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E m caminhadas anteriores pela Serra Fina (SF), ralando pelo Paiolinho ou suando pela Toca do Lobo, com frequência vinha à mente uma ideia meio masoquista, e visionária: por que não fazer uma caminhada que somasse a tradicional travessia Toca do Lobo/Sitio do Pierre com ataques aos Picos de maior destaque no entorno? Seria uma forma de ver essas montanhas de ângulos diferentes... Conhecer mais da SF, deixar pegadas em sítios históricos, observar a geologia e a vegetação em pontos menos afeitos à maioria dos caminhantes... Ou seja: uma chance de se arrastar a montanhas menos frequentadas, mais ermas e não menos belas que as da rota tradicional. Toca do Lobo – Quartizito-Capim Amarelo-Melano-PM-Cupim de Boi-Três Estados- Alto dos Ivos- Sitio do Pierre. Essa ideia, com certeza passou pela cabeça de muitos outros montanhistas, e aos poucos o plano foi se desenhando: faríamos a Travessia em um feriado, na temporada de montanha (nada de dar muita margem ao clima inóspito daquelas plagas) e nos condicionamos a fazê-la no prazo normal da travessia clássica: 4 (quatro) dias, com 3 (três) noites na serra. Em conversas anteriores, alguns já haviam se pronunciado pelo interesse na empreitada, com as restrições de compromissos profissionais, médicos, familiares, etc., o grupo tinha 4 (quatro) integrantes com agenda disponível para o feriado de 31/05/2018: Eu, que vos escrevo (Rogério Alexandre), o Rodrigo Oliveira, o Douglas Garcia, e o Marinaldo Bruno. E eis que surge a Greve dos Caminhoneiros, que com reivindicações justas, nos levou a um ponto de inflexão: manter a data ou postergar? Pesadas as opções, adotou-se a contingência de irmos de ônibus e compramos passagens para P4. Com as datas de retorno disponíveis, o Rodrigo não poderia participar. Ficamos no aguardo, na torcida pelo melhor desenlace da greve dos caminhoneiros e o retorno ao abastecimento de combustíveis nos postos, condição que se impunha para a participação do Rodrigo na empreitada. Na manhã de quarta, veio a boa notícia: carro abastecido! Corremos com últimos preparativos: lanches, verificar bateria do GPS, cancelar as passagens e retirar qualquer grama a mais das cargueiras, etc. Nesse dia, na ânsia de aproveitar ao máximo a folga e fazer uma reserva de energia, abusei um pouco da alimentação: sanduiche de mortadela, milho verde com manteiga, almoço de mãe, ceviche de pescada e lula. Esse abuso teria consequências no meu desempenho na pernada, rs. Escrito por Rogério Alexandre com revisão do restante do time, uma pequena noção e, que palavra nenhuma explicaria, o que foi essa aventura! Primeiro dia: C hegamos em Passa Quatro às 20h30 e depois de procurar um pouco, encontramos a casa da Patrícia, onde guardamos o carro, separamos o que ficaria para uso na volta a SP, colocamos as cargueiras na Pajero dela e pegamos estrada, às 21h de quarta (véspera do feriado), para o ponto próximo da Toca do Lobo. Vestimos as cargueiras, nossas companheiras de relação amor e ódio pelos próximos 4 (quatro) dias, fizemos os últimos ajustes e nos colocamos a andar pela antiga estradinha que leva a Toca do Lobo. Ali fizemos as primeiras fotos, à luz das lanternas, nos hidratamos e nos abastecemos da água necessária para alcançar o Quartizito, onde faríamos a primeira recarga maior de água. Nesse trecho, bastou-nos um litro por cabeça, já que faríamos a ascensão mais leves e na madrugada, o que ajuda em muito no menor consumo de água. Como planejado, pontualmente às 22h, partimos em busca do primeiro cume da travessia: Cume do Cruzeiro. A subida começa relativamente íngreme, nos alertando para o que nos esperava. Vamos em passo normal, poupando forças para a longa jornada. Em pouco tempo saímos da mata e começamos a curtir mais a caminhada, apreciando a beleza da Serra, os contornos da crista que iríamos subir, que iluminados pela lua cheia, pareciam nos desafiar. Para o Rogério a caminhada tinha uma complicação adicional: para não utilizar a lente de contato por um período longo demais, decidiu utilizar óculos durante a noite, e só colocar a lente com o dia já claro. Até aí nada demais, se a joça dos óculos não teimasse em ficar embaçando a cada pouco, fazendo com que, ele alternasse em caminhar sob uma “neblina” particular, que só ele via, tateando com os pés em algumas passagens ou parar a cada pouco para limpar a lente dos óculos. Era trabalho de Sísifo: bastava desembaçar para o processo de enevoar recomeçar, principalmente nas partes menos expostas à gélida brisa noturna. Apesar de aborrecer um pouco, ainda surgiria uma dificuldade para se somar com essa, e que faria com que ele deixasse de “puxar” o grupo e passasse a ser o “cerra fila”, decorrente da sua gula durante a preparação para a travessia. Voltamos a essa questão mais adiante. Alcançamos a crista e seguimos subindo buscando o Quartizito e seu ponto de água, tementes quanto à disponibilidade, pois da presença de água ali possuíamos apenas relatos, já que sempre passamos naquele trecho já abastecidos de água. Os temores se mostraram infundados, e depois de descer uma pirambeira, pudemos completar o abastecimento para a caminhada até a base da PM, onde sabíamos encontrar água para o primeiro pernoite, na nascente do Rio Claro. Subimos o Quartizito, no escorregar clássico da montanha que parece se desmanchar em pedriscos aos nossos pés e, à meia noite alcançamos seu cume e iniciamos a descida para o ombro por onde faríamos a longa subida do Capim Amarelo, ansiosos pelos trechos com cordas que noticiam a proximidade do cume. Um detalhe sobre a subida do Capim Amarelo merece registro: esse trecho é um dos que, para os que o percorrem pela primeira vez, testa a determinação do montanhista. A cada falso cume, têm-se que redobrar a disposição, diante da descoberta de que o almejado cume ainda não chegou; são vários os falsos cumes, então, haja determinação para não esmorecer. Sabedores disso, vamos subindo procurando não pensar muito nisso, curtindo a pernada, o visual da Serra Fina ao luar ajudando a dispensar os pensamentos. Alcançamos o terceiro cume da nossa travessia às 2h30min da madrugada. Fizemos uma pausa maior para recuperar o folego, registramos a passagem no livro de cume e, tentando não perturbar os colegas que descansavam acampados ao lado do livro, comemoramos a primeira etapa. Partimos para a descida do Capim Amarelo, pouco antes das 3h da madrugada, atentos para não desviar da trilha correta, que segue bem à esquerda. Nesse trecho, há uma trilha muito marcada, porém errada, pouco à direita da trilha correta, que termina em uma grota, e que expõe os muitos que a tomam, ao desgaste do retornar trepando por raízes e pedras, no mínimo. A necessidade de se escalaminhar para corrigir a descida errada explica que ela esteja mais clara do que a trilha correta, já que, com o erro, você desce e sobe ela, como já o fiz noutra pernada. Mais tarde ficaríamos sabendo que um ou dois “ponteiros”, supondo sermos de empresa concorrente, na ânsia de nos alcançar, acabaram por cair nessa grota. Felizmente, nada de mais grave ocorreu, visto que, pouco além da grota, há um precipício de uns 30 (trinta) metros, no mínimo. Na descida, o Rogério encontrou um isolante perdido, certamente subtraído pelos bambus que insistem em retirar qualquer objeto que esteja fora da mochila (em sua travessia anterior - Casa de Pedra-Tijuco Preto-PM-Paiolinho- acontecera com ele... A estrutura de sua barraca ficou pelo caminho, e o colocava numa situação nada agradável... Felizmente, um montanhista amigo encontrou e o livrou de um belo perrengue). Agora seria sua vez de retornar ao Universo a boa energia. Não pensou duas vezes, e passou a levar o isolante nas mãos, para prendê-lo na cargueira quando alcançássemos o Maracanã, onde faríamos uma breve parada, se o dono não estivesse por ali mesmo. No Maracanã, haviam duas barracas e apesar do avançado da hora, 4h30min, achamos por bem, perguntar se o dono do isolante perdido estava ali... Foi um reencontro emocionante, rsrs... Nada como uma madrugada gélida para curar mágoas. Nesse momento as tripas do Rogério começaram a alardear que ele havia sido, no mínimo, ousado demais em comer de tudo um pouco durante o dia. O desconforto se avolumava e a necessidade de encontrar um ponto afastado da trilha para cavar uma fossa emergencial se fazia cada vez mais urgente. Seria sua sina pelos próximos quilômetros, deixar a pazinha, o papel e o lenço de fácil acesso. Ele procurava levar com bom humor a desagradável questão, considerando, que pelo menos, precisava carregar menos peso, a cada fuga para alijar parte da carga que ele carregava e que seu corpo não curtia. No plano, sem mochila, e com as facilidades da vida moderna, a questão já é delicada... Imagine subindo montanha, meio que às cegas, com cargueira de 15 (quinze) kg, a atenção que se dispensava para os sinais do seu corpo, tornara o caso tragicômico. Tocamos em frente, e pouco depois do nascer do sol estávamos andando na crista do Melano, no sobe e desce típico de crista de serra, perdendo altitude até alcançar a Cachoeira Vermelha às 9h da matina. Animados com o rápido progresso até ali, guardamos as cargueiras e partimos para o ataque ao Pico do Tartarugão, passando pela crista do Tartaruguinha. Não encontramos muitas referências para atravessar os trechos de capim, então fomos no bom e velho vara-mato até a base e subimos em ziguezague em duas duplas, para reduzir a chance de uma pedra solta acertar alguém. Alcançamos o cume do Pico do Tartarugão às 10h30min. Fizemos uma breve pausa para a manutenção do tubo de cume, fazer os devidos registros no livro, fotos e caminhadas pelo topo da montanha e começamos a descida, retomando as cargueiras na Cachoeira Vermelha e partindo para reabastecer o inventário de água no Rio Claro, ao pé da Pedra da Mina (PM). Aproveitamos para nos fartar de água e tocamos para a última subida do dia, chegando no alto da PM às 13h30min... O cume estava estranhamente vazio para um feriado prolongado, talvez consequência da crise no abastecimento de combustíveis. Escolhemos os melhores lugares, substituímos o livro de cume por um novo e, também deixando um reserva, uma vez que o anterior, iniciado em 03/02/2018 estava completo, registrando nosso progresso no novo livro, preparamos a primeira refeição da trilha e ficamos curtindo o visual. Conforme entardecia, esfriava e se formava a costumeira neblina na região, começamos a ficar um pouco apreensivos com o Adilson Cypriano que subia com outro grupo pelo Paiolinho e que não havia chegado ainda, chegando a considerar descer até a base da pedra, pelo caminho de quem vem pelo Paiolinho para verificar se estavam acampados na base, mas o cansaço e a confiança na capacidade do nosso amigo nos levaram a abandonar a ideia. Foram diversos gritos de “Adiiiiiiiilsoonnnnnnnnn” que marcaram o fim de tarde na Pedra da Mina, todos sem resposta perceptível. Conjecturamos sobre a pertinência de algum tipo de sinal sonoro com apitos, que permitisse a comunicação em distância maiores e ficamos de buscar possíveis códigos. Nos recolhemos cedo, para recuperar as forças para a pernada do dia seguinte, que prometia ser ainda mais pesada. Segundo dia: N a madrugada, descobrimos que o grupo do Adilson havia chegado pouco após o anoitecer e acampado próximo de nós. Apesar de ser uma rota muito mais curta que a pernada que havíamos feito desde a Toca do Lobo, a subida da PM, via Paiolinho é bastante exigente devido às subidas do Deus-Me-Livre e da Misericórdia, bastante íngremes e que tem que ser vencidas com as cargueiras carregadas. Felizes e aliviados com o reencontro, fizemos planos de atacar o Ruah Maior com ele, na tardinha do segundo dia, marcando encontro no alto do Pico do Avião, 15h. Levantamos cedo, 5h da madrugada e ficamos curtindo a alvorada e o nascer do sol, enquanto preparávamos as mochilas de ataque para as investidas do dia. Apesar de ser de ataque, as mochilas não estavam particularmente leves, pois, além da água e do mínimo para um eventual perrengue (casacos, kit de 1º socorros, lanches e petiscos para o dia), levamos os tubos de cume para serem instalados nos picos dos Camelos e os cadernos para reposição dos livros de cume, caso necessário. Um pouco tarde, mas refeitos do cansaço da véspera e tendo curtido o nascer do sol com calma, às 7h40min começamos a descida da PM pela rota da travessia tradicional, porém nosso primeiro destino era o Ruah Menor, de forma que, na bifurcação para a subida ao Pico do Avião, deixamos a trilha e passamos a seguir pela encosta, através das lajes de pedra e curtos vara-matos até alcançar o ponto onde nos parecia mais viável atravessar o Vale do Ruah para iniciar a subida. Nesse ponto é justo o registro de que, trilhávamos, se não nas exatas pegadas, no rumo aproximado que os amigos montanhistas Adilson Cypriano, Douglas Garcia e João Siqueira haviam desbravado em pernadas anteriores, quando em (29/07/2017) instalaram o Tubo de Cume no alto do Ruah Menor (ou Ruah Leste). Bom, uma ressalva é que na Serra Fina, “desbravado” não quer dizer “manso”, então tivemos nossa cota de vara-mato para alcançar a base do Ruah Menor e mesmo na subida, o que nos consumiu quase uma hora para avançarmos poucos metros. Chegamos ao cume às 9h30min, fizemos os registros devidos, observando que, desde a instalação no ano anterior, nenhum outro montanhista anotou sua passagem por aquelas plagas, algumas fotos de um ângulo diferente da PM e dos arredores, estudamos um pouco os próximos passos enquanto lanchávamos e começamos a descida, agora buscando nos aproximar do colo entre o Pico do Avião e o Primeiro dos Camelos. Nova seção de vara-mato; porém o estudo feito a partir do Ruah Menor se mostrou bastante preciso, e em “pouco” tempo estávamos escalaminhando as lajes de pedra do Pico de Avião, tendo passado pela famosa lata de sardinha deixada por alguém para marcar o caminho. O avançado estado de corrosão da lata indica que deve estar lá há pelo menos um par de anos, talvez mais. Quando alcançamos o colo entre os Picos do Avião e Camelos 1 (um), passamos a descer para buscar o acesso ao Camelos 1 (um), que por ter poucos trechos de vara-mato foi alcançado com relativa facilidade. A partir daí bastou “tocar para cima” até o Cume, alcançado às 11h. Nesse Cume não paramos para descansar, preferimos tocar para o Camelo 2 (dois), para recuperar um pouco do tempo dispendido nos vara-matos pelo Vale do Ruah. Entre lajes de pedra e escalaminhadas, progredíamos rapidamente e, pouco antes do meio dia, já estávamos descansando no cume do Camelos 2 (dois). Sob doação do Douglas, instalamos o primeiro dos Tubos de Cume que transportávamos, com material para “safar a onça” de um montanhista num perrengue naquela região onde quase ninguém vai (vela, fosforo, cobertor de emergência, coordenadas de latitude e longitude para solicitação de resgate), ideia e patrocínio do Douglas Garcia. Se alguém um dia precisar, já sabe a quem agradecer! Numa outra pernada o Rogério disse que vai acrescer uns saches de mel. Fizemos um breve registro no livro, algumas fotos e partimos para o Pico dos Camelos 3 (três), não muito distante, mas que exige mais técnica em algumas passagens à descoberto, com precipícios de ambos os lados... Nesse ponto a SF se afina ainda mais, rs, e é difícil não sentir um frio na base da espinha ao pensar no “e se”... Por outro lado, a vista da Crista do Pico Cupim de Boi, das montanhas do Parque Nacional do Itatiaia, do Vale das Cruzes e dos outros vales ainda sem nome ali é estonteante e vale todo o esforço. Alcançamos o Camelos 3 (três) e procuramos avaliar a viabilidade de alcançar o Pico dos Camelos 4 (quatro), terra que, até onde sabemos, ninguém pisara. Rapidamente entendemos o porquê: uma borda abrupta com penhascos a perder de vista de um lado e uma quiçaça quase intransponível do outro lado, coroando outros penhascos... Bom, como escrito anteriormente, “quase intransponível” e não “intransponível” descemos por esse lado, palmilhando cada passo com extremo cuidado, em busca de possíveis gretas escondidas pelo matagal que poderiam resultar num acidente grave ou mesmo fatal. Basta dizer que todos palmilhávamos a mesma passagem com igual cuidado, do primeiro ao último, considerando que a “racha fatal” poderia estar de olho em qualquer um, de campana, escondida sob moitas de capim navalha e bambus. Tomou tempo. Assustou. Custou sangue e suor. Mas atravessamos a quiçaça e retornamos às lajes de pedra, duas dezenas de metros abaixo da borda abrupta do Camelos 3 (três). Estávamos na parte menos conhecida de toda a nossa empreitada, trepando pedras e escalaminhando em busca do cume do Camelos 4 (quatro). Alcançamos o cume às 12h30min. Fizemos um breve descanso, depois nos veio à cabeça estabelecer um totem ali, que fosse visível da travessia tradicional, nos mirantes do Pico Cupim de Boi e também do Pico do Cabeça de Touro... Então enquanto descansávamos as pernas, exercitávamos (mais) os braços carregando pedras... Fizemos uma divisão de tarefas para minimizarmos o tempo e começarmos o retorno: um preparava o tubo de cume, fazia os devidos registros, com outro “kit perrengue” patrocinado pelo Douglas, outro fotografava (todos os créditos ao Rodrigo Oliveira nesse aspecto), outro trazia as pedras finais para o totem. Resolvi fazer 4 (quatro) círculos na encosta menos inclinada para ajudar na visualização do totem, raspando com uma pedra e removendo parte da rocha já intemporizada e escurecida pelo sol, revelando a rocha clara (gnais?) que forma aquele espigão (muito provavelmente, um batólito, formado à quilômetros de profundidade, que a erosão diferencial acabou por expor). Iniciamos o regresso, buscando manter o acordado de nos encontrarmos com o Adilson às 15h no Pico do Avião. Agora com o caminho já trilhado uma vez, porém sem descuidar, voltávamos mais rápido, parando para admirar a paisagem e retomar o folego de quanto em quanto, sempre em lugares mais amplos e antes das passagens mais arriscadas. Nesse ritmo, pouco antes das 15h (14h56min) estávamos no Cume do Pico do Avião, sozinhos... O grupo do Adilson se atrasara um pouco em relação ao previsto. Fizemos a abertura do tubo do Cume do Pico do Avião instalado em (21/07/2017), por doação do Douglas Garcia, e parceria com Adilson Cypriano, João Siqueira, Rodrigo Oliveira, Leo Muniz e Gabriel Aszalos, onde percebemos que um montanhista distraído deixou a tampa entreaberta e com os efeitos climáticos prejudicou a conservação do livro, o qual ficou todo encharcado, sendo contabilizado, 43 (quarenta e três) assinaturas desde sua inauguração. Realizamos sua manutenção e substituímos o livro de cume, realizando os registros. Em uma próxima oportunidade após a secagem, o Douglas irá levar cópia do primeiro livro e deixar no tubo de cume para consulta. Tiramos fotos, esticamos as pernas e descansamos um pouco, ponderando as opções. A possibilidade de varar mato para ir e voltar ao Pico Ruah Maior, provavelmente também varar mato montanha acima e montanha abaixo, o tempo frio, ventando forte e a névoa que começava a se formar desaconselhavam a empreitada. A lembrança do montanhista francês falecido no Pico dos MARINS e a dos dois montanhistas socorridos com hipotermia na semana anterior no Parque Nacional do Itatiaia contribuíam para a indecisão. O atraso do nosso colega foi a gota d’agua para adiarmos essa parte da empreitada. Enquanto curtíamos o frio e o fim de tarde no Cume do Pico do Avião, pensávamos no que fazer em seguida, o grupo do Adilson chegou e acabamos por dividir novamente as tarefas: enquanto o Rogério e o Marinaldo foram até os destroços do Avião (Monomotor PT-KMB, que saiu do Campo de Marte, SP, com destino a Juiz de Fora, MG, colidindo em 05/01/2000 na encosta Sul do Pico do Avião (São João Batista), vitimando 05 (cinco) ocupantes) o Douglas e o Rodrigo que já o conheceram em incursões anteriores iriam buscar água no Rio Verde, no Vale do Ruah. Nos encontraríamos no começo da subida da PM para retornar ao acampamento e descansar, de forma que a primeira dupla ao chegar deveria esperar a outra para dividir a carga na subida da PM. A caminhada até o local da queda foi rápida e após descer cerca de 100 (cem) metros de altitude em relação ao Pico, observamos os destroços, em grande parte ainda preservados devido aos materiais empregados e ao clima da Serra. Para não deixar os colegas esperando, uma vez que imaginamos que eles precisariam de uma hora para chegar no ponto de encontro, começamos a caminhada ao ponto de encontro às 15h50min, visando chegar na bifurcação das trilhas antes da dupla que havia ido buscar água. Chegamos lá em pouco mais de 40 (quarenta) minutos de caminhada pelas lajes da encosta do Pico do Avião. Aguardamos até as 17h20min pelo retorno dos amigos, que haviam se atrasado ajudando outros montanhistas que estavam perdidos no Vale do Ruah a retomar a trilha correta. Novamente reunidos, nos empenhamos em chegar ao Cume da PM antes do final da tarde, o que conseguimos apenas em parte, vimos os últimos raios de sol quando estávamos no último trecho da subida. Tratamos de preparar o jantar e nos recolhemos para as barracas, na esperança de que o descanso noturno nos trouxesse de volta às melhores condições. Meio engano: mesmo com a boa noite de sono, no outro dia o cansaço das sucessivas provações começava a se firmar e os músculos reclamavam aos novos esforços. Educados, reclamavam, mas atendiam aos comandos de “marche!”, “ande!” e “suba!” que recebiam. Terceiro dia: A cordamos cedo, ainda antes do sol nascer desmontamos as barracas e preparamos as mochilas, a pernada do dia seria longa, com o ataque ao Pico do Cabeça de Touro e havia alguma ansiedade com a solução que daríamos ao problema de acampar nessa noite, uma que a SF estava coalhada de grupos guiados ou autônomos que seguiam pela rota tradicional da travessia e que acampariam no Pico dos Três Estados e imediações, uma vez que a área de acampamento no cume dele é pequena e não comportaria tantas barracas. Consideramos bivacar próximo ao Cume, o que foi descartado pelo fato de não dispormos de equipamento para essa opção sem passar perrengue e ainda não estávamos precisando disso. Cogitamos passar direto pelo Cume e acampar mais para frente, mas a ideia de ver o sol nascer no último dia da travessia, no ponto de divisa dos Três Estados era por demais tentadora para ser ignorada sem uma longa análise. Acrescentamos um novo livro de Cume na PM, em somatória com aquele que colocamos na véspera, em parte surpresos com a quantidade de gente que registrara a presença desde que o iniciamos, em parte aborrecidos com o descaso que faz com que alguns pulem páginas ou grandes espaços em branco antes de registrarem a presença. Não há regramento, de forma que é aberto e livre o que e como registrar, desde data/nome/origem e destino, até os sentimentos experimentados, sonhos, promessas, enfim... Tudo. Mas nos entristeceu um pouco a atitude de alguns colegas de montanhas: de um dia para o outro, metade de um livro de Cume havia sido "preenchido"... Será que supõem que os livros de cume são de geração espontânea? Será que não podem aquilatar o trabalho que dá para manter esses registros nesses lugares inóspitos. Enquanto alguns desses supostos montanhistas se arrastam montanha acima, seja carregando todo o equipamento ou com apoio de terceiros no transporte, outros, de forma abnegada, o fazem com mais do que o material para si: trazem livros para reposição, tubos e caixas de cume montanha acima, para que todos possamos fazer registro dessa singular experiência que é alcançar alguns dos pontos mais altos do País. Iniciamos a descida da PM, agora no sentido da travessia tradicional, comentando a questão do lixo que alguns montanhistas deixam para trás, muitas vezes por descuido ou falta da educação adequada, outras pela situação de perrengue extremo em que se encontram. Ficava para trás, na Pedra da Mina, quase que junto ao livro de cume, os restos de uma barraca, certamente como consequência de uma situação de perrengue dessas, haja visto que pouco tempo antes, o fim de semana tinha coincidido com uma chegada de frente fria, com ventos de mais de 60 (sessenta) km por hora e muita chuva. Pode parecer pouco, mas combinado com a temperatura “normal” no cume da Pedra da Mina nessa época, inferior a 10°C, faz com que a sensação térmica seja abaixo de 0°. A julgar pela barraca, dificilmente os colegas estavam com os demais equipamentos adequados para a noite que passaram, ou melhor sofreram. Alguns montanhistas disseram que fariam uma subida para recolher lixo e que desceriam os restos da barraca. O Rogério pegou uma garrafa de 1,5 litros para levar embora; mesmo porque havia perdido outra de 500 ml cheia d’água, na pernada do dia anterior e por mais que procurasse, nem sinal. Acabou que combinamos de acampar no primeiro ponto que fosse adequado pouco antes ou após o Pico Cupim de Boi e retornarmos para o ataque ao Pico do Cabeça de Touro. Dessa forma, nosso abrigo já estaria garantido e, mesmo que a volta ao acampamento ocorresse durante a noite, teríamos condições para algumas horas de sono bem abrigados. Com essa intenção em mente, aproveitamos o nascer do sol na PM e pouco depois das 7h partíamos em direção ao Vale do Ruah, último ponto de abastecimento de água para a caminhada que ainda faríamos. Dessa vez, procuramos nos hidratar ao máximo, e levar todos os litros possíveis, pois sabíamos que a subida do Cabeça de Touro, com o sol à pino seria desgastante e consumiria bastante água. Passamos pelos grupos que acamparam no Vale do Ruah e seguimos em passo forte pelos sobe-e-desce dos morros que fazem caminho até a base do Pico do Cupim de Boi. Enquanto caminhávamos, todos os mirantes eram motivo de apertarmos os olhos na tentativa de distinguir nosso totem no Camelos 4 (quatro), desde a parte do Vale das Cruzes até o Cume do Pico Cupim de Boi, que alcançamos pouco depois das 11h. Na passagem pela crista do Pico do Cupim de Boi, observamos e avaliamos as opções de acampamento que haviam, mas nenhuma se mostrou muito convidativa para abrigar 3 (três) barracas, de forma que seguimos o sugerido pelo Douglas e descemos a encosta do Pico do Cupim de Boi, em direção ao Pico do Três Estados até um bosque de bambus no colo entre as montanhas, ali escolhemos os melhores lugares e rapidamente montamos acampamento e organizamos as coisas nas mochilas de ataque para o retorno ao Cume do Pico do Cupim de Boi, e em seguida, ao próprio Pico do Cabeça de Touro. Nesse momento o Rodrigo, permaneceu na dúvida se seguiria com o grupo ao ataque ao CT, por estar sentindo uma indisposição somada pelo esforço da empreitada, mas como diz o provérbio chinês: “Há três coisas que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida”... Bastou uma troca de palavras com o Douglas, que o convenceu a nos acompanhar. Pouco antes das 12h partimos para o último ataque da travessia, com 2 (dois) litros de água para cada um, lanches e guloseimas, material de primeiros socorros, lanternas e os kits de perrengue para caso algo falhasse. Enquanto buscávamos o melhor ponto para descer a encosta do Pico do Cupim de Boi até o vale formado entre ele e o Pico do Cabeça de Touro, pudemos orientar muitos montanhistas que nos vendo seguir em frente após a bifurcação da trilha da travessia, seguiam nossos passos e acabariam em apuros para voltar com as cargueiras se insistissem no caminho que fazíamos. O que ocorre, é que naquele ponto a trilha da travessia faz uma curva à esquerda que 90º e passa a descer a encosta do Pico do Cupim de Boi em ziguezague e, sendo um trecho de laje de pedra, é fácil ao montanhista desatento passar direto por essa curva e gastar algum tempo tentando entender porque a trilha que vinha tão nítida “some” de uma hora para outra. Encontrado o ponto certo, começamos a descida, tomando cuidado com as pedras soltas. O Douglas seguia na frente, seguido pelo Rodrigo e pelo Rogério e o Marinaldo fechava a fila. Bastou descermos alguns metros para termos uma desagradável surpresa: enormes formigas soldados ameaçavam fazer o Rodrigo despencar montanha abaixo. Após alguns momentos tensos, com a ajuda do Douglas, conseguiu livrar-se dos raivosos insetos. Sabedores da nova complicação, todos adotaram uma tática: não parar onde fosse visualizado um formigueiro ou em quiçaças, assim, esperávamos que houvesse mais espaço entre os colegas que iam à frente e passávamos os trechos mais delicados com rapidez, o que nos livrou de maiores tormentos com as doloridas mordidas. Em condições normais, seria pouco mais que um inconveniente a presença desses insetos, porém ali, entre pedras soltas e um precipício de dezenas de metros às costas, era uma situação realmente delicada. De pedra em pedra, alcançamos a Peladona e dali miramos a peladinha e começamos a descer pela vegetação da encosta, pelo caminho que há pouco mais de um mês, Douglas, Adilson e o Rogério haviam aberto na base do vara-mato no peito. Como a gente sempre busca melhorar algo, testamos virar para direita e buscar uma laje de pedra para facilitar o avanço até o totem natural que existe no selado entre as duas montanhas. Depois de algumas fotos com a curiosa formação geológica começamos a escalaminhar a encosta do Pico do Cabeça de Touro, alcançando o Cume, todos juntos, às 13h20min. Fizemos as honras de praxe, descobrindo que o Cume havia recebido a visita de outra turma de montanhistas entre nossa passagem anterior e a presente. Mesmo assim, o livro de Cume do Pico do Cabeça de Touro tem menos de 40 (quarenta) assinaturas diferentes, desde 1992! Indício da dificuldade de acesso? Seria em razão do menor interesse dos montanhistas pelos cumes menos acessíveis da SF? ou pelo fato de montanhistas em alguma visita, não encontrar o livro? Ficam as perguntas. Procuramos com bastante afinco nosso totem no Camelos 4 (quatro), mas ficamos sem conseguir um registro fotográfico claro dele, mas sabemos que ele está lá aguardando a visita de novos montanhistas. Combinamos de começar a descida às 15h e, enquanto o Rogério fazia um abrigo de pedra para fugir do sol escaldante, os demais (Douglas, Marinaldo e Rodrigo) foram até os destroços de uma outra Aeronave que se chocou contra o Pico do Cabeça de Touro, um Embraer XC-95 Bandeirante, Prefixo FAB-2315, que vitimou 08 (oito) ocupantes, tinha partido da Base Aérea de SJC – CTA – SP, para retornar ao mesmo local. Assim, foi descoberto em pernadas anteriores, outro avião em um local de mais difícil acesso. Após tirar fotos e caminhar por muitos destroços espalhados pela montanha, seguiram pela crista do CT até o seu extremo para curtir o visual do ponto mais próximo do Parque Nacional de Itatiaia. Na incursão anterior, em (22/04/2018) a ideia era aferir com pelo menos dois aparelhos de GPS diferentes a altitude do Pico do CT. Encontramos 2633 metros de forma coerente entre os dois aparelhos. Ao nos afastarmos do Pico, o valor decrescia de forma coerente e nossos relógios apontavam pequena divergência, inferior a 5 (cinco) metros com os valores observados pelos GPS. Pouco depois das 15h, começamos a descida, e com a experiência acumulada, em pouco mais de 20min estávamos caminhando pelas lajes de pedra em busca do melhor ponto para atravessar o capim navalha que cresce no selado entre as duas montanhas. E como cresce! Há lugares que as touceiras suplantam a altura de um homem com as mãos para cima... E pensar, que vistos lá de cima, parece longos trechos gramados. Uma observação empírica: quanto mais água disponível mais o capim cresce e, mais ele entrelaça as folhas com as touceiras vizinhas. Da base do Pico do Cupim de Boi nesse selado bastou aplicar o “toca para cima” de tudo quanto é jeito que em pouco tempo estávamos novamente na Crista do Pico do Cupim de Boi. O Douglas e o Marinaldo optaram por ficar para ver o sol se pôr, enquanto o Rogério e o Rodrigo desceram até o bosque para jantar e dormir. Porém eles não esperavam que o bosque estivesse daquele jeito. Parecia que estavam na Praça da Sé em SP, na hora do rush... Não havia um caminho livre, todos os cantos e passagens estavam tomados por barracas... Com “com licença” e “desculpe” foram se esgueirando até suas barracas para tentar dormir em meio ao burburinho de dezenas de pessoas que estavam em diversos grupos se espremendo no bosque. Apesar de não haver mais caminho livre, ainda haviam grupos de amigos chegando e com alguma paciência e bastante colaboração entre desconhecidos, todos conseguiam se acomodar. O Rogério ajudou alguns montanhistas a instalar a barraca e foi dormir, com uma facilidade incrível (o barulho eufórico era intenso), mas havia um motivo essa sua facilidade: levantaríamos às três da madrugada para partir às quatro e chegar no Cume do Pico do Três Estados a tempo de ver o sol nascer. Quarto dia: O Douglas acordou todo o grupo às duas da madrugada com uma mudança de planos: havia muita gente combinando partir para o Pico do Três Estados às quatro da manhã, era grande a chance de ocorrer um “congestionamento” na trilha o que poderia arruinar nossa ideia de curtir o nascer do sol e já começar a descer para o Sítio do Pierre. Foi providencial a mudança de planos, pois teríamos a comprovação desse temido congestionamento ao longo do dia nas trilhas. Em meia hora, Rogério estava pronto com a mochila pronta e foi fazer hora, enquanto o Douglas preparava o café da manhã com uma crepioca (ovo com tapioca, queijo provolone e sal de ervas). Diga-se de passagem, muito boa! O Rodrigo estava pálido, consequência das fortes cólicas intestinais que prejudicaram seu sono e o atormentava, mesmo após seguidas idas às moitas mais distantes do equipamento. Ainda assim, o planejado foi mantido, considerando que, caso fosse algo mais grave que uma “mera” indisposição intestinal, o quanto antes alcançássemos a civilização, melhor seria. Com a cargueira vestida, o apertar da barrigueira lhe deu um conforto temporário e seu rosto adquiriu uma coloração rosa-pálida que ainda denotava seu sofrimento. O Rogério se ofereceu para levar sua cargueira por um tempo, para reduzir seu martírio, mas ele valentemente, não aceitou. Talvez adepto da filosofia que prega que “cargueira é como consciência, cada um leva a sua”... Para desconfortos intestinais e preocupações em geral, nada melhor que um bom ”toca para cima”, de forma que terminamos de preparar as coisas para a pernada do dia. Partimos 3h20min pelos labirintos formados pelas barracas e logo começamos a encontrar outros madrugadores nas trilhas, mas que ainda não estavam com todos os apetrechos guardados. De forma que éramos o primeiro grupo a subir a encosta do Pico Três Estados e podíamos ditar nosso ritmo, apertando o passo em certos momentos e aliviando em outros para descansar e apreciar a paisagem sob o luar parcialmente amortecido pelas nuvens. Em alguns pontos, quando já estávamos próximo ao primeiro Cume do dia, podíamos divisar as luzes dos acampamentos entre as folhagens dos bosques abaixo. A imagem lembrava as fotografias noturnas de acampamentos de garimpeiros, isolados na escuridão da floresta. Não deixava de ser poético, o contraste entre a tranquilidade da escuridão e a agitação das luzes das turmas em preparação para o último dia de caminhada. Alcançamos o Cume do Pico do Três Estados às 5h manhã, assinamos o livro de cume e escolhemos um bom lugar para apreciar o nascer do sol, abrigado do vento frio da madrugada. Procuramos um local para que o Rodrigo pudesse bivacar, estendemos um isolante na laje de pedra para deixa-lo confortável enquanto ele buscava se acertar com o intestino rebelde. Enquanto esperávamos, rememorávamos acontecimentos e impressões dos últimos três dias. Conforme amanhecia, as nuvens que amorteciam o brilho da lua se tornavam mais visíveis e traziam dúvidas sobre aquele nascer do sol tão esperado. Pouco antes do romper da aurora, o sol tingiu de sangue o horizonte com o perfil das montanhas do PN de Itatiaia ao fundo. Fizemos fotos de perfil contra a vermelhidão do amanhecer ... Foram breves momentos, antes das nuvens se fecharem e ocultarem inteiramente o sol, mas valeram todo o esforço. Como combinamos, começamos a descida do Pico do Três Estados pouco após as 7h pela trilha da direita, bastante íngreme e progredíamos com velocidade, porém acabou que na “pressa” em começar a descida, deixamos o Douglas para trás, e como ele não se manifestou logo no início, descemos quase que toda a encosta antes do Marinaldo nos alertar sobre a ausência do Douglas. Aguardamos um pouco, chamamos algumas vezes por ele e ante a ausência de resposta, só nos restou tocar montanha acima, voltando sobre nossos passos na busca do amigo retardatário... Alcançamos o Cume do Pico do Três Estados e nada dele, procura daqui, procura dali e nada... Mistério... Supondo que ele tivesse optado pelo caminho da esquerda, começamos a descer novamente, chamando por ele e... Ouvimos ao longe “frannnnnnnngoooooo”, quase que um grito de guerra do nosso amigo. Numa mistura de alivio e zanga, apertamos o passo, mas sem responder a ele e ao pé da descida nos reencontramos. Feitas as acusações mútuas de praxe e vencida a zanga, fizemos as pazes e retomamos a pernada, caminhando em direção ao Cume do Pico do Bandeirante, alcançado em pouco mais de uma hora de caminhada, em passo tranquilo. Na verdade, a partir do Pico do Três Estados, não seria muito preciso dizer que estávamos “trilhando”, seria mais justo dizer que passeávamos, curtindo a trilha, as montanhas, o cheiro da mata. Acho que nesse ponto, mesmo o Rodrigo também curtia, ainda que sofrendo com a cólica. Supondo que tivesse alguma relação com a economia de água, procurei fazer com que bebesse a cada pouco. Não havia mais pressa, não havia mais “ataques”, era uma questão de manter o foco, para evitar acidentes e caminhar pelo ombro do Pico dos Três Estados e subindo pelo Pico do Bandeirante, penúltimo Cume da travessia. A partir do Cume do Pico do Bandeirante, seguimos no tradicional sobe-e-desce da SF, perdendo altura de forma consistente, enquanto buscávamos o sopé do Pico do Alto dos Ivos, derradeiro Pico da Travessia. Da base dele até o cume, são cerca de 130 metros de altura, menos de metade da diferença de cota observada na Pedra da Mina ou no Pico do Cabeça de Touro, mas com o cansaço somado dos dias anteriores, não deixa de ser uma visão ameaçadora para os que estão se arrastando na travessia. Para nós, marcava o início do fim da nossa aventura pela Serra Fina. A partir desse cume, alcançado às 9h20min, a trilha seria de descida quase que constante até alcançar o Sitio do Pierre. Como havíamos sido conservadores com o consumo de água, tínhamos agora água abundante e fazíamos uso dela com muito gosto. Caminhando sem pressa, procurando distrair o Rodrigo das cólicas, fizemos os últimos quilômetros caçando morangos silvestres, framboesas, azuizinhos do cerrado, e amoras silvestres, chegamos ao ponto de resgate às 13h30min, com considerável margem para o horário marcado das 15h. O Douglas e o Marinaldo chegaram pouco depois, o Douglas mancando um pouco devido aos calos que o atormentavam desde a descida do Pico dos Três Estados. Aproveitamos para comprar alguns produtos de um produtor local, pouco acima do local do resgate. Queijo, mel, doce de leite, goiabada cascão... Tudo provado e aprovado. Fizemos a tradicional foto de fim da travessia, nos parabenizamos mutuamente e ficamos curtindo a sensação de superação e orgulho pelo sucesso da empreitada, inédita ao nosso conhecimento em vários sentidos, realizando a Travessia Serra Fina em 4 (quatro) dias subindo todos os Picos da Travessia Tradicional, mais os Picos do Tartarugão, Ruah Menor, Camelos 1 (um), Camelos 2 (dois), Camelos 3 (três), Camelos 4 (quatro), Avião, e o colossal Cabeça de Touro (que está inteiramente no território do Estado de São Paulo, sendo o mais alto do Estado), onde a batizamos de Travessia Serra Fina Full (TSFF).
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Travessia da Serra Fina Full em 3 dias. Subimos, de ataque, aos cumes das montanhas próximas. Relato com fotos e tempos gastos, para ajudar quem quiser a fazer a pernada! Abraço! Travessia da Serra Fina Full - 3 dias.pdf
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