nada do “trio ligeiro” como passaremos a nos referir aos 3 caminhantes “desgarrados”. Pensamos que eles iriam nos reencontrar naquelas imediações tendo em vista a instalação do tal termômetro na sede da antiga fazenda, mas não foi o que aconteceu pois nem sinal vimos dos três mesmo perscrutando o horizonte com o binóculo. Daquele ponto em diante ficamos cientes de que os três agiriam por conta própria e de forma independente, o que nos chateou um pouco. Fazer o quê?... Eram trekkers experientes e bem equipados, que seguissem seu caminho. Azar! Pensamos. Perderiam a maravilhosa polenta da janta. Rsrs! Tocamos em frente. O frio da tarde já se fazia sentir, uma vez que o sol já baixava no horizonte e o vento em alguns pontos incomodava bastante, obrigando a sacar agasalhos das mochilas. A região deste início de curso do Pelotas, também conhecida como 'Campos de Santa Bárbara' é muito aprazível, com uma paisagem dominada por campos limpos e ondulados, entrecortados por variada sucessão de morros e vales, emoldurado por um maciço de elevações cobertas de mata que se erguem a oeste-noroeste. Elevando-se no horizonte atrás de nós vislumbrávamos o Morro da Igreja e seus indefectíveis domos de radar e antenas de comunicação. Nossa rota de caminhada evoluía invariavelmente contornando pequenas elevações e atravessando um ou outro pequeno vale que surgia transversalmente ao vale principal do Pelotas. Com o sol descendo no horizonte, o pouco tempo de luz nos requeria buscar um local adequado para acamparmos. Nessa altura do dia nosso grupo se estendia por uns 500 metros, formado por vários pequenos destacamentos, cada um caminhando no seu ritmo mas sempre ligados uns aos aos outros, seja por contato visual seja por rádio (levamos 3 pares dos versáteis “Talk About” Motorola, de 1,5W, que deram conta do recado durante os 4 dias de travessia com apenas 2 jogos de baterias). Logo nossa vanguarda informava ter encontrado um local ideal: um pequeno platô limpo cercado por um muro de pedra e vegetação mais densa, que nos dava boa proteção contra o vento. Ali, naquele resquício do que fora uma antiga mangueira da fazenda de gado, armamos nossas barracas. Logo que o sol se pôs, cerca de 17:30h, o frio já se tornara intenso e nos obrigava a andar totalmente encobertos pelas vestimentas de frio. Cristais de gelo começavam a se formar sobre as barracas e tudo o que estivesse exposto ao tempo. Apesar da ausência quase absoluta de vento o frio fora das barracas era tremendo. Cozinhamos a nossa janta comunitária sobre uma pequena laje de pedra onde montamos os fogareiros e preparamos alguns tira-gostos para amainar a fome enquanto tomávamos um mate e preparávamos o prato principal: uma deliciosa polenta campeira. Tudo regado com sucos e alguns goles de graspa e cachaça que levamos apenas para "esquentar". Mesmo com o frio que aumentava a cada minuto, jantamos e ainda ficamos "proseando" por mais de uma hora em volta dos fogareiros. Nos encasulamos cedo em nossos sacos de dormir e, uma vez aquecidos, dormimos maravilhosamente. Praticamente não sentimos o frio de -11/-10°C que nossos dois termômetros “tabajaras” registraram fora das barracas quando delas saímos às 7:30h. As barracas e tudo em volta estava coberto pelo manto branco da forte geada que assolou a madrugada. De longe, em alguns lugares no campo mais baixo parecia até que havia nevado, de tão branco que estava. As garrafas de água deixadas fora das barracas amanheceram completamente congeladas. Botas e meias, úmidas de suor do dia anterior deixadas no avanço das barracas amanheceram endurecidas. Duas poças grandes de água próximas do acampamento pareciam feitas de vidro e congelaram completamente, a ponto de se ter dificuldade para quebrar o gelo, de tão espesso. O ar matinal, gélido, fazia doer até os ossos. O jeito era manter por baixo das roupas de caminhada as peças de segunda pele com as quais dormimos. Acima de nós um céu azul profundo, limpíssimo. Nem sequer sinal de nuvens ou viração até onde a vista alcançava. De um lado o sol, tímido, elevando-se lentamente sobre a encosta à nossa frente. De outro lado, acima do vale, um disco branco contrastava o azul dominante: a lua, ainda alta, dividia com o sol o espaço do firmamento. Alguns voltaram para as barracas e esticaram um pouco o sono, outros tiravam fotos e procuravam se mexer para espantar o frio, agilizando um café quente nos fogareiros, nos quais crepitavam panelas cheias de água postas a ferver para o preparo da refeição matinal e lavagem das panelas usadas na noite anterior. Logo, com a algazarra, todos se reúnem em volta dos fogareiros onde se prepara um desjejum reforçado, como ovos mexidos, pão sírio com queijo provolone defumado e salame, entre outros. Terminada a refeição, passa a reinar a faina acelerada de ajeitar toda a tralha de acampamento e montar novamente as mochilas para o segundo dia de caminhada... SEGUNDO DIA: O sol já estava alto e todos apressados em finalizar as mochilas após a primeira noite acampados. O “tempo ruge” dizia o Otávio, e todos compenetrados em socar roupas e equipamentos nas pesadas cargueiras, que a despeito de toda a comilança da noite anterior pareciam ainda mais volumosas e pesadas que antes. Uma olhada rápida pela área de acampamento e facilmente o confundiríamos com uma área atingida por um tornado, tamanha era a bagunça. Todos haviam aproveitado os muros da mangueira de pedra e os galhos das árvores próximas para pendurar calçados e roupas úmidas ou enregeladas pela forte geada da madrugada, aguardando que os raios do sol matinal as descongelasse ou secasse. As botas, em especial, endurecidas e geladas, eram deixadas por último para serem calçadas, na vã esperança de que estivessem menos desconfortáveis após pouco mais de uma hora no sol, tempo insuficiente para a tarefa do degelo. Logo, um a um, todos apresentam-se prontos para partir. Já eram 10h da manhã e estávamos bem atrasados em relação ao cronograma planejado inicialmente de começar a caminhar por volta das 9h. O plano era continuar subindo a lateral esquerda do vale à nossa frente, onde corria um afluente do Rio Pelotas, para em um ponto mais alto atravessá-lo em um ponto mais favorável. Vislumbrávamos bem no alto (a leste) uma passagem mais fácil e traçamos um rumo para atingi-la. Assim fomos. Passados alguns charcos e um riachinho menor, acompanhando as curvas de nível por pouco menos de 1 km do ponto de acampamento fizemos a transposição do rio no trecho previsto, atravessando a mata ciliar e o leito de pedras, onde o rio era mais estreito e o vale menos profundo. Novamente alguns se abasteceram de água e se refrescaram, já que o calor do sol somado ao esforço da caminhada com as cargueiras já começava a se fazer sentir. Galgávamos agora as encostas de um outro morro maior, acompanhando as curvas de nível em direção a uma nova linha de morrotes rumo sudeste. À nossa frente agora tínhamos uma longa linha reta de uma cerca de arame farpado que apontava para o céu e parecia não ter mais fim, numa enorme rampa. Vencemos a sucessão de elevações e rampas descampadas e, algumas centenas de metros acima atingimos uma dobra no terreno para, logo acima, divisar uma cachoeira no mesmo riacho que vínhamos seguindo e que delimitava a área de um imenso platô que se estendia a leste e a nordeste, atingindo novamente as bordas da serra. Logo depois de passar pela cachoeira o terreno à nossa virou um enorme brejo. Tentamos desviar alguns dos charcos mas caíamos em outros, tanto de um lado como de outro da cerca, cuja linha de palanques resolvemos acompanhar novamente por se assentar sobre terreno mais firme do que o restante à sua volta, dando certo sentido àquela famosa troça “firme que nem palanque em banhado”. Rsrs! Buscávamos agora a borda da serra, acompanhando a lateral de um morrote, rente à tal cerca infinita, que neste trecho se elevava acima do nível do campo, o que nos dava algum terreno firme para caminhar, além da visão mais privilegiada, do alto. Logo vão surgindo, deslumbrantes, novas visões da travessia: ao Norte as pontas da Serra Furada e, logo ali, a nossos pés, as escarpas da Serra Geral. Não há dúvida que largamos as cargueiras e fizemos uma parada para apreciar as vistas privilegiadas da borda, tanto dos campos ao norte quanto da serra abaixo, fotografando as belezas da área. Passados os momentos de euforia e contemplação, 1h depois nos reagrupamos e voltamos à realidade da caminhada. Começamos a subir frontalmente a elevação que vínhamos contornando junto à cerca, agora com destino aos imponentes platôs mais acima, cercados por paredões de rocha, que nos anunciavam visões ainda mais majestosas do que as divisadas há pouco. Para isso, além do aclive, vencemos um trechinho curto de mata e uma cerca. No alto resolvemos almoçar (pretexto para uma outra pausa de contemplação e descanso). Dali a vista de 360º mostrava, além do Morro da Igreja e Serra Furada, os paredões imediatamente anteriores, a imensidão dos campos “interiores” e boa parte dos platôs e elevações que se sucediam em direção ao Sul, nosso caminho dali para frente, permitindo mesmo vislumbrar parte do Cânion Laranjeiras, mais ao longe. Daquele ponto confirmamos também visualmente a nossa rota para a tarde daquele dia, que seguindo nossa expectativa (traçada antes no GPS e cartas) deveria nos levar por uma longa descida, nos afastando um pouco da borda da serra para contornar alguns obstáculos como morros cobertos de mata e escarpas acidentadas. Devem-se destacar aqui também as belezas dos campos interiores: diversas áreas de mata nativa repletas de araucárias e muitos afloramentos rochosos. Alimentados e bem descansados, muitas fotos depois, ajeitam-se as mochilas novamente e “pernas-prá-que-te-quero”! Já são 14:15h e lá estamos novamente em movimento seguindo para o sul. Após quase 2 horas de pernada pelos campos, contornando algumas elevações e matas nos deparamos com o que visualmente seria um grande vara-mato. Após algumas explorações do nosso “batedor” oficial, o companheiro Zeca Reinert, que em vários momentos da travessia despontaria com o rádio para desbravar os trechos de mata à nossa frente, logo descobrimos que a transposição da mata era bem mais tranquila do que imaginávamos. Ao final dela saímos num enorme descampado plano com vários trechos de charco, o qual vencemos ilesos (pés secos) para sair em outra descida de vale e outro trecho aparentemente complicado de vara-mato. Breve parada para elocubrações e novamente nosso batedor oficial se embrenha na mata para verificar o caminho. O grupo aproveita a pausa para descanso e reidratação enquanto a equipe de navegação se debruça sobre a carta e o mapa no GPS para estudar as alternativas de caminho. Não tem jeito, é por aqui mesmo, concluímos... Logo isso se confirma pelo rádio. Zeca, o desbravador, informa que o mato pode ser contornado lá embaixo. Tocamos a descer a encosta. Chegando na borda da mata, damos de cara com uma área de erosão onde a água de chuvas torrenciais escavou o terreno em obediência à Lei da Gravidade, buscando o fundo do vale e seu riacho, depois da mata. Varamos por uma cerca de arame já meio caída e, seguindo a erosão, contornamos uma ponta de mata chegando a uma ampla área de banhado. Ali, na borda da mata, nas sombras “eternas”, vários pontos de gelo depositado pela forte geada da madrugada anterior ainda eram visíveis. Mantos de gelo e poças congeladas em plenas 16:30h da tarde... Irrompemos com cuidado pelo trecho de banhado chegando no riachinho. Abastecemos de água já pensando no estoque para acampamento logo mais e seguimos, agora subindo a encosta do outro lado do pequeno vale, passando a acompanhar o zig-zag de uma trilha de gado que galgava as curvas de nível. Como a luz do dia já findava estávamos de olho em possíveis locais de acampamento. Com o pouco tempo de luz do sol, o vento frio de fim de tarde já nos castigava, obrigando a vestir os abrigos corta-vento. Subimos uma, duas encostas de morros gramados que se mostravam à nossa frente, e aos lados. Do alto de uma delas vislumbramos campos mais para o “interior” com algumas cabeças de gado reunidas. Dali vimos ainda um platô elevado mais adiante que nos parecia um bom local para acampamento. Resolvemos ir até lá e montar acampamento. O local não era protegido como na noite anterior, mas viável, tendo em vista que não havia muito tempo de luz natural e surgira uma viração que restringia muito a visibilidade. Nem pensamos muito e já fomos sacando as barracas das mochilas e buscando os melhores pontos no campo plano, cheio de pedras e de bosta de vaca. Pensávamos sempre em abrigar as entradas das barracas do vento sudoeste, de onde poderiam vir, segundo as previsões metereológicas, as rajadas de vento mais fortes. A noite caiu rápido e o frio extremo cobrava seu preço, mesmo sem vento - por sorte, o que aumentaria ainda mais a sensação de frio. Todos encapotados e enregelados, rapidamente aprontamos nossa cozinha, numa pequena laje de pedra onde empilhamos algumas pedras para servir de banquinhos. Barracas montadas e vestidos com as roupas mais grossas para o frio noturno, logo teve início o festival de gastronomia que sempre acompanha nossos acampamentos. Soraia prometia desde a noite anterior um “escondidinho de carne seca” e todos se aglutinavam em torno dos fogareiros procurando ajudar como possível a concretizar o cardápio. Uns ferviam água, outros serviam tira-gostos (calabresa frita, queijo provolone), todos beliscam e vários tomam mate (a pequena cuia do gaúcho Marcelo Juká rodou muito nessas noites) e as panelas de purê de batata semipronto, no fogo, começavam a ficar no ponto. Logo a carne seca desfiada da Vapza vai ao fogo para refogar com os temperos para ser misturada ao purê de batata... Huuuummmm!... O cheiro deixa todo mundo de água na boca! Logo uma fila de pratinhos se forma e começamos a servir a iguaria. Todos comem e se lambem. Realmente a receita estava muito boa, digna dos melhores restaurantes. Depois dizem que a gente passa mal nestes acampamentos! Rsrs! Só que o prato principal não era tão abundante e, sozinho, mesmo servido depois de alguns petiscos não foi suficiente para saciar os 11 caminhantes famintos. Todos voltam pros fogareiros em busca de algo mais para complementar o rango. Depois da janta, muita prosa, uns goles de cachaça e graspa para esquentar e mais algumas porções de calabresa frita para complementar o forra-bucho e o pessoal começou a ficar com sono (e frio!) e resolvemos ir para as barracas. Nessa noite fui para a barraca na primeira onda posto que estava bem cansado. Tomei meu “banho de gato” com lenços umedecidos para reduzir a inhaca e naquele frio de “renguear cusco” me troquei e me enfiei no saco de dormir. Mesmo com o frio absurdo logo estava aquecido devido aos contorcionismos necessários para me ajeitar no saco de dormir Deuter Orbit -5°C tamanho grande (L). Já havia comprado o tamanho maior (para pessoas com até 2m, segundo a tabela do fabricante) e mesmo assim sofria com o tamanho apertado do SD. Porcaria! Pensei, pelo menos ajuda a esquentar... Rsrs! Deve ser parte da tática do fabricante para esquentar o usuário... de raiva! Pensei, sarrista comigo mesmo. Ouvia ainda as vozes do povo na “cozinha” contando causos e rindo. Logo, com o calor do abrigo eu literalmente “empacoto”. Minutos depois (que pareceram horas), o meu companheiro de barraca, Otávio, se recolhe e acaba me acordando, o que faz parte da convivência numa barraca para 2 pessoas não muito espaçosa como a que dividíamos. Trocadas algumas palavras, novos contorcionismos para me ajeitar numa posição confortável novamente e lá vamos nós para os braços de morfeu. TERCEIRO DIA: Na penumbra do amanhecer, ainda sem os raios solares, do ponto alto em que estávamos não tínhamos visão clara dos campos abaixo de nós, mas ao nosso redor tudo estava congelado. Nova geada havia castigado os campos e nossas barracas amanheceram cobertas com uma fina camada de gelo, menor do que a acumulada no acampamento anterior por estarmos num local mais alto, mas assim mesmo experimentamos um frio respeitável. Obtivemos média de -8°C para 2 termômetros diferentes. Logo, com todos de pé, o acampamento agita-se. Ao norte, as silhuetas do Morro da Igreja e da Serra Furada são quase perfeitamente visíveis. O sol começa a despontar com seu disco dourado e flamejante no horizonte e começamos a perceber a extensão da geada nos campos mais abaixo: tudo branco até onde a vista alcançava. Logo todos correm para fotografar os primeiros momentos do sol e as suas luzes no horizonte. Momentos mágicos em que todos se empolgam e se emocionam com a beleza proporcionada pelo espetáculo do astro-rei. Muitas fotos e algumas “macaquices” depois, estamos tomando nosso desjejum, cada um à sua maneira: uns fritam ovos com bacon, outros comem frutas, alguns biscoitos, outros sanduíches com pão de forma. Eu esquento na frigideira um disco de pão sírio recoberto de fatias de salame e queijo provolone defumado com ervas, que derretido logo vira um pequeno rolo e é devorado rapidamente com uma canecada de cappuccino instantâneo reforçado com leite em pó e canela, uma delícia! Logo um segundo “sanduíche-charuto” desses vai para o fogo e também é devorado. Nestas atividades longas de caminhada, além de uma boa janta é muito importante um bom café da manhã para garantir bom ânimo e a energia necessária para as atividades do dia. Com o desjejum devidamente deglutido, as atenções passam a se voltar para as barracas molhadas com o degelo e todas as tralhas que precisam ser organizadas nas mochilas. Nova agitação. Tudo vai sendo desmontado, secado e dobrado ou enrolado para caber nas enormes mochilas. Rápida pausa para estudar o terreno adiante de nós e confrontá-lo com as cartas topográficas e GPS. Assim traçamos visualmente a rota para os próximos quilômetros de terreno visível, coincidindo com a previamente traçada em no Google Earth e gravada no GPS. Nossa navegação até aqui vinha sendo primorosa. Elevações, vales, vara-matos e rios, tudo vinha coincidindo com nossas marcações prévias e em grande parte isso foi fruto, além do trabalho de observação do Otávio no traçado da rota, da colaboração do amigo Valdo Balbinot, com suas fotos e dicas. Só o atraso devido ao baixo rendimento da pernada até aqui é nos preocupava. No primeiro dia ficamos quase 4 km aquém do que pretendíamos caminhar, o que em parte recuperamos no segundo dia, mas ainda estávamos com 6 km de atraso acumulado em relação ao previsto. Em parte isso foi fruto do cansaço que exigiu paradas mais longas de descanso (especialmente no primeiro dia, pois muitos não dormiram direito na van e isso prejudicou um pouco o rendimento). No segundo dia a culpa foi do atraso no levantamento do camping (iniciamos a jornada 10h) e depois o desfrute mais alongado das belezas proporcionadas pelo caminho. Iniciamos a jornada do dia às 9h, morro abaixo, para logo depois subir um conjunto de elevações e galgar uma crista de morros, de onde avistávamos muitas cabeças de gado e as instalações de uma fazenda a oeste. Ali chegamos novamente na borda dos Aparados e fizemos algumas fotos da área, seguindo a linha da escarpa por um trecho curto, visto que em frente teríamos que desviar uma elevação abrupta, com um imponente paredão de pedra. A subida pela linha da borda seria pouco proveitosa, pois havia muitas pedras e uma subida bem íngreme, por isso nosso traçado previa contorná-la seguindo a curva de nível. Da elevação imediatamente anterior já tínhamos vista quase completa para o Cânion Laranjeiras, antevendo a colossal formação geológica que logo alcançaríamos... Contornado o obstáculo, do outro lado a visão deste cânion era ainda mais bonita. Dali vislumbramos também as dificuldades que o dia nos reservava: vários trechos de vara-mato, alguns deles parecendo bem densos, como já prenunciavam as imagens de satélite. Continuamos a contornar o morro coalhado de pedras e descemos um pouco para seguir uma trilha batida, provavelmente de gado, buscando nos poupar da altimetria e dos pedregulhos, andando por terreno pouco mais plano. Eram 10:15h e o sol já nos castigava com o calor e a água estava escassa pois era o trecho mais longo sem água em todo o trajeto, visto que andamos praticamente todo o início da manhã pelo “alto”, apenas com nossas reservas do dia anterior. Como avistamos uma sanga para oeste, com boa aparência, a cerca de 700 metros de onde andávamos, resolvemos enviar alguns “voluntários” para coletar água para o grupo, que parava para descanso e lanche. Lá se foram Thomas, Zeca e Serginho com várias garrafas pet. Devidamente abastecidos do precioso líquido nos pusemos em marcha novamente, agora cruzando a vastidão de campos ondulados, num leve aclive que nos levaria novamente para as bordas. Logo, ao atingir a borda, sem poder continuar diretamente para o sul em razão da enorme fenda, desviamos rumo sudoeste, acompanhando as escarpas, agora descendo em direção a uma extensa cerca de pedra no fundo de um vale crivado de pedras, que mais pareciam plantadas no campo como se fossem parte de uma lavoura. Ali, sinais claros da criação de gado: cochos ao longe, cercas de arame e algumas cabeças de gado pastando pelas proximidades, além de muito, muito esterco. Cruzamos o vale e galgamos uma elevação mais pronunciada que nos levaria ao alto de uma crista. Ali uma nova visão esplendorosa do Laranjeiras, agora integral, nos surpreenderia. Como daquele ponto a visão era ampla e bonita e o terreno à frente exigiria alguma análise para traçar o percurso, fizemos uma pausa para descanso e fotos. Do alto, com amplo alcance visual, procuramos com o binóculo algum sinal do “trio ligeiro”, mas nada. Até aquele momento nenhum contato visual ou por telefone com eles. Pelos nossos cálculos eles deveriam estar umas 7 ou 8 horas à nossa frente. Como estávamos atrasados com relação ao cronograma planejado para atingir a Serra do Rio do Rastro e antevendo que no ritmo que estávamos mantendo não conseguiríamos concluir a travessia toda sem comprometer um mínimo de “qualidade” na exploração de nossa passagem pelo Cânion Laranjeiras – um dos pontos altos da expedição, confabulamos rapidamente e decidimos por concluir a travessia pela Fazenda Santa Cândida, ponto já previamente marcado como possível rota de fuga e onde facilmente a nossa van poderia nos recolher. Daquele ponto, ao mesmo tempo em que analisávamos o terreno à frente, aproveitamos a existência de sinal e fizemos contato via celular com o nosso motorista, responsável pelo resgate no domingo. Informamos sobre nossos planos de sair pela referida fazenda e combinamos os detalhes. Em seguida enviei torpedos para os celulares dos companheiros do “trio ligeiro”, contudo sem qualquer resposta imediata deles. Concluída a pausa derivamos para o leste (esquerda) e descemos uma encosta para em seguida atravessar um trecho extenso de mata nativa em declive. Nosso objetivo primário a partir daqui era atingir a borda norte do Cânion Laranjeiras o mais rápido possível visando explorar o que desse da borda do cânion e estabelecer um ponto de acampamento nas suas proximidades. Como sempre o Zeca, nosso batedor, adiantou-se para investigar a passagem pela mata e com o rádio orientou o grupo. Dali até a borda do Laranjeiras vencemos uma sucessão de vara-matos e descampados, ora subindo, ora descendo encostas de morros até chegarmos num altiplano pouco antes do cânion, com belo visual das imediações, onde começamos a seguir os resquícios de uma estrada que se embrenhava na vegetação do morro, cruzando-o em direção aos campos mais abaixo, nos limites do cânion. Ali, quase no início da estradinha encontramos um cachorro branco, um guapeca viçoso que nos anunciava a proximidade da Fazenda Santa Cândida, a única que existia nas redondezas e cujas instalações sabíamos estar logo atrás de um grande morro coberto de vegetação cerrada que se erguia depois do vértice do Laranjeiras. Imediatamente surgiu um nome para o simpático cachorro: “Polar”. Seguimos a tal estrada que inicialmente subia em leve curva para depois se embrenhar no mato e quase sumir, virando uma picada em meio à vegetação, agora descendo pelo morro em meio a xaxins gigantes e terreno bastante turfoso. Cerca de meia hora depois atingimos a base de um grande descampado plano que emoldura toda a face norte e o vértice do Cânion Laranjeiras, repleto de turfeiras e com um grande charco bem na saída do mato. O cão Polar, mais esperto e conhecedor da região, saiu do mato num ponto bem próximo à borda e depois cortou caminho pelo campo, saindo bem longe de nós, contornando o banhado. Aqui o espetáculo proporcionado pelas vistas do magnífico cânion era agora completo e, à medida que íamos nos aproximando cada vez mais de suas bordas (que passamos a seguir), mais detalhes eram revelados aos nossos olhos. Já se passavam das 15:00h e ainda teríamos que encontrar um ponto de pernoite em breve, mas diante da magnitude daquela atração ninguém mais estava preocupado com isso. Todos curtiam o momento e tiravam fotos, enquanto lentamente caminhávamos rente das bordas observando e registrando tudo, embasbacados. Quando nos aproximávamos do “famoso” grupo de araucárias na borda do cânion, clássico entre as fotos do lugar, eis que ouvimos um barulho forte de helicóptero mas nada enxergávamos. Prestando mais atenção percebemos que o aparelho vinha pelo fundo do cânion e eis que se ergue perto das bordas, sobre o vértice do cânion por alguns instantes, sobrevoando o campo para logo em seguida fazer meia volta e retornar. Provavelmente um vôo panorâmico fretado por algum abastado turista “aéreo”. Cada um conhece a natureza como quer (ou como pode) – enquanto um bando de “malucos” mochileiros caminhava naquelas “lonjuras” um endinheirado passeia de helicóptero sobre o mesmo trecho. Coisas da vida moderna. Ali, próximo às araucárias, um de nossos companheiros, o Luís, também quase sobrevoa o cânion... Com a cargueira nas costas e com a câmera na mão, meio distraído, dá alguns passos em direção à borda e, sem perceber, pisa em um buraco fundo (de mourão de cerca, provavelmente), a pouco mais de 1 m do precipício. Dupla sorte naquele momento: primeiro por ter caído enfiando a perna quase inteira no buraco, o que evitou de certa forma que caísse para a frente (e consequentemente no abismo), pois o peso da mochila fatalmente o iria impelir naquela direção caso tivesse apenas tropeçado. Segundo pois mesmo tendo enfiado a perna quase toda no buraco, não se machucou... Poderia ter quebrado a perna. Um belo susto que só eu e outro companheiro, por andarmos atrás dele testemunhamos. Já imaginaram o tamanho da caca se o cara me cai lá de cima! Após contornar toda a borda norte percorrendo as bordas das diversas fendas secundárias e da principal, próximo ao vértice tomamos o rumo de uma cerca de arame farpado em direção à floresta que se ergue pela encosta do morro próximo, contornando-o e nos afastando do cânion. Ali um grande charco nos obrigou a caminhar com atenção e buscar uma porção de terreno mais alto, galgando parte da encosta mais descampada do morro, contornando a vegetação pelo leste. Logo passamos por outra cerca e subimos outro descampado rumo a uma pequena crista. Subidinha cansativa naquela altura do dia em que as energias já não estavam sobrando e as cargueiras pareciam pesar mais. Pelas nossas lembranças e marcações no GPS, não muito distante dali (cerca de 400m) deveria haver uma estradinha (o caminho que liga a fazenda às bordas norte, leste e sul do Laranjeiras). Nossa ideia inicial era seguir aquela estradinha (a única passagem) para acampar num ponto mais a leste, perto das bordas do cânion. Só que o tal morro, além de ser coalhado de charcos possuía uma mata muito densa em toda a sua volta, praticamente impenetrável sem usar o facão. Percebemos que teríamos muito trabalho para abrir o mato no peito e no facão até encontrar a estrada e não dispúnhamos de muito tempo para isso. Logo escureceria pois já se passava das 16:30h. Desta feita mudamos nosso plano inicial de passar longe da sede da fazenda naquele dia e resolvemos encarar a pernada até as casas, procurando buscar um ponto de acampamento lá próximo, negociando com os moradores. Lá fomos nós, divididos em 3 grupos menores. Atingimos uma elevação e vimos ao longe as casas da Fazenda Santa Cândida. Na chaminé uma fumaça denunciava gente em casa. Nosso pelotão mais avançado – Cover, Luís e Marcelo já desciam o campo repleto de charcos e pouco distavam do lago da fazenda. Mais atrás eu com o segundo grupo e, mais longe ainda vinha o pelotão fecha trilha, com o pessoal que ficara mais atrás. Poucos minutos de caminhada e os cães da fazenda já nos denunciavam. Nossa vanguarda já estava na mangueira em frente a uma das casas onde havia um rebanho de carneiros. Chamam o pessoal da casa e aparece um casal na porta (os caseiros), primeiro nos olham meio desconfiados, logo se soltam e conversam. Contamos resumidamente o que fazíamos ali. Nisso o pessoal vai chegando, chegando. A certa altura a D. Izoé, que negociava com nossa companheira Soraia a possibilidade de um banho quente (as meninas vinham sonhando com isso desde que decidimos concluir nossa expedição pela fazenda) exclama assustada: “Nossa! Olha Assis, tem mais uns quantos descendo ali”. Era o restante do grupo com o pelotão principal, mais 6 ou 7 pessoas que vinha atravessando o campinho em frente ao lago e à casa... Rsrsrs. Acho que ela pensou que estavam sendo invadidos. Rápida conversa com o casal e seu filho e pedimos pro caseiro, Sr. Assis, nos deixar acampar ali por perto. Ele nos mostra um descampado a uns 300-350 m da sede (!), ao lado da estrada e emenda rápido um “eu levo vocês lá”, calçando as botas brancas de borracha e montando um cavalo que já estava encilhado no galpão ao lado da casa. A nossa companheira Soraia, espertinha, já negociara o seu banho com a D. Izoé, esposa do caseiro e ficou por ali mesmo. Os demais seguiram o tiozinho e, chegando no descampado, começaram a faina de arrumar o local de acampamento. No caminho seu Assis nos informa que havia encontrado com o “trio ligeiro” cedo naquela manhã, cerca de 8:30h, horário que eles cruzaram pela área perto da sede. Segundo ele os 3 haviam seguido rápido em direção ao sul e que eles o avisaram que outro grupo seguia atrás eles. Naquele momento confirmamos nossas previsões de que o trio estava a cerca de 1 dia à nossa frente. Naquele fim de tarde um vento frio nos castigou um bocado enquanto montávamos acampamento. Logo, com as barracas montadas começamos a preparar o que comer. Uns tomam mate. Começamos a preparar os tira-gostos para amainar a fome. A ideia era preparar o que sobrara de comida para aliviar nosso peso na volta, foi quando percebemos quanta comida havia sobrado. Nisso a segunda menina da fila vai para o banho e, passados mais alguns momentos, a terceira também. Banho só seria possível para as meninas, sentenciou a D. Izoé, assustada com o tamanho do grupo. A janta foi uma fartura só: calabresa frita, salame, queijos (pelo menos uns dois tipos), azeitonas, arroz e até um rodízio de macarronada. Até o Otávio, adepto ferrenho do “ultralight” – “leve e rápido”, estava com sobra de comida... Acho que todos esperavam comer mais com o frio para repor as calorias – e via de regra todos levaram comidas calóricas. Comemos bem, e ainda sobrou alimentação para pelo menos mais uma janta. Bom, pensamos por fim, melhor sobrar do que faltar... No tempo em que conversávamos e cozinhávamos para nos esquentar, Otávio, Thomas e Sérgio, que foram até a sede da fazenda acompanhar as meninas na ida e volta dos banhos quentes, aproveitando as viagens para abastecer de água, nos revelam que o Sr. Assis preparara um fogo de chão dentro do galpão ao lado da casa e nos convidou para nos servirmos do fogo ali, caso desejássemos. Como já havíamos nos instalado com todos os apetrechos e já cozinhávamos a algum tempo onde estávamos, acabamos declinando do convite, até porque entendemos que iríamos incomodar o casal com a nossa algazarra ao lado do rancho, visto que o pessoal no campo dorme cedo. Ficamos sentados no campo até cerca de 22:30h, em volta dos fogareiros, beliscando e conversando, já com saudades do que vivíamos naqueles 3 dias. Um a um o grupo ia diminuindo à medida que os companheiros iam dormir, até que o silencia reina absoluto. Todos se recolhem. No dia seguinte combinamos como missão explorar as bordas do Cânion Laranjeiras, o que havia instigado o grupo. QUARTO DIA: Refeitos pela noite de sono, acordamos cedo. Neste dia não temos a geada pela manhã apesar do frio - em parte resultado da sensação térmica, visto que onde acampamos estávamos sujeitos a um vento mais forte do que nas outras noites. No céu já havia sinais, ao norte, de mudanças climáticas. O volume de nuvens era visivelmente maior do que nos dias anteriores e sentíamos uma maior umidade no ar. Nosso objetivo neste dia era sair leves do acampamento para explorar o que fosse possível das bordas do Cânion Laranjeiras (as barracas ficariam montadas com todo nosso equipamento). Tomamos um desjejum reforçado, procurando e, com o nosso objetivo em mente, saímos cerca de 8:30h da sede da Fazenda Santa Cândida seguindo por uma estradinha que a liga às redondezas do Cânion, cortando caminho pelo grande morro em frente, não antes de cumprimentar o simpático casal que toma conta da fazenda e pagar a taxa de R$ 5,00 por pessoa cobrada para visitação do cânion. Num percurso de cerca de 40 minutos em meio à mata já estávamos saindo no descampado (na verdade um baita de um charco) que separa a mata espessa da encosta do morro das escarpadas bordas do Cânion. Lá fomos procurando o máximo possível resguardar nossos pés da água do banhadão, que por vezes chegava fácil aos 50 cm de profundidade. Muitos pulos e atoladas depois, cerca de 20 minutos, e a maioria com os pés molhados, atingimos a borda norte do Cânion pelo lado da fazenda, próximo do vértice principal, e começamos a percorrê-la, nos deleitando com o espetáculo que se descortinava à nossa frente. As gigantescas paredes esbranquiçadas do Cânion Laranjeiras desafiando as nossas câmeras. Poses e fotos nos pequenos mirantes de rocha e muita contemplação, inclusive do fundo do cânion. Seguimos até a cachoeira principal (existe outra menor perto do vértice), não sem antes ter que desviar o rio que a alimenta, tendo que andar quase 1 Km para dar a volta e observá-la pelo lado leste, de onde se tem o melhor ângulo. Depois da grande volta ao riacho e de várias fotos, parte do grupo seguiu para a borda leste e sul, atravessando outro longo trecho de charcos e campo, contornando um grande trecho de mata. Do outro lado o visual era tão ou mais encantador do que o das paredes do lado norte: com o céu quase sem nuvens, a vista alcançava, desimpedida, toda a baixa planície catarinense e as suas cidades e vilas, além das serras secundárias e seus entrecortes, que se estendem dos platôs do Laranjeiras em direção aos terrenos mais baixos. Como havia pouco tempo disponível a permanência ali foi curta (já passava de 12:00h e nosso transporte logo chegaria à fazenda, conforme combinado). Olhando em direção noroeste já se percebia uma maior deterioração das condições climáticas que certamente nos atingiria em breve e o grupo retornou em passo acelerado, pois além da caminhada de retorno pelos charcos e pelo barro da estrada até a fazenda ainda precisávamos desmontar nosso acampamento. De volta ao acampamento foi o que fizemos. Em ritmo acelerado, acompanhados pelo receio de que o nosso motorista poderia ter problemas para encontrar a fazenda, desmontamos nosso acampamento e ajeitamos nossas mochilas para o retorno. Lá pelas tantas, com a maioria das mochilas já prontas ou quase, eis que surge na estradinha a van do Cléio (Zapvan), nosso motorista particular... Grande visão! Naquela hora, cerca de 13:30h, o céu já estava encoberto de nuvens e o vento só aumentava, com claros sinais de chuva. Um a um carregamos nossas mochilas na van onde também trocamos de roupa e passamos a ficar mais à vontade com calçados e pés secos e roupas limpas, pois havíamos deixado na van mudas de roupas e calçados limpos para o retorno. Agora era só enfrentar a estradinha de 13 km até o centro urbano de Bom Jardim da Serra e ali almoçar. Nos programamos para almoçar na Churrascaria Cascata, aos pés da Cascata da Barrinha, ao lado do Portal Turístico da cidade, na SC-438. E os 3 “apressadinhos”? Enquanto estávamos na estrada de terra entre a Fazenda Sta. Cândida e a cidade de Bom Jardim da Serra recebemos um SMS deles informando que acabavam de chegar no mirante da Serra do Rio do Rastro. Rapidamente vencemos a estradinha até Bom Jardim da Serra e chegamos à churrascaria por volta das 14:45h. Almoçamos conversando, já relembrando alguns dos momentos vividos na travessia e, com aquela sensação de missão cumprida, tristes por estar voltando subimos na van para ir resgatar o “trio ligeiro” no Mirante da Serra do Rio do Rastro, poucos km adiante. Quando ali chegamos a chuva já caía sobre nós. Entramos no pátio de estacionamento do mirante e logo avistamos as 3 figuras de mochilão nas costas, assustados (medo de serem deixados para trás? Rs!), mas já recompostos da caminhada e de roupa trocada. Soubemoa sli que até banho tinham tomado no posto da Polícia Rodoviária enquanto nos esperavam. Com a pequena parada para embarcar os três, alguns correram para os muros do mirante em busca de algumas derradeiras imagens serra abaixo, mas a chuva já engrossava e acabamos abreviando a parada para pegar a estrada, agora retornando a Urubici, onde deixaríamos os dois gaúchos para resgatarem seu veículo (estacionado no pátio do ICMBio), abastecer a van e descer a serra rumo a Florianópolis para liberar os dois companheiros catarinenses. Chuva, chuvisco, chuvarada. O chuviscão logo se transformou numa bomba d'água e chovia torrencialmente. Eram cerca de 17:00h e baixava uma neblina, forte em alguns trechos da serrinha entre Bom Jardim e Urubici. Nosso motorista, atento, seguia em velocidade reduzida, pois com a chuva e a neblina, em pista simples e com bastante movimento nos dois sentidos não dava para brincar. Chegamos a Urubici já em completa escuridão, cerca de 18:15h. Parada na sede do ICMBio para nos despedir dos gaúchos, ainda abaixo de chuva. Aquele clima de fim de festa já contagiava a todos. Nova parada no posto Ipiranga, no centrinho, comprar água e algumas guloseimas para o caminho enquanto nosso motorista abastecia a van para o retorno. Logo estávamos seguindo viagem pela SC-430 e, pouco depois, pela BR-282. Foi uma longa volta. Muito movimento, com pista simples, resulta em filas intermináveis de veículos no retorno de feriados, especialmente na BR-282 rumo a Floripa. Seguimos assistindo a filmes em DVD na TV da van. Alguns cochilam. Em Santo Amaro da Imperatriz entregamos o Fernando. No trevo de acesso a cidade de Palhoça e à BR-101 o movimento intenso nos fez amargar quase 1 hora num trânsito congestionado até chegar na entrada de Floripa, onde entregamos o Mioto, num posto à beira da rodovia, em São José. Agora seria tocar até a “cidade sorriso”. Eram mais de 22:30h quando deixamos as cercanias da capital catarinense. Muita chuva na estrada. Ainda fizemos uma parada rápida num posto para mais um lanche. De volta à estrada a maioria agora dorme, todos bastante cansados. Somos acordados pelo Cléio, nosso motorista, na entrada de Curitiba. Nosso ponto de desembarque seria na Rodoferroviária, no centro da cidade, de onde todos poderiam tomar táxis para casa com segurança naquele horário (1h). Ao estacionar no ponto combinado, rapidamente todos se despedem e tratam de carregar suas mochilas e bolsas para um dos táxis estacionados. Embarcados, logo entrego o Cover e a Soraia em casa, pois moramos no mesmo bairro. Outra rápida despedida e, poucos minutos depois sou eu quem finalmente chega em casa. Finda a epopéia! Bate aquela tristeza misturada com cansaço pelo fim da viagem. No box do chuveiro o banho quente já não me reconforta tanto quanto o desejo de voltar a caminhar nas pradarias e platôs da Serra Geral! ... Em breve voltarei! * * * * * * AGRADECIMENTOS Tão importante quanto realizar uma expedição como esta é agradecer àqueles que, de alguma maneira, colaboraram para torná-la possível. Meus agradecimentos especiais: - A DEUS, pela vida e bençãos concedidas - em especial o maravilhoso tempo que desfrutamos e nossa segurança em todos os momentos. - Aos amigos de caminhada da AMC e Marcelo Juká, com quem trilhei esses caminhos... Foram 4 dias muito intensos sob todos os aspectos! - Ao amigo Valdo Balbinot, pelo incentivo, fotos e dicas valiosas sobre a região, terreno e atrativos. Valeu! - Ao Ênio Frassetto, por suas dicas sobre as fazendas da região e autorizações. - Ao Parque Nacional de São Joaquim, na pessoa do seu administrador, Sr. Michel Omena, pela autorização de ingresso e permanência na área do PARNA, sem a qual não realizaríamos essa travessia. - Ao nosso motorista, Cléio, da Zapvan, que nos levou e trouxe em segurança. - À equipe da Panificadora Beckhauser, de Urubici, por terem aberto suas portas mais cedo para nos atender no café da manhã (excelente) e pela atenção. - Ao Zé Marcos, da Serra Sul Ecoturismo, de Urubici, por sua costumeira prestatividade ao ceder seu gramado para nossos companheiros gaúchos pernoitarem. - Ao casal responsável pela Fazenda Santa Cândida, em Bom Jardim da Serra, Sr. Assis e Sra. Izoé, pela hospitalidade. * * * * * * Integrantes da Expedição Getulio Rainer Vogetta / Otávio Luiz T. de Freitas / Thomas Ostermayer / Ingrid Ostermayer / Giancarlo Castanharo - Cover / Soraia Giordani / Sergio Augusto de Lima / Cirlene Carvalho / Luiz Delfrate / Zeca Reinert / Rodrigo Mioto (*) / Fernando Faria (*) / Marcelo Jucá / Tiago Korb (*) (*) “Trio ligeiro” – como relatado, se distanciaram do grupo principal já no primeiro dia e concluíram a travessia até o mirante da Serra do Rio do Rastro por volta das 14:20h de domingo, dia 10/06/2012 (4º dia), tendo caminhado cerca de 66 Km segundo os dados de seus GPS. O grupo principal percorreu nos 3 dias e meio de jornada cerca de 46 Km totais (aferidos em GPS), incluindo a exploração das bordas do Cânion Laranjeiras realizada no domingo, dia 10/06/2012. [linkbox]VEJA TAMBÉM: :: Album de fotos da Travessia (Getulio) - no Ipernity :: :: Tracklog da Travessia (até o Cânion Laranjeiras e exploração das bordas) - por Getulio :: :: Tracklog da Travessia (até Serra do Rio do Rastro) - por Tiago Korb :: :: Tópico mochileiro que originou a travessia :: :: Relato do Grupo KOT - Keep on Trekking, guiado pelo Graxaim e publicado no Trekking Brasil :: :: Relato Mochileiros.com - Mochilando no frio de julho pelo PARNA São Joaquim :: :: Blog da Associação Montanhistas de Cristo :: :: Site oficial do Parque Nacional de São Joaquim :: :: Wikipédia - Parque Nacional de São Joaquim :: .[/linkbox] . Vejam mais algumas fotos: .
×
×
  • Criar Novo...