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http://www.ipernity.com/doc/275479/album/309123 PICO DO GIL: NO TETO DA METRÓPOLE PAULISTANA A Serra de Itaberaba é um enorme espigão desgarrado da Cantareira cujas escarpas erguem-se majestuosamente da horizontalidade de Morro Grande, distrito de Guarulhos, fazendo dela divisa natural do municipio com Mairiporã e Nazaré Paulista. Os 1438m do seu pto culminante estão situados no Pico do Gil, cujas infos de acesso são tão escassas como envoltas em impedimentos. Autorização de entrada, segurança armada, propriedade particular e porteiras barrando caminho eram apenas alguns dos avisos pinçados na net q ao invés de incentivar, desmotivavam. Pois bem, este é o registro da nossa jornada ao Pico do Gil desmistificando td a respeito, apenas pra constatar q alcançar o “ponto mais alto da Região Metropolitana de São Paulo” não é nenhum bicho-de-sete-cabeças. Qdo estive no Morro Nhangussu, no município de Guarulhos, pude observar claramente uma imponente elevação no horizonte, na direção norte. Imediatamente consultei a carta correspondente e constatei q aquelas montanhas atendiam pelo nome de Serra de Itaberaba e seu pto culminante, o Pico do Gil, era mto maior q o Pico do Jaraguá (1127m), q sempre julgara equivocadamente como pto mais alto da Grande São Paulo. Logicamente q isso bastou pra me animar a meter as caras por lá, mas qual minha frustração ao saber q aquela interessante serrote doméstico estava inserido dentro de propriedade da filial guarulhense da AmBev (antiga Skol-Caracu). Além disso, uma estrada asfaltada nascia da portaria principal sul da mesma e ia até o cume, coroado ainda por uma Torre da Embratel. Claro q busquei alternativas de acesso na net e tds esbarrabam com algum tipo de impedimento, fossem estes de ordem burocrático como de segurança. “Só tem acesso pela AmBev. Para adentrar, somente com autorização do responsável do setor de Meio Ambiente da empresa..”, “Dizem que tem caminho para chegar até lá, mas, mas tb dizem q o local é muito utilizado para desmanche de carro roubado. Dizem tbm não ser incomum encontrar pessoas escondidas ou em fuga” . Estes eram apenas alguns dos comentários nada animadores q mais desmotivavam q incentivavam qq empreitada por lá. É, somente infos desencontradas e nada de concreto. E agora, José? Logicamente q joguei td pro alto e decidi conferir “in loco” a situação do lugar, mas já ciente duma única certeza: evitar a portaria principal sul da empresa, decerto fortemente protegida. Se havia algum acesso alternativo este certamente seria através dos contrafortes serranos situados a oeste, dedução tirada pelo estudo de imagens aéreas sobrepostas na carta correlata. Havia estradas secundarias q chegavam próximo do cume, e se houvesse propriedades particulares decerto deveriam ser contornadas, no peito, pela mata. Simples assim. Chamei o Nando pro bate-volta, q se animou me acompanhar pelo fato do pico visado ter o mesmo sobrenome dele, dando tb seus palpites pro ataque. Em tempo, fomos decididos e preparados pra enfrentar um leão, mas terminamos nos deparando c/ um simpático e dócil gatinho, fácil de ser domesticado. Encontrei o Nando no Term. Urbano da Estação Armênia do Metrô em torno das 7:30hrs, logo após tomar meu desjejum numa das varias banquinhas de ambulantes, com direito a pingado e um misto p/ viagem por módicos R$2,50! Imediatamente tomamos o intermunicipal “580-Cidade Soberana”, q se pirulitou em direção á Dutra bem no horário de trânsito, onde deu ate pra embalar um cochilo. O fluxo so melhorou mesmo já nas proximidades de Guarulhos, considerada a 2ª maior cidade do estado de São Paulo. O céu exibia sua atmosfera transparente e limpida, prometendo dia quente, claro e ensolarado. Desembarcamos nas proximidades do Terminal São João as 8:30hrs, bairro da perifa guarulhense, onde aguardamos a condução q nos levaria aos limites do município com Nazaré Paulista, 15km dali. O microônibus “487 - Tapera Grande” passou pontualmente logo depois das 9hrs, no qual embarcamos sem pestanejar pois o mesmo circula de hora em hora. A viagem transcorreu relativamente rápida, uma vez q o veiculo tomou direção norte atraves da Rod. Juvenal Ponciano de Camargo (SP-36), tradicionalmente conhecida como “Rod. Guaru-Nazaré” ou “Estrada da Serra da Pedra Branca”. O cinza urbano imediatamente deu lugar ao verde exuberante das serras ao redor, principalmente ao passar pelo bairro Capelinha, onde há mesmo uma dita cuja bem do lado duma enorme pedreira q é o único detalhe dissonante daquele belo lugar. Dali tb a estrada bifurca pra direita, na Estrada Ary Jorge Zeitune, q é a via q dá na portaria principal da Ambev. Prosseguindo sempre sinuosamente pela SP-36, não tarda p/ janela á nossa direita exibir os contornos elegantemente escarpados da Serra de Itaberaba, cujo topo surge coroado por duas antenas próximas q teimam em espetar o firmamento azulado e límpido. Mas a contemplação dura pouco pois as 9:30hrs saltamos as margens da rodovia, precisamente na frente da “Casa da Jaca”, uma vendinha de doces artesanais q é nosso pto de referência. Ali reforçamos nosso desjejum com mais um pingado e mais informações sobre o Pico do Gil, onde a simpática proprietária do estabelecimento, a Iara, reforça a facilidade de acesso á serra. Começamos a pernada pontualmente 10min após chegar, na cota dos 920m de altitude. Da vendinha basta tomar uma larga via q tem logo ao lado, a Estrada Dois Corações, assinalada por uma estabelecimento verde com dois enormes corações bem na esquina. Ali tb existe uma biquinha pra molhar a goela e q pode encher os cantis com água confiável, embora no caminho existam mais fontes do precioso liquido, porém não tão garantidas qto esta. Logo de cara temos um baita descidão pela estrada, q alterna asfalto e terra conforme varia sua declividade, e no fundo do vale passamos sob um borbulhante córrego q forma um pequeno poço, q atiça a vontade do Nando mergulhar. Mas td q desce tb sobe, e então tem inicio uma longa, ingreme e interminável subida. Sitios, chácaras e viveiros serão uma constante neste começo de pernada, q é recompensada com generosos visuais do nosso destino final, reluzindo ao sol da manhã, assim como de seus contrafortes laterais, forrados de muito verde salpicado por lampejos rochosos dos “matacões” de encosta. Um deles inclusive, enorme e bem ao lado da estrada, é a definição perfeita de “pedra no caminho”. Sempre nos mantendo na principal e ignorando bifurcações, porém sempre subindo, percebemos q conforme ganhamos altitude a presença de casas diminui. Quiçá pelo fato da estrada cada vez tornar-se bem mais precária. Mas chega uma hora em q nossa sinuosa ascenção começa a desviar suavemente pra direita, de modo a contornar um enorme morro q vinha obstruindo nossa vista do topo do Gil. Cães estridentes anunciam nossa presença na passagem do lado do q parece ser um criadouro de aves, na cota dos 1130m, uma vez q a presença de enormes gaiolas atrás da casa principal parece sugerir isso. Outro destaque deste trecho é o chão de terra forrado de reluzente pinhão, oriundo dos belos exemplares de araucárias á beira da estrada. Até q por volta das 10:20hrs, na cota dos 1170m de altitude, tropeçamos realmente com uma portal e porteira de madeira barrando o acesso. Não há placa nem aviso, nada, portanto simplesmente saltamos a mesma, de fácil transposição. Porém em silêncio, claro. Uma casa ao lado sugere a presença de pulguentos e o q menos se deseja nesta hora é q os mesmos anunciem nossa presença. Mas o receio é injustificado pois ao invés de latidos o q se ouve é o som de muita água correndo pela direita. De fato, logo acima e após passar pelas ruínas duma casa bordejamos um enorme laguinho q serve de criadouro p/ vistosas e encorpadas carpas. Logo imaginei as bichinhas num prato, fritas e respingadas de limão apimentado! Mas ao invés disso apressamos o paso acompanhando pinheiros perfilados de modo a nos afastar da casa principal. As 10:30hrs nos deparamos com nova porteira, anunciando laconicamente “PROIBIDA A ENTRADA” além de nos situar nas dependências da Faz. Torrão da Serra. Ali tb diz estarmos a 1300m de altitude, marcação equivocada uma vez q o GPS do Nando assinala precisos 100m menos. Besuntados devidamente com óleo-de-peroba na cara, saltamos esta porteira da mesma forma q a anterior, ou seja, em silêncio. As casas e chácaras se foram a muito tempo. O panorama agora é uma precária estrada de chão bordejando verdejantes encostas de espigões transversais da Serra do Itaberaba, pontilhada do lilás vivo das quaresmeiras. Um correguinho raso cruza a estrada, e um copinho plástico a margem da via sugere q aquela água pode refrescar algum visitante incauto, mas o Nando não recomenda seu consumo pois achou o gosto é estranho. A estrada então passa a contornar um reflorestamento de eucaliptos á direita, enqto á esquerda se abre um belo vale recheado de mata secundaria. Olhando por sobre o ombro podemos avistar o ultimo lampejo de Sampa, reluzindo seus tons claros ao sol sob uma fina camada cinza de poluentes. Adentrando cada vez mais no miolo da serra, a pernada aparenta nivelar ao nos depararmos com um rústico casebre, as 10:40hrs. Nos bem q tentamos passar desapercebidos pruns pulguentos próximos, mas foi em vão. No entanto, o dono da casa aparentava não estar e por isso prosseguimos pela precária via, sem olhar pra trás. Agora sim estávamos na cota dos 1300m de altitude. A caminhada prossegue bordejando o mesmo reflorestamento, de onde é possivel observar a torre cada vez mais próxima. Mas é após passar por um pequeno laguinho e uma casa-cor-de-rosa (a última habitação de fato) aparentemente abandonada q a subida aperta. Montes de madeira (eucaliptos, claro!) empilham-se em ambas margens e fico me perguntando qual modelo do veiculo tracionado q vem recolhê-los, em seu devido tempo. Dificil saber o destino de tanta madeira acumulada, na cota dos 1330m. Pode ser o papel da impressora q se usa diariamente no serviço ou o forno q cozinha a pizza q vc degusta aos sábados. Mas não tarda p/ tropeçar com a única bifurcação significativa de td trajeto, na qual tomamos o ramo da direita q parece ziguezaguear pra cima a encosta palmilhada de eucaliptos. Aqui a estrada da lugar a uma larga trilha, relativamente encoberta por algum capim alto, mas sem nenhum problema de transposição. Neste trecho tb vemos um tiozinho trabalhando no alto da encosta, provavelmente o dono do casebre pelo qual passamos. Ele nos vê e acena cordialmente, gentileza retribuída de forma instantânea. Mais acima, na cota dos 13360m, um cercado barra nossa passagem e de onde se vê uma ramificação pro topo do espigão palmilhado, mas a gente passa por baixo do cercado se mantendo sempre na “principal”. Num piscar de olhos desembocamos, as 11hrs, na Estrada da Embratel e por ela prosseguimos o resto de nossa ascenção até o final, agora suavemente. Dez minutos depois pisamos no alto dos 1430m do Pico do Gil, pto culminante da Serra de Itaberaba. Na verdade o pico deveria ter o mesmo nome da serra, Itaberaba, mas provavelmente ficou mais conhecido como Gil pelo fato do antigo proprietário das terras da Ambev ter esse nome, alem da constatação q boa parte daquela região guarda alguma reminiscência portuguesa. Duas torres fortemente cercadas dividem o pouco espaço q é distribuído ali no topo, assim como uma pequena clareira surge mocada na mata apresentando vestígios de fogueira. Parece q alguem mais, mesmo com tds impedimentos, vez ou outra aparece la pra pernoitar nesse exíguo espaço q, no máximo, acomoda uma barraca! Alcançada a cumieira do Itaberaba mais rápido e fácil q o previsto, nos resignamos a ficar ali um tempo prostrados, descansando, mastigando e bebericando alguma coisa. Aproveito pra dar uma rápida bisbilhotada pelos arredores enqto meu amigo descansa e dou uma contornada em ambas antenas, q ostentam enormes placas “Monitoramento de Imagens Via Satélite”, q me obrigam a esboçar um sorriso o tempo td. No entanto, a maior decepção é q visual q é bom, nada, uma vez q as duas torres tomam conta de boa parte do topo, cercadas dum alto arvoredo q serve de proteção ás mesmas. Apenas pro quadrante sul as frestas de vegetação permitem vislumbrar parcialmente alguma coisa: a crateira da pedreira Pau-Pedra, Guarulhos, Itaquaquecetuba e, c/ algum esforço, percebe-se a geometria difusa de Mogi das Cruzes e o recorte da Serra do Itapety. Na ausência de vegetação alta, vistas pra São José dos Campos, Arujá, Sta Izabel e Ibiuna seriam garantidas. Até q passou pela cabeça pular o cercado pra subir as torres, mas a idéia diluiu-se assim q vimos sensores de movimento próximo das mesmas, tão eficientes qto os latidos dos pulguentos lá de baixo. Missão cumprida e cume feito, iniciamos o caminho de volta pelo mesmo caminho. O Nando tava com frio pois estar naquela altitude já é sinônimo de temperaturas baixas, e assim pusemos as pernocas pra funcionar, ladeira abaixo. Como era previsto, o retorno foi mais rápido q a ida e pouco antes das 13hrs já pisávamos novamente na “Casa da Jaca”. E enqto aguardávamos a condução passar mandamos ver umas brejas e o Nando namorava comprar uns queijos e pingas artesanais (a famosa “Trepadeira”) pra viagem. Contudo, o buso logo passou q não pensamos duas vezes em embarcar, dando adeus praquela simpática serra cujo pico mais alto é envolto em tanto mistério no quesito acesso. Uma vez no Terminal São João as 14hrs e com tempo de sobra, permanecemos bebemorando a empreitada dos 10kms exatos percorridos, encostados no “Bar Papa-Léguas”, anexo do lava-rápido homônimo e em frente ao “Bar do Magal”. O local não podia ser melhor, ainda mais qdo atendidos pela simpática Sô, q até soltou o cabelo pro Nando. O dureza eram os ouvidos serem bombardeados constantemente por um sonoro “Cachaça, véio!”, refrão onipresente dum grupo brega q atende pelo singelo nome de “Burro Desembestado”. Bem, pelo menos as cinco garrafas (litrão) de cerveja q foram entornadas serviram pra anestesiar qq coisa vinda de fora, ainda mais qdo degustadas com deliciosas e suculentas porções de mandioca frita. Resumindo, o Pico do Gil guarda as mesmas características de acessibilidade da Pedra da Macela (RJ), Pedra São Domingos (MG), Pico do Jaraguá (SP) ou da Pedra Grande (SP), com o diferencial q não oferece o visual arrebatador destes picos citados. A pouca divulgação a respeito da Serra de Itaberaba tem seus motivos mais q óbvios: ninguém quer ver gente ali pela presença de duas poderosas redes de retransmissão/energia bastante relevantes pra Metrópole. E pelo fato da região pertencer tanto a AmBev como a outros vários proprietários particulares. Por isso não há interesse algum na criação dum mirante no topo do Gil, q decerto teria uma das panorâmicas mais espetaculares de td São Paulo, infelizmente. Enqto isso, fica apenas a dica duma bucólica e tranqüila caminhada q se não nos brinda com visu algum, pelo menos carimba nosso currículo com mais uma montanha de altitude significativa e detentora duma alcunha nada desprezível. Basta imaginar q se está no alto da Pedra da Mina, porém eternamente cercada de brumas.