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  1. RIVERTREKKING JAGUARÍ : Travessia Morungaba x Pedreira ........O sol mal acabara de nascer quando eu e o Dema nos postamos às margens do grande reservatória da Usina Jaguarí. À nossa frente um mundo de aguapés boiando à superfície da água, onde provavelmente habita as tais sucuris que não se furtam em abocanhar qualquer coisa que caiba em seu estomago. O Dema não chegou a dizer nada, mas nem precisava, sua cara denunciava o pavor que ele sentira só de pensar em dar de cara com a cobra gigante. Mas nós não estávamos ali para brincadeira, havíamos tocado o foda-se quando o Fábio resolveu apanhar suas coisas e encerrar aquela maluquice enquanto havia tempo, voltou para casa no meio da travessia, de certo tinha frangos pra alimentar. Joguei minha mochila encima da vegetação flutuante e sem pensar muito me joguei encima dela. Afundei até o pescoço numa lama fétida e gosmenta, numa mistura de água com matéria orgânica morta e barro fedorento e vim à tona porque usava um colete salva-vidas. O Dema se jogou logo em seguida e teve o mesmo destino que eu. Agora éramos dois monstros do pântano a nos rastejar e tentar abrir caminho através daquele inferno verde, duas criaturas que nadavam o mais rápido possível para tentar atingir a margem oposto de um lago com cara de filme de terror. Antes de chegar a outra margem, enfrentamos mais um mar de capim e todo tipo de vegetação flutuante, onde tivemos novamente que nos arrastarmos por cima da casa das cobras, sempre nos esquivando como dava, sempre procurando uma alternativa para não ficarmos atolados no fundo do pântano. Quando emergimos na outra margem, olhamos um na cara do outro e aí sim , tivemos a certeza de que a nossa aventura estava completa, havíamos combinado que seria uma travessia apenas para nos divertirmos, contar umas piadas, falar umas besteiras, tomar um banho de rio, mas quando eu e o Dema nos juntamos, a gente tem o poder de transformar um passeio no parque em uma jornada ao inferno, a gente sempre consegue enfiar os pés pelas mãos e por mais que a gente envelheça, não aprende nunca............... Morando no interior paulista, onde a vida é boa, mas as diversões são poucas, sempre fico a procura de coisas novas pra fazer, fico estudando mapas de satélite e bolando caminhadas e travessias no quintal de casa. Na região de Campinas somente os meandros do Distrito de Joaquim Egídio e as pequenas cidade de Morungaba e Pedreira acabam valendo a pena serem esmiuçadas na tentativa de se garimpar algo digno de uma visita mais demorada. Num domingo de muito sol e pouco juízo resolvemos nos deslocar de Sumaré para Morungaba e sem prévio aviso, sem saber aonde aquela loucura ia nos levar, nos jogamos da ponte do Rio Jaguarí de colete e mochila e boiamos por um dia inteiro num lugar selvagem, onde macacos , famílias de capivaras e outras infinidades de pássaros desfilaram diante de nossos olhos. Exploramos apenas 7 km de rio e saímos de lá extasiados com tanta beleza e decidimos então voltar naquele que é um dos rios mais limpos do interior de São Paulo, para uma aventura completa. Decidimos que tentaríamos fazer a Travessia de Morungaba até Pedreira, mais de 30 km separando duas pequenas e charmosas cidadezinhas do interior do Estado. Para empreitada, alem do meu amigo Dema, foi convocado um amigo virtual de Santa Barbara, Fábio Novais. No feriado da páscoa, partimos de ônibus da rodoviária de Campinas para Itatiba e de lá embarcamos num coletivo para Morungaba. Descemos na rodoviária da minúscula cidade, pegamos para direita na avenida principal e logo depois da primeira pracinha viramos à esquerda e tomamos o caminho que iria nos levar até as gigantescas Antenas Parabólicas da Embratel, onde pretendíamos acampar para no dia seguinte nos jogarmos no Jaguarí. Pois bem, a estradinha que nos levaria até as antenas é de paralelepípedo e por ela seguiremos por quase duas horas. É uma caminhada gostosa e descompromissada, já que passa das cinco da tarde e o sol já está fazendo corpo mole. Uns 15 minutos antes das antenas, passamos por uma bica de água à nossa direita, mas como já estávamos com todos os cantis abastecidos, apenas nos refrescamos e seguimos. Quando chegamos às antenas fomos recebidos com um show particular de uma lua cheia que pairava sobre as parabólicas. Batemos umas fotos e descemos por mais uns cinco minutos até a ponte sobre o Rio Jaguarí e ao lado dela acessamos a margem esquerda do rio, numa área de mata fechada, onde faríamos do local, nossa casa por uma noite. O local é bem abrigado do vento e logo quando chegamos já tratamos de montar nossas redes e ir cuidar da janta. O Jaguarí está um metro e meio mais baixo por causa da grande estiagem e deixa amostra grandes rochas, mas sua água continua tão limpa quanto antes, é um rio realmente lindo e sempre quando podemos, vamos acampar lá com as meninas, já que mesmo cheio e com um pouco de correnteza, é um rio seguro pra se nadar, pelo menos nesta parte de seu percurso. O Dema diz que antes do jantar irá dar uma nadada, mas como sempre só fica na fanfarronice e logo está de volta para a área de acampamento. Jantamos, batemos um bom papo e quando o sono chega, nos pinchamos para cima das redes e fomos dormir. Lindo é o dia que amanhece neste sábado de aleluia e como não temos nenhum Judas para espancar, tratamos logo de jogarmos as mochilas às costas e partimos pelo leito do rio Jaguarí. Inicialmente vamos saltando de pedra em pedra, escalando os grandes matacões do rio. Não é uma jornada nada fácil porque com a baixa do rio, temos que andarmos sobre o que já foi o seu leito, ou seja, uma rocha tão lisa que se manter em pé torna-se uma tarefa árdua e trabalhosa. O Fábio já vai dizendo que por causa das pernas curtas terá dificuldade pra subir nas pedras, bom saber disso pra nunca convidar um anão pra trilhar com a gente. Não demora muito e uma mata de espinhos nos fecha o caminho e logo vem a idéia de nos lançarmos no rio, afinal de contas, a intenção da aventura era essa mesmo, seguir pela água. Como estávamos encima de um grande matacão, pulei na terra mais abaixo e afundei minhas duas botas no barro até a canela, miséria ! O Fábio, que não é bobo nem nada, achando que eu seria um bom guia, pulou atrás e se lascou igualmente, toma besta! Todos à beira do rio, onde um grande lago dava o ar de sua graça, nos reunimos para tomar coragem para pular no sinistro lugar. Nossas mochilas estão todas protegidas com sacos estanque dentro, inclusive essa trip seria usada justamente para testar nosso sistema a prova d’água. Como ninguém se apresentou para ser o primeiro, coube a mim jogar minha mochila na água e pular atrás dela e quando o Dema e o Fábio pularam atrás e se juntaram a mim, vimos que a aventura acabara de começar, aleluia, aleluia. O Jaguarí neste trecho não tem uma correnteza muito forte e às vezes é preciso nadar arrastando nossas mochilas, sorte a nossa estarmos usando colete salva-vidas para facilitar nossa flutuabilidade. Assim que acaba o grande lago, voltamos a subir nas grandes rochas e ir pulando de um lado para o outro, descendo de novo ao leito do rio quando é preciso e às vezes a força da gravidade acaba fazendo esse trabalho por nós, nos jogando com mochila e tudo de volta a água. Quando dá, varamos alguns capões de mata espinhosa, mas logo temos que abandonar o mato e nos lançarmos de novo ao rio e nadar quando as correntezas desaparecem de vez. Quando o rio nos brinda com uma velocidade considerável, vamos descendo nos desviando das rochas e fazendo festa. Mas em alguns momentos é preciso nadar para a margem para se livrar das pequenas e perigosas quedas que se avizinham à frente. De vez enquando a coisa fica tensa porque o rio se afunila em meio às grandes rochas e não conseguimos saber o que nos espera à frente, aí bate o desespero porque viramos passageiros sem controle e quando isso acontece é hora de botar os pés à frente, levantar a cabeça e rezar pra sair vivo do outro lado. Quando o Fábio “perna de anão” (rsrsrsr) ficava muito para trás, eu e o Dema parávamos para esperá-lo e aproveitávamos para nos deliciarmos com alguns tombos, mas logo depois, mais á frente era nossa vez de fazer a alegria do nosso novo amigo, já que também não estávamos imunes a umas quedas nas lisas pedras do leito do rio. Passamos à beira de uma propriedade, onde uma família inteira se deliciava nas piscinas naturais e limpas do grande rio. Batemos um bom papo com seu Osvaldo e tomamos novamente nosso rumo. Logo em seguida demos uma parada para um gole de água e paramos novamente para esperarmos o Fábio, que insistia em tirar umas fotos com um trambolho de uma caixa estanque. Sentamos-nos à beira de uma rocha, bem antes de uma deliciosa corredeira e quando nos demos por satisfeito de descansarmos, pulamos nas águas rápidas e fomos fazendo algazarras até que fosse preciso sair novamente da água e escalar mais rochas gigantes. Quando essa linha de pedras acabou, nos vimos presos em mar de aguapés, plantas flutuantes que fecham a passagem no rio e como o Dema morre de medo de sucuri, resolvemos avançar pela margem, varando muito mato, pulando brejo e nos esquivando de uma infinidade de espinhos e urtigas irritantes. Ao vermos que havíamos deixado as plantas flutuantes para trás, voltamos ao leito do rio e logo demos de cara com uma turistada fazendo um churrasco na margem esquerda e é claro que ao nos ver, ficaram com cara de incrédulos, sem saber de onde haviam saído aqueles três malucos boiando com umas mochilas enormes. Nesta parte o rio se afunila e fica muito rápido e por incrível que pareça, o corajoso Fábio, se lançou à frente, desembestando desgovernadamente no meio das águas turbulentas. Eu e o Dema também não pensamos duas vezes, nos jogamos na correnteza e nos desembestamos também atrás do Fábio e só paramos quando as águas amansaram e grandes pedras voltaram a barrar o nosso caminho. Botamos novamente a mochila ás costas e fizemos o maior percurso sobre as pedras, até que de supetão, avistamos a famosa Ponte Queimada, um ponto turístico do Rio Jaguarí. Jogamos-nos novamente na água e descemos na correnteza que nos levou para debaixo da ponte, onde conseguimos nadar para margem direita e sairmos da água. O local estava lotado de gente e não demorou muito para o Dema e o Fábio descolarem umas cervejas geladas, eu, como não sou afeito ao álcool, tratei logo de pegar minha mochila e procurar um bom lugar para cozinhar um almoço. Já passava das duas da tarde e a fome havia apertado. Enquanto o rango cozinhava., ficamos ouvindo o Fábio reclamar da bota e das dores no joelho, ameaçando abandonar o rio e seguir um pedaço do caminho pela estradinha que margeia o Jaguarí. Eu e o Dema já começamos a ficar desconfiados que o nosso amigo não iria muito longe, mas não comentamos da nossa desconfiança com ele, mesmo porque à nossa frente os aguapés voltavam a fechar o caminho e o melhor mesmo seria fazer um pequeno desvio pela estradinha e voltarmos a entrar novamente no rio, quando chegássemos ao grande reservatório que antecede a queda da Usina Jaguarí. Acabado o almoço, nos despedimos de uma galera que farofava por ali e pegamos a estradinha. Fomos caminhando nesta estradinha, que pra nossa surpresa foi cada vez mais se distanciando do rio e quando vimos que ela tomaria um rumo diferente do nosso, paramos para uma confabulação. Fiquei me perguntando onde estaria a tal lagoa gigantesca? Ao chegarmos a uma porteira percebemos que não havíamos visto o tal reservatório porque ele havia secado naquela parte do rio, ou melhor, havia diminuído e onde víamos um grande mato rasteiro, seria parte da lagoa. Um nativo, que passava a cavalo, nos disse que se quiséssemos atingir novamente o grande reservatório, teríamos que entrar em um condomínio de chácaras, uns 100 metros à frente. Seguindo a dica do local, entramos no condomínio com passagem livre e quando chegamos a uma bifurcação, pegamos para direita, descendo. Mais a frente, seguindo a dica de um morador, pegamos uma trilha para esquerda, onde havia umas palmeiras e umas estátuas da Branca de Neve e dos Sete Anões de pernas curtas. A trilha vai seguindo por dentro do mato até logo desembocar à beira da grande represa, onde em sua margem dezenas de metros de plantas flutuantes , escondem suas águas. À beira do reservatório havia duas grandes pontes de madeira que avançavam sobre a lagoa e nos levava de volta a água. Já passava das quatro da tarde quando chegamos ao fim da passarela de madeira e eu e o Dema resolvemos que seria a hora de nos jogarmos na água e atravessarmos o reservatório, seguindo a dica do morador que nos disse que poderíamos alcançar mais rápido a usina Jaguarí se fossemos pela margem esquerda. Não sei por que o Fábio bateu o pé, fez beicinho e disse que não entraria na água de jeito nenhum e não adiantou, nada que dissemos faria o nosso amigo mudar de idéia, ele empacou feito uma mula teimosa. Resolvemos então voltarmos para a rua do condomínio e ver o que faríamos. Um morador havia nos dito também de uma tal passagem no fim da rua sem saída e aí fomos tentar esse outro caminho. Andamos uns dez minutos e paramos imediatamente. Fomos surpreendidos por duas construções em estilo Greco-Romano, uma igreja e um salão de festas que nos fez cair o queixo de tão magnífica que era. Jamais esperávamos encontrar uma construção espetacular daquelas, perdida naquele fim de mundo. Bom, deixamos Roma para trás e como não conseguimos de jeito nenhum convencer o Fábio a atravessar o lago, seguimos até o final da rua sem saída, que acabou numa cerca de arame, bem na entrada de uma mata. Se a estrada havia chegado ao fim, nosso caminho não. Pulamos a cerca e entramos na mata e como a noite já estava rindo para nós, o Fábio exigiu que acampássemos, mas como achamos o lugar um pouco medíocre, resolvemos seguir uma trilha de cavalos e ver onde a dita cuja iria dar. Descemos por uns dez minutos até encontrarmos um riachinho e aí jogamos nossas mochilas no chão e demos por encerrada nosso primeiro dia de caminhada. Não era lá um lugar muito bom para acampar, mas era o que tinha. Esticamos nossas redes no meio da trilha dos cavalos, mas ficamos preocupados em sermos atropelados pelos animais durante a noite. A chuva começou a cair, mas logo se foi e quando o Fábio abriu suas coisas e viu que estavam todas molhadas, anunciou que no outro dia abortaria a travessia e ficou um bom tempo amaldiçoando a má sorte. Bom, eu e o Dema, já havíamos passado poucas e boas nestes 20 anos de caminhada e não seria um pequeno entrevero que nos tiraria do nosso caminho, como o Fábio estava caminhando com a gente praticamente pela primeira vez, resolvemos não interferir muito na decisão dele, porque nos pareceu que já fazia tempo que ele estava querendo nos mandar a merda ( KKKKKKKK).Além do mais, quando estávamos no templo romano, ele nos disse que já estava estressado e irritado com aquela indecisão nossa de seguir ou não por caminhos indefinidos. O Fábio ainda não conhece bem a gente, quando saímos juntos, eu e o Dema sempre nos metemos em enrascada e pra gente sempre foi normal tocar o foda-se quando o bicho ta pegando e quando a coisa parece sair do controle, aí que a gente se diverte mesmo ( rsrsrsrsrsr). Fomos dormir sem janta. Quando me pareceu que o dia estava pra nascer, me joguei da rede e fui tratar de cozinhar um arroz carreteiro. Logo o Dema e o Fábio também se levantaram e vieram me fazer companhia. O tempo passou, passou e o dia não nasceu, aí percebemos que não deveria passar de uma da madrugada. Havíamos dormido muito cedo e como o estômago roncou, fomos enganados pelo tempo, já que o único relógio do grupo era o celular do Fábio, que havia falecido por causa da umidade. Cansados de esperar pelo sol, voltamos para rede e só depois das seis da manhã, nos animando a levantar novamente. O Fábio estava mesmo resoluto a cumprir a promessa de picar a mula pra casa e nós estávamos mesmo era a fim de encontrarmos a tal Usina Jaguarí, custe o que custar, pra nós já era questão de honra. Ficamos abismados ao vermos o Fábio jogar parte do seu equipamento fora, disse que não iria levar nada molhado. Pegamos tudo que ele deixou e colocamos nas nossas mochilas. Ele se despediu de nós, tomou o caminho de volta, interceptou a estrada principal e caminhou uns 15 km até a cidade de Pedreira, nós pegamos a direção contrária. Atravessamos o riachinho que corria no interior da mata e como vimos que ele ia desaguar direto numa mansão à beira do lago, resolvemos varar mato e interceptar uma estradinha de outro condomínio de casas de bacanas. Descemos a estradinha em direção ao lago, na verdade havíamos acabado de contornar um braço do lago pelos fundos. Esse tal condomínio tem somente meia dúzia de chácaras, onde os mais afortunados instalaram suas grandes casas de veraneio à beira da água. Fomos descendo bem devagar, sem fazer barulho para não chamarmos atenção dos ilustres moradores, mas antes de atingirmos a água um segurança de moto nos interceptou e foi logo perguntando com ordem de quem e como havíamos chegado ao condomínio. Dissemos a ele que havíamos saído da água apenas por um instante e logo voltaríamos para o lago, como o segurança engoliu nossa lorota, descemos à margem da lagoa e ficamos nos deslumbrando com uma magnífica paisagem lacustre. Como o rio estava bem baixo, fomos caminhando pela sua margem, tentando nos manter o mais longe possível do terreno das propriedades. Quando fizemos a curva, o caminho acabou para nós e aí vimos que a única solução seria atravessarmos para o outro lado do grande lago. O grande problema é que na beira do grande reservatório não havia água pra atravessar e sim um mundo de plantas aquáticas, compostas por aguapés e capim , enterrado num brejo que deixava o meu amigo Dema de cabelos em pé. Ainda não eram oito horas da manhã quando nos posicionamos à beira do grande reservatório. A gente não queria ir, mas não havia o que fazer, esse era o único caminho, nosso único destino, a gente havia chegado até ali e não arredaríamos o pé enquanto não chegássemos à tal Usina Jaguarí. Se ali na margem a coisa já era feia, muito pior era na margem oposta, onde a vegetação se estendia por muitos e muitos metros. Eu e o Dema nos reunimos, traçamos metas, planejamos estratégias e rotas de fuga, mas a única coisa que realmente resolveu foi quando eu joguei minha mochila encima da vegetação e me joguei naquela desgraceira verde e afundei no brejo fedorento. Que desgraça foi aquilo! Nem me preocupei com a água fria da manhã, mas aquela podridão composta de matéria orgânica morta foi de lascar. Aí foi hora de ir abrindo aquela vegetação e torcer mesmo pra nenhuma sucuri estar de plantão. O Dema se jogou logo atrás, e como eu, não via à hora de atingir logo a água propriamente dita. Em conjunto, fomos nos livrando da vegetação o mais rápido possível e quando a água chegou, nadamos a toda velocidade, arrastando atrás de nós nossas mochilas. Demoramos muito para atingirmos a outra margem. Na verdade atingimos mais um mar de vegetação e se não foi fácil entrar no lago das sucuris, pior foi sair dele. Os aguapés não se abriam para que a gente adentrasse no meio dele, o jeito foi chegar até onde dava pé, jogarmos as mochilas encima e nos arrastarmos por cima da vegetação, que por incrível que pareça agüentava todo o nosso peso. Quando atingimos a margem seca, éramos dois monstros do pântano cobertos de lama e vegetação morta, atiramos nossas mochilas na grama e comemoramos mais essa travessia insana e demos uma banana para as sucuris aladas. Do outro lado da grande lagoa quase não havia nenhuma habitação, mesmo assim preferimos seguir caminho pela margem seca da água. Andamos uns dez minutos e contornamos mais um pequeno braço da lagoa, onde as taboas reinavam. Mais acima de onde estávamos percebemos uma grande mansão no alto do morro e para não chamar atenção, preferimos varar mato, já que nesse ponto não existia mais margem seca para seguirmos. Mais à frente desembocamos numa estradinha abandonada e sem muito alarde seguimos por ele, que se enfiou mata à dentro e nos levou direto para o vertedouro da Usina Jaguarí, onde a construção formava uma grande cachoeira. Eu já havia estado ali com minha filha alguns anos atrás, vindo de cima da serra e ao puxar pela memória me lembrei que a estradinha abandonada nos tiraria do lado de cima da lagoa e nos devolveria à civilização, ou pelo menos a estradinha onde se acessava a usina de carro. Pegamos então essa estrada/trilha e seguimos por ela até que uma porteira nos fechou a passagem, onde uma placa dizia ser proibida a entrada, mas como no caso estávamos saindo, nem nos preocupamos mais com isso e pulamos a velha porteira e continuamos nossa caminhada por uma trilha, até que ela passou por uma capelinha destruída e abandonada e findou num estábulo. Pulamos mais esses obstáculos e em mais cinco minutos desembocamos na rua da antiga vila dos funcionários da usina, hoje abandonada e deserta. São dezenas de casas caindo aos pedaços e como eu também já conhecia essa antiga vila, resolvemos ver se encontrávamos algumas frutas por lá, no pomar. Para azar nosso a única fruta que tinha eram abacate verdes, já que a maioria das outras frutas só produz no começo do verão. Abandonamos o vilarejo fantasma e acessamos a rua de terra. Nosso objetivo agora era acessar novamente o Rio Jaguarí, mas como nesse ponto há um alambrado muito alto, tivemos que nos sentarmos e estudar a situação: poderíamos continuar pela estradinha e acessar o rio mais à frente, mas logo vimos que isso seria impossível porque é proibido pela usina adentrar na área, então ao chegarmos numa porteira onde dizia que se tratava de uma estação de piscicultura e vendo que se tratava de um local totalmente abandonado, não pensamos duas vezes, saltamos por cima e caímos na capoeira. Meio cabreiros, fomos caminhando pela área da piscicultura, passando por cima dos lagos vazios até que chegamos ao fim , onde um outro grande alambrado também nos barrou a passagem. Procurando, achamos uma parte do alambrado que estava cortado e aí passamos por baixo e finalmente atingimos novamente o Rio Jaguarí, onde havia uma grande e bonita área de acampamento, usado pela galera do MotoCross, vindo de outros lados da serra. Poderíamos ter voltado a nos jogar no rio, mas como uma chuva se anunciava, resolvemos seguir por uma pequena trilha à beira do rio, até que essa trilha também acabou numa cerca. Logo de cara já me lembrei dessa cerca. Numa caminhada em outros tempos eu havia me deparado com ela, vindo da direção contrária e foi justamente neste ponto que eu não consegui estabelecer uma conexão com a Trilha das Seriemas com a Usina e desta vez eu havia matado a charada. Bom, agora foi só pular a cerquinha e continuar pelo pasto ralo, sempre sem perder o rio de vista. A caminhada é desimpedida e vai margeando o rio, passa por um riacho de águas cristalinas, contorna uma grande mata, passa por mais um grande pasto e quando ouvimos o barulho de uma cachoeira, resolvemos voltar para o rio. A chuva começou a apertar e então também resolvemos apertar o passo, sempre caminhando pela margem. Nesta parte o rio fica quase um km longe da estradinha e precisávamos encontrar uma maneira de vararmos menos mato possível, já que o dia já se adiantou e vimos que estava chegando a hora de rumarmos para Pedreira, já que seguir pelo rio seria impossível, pois necessitaríamos de pelo menos mais um dia para chegarmos a cidade pelas águas. Chegamos então em um grande lago e do outro lado avistamos o que parecia ser um acampamento de pescadores e aí deduzimos que poderia haver uma trilha que nos devolveria à estradinha principal. Jogamos-nos novamente na água, agora numa temperatura não muito agradável e nadamos até o acampamento, onde resolvemos parar embaixo de um toldo e cozinhar um delicioso almoço. Encontramos uma estradinha abandonada e seguimos por ela em meio à mata e depois de cruzarmos por um capim alto e saltarmos uma cerca, saímos finalmente na estradinha de terra, onde logo à frente uma placa nos indicava estarmos a não mais do que onze km de Pedreira. É uma estradinha deserta, que em alguns momentos quase toca o rio, um caminho até gostoso de caminhar. Logo à frente passamos por um grande muro de adobe e logo a estradinha faz uma grande curva e desce para a direita e então vamos caminhando e quando uma placa avisa ser ali um local perigoso para banho, descemos pela trilha e desembocamos numa espetacular prainha de areia à beira de uma corredeira. Esse é um lugar realmente espetacular, o único problema é a grande quantidade de lixo que os turistas de plantão deixam por lá. Sentamos a beira da praia e indignados com o descaso, combinamos de voltarmos lá motorizados para uma limpeza geral, coisa que eu já havia feito anos atrás, num acampamento com uns amigos de infância. Mais abaixo, se seguíssemos pelo rio, poderíamos atingir a usina do macaco Branco, mas vamos pela estrada mesmo e seguiremos por mais us trinta minutos até que essa estrada acaba em outra, onde pegamos para a direita e seguiremos sempre margeando o grande Rio Jaguarí, até finalmente chegarmos à Pedreira, onde comemoramos o fim da nossa travessia com um refrigerante gelado e umas coxinhas deliciosas. E foi assim que num feriado, onde não tínhamos nada para fazer, que nos juntamos com um novo amigo gente boa e fomos nos divertir no quintal de casa. Era pra ser um passeio tranqüilo, um acampamento pra bater um papo, contar umas mentiras e falar umas besteiras e se eu e o Dema transformamos numa viagem cheio de perrengues e desencontros a culpa é toda nossa, o Fabio não tem nada a ver com isso, na verdade ele só foi vítima da nossa incapacidade de nos mantermos num caminho coerente. Está no nosso DNA transformar meros passeios em jornada ao inferno, isso já independe de nós também. Esses perrengues acabam por nos atrair em uma armadilha que não temos como escapar. Divanei Goes de Paula / abril - 2015
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